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Educação e saúde mental na família: experiência com grupos vivenciais

La educación y la salud mental en la familia: experiencia con los grupos vivenciales

Education and mental health in the family: experience with living groups

Resumos

Estudo de natureza descritiva abordando famílias de crianças do ensino fundamental, em parceria com uma escola pública de ensino fundamental e médio em Fortaleza, CE. Buscou-se: realizar grupos vivenciais com estas famílias; identificar dificuldades vivenciadas nas relações familiares e conhecer a percepção e influência das sessões grupais na dinâmica familiar. Realizou-se oito encontros na escola entre abril e outubro de 2003, com boa interação e importante troca de experiências entre os pais. Após os encontros, foram realizadas entrevistas com as famílias participantes, apontando-os como espaço de discussão sobre educação dos filhos e relações intrafamiliares e acolhimento à proposta de um grupo de pais na escola como contribuição à manutenção do equilíbrio nas relações intrafamiliares. Os depoimentos deram origem a categorias temáticas. O estudo realizado evidenciou, através de grupos vivenciais com famílias, possibilidade de promoção em saúde mental, através de ações de educação em saúde propiciando melhoria na qualidade da interação entre seus membros.

Família; Saúde mental; Educação; Enfermagem


Estudio de naturaleza descriptiva abordando a las familias de los niños de la educación primaria con el apoyo de una escuela pública de educación primaria y secundaria en Fortaleza, CE. Se buscó: realizar grupos vivenciales con éstas familias; identificar las dificultades vivenciadas en las relaciones familiares y conocer la percepción e influencia de las sesiones grupales en la dinámica familiar. Se realizaron ocho encuentros en la escuela entre abril y octubre del 2003, con una buena interacción e importante intercambio de experiencias entre los padres. Después de los encuentros, se entrevistaron algunas familias participantes, señalándolas como un espacio de discusión sobre la educación de los hijos y las relaciones intrafamiliares y la acogida a la propuesta de un grupo de padres en la escuela como una contribución para el mantenimiento del equilibrio en las relaciones intrafamiliares. El estudio realizado evidenció, a través de los grupos vivenciales con familias, las posibilidades de ofrecer promoción en la salud mental, propiciando una mejoría en la calidad de la interación entre sus miembros.

Familia; Salud mental; Educación; Enfermería


This is a descriptive study approaching children's families of fundamental teaching, in partnership with a public school of fundamental and grade school teaching in Fortaleza, CE, Brazil. It seeks to create living groups within these families; to identify difficulties lived in the family relationships; and to know the perception and the influence of the session groups in the family dynamics. There were eight meetings in the school between April and October of 2003, with good interaction and important exchange of experience among the parents. After the meetings, some participant families were interviewed, selecting them for areas of discussion about their children's education, intra-family relationships, and reception of parents` proposal by the group in the school as contribution for the maintenance of the balance in the intra family relationships. The accomplished study evidenced, through family living groups, possibilities to offer support in mental health, propitiating improvement in the quality of interaction among their members.

Family; Mental health; Education; Nursing


ARTIGO ORIGINAL

PESQUISA

Educação e saúde mental na família: experiência com grupos vivenciais

Education and mental health in the family: experience with living groups

La educación y la salud mental en la familia: experiencia con los grupos vivenciales

Virgílio César Dourado de MacêdoI; Ana Ruth Macêdo MonteiroII

IBacharel em Enfermagem pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Enfermeiro do Programa de Saúde da Família (PSF) em Chorozinho - CE. Membro do Grupo de Pesquisa Educação, Saúde e Sociedade (GRUPESS)

IIDoutora em Enfermagem. Professora da UECE. Enfermeira do Hospital de Messejana - CE, do Sistema Único de Saúde (SUS). Membro do GRUPESS

Endereço Endereço: Virgílio César Dourado de Macedo Trav. Queiroz Ribeiro, 01-A 60.410-080 - Montese, Fortaleza, CE. E-mail: virgilio_cesar@yahoo.com.br

RESUMO

Estudo de natureza descritiva abordando famílias de crianças do ensino fundamental, em parceria com uma escola pública de ensino fundamental e médio em Fortaleza, CE. Buscou-se: realizar grupos vivenciais com estas famílias; identificar dificuldades vivenciadas nas relações familiares e conhecer a percepção e influência das sessões grupais na dinâmica familiar. Realizou-se oito encontros na escola entre abril e outubro de 2003, com boa interação e importante troca de experiências entre os pais. Após os encontros, foram realizadas entrevistas com as famílias participantes, apontando-os como espaço de discussão sobre educação dos filhos e relações intrafamiliares e acolhimento à proposta de um grupo de pais na escola como contribuição à manutenção do equilíbrio nas relações intrafamiliares. Os depoimentos deram origem a categorias temáticas. O estudo realizado evidenciou, através de grupos vivenciais com famílias, possibilidade de promoção em saúde mental, através de ações de educação em saúde propiciando melhoria na qualidade da interação entre seus membros.

PALAVRAS-CHAVE: Família. Saúde mental. Educação. Enfermagem.

