Resumos
O estudo objetiva apresentar o grupo focal como técnica de coleta de dados em uma tese de doutorado resultante de pesquisa qualitativa. O grupo focal, como técnica de pesquisa, utiliza sessões grupais de discussão, centralizando um tópico específico a ser debatido entre os participantes. A pesquisa focalizou a temática da sexualidade na assistência de enfermagem em uma perspectiva cultural, sendo desenvolvida com dois grupos de enfermeiras: docentes e assistenciais. O grupo focal abrangeu oito encontros, cada um foi planejado separadamente. A avaliação do processo realizou-se mediante entrevista com as enfermeiras, destacando como pontos positivos a condução ao pensamento crítico e ao processo de desalienação; e a possibilidade desta técnica desvelar significados singulares e a que se relacionam, sob o ponto de vista dos sujeitos pesquisados. Destaca-se que o grupo focal facilitou a abordagem da sexualidade, desconstruindo e reconstruindo conceitos e buscando novas respostas para as inquietações que o tema conjuga.
Pesquisa qualitativa; Pesquisa metodológica em enfermagem; Sexualidade
This study aims to present the use of focus group as a technique for data collection in a doctoral dissertation resulting from qualitative research. The focus group as a research technique uses group discussion sessions focused on specific topics to be debated among its participants. The research focused on sexuality in nursing care from a cultural perspective, developed and carried out among two groups of nurses: nursing professors and nursing assistants. The focus group was composed of eight meetings, each planned separately. The evaluation process occurred through the interviews with the nurses, highlighting critical thinking and non-alienation as positive features. The possibility of this technique unveils singular meanings and to what they are related based on the subjects' points of view. The focus group technique facilitated the sexuality approach, deconstructing and reconstructing concepts as well as searching for new answers to the problems the theme raises.
Qualitative research; Nursing methodology research; Sexuality
Este estudio tuvo como objetivo presentar el uso del grupo focal como técnica de recolección de datos en una tesis de doctorado, resultado de una investigación cualitativa. El grupo focal utiliza sesiones grupales de discusión, teniendo como foco central un tópico específico a ser debatido por los participantes. La investigación focalizó la temática de la sexualidad en la asistencia de enfermería, bajo una perspectiva cultural, siendo desarrollada con dos grupos de enfermeras: docentes y asistenciales. Comprendió ocho encuentros, y cada uno fue planeado por separado. La evaluación del proceso se realizó por medio de entrevistas con las enfermeras, destacando como puntos positivos la conducción hacia el pensamiento crítico y al proceso de desalineación; y la posibilidad de que esta técnica revele significados singulares y a que ellos se relacionen desde el punto de vista de los sujetos investigados. Esa técnica facilitó el abordaje de la sexualidad, desconstruyendo y reconstruyendo conceptos y buscando respuestas para las inquietudes del tema.
Investigación cualitativa; Investigación metodológica en enfermería; Sexualidad
RELATO DE EXPERIÊNCIA
O uso do grupo focal em pesquisa qualitativa
The use of the focus group in qualitative researching
El uso del grupo focal en la investigación cualitativa
Lúcia Beatriz ResselI; Carmem Lúcia Colomé BeckI; Dulce Maria Rosa GualdaII; Izabel Cristina HoffmannIII; Rosângela Marion da SilvaIII; Graciela Dutra SehnemIV
IDoutora em Enfermagem. Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Rio Grande do Sul, Brasil
IIDoutora em Enfermagem. Professor Associado do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. São Paulo, Brasil
IIIMestranda em Enfermagem do Programa de Pós Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da UFSM. Rio Grande do Sul, Brasil
IVMestranda em Enfermagem do PPGEnf da UFSM, Professor Substituto do Departamento de Enfermagem da UFSM. Rio Grande do Sul, Brasil
Endereço Endereço: Lúcia Beatriz Ressel Rua Coronel Niederauer, 621, ap. 1503 97015-121- Centro, Santa Maria, RS, Brasil E-mail: lbressel208@yahoo.com.br
RESUMO
O estudo objetiva apresentar o grupo focal como técnica de coleta de dados em uma tese de doutorado resultante de pesquisa qualitativa. O grupo focal, como técnica de pesquisa, utiliza sessões grupais de discussão, centralizando um tópico específico a ser debatido entre os participantes. A pesquisa focalizou a temática da sexualidade na assistência de enfermagem em uma perspectiva cultural, sendo desenvolvida com dois grupos de enfermeiras: docentes e assistenciais. O grupo focal abrangeu oito encontros, cada um foi planejado separadamente. A avaliação do processo realizou-se mediante entrevista com as enfermeiras, destacando como pontos positivos a condução ao pensamento crítico e ao processo de desalienação; e a possibilidade desta técnica desvelar significados singulares e a que se relacionam, sob o ponto de vista dos sujeitos pesquisados. Destaca-se que o grupo focal facilitou a abordagem da sexualidade, desconstruindo e reconstruindo conceitos e buscando novas respostas para as inquietações que o tema conjuga.
