INTERVENÇÃO EDUCATIVA SOBRE ATENDIMENTO INICIAL AO QUEIMADO BASEADA EM MÉTODOS PEDAGÓGICOS INOVADORES: PERCEPÇÕES DOS ENFERMEIROS

RESUMO

Objetivo:

analisar a percepção de enfermeiros a respeito de uma intervenção educativa com métodos pedagógicos inovadores sobre atendimento inicial ao queimado.

Método:

estudo de abordagem qualitativa, do tipo exploratório, ancorado na abordagem pedagógica sociocultural de Paulo Freire. Realizou-se uma intervenção educativa com 18 enfermeiros que atuavam nas áreas de urgência e emergência. A intervenção foi centrada em metodologias ativas de ensino-aprendizagem, em que os principais métodos de ensino foram case-based learning, mapas conceituais, simulação realística e portfólio digital. Os dados foram coletados em novembro de 2017 e outubro de 2018, no cenário de uma universidade pública estadual, por meio de questionário sociodemográfico, registros produzidos a partir de grupos focais, diários de campo e portfólios, analisados a partir da triangulação dos dados, por meio da técnica de análise de conteúdo de Bardin.

Resultados:

identificou-se quatro categorias: construção colaborativa do conhecimento a partir da autonomia e do diálogo entre os educandos; aprendendo com dinamismo e alegria; da problematização da realidade à criticidade; educação que leva ao empoderamento e à segurança profissional.

Conclusão:

os enfermeiros perceberam a intervenção educativa como positiva, uma vez que os métodos de ensino inovadores e participativos adotados contribuíram para o desenvolvimento de competências e habilidades, garantindo mais criticidade, autonomia e empoderamento a esses profissionais. O estudo representa avanço no âmbito do ensino de enfermagem, na orientação de ações de educação permanente.

DESCRITORES:
Educação em enfermagem; Ensino; Aprendizagem; Simulação; Enfermagem em emergência; Queimaduras

ABSTRACT

Objective:

to analyze the perception of nurses regarding an educational intervention with innovative pedagogical methods on acute management of burns.

Method:

a qualitative and exploratory study based on Paulo Freire's sociocultural pedagogical approach. The educational intervention was carried out with 18 nurses who worked in the areas of urgency and emergency. The intervention was centered on active teaching-learning methodologies, in which the main teaching methods were case-based learning, conceptual maps, simulation training, and digital portfolio. Data was collected in November 2017 and October 2018, in the setting of a state public university, by means of a sociodemographic questionnaire, records produced from focus groups, field diaries and portfolios, which were analyzed based on data triangulation, using Bardin's content analysis technique.

Results:

four categories were identified: collaborative construction of knowledge based on autonomy and dialog between the students; learning with dynamism and joy; from problematizing reality to critical thinking; and education that leads to professional empowerment and confidence.

Conclusion:

the nurses perceived the educational intervention as positive, since the innovative and participatory teaching methods adopted contributed to the development of competences and skills, ensuring more critical thinking, autonomy and empowerment for these professionals. The study represents an advance in the scope of Nursing education and in the orientation of continuing education actions.

DESCRIPTORS:
Nursing education; Teaching; Learning; Simulation; Nursing in emergency; Burns

RESUMEN

Objetivo:

analizar la percepción de los profesionales de Enfermería con respecto a una intervención educativa con métodos pedagógicos innovadores sobre primeros auxilios a personas que sufrieron quemaduras.

Método:

estudio con enfoque cualitativo, del tipo exploratorio, basado en el enfoque pedagógico sociocultural de Paulo Freire. Se realizó una intervención educativa con 18 profesionales de enfermería que se desempeñaban en las áreas de urgencia y emergencia. La intervención se centró en metodologías activas de enseñanza-aprendizaje, en las que los principales métodos de enseñanza fueron case-based learning (aprendizaje basado en casos), mapas conceptuales, simulación realista y portafolio digital. Los datos se recolectaron en noviembre de 2017 y octubre de 2018, en el ámbito de una universidad pública estatal, por medio de un cuestionario sociodemográfico, registros elaborados a partir de grupos focales, diarios de campo y portafolios, analizados a partir de triangulación de datos, por medio de la técnica de análisis de contenido de Bardin.

Resultados:

se identificaron cuatro categorías: construcción en colaboración del conocimiento a partir de la autonomía y del diálogo entre los educandos; aprender con dinamismo y alegría; de la problematización de la realidad al pensamiento crítico; y educación que deriva en el empoderamiento y la confianza profesional.

Conclusión:

los profesionales de Enfermería percibieron la intervención educativa como positiva, ya que los métodos de enseñanza innovadores y participativos adoptados contribuyeron al desarrollo de competencias y habilidades, garantizando así más pensamiento crítico, autonomía y empoderamiento en dichos profesionales. El estudio representa un avance en el ámbito de la enseñanza de Enfermería, así como en la orientación de acciones de educación permanente.

