Acessibilidade / Reportar erro

Atividades do enfermeiro de Centro de Material e Esterilização em instituições hospitalares

Actividades del enfermero en un Centro de Material y Esterilización en instituciones hospitalarias

Resumos

Estudo descritivo e transversal que objetiva identificar as atividades dos enfermeiros de Centro de Material e Esterilização de instituições hospitalares, segundo o perfil de atividades e frequência de realização. A seleção dos sujeitos realizou-se pela técnica em cadeia de referência ou "bola de neve". Os dados foram coletados com a ferramenta Google Docs Offline®, com questionário autoaplicado contendo a caracterização profissional e as atividades específicas dos enfermeiros de Centro de Material e Esterilização. Os resultados evidenciam, em relação ao perfil dos respondentes, faixa etária entre 21 e 30 anos e com especialização na área de Centro de Material e Esterilização (33,4%). Das 25 atividades relacionadas, 15 atividades apresentam frequência de realização diária, nove atividades, realização mensal e 14 atividades aparecem como nunca sendo realizadas. Evidencia-se a necessidade de incorporar novas questões sobre o futuro do trabalho no Centro de Material e Esterilização, sugerindo o desenvolvimento de novas pesquisas na área.

Recursos humanos de enfermagem; Papel do profissional de enfermagem; Esterilização; Administração de materiais no hospital


Este estudio descriptivo y transversal objetiva identificar las actividades de los enfermeros del Centro de Material y Esterilización de instituciones hospitalarias según el perfil de las actividades y la frecuencia de realización. La selección de los sujetos se realizó por la técnica en cadena de referencia o el llamado en portugués "bola de neve" (pelota de nieve). Los datos fueron colectados con la herramienta Google Docs Offline®, con cuestionarios auto aplicado conteniendo caracterización profesional y las actividades especificas de los enfermeros y el Centro de Material y Esterilización. Los resultados evidencian, en relación al perfil de los encuestados, faja etaria entre 21 y 30 años, enfermeros con especialización en el área de Centro de Material y Esterilización (33,4%). De las 25 actividades relacionadas, 15 actividades presentan frecuencia de realización diaria, nueve actividades con realización mensual y 14 actividades aparecen como nunca siendo realizadas. Se evidencia la necesidad de incorporar nuevas cuestiones sobre el futuro del trabajo en la Centro de Material y Esterilización, sugiriéndose entonces el desarrollo de nuevas pesquisas en el área.

Recursos humanos de enfermería; Papel del profesional de enfermería; Esterilización; Administración de materiales en el hospital


This cross-sectional descriptive study aims to identify the activities of nurses at Material Storage Centers of hospital institutions according to the activity profile and frequency of application. Subjects were selected through the reference chain or "snowball" technique. Data were collected using Google Docs offline®, posting a questionnaire on professional specification and specific activities of the nurses at Material Storage Centers. As to the respondents' profile, the results show the age group 21 to 30 years, nurses with specialization in Material Storage Centers (33.4%). As to the 25 activities under investigation, 15 activities present a daily frequency, nine activities a monthly frequency and 14 activities appear as never performed. This shows the need to incorporate new questions on the future of the work in Material Storage Centers, suggesting further research in the area.

Nursing staff; Professional nursing role; Sterilization; Hospital materials administration


ARTIGO ORIGINAL

Atividades do enfermeiro de Centro de Material e Esterilização em instituições hospitalares1 Endereço para correspondência: Rosineide Feres Gil Rua Weslley Cesar Vanzo, 189, ap. 406, Torre Mistral 86050-500 - Londrina, PR, Brasil E-mail: rfg.gil@gmail.com

Actividades del enfermero en un Centro de Material y Esterilización en instituciones hospitalarias

Rosineide Feres GilI; Silvia Helena CameloII; Ana Maria LausIII

IMestre em Enfermagem. Enfermeira do Centro de Material Esterilizado do Hospital Universitário de Londrina. Paraná, Brasil. E-mail: rfg.gil@gmail.com

IIDoutora em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da EERP/USP. São Paulo, Brasil. E-mail: shcamelo@eerp.usp.br