Palavras-chave: Pesquisa qualitativa. Pesquisa metodológica em enfermagem. Sexualidade.
ABSTRACT
This study aims to present the use of focus group as a technique for data collection in a doctoral dissertation resulting from qualitative research. The focus group as a research technique uses group discussion sessions focused on specific topics to be debated among its participants. The research focused on sexuality in nursing care from a cultural perspective, developed and carried out among two groups of nurses: nursing professors and nursing assistants. The focus group was composed of eight meetings, each planned separately. The evaluation process occurred through the interviews with the nurses, highlighting critical thinking and non-alienation as positive features. The possibility of this technique unveils singular meanings and to what they are related based on the subjects' points of view. The focus group technique facilitated the sexuality approach, deconstructing and reconstructing concepts as well as searching for new answers to the problems the theme raises.
Keywords: Qualitative research. Nursing methodology research. Sexuality.
RESUMEN
Este estudio tuvo como objetivo presentar el uso del grupo focal como técnica de recolección de datos en una tesis de doctorado, resultado de una investigación cualitativa. El grupo focal utiliza sesiones grupales de discusión, teniendo como foco central un tópico específico a ser debatido por los participantes. La investigación focalizó la temática de la sexualidad en la asistencia de enfermería, bajo una perspectiva cultural, siendo desarrollada con dos grupos de enfermeras: docentes y asistenciales. Comprendió ocho encuentros, y cada uno fue planeado por separado. La evaluación del proceso se realizó por medio de entrevistas con las enfermeras, destacando como puntos positivos la conducción hacia el pensamiento crítico y al proceso de desalineación; y la posibilidad de que esta técnica revele significados singulares y a que ellos se relacionen desde el punto de vista de los sujetos investigados. Esa técnica facilitó el abordaje de la sexualidad, desconstruyendo y reconstruyendo conceptos y buscando respuestas para las inquietudes del tema.
Palabras clave: Investigación cualitativa. Investigación metodológica en enfermería. Sexualidad.
INTRODUÇÃO
Este artigo resultou da tese de doutorado Vivenciando a sexualidade na assistência de enfermagem: um estudo na perspectiva cultural,1 realizada na Universidade de São Paulo (USP). Este estudo, de cunho qualitativo, teve como objetivo compreender de que forma a sexualidade, condicionada culturalmente, é vivenciada na assistência de enfermagem, pelas enfermeiras.
Como o estudo envolveu a perspectiva cultura, e teve orientação etnográfica, os dados revelados deveriam possibilitar que emergissem diferentes pontos de vista sobre o tema, a fim de apreender as singularidades das visões de mundo das enfermeiras participantes. Ao mesmo tempo, esperava-se que favorecessem compreender, em profundidade, o comportamento do grupo restrito, justificando-se a utilização da técnica do Grupo Focal (GF).2-3
Os GFs são grupos de discussão que dialogam sobre um tema em particular, ao receberem estímulos apropriados para o debate. Essa técnica distingue-se por suas características próprias, principalmente pelo processo de interação grupal, que é uma resultante da procura de dados.4
Em uma vivência de aproximação, permite que o processo de interação grupal se desenvolva, favorecendo trocas, descobertas e participações comprometidas. Também proporciona descontração para os participantes responderem as questões em grupo, em vez de individualmente.2-3
Essa técnica facilita a formação de idéias novas e originais. Gera possibilidades contextualizadas pelo próprio grupo de estudo.2 Oportuniza a interpretação de crenças, valores, conceitos, conflitos, confrontos e pontos de vista. E ainda possibilita entender o estreitamento em relação ao tema, no cotidiano.1
Cabe enfatizar que o GF permite ao pesquisador não só examinar as diferentes análises das pessoas em relação a um tema. Ele também proporciona explorar como os fatos são articulados, censurados, confrontados e alterados por meio da interação grupal e, ainda, como isto se relaciona à comunicação de pares e às normas grupais.4
O GF também é adequado para ser consultado em estágios exploratórios de uma pesquisa, quando se quer ampliar a compreensão e a avaliação a respeito de um projeto, programa ou serviço. E pode ser associado a outras técnicas de coleta de dados, concomitantemente.5
Esta técnica tem sido utilizada freqüentemente nas áreas da Antropologia, Ciências Sociais, Mercadologia e Educação em Saúde. Ela é apropriada nas pesquisas qualitativas, que objetivam explorar um foco, ou seja, um ponto em especial.