DESCRIPTORES:
Educación en Enfermería; Enseñanza; Aprendizaje; Simulación; Enfermería de emergencia; Quemaduras

INTRODUÇÃO

Lesões por queimaduras são consideradas devastadoras para os indivíduos que as sofrem, para seus familiares e para sociedade, sendo o seu tratamento um dos mais onerosos ao sistema de saúde na atualidade. Resultam em custos adicionais expressivos com a reabilitação e podem agravar a vulnerabilidade social das vítimas. A magnitude do problema é maior quando o atendimento inicial é inadequado, o que pode resultar em morte e incapacidades, culminando, muitas vezes, em uma vida inteira de limitações físicas, desfiguração e exclusão social.1

Entretanto, quando a abordagem inicial aos pacientes gravemente queimados é realizada de maneira estruturada e metódica, com medidas de reanimação adequadas e transferência em tempo oportuno para um centro especializado, ocorre diminuição da mortalidade, das sequelas e do sofrimento. Nesse sentido, têm sido observados avanços no atendimento das vítimas de queimaduras em países desenvolvidos, decorrentes de melhorias nos processos de educação dos profissionais de saúde.2

Estudos internacionais referentes à educação profissional na área de queimaduras têm demonstrado que métodos de ensino participativos como a simulação realística constituem uma ferramenta poderosa para aquisição de conhecimento e desenvolvimento de habilidades profissionais.3^-4 Já a literatura brasileira sobre esta temática aponta importantes fragilidades na formação acadêmica, no conhecimento e nas práticas técnico-assistenciais de enfermeiros perante o Atendimento Inicial ao Queimado (AIQ).5

Dentro dessa perspectiva, cabe considerar as alterações significativas que vêm ocorrendo na educação superior em Enfermagem, buscando superar os desafios da prática de enfermagem contemporânea, dentre as quais é possível destacar: uma nova estrutura curricular baseada em competências e habilidades; a inovação nos métodos de ensino, centrados na aprendizagem dos educandos, com alinhamento entre teoria e prática; e a nova concepção do papel do professor diante dessas mudanças. Essa nova realidade tem demandado exigências pedagógico-didáticas que têm sido expressas ainda de forma tímida nas universidades, com destaque para a ausência de uma formação centrada no aluno, capaz de prepará-lo para as complexas tarefas ligadas à prática profissional da enfermagem.6^-7

Diversos estudos nacionais e internacionais2^-5 indicam que são necessários esforços para avançar em relação à qualificação dos profissionais de saúde para o cuidado às pessoas que sofreram queimaduras. Considerando a relevância deste tema, a produção científica brasileira sobre a utilização de métodos de ensino inovadores na Educação em Enfermagem ainda é escassa,5 evidenciam-se lacunas a serem preenchidas com a realização de pesquisas para avaliar a utilização de novas abordagens de ensino-aprendizagem.

Desse modo, proporcionar ações de educação permanente em serviços que integram a rede de atenção às urgências, que atendam adequadamente às demandas dos profissionais, pode produzir mudanças em suas práticas cotidianas, problematizando a realidade em benefício do cuidado de enfermagem prestado. Com a realização deste estudo, pretende-se contribuir com o avanço da Educação em Enfermagem brasileira, em uma área considerada crítica, e promover maior visibilidade a um tema ainda pouco explorado.

Assim, interroga-se neste estudo como enfermeiros percebem ações educativas inovadoras desenvolvidas em sua prática cotidiana de AIQ? Diante deste questionamento, objetivou-se analisar a percepção de enfermeiros a respeito de uma intervenção educativa com métodos pedagógicos inovadores sobre AIQ.

MÉTODO

Trata-se de um estudo exploratório, de abordagem qualitativa, cuja base conceitual de educação se fundamenta na perspectiva da aprendizagem sociocultural de Paulo Freire, aliado à utilização de Metodologias Ativas (MAs) de ensino-aprendizagem e métodos pedagógicos inovadores, como a estratégia Case-Base Learning (CBL), a simulação realística, o portfólio digital e o Mapa Conceitual (MC). Nesse contexto, foi construída, na modalidade do curso de extensão, a intervenção educativa denominada Curso Teórico-Prático de AIQ.

A concepção pedagógica sociocultural de Paulo Freire, embasada no materialismo histórico-dialético, propõe uma ação pedagógica fundamentada na articulação entre teoria e prática (práxis), contribuindo para que os indivíduos ultrapassem a visão imediata dos fenômenos e entendendo que se trata de um projeto comprometido com a transformação social, ancorado na prática educativa problematizadora, crítica e emancipatória.8

Participaram do estudo 18 enfermeiros residentes no município de Maringá, estado do Paraná - Brasil, distribuídos em dois grupos. O primeiro (G1) foi composto por oito enfermeiros, dos quais dois atuavam em serviço de Atendimento Pré-Hospitalar (APH) e seis eram alunos de um curso de residência multiprofissional em urgência e emergência; o segundo grupo (G2) foi formado por dez enfermeiros: quatro atuantes no Pronto Socorro (PS) de um hospital ensino referência no primeiro atendimento a pacientes queimados, quatro em serviço de APH e dois residentes em urgência e emergência. A escolha desses cenários se justificou pela realização de estudos anteriores nessa região que indicavam lacunas na formação acadêmica e nas práticas assistenciais de enfermeiros no AIQ.9

A seleção dos sujeitos ocorreu a partir da intencionalidade dos mesmos em participar da pesquisa, respeitando-se o número de vagas disponibilizado para intervenção educativa. Como critérios de inclusão, consideraram-se: ter preenchido o formulário de inscrição online; atuar, por um período superior há um ano, como enfermeiro intervencionista no APH ou enfermeiro assistencial no PS ou estar regularmente matriculado na residência multiprofissional em urgência e emergência. Como critério de exclusão, consideraram-se aqueles que estivessem afastados do trabalho ou do curso de residência em decorrência de atestado ou licença médica.

