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Paternidade na adolescência: a família como rede social de apoio

Paternidad en la adolescencia: la familia como una red de apoyo social

Resumos

O presente estudo é um recorte da pesquisa multicêntrica intitulada "Redes sociais de apoio à paternidade na adolescência", que buscou conhecer as redes de apoio à paternidade na adolescência. Apresenta uma abordagem qualitativa, exploratória e descritiva. Participaram do estudo 14 pais adolescentes que tiveram seus filhos em um hospital de ensino de uma universidade pública do Rio Grande do Sul, Brasil. As entrevistas semiestruturadas foram pré-agendadas e ocorreram no domicílio dos sujeitos, seis meses após o nascimento do filho, no período de junho de 2009 a junho de 2010. Os dados evidenciaram que a rede de apoio dos pais adolescentes estava alicerçada principalmente nos pais, sogras, padrastos e irmãos. As ações de apoio identificadas foram de natureza psicológica e financeira, oriundas, principalmente, das mães ou sogras. A família foi considerada a principal rede de apoio para a vivência da paternidade na adolescência.

Enfermagem; Paternidade; Adolescente; Apoio social


Este estudio es un recorte de la pesquisa multicéntrica titulada "Redes sociales de apoyo a la paternidad en la adolescencia", que buscó conocer las redes de apoyo a la paternidad en la adolescencia. Presenta un abordaje cualitativo, exploratorio y descriptivo. Participaron del estudio 14 padres adolescentes que tuvieron sus hijos en un hospital de enseñanza universitario público del Rio Grande do Sul, Brasil. Las entrevistas semiestructuradas fueron pre programadas y ocurrieron en el domicilio de los sujetos, seis meses después del nacimiento del hijo, en el periodo de junio de 2009 hasta julio de 2010. Los datos evidenciaron que la red de apoyo de los padres adolescentes recaía principalmente en los padres, suegras, padrastros y hermanos. Las acciones de apoyo identificadas fueron de naturaleza psicológica, financiera, oriundas, principalmente, de las madres y suegras. La familia fue considerada la principal red de apoyo para la vivencia de la paternidad en la adolescencia.

Enfermería; Paternidad; Adolescente; Apoyo social


This study is an excerpt of the multicenter study "Redes sociais de apoio à paternidade na adolescência" (Social support networks for fatherhood in adolescence), which aimed at learning about the social support networks available to young fathers. A qualitative, exploratory and descriptive approach is used. The participants were fourteen adolescent fathers whose children were born in a teaching hospital of a public university in the state of Rio Grande do Sul, Brazil. Semi-structured interviews were pre-scheduled and took place at the subjects' homes six months after their children were born, between June 2009 and June 2010. The data demonstrate that the support network for fathers in adolescence was comprised mainly of parents, mothers-in-law, stepparents and siblings. The identified supportive actions were financial and psychological in nature, provided mainly by mothers or mothers-in-law. The family was considered the main support network for adolescents experiencing fatherhood.

Nursing; Fatherhood; Adolescence; Support network


ARTIGO ORIGINAL

Paternidade na adolescência: a família como rede social de apoio1 Correspondência: Maria Emilia Nunes Bueno Prof. Araújo, 2149. Bl J, ap. 303 96070-030 - Centro, Pelotas, RS, Brasil E-mail: me_bueno@yahoo.com.br

Fatherhood in adolescence: the family as a social support network

Paternidad en la adolescencia: la familia como una red de apoyo social

Maria Emilia Nunes BuenoI; Sonia Maria Könzgen MeinckeII; Eda SchwartzIII; Marilu Correa SoaresIV; Ana Cândida Lopes CorrêaV

IMestre em Enfermagem. Enfermeira do Hospital Beneficência Portuguesa de Pelotas. Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: me_bueno@yahoo.com.br

IIDoutora em Enfermagem. Professora Adjunto II da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: meincke@terra.com.br

IIIDoutora em Enfermagem. Professora Adjunto da Faculdade de Enfermagem da UFPel. Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: eschwartz@terra.com.br

IVDoutora em Enfermagem em Saúde Pública. Professora Adjunto II da Faculdade de Enfermagem da UFPel. Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: enfmari@uol.com.br

VDiscente da Faculdade de Enfermagem da UFPel. Bolsista de Iniciação Científica CNPq. Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: anacandidacorrea@gmail.com