A técnica de pesquisa com o GF foi descrita e publicada no ano de 1926, em um trabalho de Bogartus, nas Ciências Sociais, como entrevistas grupais. Depois, em 1946, durante a 2ª Guerra Mundial, foi usada por Merton & Kendall, para investigar o potencial de persuasão da propaganda de guerra para as tropas. E, em 1952, Thompson & Demerath estudaram sobre fatores que afetavam a produtividade de trabalhos em grupo. Na área de marketing, a mídia utiliza largamente a mesma técnica, valorizando-a pelas condições de baixo custo para sua operacionalização e pela rapidez em obter dados confiáveis e válidos.5
O GF, apesar de ter sido criado e utilizado pelas Ciências Sociais, ficou à margem dessa ciência por vários anos. Nesse período havia uma preferência, em pesquisas qualitativas da área, pela observação participante e pela entrevista semi-estruturada. Contudo, na academia, essa técnica atraiu a atenção de pesquisadores da Antropologia Social, que a utilizam em estudos culturais e pesquisas em saúde. Mais recentemente, a partir do final da década de 80, vem sendo retomada por seus próprios precursores, que triplicaram o número de trabalhos com aplicação do GF.4
No Brasil, na faculdade de Saúde Pública da USP, na área de Educação em Saúde, a partir de 1989, o GF vem sendo aplicado para sistematizar a coleta de dados, em estudos diagnósticos de problemas educativos em saúde, e em estudos avaliativos de programas de saúde.5 Principalmente nessa área, ele vem sendo requisitado e amplamente utilizado como instrumento de avaliação e diagnóstico educativo.
É fundamental salientar que a técnica também está presente na Enfermagem, ainda que de forma tímida. Ela surge principalmente em estudos que apontam esta técnica como estratégia metodológica, em pesquisas qualitativas na Enfermagem3,6-8 e nos trabalhos que avaliam aspectos relacionados à educação, promoção, programas e projetos de saúde.5,9-10
Neste sentido, o presente artigo tem como objetivo apresentar a técnica do GF como ferramenta a ser utilizada em pesquisa qualitativa, evidenciando a avaliação realizada após sua aplicação junto às participantes da tese1 referida ao início desta introdução.
A METODOLOGIA DE CONSTRUÇÃO DO GRUPO FOCAL
O estudo1 que deu origem a este artigo objetivou compreender de que forma o tema da sexualidade, condicionado culturalmente, é vivenciado na prática da assistência de enfermagem pelas enfermeiras. Para tanto, adotou-se como opção conceitual a Antropologia Cultural e como método a Etnografia. Optou-se pela abordagem de pesquisa qualitativa, do tipo descritivo-exploratória, e os dados foram obtidos por intermédio das técnicas do GF, prioritariamente, e de entrevistas, complementarmente.
Para a seleção e organização do GF, foi imprescindível ter claro os critérios de inclusão dos sujeitos na pesquisa. Foram compostos dois grupos distintos de colaboradoras, um com sete enfermeiras docentes do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e outro com sete enfermeiras do Hospital Universitário de Santa Maria-RS.
A formação do GF é intencional e pretende-se que haja, pelo menos, um ponto de semelhança entre os participantes.2-3 Optou-se, neste estudo, para composição dos grupos, pelo critério de compartilhamento do mesmo local de trabalho. Isso favoreceu os relatos de experiências, necessidades, valores e crenças, as quais interagem na temática em foco. O número de participantes em cada grupo seguiu orientação de estudos acerca do grupo focal, que referem de seis a 15 pessoas como um módulo recomendável.2-3,11 A dimensão dos grupos depende dos objetivos de cada estudo. Quando se deseja gerar maior número de idéias, a melhor opção é organizar grupos maiores. E, quando se espera aprofundar a temática na discussão, deve-se optar por grupos menores.2-3
Foram realizadas oito sessões de GF, divididas em quatro encontros por grupo. Cada sessão durou uma hora e trinta minutos. As reuniões ocorreram semanalmente, em dia e hora combinados com as colaboradoras. Esse cuidado é uma recomendação para o bom desenvolvimento dos grupos focais.2-3,11 Antes de iniciar os GFs, realizaram-se entrevistas individuais, com o objetivo de obter informações referentes à identificação pessoal e ao interesse e perspectiva de cada colaboradora em participar do trabalho. Na véspera do encontro de cada GF, confirmava-se, via telefone, o horário e o local do encontro, no sentido de estimular a presença de cada enfermeira.
