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Ingrid elsen: a trajetória profissional e sua dedicação ao estudo do cuidado às famílias

Resumos

Trata-se de estudo sócio-histórico, cujo objetivo foi historicizar a trajetória profissional de Ingrid Elsen, enfermeira, docente e pesquisadora brasileira. Na coleta de dados foi realizada entrevista semiestruturada, dias três e dez de março de 2013, com a enfermeira Ingrid, utilizando os métodos da história oral e pesquisa documental. A partir da análise de conteúdo temático, foram evidenciados temas: Ser enfermeira: os primeiros desafios; Ser docente e pesquisadora: novos caminhos; Ser protagonista na criação de grupos relacionados ao cuidado à família; Ser experiente: o reconhecimento social acerca da sua trajetória profissional. Os resultados revelam importante contribuição para a prática e a ciência da enfermagem nos serviços de saúde, no ensino e na pesquisa. Pioneira na linha de pesquisa em saúde das famílias, na formação de grupos de pesquisa em saúde da família e violência, imprimiu uma marca de competência na construção do conhecimento na área, a partir de uma perspectiva interdisciplinar.

Educação; Família; Biografia; História da enfermagem


This is a socio-historical study aimed to historicize the career of Ingrid Elsen, a nurse, teacher and Brazilian researcher. Data were collected through semi-structured interview, on the third and tenth of March 2013, with the nurse Ingrid, applying the method of oral history and documentary research. The following themes were highlighted based on a thematic content analysis: being a nurse, the early challenges; being a teacher and researcher, new directions; being the protagonist in the creation of groups related to family care; and being experienced, social recognition of her professional career. Results show an important contribution for the practice and the nursing science in health care, education and research. Pioneer in the line of research related to the health of families; in the formation of family health research groups and family and violence, printing a competence mark for the construction of knowledge in the area, from an interdisciplinary perspective.

Education; Family; Biography; History of nursing


Estudio socio-histório cuyo objetivo fue historicizar la trayectoria profesional de Ingrid Elsen, enfermera, docente e investigadora brasileña. Para la recolección de datos fue realizada una entrevista semi-estructurada los días tres y diez marzo 2013, con la enfermera Ingrid, utilizando el método de Historia Oral y Pesquisa Documental. A partir del análisis de contenido, se evidenciaron los temas: Ser enfermera: los primeros desafíos; Ser docente e investigadora: nuevos caminos; Ser protagonista en la creación de grupos relacionados al cuidado de familia; Ser experta: el reconocimiento social sobre la trayectoria profesional. Los resultados revelaron la importante contribución para la práctica y la ciencia de enfermería en los servicios de salud, enseñanza e investigación. Pionera en la línea de pesquisa relacionada a la salud de familias, formación de grupos de investigación en salud familiar, familia y violencia, imprimiendo un sello de competencia en la construcción del conocimiento en la área, a partir de una perspectiva interdisciplinar.

Educación; Familia; Biografía; Historia de enfermería


INTRODUÇÃO

A História da Enfermagem catarinense contemporânea passou a ser escrita de forma sistemática a partir da década de 1990, pelos integrantes do Grupo de Estudos de História do Conhecimento da Enfermagem e Saúde (GEHCES), grupo este, vinculado ao Programa de Pós- Graduação em Enfermagem (PEN) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Inicialmente, o GEHCES passou a produzir estudos relativos a produção do conhecimento da enfermagem, a partir dos Anais dos Congressos Brasileiros de Enfermagem,11. Padilha MICS, Silva AL, Borenstein MS. Os congressos brasileiros-pontes para a liberdade e transformação em Enfermagem. Rev Latino-Am Enferm. 2001 Mai; 9(3):7-13.

2. Silva AL, Padilha MICS, Borenstein MS. Imagem e identidade profissional na construção do conhecimento em Enfermagem. Rev Latino-Am Enferm. 2002 Jul-Ago; 10(4):586-95.
- 33. Borenstein MS, Padilha MICS, Silva AL. Um contraponto entre os personagens dos congressos brasileiros de Enfermagem e da Revista Brasileira de Enfermagem no período de 1977 a 1987. Rev Bras Enferm. 2002 Mai-Jun; 55(3):323-30. a atuação da enfermagem em hospitais no Brasil e em Florianópolis.44. Padilha MICS. A mística do silêncio: A prática da Enfermagem na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro no século XIX [tese]. Rio de Janeiro (RJ): Universidade Federal do Rio de Janeiro; 1997.

5. Borenstein MS. O cotidiano da Enfermagem no Hospital de Caridade de Florianópolis no período de 1953 a 1968 [tese]. Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem; 2000.
- 66. Borenstein MS. Hospitais da Grande Florianópolis: fragmentos de memórias coletivas (1940-1960). Florianópolis (SC): Assembléia Legislativa; 2004. Além disso, houve, também, uma preocupação inicial com a história da criação do primeiro Curso de Graduação em Enfermagem no estado catarinense, o da Universidade Federal de Santa Catarina, criado em 1969.77. Borenstein MS, Althoff CR, Souza ML. A relação dos professores dos Departamentos de Enfermagem e Saúde Pública. In: Borenstein MS, Althoff CR, Souza ML, organizadores. Florianópolis (SC): Insular; 1999. p. 293-321.

