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PERSPECTIVA DE GÊNERO NAS REPORTAGENS SOBRE MULHERES ATLETAS NOS JOGOS OLÍMPICOS RIO 2016

RESUMO

Objetivo:

identificar as tendências de reiteração ou superação das desigualdades de gênero em reportagens sobre mulheres atletas publicadas em jornais brasileiros.

Método:

pesquisa documental, realizada a partir de reportagens publicadas na sessão dos cadernos especiais sobre as Olimpíadas Rio 2016 em dois jornais brasileiros de circulação nacional. Foram selecionadas 51 reportagens e 87 imagens, submetidas à análise de conteúdo temática e processadas no software webQDA.

Resultados:

a partir dos dados empíricos, emergiram quatro categorias: a representatividade das mulheres nos jogos olímpicos; as mulheres na plataforma dos campeões; o reconhecimento da mulher a partir da superação do desempenho masculino; e a violência contra a mulher ganhando espaço na pauta esportiva. A cobertura midiática reproduziu padrões sexistas socialmente construídos ao retratar as atletas a partir de características femininas estereotipadas e revelou desigualdades de gênero ao descrever situações de violência contra as atletas perpetradas por membros das equipes técnicas e torcedores.

Conclusão:

apesar da visibilidade dada ao protagonismo das atletas, houve a produção e reprodução de estereótipos de gênero. Portanto, são necessários a desconstrução e o enfrentamento das desigualdades entre homens e mulheres.

DESCRITORES
Gênero e saúde; Esportes; Pesquisa qualitativa; Publicações periódicas; Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

to identify reiteration trends or overcoming of gender inequalities in reports on female athletes published in Brazilian newspapers.

Method:

a documentary research based on reports published in the special report on Rio 2016 Olympic Games in two Brazilian newspapers of national circulation. 51 articles and 87 images were selected and submitted to thematic content analysis and processed in webQDA software.

Results:

four categories emerged from the empirical data: women’s representativeness in the Olympic Games; women on the champions platform; recognition of women from overcoming male performance; and violence against women gaining ground in sports’ agenda. Media coverage replicated socially constructed sexist patterns by portraying athletes from stereotyped female characteristics and revealed gender inequalities in describing situations of violence against athletes perpetrated by members of technical teams and supporters.

Conclusion:

despite the visibility given to the protagonism of athletes, there was the production and reproduction of gender stereotypes. Therefore, it is necessary to deconstruct and confront inequalities between men and women.

DESCRIPTORS
Gender and health; Sports; Qualitative research; Periodicals; Nursing

RESUMEN

Objetivo:

identificar las tendencias de reiteración o superación de las desigualdades de género en reportajes sobre mujeres atletas publicadas en periódicos brasileños.

Método:

la investigación documental, realizada a partir de reportajes publicados en la sesión de los reportajes especiales sobre las Olimpiadas Río 2016 en dos periódicos brasileños de circulación nacional. Se seleccionaron 51 reportajes y 87 imágenes, sometidas al análisis de contenido temático y procesadas en el software webQDA.

Resultados:

a partir de los datos empíricos, surgieron cuatro categorías: la representatividad de las mujeres en los juegos olímpicos; las mujeres en la plataforma de los campeones; el reconocimiento de la mujer a partir de la superación del desempeño masculino; y la violencia contra la mujer ganando espacio en la pauta deportiva. La cobertura mediática reprodujo patrones sexistas socialmente construidos al retratar a las atletas a partir de características femeninas estereotipadas y reveló desigualdades de género al describir situaciones de violencia contra las atletas perpetradas por miembros de los equipos técnicos y aficionados.

Conclusión:

a pesar de la visibilidad dada al protagonismo de las atletas, hubo la producción y reproducción de estereotipos de género. Por lo tanto, son necesarios la deconstrucción y el enfrentamiento de las desigualdades entre hombres y mujeres.

