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Grupo de Estudos de História do Conhecimento da Enfermagem e Saúde (gehces): produção de conhecimento na pós-graduação stricto sensu

Resumos

O Grupo de Estudos de História do Conhecimento da Enfermagem e Saúde, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, vem produzindo conhecimento sobre este tema nos últimos quinze anos. Trata-se de uma pesquisa documental com o objetivo de analisar as dissertações de mestrado e teses de doutorado deste grupo, no período de 1995 a 2010. Foram produzidas 23 dissertações de mestrado e 12 teses de doutorado. O grupo contribui em inúmeras frentes, seja com a produção científica que se materializa através dos conteúdos inovadores ministrados aos estudantes, seja através da disponibilização dos resultados de suas pesquisas, proporcionado aos seus integrantes maior visibilidade que se traduz através dos convites para participação de eventos científicos e integração de comitês editoriais. Há necessidade de avançar no sentido de ampliar a integração com outros grupos de história e a conscientização da comunidade acadêmica acerca da história da enfermagem.

Enfermagem; História; Pesquisa; Conhecimento


The History of Nursing and Health Knowledge Study Group linked to the Graduate Nursing Program at the Federal University of Santa Catarina, has been producing knowledge on this subject over the past 15 years. This documentary study presents an assessment of the group's master's theses and doctoral dissertations conducted between 1995 and 2010. A total of 23 master's theses and 12 doctoral dissertations were developed. The group has contributed on many fronts, whether with scientific production that embodies innovative content taught to students, or with the dissemination of its studies' results, which gives greater visibility to its members translates into invitations for them to participate in scientific events and on editorial boards. There is a need to move toward greater integration with other research groups in the field of history and sensitize the academic community to the importance of nursing history.

Nursing; History; Research; Knowledge


El Grupo de Estudios de Historia del Conocimiento de la Enfermería y Salud, vinculado al Programa de Postgrado en Enfermería de la Universidad Federal de Santa Catarina, produce conocimiento sobre este tema en los últimos quince años. Se trata de una investigación documental con el objetivo de analizar las disertaciones de maestría y tesis de doctorado de este grupo, en el período de 1995 a 2010. Fueron producidas 23 disertaciones de maestría y 12 tesis de doctorado. El grupo contribuye con la producción científica a través de contenidos innovadores enseñados a los estudiantes y pone a disposición los resultados de la investigación, también proporciona una mayor visibilidad a sus miembros que se traduce a través de invitaciones a participar en eventos científicos. Hay necesidad de avanzar en el sentido de mayor integración con otros grupos de historia y la conscientización de la comunidad académica acerca da historia de la enfermería.

Enfermería; Historia; Investigación; Conocimiento


ARTIGO ORIGINAL

Grupo de Estudos de História do Conhecimento da Enfermagem e Saúde (gehces): produção de conhecimento na pós-graduação stricto sensu

El Grupo de Estudios de Historia del Conocimiento de la Enfermería y Salud (gehces): producción de conocimiento en post-grado

Roberta CostaI; Miriam Süsskind BorensteinII; Maria Itayra PadilhaIII

IDoutora em Enfermagem. Coordenadora da equipe de enfermagem da unidade neonatal do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Santa Catarina, Brasil. E-mail: robertanfr@hotmail.com

IIDoutora em Enfermagem. Professora Associado do Programa de Pós-Graduação de Enfermagem da UFSC. Pesquisadora do CNPq. Santa Catarina, Brasil. E-mail: miriam@nfr.ufsc.br

IIIDoutora em Enfermagem. Professora Associado do Departamento de Enfermagem da UFSC. Pesquisadora do CNPq. Santa Catarina, Brasil. E- mail: padilha@nfr.ufsc.br

Endereço para correspondência Correspondência: Roberta Costa Rua Euclides de Castro, 371, ap. 203 8080-010 – Coqueiros, Florianópolis, SC, Brasil E-mail: robertanfr@hotmail.com