Correspondência Correspondência: Maria Emilia Nunes Bueno Prof. Araújo, 2149. Bl J, ap. 303 96070-030 - Centro, Pelotas, RS, Brasil E-mail: me_bueno@yahoo.com.br

RESUMO

O presente estudo é um recorte da pesquisa multicêntrica intitulada "Redes sociais de apoio à paternidade na adolescência", que buscou conhecer as redes de apoio à paternidade na adolescência. Apresenta uma abordagem qualitativa, exploratória e descritiva. Participaram do estudo 14 pais adolescentes que tiveram seus filhos em um hospital de ensino de uma universidade pública do Rio Grande do Sul, Brasil. As entrevistas semiestruturadas foram pré-agendadas e ocorreram no domicílio dos sujeitos, seis meses após o nascimento do filho, no período de junho de 2009 a junho de 2010. Os dados evidenciaram que a rede de apoio dos pais adolescentes estava alicerçada principalmente nos pais, sogras, padrastos e irmãos. As ações de apoio identificadas foram de natureza psicológica e financeira, oriundas, principalmente, das mães ou sogras. A família foi considerada a principal rede de apoio para a vivência da paternidade na adolescência.

Descritores: Enfermagem. Paternidade. Adolescente. Apoio social.

ABSTRACT

This study is an excerpt of the multicenter study "Redes sociais de apoio à paternidade na adolescência" (Social support networks for fatherhood in adolescence), which aimed at learning about the social support networks available to young fathers. A qualitative, exploratory and descriptive approach is used. The participants were fourteen adolescent fathers whose children were born in a teaching hospital of a public university in the state of Rio Grande do Sul, Brazil. Semi-structured interviews were pre-scheduled and took place at the subjects' homes six months after their children were born, between June 2009 and June 2010. The data demonstrate that the support network for fathers in adolescence was comprised mainly of parents, mothers-in-law, stepparents and siblings. The identified supportive actions were financial and psychological in nature, provided mainly by mothers or mothers-in-law. The family was considered the main support network for adolescents experiencing fatherhood.

Descriptors: Nursing. Fatherhood. Adolescence. Support network.

RESUMEN

Este estudio es un recorte de la pesquisa multicéntrica titulada "Redes sociales de apoyo a la paternidad en la adolescencia", que buscó conocer las redes de apoyo a la paternidad en la adolescencia. Presenta un abordaje cualitativo, exploratorio y descriptivo. Participaron del estudio 14 padres adolescentes que tuvieron sus hijos en un hospital de enseñanza universitario público del Rio Grande do Sul, Brasil. Las entrevistas semiestructuradas fueron pre programadas y ocurrieron en el domicilio de los sujetos, seis meses después del nacimiento del hijo, en el periodo de junio de 2009 hasta julio de 2010. Los datos evidenciaron que la red de apoyo de los padres adolescentes recaía principalmente en los padres, suegras, padrastros y hermanos. Las acciones de apoyo identificadas fueron de naturaleza psicológica, financiera, oriundas, principalmente, de las madres y suegras. La familia fue considerada la principal red de apoyo para la vivencia de la paternidad en la adolescencia.

Descriptores: Enfermería. Paternidad. Adolescente. Apoyo social.

INTRODUÇÃO

Tornar-se pai envolve uma construção que se dá através de múltiplas interações que se estabelecem entre uma pessoa e outra, principalmente com aquela que existe maior vínculo afetivo. Durante esse processo, podem ocorrer transformações e mudanças em que a pessoa necessariamente, busca uma nova identidade para expressar seu novo papel.1-2

A paternidade é uma relação construída e reconstruída a todo o momento, e seu exercício está permeado por um conjunto de práticas diversas inseridas na relação entre pessoas.1-2 No entanto, quando a paternidade ocorre durante a adolescência, muitas vezes ela é vista como um fator de risco para o crescimento e desenvolvimento saudável do ser humano.

O exercício da paternidade proporciona o desenvolvimento de práticas e habilidades de cuidado. As experiências adquiridas são coconstruídas com o suporte que o pai adolescente recebe da família, amigos e vizinhos,2 tecendo assim a rede de apoio social para exercitar/vivenciar a paternidade nessa fase da vida do ser humano.