Mais recentemente, os integrantes do Grupo vem ampliando o leque de suas investigações acerca não mais da enfermagem de um modo geral, e sim sobre o poder das enfermeiras nas principais instituições hospitalares estaduais88. Borenstein MS, Padilha MI. Enfermagem em Santa Catarina: recortes de uma história (1900- 2011). Florianópolis (SC): Secco; 2011. e com a história das epidemias, como a Tuberculose e a Aids.99. Maia AR. Enfermagem em Santa Catarina em tempos de tuberculose: padrões de conhecimento de cuidado de uma época (1943-1960) [tese]. Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem; 2009. - 1010. Padilha MI, Costa R, Vieira M, Maliska IA, Bastiani J. La contribución de la Enfermería brasileña para la producción de conocimiento sobre el SIDA. Index Enfermería [online] 2009 [acesso 2009 Mai 15]; 18(1). Disponível em: http://www.researchgate.net/publication/251077708_La_contribucin_de_la_Enfermera_brasilea_para_la_produccin_de_conocimiento_sobre_el_SIDA
Disponível em: http://www.researchgate.n...
Orientadas pelo referencial da História Nova, o interesse do GEHCES voltou-se, também, para a história e biografia de líderes na enfermagem brasileira.1111. Borenstein MS, Padilha MICS, Caetano TL, Mância JR. Hilda Anna Krisch: pioneira na Enfermagem catarinense - formação e contribuição. Rev Bras Enferm. 2004 Mai-Jun; 57(3):366-70.

12. Mancia JR, Padilha MICS. Trajetória de Edith Magalhães Fraenkel. Rev Bras Enferm. 2006; 59(esp):432-7.

13. Borenstein MS, Padilha MICS, Maia AR, Gregório VRP, Espíndola AMK. Ottillie Hammes: pioneira da Enfermagem catarinense. Rev Bras Enferm. 2009 Mar-Abr; 62(2): 240-5.

14. Borenstein MS, Oliveira ME, Santos EKA, Maliska ICA. Eloita Pereira Neves: baluarte da Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Texto Contexto Enferm. 2009 Out-Dez; 18(4):759-65.
- 1515. Costa E, Borenstein MS. Wilson Kraemer de Paula: da trajetória do homem à história da Enfermagem psiquiátrica catarinense História da Enfermagem. Rev Eletrônica. 20101(1):24-34 [acesso 2012 Jun 18] Disponível em http://www.abennacional.org.br/centrodememoria/here/n1vol1ano1_artigo2.pdf
Disponível em http://www.abennacional.or...
Uma dessas enfermeiras, que tem muito contribuído para a visibilidade da enfermagem, é a enfermeira Ingrid Elsen.

Ingrid Elsen é um nome reconhecido e respeitado no mundo da enfermagem. Sua vida conta uma história que vislumbra o elo entre o sonho e a realidade, repleta de ideias que floresceram em meio às atividades cotidianas e que, com elas, esboçou ou estabeleceu estratégias para colocá-las em prática. Ao longo do tempo, revelou um espírito inventivo e de extraordinário interesse pelo crescimento e desenvolvimento da profissão, na compreensão do cuidado humano, especialmente na área da Saúde das Famílias.

Sua capacidade de agregar as pessoas para o trabalho em grupo, atenta ao ponto de vista de cada um e determinada na tomada de decisão, fez disso, a sua grande arte de liderar. Uma liderança que compartilhava com os envolvidos no desempenho dos vários cargos e funções que exerceu ao longo dos anos. Disposta a enfrentar os desafios da vida profissional e pessoal pelo que acreditava, tornou-se uma líder visionária de uma enfermagem voltada à família. O perfil inquieto e inovador de Ingrid Elsen, revela o enfrentamento das dificuldades em qualquer tempo para além dos espaços acadêmicos, mas sempre permeados pela intuição e sensibilidade social.

Este artigo pretende retratar alguns ângulos do caminho percorrido por esta personalidade singular, e tem como objetivos: historicizar sua trajetória profissional; descrever aspectos de sua biografia e sua liderança no campo científico da enfermagem catarinense e brasileira; e apontar suas contribuições para a compreensão do cuidado de enfermagem à família.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de abordagem sócio-histórica, cujos dados foram obtidos a partir de uma entrevista semiestruturada, realizada com a enfermeira, docente e pesquisadora Ingrid Elsen, utilizando o método de História Oral. Esta entrevista foi marcada por meio de contato telefônico e realizada em dois dias distintos: três e dez de março de 2010, com duração de uma hora e trinta minutos cada dia, direcionada por um roteiro previamente elaborado, contendo questões referentes aos dados biográficos da entrevistada, sua trajetória profissional e seu reconhecimento social. No início da entrevista, realizada na Casa Vida e Saúde, em Florianópolis, Santa Catarina, a Enfermeira Ingrid foi orientada quanto: ao tipo de pesquisa, ao direito de participar ou não da pesquisa, ao sigilo de algumas de suas informações, ao uso de imagens fotográficas e gravação de seu relato, a possibilidade de interromper a entrevista e pedir esclarecimentos, podendo desistir em qualquer fase do processo. Após os esclarecimentos e o aceite da entrevistada em participar do estudo, foi solicitada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Ao término da entrevista, a gravação foi transcrita, transcriada e submetida à entrevistada para a validação de seu conteúdo, conforme o apregoado pelo método de História Oral. Ao devolver o material validado, a enfermeira Ingrid assinou o Termo de Cessão do conteúdo do seu depoimento oral.