IIIDoutora em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da EERP/USP. São Paulo, Brasil. E-mail: analaus@eerp.usp.br

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Rosineide Feres Gil Rua Weslley Cesar Vanzo, 189, ap. 406, Torre Mistral 86050-500 - Londrina, PR, Brasil E-mail: rfg.gil@gmail.com

RESUMO

Estudo descritivo e transversal que objetiva identificar as atividades dos enfermeiros de Centro de Material e Esterilização de instituições hospitalares, segundo o perfil de atividades e frequência de realização. A seleção dos sujeitos realizou-se pela técnica em cadeia de referência ou "bola de neve". Os dados foram coletados com a ferramenta Google Docs Offline®, com questionário autoaplicado contendo a caracterização profissional e as atividades específicas dos enfermeiros de Centro de Material e Esterilização. Os resultados evidenciam, em relação ao perfil dos respondentes, faixa etária entre 21 e 30 anos e com especialização na área de Centro de Material e Esterilização (33,4%). Das 25 atividades relacionadas, 15 atividades apresentam frequência de realização diária, nove atividades, realização mensal e 14 atividades aparecem como nunca sendo realizadas. Evidencia-se a necessidade de incorporar novas questões sobre o futuro do trabalho no Centro de Material e Esterilização, sugerindo o desenvolvimento de novas pesquisas na área.

Descritores: Recursos humanos de enfermagem. Papel do profissional de enfermagem. Esterilização. Administração de materiais no hospital.

RESUMEN

Este estudio descriptivo y transversal objetiva identificar las actividades de los enfermeros del Centro de Material y Esterilización de instituciones hospitalarias según el perfil de las actividades y la frecuencia de realización. La selección de los sujetos se realizó por la técnica en cadena de referencia o el llamado en portugués "bola de neve" (pelota de nieve). Los datos fueron colectados con la herramienta Google Docs Offline®, con cuestionarios auto aplicado conteniendo caracterización profesional y las actividades especificas de los enfermeros y el Centro de Material y Esterilización. Los resultados evidencian, en relación al perfil de los encuestados, faja etaria entre 21 y 30 años, enfermeros con especialización en el área de Centro de Material y Esterilización (33,4%). De las 25 actividades relacionadas, 15 actividades presentan frecuencia de realización diaria, nueve actividades con realización mensual y 14 actividades aparecen como nunca siendo realizadas. Se evidencia la necesidad de incorporar nuevas cuestiones sobre el futuro del trabajo en la Centro de Material y Esterilización, sugiriéndose entonces el desarrollo de nuevas pesquisas en el área.

Descriptores: Recursos humanos de enfermería. Papel del profesional de enfermería. Esterilización. Administración de materiales en el hospital.

INTRODUÇÃO

O Centro de Material e Esterilização (CME) destaca-se no contexto da organização de saúde de uma forma bastante peculiar por caracterizar-se como uma unidade de apoio a todos os serviços assistenciais e de diagnóstico que necessitem de artigos odonto-médico-hospitalares para a prestação de assistência aos seus usuários.1

Um dos fatores que contribuiu decisivamente para a implantação e consolidação das CMEs nos hospitais foi a conscientização das equipes de saúde quanto à necessidade de controle das infecções hospitalares, uma vez que essas determinam um impacto direto na qualidade do serviço prestado e implicam, muitas vezes, um aumento do período de internação e consequentemente, dos custos da assistência hospitalar. A compreensão sobre a influência dos procedimentos de limpeza, desinfecção e esterilização dos materiais na prevenção e controle das infecções hospitalares reforça a importância e responsabilidade do CME no contexto das instituições de saúde, pois a existência de falhas nesses processos é determinante para o surgimento de complicações nos pacientes.2-3

Pode-se afirmar que o CME se configura como uma unidade que tem um processo de trabalho diferente e uma área de atuação específica para o enfermeiro que, utilizando uma série de conhecimentos científicos e tecnológicos para a coordenação do trabalho, busca um entrosamento com as unidades consumidoras e com as unidades de apoio da instituição hospitalar, caracterizando uma relação de interdependência.

