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Érico Veríssimo, um embaixador cultural nos Estados Unidos

Érico Veríssimo, embajador cultural en Estados Unidos

Erico Verissimo: un ambassadeur culturel aux États-Unis

Resumos

Este artigo examina os objetivos do governo dos EUA em convidar o escritor Érico Veríssimo para sucessivas viagens a partir de 1941 quando travou contato com editores, crítica e público. Analisa ainda as consequências que sua longa permanência nos EUA teve sobre sua carreira; explora os fatores que contribuíram para o sucesso de Veríssimo nos EUA, ao mesmo tempo em que examina as dificuldades que enfrentou na negociação com os editores norte-americanos; finalmente, avalia o papel assumido por Veríssimo, em suas conferências públicas, como o promotor de um maior entendimento sobre o Brasil no marco da política da Boa Vizinhança e a construção de instalações militares no interior do Brasil.

Érico Veríssimo; Política da Boa Vizinhança; publicações


Ese artículo examina los objetivos del gobierno de EUA en convidar al escritor Érico Veríssimo para diversos viajes desde el 1941 cuándo el tubo contacto con editores, críticos y público. Esto analisa también las consecuencias en su trayectoria profesional de sus largas permanencias en EUA; bucea los factores que contribuyeron para el éxito de Veríssimo en EUA, al mismo tiempo que examina las dificultades que el escritor enfrentó en la negociación con los editores estadounidenses; finalmente, evalúa el rol asumido por Veríssimo, en sus conferencias públicas, como el promotor de un entendimiento más amplio sobre el Brasil, en el marco de la política de la Buena Vecindad y del crecente interese estratégico de EUA en el Brasil.

Érico Veríssimo; Política de la Buena Vecindad; publicaciones


Cet article examine les objectifs du gouvernement américain d'inviter Érico Verissimo pour voyages successifs depuis 1941, quand il a contacté editeurs, les critiques et le public. Nous analysons egalement les conséquences de cette long séjour dans son travail. Ce travail explore egalement les facteurs qui ont contribué à la réussite de l'auteur aux États-Unis, ainsi que les dificultés qu'il a rencontré pour né- gocier avec les éditeurs américains. Enfin, nous évaluons le rôle assumé par l'auteur, dans ses confé- rences publiques, comme un promoteur une meilleure compréhension du Brésil et de la politique de bon voisinage, ainsi que l'intérêt stratégique croissant des États-Unis sur le Brésil.

Érico Veríssimo; Politique de bon voisinage; publications


This article examines the goals that the U.S. government had in inviting the writer Érico Veríssimo for successive trips from 1941 on, when it got in touch with editors, reviewers and the audience. It also analyses the effects of developing long-lasting connections with the United States on his career; explores the factors that contributed to Veríssimo's success in the United States; and examines the difficulties he faced when negotiating with North American publishers; finally, details Veríssimo's role as a public speaker in the United States promoting greater public understanding of Brazil while, most importantly from the U.S. government perspective, building support within the United States for the Good Neighbor Policy and U.S. military installations inside Brazil.

Érico Veríssimo; Good Neighbor Policy; book publishing


ARTIGOS

Érico Veríssimo, um embaixador cultural nos Estados Unidos

Érico Veríssimo, embajador cultural en Estados Unidos

Erico Verissimo: un ambassadeur culturel aux États-Unis

Richard Cándida Smith

Departamento de História, University of California, Berkeley. E-mail: candidas@berkeley.edu

RESUMO

Este artigo examina os objetivos do governo dos EUA em convidar o escritor Érico Veríssimo para sucessivas viagens a partir de 1941 quando travou contato com editores, crítica e público. Analisa ainda as consequências que sua longa permanência nos EUA teve sobre sua carreira; explora os fatores que contribuíram para o sucesso de Veríssimo nos EUA, ao mesmo tempo em que examina as dificuldades que enfrentou na negociação com os editores norte-americanos; finalmente, avalia o papel assumido por Veríssimo, em suas conferências públicas, como o promotor de um maior entendimento sobre o Brasil no marco da política da Boa Vizinhança e a construção de instalações militares no interior do Brasil.

Palavras-chave: Érico Veríssimo, Política da Boa Vizinhança, publicações.

RESUMEN

Ese artículo examina los objetivos del gobierno de EUA en convidar al escritor Érico Veríssimo para diversos viajes desde el 1941 cuándo el tubo contacto con editores, críticos y público. Esto analisa también las consecuencias en su trayectoria profesional de sus largas permanencias en EUA; bucea los factores que contribuyeron para el éxito de Veríssimo en EUA, al mismo tiempo que examina las dificultades que el escritor enfrentó en la negociación con los editores estadounidenses; finalmente, evalúa el rol asumido por Veríssimo, en sus conferencias públicas, como el promotor de un entendimiento más amplio sobre el Brasil, en el marco de la política de la Buena Vecindad y del crecente interese estratégico de EUA en el Brasil.

Palabras clave: Érico Veríssimo, Política de la Buena Vecindad, publicaciones.