DESCRIPTORES
Género y salud; Deportes; Investigación cualitativa; Publicaciones periódicas; Enfermería

INTRODUÇÃO

No transcorrer da história dos jogos olímpicos, a inserção de atletas mulheres apresentou um contínuo crescimento. Contudo, foi apenas na edição dos jogos de Londres, em 2012, que todos os países participantes contaram com pelo menos uma representante do sexo feminino em suas delegações. Assim, além da maior inclusão das mulheres no evento, também pôde ser percebido o destaque dado pela cobertura midiática internacional dessas atletas.11. Coche R, Tuggle CA. The women’s olympics? A gender analysis of NBC’s coverage of the 2012 London Summer Games. Eletronic News. [Internet]. 2016May [cited 2017 Dec 03];10(2):121-38. Available from: Available from: http://newspapers.sagepub.com/doi/abs/10.1177/1931243116647770
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Embora no cenário atual a participação de mulheres nos eventos olímpicos tenha adquirido maior visibilidade, não se pode afirmar que atletas homens e mulheres tenham as mesmas oportunidades. O esporte consiste em um espaço de produção de corpos generificados, devido à construção cultural que determina as representações de masculinidade e feminilidade. Por esse motivo, é possível observar nos eventos esportivos a representação normalizada de feminilidade e a erotização dos corpos femininos, de modo a exaltar seus atributos físicos e a sensualidade.22. Goellner SV. Jogos olímpicos: a generificação de corpos performantes. Rev USP. [Internet]. 2016 [cited 2017 Nov 17];108:29-38. Available from: Available from: http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/118235
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Nesse cenário, as mídias impressas e/ou televisionadas podem contribuir para a reafirmação das desigualdades de gênero no esporte. Ao enfatizar os padrões socialmente construídos de feminilidade e masculinidade, a mídia reforça os papéis desgenerificados designados para homens e mulheres. No caso das reportagens sobre mulheres atletas, as coberturas de imprensa tendenciosa revelam a necessidade de vender os esportes especificamente para o público masculino, devendo, portanto, adequar suas coberturas para seus potenciais clientes.33. Trolan EJ. The impact of the media on gender inequality within sport. Procedia Soc Behav Sci. [Internet]. 2013Aug [cited 2018 Feb 15];91:215-27. Available from: Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1877042813025512
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A coisificação do corpo feminino no meio esportivo requer ampla discussão fundamentada na perspectiva de gênero para minimizar a desigualdade e a consequente violência de gênero. Recentemente, a temática da violência sexual ganhou notoriedade na mídia internacional, em razão da condenação do médico da equipe olímpica feminina norte-americana de ginástica por inúmeras denúncias de violência sexual que perpetrou contra atletas crianças, adolescentes e adultas durante os anos em que exerceu a medicina desportiva.44. Hauser C, Astor M. The Larry Nassar Case: What Happened and How the Fallout Is Spreading. The New York Times [Internet]. 2018Feb 25 [cited 2018 Feb 14]. Available from: Available from: https://www.nytimes.com/2018/01/25/sports/larry-nassar-gymnastics-abuse.html
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Diante do exposto, e reconhecendo que a cobertura midiática pode influenciar sobremaneira a percepção do público sobre mulheres atletas, o presente estudo partiu da seguinte questão de pesquisa: qual o teor das matérias publicadas em jornais brasileiros em relação à participação das mulheres atletas nos jogos olímpicos Rio 2016? O objetivo foi identificar as tendências de reiteração ou superação das desigualdades de gênero nas matérias sobre mulheres atletas publicadas em jornais brasileiros.

MÉTODO

Trata-se de um estudo documental, exploratório e descritivo, de abordagem qualitativa, com base na Teoria de Intervenção Práxica de Enfermagem em Saúde Coletiva (TIPESC).55. Apostólico MR, Cubas MR, Altino DM, Pereira KCM, Egry EY. Nursing diagnoses in children’s health care in Curitiba, Brazil: an overview of Cipesc® Bases. Texto Contexto Enferm. [Internet]. 2007 Jul-Sept [cited 2017 Oct 24];16(3):453-62. Available from: Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072007000300011
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A pesquisa foi realizada a partir das reportagens e imagens publicadas na sessão dos cadernos especiais sobre as Olimpíadas Rio 2016 em dois jornais brasileiros de circulação nacional. Justifica-se a escolha desses jornais por estarem entre os cinco jornais de circulação nacional mais lidos66. Associação Nacional de Jornais. Maiores jornais do Brasil. [Internet]. 2017 Jul [cited 2017 Jul 01]. Available from: Available from: http://www.anj.org.br/maiores-jornais-do-brasil/
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e por apresentarem cadernos especiais sobre os jogos olímpicos brasileiros. O jornal A foi consultado no formato impresso, e o jornal B na sua versão on-line. Não foi possível acessar o conteúdo completo do caderno especial referente aos jogos olímpicos na versão impressa do Jornal B, no entanto, isso não se caracterizou como uma limitação, pois esse conteúdo foi consultado na íntegra na versão on-line do jornal.