ABSTRACT

This is a descriptive study approaching children's families of fundamental teaching, in partnership with a public school of fundamental and grade school teaching in Fortaleza, CE, Brazil. It seeks to create living groups within these families; to identify difficulties lived in the family relationships; and to know the perception and the influence of the session groups in the family dynamics. There were eight meetings in the school between April and October of 2003, with good interaction and important exchange of experience among the parents. After the meetings, some participant families were interviewed, selecting them for areas of discussion about their children's education, intra-family relationships, and reception of parents` proposal by the group in the school as contribution for the maintenance of the balance in the intra family relationships. The accomplished study evidenced, through family living groups, possibilities to offer support in mental health, propitiating improvement in the quality of interaction among their members.

KEYWORDS: Family. Mental health. Education. Nursing.

RESUMEN

Estudio de naturaleza descriptiva abordando a las familias de los niños de la educación primaria con el apoyo de una escuela pública de educación primaria y secundaria en Fortaleza, CE. Se buscó: realizar grupos vivenciales con éstas familias; identificar las dificultades vivenciadas en las relaciones familiares y conocer la percepción e influencia de las sesiones grupales en la dinámica familiar. Se realizaron ocho encuentros en la escuela entre abril y octubre del 2003, con una buena interacción e importante intercambio de experiencias entre los padres. Después de los encuentros, se entrevistaron algunas familias participantes, señalándolas como un espacio de discusión sobre la educación de los hijos y las relaciones intrafamiliares y la acogida a la propuesta de un grupo de padres en la escuela como una contribución para el mantenimiento del equilibrio en las relaciones intrafamiliares. El estudio realizado evidenció, a través de los grupos vivenciales con familias, las posibilidades de ofrecer promoción en la salud mental, propiciando una mejoría en la calidad de la interación entre sus miembros.

PALABRAS CLAVE: Familia. Salud mental. Educación. Enfermería.

INTRODUÇÃO

A família se constitui numa instituição onde os indivíduos iniciam seus processos de formação. É a base onde se incorporam padrões de comportamento, valores morais, sociais, éticos e espirituais, entre tantos outros. O núcleo familiar participa da formação da personalidade e contribui para a consolidação do caráter, adoção de noções de ética e solidariedade.

Por constituir-se tão complexa em sua estrutura, composição e função, a família não escapa em vivenciar conflitos múltiplos ao longo de seu ciclo vital. Enquanto existe, está sujeita a transformações, necessitando, muitas vezes, redimensionar-se em suas posturas diante das diversas realidades e adversidades as quais é submetida, na busca de superação e equilíbrio.

Assim como a gênese de uma crise familiar toma forma no seu núcleo, é também em seu interior que devem ser fundamentadas resoluções para o enfrentamento, superação ou amenização dos distúrbios, pressupondo, para tanto, a existência de condições de saúde mental na busca de alternativas viáveis para o melhor manejo dos fatos. "Acredita-se que a saúde mental possa ser alcançada por meio de relações intrafamiliares saudáveis, construídas com interações socioafetivas eficientes e viabilizando bem-estar físico, biopsicossocial, emocional e espiritual".1:591

Para abordar Saúde Mental na família por meio de ações de educação em saúde faz-se necessário conhecê-la em seus múltiplos aspectos, oferecendo-lhe suporte para encarar adversidades. Dessa forma, para que ocorra êxito na implementação e eficiência de ações para promoção de saúde mental na família torna-se primordial conduzi-las conforme as percepções e potencialidades dos sujeitos para os quais se direciona a intervenção.

Operacionalizar um trabalho com famílias buscando torná-las sujeitos de ação transformadora e modificadora na busca de uma melhor qualidade de vida exige, seguramente, aprofundamento em temáticas como conceituações para família, sua estrutura, função, distribuição de papéis e personagens em seu "cenário" de atuação, bem como considerar fatores favoráveis e prejudiciais à sua saúde mental.

A realização deste trabalho pretendeu contribuir com cuidado de enfermagem com famílias com vistas à promoção da saúde mental através de ações de educação em saúde desenvolvidas em grupo.

O trabalho de Enfermagem da Família reflete o crescente interesse da profissão por esta como foco de cuidado e representa um avanço registrado na literatura como uma real preocupação, com a criação de grupos de estudo e a realização de trabalhos na área aumentando progressivamente, de modo especial, em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Santa Catarina.2

Percebendo como imprescindível o trabalho com famílias como forma de promover a saúde mental e conseqüentemente prevenir o desenvolvimento de relações conflituosas que possam levar a vários problemas pessoais e sociais, é que este estudo se coloca.

Este estudo teve como objetivos: realizar grupos vivenciais com famílias de crianças do ensino fundamental; identificar as dificuldades/facilidades vivenciadas nas relações familiares e conhecer a percepção das famílias acerca das sessões grupais e de que forma esses momentos influenciaram ou não nas relações familiares.

TRAJETÓRIA PERCORRIDA

Estudo de natureza descritiva abordando a família e o seu contexto sócio-político-econômico-cultural, atuando para a promoção da sua saúde mental.

