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Complementary and alternative medicine in nursing and midwifery: towards a critical social science

RESENHA

Adams J, Tovey P, organizers. Complementary and alternative medicine in nursing and midwifery: towards a critical social science. New york: routledge; 2008

Márcia Aparecida Padovan OtaniI; Nelson Filice de BarrosII

IDoutoranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Docente da Faculdade de Medicina de Marília. São Paulo, Brasil. E-mail: mm-otani@famema.br IISociólogo. Doutor em Saúde Coletiva. Docente do Departamento de Medicina Preventiva e Social da FCM/Unicamp. São Paulo, Brasil E-mail: nelfel@uol.com.br

Correspondência Correspondência: Márcia Aparecida Padovan Otani Rua Luiz Padilha de Oliveira, 285 17580-000 Flândria - Pompéia, SP, Brasil E-mail: mm-otani@famema.br

Nos últimos anos, tem-se observado em vários países um aumento do número de pacientes e de profissionais de saúde que procuram a Medicina Alternativa e Complementar (MAC), devido à insatisfação com o modelo convencional de cuidado em saúde.1 A incorporação de práticas alternativas e complementares no sistema convencional de cuidado em saúde implica mudança de paradigma em relação à compreensão do processo de saúde e doença.

Em 2006, foi publicada a adoção da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS2, fato considerado um grande passo rumo à integração de tais práticas. No Brasil, a inserção da enfermagem neste contexto é ainda bastante tímida, ao contrário do que acontece em alguns países - como Austrália, Canadá, Israel e Reino Unido - onde a MAC está sendo sedimentada como a chave do cuidado em saúde pública.

Em vista disso, a leitura do livro Complementary and alternative medicine in nursing and midwifery: towards a critical social science, lançado em 2008, favorece uma visão crítica geral sobre esse importante campo de pesquisa e prática em saúde.

Organizado por Jon Adams, da Universidade de Queensland, na Austrália e por Philip Tovey, da Universidade de Leeds, no Reino Unido. Tendo sido escrito juntamente com outros pesquisadores da área de ciências sociais, o livro trata da relação e da integração da MAC com a enfermagem e com a obstetrícia, explorando as suas facetas histórica, social, política e cultural. Os autores discutem questões éticas e políticas essenciais para a enfermagem, tanto em relação à produção de conhecimentos, quanto às formas de intervenção no processo saúde-doença. Destacam que, embora haja a tendência de consenso sobre a inserção da MAC no cuidado convencional, é preciso resistir ao desenvolvimento dessas práticas distanciadas do processo integrativo.

O livro é dividido em três partes. Na primeira parte; composta pelos capítulos 1, 2 e 3; são abordadas as questões interprofissionais, reconhecendo que as enfermeiras e as obstetrizes operam dentro de uma rede de relações interdisciplinares e que essas relações mudam o caráter da MAC. No capítulo 1, as autoras, Ivy L. Bourgeault e Kristine A. Hirschkorn reconhecem a escassez de pesquisas que comparam conhecimentos, atitudes e comportamentos de médicos, enfermeiras e obstetrizes em relação à MAC. Ainda, descrevem as contribuições teóricas mais comuns existentes na área de MAC e constatam que há poucos artigos com pesquisa primária escritos por enfermeiras e, menos ainda, escritos por outros profissionais de saúde, como as obstetrizes. Esse dado justifica-se pelo fato de que, em alguns locais dos Estados Unidos e Canadá, essas profissionais não trabalham integradas ao sistema de cuidado em saúde vigente nos países. Segundo essas autoras, a literatura mostra que as enfermeiras e as obstetrizes são mais abertas para a prática de MAC do que os médicos e que as mesmas possuem maior ligação com o cuidado holístico e com o cuidado centrado no paciente.

Paaige K. Turner descreve, no capítulo 2, um estudo de caso da integração das práticas de cuidado alternativo e convencional na assistência ao parto, nos EUA. O capítulo foca o papel emergente dos profissionais de cuidado alternativo e suas relações com a medicina convencional. O autor destaca que o cuidado em saúde e o papel dos profissionais são construídos e sustentados socialmente. Enfatiza a necessidade de os profissionais de MAC dividirem as responsabilidades no cuidado ao paciente, bem como lutarem para legitimar seu trabalho e obter a cobertura de seguros.