As reportagens e imagens selecionadas foram publicadas no período de 25 de julho a 22 de agosto de 2016, correspondente à abertura e ao encerramento das Olimpíadas Rio 2016. Inicialmente, foi realizada uma coleta de dados-piloto com vistas à discussão e à elaboração de um instrumento estruturado para a captação e a sistematização dos dados. Esse instrumento identificava cada reportagem com o número índice, o título, o número de linhas, a presença ou ausência de imagem, a data da publicação, o sexo do autor, os discursos contidos nas reportagens e a correspondência com o referencial teórico do estudo.

A coleta dos dados do jornal A foi realizada no mês de dezembro de 2016, e a do jornal B em janeiro de 2017. Três revisores independentes efetuaram a leitura dos títulos das reportagens, das manchetes, dos leads e das imagens publicadas nos cadernos especiais Olimpíadas Rio 2016.

Foram selecionadas publicações cujas personagens centrais eram mulheres atletas. Inicialmente, foram escolhidas 46 reportagens no jornal A e 40 reportagens no jornal B, que foram lidas integralmente. Dessas, foram excluídas as publicações de caráter eminentemente informativo, como as que expressavam somente os resultados das partidas e a tabela dos próximos jogos das atletas. Considerando os critérios estabelecidos, obteve-se um total de 26 reportagens do jornal A e 25 do jornal B, totalizando 51 reportagens.

Em relação às imagens analisadas, a partir das reportagens selecionadas foram extraídas 37 fotografias do Jornal A e 50 fotografias do Jornal B, totalizando 87 imagens. Foram excluídas as imagens que não retratavam as atletas, apenas seus familiares ou a equipe técnica. Nas imagens foram analisadas as modalidades olímpicas, o cenário da fotografia e os sentimentos expressos pelas atletas a partir das vitórias ou derrotas.

Os discursos e as imagens das reportagens selecionadas foram submetidos à análise de conteúdo temática, constituída pelas etapas de pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados, interpretação e inferência,77. Bardin L. Análise de conteúdo. São Paulo(BR): Edições 70;2011. com o apoio do software WebQDA.88. Freitas F, Souza FN, Costa AP, Mendes S. The User Manual of Qualitative Data Analysis software: the perceptions of webQDA users. RISTI [Internet]. 2016Sept [cited 2018 Jan 25];19:107-17. Available from: Available from: https://dx.doi.org/10.17013/risti.19.107-117
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A análise para a compreensão do objeto foi realizada a partir das categorias analíticas gênero99. Scott JW. Gender: a useful category of historical analysis. Educ Real. [Internet]. 1995 Jul-Dec [cited 2017 Oct 10];20(2):71-99. Available from: Available from: http://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/71721/40667
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e violência de gênero.1010. Guedes RN, Fonseca RMGS. Autonomy as a structural need to face gender violence. Rev Esc Enferm USP. [Internet]. 2011[cited 2017 Oct 14];46(2):1731-35. Available from:Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45nspe2/en_16.pdf
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Adotou-se o termo reportagem para identificar todos os textos publicados nos dois jornais. Os trechos e as imagens reproduzidos neste manuscrito foram identificados com as letras A e B, representando o jornal do qual foram destacados, seguidas de algarismos arábicos para indicar sua sequência. A pesquisa não exigiu apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa, uma vez que foram utilizados textos e imagens de dois jornais brasileiros de maior circulação, disponibilizados de modo público e com livre acesso à informação.

RESULTADOS

Caracterização das reportagens

Os resultados desta pesquisa revelaram que as reportagens do Jornal A tiveram entre 32 e 171 linhas, enquanto as do jornal B apresentaram entre 14 e 81 linhas. Quanto ao sexo dos autores, no Jornal A, 19 reportagens foram redigidas por homens, cinco por mulheres e duas conjuntamente por homem e mulher. O mesmo padrão repetiu-se no Jornal B, sendo 16 reportagens escritas por homens, duas por mulheres, quatro conjuntamente por homem e mulher e três não tiveram a autoria divulgada.

Em relação às imagens, as modalidades olímpicas com maior número de referências foram: futebol (12), judô (11), atletismo e ginástica (10), natação (8), voleibol de areia (6), voleibol de quadra e basquete (5). Sobre o contexto no qual as atletas foram fotografadas, destacaram-se os espaços da competição (52), do pódio (11) e de treinamento (10).