Este tipo de estudo tem como objetivo descrever características de uma população ou fenômeno, geralmente com associação de variáveis, explicitação da natureza dessa relação, conhecendo e interpretando a realidade.3,4

A população constituiu-se de famílias de crianças do ensino fundamental (1ª a 4ª séries) de uma escola da rede estadual de ensino, sendo a amostra composta por aquelas consideradas pela escola como as que precisavam de um maior acompanhamento dos profissionais da instituição, num total de oito famílias.

Em um primeiro momento, foram coletadas, junto aos professores e coordenadores do ensino fundamental, informações acerca das famílias das crianças destas séries a serem investigadas e convidadas a compor o grupo. Entretanto, verificou-se, por parte dos informantes pouco manejo em reconhecer as famílias. Nesse momento, foi necessário retornar aos professores, de forma coletiva, durante uma reunião com esses profissionais, quando foi obtida a indicação desejada.

A proposta da realização de um trabalho junto às famílias foi apresentada e esclarecida junto à diretoria, considerando os rigores éticos e mencionando a importância e o valor da participação dos pais e mães e também dos profissionais da escola. Mostrando-se solícita, esta reservou um espaço para que se pudesse realizar o trabalho. Acordou-se com a direção iniciar as atividades grupais concomitante ao início do ano letivo. Alguns encontros aconteceram nos meses de abril e maio de 2003 e foram retomados após período de avaliação e de férias letivas, em setembro e outubro de 2003.

A formação de um grupo com famílias na escola não se constituiu uma tarefa fácil. Registrou-se como principal dificuldade encontrada a resistência dos pais e mães de alunos em comparecer aos encontros nos dias marcados na escola. Os primeiros encontros para a realização das sessões grupais aconteceram quinzenalmente, aos sábados, no período da tarde, com duração média de 1 hora, data e horário aprovados pelos participantes do grupo. Posteriormente, transferiu-se os encontros para as sextas pela manhã, próximo ao horário de saída dos alunos como estratégia para aumentar a freqüência dos participantes aos encontros, por sugestão dos participantes. A divulgação e convite foram feitos às famílias através dos professores e por meio de informes entregues aos alunos para que fossem repassados aos pais.

Foi possível, apesar dos contratempos e obstáculos, a realização de oito encontros com as famílias, considerando uma freqüência de duas sessões ao mês. Os encontros foram tematizados a partir de sugestões do grupo sobre assuntos considerados importantes para abordagem. Alguns temas sugeridos foram: como lidar com filhos preguiçosos, rebeldes e/ou agressivos; como conversar com filhos adolescentes; crises conjugais; criação dos filhos, entre outros.

Inicialmente, buscou-se manter uma seqüência nos encontros, retomando pontos já trabalhados e analisando a repercussão nas famílias. Isso só foi possível para algumas das famílias participantes, pois nem sempre os pais/mães presentes eram os mesmos, fazendo-se necessário tornar os encontros independentes. Houve uma média de participação de oito a dez pais/mães em cada encontro realizado.

Os encontros foram organizados e estruturados da seguinte maneira: 1) disposição das cadeiras em círculos; 2) apresentação individual dos participantes; 3) momento de relaxamento com exercícios de alongamento e auxílio de músicas instrumentais; 4) dinâmica de "quebra-gelo", ou de apresentação; 5) abordagem e discussão do tema do dia ilustrado de maneiras variadas: recortes e colagens, exposição de painéis construídos pelos participantes, estudo de casos nas famílias, dramatização; 6) avaliação individual e em grupo do encontro e sugestão de algum tema para ser discutido em casa e apresentado no encontro seguinte.

Como forma de estimular a interação e a participação das famílias fez-se o uso de jogos grupais, dinâmicas, textos e vídeos educativos sobre família e relações interpessoais, considerando o ritmo e motivação dos pais presentes e sempre buscando a promoção em saúde mental, a partir da sensibilização dos participantes.

O grupo de vivências buscou funcionar como apoio às famílias no fortalecimento de vínculos familiares, bem como, nas formas de enfrentamento aos problemas por elas vivenciados, trabalhando, também, situações que emergiam no decorrer dos encontros. Todo esse trabalho teve como objetivo a promoção da saúde mental das famílias envolvidas.

Após os encontros, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas junto às famílias participantes por meio de visitas domiciliares, num total de oito visitas, com o intuito de conhecer a percepção destas famílias sobre as sessões grupais e de que forma esses momentos influenciaram ou não as relações familiares. As famílias que participaram do estudo se mostraram solícitas em contribuir com informações sobre suas vidas e o cotidiano de suas relações. Em alguns casos, a entrevista foi espaço de desabafo para relatos de sofrimentos enfrentados na vida diária.

O material coletado das entrevistas foi transcrito e analisado à medida em que foram sendo realizadas. A leitura e análise das falas das famílias fez surgir alguns temas mais significativos, a partir dos quais, e conforme os objetivos propostos no estudo, foram elaboradas as categorias temáticas onde estão apresentados os depoimentos, analisados com base na literatura revisada. Buscou-se desta forma chegar ao significado dado pelos sujeitos frente aos encontros e a influência dos mesmos nas relações familiares.