O trabalho do enfermeiro no CME deve ser considerado um cuidado legítimo, por instrumentalizar o cuidado direto, na medida em que ocorre um reconhecimento de que o preparo de materiais é essencial para o cotidiano da prática assistencial da enfermagem.4-5

A respeito das funções nesta unidade, do enfermeiro são exigidas competências pertinentes à administração do setor, ao desenvolvimento de atividades técnico-assistenciais e à gestão do capital humano, necessitando de um conjunto de saberes estruturados que possibilite o alcance das finalidades propostas para seu trabalho numa unidade que requer tanta responsabilização.

Nesta perspectiva, outro desafio que se apresenta ao enfermeiro do CME relaciona-se ao processo de trabalho em si desta unidade, marcado fortemente por uma ação de invisibilidade, dado que o cuidado indireto é menos valorizado, apesar de se constituir numa prática fundamentada em saberes tácitos e científicos que poderiam propiciar uma reconhecimento social.6

As características de trabalho do CME são bastante distintas de outras unidades do hospital. Apesar das normativas legais quanto à estruturação adequada da CME, o que se tem verificado é que elas não correspondem ao panorama atual, em que não são atendidos os requisitos de funcionamento, tanto nos aspectos de estrutura física como de atividades realizadas. Em decorrência desse panorama, tem-se uma diversidade de serviços que consequentemente impactam no conjunto de atividades realizadas pelos profissionais que atuam nesta unidade.

A literatura tem disponibilizado vários documentos originários de resoluções legais que indicam não somente o escopo de funcionamento dos CMEs como também as atividades a serem desenvolvidas pela equipe de enfermagem. Tal descrição se fundamenta na constatação de que esta unidade tradicionalmente tem seu gerenciamento a cargo da enfermagem, dada a sua responsabilização pela organização do espaço terapêutico no hospital.

Assim, no que concerne à execução das atividades dos profissionais de enfermagem de CME, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEn) definiu e determina, por meio do seu Decreto n. 94406/1987, que regulamenta a Lei n. 7.498/86, que entre as atribuições do auxiliar de enfermagem está a execução das atividades de limpeza, ordem do material e de equipamentos, bem como as atividades de desinfecção e esterilização, sob a supervisão e orientação do enfermeiro.7

Posteriormente, foi publicada a Resolução da Diretoria Colegiada 307/2002, que referenda os aspectos inerentes à conformação das atividades próprias dessa unidade,8 porém verifica-se que nela não estão contempladas várias atividades técnicoadministrativas, como planejamento, organização, coordenação, orientação, supervisão, treinamento e educação continuada, atividades e responsabilidades estas que integram o cotidiano do enfermeiro que atua no CME.9

Nesta mesma direção, com objetivo de fortalecer as normativas legais elaboradas para subsidiar os enfermeiros atuantes nos CMEs, a Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização (SOBECC), em 2007, divulgou um extenso roll de atividades previstas para a equipe de enfermagem da unidade.10

Diante da complexidade do processo de trabalho realizado nessa unidade e das ocorrências envolvendo a qualidade dos processos relativos ao reprocessamento de diferentes materiais médico-hospitalares, recentemente foi publicada a RDC n. 15/2012, com objetivo de estabelecer os requisitos de boas práticas para o funcionamento dos serviços que realizam o processamento de produtos para a saúde e, entre elas, descreve as atribuições da equipe de enfermagem.11

Frente a este documento, o COFEn publica a Resolução n. 424/2012, diante da necessidade de regulamentar no âmbito nacional as atribuições dos membros da equipe de enfermagem em Centros de Materiais e Esterilização, que tem sido considerada como um norteador para a prática profissional de enfermagem desta unidade.12

Compondo este conjunto de publicações que estabelecem e recomendam um perfil de atribuições, deve ser mencionado o estudo desenvolvido em instituições hospitalares da cidade de São Paulo, consideradas de referência e de bom padrão de desempenho no desenvolvimento dos processos de trabalho ali realizados, que identificou e validou as atividades desenvolvidas pela equipe de enfermagem em CMEs. A pesquisa permitiu a construção de um quadro representativo de ações desenvolvidas nesta unidade, composto de seis áreas, 25 subgrupos de trabalho e 110 atividades, além de 25 atividades executadas pelos enfermeiros.3

Entretanto, dada a especificidade das instituições nas quais se realizou esta pesquisa, considerou-se de interesse investigar diferentes realidades hospitalares no país, particularmente no que concerne ao trabalho desenvolvido pelos enfermeiros de CMEs, possibilitando obter uma visão mais abrangente do trabalho nestas unidades e ainda compreender a complexidade e peculiaridade das atividades deste profissional, bem como reafirmar sua importância no gerenciamento desta unidade.