Um pouco da intervenção

A intervenção educativa Curso Teórico-Prático de AIQ foi constituída de quatro oficinas pedagógicas cujo planejamento e condução foram norteados pelo referencial teórico de Paulo Freire. Foi realizada em novembro de 2017, no G1, e em outubro de 2018, no G2, seguindo as mesmas diretrizes e estrutura para ambos os grupos. O período de realização desta intervenção respeitou as solicitações do serviço de educação permanente das instituições das quais pertenciam os participantes. As oficinas ocorreram em um período de 11 dias e tiveram duração de cinco horas/aula, intercaladas com atividades de dispersão online, totalizando 20 horas presenciais e 10 horas de atividades a distância.

Anteriormente à intervenção foram construídos os planos de ensino para cada oficina e também um guia de aprendizagem do aluno. As oficinas pedagógicas foram conduzidas pelo pesquisador, que desempenhou o papel de professor-tutor, e por uma equipe de apoio composta por duas enfermeiras doutorandas em enfermagem e quatro alunos de graduação em enfermagem, os quais desempenharam o papel de observadores, realizando o preenchimento de diários de campo e auxiliando na logística e no desenvolvimento da intervenção.

Conforme apresentado no Quadro 1, as oficinas foram nominadas de acordo com a os temas centrais a serem problematizados. A seleção dos conteúdos e habilidades abordadas se deu a partir de recomendações da International Network for Training, Education and Research in Burns (Interburns ^® ).10 Os constructos teóricos foram guiados a partir de guideline atual e consolidado na área de queimaduras.11

Quadro 1 -
Título das oficinas pedagógicas, conhecimentos e habilidades desenvolvidas e métodos de ensino-aprendizagem utilizados na intervenção educativa. Maringá, PR, Brasil, 2017-2018.

Oficina	Conhecimentos e habilidades	Métodos/Estratégias de ensino
“Um olhar além para além das lesões”	Avaliação e cuidados iniciais na abordagem pré-hospitalar. Classificação da gravidade clínica da queimadura no paciente adulto. Manuseio das vias aéreas e tratamento das lesões por inalação. Avaliação do choque e infusão de fluidos no paciente queimado.	Case-Based Learning Problematização em grupo Exposição dialogada
“Lidando com situações especiais”	Avaliação e tratamento das lesões por produtos químicos. Avaliação e tratamento das lesões por eletricidade. Assistência de enfermagem inicial à criança com queimaduras.	Case-Based Learning Problematização em grupo Exposição dialogada Mapa conceitual
“Desafios diante da dor e do sofrimento do outro”	Avaliação, acompanhamento e controle da dor no paciente queimado. Cuidados com a lesão e prevenção de infecção. Lidar com aspectos emocionais do paciente queimado e de seus familiares.	Case-Based Learning Problematização em grupo Exposição dialogada Mapa conceitual
“A ciência e a arte do cuidado ao paciente queimado”	Cuidados de enfermagem com o paciente queimado no pronto-socorro. Avaliação clínica e capacidade de tomar decisões imediatas. Estabilização, encaminhamento e transporte.	Case-Based Learning Problematização em grupo Simulação realística

Buscou-se a variação dos métodos de ensino, optando por práticas pedagógicas modernas de caráteres participativo e problematizador, seguindo os pressupostos do referencial teórico adotado. Para estimular a problematização durante as oficinas e nas atividades de dispersão online, o tutor se baseou nas recomendações propostas na literatura.12 A seguir, é apresentada uma síntese dos principais métodos de ensino utilizados:

CBL: aconteceu de forma transversal, permeando o curso do início ao fim. Utilizou-se um caso clínico real, noticiado nas mídias locais e de conhecimento dos participantes. Estes deveriam responder criticamente a questões norteadoras durante as oficinas e nas atividades online.

MC: foi realizado na segunda e terceira oficinas, como ferramenta estruturadora do conhecimento dos participantes, estimulando a aprendizagem significativa. Para sua elaboração, utilizou-se o software CMap Tools®.

Simulação realística: na quarta oficina, os educandos foram conduzidos para o cenário de simulação, que consistiu no atendimento inicial a um paciente queimado em um PS. O cenário foi construído pelo pesquisador e validado por duas doutoras em enfermagem, com experiência na área. Optou-se pela simulação com atores moulaged - técnica que usa maquiagem e outros materiais para simular lesões. Após a simulação, realizou-se o debriefing, que ofereceu oportunidade para aprendizagem reflexiva.

Portfólio digital: consistiu em um espaço virtual, utilizando a ferramenta Google Drive, destinado ao compartilhamento de informações, que incluíram bibliografias básicas e complementares; construção colaborativa de conhecimentos por meio da discussão de casos clínicos; e reflexões individuais sobre o processo de ensino-aprendizagem e a trajetória no curso.