As reuniões contaram com uma preparação especial, de acordo com o objetivo e a metodologia que seria utilizada. Foram necessários alguns cuidados que permearam todas as sessões, como agendamento prévio do local, preparo da sala (iluminação, ventilação, cadeiras estofadas, espaço adequado para a realização das técnicas), manutenção do gravador (pilhas e fitas cassete), seleção e preparo antecipado do material específico para cada encontro e organização do ambiente. Esses preparativos são previstos nos estudos acerca dessa técnica.2-3
O ambiente das sessões grupais deve ser agradável, confortável e acolhedor. Por isso, optou-se pelo uso de incensos, que perfumaram levemente a sala, músicas relaxantes, com sons de água, de natureza, e um lanche para ser degustado ao longo do encontro.3
Tendo em vista que, como enfermeiras, nosso objeto de trabalho é o cuidado de pessoas, a sensibilidade deve permear nosso fazer. Esse entendimento foi estendido à pesquisa, no conjunto de etapas que envolveram a realização do grupo focal.
A formação em círculo permitiu a interação face a face, o bom contato visual e, ainda, a manutenção de distâncias iguais entre todas as participantes, estabelecendo o mesmo campo de visão para todas. A observadora e a moderadora se sentavam em lugares que possibilitavam a comunicação não-verbal, por meio do olhar. Para não centralizarem a atenção das colaboradoras, evitaram se posicionarem uma ao lado da outra.2-3
A localização da sala possibilitou desenvolver os encontros sem interferências externas. O cuidado ao prever o espaço físico para realizar o grupo mostrou-se fundamental, pois facilitou o debate, assegurou privacidade, conforto, fácil acesso e ambiente neutro.2
Embora ambos os grupos estivessem centrados no tema da sexualidade, cada encontro teve um objetivo específico, ou seja, focalizar uma perspectiva acerca da temática. Para tanto, foram utilizadas técnicas de estímulo apropriadas5 e questões norteadoras para os debates, as quais fizeram parte do guia de temas.2-3
Em alguns encontros, optou-se por empregar técnicas comumente utilizadas em oficinas didáticas, entre elas as técnicas de explosão de idéias, colagem em cartaz e de modelagem em argila. Associaram-se tais recursos buscando incentivar o desenvolvimento da temática, que se encontra velada, sendo difícil de ser expressa verbalmente.
Assim, à medida que as colaboradoras expressavam seus sentimentos e concepções por meio das técnicas, elas explicavam, argumentavam e desenvolviam a discussão naturalmente. Foi possível constatar a promoção do debate de forma criativa, alegre e sem censuras.
Ao final de cada encontro, foi elaborada uma síntese dos depoimentos e era oportunizado um último espaço às participantes, tanto para acrescentarem, esclarecerem ou mudarem alguma idéia referida na discussão, quanto para expressarem como se sentiram. Solicitava-se, também, que fizessem sugestões e críticas ao andamento das atividades, se desejassem. Encerrava-se com agradecimentos finais e confirmava-se o próximo encontro.
Ao início de cada nova sessão, era exposto um resumo dos encontros anteriores e apresentado o objetivo daquele encontro. Dava-se, então, início ao debate, a partir da técnica de estímulo escolhida.
Salienta-se aqui a construção e o uso do guia de temas, que serviu como um esquema norteador, sistematizando questões e objetivos para cada GF. Percebeu-se que a sua importância não se relacionava à quantidade de questionamentos, mas à qualidade da elaboração e da aplicação, de acordo com os objetivos de cada encontro.2-3 Nesse sentido, foi possível, por meio da observação atenta, manter a discussão em foco, aprofundando, esclarecendo e solicitando exemplos às participantes.
Algumas das questões constantes do guia são citadas a seguir: Qual a primeira idéia que lhe vem à mente, quando falamos em sexualidade? Como você expressa sua sexualidade no dia-a-dia? Como transparecem as questões de sexualidade na prática de enfermagem, e como são conduzidas essas questões? Como eram tratadas as questões relativas à sexualidade, em sua infância e adolescência? Como é a imagem de enfermeira para você? Como você se vê e se sente, como mulher, em relação a este tema? Como você se vê e se sente, como enfermeira, em relação a este tema?
Algumas frases de apoio, que consistiram em uma série de afirmações oriundas da leitura na área da Antropologia, sobre o tema em foco, também foram utilizadas.4 Elas eram apresentadas sob a forma de grandes cartões, para motivar e sintetizar o debate.