O capítulo 3, escrito por Peter Morrall, sociólogo com conhecimento em enfermagem, encerra a primeira parte com uma polêmica sobre o uso de MAC e o status profissional da medicina e enfermagem. Examina as diferentes posições de tais profissões e descreve que tanto os médicos quanto as organizações médicas têm assumido uma postura cética em relação à MAC para não desviarem-se de sua herança científica. A enfermagem não se mostra tão cética a respeito da MAC e, apesar de defender a prática baseada em evidências, o autor argumenta que a enfermagem está perdendo suas funções primárias. Segundo ele, a melhor estratégia seria focar-se nos cuidados primários aos pacientes.

A parte II volta-se para as questões intraprofissionais. Inicia com o capítulo 4, escrito por Philip Tovey e Jon Adams, em que se apresenta uma análise exploratória de 278 artigos publicados por enfermeiros entre os anos de 1995 e 2000, abordando a MAC e sua integração com a enfermagem. Discorrem sobre a natureza da enfermagem, suas responsabilidades, seus papéis e o lugar da MAC dentro dela.

No capítulo 5, Kahryn Hugles continua o tema da dinâmica intraprofissional abordando a integração da MAC com a enfermagem e com a noção mais ampla de cuidado e de holismo a que ela está estreitamente relacionada. A autora descreve as evidências empíricas de dois estudos realizados no Reino Unido, explana como o cuidado e o holismo são usados para assegurar e diferenciar a identidade e as fronteiras profissionais; e argumenta que o debate sobre o cuidado de enfermagem em MAC possui estreita relação com o amplo trabalho da sociologia do cuidado.

O capítulo 6 é um estudo comparativo do trabalho das enfermeiras e obstetrizes praticantes de MAC em Israel. As autoras Judith T. Shuval e Sky E. Gross apresentam os dados da pesquisa através de análise qualitativa, enfatizando a variação do processo de trabalho de cada profissão, as diferenças entre os dois grupos e a sua integração com os demais profissionais de saúde.

A última parte do livro aborda as questões da saúde pública e dos pacientes, explorando os aspectos da MAC em enfermagem e obstetrícia e seu impacto sobre o cuidado do paciente e o cuidado em saúde pública. No capítulo 7, Karen Lane argumenta que o cuidado centrado na mulher é compatível com a MAC. A fusão dessas práticas oferece às obstetrizes a oportunidade de se promoverem como cuidadoras primárias e favorece a participação das mulheres nas decisões sobre os cuidados em saúde.

Escrito por Emily Hansen, o capítulo final da terceira parte e do livro, apresenta uma análise crítica da relação entre a tradicional e a nova saúde pública destacando suas similaridades, já que essa incorporação deve operar com o entendimento biopsicossocial de saúde, com modificações na educação e no estilo de vida como parte da política pública geral. Esse modelo de enfermagem holística - definida como uma filosofia que considera a pessoa como um todo - é também responsável por sua saúde e bem-estar.

O livro destaca que há uma crescente expansão e integração da MAC na prática da enfermagem, com a abertura de espaços políticos para o debate entre os modelos contraditórios da alopatia e da MAC. Os autores alertam, porém, para o risco da aceitação, tanto por parte das enfermeiras, quanto dos demais profissionais de saúde, de determinadas técnicas utilizadas pela MAC sem a incorporação de uma nova racionalidade terapêutica, diferente da medicina convencional.

Alguns debates desenvolvidos no livro parecem distantes da realidade brasileira e, no entanto, trazem substratos importantes para a compreensão do atual contexto, em que políticas de saúde e educação propõem mudanças na formação e profissionalização de enfermeiros e obstetrizes no Brasil.

Este livro representa um marco no esforço de aproximar a enfermagem da MAC e fornece uma visão crítica acerca do cuidado de enfermagem em MAC. É uma importante leitura para enfermeiros, obstetrizes, cientistas sociais da saúde e outros profissionais de saúde, assim como para os estudantes dessas áreas com interesse na medicina alternativa e complementar.

Recebido: 24 de novembro de 2009

Aprovação: 20 de setembro de 2010

  • 1. Eisenberg DM, Kessler RC, Foster C, Norlock FE, Calkinss DR, Delbanco TL. Unconventional medicine in the United States: prevalence, costs and patterns of use. N Engl J Med. 1993 Jan; 328(4):246-52.
  • 2. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à saúde, Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS - PNPIC- SUS. Brasília (DF): MS; 2006.
  • Correspondência:
    Márcia Aparecida Padovan Otani
    Rua Luiz Padilha de Oliveira, 285
    17580-000 Flândria - Pompéia, SP, Brasil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Jan 2011
    • Data do Fascículo
      Dez 2010
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