Foram realizadas, também, consultas e leituras a fontes documentais secundárias, como: artigos científicos, currículo lattes e capítulos de livros, que serviram de subsídios para a fundamentação teórica desta pesquisa, possibilitando a análise e interpretação contextualizada dos dados. Estes foram analisados através do método de análise de conteúdo,1616. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa (PT): Edições 70, 2004. organizados inicialmente, traçando-se os dados biográficos da enfermeira Ingrid e posteriormente, analisados à luz do contexto da época vivenciada, distribuídos nas seguintes categorias de análise: Ser enfermeira: os primeiros desafios; Ser docente e pesquisadora: novos caminhos; Ser protagonista na criação de grupos relacionados à família; Ser experiente: o reconhecimento social acerca da sua trajetória profissional. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Santa Catarina, sob o protocolo n. 374/2008, conforme a Resolução CNS 196/96 do Ministério da Saúde.1717. Ministério da Saúde (BR). Conselho Nacional de Saúde. Comissão de Ética em Pesquisa. Normas para pesquisa com seres humanos: Resoluçao CNS 196/96 e outras. Brasília (DF): MS; 2000.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De descendência alemã, Ingrid Elsen nasceu no dia 06 de julho de 1940, na cidade de Rio do Sul, Santa Catarina. Filha de Johann Hans Elsen, alemão e, mais tarde, naturalizado brasileiro, que chegou ao Brasil com aproximadamente vinte anos de idade, e de Zigrun Grete Büchler Elsen, catarinense. Viveu até os cinco anos em sua cidade natal, com seus pais e duas de suas irmãs, quando foram morar em Blumenau-SC, em 1945, onde nasceu sua terceira irmã.

Ser enfermeira: os primeiros desafios

Na cidade de Blumenau, realizou seus estudos primários no Colégio Sagrada Família e, posteriormente, no Colégio Santo Antônio, onde concluiu o estudo secundário. O desejo de cursar Enfermagem despertou cedo, quando, ainda adolescente, leu um texto que contava a história de Florence Nightingale: eu gostava muito de ler; lia tudo que caía em minhas mãos. Certa vez, nas "Seleções", li a história de Florence Nightingale e achei-a maravilhosa. Decidi que queria ser enfermeira. Eu não sabia nada sobre enfermagem, nem tampouco tinha ouvido falar nada, mas eu decidi que queria ser uma enfermeira como Florence.

Encantada com o trabalho realizado pela precursora da Enfermagem, conversou com seus pais sobre sua vontade de tornar-se uma profissional desta área. Sua mãe, no entanto, acreditava que a filha deveria conhecer o que faziam as enfermeiras na prática, antes de ingressar efetivamente no curso superior. Assim, o primeiro contato com a profissão aconteceu entre os anos de 1956 e 1958, quando conheceu a rotina de enfermagem da Maternidade Elsbeth Kohler e do Hospital Santa Isabel, ambos em Blumenau-SC. Os primeiros afazeres na Maternidade foram no setor de lavanderia e, posteriormente, cuidados aos bebês prematuros. Já no Hospital, começou trabalhando na higienização do espaço físico da instituição e aprendeu a realizar cuidados de enfermagem, como o banho de leito e aplicação de injeções.

As vivências no cotidiano da prática da enfermagem contribuíram para reafirmar ainda mais sua escolha profissional. Em 1959 realizou o vestibular na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EE/USP), no qual foi aprovada como discente da segunda turma do Curso Superior de Enfermagem, com duração de quatro anos. As aulas no curso de graduação em enfermagem eram teóricas e práticas. No primeiro ano do curso havia disciplinas básicas como Fisiologia, Anatomia e Farmacologia. Todas lecionadas pelos professores da Escola de Medicina, com o acompanhamento constante de uma professora de enfermagem. A partir do segundo ano de graduação, iniciavam as disciplinas específicas da enfermagem, nas quais o conteúdo teórico das patologias era ministrado por médicos e os cuidados de enfermagem, por enfermeiras da Escola. As atividades práticas eram realizadas no Hospital das Clínicas e no Hospital de Psiquiatria da USP, ambos na cidade de São Paulo. Já o estágio em Saúde Pública era realizado no interior de São Paulo, em Araraquara, onde as alunas permaneciam por vários meses na comunidade. Durante os períodos da manhã e tarde, as práticas de Enfermagem eram realizadas em diversos cenários da cidade, como hospitais, creches e ambulatórios de saúde pública.