Em todos os momentos dos GFs, procurava-se manter a atenção máxima nos depoimentos das colaboradoras. Percebiam-se as expressões não-verbais comunicadas ao longo das discussões, porém, como nem sempre era possível apreendê-las, contou-se com a ajuda da observadora. Além de proporcionar o apoio logístico na operacionalização de cada encontro, ela se mantinha atenta aos sinais e os registrava no diário de campo do pesquisador.2-3
Ao final de cada sessão, a moderadora e a observadora se reuniam para trocar idéias e avaliar o encontro recente, gerando orientações para a próxima sessão.3
A moderadora buscou, ao longo dos encontros grupais, facilitar as discussões, encorajando os depoimentos e assegurando espaço para que todas as participantes se expressassem. Realizou sínteses, retomando o foco da discussão e confirmando informações. Procurou falar pouco e ouvir mais, fazendo intervenções, quando necessário, para manter o debate focalizado, em consonância com as orientações de estudos sobre o grupo focal.2-3,11
Para preservar a identidade e anonimato das colaboradoras do estudo, utilizaram-se letras maiúsculas para identificá-las, na transcrição de seus depoimentos.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde, da UFSM, sob o protocolo Nº 077/01, de 2 de julho de 2001. Cabe destacar que, além de cumprir os procedimentos éticos previstos pela Resolução Nº 196/96,12 sobre a autorização para gravar as falas das participantes e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foi também firmado um termo de compromisso entre as colaboradoras, chamado de setting, ou contrato grupal, com a finalidade de assegurar o sigilo ético e facilitar o processo interacional.3
Procedeu-se à análise dos dados de acordo com recomendações para pesquisas que utilizam o GF, e a abordagem qualitativa.4,13-14
Realizou-se, inicialmente, uma leitura exaustiva dos depoimentos, seguida da indexação dos dados, que consiste na ordenação e categorização dos dados, a partir do destaque de temas ou padrões recorrentes. Essa indexação é indutiva, e as categorias surgem da absorção hermenêutica do analista do texto.13-14
As categorias de análise foram agrupadas por afinidade e compuseram os seguintes temas descritores: Construções Singulares (que apresenta como se deu a construção cultural da sexualidade na socialização primária das participantes); Tornando-se Enfermeira (que aponta como ocorreu a construção cultural da sexualidade no curso de graduação em enfermagem); A Vivência da Sexualidade na Assistência de Enfermagem (que mostra como as participantes vinham vivenciando as questões relativas à sexualidade, no dia-a-dia de sua prática); e Desconstruções e Reconstruções (que revela a avaliação da vivência no GF pelas colaboradoras do estudo).
Após a categorização dos dados, os temas descritores foram submetidos a uma análise específica, com a releitura de cada categoria e construção de subtemas. A imersão nos subtemas possibilitou o aprofundamento e a compreensão analítica. Ao final, foram realizadas a interpretação dos dados e a aproximação com os autores que subsidiaram o referencial teórico do estudo.
AVALIANDO O PROCESSO DOS GRUPOS FOCAIS
Ao final das sessões grupais, pretendendo avaliar o que representou para as colaboradoras deste estudo a participação nas discussões empreendidas nesses grupos, foi questionado, individualmente: O que este exercício de reflexão no GF, sobre sexualidade, trouxe para você? Usou-se, então, a técnica de perguntas múltiplas como estímulo, a partir da lembrança das informações veiculadas nas sessões grupais. Tais perguntas eram diretivas, longas e narrativas, com o objetivo de esclarecer e complementar as informações obtidas, e avaliar a técnica utilizada no processo de pesquisa. Os dados oriundos desta etapa são apresentados a seguir, e destacam a aplicação da técnica do GF em pesquisa qualitativa.
Dentre as diferentes análises a respeito da experiência nesse exercício, selecionamos, inicialmente, os relatos que evidenciaram o autoconhecimento e a possibilidade de trocas que o GF propiciou.
Esse foi um momento singular, em que pude falar de coisas minhas, ouvir as outras colegas [...], pudemos estar juntas e, como enfermeira quase nunca senta, esse foi um momento preparado para tal, e que nos propiciou ver coisas e ouvi-las por nós mesmas (K).
[...] Ganhei na experiência, na motivação para trabalhar com grupos e no repensar minhas próprias questões [...] (E).
Acho que esse exercício trouxe mudanças para mim, no sentido de me dar condições, através da reflexão, de falar sobre sexualidade com mais liberdade. Me sinto mais apta a falar sobre isso com pacientes, com alunos. Acho que isso é um processo, sinto ainda que tenho barreiras e limitações como pessoa, mas este exercício serviu para me fazer analisar sobre essas coisas (A).
