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Enfermagem e a promoção da saúde mental na família: uma reflexão teóric

Nursing and the promotion mental health in the family: a theoretical reflection

Enfermería y la promoción de la salud mental en la familia: una reflexión teórica

Resumos

A família é considerada espaço indispensável para a garantia da sobrevivência e proteção de seus membros, proporcionando suportes afetivos e materiais, necessários ao desenvolvimento e bem-estar, sendo em seu interior absorvidos valores éticos e aprofundados laços e solidariedade. A família precisa estar capacitada para suprir tais necessidades, sendo-lhe indispensável à manutenção da saúde mental. O artigo instiga a reflexão sobre relações familiares, ciclos vitais e valores na família e sobre enfermagem da família, buscando promover a discussão sobre possibilidades de oferecer suporte em saúde mental a famílias, com o objetivo de propiciar uma melhoria na qualidade da interação entre seus membros.

Família; Saúde mental; Enfermagem da família


The family is considered indispensable for the guarantee of the survival and protection of its members, providing the affection and material support necessary for development and well-being, being in its interior absolved ethical values deepened bows, and solidarity. The family needs to be qualified to supply those needs, being indispensable the maintenance of its mental health. The article provokes reflection on family relationships, vital cycles and values in the family and on the family's nursing, searching to promote the discussion about possibilities to offer support in mental health in the families, furthering an improvement in the quality of interaction among its members.

Family; Mental health; Nursing family


La familia es considerada como un espacio indispensable para garantizar la sobrevivencia y la protección de sus miembros, proporcionando los soportes afectivos y materiales necesarios para el desarrollo y bienestar, conservando en su interior valores éticos y profundos lazos y solidaridad. La familia necesita estar calificada para suplir estas necesidades, siendo indispensable el mantenimiento de la salud mental. El artículo estimula la reflexión sobre las relaciones familiares, ciclos vitales y los valores en la familia y sobre la enfermería en la familia, buscando promover la discusión sobre las posibilidades de ofrecer el apoyo en la salud mental de las familias, con el objetivo de propiciar una mejoría en la calidad de la interacción entre sus miembros.

Familia; Salud mental; Enfermería en la familia


ARTIGO ORIGINAL

REFLEXÃO

Enfermagem e a promoção da saúde mental na família: uma reflexão teórica

Nursing and the promotion mental health in the family: a theoretical reflection

Enfermería y la promoción de la salud mental en la familia: una reflexión teórica

Virgílio César Dourado de MacêdoI; Ana Ruth Macêdo MonteiroII

IBacharel em Enfermagem pela Universidade Estadual do Ceará. Membro do Grupo de Pesquisa Educação, Saúde e Sociedade

IIDoutora em Enfermagem. Professora da Universidade Estadual do Ceará. Enfermeira do Hospital de Messejana-CE/SUS. Membro do Grupo de Pesquisa Educação, Saúde e Sociedade

Endereço Endereço: Virgílio César Dourado de Macêdo Trav. Queiróz Ribeiro, 01-A CEP: 60055-360 - Bairro Montese, Fortaleza-CE. E-mail: virgilio_cesar@yahoo.com.br

RESUMO

A família é considerada espaço indispensável para a garantia da sobrevivência e proteção de seus membros, proporcionando suportes afetivos e materiais, necessários ao desenvolvimento e bem-estar, sendo em seu interior absorvidos valores éticos e aprofundados laços e solidariedade. A família precisa estar capacitada para suprir tais necessidades, sendo-lhe indispensável à manutenção da saúde mental. O artigo instiga a reflexão sobre relações familiares, ciclos vitais e valores na família e sobre enfermagem da família, buscando promover a discussão sobre possibilidades de oferecer suporte em saúde mental a famílias, com o objetivo de propiciar uma melhoria na qualidade da interação entre seus membros.

Palavras-chave: Família. Saúde mental. Enfermagem da família.

ABSTRACT

The family is considered indispensable for the guarantee of the survival and protection of its members, providing the affection and material support necessary for development and well-being, being in its interior absolved ethical values deepened bows, and solidarity. The family needs to be qualified to supply those needs, being indispensable the maintenance of its mental health. The article provokes reflection on family relationships, vital cycles and values in the family and on the family's nursing, searching to promote the discussion about possibilities to offer support in mental health in the families, furthering an improvement in the quality of interaction among its members.

Keywords: Family. Mental health. Nursing family.