RESUMO

O Grupo de Estudos de História do Conhecimento da Enfermagem e Saúde, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, vem produzindo conhecimento sobre este tema nos últimos quinze anos. Trata-se de uma pesquisa documental com o objetivo de analisar as dissertações de mestrado e teses de doutorado deste grupo, no período de 1995 a 2010. Foram produzidas 23 dissertações de mestrado e 12 teses de doutorado. O grupo contribui em inúmeras frentes, seja com a produção científica que se materializa através dos conteúdos inovadores ministrados aos estudantes, seja através da disponibilização dos resultados de suas pesquisas, proporcionado aos seus integrantes maior visibilidade que se traduz através dos convites para participação de eventos científicos e integração de comitês editoriais. Há necessidade de avançar no sentido de ampliar a integração com outros grupos de história e a conscientização da comunidade acadêmica acerca da história da enfermagem.

Descritores: Enfermagem. História. Pesquisa. Conhecimento.

RESUMEN

El Grupo de Estudios de Historia del Conocimiento de la Enfermería y Salud, vinculado al Programa de Postgrado en Enfermería de la Universidad Federal de Santa Catarina, produce conocimiento sobre este tema en los últimos quince años. Se trata de una investigación documental con el objetivo de analizar las disertaciones de maestría y tesis de doctorado de este grupo, en el período de 1995 a 2010. Fueron producidas 23 disertaciones de maestría y 12 tesis de doctorado. El grupo contribuye con la producción científica a través de contenidos innovadores enseñados a los estudiantes y pone a disposición los resultados de la investigación, también proporciona una mayor visibilidad a sus miembros que se traduce a través de invitaciones a participar en eventos científicos. Hay necesidad de avanzar en el sentido de mayor integración con otros grupos de historia y la conscientización de la comunidad académica acerca da historia de la enfermería.

Descriptores: Enfermería. Historia. Investigación. Conocimiento.

INTRODUÇÃO

A Pós-Graduação stricto sensu em enfermagem teve início, no Brasil, na década de 1970, com a criação dos primeiros Programas, nas Escolas de Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1972 e, posteriormente, em 1973, na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP).1 Após este período outros programas foram sendo criados, e foi inegável o aumento da produção científica a partir dos anos de 1980, através da publicação de teses, dissertações, artigos, livros, capítulos de livros, entre outros. Essa produção tem se consolidado gradativamente, tanto no cenário brasileiro como internacional, na área de enfermagem e saúde, e tem contribuído inclusive para a formação de recursos humanos qualificados, como também para o desenvolvimento científico-tecnológico nacional.2

Inicialmente, a produção científica, que era realizada individualmente, pelos diversos pesquisadores brasileiros, gradativamente, passou a ser desenvolvida por equipes de pesquisadores, organizada sob a forma de grupos de pesquisa.3-7 O grupo de pesquisa é constituído por um conjunto de pesquisadores, estudantes e pessoal de apoio técnico que organiza seus estudos em torno de linhas de pesquisa, segundo uma regra hierárquica fundada na experiência e na competência técnico-científica. Esse conjunto de pessoas utiliza, em comum, as facilidades e instalações físicas.8 Geralmente essas pessoas estão vinculadas à instituições de ensino superior e outros institutos de pesquisa científica, e são cadastradas no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Técnológico/Diretório dos Grupos de Pesquisa-CNPq. Os grupos de pesquisa em enfermagem surgiram na década de 1970, no país, e de acordo com o último censo (2010), há um total de 448 grupos cadastrados no Diretório.8

Acompanhando o desenvolvimento institucional e educacional, os grupos de pesquisa vêm se expandindo e contribuindo para uma prática de enfermagem pautada em busca de novos conhecimentos, bem como na contribuição direta à formação destes profissionais. Articulado a este amadurecimento profissional, o interesse por áreas temáticas e linhas de pesquisas na enfermagem avançam e vem seguindo o movimento da própria profissão, ao longo do tempo.9 A partir dos anos 1990 passou a ocorrer uma expansão da produção de História da Enfermagem, tendo obtido o reconhecimento como linha de pesquisa, pela CAPES, no ano de 2000. Segundo o Censo 2010, existem cadastrados no CNPq 34 Grupos de Pesquisa em História da Enfermagem. Estes possuem como uma de suas linhas de pesquisa, a História da Enfermagem.9