A análise de conteúdo dos textos e das imagens resultou na emergência de quatro categorias empíricas, a saber: a representatividade das mulheres nos jogos olímpicos; as mulheres na plataforma dos campeões; o reconhecimento da mulher a partir da superação do desempenho masculino; e a violência contra a mulher ganhando espaço na pauta esportiva.

A representatividade das mulheres nos jogos olímpicos

As reportagens analisadas destacaram, de modo geral, a participação de mulheres atletas e dos seus feitos nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Dentre estes, pôde-se destacar o pioneirismo na conquista de medalhas, nos recordes alcançados e na inserção de mulheres em esportes considerados masculinos: Os Jogos do Rio vêm se destacando pela abundância de heroínas [...] (B11). Ela será a segunda mulher na história da participação brasileira a conduzir a bandeira (A7). A judoca conquistou a medalha de bronze na categoria meio-pesado e se tornou a primeira mulher a obter dois pódios em Olimpíadas pelo judô do Brasil (B7).

Nas imagens selecionadas foi possível observar ênfase na conquista de medalhas, na medida em que 11 fotografias foram registradas no pódio. Observou-se que as próprias atletas ressaltaram suas vitórias ao mostrar as medalhas no momento do registro fotográfico, geralmente apoiadas em uma das mãos e afastadas do corpo (Figura 1).

Figura 1
Atleta segurando medalha, extraído da reportagem B2.

As mulheres na plataforma dos campeões

Nesta categoria, as reportagens selecionadas apresentaram as atletas a partir da expressão de sentimentos e da reprodução de padrões de feminilidade histórica e socialmente construídos, manifestados por características ligadas à emotividade e à sensibilidade das mulheres.

Nas fotografias realizadas no momento das competições, percebe-se tensão e concentração das atletas na execução dos movimentos durante o jogo (Figura 2). Foram identificadas 15 referências no Jornal A e 19 referências no Jornal B.

Figura 2
Atletas disputando a posse da bola, extraído da reportagem B46.

No momento após as competições, as fotografias revelaram sinais de alegria associados à vitória. Nessas imagens, as atletas foram fotografadas sorridentes (Figura 3). No Jornal A foram selecionadas 14 referências, e no Jornal B foram 20 referências.

Figura 3
Atletas comemorando a vitória, extraído da reportagem A8.

Na análise dos textos das reportagens também sobressaíram trechos que descrevem a figura da atleta associada ao choro, tanto nos momentos de vitória como de derrota. Esse aspecto reforça o estereótipo da mulher como sensível e emotiva: Conquistou a medalha de ouro e chorou compulsivamente após a vitória (A11). O resultado final de quinto lugar a fez deixar o tatame aos prantos (A14).

O sentimento expresso pelo choro foi identificado em seis imagens do Jornal A e em duas imagens do Jornal B. Essas imagens foram registradas majoritariamente nas derrotas (Figura 4). Entretanto, também foi possível observar tal sentimento no pódio.

Figura 4
Atleta chorando após derrota, extraído da reportagem A22.

Além de o choro ser ressaltado nos textos e nas imagens, constatou-se que a redação das reportagens tendia a destacar os estereótipos de feminilidade que estão relacionados à fragilidade da mulher, conforme apresentado nos trechos a seguir: [...] Ela tem um jeito delicado, quase angelical e parece mais jovem do que seus 31 anos (A17). No alto do pódio, ouvindo o hino da Hungria, ela parecia inofensiva, vulnerável (B23).

O reconhecimento da mulher a partir da superação do desempenho masculino

As reportagens reiteradamente compararam os resultados obtidos pelas mulheres ao desempenho de atletas do sexo masculino, independentemente de ser na mesma modalidade olímpica ou não. Dessa forma, a atleta era reconhecida mediante a superação de um desempenho ou por resultados similares conquistados por atletas homens: A torcida retribuiu a atuação dela com um sonoro "ah, é melhor que Neymar" (A10). A ginasta descarta comparações com os maiores nomes do esporte na atualidade. "Não sou a próxima Bolt, a próxima Phelps. Sou a primeira Simone Biles" (A18).

Nas imagens não se identificou a comparação direta entre homens e mulheres atletas. Todavia, duas fotografias destacaram-se pelo sentido atribuído a essa categoria. Dois torcedores vestiam a camisa do time de futebol masculino, na qual o nome do atleta principal encontrava-se riscado e logo abaixo estava escrito o nome da atleta com maior destaque na modalidade feminina (Figura 5).