RESUMEN

La familia es considerada como un espacio indispensable para garantizar la sobrevivencia y la protección de sus miembros, proporcionando los soportes afectivos y materiales necesarios para el desarrollo y bienestar, conservando en su interior valores éticos y profundos lazos y solidaridad. La familia necesita estar calificada para suplir estas necesidades, siendo indispensable el mantenimiento de la salud mental. El artículo estimula la reflexión sobre las relaciones familiares, ciclos vitales y los valores en la familia y sobre la enfermería en la familia, buscando promover la discusión sobre las posibilidades de ofrecer el apoyo en la salud mental de las familias, con el objetivo de propiciar una mejoría en la calidad de la interacción entre sus miembros.

Palabras clave: Familia. Salud mental. Enfermería en la familia.

INTRODUÇÃO

A família é, seguramente, o primeiro e principal espaço de crescimento e desenvolvimento, no qual o indivíduo adquire suportes para formação da sua personalidade, bem como de seus padrões de relacionamento. No núcleo familiar, suas potencialidades afetivo-emocionais, sociais, intelectuais, dentre outras, se desenvolvem e se aperfeiçoam. "[...]o ambiente familiar precisa satisfazer as necessidades de afeto, apego, desapego, segurança, disciplina[...] Na família, estrutura-se a forma de estabelecer vínculos, isto é, a capacidade de aprender a se relacionar[...] A família permanece dentro de nós pela vida afora, as relações com os pais e com os outros membros da família são, para nós, a matriz que dá forma aos outros relacionamentos de nossa vida: com o cônjuge, com os amigos e colegas etc"1:45.

A qualidade das interações estabelecidas entre os membros da família é o que possibilita a manutenção de trocas afetivas, fornecendo aos indivíduos modelos para o comportamento nos contextos nos quais venha a integrar-se. " O lar proporciona à criança o sentimento de segurança que nasce com a afetividade[...] O amor dos pais e a constância de suas relações preparam o senso de confiança, como a fundação sobre a qual a personalidade sadia é construída" 2:28.

A participação familiar na formação do indivíduo torna-se, dessa forma, o principal estímulo à integração do ser humano, consigo mesmo e com a sociedade, permitindo-lhe atuar com equilíbrio em seus espaços e desenvolver mecanismos de adaptação e enfrentamento perante eventuais adversidades que lhe sejam impostas.

Dentre múltiplos fatores influenciadores na formação familiar, em sua estruturação e na sua maneira de ser, pensar e agir, podem-se identificar questões relacionadas à ordem cultural, a mitos e ideologias, valores, segredos, desejos e expectativas, os quais assumem caráter marcante na forma como se dão as interações afetivas mencionadas. "[...] cada membro e cada família vão construindo suas histórias e seu desenvolvimento em interação com os segredos, os mitos, a ideologia e a cultura familiares[...]" 3:30.

Esses fatores, reconhecida sua importância, precisam ser tomados e considerados quando se busca trabalhar com família. Certamente, todos eles possuem um papel na história de vida da família. A abordagem sobre um desses fatores, os segredos, e sua função na família, por exemplo, é referida na literatura revisada como papel de proteção e adaptação, sendo um recurso inerente à família, de cujo manejo e acolhimento faz-se necessário ter conhecimento: "Quer a família mantenha um segredo para sua segurança ou o desfaça, para sua libertação, devemos atendê-la com grande cuidado[...]. Os segredos representam dilemas éticos que não são resolvidos através de 'regras' simples. A revelação de certos segredos pode ter um efeito profundamente curativo para indivíduos e relacionamentos, enquanto a revelação de outros pode colocar as pessoas em perigo...há segredos que têm o potencial para a reconciliação e para a divisão[...]". O mais importante consiste em perceber como a questão dos segredos nas famílias pode estar afetando os padrões de relacionamento entre seus membros, haja vista a interferência manifestada sobre a intimidade e a confiança entre estes. "[...] por medo ou angústia frente à mudança, preservando, uma realidade distorcida[...] o risco que a família corre em manter o segredo é o de haver uma ruptura dos vínculos afetivos como um preço a pagar por sua pseudo-segurança emocional" 4:16.

Aprofundando outros aspectos no estudo com famílias, é preciso fazer, também, menção de alguns tipos familiares classificados por alguns autores, bem como da questão de como se distribuem papéis e funções na família entre seus integrantes.