Ao término da intervenção educativa em cada grupo, procedeu-se à etapa de coleta de dados, realizada em novembro de 2017 e outubro de 2018, no G1 e G2, respectivamente, com exceção dos dados sociodemográficos que foram coletados previamente à intervenção, no momento da inscrição. Para isso, utilizaram-se as seguintes técnicas: aplicação de questionário sociodemográfico online; grupo focal; observação, com preenchimento de diários de campo pelo pesquisador e pela equipe de pesquisa; e análise dos portfólios. Para cada uma dessas técnicas foram elaborados roteiros em conformidade com o objetivo do estudo.

Nos grupos focais, a discussão dos participantes foi guiada por um roteiro que teve como fio condutor perguntas elaboradas a partir do referencial teórico adotado. As questões voltaram-se ao processo de ensino-aprendizagem e aos métodos pedagógicos empregados na intervenção. Realizou-se uma única sessão de grupo focal em cada grupo, com duração média de 40 minutos, em decorrência da saturação dos dados empíricos obtida em cada sessão.

O corpus textual constituiu-se a partir das discussões que emergiram em cada sessão, as quais foram coletadas pela gravação de áudio e, posteriormente, transcritas na íntegra, enriquecidas com os relatos dos portfólios e diários de campo. Para a análise dos dados, a combinação das técnicas empregadas possibilitou a triangulação no processo de análise, que foi orientado pela técnica de análise de conteúdo temática.13

Foram percorridas as etapas de pré-análise, com transcrição das falas dos grupos focais; leitura flutuante do material na íntegra; descrição analítica à luz do referencial teórico e em leituras exaustivas do material obtido (imersão); e organização do texto em categorias temáticas. As categorias empíricas desveladoras do processo de ensino-aprendizagem relacionado à intervenção educativa contêm formações ideológicas capazes de retratar a realidade vivenciada, em especial, nas relações dialógicas entre os participantes.

O desenvolvimento do estudo atendeu às normas nacionais e internacionais de ética em pesquisa envolvendo seres humanos e foi aprovado pelo Comitê Permanente de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (COPEP) da Universidade Estadual de Maringá. Para garantir o sigilo e anonimato, os comentários foram identificados com a letra “E”, seguida de algarismos arábicos, distribuídos aleatoriamente (E1, E2... E10), e da indicação do grupo - primeiro grupo (G1) e segundo grupo (G2) - resultando em (E1G1); (E1G2).

RESULTADOS

Entre os 18 enfermeiros participantes do estudo, 16 eram mulheres e dois homens, com idade entre 22 e 40 anos. Dentre aqueles que possuíam vínculo institucional, seis trabalham em serviços de APH e quatro no PS de um hospital universitário, com variação de dois a 12 anos de vínculo com a instituição, e todos possuíam formação complementar concluídas, destacando-se especialização na área de urgência e emergência. Os demais participantes foram seis alunas de um curso de residência multiprofissional em urgência e emergência, localizado no município de Maringá, Estado do Paraná, Brasil.

A partir da análise das transcrições dos grupos focais, análise dos portfólios e observações dos diários de campo, desvelaram-se as seguintes categorias temáticas: construção colaborativa do conhecimento a partir da autonomia e do diálogo entre os educandos; aprendendo com dinamismo e alegria; da problematização da realidade à criticidade; educação que leva ao empoderamento e segurança profissional.

Construção colaborativa do conhecimento a partir da autonomia e do diálogo entre os educandos

Uma ação educativa, principalmente quando realizada com profissionais que já possuem formação acadêmica inicial, torna-se mais significativa se não ocorrer de forma verticalizada, ou seja, pela transmissão unilateral de conhecimentos do educador para os educandos, assim como ocorre nos métodos tradicionais de ensino. Nesse sentido, a troca de experiências e o compartilhamento dos conhecimentos prévios entre os profissionais foram apontados por estes como algo significativo durante o desenvolvimento dessa intervenção:

Juntamente com a discussão em equipe conseguimos pensar melhor e aquilo que você não pensou, o outro pensa e assim nós conseguimos elaborar juntos um atendimento bem melhor ao doente (E2G2).

É muito bom ouvir outros profissionais que já estiveram nessa situação [atendimento ao paciente queimado], para agregar em nossa formação (E3G2).

Neste curso nós podemos trocar conhecimentos. Além de aprender nós podemos ensinar, e assim aprendemos bem mais, que era o objetivo, o foco, mas com uma troca muito maior de conhecimento (E5G1).

Para que haja compartilhamento e troca de saberes, em uma abordagem sociocultural, é necessário que o professor propicie o envolvimento reflexivo do grupo e confira autonomia aos educandos, permitindo-lhes problematizarem suas vivências. Essa autonomia é percebida nas falas dos participantes:

A metodologia ativa usada no curso, nos permitiu trazer conhecimentos prévios para a discussão, ainda mais por ser um caso clínico real, que a maioria do grupo realizou atendimento [referente a estratégia CBL] (E3G1 - extraído do Portfólio).

Foi algo positivo por estar realmente construindo o conhecimento. No grupo, juntos, todos conseguiram falar um pouco daquilo que já vimos e presenciamos (E5G2).