A consolidação dos Grupos de Pesquisa em História da Enfermagem, bem como o desenvolvimento de sua produção técnico-científica, em articulação com o ensino da história da enfermagem, nos programas de graduação e pós-graduação, promovem uma consciência segura e fortalecida da enfermagem, como ciência e profissão.10-13

Em Santa Catarina, o Grupo de Estudos de História do Conhecimento da Enfermagem (GEHCE) foi criado em 1995, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PEN) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Sua organização teve início em março de 1995, sob a coordenação das Dras. Alcione Leite da Silva e Lygia Paim. Em 1998, a Dra. Maria Itayra Padilha assumiu a coordenação, até 2001, quando o grupo passou a ser coordenado pela Dra. Miriam Süsskind Borenstein, até 2007, e em 2008, a coordenação foi assumida novamente pela Dra. Maria Itayra Padilha.

A partir de 2008, devido à avaliação interna do grupo, e à percepção de que a sua composição atendia ao preconizado pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC de aceitar estudantes de outras especialidades, para cursarem o mestrado ou o doutorado em enfermagem, o GEHCE assume uma mudança essencial em seu nome, passando a chamar-se Grupo de Estudos da Historia do Conhecimento em Enfermagem e Saúde (GEHCES).

Atualmente o GEHCES é formado por sete pesquisadores, 15 estudantes e dois técnicos. Desenvolve pesquisas em cinco linhas: A história da enfermagem no Brasil - um estudo prospectivo; A história das especialidades em saúde e enfermagem; A história do ensino e das práticas de enfermagem no Brasil; A identidade profissional na saúde e na enfermagem; e História em enfermagem em saúde.

O grupo tem como propósito desenvolver estudos que tratem da retrospectiva e perspectiva da enfermagem no cenário político, cultural, educacional e social, nacional e internacional, com objetivos de resgatar a documentação escrita, fontes iconográficas e cultura material relativas às instituições que orientaram a prática da enfermagem brasileira e internacional; conhecer e analisar a trajetória da produção do conhecimento da enfermagem; conhecer os personagens e suas experiências na construção da história da enfermagem; preservar a memória da enfermagem brasileira, com intuito de instrumentalizar outros pesquisadores e constituir espaço de memória na área de saúde; consolidar a linha de pesquisa em História da Enfermagem e Saúde no PEN/UFSC; além de apoiar o desenvolvimento de projetos de pesquisa em história da enfermagem e áreas correlatas.

Após quinze anos de sua existência e de trabalho desenvolvido pelos seus integrantes, o GEHCES possui uma ampla produção científica e, portanto, é importante e necessário dar visibilidade ao que tem sido produzido até o presente momento. Este estudo tem como objetivo analisar as dissertações de mestrado e teses de doutorado defendidas por estudantes participantes do GEHCES, no período compreendido entre 1995 a 2010. Esta iniciativa se deve à comemoração dos 15 anos do grupo, sendo considerada extremamente importante no sentido de detectar as lacunas no conhecimento e possibilitar maior visibilidade sobre os temas abordados. Assim, este material possibilitará a outros pesquisadores e demais interessados em história da enfermagem, a tomada de conhecimento do que tem sido produzido e a utilização desse material bibliográfico. Este estudo dá maior visibilidade à produção da pesquisa em torno do tema história da enfermagem e subsidiará o próprio grupo a direcionar suas próximas investigações, procurando fortalecer, ampliar ou redimensionar as suas linhas de pesquisa.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa do tipo documental, descritiva, exploratória, de natureza quanti-qualitativa.14 Para alcançar o objetivo proposto, o estudo foi desenvolvido em três etapas. A primeira compreendeu a identificação de todas as dissertações e teses orientadas pelas professoras doutoras do GEHCES, cadastradas nos currículos na Plataforma Lattes CNPq das mesmas, e na relação de teses e dissertações do PEN-UFSC, totalizando 23 dissertações e 12 teses concluídas. Na segunda etapa, foi feita uma leitura atenta dos resumos de todos os estudos concluídos até setembro de 2010, sendo que em alguns estudos realizou-se também a leitura dos capítulos referentes aos objetivos, ao referencial teórico-metodológico e às considerações finais.