No desafio em que se constitui viver em família, é interessante observar algumas posturas adotadas, que podem contribuir, ou obstruir, os processos familiares. Dois tipos familiares identificados, que na realidade convergem para um só, atuando de maneira complementar, podem ser aqui considerados: a família continente e a família provedora.

Uma família continente seria aquela, onde as experiências dentro e fora da família, sejam estas de sucesso ou de insucesso, de amor ou de raiva, estariam sendo acolhidas, contidas na família e, posteriormente, trabalhadas junto a um membro, através de diálogo e respeito. Adicionalmente, e sob este mesmo enfoque de acolhimento às manifestações do outro, essa família, enquanto provedora, estaria empenhada em prover o indivíduo, buscando oferecer condições afetivo-emocionais, entre outras, para melhor desenvolver-se nas situações e espaços por que venha a passar5.

O exercício do respeito e da tolerância numa família, a aceitação das diferenças nas formas de ser, pensar e agir de cada membro, são fundamentais, possibilitando tendência ao enriquecimento e progresso emocional6.

Ao buscar-se compreender a família e as relações intrafamiliares enquanto processos, e, assim o sendo, demandam tempo e amadurecimento para serem alcançados e vivenciados, torna-se também essencial perceber as pessoas que os formam, enquanto agentes e expectadores de seus próprios processos de vida. Ou seja, possibilitar ao indivíduo oportunidades de experienciar seus processos interiores, auto-reflexivos, permite-se e estimula-se sua participação no desenvolvimento dos processos familiares, tornando-o apto a integrar-se e promover integração na sua família.

"[...]cada membro se define na relação com o outro e a partir da história do grupo, influenciando as interações e sustentando o equilíbrio[...]. A identidade do sujeito é um produto das relações com os outros"3:30 ou ainda conforme afirma outro autor, "Só posso saber a meu respeito aquilo que tive a coragem de confidenciar a você"7:23. Esta é uma análise essencial, a ser percebida na gênese dos relacionamentos intrafamiliares, modelo para outras relações em outros espaços sociais. Para que os fatos evoluam desta forma, alguns suportes se tornam necessários.

Relacionado a este aspecto, encontram-se algumas considerações sobre o convívio familiar saudável, o qual deve incluir noções de liberdade e autonomia: "[...] a família poderia ser mais sensível à noção de autonomia. É a alienação no desejo do outro que provoca a doença [...]. O exercício do respeito à individualidade é o maior desafio que temos na nossa sociedade e também na nossa família. Tão importante quanto respeitar o outro é respeitar a si mesmo, às próprias regras e desejos." Dessa forma, percebe-se a família como castradora ou libertadora do indivíduo e de suas possibilidades de desenvolvimento, resguardando em si o poder de satisfazer os interesses dos seus membros, sendo, também, por eles, satisfeita, numa perspectiva de equilíbrio. Saliente-se a importância da adoção dessa atitude na família, desde o início da formação da criança, quando se estrutura sua personalidade. "[...] os pais não devem ceder ao impulso de criar o filho que gostariam de ter, mas devem, ao invés disso, ajudar o filho a transformar-se plenamente, de acordo com o seu próprio ritmo" 8:29.

Em algumas famílias, o arranjo dos seus membros está baseado numa distribuição de papéis e funções nem sempre saudáveis ou convenientes, porém que acabam se tornando necessários à sua sobrevivência. A criação de rótulos para os filhos pode transformar-se em verdadeiros determinantes do comportamento. É fundamental perceber que papéis são vividos pelos membros de uma família e, principalmente, se estes foram autodeterminados ou impostos, ainda que de forma inconsciente. E além de investigar o porquê dessa imposição ou autodeterminação, perceber as reações e implicações no desenvolvimento. Uma pessoa confinada a um papel, a uma função determinada, pode, não apenas omitir-se, ao enfrentar situações diversas, como pode vir a formar uma família e manifestar suas limitações, ao educar seus filhos, oferecendo, não mais do que aquilo que tenha experien-ciado. A distribuição das relações de poder e de amor, entre outras, pode constituir imposições autocráticas, unidirecionais, vinculando as pessoas a agirem da mesma forma, em situações diferentes. "Uma estrutura saudável (leia-se saúde mental de seus membros), na dinâmica familiar, constitui-se aberta e flexível e rejeita a estereotipia e rigidez na determinação dos papéis e funções de cada um" 3:31.