Percebe-se que a técnica escolhida, o GF, foi determinante para criar um espaço de avaliação de procedimentos, emoções, significados e percepções acerca do tema em foco, no cotidiano das participantes.2-3
Assim como esse espaço discursivo oportunizou o autoconhecimento, por meio da reflexão pessoal e da revisão de conceitos, também possibilitou a percepção de ser humana, ter limitações e fragilidades. Igualmente, propiciou o entendimento de que a forma de pensar e agir em relação à sexualidade está amparada nos valores, nas regras e nas concepções que nortearam a sua construção.15
Esse exercício facultou também olhar o outro e encontrar similaridades nas singularidades de cada pessoa envolvida. Foi um espaço integrador e de compartilhamento. Certamente, despertou para um entendimento da sexualidade e descortinou um caminho que pode auxiliar na condução do tema em estudo, tanto na vida pessoal, quanto na vida profissional das participantes. Nesse sentido, apresenta-se um depoimento:
Antes dos grupos se iniciarem, eu pensava que, ao final, teria um conceito de sexualidade, como uma coisa concreta, formada. E não foi assim, mas isso foi tranqüilizador de perceber. Foi bom também, porque vi que não era uma coisa que eu colocaria "quadradinho" na minha cabeça. Na verdade, faz parte de um processo que passa por tudo na minha vida, e tem que ser enfrentado e trabalhado sempre (D).
Esse depoimento evidencia a necessidade de refletir continuamente sobre a temática. Isso pode acontecer em nível pessoal, de acordo com as possibilidades que emergirem para cada uma, culminando em uma reorientação na assistência de enfermagem empreendida por elas. Ao mesmo tempo, foi notório o interesse que a discussão grupal oportunizou, abrindo um espaço reflexivo e crítico individual.
Por outro lado, foi possível também amenizar a ansiedade com relação à temática em estudo. Por meio da técnica do grupo focal, ela foi compreendida como uma condição que todo ser humano possui, que está presente em toda e qualquer situação da vida dele, independente de seu querer. Ela é vivenciada por meio de um processo dinâmico e permanente, ao longo da vida, permitindo a expressão cultural singularmente construída, no manejo e no enfrentamento dessa questão.1
Acredita-se que o exercício de ouvir a si mesmo e de ouvir os outros, como decorreu nos GFs deste estudo, é um elemento de conscientização para a pessoa sobre as próprias concepções. A validade aparece pelo processo organizado, planejado e baseado em um contrato ético de participação, assumido por todos os elementos do grupo. Tal procedimento permitiu a expressão espontânea e a reflexão individual e grupal das idéias, assim como a desconstrução e a reconstrução de concepções.
Algumas dessas concepções foram reforçadas; outras, porém, mantiveram-se intactas, por motivos diversos, oriundos da singularidade e do respeito ao compromisso de aceitação das diversidades que fluíram nas discussões. Nesse sentido, destaca-se a importância do compromisso ético e de respeito instituído no GF: acho que outro aspecto importante foi a questão do sigilo. Naquele momento, saber que podes falar o que quiser fora dali, menos aquilo que foi trabalhado no grupo, já que foi firmado ali um contrato tão sério entre todos os componentes, foi muito legal (L).
Uma prerrogativa essencial, para o bom desenvolvimento desse tipo de grupo, é a elaboração de um termo de compromisso ético, de sigilo e respeito, firmado entre todos os participantes do grupo. No caso desta pesquisa, o termo conteve elementos de ordem organizacional e ética que conduziram as discussões e as condutas no grupo.2-3
Neste estudo, a elaboração coletiva do termo foi realizada no primeiro encontro, sendo ele aprovado e assinado por todas as pessoas envolvidas. Esse cuidado ético foi premiado com uma condução séria, sigilosa e de respeito entre as colaboradoras, nas discussões grupais. Afigurou-se como um elemento importante para assegurar confiança entre elas, fortalecida pelo sentimento de empatia, a partir da interação vivenciada nos grupos. Esse conjunto de traços positivos levou a um convívio agradável e estimulante para as colaboradoras. O efeito surgiu também na forma de cumplicidade e de desejo de aproximação, documentados nos relatos avaliativos desse exercício. A seguir, alguns desses relatos são destacados.
Foi muito bom conhecer essa técnica. Ela facilitou muito a exposição dos sentimentos, do que a gente pensa e deseja. E se formou uma cumplicidade no grupo. Não sei se outra técnica propiciaria tanta cumplicidade a um grupo de pessoas bem diferentes. Ainda hoje, eu analiso colocações que algumas colegas fizeram e sinto-me cúmplice delas (A).
Eu acho que faltam espaços para que a gente possa falar sobre coisas que fazem parte do nosso eu, que se refletem nas atividades profissionais. A gente mal se cumprimenta. As pessoas não se tocam. Acho que, quando começaste a trabalhar, isso despertou, no grupo, uma vontade de estar mais próximo uns dos outros. Foi um momento em que a gente se aproximou e não só discutiu sobre sexualidade (N).