O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da UECE, com parecer favorável. Foi solicitado o consentimento livre e esclarecido dos sujeitos, a partir de um termo de consentimento, devidamente assinado pelo pesquisado e pesquisador. Assegurou-se a confidencialidade e a privacidade dos seus depoimentos, garantindo a não utilização das informações em prejuízo dos que participassem da pesquisa e observando-se as normas legais e éticas para pesquisa científica que envolve seres humanos.5

ANÁLISE DOS DEPOIMENTOS DOS PAIS APÓS AS SESSÕES GRUPAIS

As entrevistas realizadas, nesta parte do estudo, visaram conhecer a percepção e a repercussão dos encontros junto às famílias participantes, permitindo conhecer um pouco os núcleos familiares investigados. Os nomes dados aos informantes são fictícios, preservando-lhes o anonimato. Pode-se observar, em alguns depoimentos, construções ou idéias um pouco confusas e, ainda, erros de português, como concordância verbo-nominal inadequada, devido ao nível sócio-econômico das famílias estudadas, em sua maioria de baixa renda e com pouco acesso a instrução e educação.

Percepção/sentimentos acerca das sessões grupais

O acolhimento dos pais às sessões grupais foi um ponto positivo, desde a apresentação da proposta, inicialmente, até a realização dos encontros, durante os quais verificou-se o interesse e a participação nas dinâmicas de interação, com uma certa timidez e curiosidade quanto aos assuntos a serem abordados.

Para alguns pais, um grupo de discussões sobre questões e relações intrafamiliares (conforme temáticas sugeridas para os encontros e mencionado na trajetória metodológica), já era algo desejado, haja vista as muitas dificuldades vivenciadas na criação e no acompanhamento do aprendizado do filho na escola, sendo o grupo uma oportunidade de expressar um pouco essas angústias e medos e capacitar-se em alguma medida para a resolução ou amenização desses problemas.

Me senti muito bem. Achei ótimo. Quero participar sempre. É até um incentivo pra todas as mães. Se todas as mães fizessem isso, fizessem o que a gente faz, participassem desses encontros, não havia o que tá havendo né? [...] coisas aí com os filhos e as filhas. A gente tem que ter muito cuidado porque a coisa não tá de brincadeira não. A gente tem que saber com quem os filhos da gente andam. A minha mãe até disse que ia vir pra participar do encontro. Nessas escolas tem que ter essas coisas porque as crianças precisam. Tem horas que eles são muito rebeldes (Maria, 39 anos).

O envolvimento de outros parentes também foi algo desejado pelos participantes. Quando Maria afirmava que pretendia trazer a mãe para participar, bem como, o marido, se o grupo tivesse continuidade, demonstrava, certamente ver ali um espaço de mudança e de busca de soluções para problemas de relacionamentos familiares.

Achei bom demais. Tava precisando disso aqui na escola. Às vezes a gente quer falar alguma coisa de casa, que tá guardada e não fala aí, chega aqui e diz e fica mais tranqüila. Ainda tem os problemas com marido e com filhos que às vezes a gente discute e fica precisando de um conselho, uma experiência e no grupo dá pra encontrar (Marlene, 29 anos).

Os momentos de relaxamento e as dinâmicas, algumas inspiradas em jogos da infância por serem leves e carregarem em si sempre alguma "moral da história", provocaram nos pais presentes lembranças boas e algumas já esquecidas. Esse resgate dessa memória, na realidade, pretendia fazer com que os pais se aproximassem ainda mais do mundo de seus filhos, muitas vezes esquecidos por dificuldades em desvencilhar-se um pouco de suas rotinas.

Foi bem descontraído. As dinâmicas me deixaram mais relaxadas eu tava meio nervosa no começo sem conhecer ninguém. Lembrei de brincadeiras que nunca mais tinha brincado, só quando era menina. Isso é tão bom de lembrar. Acho que essas reuniões vão me fazer muito bem. Às vezes a gente fica tão sério e até esquece de brincar, de rir (Marlene, 24 anos).

Eu achei legal. [...] no sábado que ia ter o assunto eu não fui né, foi mais dinâmica, mas foi legal porque a gente se distrai, relaxa, esquece um pouco dos problemas [...] chega em casa até mais leve, mais paciente e já fica esperando o próximo encontro (Mirtes, 33anos).

Acho muito importante essa presença de vocês no colégio. No mesmo dia que cheguei eu falei pro meu marido a respeito do trabalho de vocês (Márcia, 33 anos).

A participação de um pai no meio de tantas mães foi um fator de destaque, já que são as mães, na grande maioria das vezes, as responsáveis em comparecer às reuniões de pais na escola e as mais envolvidas no desempenho escolar dos filhos. Inicialmente, o pai veio sozinho, mas achou o grupo interessante e trouxe a esposa ao encontro seguinte, contribuindo, ambos, com a experiência de criação de seus filhos. Conforme afirma o casal, o grupo deve funcionar como uma troca de experiências, sendo este o melhor benefício.