OS CICLOS VITAIS E OS VALORES NA FAMÍLIA

A abordagem sobre ciclos vitais e valores na família, permite uma melhor, e até mais didática, análise do sistema familiar, de como a família se organiza e se desorganiza, reorientando-se e reelaborando significados para sobressair-se em momentos de crises. Analisar a família quanto a estes aspectos, antes de qualquer outra observação, confere uma dimensão de mudança, de transformação, de dinamismo a esta importante instituição formadora e capacitadora do indivíduo. "A família, enquanto um sistema humano composto por membros de diferentes gerações, passa, ao longo de sua existência, por um ciclo de vida próprio, permeado pelas mais variadas tarefas, pelas mais distintas adaptações. Esse ciclo fundamenta o contexto primário onde o ser humano se desenvolve" 9:15.

Em muitos lares, há algo como uma força conservadora, que mantém a família estagnada, confinada numa pseudo-segurança emocional, proveniente da não transformação, hesitosa do que esta possa acarretar. São "[...]grupos familiares que constróem caminhos, a princípio, apenas preferenciais. Aos poucos, eles se tornam confortáveis, até que finalmente são tão conhecidos que a menor variação deixará os membros da família inseguros. Com o passar do tempo, esses caminhos se transformam em rotas únicas, das quais dificilmente podemos sair"10:13.

A questão dos ciclos vitais na família passa pela questão dos ciclos de vida internos de cada membro e está intimamente relacionada à abordagem de valores e crises. Em cada etapa do desenvolvimento, os integrantes de uma família consolidam ou reelaboram seus valores, sendo estes específicos em cada fase de vida, com suas confusões, fragilidades e contradições, exigindo um esforço adaptativo individual e coletivo, cabendo à família, mais uma vez, uma função continente, conforme mencionado anteriormente "[...]o ciclo de vida individual de cada membro também está em processo e também ocorre dentro de ciclo da família...(esta) deve acomodar, concomitantemente, e com alguma taxa de estabilidade, as alterações do ciclo de vida de cada um de seus membros e dela própria... o entrecruzamento das problemáticas individuais com as problemáticas grupais, sobrecarrega a família e a coloca como foco de conflitos e tensões"9:16.

Analisando o início da formação familiar, o que há, inicialmente, é apenas o casal, duas pessoas tentando se relacionar, cada uma com suas expectativas, desejos, enfim, seus valores pessoais. Dessa união, novas concepções de vida surgem e nesse cenário começam a se constituir os valores conjugais, em que pesam, seguramente, entre outras questões, aquelas relacionadas ao gênero, temperamento e personalidade.

O amadurecimento dos valores pessoais torna-se, então essencial, na elaboração dos demais. Saliente-se, desta forma, a importância de um núcleo familiar equilibrado na manutenção desse processo. Os valores pessoais de um indivíduo vão lhe permitir conhecer-se e integrar-se com os elementos formadores de sua personalidade para assumir-se enquanto pessoa, responsável por suas atitudes e pelas conseqüências destas.

A elaboração e concretização dos valores conjugais são tão mais facilitadas quanto mais bem elaborados e vivenciados foram os valores pessoais. Quando duas realidades se somam e valores da vida pessoal se confrontam e se unem para formar outros valores, sob os quais se ergue uma relação pacífica e harmônica, planos e desejos são somados e o outro passa a ser a possibilidade de concretização de novos projetos. "Trata-se, em mais profunda realidade de um encontro entre duas personalidades, duas psicologias e duas educações, principalmente encontro de duas educações, que surgem trazendo cada qual a marca indelével de ritmos e hábitos anteriores, de tabus e preconceitos às vezes herdados, de critérios e costumes longamente vivenciados. Influência de duas educações marcadas pela inevitável presença de duas famílias na vida do casal"11:23.

O sucesso dessa interação do casal, favorecido pela presença de amor e diálogo, pode ser garantia e fundamento para uma família feliz. O amor conjugal é base para uma união marcada por compreensão e respeito, e o diálogo conjugal, fundamento para superar obstáculos essenciais ao crescimento. "Necessidade em qualquer situação, o diálogo é, na convivência conjugal, condição de sobrevivência"11:27.