A rede social é considerada "um sistema de interação sequencial"3:65 formado por pessoas que podem apoiar. Esse apoio é considerado uma função da rede social, que possibilita o bem-estar da pessoa.4

A conformidade das interações entre os membros da rede social depende da organização, do tempo e do modo como se estabelecem e se estruturam.5 O adolescente necessita constituir essas interações por meio de relações interpessoais, que podem ser individualizadas ou integradas em um grupo. A não satisfação dessas interações poderá acarretar problemas ao adolescente que, consequentemente, irão afetá-lo na vida adulta.

Nesse sentido, a rede social de apoio pode contribuir para minimizar as necessidades que o pai adolescente poderá apresentar durante o exercício da paternidade, oferecendo base de sustentação para que ele exercite o seu papel de pai frente à criança, à família e à sociedade, contribuindo para o desenvolvimento de uma família saudável.6

Portanto, considera-se importante o pai adolescente contar com uma rede de apoio social diversificada, composta pela família, escola, amigos, comunidade, bem como os serviços de saúde.

Sendo assim, o adolescente que vivencia o processo da paternidade pode encontrar na rede social de apoio a sustentação para uma efetiva estruturação individual e social, assim como para o exercício da paternidade. Diante do exposto, este estudo teve como objetivo conhecer a rede social de apoio do pai adolescente no exercício da paternidade.

METODOLOGIA

Este estudo possui uma abordagem qualitativa, exploratória e descritiva. É um recorte da pesquisa multicêntrica "Redes sociais de apoio à paternidade na adolescência" (RAPAD)* * Pesquisa multicêntrica, financiada pelo CNPq, sob Processo nº 551222/2007-7, realizada em três hospitais universitários vinculados a universidades públicas de três estados brasileiros: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraíba. A pesquisa apresentou um subestudo quantitativo e outro qualitativo, o qual foi dividido em dois momentos: o primeiro ocorreu logo após o nascimento do(a) filho(a) do pai adolescente, e o segundo, seis meses após o nascimento. 1 Artigo extraído da dissertação - Redes de apoio à paternidade na adolescência: uma abordagem sistêmica de cuidado de enfermagem, apresentada à Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas, em 2010. . Os sujeitos foram os pais adolescentes de uma cidade do sul do Estado do Rio Grande do Sul selecionados no banco de dados da pesquisa RAPAD, e que aceitaram participar do segundo momento do estudo qualitativo.

Apresentou como critérios de inclusão: idade inferior a 20 anos; residir no perímetro urbano da cidade; aceitar receber o entrevistador em seu domicílio, bem como ter o desejo de participar do estudo. As entrevistas foram pré-agendadas e ocorreram no domicílio dos sujeitos seis meses após o nascimento do filho, no período de junho de 2009 a junho de 2010. O prazo estipulado entre a primeira e a segunda entrevista deu-se com o intuito de observar ao longo de um período de tempo o pai no exercício e vivência da paternidade.

Dos 23 pais adolescentes que participaram do primeiro momento da pesquisa RAPAD, 14 pais aceitaram participar do segundo momento, sendo que cinco não foram localizados e quatro se recusaram a serem entrevistados novamente.

A coleta dos dados foi realizada através de entrevistas semiestruturadas, por possibilitar a introdução de questionamentos básicos e até aprofundar outras questões que poderiam surgir, proporcionando aos participantes uma liberdade de expressão e espontaneidade que enriquecessem a pesquisa.7

Os dados foram submetidos à análise temática, identificando os núcleos de sentido presentes nas falas dos sujeitos. Para isso foram desenvolvidas três etapas: pré-análise; exploração do material, tratamento dos resultados obtidos, e interpretação. Na primeira etapa, os dados obtidos foram organizados para a realização de uma análise mais profunda, sendo feita uma leitura flutuante do conjunto das comunicações. Na segunda etapa buscaram-se as categorias, que são palavras ou expressões significativas que organizam o conteúdo das falas. e, na última etapa, a partir da organização dos dados, foram realizadas as interpretações, procurando os significados e inter-relações com a teoria.7