Nesse depoimento, foi lembrado o fato de o trabalho grupal despertar o desejo de aproximação, como uma forma de acolhimento, empatia e solidariedade. Nesse sentido, é possível entender como resultado, concomitante nos grupos, a manifestação interpessoal de afeto por meio dos olhares, dos sorrisos, dos abraços, da atenção, do consolo e do conforto, espontaneamente liberados em situações emocionadas, no grupo. A emoção foi compartilhada de forma solidária entre todas as participantes e se fez marcar, positivamente, pelos sentimentos de cumplicidade e de proximidade na relação interpessoal, desenhados por cada grupo, ao longo dos encontros. Sobre isso, a colaboradora já citada alude:
Aqueles momentos pareciam livres de qualquer preconceito e medo. Mas quando saíamos daquele momento, as pessoas pareciam se revestir de proteção de novo, por isso eu entendo que deveria haver uma continuidade (N).
Esse relato expõe, com clareza, os aspectos da confiabilidade e da espontaneidade que premiaram os grupos de discussão, oportunizando que cada participante se mostrasse com suas debilidades e dificuldades. Por intermédio do sentimento de cumplicidade, elas se apoiaram em situações delicadas, nas quais as emoções e sentimentos pessoais emergiram, havendo respeito entre todas e desenvolvendo-se uma receptividade mútua, no clima da vivência grupal. Estes foram momentos percebidos como de revitalização, quando elas expressavam seus pensamentos, despidas de preconceitos, oportunizando ouvir a si próprias e ver suas colegas sob outro ângulo, diferente do profissional que as une.
Ao mesmo tempo em que os GFs possibilitaram o desvelamento de emoções e sentimentos acerca da sexualidade, eles promoveram a diminuição da ansiedade em relação a esse tema, pois produziram um espaço revitalizador para os relacionamentos. No entanto, surgiram inquietações pela conscientização de como essa temática tem sido tratada pelas enfermeiras. Isso é comentado no relato a seguir.
Essas necessidades foram visualizadas no grupo focal. Saí dos encontros muito mais incomodada, no sentido de ter fortalecido algumas coisas e ver que está mais do que na hora de trabalharmos outras (L).
Observa-se, pela avaliação, que o exercício com o GF foi um momento de despertar, pelas reflexões que suscitou. Ao mesmo tempo, foi um espaço de prazer, como refere a participante a seguir: a técnica usada foi prazerosa. A gente dava um jeito de comparecer. Suspendia, trocava, transferia outras coisas para poder estar ali naquela hora. Porque havia uma vontade enorme de estar ali (N).
Ao longo dos encontros, percebeu-se o empenho de cada colaboradora em participar, pois cada uma entrou no grupo por interesses próprios e singulares, pelo desejo de auxiliar e de apoiar este trabalho, de adquirir novos conhecimentos e de realizar trocas. No desenvolvimento de cada encontro, observou-se o clima de respeito, de acolhimento e de receptividade, e isso foi um aspecto essencial para a boa convivência no grupo.
Evidenciou-se que os grupos mantinham espontaneamente discussões produtivas, gerando um volume considerável de informação. As colaboradoras puderam sentir as qualidades de um espaço de abertura, autoconhecimento e compartilhamento das idéias. Como resultado, tal experiência as impulsionou a desenvolverem, a posteriori, atividades grupais de mútua ajuda, conforme relato.
Acredito que algumas coisas mudaram depois deste exercício e as conseqüências estão vindo, um ou dois meses depois... todas se motivaram, escolhemos até um nome para o grupo: Acolher. A gente já se organizou para os encontros. Eu acho que isso é resultado do grupo que eu participei com você, porque vontade eu tinha, mas faltava a motivação para colocar em prática (J).
É pertinente salientar que o GF é uma técnica de pesquisa que utiliza sessões grupais de discussão, centralizadas num tópico específico, que é debatido entre os participantes.2-3 Para tanto, se faz necessária uma série de requisitos que organizam os momentos grupais, conduzindo-os e os direcionando ao objetivo da pesquisa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebeu-se que a técnica escolhida para este exercício de pesquisa permitiu que se desencadeasse a construção de novas ações por parte das colaboradoras deste estudo. Por meio da reflexão sobre a sexualidade, nas sessões de grupo focal, elas criaram condições singulares para suas necessidades, desconstruindo e reconstruindo conceitos. Buscaram em si mesmas as respostas para as indagações e inquietações que o tema conjuga. E desse processo emergiu uma série de novos questionamentos sobre suas vivências pessoais e profissionais, diante da temática.
Esse exercício com o GF representou uma oportunidade de autoconhecimento, de auto-afirmação, de revisão conceitual e de reflexão crítica acerca das atividades cotidianas da enfermeira, no que tange à sexualidade. Esse resultado reforça uma das vantagens da técnica empregada para coleta de dados do estudo, que é a de conduzir ao pensamento crítico, ou seja, a um processo de desalienação.