Ao se falar de diálogo, faz-se alusão a aspectos essenciais que permeiam e permitem os relacionamentos, sejam estes a comunicação, a comunicação das diferenças, das percepções e dos conceitos de cada um. Manter uma comunicação sincera, livre de segredos, constitui-se um desafio. Entretanto, os atritos precisam ser vistos como naturais e possibilidade de crescimento. "Como duas pessoas, juntas, podem conviver sem atrito? E até que a morte as separe! A chave da compreensão do casal não é a paz nem a concordância, mas a possibilidade de viver suas diferenças. A constante construção de desencontros. É impossível evitar que um casal entre em crise. Todos irão passar por atritos, sofrer desgastes e conflitos. A grande preparação para o casamento não está na vivência pacífica, muito menos na construção da concórdia e do entendimento. Está, sim, no desafio de administrar diferenças e, mesmo, de aceitá-las. Este é o grande impasse e a maior riqueza do casamento. Conviver com a alternativa e com o diferente"12:15.

Se utilizarmos uma abordagem fenomenológica, a qual valoriza as experiências - fenômenos - dos sujeitos, bem como a percepção e o significado destas para eles, veremos que a experiência da crise consiste num fenômeno que se torna, muitas vezes, fundamental, para que um casal decida por novos rumos na relação, mantendo-a equilibrada e sustentável. Essa experiência, e a percepção de seu significado, proporcionam uma reflexão crucial sobre valores pessoais e conjugais, na consolidação dos valores familiares. Casais que não passaram por uma crise, até mesmo evitando-a a qualquer custo, tornam-se mais suscetíveis aos seus efeitos nocivos. "Estes casais que nunca discutiram, que nunca se desentenderam... pensamos, correm um grande risco, quando vier uma crise mais intensa. E, então, não saberão como enfrentá-la"12:86.

Cada alteração no ciclo de vida familiar possui desafios próprios. Tendo enfrentado a tarefa da formação do casal, tem lugar o nascimento do primeiro filho e novas transformações na estrutura da família. O foco de atenção e cuidado é redirecionado, os planos de vida, repensados. Surgem valores como paternidade e maternidade, novos desafios e encantamentos para ajustar o sistema marital, onde os filhos sejam introduzidos.

Os filhos tornam-se adolescentes, vivenciam sua fase mais intensa, época de afirmação de valores, por vezes tão frágeis quanto o preparo dos pais em lidar com eles. O desafio, nesta etapa, é manter o diálogo com os filhos, primando pela sinceridade e pelo respeito, observando limites, cultivando uma relação de amizade e confiança. "O relacionamento pais/filhos deve incorporar alterações provenientes dessa fase tão radical, englobando, ao mesmo tempo, zelo e possibilidade de crescimento"9:17.

Quando os filhos se tornam jovens e se lançam para a vida, novos rumos toma a família, mantendo um dinamismo que transforma e, às vezes, revoluciona. Nessa etapa, os laços de dependência entre pais e filhos já não são tão fortes. Se, por um lado, os pais mantêm o apoio às decisões dos filhos, estando juntos e cuidando dentro de seus limites, por outro têm mais tempo para beneficiar a relação conjugal, mantendo acesa a marca de sua união que, aliás, ao longo de todo o processo de crescimento e desenvolvimento dos filhos não pode estar ausente ou subvalorizada. A conjugalidade deve ser um refúgio, uma fonte, onde o casal consolida o amor, o carinho, o afeto e um momento propício para planejar e replanejar a família.

É nesse cenário que surgem os valores familiares, entre os quais está a maturidade pessoal e familiar que consiste no crescimento de cada um dos membros da família e, consequentemente, dela própria. Crescimento que envolve concretização dos impulsos interiores e de um permanente processo de ultrapassar-se em busca da plenificação.

Crescer em nível familiar envolve empreender todo o esforço possível para gerar concórdia no lar, fazendo deste um espaço de segurança e intimidade. "Intimidade e segurança são filhas do carinho e alimentam-se do acolhimento e da compreensão testemunhados, bem como da fidelidade do amor entre os membros da família [...] onde sempre há lugar para todos, mas onde cada um tem o seu próprio lugar"11:46.

É na intimidade do lar que cada membro deve encontrar oportunidades de se completar enquanto pessoa que pensa e pessoa que ama. Trata-se de suas maiores potencialidades, que vivenciadas em sintonia com os demais membros da família, contribuem para o alcance de seu sentido mais amplo.

É indispensável ao clima familiar que cada membro se sinta participando, integralmente, de tudo o que tenha significado no núcleo familiar: as decisões, as tristezas, as alegrias, as dificuldades etc. Assim como é fundamental entender participação como partilha, partilha das riquezas de cada um, dos valores de cada integrante. O aperfeiçoamento da família passa por esse encontro. O desenvolvimento pessoal, propriamente humano, de cada integrante do grupo familiar, supõe a participação consciente e responsável de todos quantos estão envolvidos no processo.