Desde os primeiros anos do ensino em enfermagem, com a criação da Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública, em 1923, atual Escola Anna Nery, a prática do estágio curricular era desenvolvida concomitante ou após o conteúdo teórico de cada disciplina do curso. Esta prática, bem como a teoria, sofreu transformações ao longo do tempo por determinação dos inúmeros currículos que passaram a ser implementados no período.1818. Medeiros e Costa L, Germano RM. Estágio curricular supervisionado na Graduação em Enfermagem: revisitando a história. Rev Bras Enferm. 2007 Nov-Dez; 60(6):706-10.

Com a conclusão do curso de graduação no ano de 1962, Ingrid percebia o compromisso social de retornar ao seu Estado. Enviou, então, uma carta ao Secretário de Saúde de Santa Catarina, relatando seu desejo de contribuir com seus serviços à população catarinense. O Secretário da Saúde imediatamente contratou-a para trabalhar no Departamento de Saúde Pública (DASP), em Florianópolis-SC. Neste Departamento, iniciou suas atividades profissionais no setor de enfermagem maternoinfantil até o ano de 1965, com a realização de práticas que iam desde orientações às mães, vacinações, até a capacitação de pessoal de enfermagem, inclusive no curso para parteiras da comunidade.

Retornou para São Paulo-SP em 1966, para trabalhar no setor de pediatria do Hospital das Clínicas, onde permaneceu por aproximadamente um ano. Logo após, atendendo ao convite da professora da USP, Nahida Veloso, passou a atuar como instrutora de Enfermagem Pediátrica no Curso de Graduação em Enfermagem até 1967. Em seguida, passou a atuar na assistência de enfermagem do setor de pediatria da Santa Casa de Misericórdia e lecionar na Escola de Enfermagem daquela instituição.

Em 1970, concluiu o curso de especialização em Enfermagem Pediátrica na Escola de Enfermagem da USP. Após o nascimento de sua filha, a permanência em São Paulo-SP, e no trabalho hospitalar, tornou-se muito difícil pela ausência de creche no serviço e pelo aumento da carga horária no hospital, que passou a ser de oito horas diárias. Por estas razões, decidiu retornar à Blumenau-SC. Na ocasião, ...não foi fácil para mim sair de São Paulo, pois gostava muito do meu trabalho na Santa Casa, contudo, minha prioridade era permanecer próxima à minha filha.

Em Blumenau-SC, recebeu o convite da enfermeira Irmã Fidelis para trabalhar na Escola de Enfermagem de Blumenau e no Hospital Infantil, recentemente inaugurado. Concomitante às atividades na Escola, Ingrid participava ativamente das reuniões da Associação Brasileira de Enfermagem, seção Santa Catarina (ABEn-SC), em Florianópolis-SC. Em 1971, devido às suas contribuições na área da Saúde Pública, foi convidada, por intermédio da professora Eloíta Pereira Neves (que atuava na ABEn-SC e no Departamento de Enfermagem da UFSC), para assumir o cargo de Assessora de Saúde Pública na Secretaria de Estado da Saúde, em Florianópolis-SC. Neste momento, atuou junto a uma equipe multidisciplinar, que planejou e implantou a regionalização dos serviços de saúde, através da criação de sete unidades de Centro Administrativo Regional de Saúde (CARS). Estes substituíram os doze distritos sanitários até então existentes no Estado. Os CARSs tinham como objetivo implantar, no nível intermediário, uma estrutura técnica administrativa, com a finalidade de assegurar a atenção integral à saúde, assessorando e executando serviços no nível local e regional. Foram implementados gradativamente e, em 1975, estabelecidos por Decreto, pelo então governador Colombo Machado Salles.1919. Costa E. Hospital Colônia Sant'Ana: o saber/poder dos enfermeiros e as transformações históricas (1971-1981) [tese]. Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem; 2010. Cada unidade contava com uma equipe multiprofissional, incluindo uma enfermeira.

No sentido de garantir uma atuação de enfermagem de saúde pública com qualidade, Ingrid envidou esforços para que enfermeiros fossem incluídos no Programa de Capacitação elaborado pela Secretaria de Estado da Saúde, para realizar o curso de especialização de Faculdade de Saúde Pública da USP/SP, com bolsa de estudos.

Em 1972, foi eleita Presidente da ABEn-SC. Em sua gestão (1972-76), participou de forma ativa na construção de uma Associação voltada ao diálogo entre seus pares, à diminuição do distanciamento geográfico, de ideias e entre instituições e profissionais, através de reuniões descentralizadas em diferentes cidades, e instituições, assim como na realização de eventos de natureza estadual.

A ABEn, desde a sua criação, em 1926, buscou mobilizar esforços a fim de integrar enfermeiros docentes e assistenciais, bem como estudantes de enfermagem, com o objetivo de discutir e consolidar um projeto educacional que atendesse à demanda social. Para tanto, investiu e continua investindo na promoção de encontros, fóruns de debates, oficinas, seminários nacionais e regionais, incentivando a participação efetiva de todos os interessados e envolvidos na educação em enfermagem.20 20. Vale EG, Fernandes JD. Ensino de Graduação em Enfermagem: a contribuição da Associação Brasileira de Enfermagem. Rev Bras Enferm. 2006; 59(esp):417-22.Ainda ocupando a presidência da ABEn-SC, Ingrid Elsen foi indicada pelo Conselho Federal de Enfermagem para coordenar a comissão que criou o Conselho Regional de Santa Catarina (COREn-SC), em 1985.