Apesar de ter sido, assim, uma participação de poucas vezes, eu achei bom. Enriquece mais. A gente pode tomar mais alguns conhecimentos, experiência, saber lidar mais com as coisas da família. É uma coisa muito boa a gente precisa até aprofundar mais para poder depois se ter uma avaliação melhor. E é muito bom poder participar com a minha esposa porque fica mais fácil chegar em casa e tentar mudar alguma coisa (João, 43 anos).

Foi muito proveitoso porque é troca de idéias entre as famílias. Tem os exemplos do que acontece no lar de cada um e com a experiência do outro a gente pode aprender pra gente também. A gente vê os pontos positivos e negativos que alguém pode ter trabalhado (Marina, 36 anos).

Em abordagens junto aos professores, solicitando a cooperação na divulgação dos encontros, pôde-se averiguar o êxito das sessões já realizadas, uma vez que os pais haviam comentado com entusiasmo entre os professores os fatos e a dinâmica dos encontros de que haviam participado.

Influências das sessões grupais na dinâmica das relações familiares

Embora o número de encontros tenha sido pequeno e considerando a participação descontínua dos pais a esses momentos, este contato com as famílias, já pôde evidenciar influências importantes relatadas pelos pais ao voltarem à rotina em suas casas. Alguns ressaltaram, de fato, que foram poucos encontros para produzir mais efeitos e uma melhor avaliação, entretanto o aspecto mais importante observado nos discursos foi a motivação por parte dos pais para mudanças e uma melhor qualidade nas relações familiares.

O comportamento dele [o filho] melhorou mais, mas ainda pode ser melhor. Sim eu falei que era muito bom se ele [o marido] fosse pra ver como era. Passou até um dia na televisão um trabalho com psicólogo, parecido aí eu falei pra ele que era mais ou menos o que acontecia na escola. Eu vou "pelejar" [insistir] muito pra ver se ele vai. Era tão bom que ele tivesse aqui quando você viesse pra ele ouvir também (Maria, 39 anos).

Bem restrito, mas a gente começou a trabalhar alguma coisa. Teve até a história do bilhete que a gente escreveu pra eles e entregamos e teve o abraço e eles ficaram meio surpresos porque não tinha o hábito, mas aí já vai dando um início. Isso nos fez muito bem, tentar essa aproximação com os filhos, principalmente nessa fase da adolescência que a tendência é um afastamento mesmo (Marina, 36 anos).

Quanto ao envolvimento da família, participando da formação dos filhos no espaço escolar, encontrou-se na literatura revisada que "as famílias, ao se sentirem envolvidas e co-partícipes, passam a repartir com a escola a responsabilidade na busca de resolução dos conflitos [...] o investimento no diálogo entre pais e escola é a garantia do sucesso na formação do aluno".6:18

Não obstante, os efeitos positivos observados em algumas famílias, houve casos, em que os comentários em casa sobre o encontro não foram feitos ou o foram de forma um pouco descompromissada, sendo necessário dessa forma reforçar a importância da partilha dos conteúdos junto à família como forma de se obter um melhor alcance das mudanças que se venha a propor quando necessárias.

Eu ainda fiquei meio calada pra falar em casa. Sei lá, a gente esquece [...] aí vai ver a novela e deixa pra falar depois, mas outro dia eu tava dizendo pro meu marido desse grupo, mas eu acabei nem indo mais. Mas eu vou continuar indo eu vou me organizar (Marlene, 29 anos).

É, influi, né, mas pra mim fica difícil responder assim porque o que eu queria ouvir mais e eu não tive oportunidade de participar, assim como lidar com os filhos, com os problemas do dia-a-dia, mas pelo menos nesse dia eu briguei menos em casa. Já me fez esse bem (Mirtes, 33 anos).

Eu procurei falar pra eles dos encontros que eram muito legais. Minha filha sempre ficava me lembrando,"mãe, olha o encontro hoje". Aí ficava dizendo pra eu ir, quer dizer é uma coisa muito importante, que eles também fiquem animados, parece que viram que me fazia bem e faz mesmo porque é bom passar um pouco da minha experiência com meus filho (Mara, 54 anos).

O depoimento de Marilene revelou que ela estava, de fato, um pouco distanciada de seu filho o qual pelo fato de ser filho único, não tinha muito com quem brincar e às vezes sentia-se meio triste e desmotivado, perdendo tanto o interesse em ver televisão como em fazer as tarefas escolares.

Quando cheguei em casa, como eu disse, eu tava leve, aí eu fui logo dar um abraço no meu filho. Ele tava brincando e eu fiquei brincando com os bonecos dele com ele. Ele riu e ficou me ensinando como é que era certo. Foi engraçado, mas acho que vou fazer mais isso. Acho que ele tava se sentindo só mesmo, eu só tenho ele (Marlene, 24 anos).

Percebe-se na família o quanto há distanciamento dos pais em relação aos filhos, pois geralmente absortos na responsabilidade de suprir as necessidades materiais, esquecem o quanto é necessário proporcionar berço afetivo para os filhos.