Diante dessas considerações e da relevância do tema para a prática profissional de enfermagem realizou-se esta pesquisa, que teve por objetivo identificar as atividades dos enfermeiros dos CMEs de instituições hospitalares, segundo o perfil de atividades e frequência de realização.

MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo e transversal. A população é composta por enfermeiros assistenciais e/ou docentes de Central de Material e Esterilização de instituições hospitalares públicas, privadas ou filantrópicas de todo território nacional, com experiência profissional e conhecimento na área estudada. Para a seleção dos sujeitos optou-se pela técnica em cadeia de referência ou "bola de neve" (snowball technique),13 considerando a importância da experiência ou conhecimento no assunto, de modo a se obter consenso de ideias especializadas.

Iniciou-se o recrutamento a partir da sinalização do informante-chave inicial, que foi o Coordenador da Área de Enfermagem Perioperatório da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, por ser uma instituição reconhecida no meio acadêmico nacional e internacional. A ele foi solicitada a indicação do nome, função e endereço eletrônico de três profissionais que poderiam atender aos critérios de composição da amostra.

Com a identificação dos prováveis participantes, a pesquisa foi exposta via correio eletrônico (e-mail), por meio do documento de apresentação da pesquisa aos profissionais identificados, realizando o convite, tendo sido criado um e-mail exclusivo para contato. Diante da aquiescência de participação era apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e, sequencialmente, os questionários.

Para a coleta foram construídos dois instrumentos autoaplicados, um para caracterização dos participantes, e outro denominado "Questionário das atividades específicas do enfermeiro no CME", composto por 25 atribuições específicas do enfermeiro dessa unidade, construído a partir do estudo extraído da dissertação de mestrado.3 O participante deveria avaliar e assinalar a atividade descrita em uma Escala do tipo Likert de frequência de realização, variando de nunca, raramente, diariamente, semanalmente e mensalmente. O participante deveria responder obrigatoriamente a uma das alternativas de cada questão do instrumento, cujo preenchimento era condição essencial para abertura das páginas subsequentes, bem como para visualização do questionário completo. Além do roll de atividades, foi incluído um campo aberto no qual poderiam ser acrescidas atividades não contempladas na relação apresentada, segundo sua opinião.

Para viabilizar a coleta das informações da pesquisa, assessorados por um profissional de informática, utilizou-se da ferramenta Google Docs Off line®, considerada muito versátil e que admite vários usos, como questionário simples, ficha de cadastro, pesquisa de opinião, enquete, etc. Além disso, ele pode ser facilmente compartilhado por e-mail ou através do link direto, o que transforma esse recurso em uma opção muito interessante para professores, alunos, pesquisadores e profissionais cujo trabalho envolva a aplicação de questionários.14 As respostas coletadas são automaticamente inseridas em uma planilha, o que facilita a geração de estatísticas.

Todo o fluxo de documentos da pesquisa foi via correio eletrônico, os resultados foram exclusivamente acessados pelo pesquisador. Estipulou-se um prazo de devolução de 15 dias aos participantes e a coleta ocorreu no período de julho de 2011 a abril de 2012.

Para análise dos dados utilizou-se estatística descritiva das variáveis estudadas, adotando-se distribuição de frequência, e os resultados, agrupados em tabelas.

O projeto de pesquisa, em acordo com as normas contidas na Resolução n. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (Protocolo n. 1331/2011).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram contatados e houve retorno de aquiescência para participação no estudo de 82 profissionais, para os quais foi enviado o link do instrumento de coleta de dados e, destes, obtiveram-se 31 respondentes, que se constituiu na amostra desta pesquisa.