Ser docente e pesquisadora: novos caminhos

Concluindo sua atividade na Secretaria de Estado da Saúde, Ingrid prestou concurso para docente do Departamento de Enfermagem da UFSC, em Florianópolis-SC. Aprovada nos exames, iniciou, em 1974, suas atividades na disciplina de Fundamentos de Enfermagem e, a seguir, em Enfermagem Pediátrica, na qual desenvolveu os conteúdos de crescimento e desenvolvimento, com atividades práticas em uma unidade de saúde pública do DASP.

Apesar do ingresso no ensino não ter sido sua principal aspiração, Ingrid acreditava que ensinar fazia parte do ser enfermeira, conforme suas palavras: o ensino de enfermagem, a prática do cuidado e a pesquisa são indissociáveis. Um professor não pode apenas lecionar, ele tem que vivenciar a prática e, concomitantemente, analisá-la e propor mudanças sempre que necessário. Esta afirmação expressa sua visão ampliada da profissão, na inter-relação entre os três eixos: ensino, prática e pesquisa. Para ela, a prática de enfermagem deveria ser fundamentada em conhecimentos construídos e ancorados em valores éticos, socioculturais e na ciência da enfermagem.

Seu desempenho na vida profissional a conduziu a um novo desafio: no inicio dos anos 1970, os Cursos de Enfermagem da região Sul do Brasil, liderados pela professora Eloita Pereira Neves (UFSC), sentiram a necessidade de qualificar e ampliar a formação de seus profissionais. A princípio, pensou-se em desenvolver um curso de especialização, entretanto, o grupo decidiu pela realização do curso de mestrado e coube ao Departamento de Enfermagem da UFSC, efetuar as ações para o alcance dos objetivos.

A chefia do Departamento de Enfermagem convidou Ingrid para integrar a comissão que implantou o Curso de Mestrado em Enfermagem na Saúde do Adulto, no período em que era reitor o Professor Roberto Mündell de Lacerda, o qual apoiou o projeto desde seu inicio, pois reconhecia ser fundamental a qualificação do corpo docente. Ingrid assumiu, então, em 1976, a primeira coordenação do Programa, enquanto outras professoras do Departamento iriam cursar o Mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com a participação de professores convidados, de diversos cursos da UFSC e doutoras visitantes de Universidades do Brasil e de uma Universidade americana, teve início a primeira turma do Mestrado, com o retorno da primeira mestre da UFRJ, a professora Maria Albertina Braglia Pacheco, Ingrid tornou-se aluna da segunda turma.

O interesse em compreender a complexidade que envolve a atenção à família teve início quando ainda trabalhava na área de pediatria do hospital. Ingrid observou que as orientações oferecidas às mães, sobre os cuidados necessários as crianças, não eram muitas vezes praticados após a alta hospitalar. Percebeu que não eram somente as mães as responsáveis pelo cuidado domiciliar das crianças, mas que o envolvimento era de toda a família. Por meio de suas vivências profissionais na área, Ingrid entendeu que não poderia pensar no cuidado em enfermagem à criança, sem pensar no contexto familiar, no qual a mesma estava inserida. Com a orientação da professora Dra. Lúcia Hisako Takase Gonçalves e colaboração da Dra. Wanda Horta (EE/USP) e da Dra. Olga Eidt, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ingrid desenvolveu sua dissertação de mestrado "Ações desempenhadas pelas mães durante a visita aos seus filhos hospitalizados", e reforça essa necessidade, conforme fala a seguir: ao desenvolver a metodologia de pesquisa para a dissertação, senti dificuldade para coletar dados apenas através de observações. Achava que seria importante entrevistar as mães para entender as razões que as levavam a agir/falar com as enfermeiras e demais mães durante as visitas. Este "incômodo" com o método certamente teve grande influencia nas opções que fiz mais tarde no doutorado, ao realizar uma observação participante com famílias em uma comunidade do Sul da Ilha, durante seis meses.

O desejo de aprofundar ainda mais o tema família, motivou Ingrid a realizar um curso de doutorado no exterior, como Canadá ou França. No Brasil, nessa época, não havia doutorado em enfermagem, e na França, o curso existente não era reconhecido oficialmente no Brasil. Decidiu, então, ir para os Estados Unidos. Enviou cartas para as Universidades da Califórnia, Texas e Pittsburgh. Após várias tentativas e muito esforço, foi aprovada nas duas primeiras. Com orientação de sua professora de inglês, optou pela Universidade de São Francisco, na Califórnia.

Concluiu o curso de Mestrado em Enfermagem em 1979 e um dia após a defesa da dissertação, viajou para os Estados Unidos para iniciar seu doutorado. Nessa universidade haviam dois programas de doutorado, um deles com área de concentração em enfermagem e outro, em enfermagem à família: participar de um curso sobre enfermagem e famílias era a oportunidade para aperfeiçoar minhas concepções sobre o que entendia ser enfermagem familiar. Cuidar de famílias é conhecer, aplicar e expandir os conhecimentos teórico-metodológicos e éticos ao sistema familiar. O campo da família é interdisciplinar, pois articula saberes e práticas provenientes de várias disciplinas, incluindo a saúde e a enfermagem.