O que facilitou bastante na dinâmica do curso foi a composição do grupo porque nós já temos uma vivência de pré-hospitalar e PS. Então, temos uma bagagem para acrescentar e todos tiveram a oportunidade de dar a sua contribuição (E7G1).

A mudança de paradigmas do ensino tradicional para o inovador deve ser mediada pelo diálogo, que constitui uma condição básica para o conhecimento. O diálogo, segundo Freire, é uma necessidade existencial, sendo por meio dele que se concretiza o ato de conhecer. Nessa intervenção educativa, os educandos tiveram a oportunidade de criar uma rede de diálogos frequente:

[...] A gente pôde falar bastante também, foi uma discussão muito rica (E1G1).

Acho que nosso conhecimento prévio facilitou a discussão junto com as meninas [residentes] que vêm com uma bagagem nova. Ajudou a abrir nosso horizonte (E1G2).

O pessoal do pré [APH] vem com o ABCDE na ponta da língua, o que ajudou bastante na discussão do grupo (E1G2).

Durante a problematização do caso (estratégia CBL) o tutor estimulava o diálogo entre os alunos. Foram relatados vários casos atendidos por eles, fazendo com que houvesse ampla discussão acerca das condutas adotadas (Diário de Campo G2).

As falas dos participantes demonstraram que a intervenção educativa, por meio dos métodos de ensino inovadores e participativos (CBL, mapas conceituais, simulação realística e portfólio digital) oportunizou a produção de uma prática colaborativa na construção do conhecimento, com enfermeiros de cenários distintos e com diferentes experiências profissionais. Essa construção se deu mediante o diálogo e o respeito à autonomia de cada indivíduo.

Aprendendo com dinamismo e alegria

A utilização de métodos pedagógicos participativos busca favorecer o aprendizado do educando e isso é essencial para a promoção e manutenção da motivação em aprender. Dessa forma, os enfermeiros acreditam que a variação e inovação nos métodos de ensino proporcionaram um clima favorável à aprendizagem, garantindo o foco nas atividades e o prazer em aprender:

A atividade que nós fizemos ontem, do Mapa Conceitual, foi muito interessante, porque nós construímos juntos e isso faz com que fixe na nossa mente, nós visualizamos o mapa e vamos pensando no atendimento, em que nós podemos fazer (E4G1).

Durante a realização do Mapa Conceitual, os participantes mostraram-se empolgados com a ferramenta virtual para construção do mapa, participando ativamente da atividade (Diário de Campo G1).

Você [o tutor] trouxe vários métodos novos e diferentes que puderam estimular diversos alunos de formas diferentes (E1G2).

Estava todo mundo focado, não teve uma pessoa dispersa, mexendo no celular. O método que você usou conosco, a aprendizagem baseada em casos, foi algo que ajudou bastante (E3G2).

Achei algo muito bem elaborado [portfólio digital], eu já tinha visto outras vezes, mas no computador eu nunca tinha visto. Gostei muito do método (E7G2).

Além dos métodos de ensino utilizados, cabe considerar que o AIQ, para os enfermeiros que participaram da intervenção, é dotado de significação e os mesmos atribuem relevância a esse tema, o que de fato os motivou para o aprendizado:

Atendemos várias situações em nossa rotina de trabalho, queimaduras em crianças, pacientes com queimadura de vias aéreas, e percebo que os profissionais não possuem preparo suficiente (E4G1 extraído do portfólio).

[...] Eu vejo que é um assunto muito complexo [o AIQ] (E6G1).

Eu tinha muitas dúvidas, na questão de avaliação do paciente, muito mais ainda em se tratando de criança (E1G2).

Na concepção dos enfermeiros, o educador, que nesta intervenção assumiu o papel de professor-tutor, criou condições para a construção do conhecimento pelos educandos, ao assumir uma postura de rompimento com a proposta pedagógica ainda hegemônica do monólogo e de conteúdos prontos e preestabelecidos:

Você [o tutor] conseguiu abordar os conteúdos de forma esclarecedora, sabe?! Não foi de uma forma carregada, foi de forma dinâmica (E2G1).

Não foi aquela coisa do professor falando e nós não estarmos compreendendo nada, meu Deus... (E1G1).

[...] Não ser pautado em aula expositiva facilitou muito porque nós mantivemos o diálogo, o foco, a discussão daquele problema e isso facilitou bastante nossa concentração naquele assunto (E2G2).

Cabe ressaltar ainda que o alinhamento entre teoria e prática, elemento essencial da abordagem sociocultural, que foi promovido principalmente pelo desenvolvimento da simulação realística e da CBL, despertou grande interesse nos educandos, que desempenharam papel ativo no processo de ensino-aprendizagem, tornando-o mais uma vez prazeroso:

É uma forma de poder assimilar mesmo o conteúdo que é passado na teoria e na prática, assim conseguimos guardar mais fácil. É bom para fixar mesmo (E1G1).

Porque simulação realística se nós repetirmos dez vezes, acredito que nas dez iremos aprender algo diferente (E6G1).

A simulação realística que praticamos aqui faz com que nós aprendamos mais. O que nós fizemos certo e aquilo que não foi tão adequado, e coloca também à prova o nosso nervosismo, diante da situação, o paciente falando, falando [...] (E1G2).