Figura 5
Torcedor vestindo camiseta da seleção brasileira de futebol, extraído da reportagem B29.

A superação das mulheres em relação aos homens também pôde ser percebida no treinamento das atletas. Destacou-se de maneira positiva o preparo físico que lhes garantia aparência e desempenho equivalente ao masculino, conforme trecho a seguir: A nova fase a fez brotar mais forte, quase masculinizada, porém letal (B15).

A violência contra a mulher ganhando espaço na pauta esportiva

A violência contra a mulher foi destacada de duas maneiras. A primeira, nas reportagens sobre as situações de violência vivenciadas pelas atletas: "Não é possível alguém desejar que você seja estuprada ou que morra. Não precisa gostar de mim, mas é necessário ter respeito", desabafou a atleta (A12). A húngara é treinada pelo marido que chama a atenção pelo jeito como reage nas provas dela, tido como severo, já a repreendeu veementemente em público (B6).

A segunda, nas reportagens que desqualificavam as mulheres, fosse pelo físico, fosse pela incapacidade de serem elas mesmas as responsáveis pela sua vitória: As duas goleiras de quase 100 kg "tapam" o gol com o tamanho avantajado (A20). A vitória da húngara virou notícia quando um comentarista do canal americano NBC se referiu ao seu marido como "o homem responsável" pela conquista (B11).

Nesta categoria não foi possível identificar imagens que representassem formas de violência contra a mulher.

DISCUSSÃO

A cobertura midiática das atletas olímpicas é um dos reflexos do aumento da participação feminina na competição. Esse aspecto pode ser identificado por meio das reportagens relacionadas ao evento, nas quais as conquistas femininas eram positivamente destacadas.

Constatou-se o protagonismo das atletas nas Olimpíadas Rio 2016, principalmente no que se refere à participação e à conquista de medalhas inéditas em diferentes modalidades esportivas, como no judô, na natação e no atletismo. Todavia, a maior visibilidade das atletas na mídia durante os jogos olímpicos se deve ao fato de ser um evento esportivo de significativa repercussão mundial. Assim, tanto os resultados positivos quanto os negativos são revelados, independentemente do sexo dos competidores.1111. Delorme N, Testard N. Sex equity in French newspaper photographs: a content analysis of 2012 Olympic Games by L’Equipe. Eur J Sport Sci. [Internet]. 2015Aug [cited 2017 Nov 21];15(8):757-63. Available from: Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26255825
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-1212. Bruce T. Assessing the sociology of sport: on media and representations of sportswomen. ISSA [Internet]. 2015[cited 2018 Jun 29];50(4-5):380-4. Available from: Available from: http://newspapers.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/1012690214539483
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A mídia impressa brasileira pesquisada destacou, na maioria das reportagens, as conquistas positivas das atletas. Esse resultado corrobora o de outro estudo, no qual 66,35% das reportagens publicadas em jornais esportivos estiveram associadas às vitórias e 11,5% às derrotas das mulheres.1313. Andújar CSB. Las mujeres en la prensa deportiva: dos perfiles. Cuad psicol deporte. [Internet]. 2014 [cited 2017 Oct 15];14(1):91-102. Available from: Available from: http://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1578-84232014000100011&lng=es&nrm=iso&tlng=es
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A ênfase na vitória também foi identificada nas imagens, uma vez que o número de fotografias das atletas demonstrando alegria foram superiores ao de expressões de tristeza.