Por esta razão, procurou ampliar seus conhecimentos realizando disciplinas na Sociologia, Antropologia da Saúde e na Psicologia, que contribuíram para sua formação em metodologias qualitativas de pesquisa com famílias.

Concepts of health and ilness and related behaviors among families living in a brasilian fishing village2121. Elsen I. Concepts of health and related behaviors of families living in a fishing village [tese]. San Francisco (US): University of California; 1984. foi sua tese de doutorado, na qual estudou os conceitos e práticas de saúde de famílias vivendo em uma comunidade pesqueira no Sul do Brasil, utilizando uma abordagem qualitativa. Esta pesquisa deu início à produção do conhecimento registrada nas diversas obras publicadas de sua autoria, de seus orientandos e participantes dos grupos e fóruns de estudo.

Em 1984, no retorno ao Brasil, a comunidade científica demonstrou interesse em conhecer as suas vivências com o desenvolvimento da pesquisa qualitativa. Ingrid foi convidada por várias universidades brasileiras para ministrar cursos e eventos nesta área. A socialização de seu conhecimento sobre este tipo de pesquisa, durante as atividades de ensino realizadas no Curso de Pós-Graduação da UFSC, deu uma nova direção no uso de metodologias utilizadas pelos alunos nos trabalhos de conclusão de curso, propiciando um novo modo de pensar e fazer a ciência de enfermagem.

No ensino, suas aulas, especialmente sobre família, exerciam fascinação nos alunos. Ao transmitir seus conhecimentos, o fazia dentro de abordagens que permitiam compartilhar e refletir sobre as ideias e inquietações que o tema propiciava. Várias foram as monografias, dissertações e teses orientadas por ela nos cursos de pós-graduação. Ingrid lamenta que durante os anos que esteve na UFSC, não existiu, na graduação, uma disciplina específica sobre a família. Contudo, quando falava sobre o tema em eventos e cursos, os alunos ficavam encantados e, por próprio interesse, ingressavam no grupo de estudos sobre o tema.

Sua atividade intelectual e acadêmica registra um amplo campo de atuação nos estudos sobre a família. Publicou dezenas de artigos completos e resumos em periódicos e anais. Participou na organização de livros específicos na área e elaborou inúmeros capítulos de livros, expondo suas ideias e experiências, realizadas nos grupos e nas produções resultantes dos trabalhos de conclusão dos cursos de graduação e pós-graduação, em seus diferentes níveis, orientados por ela. Seu envolvimento não era somente com a construção do conhecimento, mas também com a socialização deste conhecimento. Coordenou diversos eventos de abrangência local, nacional e internacional. Seu espírito inovador, seu desejo de compartilhar saberes pulsava em cada trabalho, em cada atividade que exercia.

O interesse da enfermagem, bem como de outras profissões pelo desenvolvimento de estudos que abrangem a família como foco de cuidado primordial, fomentaram a formação de grupos de pesquisas estruturados em torno das questões relacionadas à assistência e à pesquisa da família. Entre eles, o Grupo de Assistência, Pesquisa e Educação na área da Saúde da Família (GAPEFAM), conduzido pela enfermeira Dra. Ingrid Elsen, inspirada em sua tese de doutoramento, no Departamento de Enfermagem da UFSC, no ano de 1984, quando nem sequer haviam menções sobre propostas governamentais envolvendo a saúde da família no Brasil. O grupo agrega, ainda, profissionais de diversas áreas da região Sul do Brasil, através da Rede de Laboratórios de Estudos Interdisciplinares sobre Família e Saúde (LEIFAMS).2222. Stamm M, Mioto RCT. Família e Cuidado: Uma leitura para além do óbvio. Cienc Cuid Saude. 2003 Jul-Dez; 2(2):161-8 - 2323. Schwartz E, Sousa J, Gomes SF, Heck RM. Entendendo a atendendo a família: percepções de graduandos de Enfermagem. Cienc Cuid Saude. 2004 Jan-Abr; 3(1):65-72.

No início da década de 1990, Ingrid assumiu a coordenação da área de enfermagem da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), desempenhando, também, as atividades de consultora. Neste mesmo período, mais precisamente em 1992, a professora Ingrid foi uma das responsáveis pela criação da Revista Texto & Contexto Enfermagem (PEN/UFSC), sendo sua primeira editora. A decisão de criar essa revista estava respaldada no fato de haver reduzido número de periódicos nacionais de divulgação, consumo e socialização da produção oriunda dos Programas de Pós-Graduação em Enfermagem. O diferencial dessa revista, em relação às demais existentes no país, estava no fato da mesma ser temática.2424. Padilha MI, Bruggemann OM, Silva DGV, Monticelli M. Evolução da Revista Texto & Contexto Enfermagem, Florianópolis, SC, Brasil (1992-2011). Cultura Cuidados. 2011; 15(30):7-10.