Motivos para as faltas aos encontros e avaliação quanto a continuidade do grupo

Após a entrevista, constatou-se, como principais causas que impediram alguns pais de virem a todos os encontros na escola o choque de horário com o trabalho, afazeres domésticos e falta de interesse e motivação para a participação.

Porque veio esse horário que eu mudei no trabalho, no sábado de tarde até à noite. Mas esse horário tava bom. Também o mês já tá terminando, aí eu fico livre, felizmente, pra ir aos encontros (Mirtes, 33 anos).

Eu trabalho como pedreiro e apareceu uma oportunidade de uma obra em outra cidade. Às vezes, eu consigo vir aos sábado senão só domingo. É uma pena, mas quando terminar eu vou ficar indo com certeza (João, 43 anos).

Aí meu marido indo trabalhar fora eu acabei ficando em casa pra cuidar das coisas e dos meninos, daí eu não pude ir nos outros, mas a gente vai se organizar pra não faltar mais, pelo menos ou ele ou eu vai (Marina, 36 anos).

Na verdade, eu não sou daqui, eu sou de Mossoró e aí eu fico lá e cá por conta de trabalho, mas pode estar certo que o trabalho de vocês é muito importante. Eu tô de mudança pra lá de vez, aí não vou mais poder ir (Márcia, 33 anos).

Registrou-se, ainda, dentre os pais que participaram, que houve falha na divulgação do encontro, como no caso de Maria, que lamentou ter tomado conhecimento do grupo só depois que ele havia iniciado, já que seu filho não lhe entregara antes o comunicado. Em outro caso, houve esquecimento mesmo por parte da mãe, ou até falta de interesse, considerando a forma reticente como se expressou durante a entrevista.

[...] Porque não me avisaram antes na escola senão eu teria ido mais, né? Eu até falei na escola que era pra eles terem avisado antes" (Maria, 39 anos).

Ai [...] eu acabei me esquecendo [...] e depois a professora até me lembrou e pediu pra eu ir, mas [...] aí apareceu umas coisas pra fazer em casa e eu acabei nem indo" (Marluce, 29 anos).

De maneira geral, a opinião quanto a continuidade dos encontros, no dia e horário em que já vinham sendo realizados, foi unânime. Alguns pais, inclusive, expressaram a necessidade de que o grupo acontecesse como um apoio na educação dos filhos de forma equilibrada.

Deve continuar, deve sim. Eu acho muito interessante o trabalho que vocês fazem [...] e assim, eu não posso tá faltando essas reuniões né, pra ficar acompanhando o desenvolvimento dessas fases que vem por aí porque isso aí é uma fase e ainda vai vir muitas e eu vou ter que estar preparada pra não perder as estribeiras porque eu sei que bater não vai adiantar, o que vai adiantar é castigo, é proibir o que eles gostam (Mirtes, 33 anos).

Eu acho que deve continuar porque é muito bom. Eu até achei ruim quando eu vim e as outras mães não vieram, mas eu não perdi o ânimo (Mara, 54 anos).

Uma das mães visitadas indagou se os grupos seriam sempre compostos por poucas pessoas, uma vez que lhe havia sido dito sobre a idéia de manter um grupo de pais na escola, posteriormente. Ela mencionou a preocupação e a dificuldade de trabalho com um grupo muito numeroso, tanto para facilitar a interação como pra "manter a ordem", como afirmou.

É o melhor horário e é até bom um grupo pequeno que fica mais fácil de trabalhar, tira mais proveito. Imagina se começar a vir mais de 20 pessoas numa sala de aula daquela. A idéia de trabalhar na escola é muito boa também. Cria um ambiente legal, melhor do que nas residências porque você aborda mais assuntos, mais casos diferentes e enriquece a discussão (Marina, 36 anos).

Assuntos e temas de interesse para discussão nas sessões grupais

Ao serem indagados sobre quais assuntos gostariam que fossem tratados em encontros posteriores, muitos pais aproveitaram para falar um pouco sobre as principais dificuldades que enfrentam em casa, nas relações com outros parentes, sentimentos, ressentimentos e emoções envolvendo membros da família de forma que nesse momento, obteve-se um contato mais íntimo com essas famílias.

Assim coisas sobre aconselhamento. Como é que a pessoa deve educar os filhos, o modo de agir no comportamento porque tem gente que não sabe falar, vai direto pro castigo. Uma vez uma professora disse que às vezes o melhor castigo para um filho é não deixar ele fazer a coisa que ele mais gosta, por mais que você fique magoada por dentro, é melhor do que bater. Porque você viver batendo, como é que ele vai reagir? Porque violência vira violência. Meu filho mais novo já é revoltado com o pai porque bate nele, chama ele de burro quando ele não sabe fazer os deveres, sei lá no que isso não pode virar depois (Maria, 39 anos).