A pesquisa RAPAD foi aprovada pelo Comitê de Ética da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas, sob o Protocolo nº 007/2008. Este estudo obedeceu aos preceitos éticos, garantindo o anonimato dos sujeitos e, para tanto, os mesmos foram identificados por nomes fictícios escolhidos pela autora, seguidos da idade. Para os menores de 18 anos foi solicitada também a assinatura dos pais ou responsáveis que estivessem presente no momento da entrevista, a fim de cumprir a Lei nº. 10.406,8 de 10 de janeiro de 2002, do Código Civil Brasileiro.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O Modelo Bioecológico guiando a com­preensão da paternidade na adolescência

Para melhor compreender os dados deste estudo, buscaram-se subsídios no Modelo Bioecológico de Urie Bronfenbrenner, também denominado PPCT, que apresenta como componentes específicos definidores: o processo, a pessoa, o contexto e o tempo. Esse modelo permite analisar o ser humano em desenvolvimento interagindo junto ao ambiente ecológico, destacando-se que os processos proximais ocorrem junto aos contextos por meio de interações em diversos níveis de diferentes sistemas.9

Sendo assim, destacam-se no Modelo PPCT os processos proximais, que são interações recíprocas progressivas e complexas que acontecem ao longo do tempo entre um ser humano ativo em evolução e as pessoas, objetos e símbolos em seu ambiente externo imediato. Os processos proximais são considerados mecanismos principais de produção do desenvolvimento humano.10

Desse modo, pode-se dizer que esse modelo teórico aborda o comportamento do ser humano (pessoa) através das relações/interações que ele apresenta com outras pessoas/objetos/símbolos e ambientes (contexto) durante o ciclo do desenvolvimento humano (processo) através das gerações (tempo). Assim sendo, o processo desenvolvimental do pai adolescente está relacionado aos componentes definidores do Modelo PPCT.9

O Modelo de Bronfenbrenner possui uma abordagem sistêmica, o que significa compreender um fenômeno dentro do contexto de um todo maior.11 Sendo assim, para compreender a paternidade na adolescência foi necessário observar o pai adolescente como um todo funcional interagindo junto ao contexto do ambiente imediato da família (microssistema), escola e comunidade (mesossistema), até mesmo nos ambientes em que ele não necessariamente estivesse presente, mas podendo afetar indiretamente no seu contexto (exossistema).

Logo, pode-se dizer que o pai adolescente está em constante processo de desenvolvimento ao interagir com as pessoas, de maneira progressiva, no exercício da paternidade em seu ambiente proximal. É neste processo desenvolvimental do adolescente que se percebe a família como uma rede apoiadora, favorecendo a vivência da paternidade na adolescência.

Desse modo, a partir das entrevistas do presente estudo, destaca-se a família como categoria principal dentro da rede social de apoio dos pais adolescentes, surgindo assim o seguinte núcleo temático "Família: rede social de apoio para a vivência da paternidade na adolescência".

Com intuito de facilitar o entendimento sobre o estudo, fez-se necessário esboçar primeiramente as características demográficas e sociais da população referida, as quais são apresentadas a seguir.

Do total de pais adolescentes participantes da pesquisa, seis estavam com 19 anos, um com 14, e outro com 16 anos, e os demais se encontravam entre 17 e 18 anos. A cor de pele predominante foi a branca para sete pais adolescentes, sendo que cinco se autodeclararam de cor preta, e dois, de cor parda. Quanto ao estado civil, sete pais possuíam companheira no momento da entrevista, seis se declararam solteiros e um separado. Quanto ao vínculo empregatício, um pai não estava trabalhando, e os demais apresentavam vínculo empregatício informal. A renda média mensal foi de dois salários mínimos. O valor do salário mínimo considerado neste estudo foi de R$ 465,00. Dos pais entrevistados, um havia concluído o ensino fundamental e os demais (13) possuíam ensino fundamental incompleto.

A partir dos dados observa-se que esta população apresentou baixa escolaridade, poisapenas um pai continuava estudando. Os dados demonstraram, também, que a maioria dos pais adolescentes possuía vínculo empregatício informal e vivia com a companheira, sendo a mesma a mãe de seu filho.