Ingrid mantinha permanente interesse pela qualificação dos enfermeiros. Através do GAPEFAM, mobilizou os professores do grupo e do Departamento de Enfermagem para a realização do curso de especialização em Enfermagem às Famílias. Para ela, o cuidado de enfermagem às famílias é uma pratica social que deve ser construída com base científica, técnica e humanística.

Ingrid aposentou-se na UFSC em 1995, após 33 anos de trabalho nas diversas instituições. Acreditava que o ambiente da UFSC tinha se tornado muito burocratizado, controlado e rotineiro, entendendo que ali não era mais o seu lugar. Entretanto, continuou desempenhando atividades de pesquisa no GAPEFAM e com a coordenação da Rede Sul do LEIFAMS. Voltou a desempenhar as atividades de ensino quando foi convidada, em 1995, a participar do Curso Expandido de Mestrado em Enfermagem da UFSC, nas Universidades de Concórdia-SC e de Erechim-RS, permanecendo dois anos e meio neste projeto.

Em 2002, passou a ministrar aulas no curso de Mestrado Profissional Interdisciplinar em Saúde, área de concentração Saúde da Família na Universidade do Vale de Itajaí (UNIVALI), na cidade de Itajaí-SC. Nesta instituição, criou o projeto de extensão, o Univali Mulher, integrando alunos de graduação e da pós-graduação e que tinha por objetivo a prevenção da violência doméstica contra meninas e adolescentes. Permaneceu nessa universidade até 2008, afastando-se por problemas de saúde: foi uma experiência maravilhosa ter participado do Mestrado Interdisciplinar na UNIVALI. Consegui realizar meu grande sonho: integrar uma equipe multidisciplinar que buscava aprender e praticar a interdisciplinaridade no ensino e na prática com famílias.

Ser protagonista na criação dos grupos relacionados ao cuidado à família

O que Ingrid realmente almejava era pesquisar e trabalhar com a família. O objeto de sua aspiração era participar na construção de conhecimentos sobre a família, mas também, na instrumentalização da equipe de saúde para o cuidado e a construção de espaços para discutir questões e elaborar propostas relacionadas às políticas públicas nesta área de conhecimento.

Ao retornar ao Departamento de Enfermagem da UFSC, em 1984, além de assumir a coordenação da Pós-Graduação, buscou dar continuidade à pesquisa que realizou para a conclusão do seu curso de doutorado. Tinha como proposta o desenvolvimento de estudos sobre os conhecimentos e as práticas de cuidado à saúde das famílias catarinenses, em suas diferentes etnias. Para tal, convidou docentes, profissionais dos serviços de saúde e estudantes para integrarem o GAPEFAM. A partir deste momento, e ao longo de mais de duas décadas, o GAPEFAM, formado por diversos participantes, esteve sob sua liderança.

A integração entre a pesquisa, a prática e a educação era o eixo que estruturava o trabalho realizado pelos membros do grupo. A história construída ao longo dos anos, e em constante movimento, revela uma trajetória de produção e de divulgação dos conhecimentos sobre a família, através da produção científica e na organização de eventos científicos.2525. Bub LI, Elsen I, Penna CMM, Althoff CR, Patricio ZM, organizadores. Marcos para a prática de Enfermagem com famílias. Florianópolis (SC): Editora da UFSC; 1994.

26. Elsen I, Marcon SS, Santos MR, organizadores. O viver em família e sua interface com a saúde e a doença. Maringá (PR): Eduem; 2002.
- 2727. Althoff CR, Elsen I, Nitschke RG. Pesquisando a família: olhares contemporâneos. Florianópolis (SC): Papa- Livro; 2004. Além disso, os integrantes do grupo, incentivados por Ingrid, mobilizaram-se para a realização do curso de especialização em Enfermagem na Saúde da Família, pela UFSC, qualificando diversos profissionais para as ações junto às famílias.

Pioneira na criação do grupo, Ingrid projetou a formação de novos grupos e de estudos sobre família e saúde, na região Sul, como o da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Pelotas (UFPe) e da Universidade Federal do Rio Grande (UFRG), o que deu origem à criação da Rede Sul de Pesquisa em Família e Saúde, com o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Esta rede, de cunho interdisciplinar, mantém articulações em âmbito nacional e internacional, tendo em suas propostas a construção de um espaço para propor e desenvolver tecnologias interdisciplinares de ensino, pesquisa e assistência voltadas às famílias que vivenciam o processo saúde/doença, denominado LEIFAMS.

Em 1998, ajudou a fundar a Organização Não governamental (ONG), denominada "Centro Crescer Sem Violência". A criação da ONG surgiu de um problema que despontou em um projeto de extensão realizado pelo GAPEFAM. A busca de solução motivou os integrantes deste grupo, e de outros dois grupos da UFSC, a realizarem o curso de especialização em Violência, LACRI/USP, em São Paulo-SP. O objetivo era instrumentalizar-se para o atendimento das famílias vivenciando situações de violência doméstica e intrafamiliar. Alguns membros do GAPEFAM fazem parte do Centro Crescer sem Violência e sua integração é importantíssima na promoção de eventos e desenvolvimento de ações. Ingrid tem buscado promover este intercâmbio. Através do Centro Crescer sem Violência, foi criado o projeto ARTEMIS: Empoderando Mulheres Mães e Seus Filhos, cujo grupo era composto por enfermeiras, psicólogas, assistentes sociais e acadêmicos de psicologia e enfermagem. Na UFSC, o GAPEFAM nomeou este projeto de Promoção da Saúde e Cidadania das Famílias, transformado em projeto institucional que recebe recursos. É um projeto de extensão vinculado à pesquisa e à educação, desenvolvidos por duas professoras da UFSC e cinco bolsistas.