ENFERMAGEM DA FAMÍLIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE

O desenvolvimento, o aperfeiçoamento e o reconhecimento da ação da enfermagem com famílias têm feito progredir a reflexão sobre a necessidade de se pensar e investigar esse sujeito coletivo, redimensio-nando-a enquanto objeto de atenção e cuidado, num cenário de mudanças na enfermagem.

O reconhecimento da participação familiar no contexto de promoção e educação em saúde, na prevenção e recuperação de seus membros, tem se tornado essencial à prática da enfermagem, sendo necessário analisar e compreender as alterações presentes na dinâmica familiar, na saúde e na doença.

O desequilíbrio nos padrões de relacionamento experimentados pelos membros de uma família, pode fazer emergir no núcleo familiar situações de conflitos, as quais, por sua vez, podem ser responsáveis pelo surgimento de quadros patológicos, físicos e/ou emocionais, que fragilizam a família, desnorteando-a em sua forma de organização e adaptação.

A busca de soluções para harmonizar o ambiente familiar, evitando, com isso, que estes distúrbios se cronifiquem, pode ser apresentada e executada com sucesso pelos próprios componentes da família, reformulando conceitos, modificando comportamentos, refazendo vínculos perdidos. Convém observar, todavia, que se trata de um processo, que pressupõe um preparo, sem o qual se torna difícil concretizar esta mudança. Muitas famílias não se sentem capazes de encontrar alternativas para solucionar ou mesmo amenizar seus problemas, tornando necessária a intervenção de um agente externo, uma ajuda profissional e preparada para a atenção à família.

A investigação da família pode revelar o quanto é alterada a dinâmica familiar, devido, por exemplo, a uma hospitalização ou instauração repentina de uma doença grave em um membro da família. "Os papéis precisam ser redimensionados e o estresse permeia as relações interpessoais, gerando, inclusive, uma situação de crise na unidade familiar"13:26.

A importância da investigação do núcleo familiar do paciente, como forma de complementar o processo de enfermagem, é algo irrefutável. Desde a realização da coleta de dados para a elaboração do histórico de enfermagem e principalmente neste momento as informações referentes ao núcleo familiar são norteadoras na formulação de diagnósticos e intervenções de enfermagem abrangentes e seguros no manejo de processos familiares mal vivenciados ou mesmo traumáticos.

A enfermagem, enquanto profissão fundamentada no objetivo de promover o cuidado, tem na família um excelente espaço de atuação. A inserção do profissional de enfermagem na instituição hospitalar, por exemplo, atuando junto ao paciente em tempo integral, torna-se uma condição que lhe confere a oportunidade de realizar a extensão do cuidar, um cuidar extra-institucional e extra-individual, que se projete até a família do paciente, sua porção mais íntima e, geralmente, fonte de muitos de seus problemas emocionais ou mesmo físicos, os quais permanecem escondidos em relações familiares conflituosas. A extensão do plano assistencial à família, é uma garantia do que o enfermeiro consegue quanto à continuidade do tratamento extra-hospitalar. Reciprocamente, tratar a família é tratar o indivíduo. "[...] famílias saudáveis, que dão apoio a seus membros, que são flexíveis a mudanças no seu funcionamento para atender a suas necessidades, têm permitido ao indivíduo doente manter aderência ao tratamento, possibilitando sua reabilitação e/ou recuperação da saúde" 13:26.

Em outros contextos, deve-se orientar para um cuidar holístico, que considera o indivíduo, não somente em todas as suas dimensões (social, política, econômica, cultural, espiritual, física, emocional), como também em todas as suas inserções (família, comunidade, sociedade), fazendo-os campos de trabalho para a assistência de enfermagem.

É preciso considerar outras possibilidades essenciais ao enfermeiro para que este se volte para a família, percebendo-a como participante do processo de cuidar. É preciso pensar a família para atuar junto a ela e, para isto, torna-se necessário sensibilizar e instrumentalizar os enfermeiros nesta ação. "[...] a sensibilização é um elemento crucial no estabelecimento de uma relação destinada ao cuidado da família, já que interfere na decisão pessoal do enfermeiro em cuidar da família [...] Estar sensibilizado, não significa saber trabalhar com a família; não é o conhecimento, mas predispõe a ele[...]" 14:9.