Na terceira etapa, as pesquisadoras realizaram a análise dos dados, que compreendeu a fase de ordenação, classificação e agrupamentos dos estudos, de acordo com as linhas de pesquisa do GEHCES. Os dados foram organizados inicialmente em quadros, contendo o título do estudo, seus objetivos, autor, procedência e profissão do autor, referencial teórico, referencial metodológico e os principais achados. Este processo possibilitou avaliar a produção científica de forma global, pautando as realizações do GEHCES e traçando novas perspectivas para pesquisa em história da enfermagem e saúde. Após análise do material obtido, estes foram agrupados em tabelas e gráficos, passando então a discutir de modo qualitativo.

Por tratar-se de uma pesquisa documental, o estudo não precisou ser submetido ao Comitê de Ética da UFSC, entretanto, os pesquisadores seguiram todos os preceitos éticos, segundo o que determina a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante os quinze anos de existência, o GEHCES produziu 12 teses de doutorado e 23 dissertações de mestrado, que possibilitaram a publicação de vários artigos indexados, resumos e trabalhos apresentados em eventos de âmbito internacional e nacional. Neste momento, optamos por debruçar a nossa atenção para a produção de conhecimento na pós-graduação stricto sensu. Embora o grupo tenha tido como foco a História da Enfermagem, no início foram produzidos alguns estudos não específicos, pois o PEN/UFSC tinha em seu currículo obrigatório, disciplinas que estimulavam a produção de outros estudos, sendo que a primeira dissertação produzida no grupo, foi a da Professora Elizabeta Roseli Eckert, do Departamento de Enfermagem da UFSC, intitulada: "A prática educativa com famílias de crianças hospitalizadas", defendida em 1999.

Ao observarmos a evolução da produção científica ao longo do tempo (Figura 1), percebemos que o grupo mantém uma constante em relação ao número de dissertações de mestrado produzidas, predominando de uma a três por ano. A partir do ano de 2000, houve um aumento expressivo das defesas de dissertação, em decorrência do ingresso de uma segunda doutora no GEHCES.


Com relação às teses de doutorado, constatamos que a primeira defesa ocorreu em 2001, do doutorando Mauro Leonardo do Santos, procedente da Universidade Federal Fluminense (UFF), com a tese intitulada: "A compaixão e as vicissitudes na prática da enfermagem". A partir daí, outras foram defendidas, com uma média de uma a duas por ano, em decorrência do pequeno número de doutoras orientadoras no grupo, considerando os 48 meses para o término do curso de doutorado. Cabe destacar que, no momento, temos cinco doutorandas trabalhando em suas teses.

As teses e dissertações produzidas no período em foco (1995-2010) foram elaboradas em quase sua totalidade por enfermeiras(os) (32). Entretanto, outros profissionais também passaram a participar como estudantes no GEHCES, ou seja, duas fisioterapeutas e dois psicólogos(as). Este fato pode ser melhor compreendido, a partir da informação que já mencionamos anteriormente, que o Programa de Pós-Graduação em Enfermagem sofreu, em 2000, uma mudança curricular, recebendo uma nova identidade intitulada: "O cuidado no processo de viver humano", tendo uma única área de concentração, e passando a receber profissionais de outras áreas da saúde e educação.