Além de representar os resultados dos jogos olímpicos, os dados mostraram que parte dos discursos das reportagens analisadas reproduziu padrões sexistas histórica e socialmente construídos. Esses padrões reforçam as desigualdades de gênero ao retratarem as atletas por meio de características estereotipadas correspondentes ao sexo feminino, tais como sensibilidade, fragilidade e delicadeza. Sobre esse assunto, pesquisadores pressupõem uma tendência desgenerificada da descrição das atletas nos textos, nas imagens e nos comentários de cunho jornalístico, na medida em que as mulheres frequentemente são apresentadas como objetos sexuais e não como atletas competitivas.1414. Romero E, Pereira EGB, Miragaya AMF, Sant’Anna KBS. Photos and captions in the sports media: the case off emale athletes. Salusvita [Internet]. 2014Nov [cited 2017 Dec 16];33(3):285-308. Available from: Available from: https://www.researchgate.net/publication/293803560_Photos_and_captions_in_the_sports_media_the_case_of_female_athletes
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Estudo realizado sobre pesquisas internacionais produzidas nas últimas três décadas acerca da cobertura midiática de mulheres atletas verificou menor presença e maior infantilização dessas mulheres nas manchetes e reportagens. A mídia constantemente ressaltou aspectos relacionados ao padrão familiar e à sexualização das imagens das atletas em detrimento das conquistas esportivas.1515. Bruce T. New rules for new times: sportswomen and media representation in the third wave. Sex Roles [Internet]. 2016[cited 2018 Jun 28];74(7):361-76. Available from: Available from: https://link.springer.com/article/10.1007/s11199-015-0497-6
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Outro estudo também registrou escassez de cobertura esportiva de mulheres atletas em notícias televisionadas, nas quais os esportes femininos apresentaram menor tempo de transmissão e reduzidos valores de produção de alta qualidade. Os fatos geralmente foram transmitidos de maneira monótona e sem a mesma inspiração expressa nos esportes masculinos.1616. Musto M, Cooky C, Messner MA. “From Fizzle to Sizzle!” Televised sports news and the production of gender-bland sexism. Gender&Society [Internet]. 2017[cited 2018 Jun 29];31(5):573-96. Available from: Available from: http://newspapers.sagepub.com/doi/10.1177/0891243217726056
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A diferença com que são retratados atletas homens e mulheres pela mídia esportiva revela a desigualdade de gênero nesse meio, onde as atletas são representadas primordialmente como mulheres, e não por seu desempenho no esporte em que praticam. É como se houvesse um antagonismo entre ser atleta e ser mulher, como se os atributos designados ao feminino fossem capazes de anular aqueles destinados a um esportista, enfim, uma incompatibilidade de coexistência entre ambos os atributos.33. Trolan EJ. The impact of the media on gender inequality within sport. Procedia Soc Behav Sci. [Internet]. 2013Aug [cited 2018 Feb 15];91:215-27. Available from: Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1877042813025512
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O presente estudo identificou que o retrato elaborado pela mídia para cada sexo se expressa de forma desgenerificada, influenciando o modo como as mulheres são vistas nos esportes. Nas reportagens sobre as Olimpíadas Rio 2016, foi possível notar a reprodução das representações femininas relacionadas à sensualidade, beleza e graciosidade das atletas. Portanto, verifica-se a capacidade que a mídia tem de construir e renovar a imagem estereotipada de um ideal de feminilidade.1414. Romero E, Pereira EGB, Miragaya AMF, Sant’Anna KBS. Photos and captions in the sports media: the case off emale athletes. Salusvita [Internet]. 2014Nov [cited 2017 Dec 16];33(3):285-308. Available from: Available from: https://www.researchgate.net/publication/293803560_Photos_and_captions_in_the_sports_media_the_case_of_female_athletes
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A reprodução de estereótipos de gênero nos esportes também foi verificada em um estudo espanhol realizado com 98 crianças em idade escolar, no qual se observou que os meninos optavam preferencialmente por atividades físicas competitivas, e as meninas por jogos que envolviam a interação social. Além disso, constatou-se que os meninos e as meninas não participavam das mesmas atividades, entretanto, as meninas que desejavam fazer parte dos jogos dos meninos tinham suas habilidades testadas para serem aceitas.1717. Andrés MM, Gutiérrez BR, Martín RB, Guijarro PMJ, Vizcaíno MV. “Football is a boys´game”: children’s perception about barriers for physical activity during recess time. Int J Qual Stud Health Well-being. [Internet]. 2017 [cited 2018 Jan 02];12(1):1379338. Available from: Available from: https://dx.doi.org/10.1080/17482631.2017.1379338
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Um número expressivo de reportagens destacou o choro manifestado pelas atletas, tanto em situações de derrotas, devido à insatisfação pelo resultado, como nas de vitórias, pela emoção gerada pela conquista. A importância atribuída ao choro revela mais uma vez a necessidade de apresentar a imagem feminina vinculada à vulnerabilidade, mesmo nas situações em que as atletas foram recordistas ou medalhistas olímpicas. Esse fato, além de reforçar a concepção de que as mulheres são naturalmente emotivas, apresenta como contradição a força e a fragilidade de uma mesma atleta que alcançou o auge de sua carreira.