Durante a simulação realística alguns sentimentos e emoções dos alunos ficaram evidentes, como a preocupação em atender corretamente o paciente e em acalmar o familiar que estava ao lado. Ao mesmo tempo, os demais alunos que assistiam à simulação observavam atentamente e faziam comentários sobre o atendimento dos demais (Diário de Campo G2).

Aliar a parte teórica e a prática e o teu conhecimento [do tutor] foi muito bom, você trouxe recursos modernos, como a simulação e os conteúdos que estão na plataforma digital [Google Drive] e que vai nos favorecer porque está disponível (E8G1).

Da problematização da realidade à criticidade

A educação, segundo pressupostos de Freire, deve levar o educando a uma tomada de consciência e atitude crítica que leva à modificação da realidade. O discurso dos profissionais colocou em evidência uma prática educativa contextualizada, consciente e crítica:

Ajudou muito, nós tivemos a oportunidade de estudar um caso que nós atendemos, vivenciamos. E você [tutor], através dos casos, conseguiu fazer com que nós entendêssemos melhor. Facilitou bastante (E3G1).

Durante as discussões no curso, sempre vieram cenas e situações já vivenciadas e que me fizeram refletir como eu e a equipe estávamos despreparadas, e como o nosso trabalho e os primeiros cuidados ao queimado são importantes (E7G1 extraído do Portfólio).

A metodologia utilizada facilitou a nossa memorização, a nossa reflexão a respeito do caso. Nos fez também relembrar casos que nós atendemos e pensar em que poderia ter sido feito de diferente. O que eu fiz e o que eu poderia melhorar naquele atendimento (E2G2).

O ser humano, enquanto ser histórico, está envolvido em um contexto espaço-temporal e, nessa condição, quanto maior for a reflexão crítica sobre a sua realidade, mais poderá influenciá-la, garantindo a si mesmo mais autonomia e liberdade. A tomada de consciência da realidade foi corroborada na fala dos enfermeiros:

Foi uma oportunidade de nós aprendermos, para quando for atender esse paciente, independentemente de onde estejamos trabalhando, talvez em um lugar sem muito recurso, nós saibamos como agir naquela situação e liderar a equipe (E3G1).

Eu percebi, agora com o curso, que eu tinha uma visão equivocada de que o centro de queimados teria que dar conta do paciente, mas uns dos primeiros itens que nós discutimos no início foi o atendimento que nós [APH e os] realizamos, que são aquelas horas iniciais, que são cruciais e nesse período o paciente será atendido por nós (E1G2).

Esse nosso serviço de porta de entrada, pronto-socorro público e SAMU, não tem como fugir [do AIQ], nós não escolhemos o paciente, não escolhemos a ocorrência [grupo concorda] (E4G2).

Educação que leva ao empoderamento e à segurança profissional

O caminho percorrido pelos enfermeiros em busca da construção do saber proporcionou-lhes o aumento do poder e da autonomia, levando ao empoderamento no processo de tomada de decisão, principalmente no que tange às relações interprofissionais, como pode ser observado nas falas:

A gente sempre passa por aquela situação em que há a pergunta: o que fazer com queimadura? Depende com quem você está trabalhando [médico]! Essa era a resposta... porque cada um segue uma linha, cada um faz de um jeito, mas agora não [...] (E4G1).

Justamente porque nós trabalhamos em equipe, entendeu? Não tem como cada um agir de forma diferente, tem que estar bem alinhado, então é preciso orientar [a equipe] de forma adequada (E4G2).

Alguma coisa nós já sabíamos [antes do curso], mas na segunda-feira [durante o curso] que eu transportei aquele queimado, já fui com mais segurança, quando entrou a ocorrência eu lembrei das discussões, fluiu mais claro, e quando eu cheguei e me deparei [com o paciente] não tive dificuldades (E9G2).

Após a avaliação final da intervenção educativa os participantes enalteceram o papel do tutor, principalmente pela criatividade em relação aos métodos de ensino empregados. Relataram em vários momentos aumento da segurança para o atendimento ao queimado e que estavam motivados a transmitirem os conhecimentos adquiridos aos colegas de trabalho (Diário de Campo G2).

Por fim, observa-se a partir da fala dos participantes que a intervenção educativa, estando dirigida pela compreensão da educação como ato político-pedagógico voltado para liberdade e emancipação dos sujeitos, conferiu segurança aos enfermeiros na realização de suas práticas cotidianas:

Nossa, mudou muito a minha visão. Agora é totalmente diferente! Se tivesse atendido um queimado [antes do curso] eu, com certeza, iria dar prioridade para a lesão em si, não me atentaria tanto no ABCDE (E3G1).

Eu acho que todo profissional, quando atende sem segurança, por exemplo um queimado que é muito marcante, e o prognóstico dele é ruim você acaba pensando: será que eu não poderia ter feito algo a mais? E agora, depois desse curso, com um preparo a mais, você pode ter essa certeza, eu fiz tudo o que eu pude (E6G1).

O curso nos ajudou a refinar nosso atendimento, a ter mais segurança para atender (E4G2 - extraído do portfólio).