Quando se busca conhecer a procedência dos mestrandos e doutorandos, verifica-se que estes, em sua maioria, são enfermeiras(os) procedentes dos serviços de saúde do Estado de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Além destes, duas estudantes eram procedentes de Minas Gerais, um da Argentina, porém residente há longo tempo no Brasil, e uma da cidade de Aveiro - Portugal. Esta última ingressou no Programa através de um convênio realizado em 2005, entre a UFSC com a Universidade de Aveiro - Portugal. Nesse Convênio, três outros enfermeiros também realizaram mestrado no PEN/UFSC, atendendo à política de internacionalização do Programa. Esta foi uma experiência particularmente importante para os integrantes do GEHCES, pois pela primeira vez tiveram contato mais direto e por longo tempo com uma estudante do continente europeu, uma realidade bastante diversa da brasileira e latino-americana. Em consequência disso, houve troca de experiências, tanto do ponto de vista profissional como cultural, o que demonstra a necessidade constante de buscar maior integração com diferentes nações e culturas

Ao abordar as linhas de pesquisa que mais se destacaram em relação às dissertações de mestrado realizadas (Figura 2), verifica-se que a linha de "História do ensino e das práticas de enfermagem" prevaleceu com 15 trabalhos. Entendemos que isto se deve ao atendimento do requisito da disciplina obrigatória do mestrado intitulada "Prática Assistencial", e que, dentre suas atividades, estava o planejamento e a implementação do um projeto de prática assistencial em um dos ambientes de prática profissional. Na maioria das vezes os estudantes decidiam dar continuidade a este projeto como parte de sua dissertação de mestrado, por meio da utilização do método de Pesquisa Convergente-Assistencial (PCA).15


Esta modalidade de pesquisa foi desenvolvida pelas Professoras Mercedes Trentini e Lygia Paim, a partir do final da década de 1990, e pode ser compreendida como uma articulação entre o pensar e o fazer; entre ações desenvolvidas por pesquisadores, com pessoas que vivenciavam determinadas situações, em geral, problema de saúde, numa relação de cooperação mútua.15 A PCA se caracteriza como trabalho de investigação e se propõe a refletir e analisar a prática assistencial, com base em fenômenos vivenciados no seu contexto, como construções conceituais inovadoras. O ato de assistir, de cuidar, constitui parte do processo da pesquisa. O profissional enfatiza o "pensar" e o "fazer", ou seja, ele pensa fazendo e faz pensando, com o objetivo de sistematizar o que faz.15 A partir dessa interação, ocorria a definição do problema de pesquisa e o levantamento dos dados empíricos. Portanto, grande parte das dissertações, teve como foco, as práticas de cuidado

Em decorrência do enfoque dado à disciplina de prática assistencial, que objetivava uma intervenção na prática profissional, as dissertações elaboradas fugiram inicialmente um pouco da perspectiva das linhas de história do próprio GEHCES, pois pelo tempo de dois anos que os mestrandos dispunham desde seu ingresso, até a conclusão dos trabalhos, ficava inviabilizada a elaboração de trabalhos históricos. Entretanto, com todas as dificuldades e limitações, alguns trabalhos importantes de cunho histórico foram realizados em instituições de saúde e fora delas, como por exemplo, a dissertação elaborada por Lúcia Helena Rodrigues da Costa,16 sobre "Memórias das parteiras: entrelaçando gênero e história de uma prática de cuidar", e a dissertação de mestrado elaborada por Neli Sílvia Andreazzi Canassa,17 sobre o "Saber fazer das parteiras na Maternidade Carmela Dutra (1977-1994)", instituição criada na década de 1950 em Florianópolis-SC, e que teve importância vital na sociedade catarinense. Além disso, outros estudos históricos foram feitos sobre aids em Santa Catarina (Hospital Nereu Ramos),18 e sobre os trabalhadores aposentados no Hospital Colônia Sant'Ana.19

Sobre a temática da aids tivemos mais dois estudos enfocando o vivenciar das pessoas portadoras do vírus HIV, a partir de suas histórias de vida,20-21 e que se enquadraram na história das especialidades em saúde e enfermagem.