É oportuno referenciar que a técnica de GF aplicada metodologicamente neste estudo, levou a perceber que o tema contém implícitos procedimentos com regras, normas, valores e significados culturais instituídos, além de ser permeado por elementos de natureza ética, tais como respeito, dignidade e compromisso. O conhecimento disso apontou ou reforçou inquietudes quanto à forma com que o tema tem sido tratado na área da saúde, em especial, pela enfermagem. E alertou para a urgência de uma transformação em nível pessoal, profissional, e educacional.
Cabe destacar, por fim, que a técnica do GF permitiu a revelação dos significados que expressam o ponto de vista de quem foi pesquisado. Nesse sentido, permitiu o desvelamento das singularidades presentes na complexidade cultural do contexto. Trouxe à luz semelhanças, não igualdades. E fez emergirem profundas diferenças nas experiências, nos sentimentos e nas expressões vivenciadas no fazer dos enfermeiros. Evidencia-se, assim, como uma possibilidade na construção de dados em pesquisas qualitativas e na área de enfermagem.
Recebido em: 15 de abril de 2008
Aprovação final: 14 de outubro de 2008
- 1. Ressel LB. Vivenciando a sexualidade na assistência de enfermagem: um estudo na perspectiva cultural [tese]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo. Programa Interunidades de Doutoramento em Enfermagem; 2003.
- 2. Debus M. Manual para excelencia en la investigación mediante grupos focales. Washington(USA): Academy for Educational Development; 1997.
- 3. Dall'Agnol CM, Trench MH. Grupos focais como estratégia metodológica em pesquisas na Enfermagem. Rev Gaúcha Enferm. 1999 Jan; 20(1):5-25.
- 4. Kitzinger J, Barbour RS. Introduction: the challenge and promise of focus groups. In: Kitzinger J, Barbour RS, organizadores. Developing focus group research: politics, theory and practice. London (UK): Sage; 1999. p.1-20.
- 5. Iervolino SA, Pelicioni MCF. A utilização do grupo focal como metodologia qualitativa na promoção da saúde. Rev Esc Enferm USP. 2001 Jun; 35(2):115-21.
- 6. Ressel LB, Gualda DMR, Gonzáles RMB. Grupo focal como estratégia para coletar dados de pesquisa em enfermagem. Int J Qual Methods [periodico da internet]. 2002 May [acesso em 2002 Jun 20]; 1(2): Disponível em: http://www.ualberta.ca/~iiqm/backissues/1_2Final/pdf/ressel.pdf
- 7. Machado RR, Vivenciando o processo de pesquisa com grupo focal. In: Erdtmann BK, Koerich MS, organizadores. Cuidar e pesquisar na enfermagem: relatos e experiências. Florianópolis (SC): Papa-Livro; 2004. p.180-90.
- 8. Ferreira MA, Alvim NAT, Teixeira MLO, Veloso RC. Saberes de adolescentes: estilo de vida e cuidado à saúde. Texto Contexto Enferm. 2007 Abr-Jun; 16(2):217-24.
- 9. Azambuja EP, Fernandes GFM, Kerber NPC, Silveira RS, Silva AL, Gonçalvez LHT, et al. Significados do trabalho no processo de viver de trabalhadoras de um programa de saúde da família. Texto Contexto Enferm. 2007 Jan-Mar; 16(1):71-9.
- 10. Ferreira MA, Oliveira BGRP, Porto IS, Anhorn CG, Castro BA. O significado do PROFAE segundo os alunos: contribuição para a construção de uma política pública de formação profissional em saúde. Texto Contexto Enferm. 2007 Jul-Set; 16(3):445-52.
- 11. Barbosa EF. Instrumentos de coleta de dados em pesquisas educacionais. Educativa: Instituto de Pesquisa e Inovações Educacionais. [boletim informativo da internet] 2005 [atualizado 2005 Mar; acesso em 2008 Out 10]. Disponível em: http://www.serprofessoruniversitario.pro.br
-
12Ministério da Saúde (BR), Conselho Nacional de Saúde, Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Resolução N° 196 de 10 de outubro de 1996: diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília (DF): MS; 1996.
- 13. Frankland J, Bloor M. The analytical potential of sensitive moments in focus group discussions. In: Kitzinger J, Barbour RS, organizadores. Developing focus group research: politics, theory and practice. London (UK): Sage; 1999. p.156-72.
- 14. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 10Ş ed. São Paulo (SP): Hucitec; 2007.
- 15. Geertz C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro (RJ): LTC; 1989.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
12 Jan 2009 -
Data do Fascículo
Dez 2008
Histórico
-
Aceito
14 Out 2008 -
Recebido
15 Abr 2008