A opção pelo uso da ferramenta eletrônica baseou-se em revisão da literatura que permitiu a identificação de estudos que apontam a utilização de ferramentas tecnológicas que viabilizam a execução de estudos utilizando a web como aliada no processo de pesquisa. São recursos auxiliares e de apoio que, quando bem utilizados, facilitam ao pesquisador a investigação.15

No uso da pesquisa on-line pode haver uma resistência maior para responder à pesquisa, porque muitos usuários ficam temerosos de que seus dados sejam usados indevidamente ou de maneira criminosa e por isso preferem evitar acessos a páginas desconhecidas que possam supostamente fragilizar a segurança pessoal.16

Nossa investigação corrobora a afirmativa de que, apesar do desenvolvimento acentuado de metodologias e tecnologias de comunicação que possibilitam um contato mais rápido e preciso com a população de interesse da investigação, houve uma resistência na participação da pesquisa on-line.

Quanto ao perfil de caracterização dos enfermeiros participantes deste estudo, a tabela 1 retrata as variáveis coletadas.

Os dados demonstram que, dos enfermeiros experts na área de CME, 93,55%, são do sexo feminino, com idade entre 21 e 60 anos, sendo 35,49 % na faixa etária jovem entre 21 a 30 anos. Em relação ao período de formação acadêmica, 61,29% possuem menos que 15 anos de formado, porém com maior contingente entre um a cinco anos. Quanto ao tempo de atuação na área, 58,08% possuem entre um e cinco anos de experiência no setor.

A literatura nacional apresenta poucos estudos que descrevem o perfil de enfermeiros em unidades de CME. Pesquisa desenvolvida em 18 instituições de saúde da cidade de Curitiba-PR, com objetivo de descrever a percepção de enfermeiros acerca dos elementos do seu processo de trabalho no CME, obteve 93,3% dos sujeitos do sexo feminino, na faixa etária entre 41 e 50 anos (53,3%), com até cinco anos de formado (53,8%) e tempo de atuação em CME entre dois a cinco anos (60%).17 Com exceção da idade, os aspectos relativos à formação e tempo de atuação se assemelham, o que possibilita visualizar como se constitui o perfil de profissionais que atuam nesta unidade especializada.

Os dados referentes à formação complementar apontam que 33,35% dos participantes possuem especialização específica em CME. Estudos têm demonstrado que a formação profissional deve contribuir para a renovação da dinâmica administrativa dos serviços de enfermagem, valorizando o conhecimento específico do enfermeiro de CME e a importância desse setor para a qualidade na assistência prestada.18

Em relação às atividades realizadas pelos profissionais investigados, que se constituem no objetivo da presente pesquisa, os dados estão descritos na tabela 2, com a respectiva frequência de realização obtida.

A análise das respostas indica que, do conjunto de atividades relacionadas, 15 foram assinaladas pela maioria dos respondentes como de realização diária e nove com realização mensal. Entre as atividades citadas como sendo de realização diária e que apresentam as maiores frequências, segundo ordem decrescente, destacam-se: supervisão das atividades realizadas na unidade, confirmação da programação das cirurgias, verificando a disponibilidade dos materiais e roupas estéreis; atendimento das unidades consumidoras; coordenação do processo de trabalho da unidade; acompanhamento da equipe na execução das atividades, principalmente os trabalhadores novos; supervisão do funcionamento dos equipamentos utilizados em cada uma das áreas de trabalho; confirmação da programação das cirurgias verificando a entrega dos materiais consignados; e checagem da documentação de controle de esterilização.

A gerência constitui a atividade principal do enfermeiro de CME, compreendendo diversas funções, como planejamento, elaboração de instrumentos administrativos e operacionais, administração de recursos materiais e de pessoal e supervisão. O enfermeiro tem suas atividades concentradas na organização de materiais e pessoal, sendo que os artigos médico-hospitalares processados ou reprocessados constituem-se no seu objeto de trabalho.19 Os instrumentos do processo de trabalho deste profissional se revelaram constituir-se pelos conhecimentos, comunicação e relacionamento interpessoal e planejamento.