Hoje eu sinto muito mais segurança frente a uma situação dessas [AIQ], em dizer: é assim que eu faço! Com muito mais propriedade do que antes do curso, porque quando era queimadura eu sempre pensava assim: vou fazer porque eu acho que não está tão errado, mas agora não, agora eu vou atender com muito mais segurança (E8G2).

DISCUSSÃO

Considerando que o AIQ é um tema complexo e desafiador na realidade dos enfermeiros que atuam em serviços de urgência, corroborado nas falas dos educandos, infere-se que a própria temática por si só confere interesse e motivação para o aprendizado. Essa motivação, entretanto, foi potencializada nessa intervenção educativa, ao oportunizar aos educandos envolverem-se em atividades de maneira ativa, conferindo prazer ao processo de ensino e aprendizagem.

Na busca de trilhar novos caminhos para formação profissional em enfermagem, tem-se lançado mão de MAs mediadas por métodos de ensino inovadores, que busquem a integração entre a teoria e a prática e entre ensino e serviço.14 Nessa perspectiva, destaca-se a aprendizagem cooperativa e colaborativa, considerada um dos pilares do ensino ativo, havendo relevante evidência científica de que o trabalho em grupos potencializa a aprendizagem. Ao trabalhar em grupo, os educandos alcançam uma sinergia que não acontece no trabalho individual, fato este que foi corroborado na fala dos participantes dessa intervenção educativa, principalmente pelo compartilhamento das vivências trazidas da prática dos profissionais para dentro do ambiente educacional.15

Essencial para o trabalho em grupo é a relação dialógica estabelecida entre os educandos, a qual proporcionou um terreno fértil de troca de saberes e compartilhamento de conhecimentos e experiências da vida real entre os participantes dessa intervenção. Considerado um dos pontos centrais do referencial freireano, o diálogo estabelecido em uma relação pedagógica constitui um desafio a ser superado no ensino dos profissionais de saúde, em direção a uma educação que estimule o pensar e o agir tanto nos aspectos teóricos quanto práticos. Ao assumir uma postura voltada ao diálogo, o educador contribui para o fortalecimento da sua prática pedagógica e estimula a autonomia dos educandos.8^,16

Outro aspecto relevante é a motivação para o aprendizado, considerada essencial aos educandos, visto que pode transformá-los em profissionais com maior autonomia e aprofundamento crítico-reflexivo. Esse aprofundamento é mister no processo de desvelamento dos problemas individuais e coletivos. No campo da Enfermagem, os estudos têm enfatizado a importância de métodos de ensino que potencializem a motivação dos educandos e favoreçam a aprendizagem.17

Dentre os métodos de ensino inovadores empregados, merece destaque a simulação realística. Esse método tem se mostrado promissor na área da saúde, já que oportuniza ao aluno praticar em condições controladas e seguras. Caracteriza-se pela criação de uma réplica da situação desejada, podendo ser utilizado para simular as interações reais do paciente e, consequentemente, melhorar as habilidades de comunicação, trabalho em equipe, gerenciais e habilidades técnicas.18 Dessa forma, na perspectiva da abordagem sociocultural, a simulação permite ao aluno realizar a integração entre teoria e prática e a vivenciar realidades do seu contexto social.

Estudo realizado na Itália que utilizou a simulação realística com o objetivo de desenvolver habilidades de trabalho em equipe e gerenciamento de recursos em crise na área de queimaduras, com profissionais médicos, mostrou alcance dos objetivos e excelente satisfação geral com a metodologia utilizada.19 Esse método, além de oferecer uma oportunidade para aprendizagem reflexiva, permite que quaisquer desvios significativos sejam aprofundados para otimizar o desempenho da equipe em simulações futuras e em situações reais.

Outro método importante de ser referenciado é a aprendizagem baseada em casos - CBL. Essa abordagem auxilia os profissionais de saúde a desenvolverem habilidades de pensamento analítico e diagnóstico, e não apenas um mero acúmulo de conteúdos teóricos. Dessa forma, possibilita que o educando seja exposto a situações reais, capazes de o ajudar a desenvolver habilidades de análise, bem como a interpretar e solucionar problemas, despertando seu interesse em aprender.20

O professor-tutor, na CBL, tem a função de auxiliar os alunos a solucionar problemas diversos baseados em casos que ocorrem em situações do mundo real, passando do conhecimento abstrato para aplicações práticas. Desse modo, essa estratégia constitui um método potencialmente poderoso para habilitar enfermeiros para atuar perante situações clínicas desafiadoras.21

Destacado nas falas dos profissionais, o MC constitui uma estratégia ativa que favorece os educandos a pensarem criticamente. Enfermeiros enfrentam problemas complexos e decisões que exigem pensamento crítico para identificar as necessidades do paciente e implementar as melhores práticas. Estudo experimental realizado com estudantes de enfermagem verificou aumento estatisticamente significativo em habilidades relacionadas ao pensamento crítico no grupo intervenção - ensino utilizando mapas conceituais - quando comparado ao Grupo Controle. Os autores recomendam a inserção desse método nos currículos dos cursos de enfermagem.22

Essa intervenção buscou avançar ainda ao promover atividades colaborativas no ambiente virtual. A criação de um portfólio digital possibilitou o compartilhamento de materiais, utilizando a ferramenta tecnológica Google Drive, que tem como funcionalidade a escrita colaborativa e o gerenciamento de arquivos. Entre uma oficina pedagógica e outra, os alunos, orientados por questões norteadoras, analisavam um caso clínico e realizavam reflexões sobre o atendimento ao paciente, o que permitiu aprofundamento e promoção da criticidade. Em busca realizada nas bases de dados nacionais da enfermagem, encontrou-se apenas um artigo científico publicado,23 que utilizasse tal ferramenta como recurso didático na construção colaborativa do conhecimento, conferindo pioneirismo ao presente estudo.