O desenvolvimento de uma prática assistencial permaneceu como requisito obrigatório no programa até 2008, havendo assim uma grande tendência dos estudantes desenvolverem seus estudos, no sentido de buscar a resolução ou minimização de problemas na prática, ou para realização de mudanças e/ou introdução de inovações nas práticas de saúde. Estes estudos poderiam levar a construções teóricas consistentes, tratava-se da utilização do método de PCA.15 Entretanto, a partir de 2008, foi implementada a nova estrutura curricular do Curso de Mestrado em Enfermagem, retirando do currículo a disciplina de pratica assistencial, e assumindo a PCA como um método, juntamente com os demais métodos qualitativos e quantitativos, o que facilitou uma implementação maior dos estudos históricos.

Em relação às teses de doutorado, percebemos que as mesmas concentram-se principalmente na linha "A história das especialidades em saúde e enfermagem" (oito), seguidas das linhas "Identidade profissional na saúde e na enfermagem" (dois) e "A história do ensino e das práticas de enfermagem" (dois) (Figura 3), confirmando o impacto nacional e internacional em termos de publicação na área da História da Enfermagem, o que faz com que o GEHCES passe a ser efetivamente conhecido e reconhecido na sua área de atuação.


O processo de formação de doutores em enfermagem possibilita a capacitação de profissionais para o desenvolvimento da pesquisa, do ensino e da atenção à saúde da população. Nesse processo, a construção de novos conhecimentos da área se constitui em elemento fundamental para o desenvolvimento científico e tecnológico da enfermagem e da saúde, tendo as linhas de pesquisa como eixo norteador desse processo.12,22 Neste sentido, os doutorandos do GEHCES passaram a desenvolver pesquisas históricas, buscando os constituintes históricos que respondessem à problemática contemporânea da compreensão da construção profissional, bem como da prática assistencial da enfermagem.2

A análise dos trabalhos evidenciou que todos os estudos tiveram abordagem qualitativa, seguindo a tendência do próprio PEN/UFSC, nos últimos anos. A pesquisa qualitativa possibilita a compreensão da experiência humana como um todo, considerando-a de maneira holística e permitindo aos profissionais de saúde novas perspectivas na descoberta de realidades relacionadas à saúde do indivíduo, tanto em ambientes institucionais, como comunitários, de forma flexível.23

A partir dos resumos das dissertações e teses já concluídas podemos observar que, segundo o método de investigação, os estudos utilizaram o método de pesquisa histórico-social, do tipo descritivo qualitativo, alguns enfocando a história oral como método e como técnica e outros, a pesquisa documental. Também foi utilizada a PCA como método, exclusivamente no mestrado.

Ao identificarmos o referencial teórico que orientou os estudos, percebemos que o referencial de Michel Foucault foi utilizado na grande maioria das teses. Nas dissertações, os que mais se destacaram foram o referencial teórico-metodológico da Pedagogia Libertadora de Paulo Freire e a Teoria Humanística de Paterson e Zderad. Os autores utilizaram também outros referenciais teóricos, tais como: nas teses, perspectiva subjetivista da antropologia simbólico/interpretativa/hermenêutica, defendida por Geertz, as ideias de Nietzsche e Schopenhauer, a Teoria da Ação Comunicativa de Jurgen Habermas, e padrões de conhecimento desenvolvidos por Carper, Munhall e White. Nas dissertações, temos o referencial teórico de Rosemarie Rizzo Parse, a Teoria Geral do Autocuidado, de Dorothea Orem, e as premissas de Florence Nightingale, devido aos estudos efetuados inicialmente, como já assinalado, por influência do PEN/UFSC.