Outro aspecto que influencia o retrato das mulheres nas reportagens é a concepção de que a maioria das modalidades esportivas é percebida como tipicamente masculina, cabendo às mulheres praticarem esportes mais próximos da arte e da estética. Explicita-se, assim, o entendimento de esportes apropriados para homens e mulheres a partir dos estereótipos de gênero.1515. Bruce T. New rules for new times: sportswomen and media representation in the third wave. Sex Roles [Internet]. 2016[cited 2018 Jun 28];74(7):361-76. Available from: Available from: https://link.springer.com/article/10.1007/s11199-015-0497-6
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,1818. Plaza M, Boiché J, Brunel L, Ruchaud F. Sport=Male… But note all sports: investigating the gender stereotypes of sport activities at the explicit and implicit levels. Sex Roles [Internet]. 2017. [cited 2018 Jun 29];76:202-17. Available from: Available from: https://link.springer.com/article/10.1007/s11199-016-0650-x
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Estudo realizado no Reino Unido analisou a cobertura televisiva dos eventos nos quais havia participação de mulheres e identificou que esses eram majoritariamente compostos de esportes considerados femininos, como a ginástica.1 Todavia, observa-se que a mídia brasileira analisada nesta pesquisa destacou o desempenho das atletas praticantes de esportes percebidos como masculinos, por exemplo, o judô e o futebol. É possível afirmar que essa questão pode estar relacionada à cultura futebolística característica dos brasileiros.

Porém, ao analisar sob a perspectiva de gênero, percebe-se que, mesmo quando recebem cobertura de destaque, as atletas de esportes tidos como masculinos são frequentemente comparadas aos homens e descritas a partir de estereótipos relacionados à masculinidade.1515. Bruce T. New rules for new times: sportswomen and media representation in the third wave. Sex Roles [Internet]. 2016[cited 2018 Jun 28];74(7):361-76. Available from: Available from: https://link.springer.com/article/10.1007/s11199-015-0497-6
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Essa realidade reforça o heterossexismo presente no esporte, uma vez que as atletas, quando não se adéquam ao estereótipo de feminilidade, seja por terem biotipo corporal mais musculoso, seja por competirem em modalidades esportivas consideradas masculinas, têm a sua sexualidade questionada. Esse fato revela o pensamento de que, para uma mulher apresentar desempenho de excelência em uma modalidade esportiva praticada historicamente por homens, ela precisa apresentar atributos masculinos que lhe permitam igualar-se a eles, inclusive no que diz respeito à sexualidade.

Ratificando esse pensamento, estudo desenvolvido com 90 jogadoras alemãs de futebol feminino verificou que as atletas apresentavam nível competitivo semelhante ao dos jogadores homens, bem como expressavam estereótipos relacionados à masculinidade, manifestados pela força e disputa.1919. Parlapanis DM, Siefert S, Weierstall R. More Than the Win: The Relation between Appetitive Competition Motivation, Socialization, and Gender Role Orientation in Women’s Football. Front Psychol. [Internet]. 2017 Apr [cited 2018 Jan 03];8:547. Available from: Available from: https://dx.doi.org/10.3389/fpsyg.2017.00547
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Diante disso, constata-se que, apesar de as mulheres participarem de diferentes modalidades esportivas, os estereótipos de gênero permanecem implícitos no esporte.

Nas reportagens analisadas, embora as atletas sejam valorizadas pela sua atuação durante os jogos quando demonstram um desempenho satisfatório, têm seu resultado associado à superação de um resultado masculino. Esse aspecto foi observado principalmente no futebol, quando foi mencionado que uma das principais jogadoras da seleção feminina brasileira é melhor do que um dos astros do futebol mundial masculino.