Uma ação educativa com métodos de ensino-aprendizagem participativos e que estimulem a problematização vista como um ato político-pedagógico de intervenção no mundo é fundamental para o desenvolvimento da conscientização e de uma perspectiva libertadora. Para produzir as mudanças que a realidade atual exige, é preciso conscientização, assim como educação voltada para a construção de uma sociedade não opressiva. Essa formação em enfermagem aponta para a formação de profissionais e líderes que trabalham dentro dessa perspectiva.8^,24

Portanto, este estudo partiu de uma proposta pedagógica que se contrapõe à educação tradicional e busca superar o ensino pautado na transferência unilateral de conteúdos, estimulando as práticas criativas, críticas e transformadoras. Buscou-se a conscientização cuja essência é pensar a realidade de forma crítica e reflexiva para atuar em direção à sua transformação, assumindo uma posição epistemológica. Esse processo só é possível quando a realidade é questionada e problematizada, sendo a problematização um meio de descobrir a realidade a partir do diálogo e da ação-reflexão. Através do diálogo, os indivíduos aprendem juntos e agem em seu dever de descobrir o que está acontecendo e transformar o mundo.8^,13^,25

Os métodos de ensino-aprendizagem utilizados possuem caráter ativo, dialógico e crítico. Assim sendo, buscou-se uma educação emancipatória e transformadora, mediatizada pelo diálogo entre o educador e os educandos, em uma relação horizontal. O compartilhamento de experiências e o aprofundamento reflexivo em torno do AIQ conferiu autonomia e segurança aos enfermeiros na realização de suas práticas. Considera-se que a autonomia constitui um fator fundamental para o desenvolvimento do trabalho profissional, principalmente na área da saúde, em que o trabalho, realizado por equipe multidisciplinar, é ao mesmo tempo compartilhado e complementar.8^,26

Nesse sentido, a apropriação de conhecimentos próprios da enfermagem no atendimento ao paciente queimado possibilita uma prática mais autônoma, levando ao empoderamento dos profissionais. A literatura científica aponta que o empoderamento de enfermeiros reflete em resultados satisfatórios em suas práticas. Uma vez empoderados, esses profissionais tendem a apresentar maior comprometimento com a organização de trabalho, maior satisfação profissional e menos tensão na realização de suas atividades.27

O presente estudo limitou-se a descrever a percepção de enfermeiros sobre uma intervenção educativa com métodos de ensino inovadores, que foi direcionada ao atendimento da pessoa que sofreu queimaduras. Considerando que os participantes atuavam em cenários de urgência pré e intra-hospitalares de um único município, os resultados não podem ser generalizados para populações com características diferentes. Embora relacionado ao AIQ especificamente, pode constituir no futuro uma referência em outras áreas de educação em enfermagem, levando os docentes a uma reflexão sobre o processo de ensino-aprendizagem e desenvolvimento curricular na formação acadêmica e continuada.

CONCLUSÃO

Os enfermeiros perceberam a intervenção educativa como positiva. Dessa forma, apontaram que metodologia utilizada, com valorização do diálogo, conferiram-lhes autonomia possibilitando a troca de experiências, com oportunidade para que pudessem ensinar e aprender de forma colaborativa. A inovação e variação dos métodos de ensino permitiram aos educandos aliarem teoria e prática e problematizarem situações reais vivenciadas por eles, o que conferiu motivação, foco e prazer ao processo de ensino-aprendizagem.

No desenvolvimento da intervenção, o conhecimento foi paulatinamente construído e as reflexões contribuíram para o aumento da criticidade dos participantes acerca da realidade. Considerando que os enfermeiros se sentiram mais empoderados e seguros para realização do AIQ, conclui-se que a intervenção cumpriu seu papel enquanto educação crítica e emancipatória.

Métodos pedagógicos inovadores, como a simulação realística, e os demais abordados nesta intervenção educativa constituem um meio eficaz para preparar equipes de saúde para o atendimento de urgência e emergência em situações agudas, complexas e estressantes, como os casos de queimaduras. Recriar o modelo de ensino-aprendizagem na enfermagem é crucial para otimizar a assistência no AIQ.

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NOTAS

• ORIGEM DO ARTIGO

  Extraído da tese - Intervenção educativa problematizadora sobre atendimento inicial ao queimado: estratégia ativa de ensino-aprendizagem em enfermagem apresentada ao Programa de Pós-Graduação Enfermagem, da Universidade Estadual de Maringá, em 2019.

• APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

  Aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Maringá, parecer n. 2.284.708/2017, Certificado de Apresentação para Apreciação Ética 69776017.5.0000.0104.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  18 Dez 2020
• Data do Fascículo
  2020

Histórico

• Recebido
  22 Ago 2019
• Aceito
  27 Nov 2019