Tomando esse depoimento, constata-se a incongruência das atitudes desse pai com o filho, reforçando aspectos negativos advindos da sua dificuldade na aprendizagem escolar. Tal postura, na realidade, contradiz o que apontam alguns autores sobre a questão: "[...] os ambientes familiares que contribuem para o bom desempenho na escola, além de mais seguros e calmos, permitindo à criança concentrar-se em uma atividade, também incluem adultos com tempo e disposição para interagir com os filhos [...] que os pais sintam prazer em dedicar tempo a atividades conjuntas com a criança".7:21-2

Atitudes como esta de os pais estarem mais presentes na vida e no mundo dos filhos foram estimuladas durante os encontros, verificado pelos depoimentos anteriores algum êxito, ainda que de forma tímida. Outros depoimentos ainda revelaram conteúdos de interesse dos pais.

Olha aquelas fases de desenvolvimento que vocês apresentaram é muito bom. A gente vai vendo coisas e sabendo o que é normal naquela idade e o que também não é. Aí continuando explicando esses detalhes que a gente não conhece sobre essas fases eu me interesso muito. Meu filho ainda é novo e dá pra observar nele (Marlene, 24 anos).

Assim, como lidar, como ter a cabeça fria diante dos problemas familiares, né, filhos, esposo. Porque agora mesmo eu tô passando por uma fase assim. Eu tenho dois meninos que é uma preguiça pra estudar [...] aí na hora de estudar, eu perco a paciência. Eles dizem assim "ai eu não sei não" aí começa logo a chorar... aí eu perco a paciência. Eu me preocupo muito com eles porque eu não quero que eles sejam um Zé Ninguém não, eu quero que eles estudem. Eu sei que eles são muito pequenos, mas eu tenho que exigir é de agora (Mirtes, 33 anos).

Mirtes fez um longo depoimento, relatando suas dificuldades na educação dos filhos, enfatizando como se torna difícil educar os filhos quando há intromissão de familiares. Ainda relacionada a sua família, resgatou uma importante questão sobre sua conturbada relação com a mãe, responsabilizando-a por uma criação traumatizante, vivenciada sob surras e castigos, o que lhe valeu o fato de carregar mágoas até hoje e desejar mudar-se para longe dos pais.

[...] aí além da gente tá educando dum jeito, tem a família que mora do lado e atrapalha. Aí é desse jeito eles [os filhos] me levam "a pagode", só atende se você ameaçar, bater e eu não quero isso, não acho isso legal, negócio de bater. Eu fui muito revoltada porque minha mãe bateu muito em mim. Tudo o que eu ia fazer minha mãe batia em mim. Era uma ignorância só, minha mãe chegou até a tirar sangue da minha cabeça.[...] Aí assim eu evito o contato com ela porque tudo é motivo pra briga, aí eu não vejo a hora de ter minha casa pra morar bem longe desse povo, pra mim ter paz (Mirtes, 33 anos).

O fato que deixa essa mãe angustiada é quando ela se percebe, ou é percebida pelo marido, agindo semelhante a sua mãe na criação dos filhos, o que contribui para gerar conflitos com o esposo. A maneira pela qual os indivíduos estabelecem relacionamentos deriva na maioria das vezes dos modelos vividos no ambiente familiar na vida pregressa. "[...] é importante sabermos como foi a vida dos pais do indivíduo. As semelhanças serão inúmeras. A cópia é inevitável. Mesmo sem desejarmos, muitas vezes, nos encontramos diante de situações que repetem nosso cenário familiar".8:101

Mas eu tava pegando a mesma psicose dela, qualquer coisinha eu tava batendo neles aí meu marido disse "tu tá igual a tua mãe, qualquer coisinha descontando nos meninos o que fizeram contigo". Aí começa uma briga com o marido, um conflito. Pois é, às vezes eu penso que eu tenho trauma da maneira como eu fui criada às vezes eu tento ser uma pessoa mais carinhosa, mas eu ainda sou muito brava (Mirtes, 33 anos).

A temática da violência intrafamiliar, seja ela infantil ou de qualquer outra forma, implícita nestes depoimentos, também constituiu tema explorado nos encontros, detalhando questões relativas a traumas e outras conseqüências dos atos de violência, incluindo atitudes de negligência como uma dessas formas.

Temas da adolescência. Nossos filhos estão nessa fase e a gente fica meio preocupado com eles, como tá agindo pra não ter revolta, essas coisas que eles fazem nessa idade e a gente precisa saber lidar pra não ter conflito ou se tiver saber como não aumentar, né? (Marina, 36 anos).

Qualquer assunto que forem explicar eu tô pra ouvir, eu acho bom. Foi sobre família né, a gente vai aprendendo mais. Apesar da minha família já tá toda criada, né? Mas a gente nunca sabe tudo. Eu também tenho filho adolescente e daqui a pouco eu também vou ter meus netos né? (Mara, 54 anos).

Outros depoimentos sugerem a abordagem no grupo, sobre adolescência e suas implicações, especificamente sobre a questão da sexualidade, um tema de difícil acesso muitas vezes, mas que merece muita atenção por ser uma questão importante no ciclo vital, podendo estar articulado com outras problemáticas, como a gravidez e as doenças sexualmente transmissíveis, dentre outras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A família representa um núcleo de integração do ser humano e como tal foi buscada e abordada neste estudo, defendendo-se o aspecto da importância e necessidade da manutenção da saúde mental como forma de inclusão e participação da família nos processos de promoção e/ou recuperação dela e de seus membros. Acredita-se que a saúde mental possa ser alcançada por meio de relações intrafamiliares saudáveis, construídas com interações sócio-afetivas de qualidade, viabilizando bem-estar físico, biopsicossocial, emocional e espiritual.