Em uma investigação realizada no Rio de Janeiro-RJ, os autores destacaram que poucos pais adolescentes apresentavam trabalho remunerado.12 Já, no presente estudo, apesar da maioria dos pais ter algum tipo de vínculo empregatício, a renda mensal apresentou-se baixa. Esses dados vão ao encontro da pesquisa realizada em Florianópolis-SC, comparando pais adultos e adolescentes, em que a renda mensal dos pais adolescentes apresentou-se significativamente baixa em relação aos pais adultos.13

Pesquisas realizadas com pais adolescentes destacaram que a principal mudança ocorrida durante o exercício da paternidade foi a inserção no mercado de trabalho. A maioria dos adolescentes começou a trabalhar como consequência da paternidade, por considerar o trabalho de fundamental importância para o cumprimento das responsabilidades paternas no provimento das necessidades do filho.14-15

Assim sendo, acredita-se que possuir um vínculo empregatício pode significar ao pai adolescente uma afirmação para realizar a transição da fase da adolescência à vida adulta, favorecendo o comprometimento com a paternidade.15

No entanto, além da consolidação através do trabalho, o adolescente procura também um embasamento junto à sua família, a qual favorece a construção da vivência da paternidade, proporcionando, além do apoio para suprir suas necessidades financeiras, o apoio psicológico que é fundamental para o exercício da paternidade.

Família: rede social de apoio para a vivência da paternidade na adolescência

De acordo com o Modelo Bioecológico de Urie Bronfenbrenner, a família é vista inter-relacionada com outros sistemas, levando em consideração, além das características individuais e das relações dentro da mesma (microssistema), as mudanças junto ao contexto social mais afastado (meso, exo e macrossistema) em um determinado tempo.9

Desse modo, ao analisar a família como uma rede social de apoio ao pai adolescente em sua vivência da paternidade, é possível observá-la na vertente do olhar sistêmico, por intermédio das interações do pai adolescente dentro de seu microssistema, bem como nos ambientes mais afastados. Ao vivenciar essas interações, destaca-se que o pai adolescente está tecendo suas redes de apoio, as quais são o conjunto de relações que desempenham funções de apoio.4

As redes de apoio tendem a sofrer mudanças de acordo com o contexto sociocultural, o tempo histórico e o estágio de desenvolvimento do ser humano e da família.16 Assim, na transição da infância para a idade adulta, o adolescente, ao vivenciar a paternidade nessa etapa do desenvolvimento humano, pode ter sua rede de apoio alterada em relação às pessoas com as quais interage e às funções que exercem.

Pode-se dizer também que, ao observar a família sob a ótica sistêmica, as transformações advindas do contexto do adolescente pai ocorrem também dentro do sistema familiar. Nessa fase, as famílias também estão respondendo e ajustando-se às novas demandas do adolescente que vivencia a paternidade.17

A paternidade na adolescência é vivida de acordo com a cultura e geralmente está alicerçada em valores e sentimentos das famílias construídos ao longo das gerações.6 A família, neste estudo, é entendida como sendo um "grupo de pessoas cujos membros dizem fazer parte dela, podendo essas pessoas serem ou não ligadas por consangüinidade e aliança".18:48

Para os adolescentes deste estudo, os membros da família que mais se destacaram como rede de apoio foram os pais, as sogras, os padrastos, os irmãos, as avós e as madrinhas. Já, em outros estudos, observa-se a participação mais direta dos pais e avós com relação ao apoio financeiro, bem como quanto ao cuidado com o bebê.15,19

Cabe salientar que a qualidade das relações e atividades que acontecem dentro da família é essencial para o exercício da paternidade. Assim, para que o pai adolescente possa desenvolver o processo da paternidade, é fundamental que exista uma boa comunicação entre os membros da família, a fim de potencializar e auxiliar o estabelecimento de relações mais satisfatórias na rede de apoio.20

A família exerce forte influência junto ao adolescente,2-19 motivando-o a vivenciar o processo da paternidade. Esse fato pode ser evidenciado nas falas, quando o pai adolescente aponta o apoio recebido da família na forma de diálogo e conselhos: minha família, minha mãe, só [...] mais é conselho mesmo, conversa mesmo. Como criar o filho daqui para frente. Conselho de mãe. Se está faltando alguma coisa, de vez em quando, ele [pai] me dá dinheiro para eu comprar. Fora o carinho que ele dá para a criança também (Carlos Alberto 19). A minha sogra me ajudou, até agora ela está me ajudando, minha mãe também. Me aconselham a arrumar serviço, falam das pessoas que eu ando também, para eu parar com isso e arrumar serviço (Clóvis 19).