A cobrança das atletas não está restrita aos resultados das competições, mas também à postura apresentada durante os treinos e as disputas. Destacam-se atitudes que expressam força e agressividade como elementos fundamentais para a conquista de vitórias. Estudo realizado com mulheres treinadoras de atletas verificou que, pelo fato de pertencerem ao sexo feminino, elas sentiam a necessidade de apresentar uma preparação superior à masculina, pois precisavam estar capacitadas para enfrentar e resistir a qualquer situação. Ademais, tais treinadoras referiram a garantia de liderança atrelada à imagem sensível de feminilidade e ao padrão comportamental agressivo de masculinidade.2020. Ferreira HJ, Salles JGC, Mourão L. Inserção e permanência de mulheres como treinadoras esportivas no Brasil. Rev Educ Fis/UEM. [Internet]. 2015[cited 2017 Nov 16];26(1):21-9. Available from: Available from: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/view/22755
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Desse modo, o esporte, como elemento constituinte da sociedade, pode ser compreendido como um espaço propício para produção e reprodução de padrões de masculinidade, além de ser uma instituição que apresenta a possibilidade de perpetrar de modo simbólico atitudes de caráter patriarcal.1414. Romero E, Pereira EGB, Miragaya AMF, Sant’Anna KBS. Photos and captions in the sports media: the case off emale athletes. Salusvita [Internet]. 2014Nov [cited 2017 Dec 16];33(3):285-308. Available from: Available from: https://www.researchgate.net/publication/293803560_Photos_and_captions_in_the_sports_media_the_case_of_female_athletes
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Portanto, constata-se que a cultura esportiva é capaz de reforçar as diferenças e hierarquias de gênero, nas quais os corpos femininos geralmente são subalternizados aos masculinos. Assim, reitera-se que a representação do esporte é exercida por homens e veiculada na mídia para o sexo masculino.1616. Musto M, Cooky C, Messner MA. “From Fizzle to Sizzle!” Televised sports news and the production of gender-bland sexism. Gender&Society [Internet]. 2017[cited 2018 Jun 29];31(5):573-96. Available from: Available from: http://newspapers.sagepub.com/doi/10.1177/0891243217726056
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A mídia impressa analisada nesta pesquisa, além de retratar as desigualdades de gênero implícitas nos jogos olímpicos, descreveu situações de violência contra as mulheres atletas, geralmente perpetradas pelos membros das equipes técnicas e pelos torcedores. A violência praticada pela própria mídia restringiu-se a um dos jornais, no qual atletas que não correspondiam ao padrão de beleza feminina foram insultadas. Diante disso, verifica-se a necessidade de medidas de intervenção para o enfrentamento das desigualdades de gênero na mídia esportiva.

Desconstruir a visão de atletas na perspectiva masculina e feminina apresenta-se como um desafio para os profissionais envolvidos com a mídia esportiva. É necessário superar essa visão para minimizar os discursos que reforçam a sexualização da imagem de mulheres atletas e evitar agressões para com aquelas que não se encaixam nos padrões atribuídos ao sexo.1212. Bruce T. Assessing the sociology of sport: on media and representations of sportswomen. ISSA [Internet]. 2015[cited 2018 Jun 29];50(4-5):380-4. Available from: Available from: http://newspapers.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/1012690214539483
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As limitações deste estudo referem-se à utilização de reportagens de apenas dois jornais brasileiros de circulação nacional. Considerando o pioneirismo da pesquisa e a tendência atual entre os importantes jornais de viabilizar o conteúdo simultaneamente na modalidade impressa e on-line, esta pesquisa pode ser ampliada e replicada para outros cadernos esportivos e competições.

Além disso, o estudo apresenta caráter inovador na pesquisa qualitativa, na medida em que também utilizou, além dos textos, imagens na composição do corpus de análise. As imagens permitiram contextualizar de modo ilustrativo as reportagens, uma vez que registraram a expressão das atletas e possibilitaram aprofundar a compreensão sobre o fenômeno estudado.

CONCLUSÃO

As reportagens analisadas nesta pesquisa salientam a visibilidade das mulheres e o seu protagonismo nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Embora nos cadernos esportivos selecionados as atletas tenham recebido destaque, questiona-se se esse reconhecimento também seria encontrado nas sessões esportivas fora dos períodos de grandes competições internacionais. A expectativa pelo bom desempenho do país nas olimpíadas não correspondeu à expectativa de que haveria maior número de reportagens sobre atletas mulheres, principalmente mediante o seu desempenho positivo na competição.

Mesmo quando há visibilidade ao protagonismo das atletas, identifica-se a produção e reprodução dos estereótipos de gênero. Portanto, reforça-se a necessidade da desconstrução e do enfrentamento das desigualdades entre homens e mulheres, que não se restrinja às atitudes individuais, mas à coletividade. Assim, as mudanças desejadas para o alcance da igualdade entre os sexos estarão situadas nas diferentes áreas da sociedade, como no esporte e na mídia.

No que se refere à discussão das questões de gênero, a pesquisa apresenta potencial de promover a reflexão e o reconhecimento das diferenças entre os sexos feminino e masculino e suas implicações nas relações de produção e reprodução social, principalmente no contexto esportivo.

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NOTAS

  • CONSENTIMENTO DE USO DE IMAGEM
    As imagens foram extraídas de dois jornais disponibilizados de modo público e com livre acesso à informação.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jul 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    15 Maio 2018
  • Aceito
    06 Ago 2018
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