Ao longo da realização da pesquisa, as leituras observadas na literatura revisada, as discussões junto à orientadora e ao Grupo de Pesquisa Educação, Saúde e Sociedade (GRUPESS), vinculado à Universidade Estadual do Ceará e, principalmente, o contato e a abordagem com as famílias durante as visitas domiciliares e os grupos vivenciais consolidaram o interesse pela família e aprimoraram o acervo de conhecimentos a seu respeito, motivando a continuação do trabalho.

O estudo revelou sobre as famílias estudadas: dificuldades financeiras, crises conjugais, problemas com alcoolismo, dificuldades no relacionamento, criação e educação dos filhos, sofrimento físico e mental e dificuldades no enfrentamento destes problemas.

As dimensões descritas na literatura quanto aos papéis assumidos pela família diante de seus membros e o desenvolvimento de suas potencialidades promovendo e estimulando trocas sócio-afetivas, não foram identificadas em muitas das famílias estudadas. Esta percepção dos fatos revela um grande desafio, "[...] como articular as idéias que possuímos sobre família com a apresentação desse grupo no viver cotidiano".9:18

O nível sócio-econômico e cultural das famílias pesquisadas parece torná-las muito limitadas. A união, e muitas vezes a desunião de pessoas morando sob o mesmo teto, convivendo ou suportando umas às outras, reflete o que se compreende por família enquanto estrutura sócio-afetiva ou medida de saúde individual e comunitária.

Uma vez diagnosticadas dificuldades como estas no processo familiar, torna-se necessário trabalhar a percepção dessas famílias de modo a elaborar ou reelaborar conceitos e funções, em busca de uma realidade na qual se tornem menos freqüentes relações conflituosas bem como suas conseqüências. Trata-se de trabalhar famílias, dando-lhes condições de enfrentarem seus conflitos e se tornarem sadias mentalmente.

O grupo com famílias mostrou-se como possibilidade ao enfermeiro, com vistas, ao cuidado em saúde mental à família, no sentido de propiciar uma melhoria na qualidade da interação entre seus membros. A promoção de vínculos afetivos nas relações familiares foi a principal meta a ser alcançada no grupo, trabalhando o seu potencial em formular mecanismos de enfrentamento a partir dos recursos identificados.

Os encontros realizados foram proveitosos e exitosos, haja vista ter alcançado uma boa e rica interação entre os pais, promovendo de forma espontânea a expressão de suas realidades familiares e oferecendo uma interessante e salutar troca de experiências, de vivências de sucesso e/ou dificuldades.

Formou-se, não obstante às intercorrências, com essa experiência, uma base para que, em outros momentos, novos trabalhos venham a ser realizados pelos enfermeiros, em outros campos de atuação. Não podemos esquecer que o trabalho com família é longo, e que todas as situações devem ser avaliadas como indicações para a assistência.10 Os resultados das experiências com os sujeitos podem surgir a longo prazo, necessitando um acompanhamento mais exclusivo e contínuo.

As primeiras percepções dos participantes sobre os encontros grupais realizados, bem como a contribuição, ainda que incipiente, oferecida na melhoria da qualidade das relações familiares, relatadas nos depoimentos, foi o principal estímulo que nos conduziu a continuidade no estudo.

"O caminho da construção de conhecimento de enfermagem da família é excitante não apenas pelos conhecimentos que permite desvendar, mas, principalmente, pelas verdades que cada um descobre dentro de si em relação a si mesmo no mundo [...]. O trabalho com família representa a possibilidade de ampliar nosso próprio mundo e nossa própria humanidade".11:12

Este trabalho proporcionou aos autores crescimento e amadurecimento na formação e reflexão de modelos e conceitos de família, orientando o direcionamento das relações intrafamiliares também no campo pessoal, além de permitir que fossem agregadas novas percepções e compreensão do núcleo familiar na promoção da assistência de enfermagem, em nível da prática profissional.

Recebido em: 17 de novembro de 2005.

Aprovação final: 08 de maio de 2006.

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    Ministério da Saúde (BR), Conselho Nacional de Saúde, Comitê Nacional de Ética em Pesquisa em Seres Humanos. Resolução Nº196 de 10 de outubro de 1996: diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília (BR): O Conselho; 1996.
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  • 10 Morais EP. Enfermagem e família: evitando a negligência. Santa Maria: Edição da Autora; 1999.
  • 11 Angelo M. Abrir-se para a família: superando desafios. Rev. Família Saúde Desenvolv. 1999 Jan-Dez; 1 (1/2): 7-14.
  • Endereço:

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Abr 2008
    • Data do Fascículo
      Jun 2006

    Histórico

    • Aceito
      08 Maio 2006
    • Recebido
      17 Nov 2005
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