Observa-se que, por meio dos diálogos e conselhos, os familiares procuraram passar seus valores socialmente constituídos e comportamentos valorizados, a fim de estabelecer um vínculo forte com o adolescente, formando a rede de apoio.

O apoio através do diálogo também foi destacado na fala de Bernardo 19, o que o auxiliou a buscar a aceitação da paternidade: não acreditava que era meu filho entendeu? [...] Foi minha primeira experiência, eu não sabia como fazer, não sabia como reagir, eu pegava aquela criança e achava que era filho de outra pessoa [...]. Então sentavam [família] comigo e conversavam, e com o tempo eu fui começar a ver que realmente eu que era errado (Bernardo 19).

A busca pela aceitação da paternidade é um processo lento e difícil para o adolescente, requer o auxílio de uma rede de apoio embasada no diálogo e na compreensão.21 A família pode fazer o papel de mediadora nesta fase de transição da adolescência para a vida adulta, ocasionada de forma inesperada pela paternidade. Isso foi evidenciado na fala de Bernardo 19, quando o adolescente ressaltou que foi após as conversas com sua família que ele realmente conseguiu ajudar no cuidado com o filho.

Bernardo 19 declarou em outra fala, a respeito da percepção do apoio familiar, que isso apenas foi observado por ele após ter se tornado pai: foi realmente depois que o meu filho nasceu que eu vi que a minha família está do meu lado, apesar de todas as brigas e os desentendimentos (Bernardo 19).

A família, para o pai adolescente, é vista como rede de apoio tanto no suprimento das necessidades financeiras como emocionais, fornecendo uma base para o exercício da paternidade.6

Nas falas dos sujeitos, evidencia-se também o apoio financeiro: minha mãe me ajuda e meu padrasto de vez em quando também. Ela me ajuda em tudo, comprando as coisas, que ela [filha] nasceu prematura [de seis meses] e tinha que tomar o Nestogeno, o leite, e estava R$ 22,00 uma latinha e durava três dias. Aí ficava difícil. Quando eu não tinha, minha mãe comprava e meu padrasto também (Renato 18); tive ajuda da minha mãe, da minha avó e da minha sogra para construir a casa. Eles me ajudaram, me deram a maioria das coisas (Guilherme 18).

Em um estudo que descreve jovens de 18 a 24 anos que experimentaram a maternidade e a paternidade na adolescência, a família se constituiu como uma fonte de apoio material desses jovens. O apoio das avós maternas dos pais adolescentes também foi destacado, uma vez que elas estavam sempre próximas aos netos, assumindo responsabilidades de cuidado para com eles.15

Já, no presente estudo, além da participação das avós dos pais adolescentes, pode-se verificar a presença, principalmente, das mães e sogras como fonte apoiadora tanto financeira como psicológica para os pais adolescentes.

Constata-se que o adolescente encontra-se fragilizado durante a transição da fase da adolescência para a idade adulta, e soma-se a esse momento o fato de assumir a paternidade. Portanto, o apoio da família é fundamental para que ele possa superar os desafios encontrados nessa nova etapa de sua vida.

O suporte oferecido pelas famílias tem sido constatado em estudos realizados com adolescentes que experienciam a paternidade e maternidade, tanto através de apoio financeiro como psicológico.2,6,15,22

Ainda que tenham ocorrido, nos últimos tempos, importantes mudanças no que se refere à família de forma geral, mantém-se inalterável a sua função de apoio, proteção e responsabilidade para com seus filhos.20

Com a chegada de um filho, são exigidas da família novas estratégias para lidar com as tarefas de desenvolvimento, capacidade de adaptação para receber o novo membro e habilidades para administrar as necessidades emergentes do sistema.16

Uma das habilidades importantes para a qual o pai adolescente necessita de apoio e orientação é quanto ao cuidado do seu filho. Nos depoimentos dos sujeitos do estudo evidenciou-se a necessidade desse apoio, que a maioria encontrou junto à família: meu pai me ajuda, minha mãe me ajuda a cuidar [...]. No caso, cuido dele só à noite, quando eu chego... eu saio de lá às 19 h, às vezes eu tardo um pouco e chego 20 h, 20:30 h (Roberto Carlos 17); agora que a gente sabe que, quando ele está com dor de ouvido, essas coisas, aí eu, como minha mãe já teve três, aí minha irmã chama minha mãe para ver, minha mãe sabe (Ricardo 19).