Esses dados são semelhantes ao estudo realizado com dez enfermeiros de CME da cidade de Campinas-SP, em que se encontra a gerência como principal atividade realizada pelo enfermeiro desta unidade, abarcando diversas funções, como planejamento, elaboração de instrumentos administrativos e operacionais, administração de recursos materiais e de pessoal, supervisão. Nesta pesquisa, as atividades gerenciais mais relatadas por todos os enfermeiros participantes referem-se à administração de recursos materiais, predominando a previsão e provisão, o controle e a checagem do seu preparo.20

O gerenciamento de recursos materiais na área hospitalar tem assumido destaque principalmente com os avanços tecnológicos das últimas décadas. A incorporação de tecnologia sofisticada pode ser percebida pelo aumento da complexidade das práticas assistenciais e dos desafios que os gestores de instituições públicas e privadas enfrentam diante do aumento da oferta de produtos, e possibilita realizar o monitoramento da qualidade dos produtos, preservando a segurança para o paciente e equipe de saúde.21

A Central de Material e Esterilização é uma unidade que se articula com praticamente todos os setores do hospital, já que fornecem produtos médicos às chamadas unidades consumidoras, que compreendem não só o Centro Cirúrgico, mas também as unidades de internação, o ambulatório, a emergência, entre outras.22

O corpo de enfermagem possui conhecimento minucioso da dinâmica da assistência e da unidade, sendo, geralmente, responsável pelo gerenciamento dos materiais do setor e dos serviços de saúde. Assim, torna-se clara a relevância do gerenciamento de recursos materiais para o trabalho de enfermagem.23

Inicialmente atribuía-se ao CME as atividades de processar, armazenar e distribuir os artigos e instrumentais odonto-médico-hospitalares, utilizando para isso diversos instrumentos de trabalho (equipamentos, materiais, técnicas, normas, comunicação, conhecimentos científicos, educação em serviço, gerenciamento, etc.). Entretanto, atualmente verifica-se que vai além, pois tem a finalidade de realizar o cuidado indireto por meio da disponibilização de artigos seguros que auxiliem o cuidado direto prestado por outros setores (unidades consumidoras) para atender as necessidades de saúde dos clientes.4

O enfermeiro de CME precisa mostrar competências no que diz respeito à modernização do processo produtivo e, principalmente, na valorização dos recursos humanos e sua atualização constante, através de uma educação continuada eficaz e comprometida com o desenvolvimento de todas as potencialidades dos profissionais de enfermagem diante das novas tecnologias implementadas.18

Um aspecto que deve ser analisado cuidadosamente refere-se às atividades relacionadas à supervisão do funcionamento dos equipamentos utilizados em cada uma das áreas de trabalho pelo enfermeiro, que necessita conhecer seus equipamentos e o bom funcionamento dos mesmos, para garantir a assistência prestada aos clientes, tornando-a confiável e segura. O monitoramento dos equipamentos e o treinamento dos funcionários responsáveis pela operação das máquinas são fundamentais para o bom desempenho da unidade.

Em relação aos materiais médico-hospitalares, no que se refere à responsabilidade do enfermeiro do CME quanto à verificação da programação cirúrgica dos materiais consignados, na recepção, controle do uso, cobrança e também na devolução desse material, verifica-se nesta pesquisa que esta representa uma atribuição diária, mas não para todos os respondentes. Identifica-se que, em algumas instituições, tal responsabilidade inexiste para esse profissional, o que denota uma conformação diferente no processo de trabalho do CME quanto a itens de materiais de uso cirúrgico, predominantemente.

Outro aspecto que também surpreendeu refere-se à ausência de participação dos enfermeiros em pesquisas (41,94%). Em 48,39% dos respondentes constata-se a realização dessa atividade raramente. Somente 9,67% dos enfermeiros relatam realizar com frequência mensal essa atividade. Segundo estudos desenvolvidos, a produção vem ocorrendo nas formas de dissertações de mestrado, teses de doutorado, monografias de especialização e iniciação científica, assim como livros e trabalhos em eventos científicos.20

Sobre a prática profissional do enfermeiro do CME é possível dizer que essa unidade tem como função primordial oferecer o suporte para o cuidado aos pacientes em diferentes situações de atendimento. Deste modo, trata-se de um trabalho específico cuja atividade dominante é a gerência do processamento dos diferentes artigos médico-hospitalares.