Nestes últimos anos, Ingrid direcionou seus esforços para trabalhar com a questão da violência intrafamiliar. Considera a violência uma questão de família, de saúde e de direitos humanos, que precisa ser compreendida e enfrentada a partir de uma abordagem biopsicosóciocultural e política. Atualmente, acredita que, em seu caminho, está a oportunidade de contribuir para a integração da Saúde da Família em um aspecto mais amplo, tanto interdisciplinar quanto intersetorial e, ainda, relacionada às políticas públicas.

Ser experiente: o reconhecimento social acerca da sua trajetória profissional

A trajetória profissional de Ingrid Elsen foi marcada por desafios e momentos de superação a cada nova conquista. O papel exercido por ela, juntamente com outros professores, na implantação e implementação do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC, foi um marco para o desenvolvimento das atividades de pesquisa científica na área da enfermagem catarinense e brasileira. Por suas realizações na área de enfermagem, recebeu várias condecorações. Em 1971, recebeu a Medalha Edith Magalhães Fraenckel, da ABEn, como coautora na pesquisa coordenada por Eloíta Pereira Neves (UFSC) e, em 1990, por coautoria Prêmio Lais Neto dos Reis, o diploma de Honra ao Mérito. Em 1995, recebeu diploma de Honra ao Mérito do Centro de Ciências da Saúde da UFSC. Em 2004, foi agraciada com o título de "Presidente de Honra" do Simpósio Internacional Famílias em Situação de Risco, da Fundação Universidade Federal do Rio Grande. Em 2005, recebeu diploma de Honra ao Mérito, do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí-SC.

Em 2007, em reconhecimento a sua atuação na prestação de serviços à saúde da população de Florianópolis-SC, recebeu diploma de Honra ao Mérito do Conselho Municipal de Saúde - Secretaria de Saúde de Florianópolis. Em 2008, recebeu homenagem do Mestrado em Saúde e Gestão do Trabalho, da Universidade do Vale do Itajaí-SC. Em 2010, foi congratulada com o "Prêmio Ingrid Elsen aos pesquisadores em educação", no XII Colóquio Pan-Americano de Pesquisa em Enfermagem, na cidade de Florianópolis-SC. Em agosto de 2011, como presidente do LEIFAMS, foi homenageada durante dois eventos voltados para Enfermagem à Família, na UEM, pelos seus promotores: o Departamento de Enfermagem e o Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. A homenagem foi pelos relevantes trabalhos para a formação de enfermeiros e profissionais de saúde, na área de família no Brasil. Estas homenagens demonstram o reconhecimento da contribuição que Ingrid Elsen trouxe para o ensino, a pesquisa e a extensão da enfermagem catarinense e brasileira.

CONSIDERACÕES FINAIS

Os escritos biográficos de Ingrid Elsen retratam sua trajetória profissional permeada por conquistas e inovações. Sua competência e saber, seu idealismo e visão ampliada dos elementos que envolvem a vida humana, fez desta grandeza a pioneira da enfermagem brasileira no cuidado à família.

Seu pioneirismo no desenvolvimento de pesquisas de abordagens qualitativas revelou saberes e mudanças paradigmáticas para a compreensão de problemas de saúde, especialmente focalizados no cuidado à família e família e violência, decorrentes de situações de vulnerabilidade social. Apontou caminhos para o cuidado para além do espaço de enfermagem, acenando a possibilidade de trabalhos interdisciplinares. Cuidado e cultura foram os fios condutores e balizadores de suas ideias, ao compartilhar e construir redes de estudos e cuidado.

A criação não somente de um grupo de pesquisa interdisciplinar com foco no cuidado da família, mas a visionária estruturação de uma Rede de Estudos e Práticas Interdisciplinares de Família e Saúde inspirou a fundação de diversos grupos de pesquisas com estes mesmos objetivos em todo o Brasil, revolucionando/transformando a pesquisa nesta área.

Sua fecunda e inigualável atuação profissional, marca o espírito de liderança. Dotada de uma inteligência criativa e espírito agregativo, sua liderança se impunha no trabalho em equipe ao estabelecer metas desafiadoras e em mobilizar e motivar o grupo para a realização de uma nova proposta. Destaca-se como importante personagem que ajudou a construir a história da enfermagem brasileira, participando ativamente no crescimento e desenvolvimento profissional, na criação dos cursos de pós-graduação da enfermagem catarinense, na formação de grupos e redes de ensino, pesquisa e educação e entidades associativas.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2014

Histórico

  • Recebido
    06 Set 2012
  • Aceito
    24 Maio 2013
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