No caso do Ricardo 19, ele relatou não ter experiência no cuidado, quando o filho ficava doente, buscava ajuda da mãe, que apresentava uma vivência maior a respeito do cuidado com crianças.

Bernardo 19, que no início não conseguia aceitar a paternidade, também contou com o apoio da família para cuidar de seu filho, o que foi traduzido pelo diálogo e conselhos: então foi nisso aí que eles me ajudaram, a fazer cair a minha ficha para ver se eu ajudava a criar meu filho, a cuidar como pai, a me preocupar como pai (Bernardo 19).

A família, muitas vezes por julgar o adolescente incapaz de realizar o cuidado com o filho, acaba assumindo as responsabilidades do cuidado, impedindo o exercício da paternidade.19

Os pais adolescentes do presente estudo obtiveram o apoio em relação ao cuidado, no sentido de auxiliar e esclarecer quanto à maneira como deveriam proceder para a realização do cuidado, oportunizando ao pai adolescente experienciar e vivenciar esse momento.

Assim, a partir da relação de trocas de experiências, o pai adolescente sente segurança através do apoio parental, fortalecendo a importância dessa contribuição familiar para a vivência da paternidade, principalmente na fase da adolescência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao estudar a família como rede social de apoio para a vivência da paternidade, observou-se nos relatos dos pais adolescentes que esse apoio foi considerado fundamental para o exercício da paternidade. Esse apoio reforça a importância da rede social para a saúde física e emocional do ser humano e, consequentemente, da família, pois, conforme os relatos, o apoio interferiu de forma positiva na vida dos depoentes.

O estudo revelou que, durante o exercício da paternidade, a rede de apoio dos pais adolescentes foi formada principalmente pelos seguintes membros da família: mãe, pai, sogra, padrasto e irmãos. As ações de suporte identificadas no estudo foram de natureza psicológica e financeira, oriundas principalmente da mãe ou da sogra, o que reforça o papel de destaque da família como fonte apoiadora ao pai adolescente.

Cabe ressaltar que existe uma fragilidade na rede social dos adolescentes deste estudo, uma vez que eles contaram somente com o apoio da família para vivenciar a paternidade, o que poderá restringir as relações e apoio no seu processo de desenvolvimento.

A rede social para ser efetiva necessita ser extensiva e alcançar tanto o mesossistema quanto o exossistema, para que, assim, possa exercer a função de apoio. Na situação dos pais adolescentes deste estudo, a rede de apoio apresentou-se frágil no que tange a outras possibilidades de suporte a que esses pais adolescentes pudessem recorrer.

Observa-se a necessidade da intervenção dos profissionais de saúde, bem como da enfermagem, atuando junto a esta população, buscando novas políticas voltadas para a inserção dos pais adolescentes nos serviços de saúde, promovendo, assim, programas que tragam subsídios para esses pais exercitarem a paternidade.

Cabe ressaltar também a importância de outras parcerias na consolidação da rede social desses pais, como a escola, os amigos, a comunidade e a Unidade Básica de Saúde, as quais também podem servir de suporte para o processo de desenvolvimento e a vivência da paternidade na adolescência.

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  • Correspondência:
    Maria Emilia Nunes Bueno
    Prof. Araújo, 2149. Bl J, ap. 303
    96070-030 - Centro, Pelotas, RS, Brasil
    E-mail:
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    Pesquisa multicêntrica, financiada pelo CNPq, sob Processo nº 551222/2007-7, realizada em três hospitais universitários vinculados a universidades públicas de três estados brasileiros: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraíba. A pesquisa apresentou um subestudo quantitativo e outro qualitativo, o qual foi dividido em dois momentos: o primeiro ocorreu logo após o nascimento do(a) filho(a) do pai adolescente, e o segundo, seis meses após o nascimento.
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    Artigo extraído da dissertação - Redes de apoio à paternidade na adolescência: uma abordagem sistêmica de cuidado de enfermagem, apresentada à Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas, em 2010.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Jul 2012
    • Data do Fascículo
      Jun 2012
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