Para que a enfermagem da família torne-se uma realidade, o ensino sobre família deve iniciar na graduação, como parte essencial da formação do enfermeiro e não como algo opcional. Uma prática avançada com família em enfermagem só é possível se o enfermeiro incorporar ou estiver sensibilizado desde a graduação, à família como unidade de cuidado, compreendendo, avaliando e considerando como foco de atenção o relacionamento entre os membros familiares e as experiências de saúde e doença14.

Embasamento este que, graças aos esforços de muitos profissionais de enfermagem, já se encontra em difusão nos currículos universitários. "A enfermagem à família não é mais vista como uma área com a qual o curso de graduação não necessita se preocupar. A família, suas necessidades e recursos começam a fazer parte das falas dos professores e alunos"13:25.

O desafio para a enfermagem no trabalho assistencial com famílias é encontrar respostas para os muitos questionamentos que se erguem quanto ao modo como se deve dar essa intervenção e as muitas bases referenciais que ela exige. É importante considerar algumas questões inerentes à prática do enfermeiro em sua abordagem às famílias: Os enfermeiros reconhecem a importância da família na saúde e na doença? Os enfermeiros sabem como adquirir uma melhor compreensão das experiências da família e como lidar com elas? Como os enfermeiros pensam para cuidar da família? Os enfermeiros oferecem cuidado adequado e efetivo? Como a afetividade é medida?14.

A família é importante em qualquer etapa do processo saúde-doença, e, ela precisa de apoio para cuidar de um familiar que precise de maior atenção, e para tanto, se faz necessário que o enfermeiro conheça e compreenda a estrutura familiar, para que planeje a sua assistência15.

Uma reflexão sobre o desenvolvimento e formação da enfermagem enquanto profissão pode orientar uma mudança, um progresso. A enfermagem se desenvolveu a partir do modelo médico no cuidar, voltando sua assistência para a cura. Porém tem demonstrado interesse e disposição em abordar aspectos relativos à subjetividade do ser humano em sua prática e tem percebido, dentre outros aspectos, "[...]que assistir é muito mais do que curar; é cuidar, mesmo que não objetive a cura ou leve a ela"13:21.

O estudo com famílias constitui-se um desafio não apenas para enfermeiros, mas para todos quantos se propõem a atuar junto à família e para a família."[...]uma leitura crítica acerca desse núcleo, com o exame das forças institucionais que o atravessam e com o conhecimento das forças transformativas e vitais que atuam em seu âmago" 9:14.

Compreender a família, suas formas de organização, pressupõe, em certa medida, o despojamento de preconceitos e uma reavaliação dos modelos e idealizações de família possuídos. Que estes atuem como referência, possibilitando escolhas e soluções, mas não como algo finalizado e acabado, sem enxergar os limites da atuação junto à família. As famílias, "[...] costumam ter significações de saúde e doença e práticas próprias de cuidar, originadas de seu contexto sóciocultural[...] A enfermeira só poderá desenvolver ações congruentes se interagir com a consciência de que sua cultura pessoal e profissional poderá ser diferente daquela dos indivíduos, famílias e grupos com quem está atuando e isto, por sua vez, só será possível através do conhecimento da cultura do outro" 13:22.

O nível de participação e interesse da família nas discussões sobre sua própria situação e resolução de seus conflitos é um facilitador que funciona como um estímulo para a ação do enfermeiro. "Fator que facilita a aceitação da família é quando esta busca ajuda para solucionar algum problema, mostrando-se à disposição de ser ajudada e também de participar na busca das soluções"16:101. Nestes casos, cada palavra, cada gesto comunicado à família tem um sentido, um valor, e pode representar uma real possibilidade de superação de conflitos, de enfrentamento de adversidades.

O trabalho assistencial com famílias, não pode ser uma ação unidirecional, em que estas apenas recebam instruções prontas sobre como devem agir para solucionar ou amenizar seus problemas. "A enfermagem descobre que a família não é um recipiente passivo do cuidado profissional, mas sim um agente, sujeito do seu próprio processo de viver" 13:22. É preciso garantir a continuidade de um processo que pode se iniciar com ajuda profissional, mas que precisa ser mantido pela família em seu próprio contexto. Uma assistência que considera as potencialidades do indivíduo em formular, ele próprio, mecanismos de adaptação ou de enfrentamento a adversidades. "[...]a família constitui talvez o contexto social mais importante onde a doença ocorre e é resolvida. Ela atua, por conseqüência, como unidade primária na saúde e no cuidado de seus membros[...] a família fornece proteção psicossocial aos seus membros, além de se constituir em um importante veículo de transmissão de cultura, onde se incluem os cuidados com a saúde" 13:22.