Entretanto, a crescente oferta de materiais médico-hospitalares descartáveis e a terceirização de serviços vêm tornando obsoletas várias atividades no CME.20 Acrescenta-se a esse quadro a evolução de produtos e a reutilização daqueles originalmente fabricados para uso único, incorporando novas questões sobre o futuro do trabalho no CME, que, certamente, determinarão um reformatação em sua estrutura e atividades.

CONCLUSÕES

O estudo permitiu conhecer o perfil de profissionais enfermeiros atuantes em CME, bem como avaliar a frequência de realização das atividades atribuídas a este profissional nessa unidade especializada, que se caracteriza como um setor das instituições de saúde cujo processo de trabalho constitui-se de saberes e práticas específicas, com objetivos e finalidades distintos das demais unidades das instituições. Por suas características, é reconhecido pela natureza de um trabalho de produção de cuidados indiretos, que instrumentaliza a assistência na área da saúde, oferecendo o suporte necessário para diferentes atividades assistenciais.

Das 25 atividades relacionadas no instrumento de coleta de dados e que se referem a atividades validadas que retratam o trabalho do enfermeiro de CMEs, 15 atividades apresentam frequência de realização diária, nove atividades registradas com realização mensal, 14 atividades aparecem com baixos percentuais e algumas como nunca sendo realizadas.

A investigação possibilitou identificar as necessidades de pesquisa na área de CME, aprofundando os conhecimentos na área de gerenciamento de enfermagem e sugerir a continuidade de novos trabalhos que possam avaliar as diferentes facetas do trabalho do enfermeiro e da equipe de enfermagem.

Recebido: 29 de Agosto 2012

Aprovado: 10 de Setembro 2013

1 Artigo extraído da dissertação - Atividades do enfermeiro de Centro de Material e Esterilização em instituições hospitalares, apresentada à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da Universidade de São Paulo (USP), 2012.