A diversidade na adoção de métodos de pesquisa, com aprofundamento de bases teóricas e filosóficas, demonstra uma apropriação do conhecimento sobre essas bases, incutindo a aplicação de perspectivas de outras disciplinas para o estudo dos fenômenos da enfermagem.24

Quanto às áreas de estudo, constatou-se que grande parte desta produção concentra-se na área da saúde do adulto (11), seguida da área da psiquiatria (sete), saúde da criança (quatro), saúde da mulher (três), saúde coletiva (cinco) e das entidades organizativas de enfermagem (dois). Ainda em menor número, temos estudos na área do ensino de enfermagem (dois) e história das especialidades (um). Faz-se necessário ressaltar que, em alguns dos estudos relacionados, os autores procuraram integrar a sua especialidade aos conhecimentos históricos, o que enriquecia ainda mais suas dissertações e teses.

Neste trabalho, gostaríamos de destacar também, que o GEHCES tem, frequentemente, estudantes de iniciação científica, e que estes estudantes progridem no Programa, encaminhando-se para o mestrado e doutorado. Muitos mestrandos foram incentivados a seguir carreira acadêmica e realizar o doutorado (oito), sendo que a temática da dissertação foi mantida por alguns mestres, tornando seus estudos mais consistentes no doutorado. Somado a isso, algumas teses têm conseguido evoluir para projetos financiados pelo CNPq, particularmente atrelados aos projetos das professoras orientadoras.

Os resultados das dissertações e teses foram divulgados em forma de artigos, capítulos de livros, livros e resumos apresentados em diversos eventos científicos – um aspecto bastante positivo e que tem possibilitado o reconhecimento do GEHCES no cenário local, regional, nacional e internacional, traduzido por convites para publicação de artigos, de livros, capítulos de livros, participação em comitês editoriais, eventos, mesas redondas, bancas, concursos, entre outros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS/PERSPECTIVAS

Ao realizarmos esta avaliação de parte da produção científica do GEHCES, é possível considerar como indiscutível a contribuição do grupo para a construção do conhecimento da área da enfermagem brasileira e, até mesmo, internacional. O GEHCES tem contribuído em inúmeras frentes. No Programa de Pós-Graduação e no Departamento de Enfermagem da UFSC, o grupo tem contribuído com a produção científica que se materializa através dos conteúdos inovadores ministrados aos estudantes da graduação e pós-graduação e da disponibilização dos resultados de suas pesquisas. No Estado catarinense, fornece subsídios teóricos e metodológicos de História da Enfermagem e outros conteúdos, aos docentes das trinta escolas de graduação em enfermagem existentes. No Brasil e exterior, especialmente na América Latina, os conhecimentos históricos produzidos tem proporcionado aos seus integrantes maior visibilidade, que se traduz através dos convites formulados para participação de eventos científicos, integração de comitês editoriais e na produção de farta bibliografia.

Como limitação do estudo, salientamos que não foi analisada a publicação em periódicos ou avaliado o impacto das teses e dissertações, o que já estamos viabilizando através de um estudo a ser publicado brevemente. Entretanto, reconhecemos ainda que a produção científica em termos de dissertações e teses, ainda é reduzida, tendo em vista que no período estudado (1995-2010) havia apenas duas doutoras que orientavam mestrandos e doutorandos.

Atribuímos essa dificuldade de doutores na área de História de Enfermagem e Saúde, a certa resistência dos profissionais de saúde, uma vez que o país, e mesmo o mundo globalizado, procura dar maior ênfase aos conteúdos técnicos, que possuem uma aplicação prática imediata, e busca solucionar os problemas ainda relacionados à saúde-doença.

Com tudo isso, acreditamos que ainda temos muito a avançar, buscando maior integração com outros grupos de pesquisa da área, com o ingresso de novos doutores e, finalmente, com a conscientização da comunidade da enfermagem e de outras áreas da saúde para a relevância da História da Enfermagem.

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Recebido: 12 de Dezembro de 2010

Aprovação: 1º de Novembro de 2011

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  • Correspondência:

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Abr 2013
    • Data do Fascículo
      Mar 2013

    Histórico

    • Recebido
      12 Dez 2010
    • Aceito
      01 Nov 2011
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