A disposição do enfermeiro tem que ser a de captar o máximo de conteúdos expressos pelas famílias com as quais venha a trabalhar. Isso é válido como um ganho de experiência para aplicação em trabalhos posteriores, uma vez que a continuidade versus o imediatismo deve ser uma marca na atenção à família. "[...]não podemos esquecer que o trabalho com família é longo, e que todas as situações devem ser avaliadas como indicações para a assistência" 16:103.

A enfermagem deve estar atuando, não somente junto às famílias menos equipadas de recursos, como também junto àquelas com mais preparo. Surge, então, um novo desafio para o enfermeiro, que vem a ser o de "cuidar de quem cuida". "O cuidar da família como unidade básica de saúde exige ainda o conhecer como esta família cuida, identificando suas dificuldades e suas forças, para que o profissional possa assistir a família a atuar de forma a atender às necessidades de seus membros. Este compartilhar responsabilidades é um caminho difícil para o profissional acostumado a 'decidir o que precisa ser identificado, feito, orientado e avaliado" 13:22.

O trabalho com família representa a possibilidade de ampliar nosso próprio mundo e nossa própria humanidade. Assim, estar com a família em tempos difíceis para ela, "[...]é um apelo ao humanismo possível em cada enfermeiro... somente a presença do humano nas angústias e perplexidades que o ato de intervir no processo saúde-doença acarreta, torna possível transformar em momento de crescimento os conflitos do dinamismo do sofrimento da família face à crise experienciada pela doença. Isto é cuidar da família. isto é enfermagem da família. Este é, sem dúvida, um imenso desafio"14:14.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A família representa um núcleo de integração do ser humano e como tal deve ser buscada e abordada, defendendo-se o aspecto da importância e necessidade da manutenção da saúde mental como forma de inclusão e participação da família nos processos de cura e ou recuperação dela e de seus membros.

Acredita-se que a saúde mental possa ser alcançada por meio de relações intrafamiliares saudáveis, construídas com interações sócioafetivas eficientes e viabilizando bem-estar físico, biopsicossocial, emocional e espiritual.

Muitas vezes, quando são desenvolvidos estudos sobre famílias, as dimensões descritas na literatura quanto aos papéis assumidos pela família diante de seus membros e o desenvolvimento de suas potenciali-dades promovendo e estimulando trocas sócioafetivas, parecem não serem identificadas, na prática, em algumas famílias estudadas. Esta percepção dos fatos revela um grande desafio "[...] como articular as idéias que possuímos sobre família com a apresentação desse grupo no viver cotidiano"9:18.

O nível sócio-econômico e cultural e mesmo intelectual das famílias pode torná-las muito limitadas. A união, e muitas vezes desunião, de pessoas morando sob o mesmo teto, convivendo ou suportando umas às outras, reflete bem pouco o que se compreende por família enquanto estrutura sócioafetiva ou medida de saúde individual e comunitária.

A promoção de relações familiares sadias deve ser a principal meta a ser alcançada em trabalhos desenvolvidos com famílias, trabalhando potenciais para formular mecanismos de enfrentamento, a partir dos recursos familiares identificados. É importante salientar que os resultados das experiências com os sujeitos podem surgir a longo prazo, necessitando de um acompanhamento mais exclusivo e contínuo."[...]não podemos esquecer que o trabalho com família é longo, e que todas as situações devem ser avaliadas, como indicações para a assistência" 16:103.

"O caminho da construção de conhecimento de enfermagem da família é excitante, não apenas pelos conhecimentos que permite desvendar, mas, principalmente, pelas verdades que cada um descobre dentro de si, em relação a si mesmo no mundo [...] O trabalho com família representa a possibilidade de ampliar nosso próprio mundo e nossa própria humanidade"14:12.

A reflexão, ora apresentada, pretende proporcionar crescimento e amadurecimento na formação e reflexão de modelos e conceitos de família, orientando o direcionamento das relações intrafamiliares, além de permitir que sejam agregadas novas percepções facilitadoras da investigação e compreensão do núcleo familiar, na promoção da assistência de enfermagem, em nível da prática profissional.

Recebido em: 15 de maio de 2004

Aprovação final: 24 de setembro de 2004

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      15 Fev 2011
    • Data do Fascículo
      Dez 2004

    Histórico

    • Recebido
      15 Maio 2004
    • Aceito
      24 Set 2004
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