  • 1. Silva A. Organização do trabalho na unidade centro de material. Rev Esc Enferm USP. 1998 Ago; 32(2):169-78.
  • 2. Moura MLA. Enfermagem em Centro de Material e Esterilização: apontamentos - saúde, 5. 2ª ed. São Paulo (SP): SENAC; 1999.
  • 3. Costa JA. Atividades de enfermagem no centro de material e esterilização: subsídios para o dimensionamento de pessoal [dissertação]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo; 2009.
  • 4. Taube SAM, Zagonel IPS, Méier MJ. Um marco conceitual ao trabalho da enfermagem na Central de Material e Esterilização. Cogitare Enferm. 2005 Mai-Ago; 10(2):76-83.
  • 5. Tonelli SR, Lacerda RA. Refletindo sobre o cuidar no centro de material e esterilização. Rev SOBECC. 2005; 10(1):28-31.
  • 6. Machado RR, Gelbcke FL. Que brumas impedem a visibilização do centro de material e esterilização? Texto Contexto Enferm. 2009 Abr-Jun; 18(2):347-54.
  • 7
    Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) [Internet]. Decreto n. 94.406/87. Regulamenta a Lei n. 7.498/86. 1987 [acesso 2012 Ago 27]. Disponível em: http://www.portaleducacao.com.br/enfermagem/artigos/1735/decreto-n-94406-87-regulamentacao-da-lei-n-7498-86
  • 8
    Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) [Internet]. Resolução - RDC n. 307, de 14 de novembro de 2002. Altera a Resolução - RDC n. 50 de 21 de fevereiro de 2002 que dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. 2002 [acesso 2012 Ago 27]. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/3f54b800474597439fb7df3fbc4c6735/RDC +N%C2%BA+307-2002.pdf?MOD=AJPERES
  • 9. Bronzatti JAG. O trabalho de enfermagem na unidade central de material: uma abordagem ergonômica [dissertação]. São Paulo (SP) Universidade de São Paulo; 2002.
  • 10
    Sociedade Brasileira de Enfermagem em Centro Cirúrgico. Recuperação anestésica e Centro de Material e Esterilização: práticas recomendadas. 4ª ed. São Paulo (SP): SOBECC; 2007.
  • 11
    Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) [Internet]. Resolução RDC n. 15, de 15 de março de 2012. Dispõe sobre requisitos de boas práticas para o processamento de produtos para saúde e dá outras providências. 2012 [acesso 2012 Jul 5]. Disponível em: http://www.brasilsus.com.br/legislacoes/gm/112548-15.html
  • 12
    Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) [Internet]. Resolução COFEN n - 424, de 19 de abril de 2012. Normatiza as atribuições dos profissionais de enfermagem em Centro de Material e Esterilização e em empresas processadoras de produtos para saúde. Diário Oficial da União, Brasília, DF (2012 Abr 23) [acesso 2012 Ago 27]. Disponível em: http://site.portalcofen.gov.br/node/8990
  • 13. Oliveira ADS, Santos AMR, Amorim FCM, Carvalho AMC, Câmara JT, Carvalho PMG. Aspectos sócio-políticos da implantação da central de transplantes de Piauí. Rev Bras Enferm. 2007 Jul-Ago; 60(4):405-9.
  • 14
    Google docs [Internet] [acesso 2011 Mai 4]. Disponível em: http://www.docs.google.com
    » link
  • 15. Freitas H, Janissek-Muniz R, Andriotti FK, Freitas P, Costa RS. Pesquisa via Internet: características, processo e interface [Internet]. 2004 [acesso 2011 Jun 21]. Disponível em: http://www.ufrgs.br/gianti/files/artigos/2004/2004_140_rev_eGIANTI.pdf
  • 16. Malhotra N. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 4ª ed. Porto Alegre (RS): Bookman; 2006.
  • 17. Taube SAM. O processo de trabalho da enfermeira na central de material e esterilização: uma perspectiva tecnológica aos instrumentos [dissertação]. Curitiba (PR): Universidade Federal do Paraná; 2006.
  • 18. Costa Aguiar BG, Soares E, Costa da Silva A. Evolução das Centrais de Material e Esterilização: história, atualidades e perspectivas para a enfermagem. Enferm Global [online]. 2009 Fev [acesso 2011 Jun 21]; (15). Disponível em http://scielo.isciii.es/pdf/eg/n15/pt_reflexion2.pdf
  • 19. Taube SAM, Meier MJ. O processo de trabalho da enfermeira na Central de Material e Esterilização. Acta Paul Enferm. 2007 Ago; 20(4):470-5.
  • 20. Bartolomei SRT, Lacerda RA. Trabalho do enfermeiro no Centro de Material e seu lugar no processo de cuidar pela enfermagem. Rev Esc Enferm USP. 2006 Set; 40(3):412-7.
  • 21. Gil RB. O processo de notificação da queixa técnica de material de consumo de uso hospitalar no contexto do gerenciamento de recursos materiais em um hospital universitário público [dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Universidade de São Paulo; 2011.
  • 22. Silva AC, Aguiar BGC. O enfermeiro na Central de Material Esterilização: uma visão das unidades consumidoras. Rev Enferm UERJ. 2008 Jul-Set; 16(3):377-81.
  • 23. Ventura PFEV. Participação do enfermeiro na gestão de recursos hospitalares. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais; 2011.
  • Endereço para correspondência:
    Rosineide Feres Gil
    Rua Weslley Cesar Vanzo, 189, ap. 406, Torre Mistral
    86050-500 - Londrina, PR, Brasil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      06 Fev 2014
    • Data do Fascículo
      Dez 2013

    Histórico

    • Recebido
      29 Ago 2012
    • Aceito
      10 Set 2013
    Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós Graduação em Enfermagem Campus Universitário Trindade, 88040-970 Florianópolis - Santa Catarina - Brasil, Tel.: (55 48) 3721-4915 / (55 48) 3721-9043 - Florianópolis - SC - Brazil
    E-mail: textoecontexto@contato.ufsc.br