RESUMO
Objetivos
analisar a percepção de mulheres egressas do sistema prisional sobre os principais estressores que marcaram suas trajetórias de vida e discutir a viabilidade da técnica Entrevista Narrativa Etnográfica Clínica para facilitar a narrativa desse grupo.
Método
pesquisa narrativa desenvolvida em um dispositivo de proteção social do interior de São Paulo. Os dados foram coletados em 2021 (janeiro e fevereiro) utilizando a técnica Entrevista Narrativa Etnográfica Clínica, que intercala narrativas e recursos visuais. A sinergia entre os conceitos de vulnerabilidade e estresse foi adotada como referencial teórico, tendo sido realizada a análise de conteúdo. A discussão da viabilidade foi pautada nos critérios aceitabilidade e expansão.
Resultados
As narrativas abordaram dificuldades psicossociais pregressas ao encarceramento e o ambiente hostil do cárcere superlotado como lócus de conflitos e abuso de poder. Desamparo familiar, distanciamento dos filhos, emoções negativas, sintomas somáticos e traumas foram mencionados como consequências da reclusão. As participantes também relataram processos de enfrentamento com palavras que remetiam às ideias de superação, esperança, recomeço e gratidão. Entende-se que esse ponto alto das narrativas pode ter reflexos do potencial da técnica de entrevista e corrobora a sua adequação.
Conclusão
O indubitável caráter doloroso das narrativas sobre as diferentes adversidades vivenciadas, sobretudo em decorrência da reclusão, também foi perpassado por aspectos que denotaram processos resilientes. A adoção da referida técnica de entrevista tornou a coleta de dados mais sensível, acolhedora e oportuna para ampliar o repertório de palavras na expressão dos sentimentos e revisitação de experiências dolorosas, vislumbrando possibilidades positivas para o futuro.
DESCRITORES:
Saúde mental; Mulheres; Estresse relacionado a aspectos da vida; Promoção da saúde; Prisão; Apoio social