RÉSUMÉ

Cet article examine les objectifs du gouvernement américain d'inviter Érico Verissimo pour voyages successifs depuis 1941, quand il a contacté editeurs, les critiques et le public. Nous analysons egalement les conséquences de cette long séjour dans son travail. Ce travail explore egalement les facteurs qui ont contribué à la réussite de l'auteur aux États-Unis, ainsi que les dificultés qu'il a rencontré pour né- gocier avec les éditeurs américains. Enfin, nous évaluons le rôle assumé par l'auteur, dans ses confé- rences publiques, comme un promoteur une meilleure compréhension du Brésil et de la politique de bon voisinage, ainsi que l'intérêt stratégique croissant des États-Unis sur le Brésil.

Mots-clés: Érico Veríssimo; Politique de bon voisinage; publications.

Em 1937, a intervenção alemã na Guerra Civil Espanhola e a invasão japonesa à China assinalaram que uma Segunda Guerra Mundial era iminente. Os chefes da administração de Franklin Delano Roosevelt compreenderam que os Estados Unidos seriam arrastados para a guerra e poderiam desempenhar um papel decisivo em seu resultado. A opinião pública, entretanto, permaneceu firmemente contrária ao envolvimento, e o Congresso respondeu à ameaça internacional cortando gastos militares e criando uma legislação para proibir o governo norte-americano e civis de ajudarem qualquer iniciativa beligerante. Em julho de 1938, a fim de combater sentimentos isolacionistas, o Departamento de Estado criou a Division of Cultural Relations (Divisão de Relações Culturais). Embora muito tenha sido escrito sobre as funções dessa Divisão, voltada para formar uma opinião pública em outros países e destinada a colaborar com os objetivos políticos dos Estados Unidos, os propósitos primários dos novos programas de intercâmbio cultural eram internos, voltados para mudar a opinião pública doméstica.1 1 Sobre a história dos programas de intercâmbio cultural do governo norte-americano, ver Richard T. Arndt, The First Resort of Kings: American Cultural Diplomacy in the Twentieth Century, Washington, Potomac Books, 2005; Frank A. Ninkovich, The Diplomacy of Ideas: U.S. Foreign Policy and Cultural Relations, 1938-1950, Cambridge, Cambridge University Press, 1981; J. Manuel Espinosa, Inter-American Beginnings of U.S. Cultural Diplomacy, 1936-1948, Washington, Bureau of Educational and Cultural Affairs, Department of State, 1976, uma história semioficial escrita por um membro da Division of Cultural Affairs (Divisão de Assuntos Culturais); Ruth Emily McMurray e Muna Lee, The Cultural Approach: Another Way in International Relations, Chapel Hill, University of North Carolina Press, 1947, uma comparação dos esforços norte-americanos para o intercâmbio cultural com os de várias outras grandes potências mundiais, escrita por veteranos do programa norte-americano. Os programas do Departamento de Estado fundamentados em princípios de intercâmbio em ambas as direções foram ofuscados na literatura histórica pela discussão do Office of Inter-American Affairs (OIAA - Escritório de Assuntos Interamericanos), criado por Franklin Delano Roosevelt dentro da Casa Branca, liderada por Nelson Rockefeller. Os programas culturais do OIAA direcionavam-se para projetar as posições políticas dos Estados Unidos na América Latina, mas também incluíam o envio de escritores, artistas, cineastas e fotógrafos norte-americanos à América Latina, a fim de desenvolverem trabalhos para audiências norte-americanas sobre seus aliados na Pan American Union (União Pan-Americana). As atividades do OIAA incluíram programas comerciais, bem como a supervisão de empreiteiros na construção de bases militares e a criação de programas de saúde pública, em geral, garantindo que os objetivos estratégicos dos Estados Unidos na América Latina permanecessem nos trilhos. Ver Richard T. Arndt, "Welles, MacLeish, and Fulbright as Architect-Exemplars of Early Postwar Cultural Diplomacy," disponível em http://streitcouncil.org/uploads/PDF/As%20Architect-Exemplars%20-%20Arndt.pdf, e Arndt, The First Resort of Kings, p. 75-97.Gisela Cramer and Ursula Prutsch, "Nelson A. Rockefeller's Office of Inter-American Affairs (1940-1946) and Record Group 229," Hispanic American Historical Review, vol. 86, 2006, p. 785-806. Richard Pattee,2 2 Pattee, nascido no Arizona, em 1906, estudou na Universidade do Arizona e na Universidade Católica da América. Desenvolveu trabalhos sobre a era colonial equatoriana, mas também escreveu sobre o Haiti e o Brasil. Suas publicações frequentemente se concentravam no papel da Igreja Católica na América Latina, analisando largamente sua contribuição para o desenvolvimento social em termos positivos, por meio do foco em movimentos dentro da igreja para reivindicar a independência da dominação da Coroa durante o período colonial e, mais tarde, após a independência, atuando como um regulador do poder arbitrário dos líderes nacionais. Seu trabalho incluiu também o interesse, pouco comum para a época, pela cultura afro-americana em todo o hemisfério ocidental. Suas publicações revelaram que, além de sua determinação em defender a Igreja Católica como fonte de progresso estável, ele era um seguidor do antropólogo cubano Fernando Ortiz e foi influenciado pela concepção deste de "transculturação," na qual culturas americanas podem ser vistas como emergentes ao longo do tempo, mediante um processo de culturas diaspóricas inicialmente convergentes. Seus livros incluem Jean-Jacques Dessalines, fundador de Haití, Havana, Molina, 1936, Gabriel García Moreno e a sua contribuição científica no Equador, Lisboa, Sociedade Industrial de Tipografia, 1937, García Moreno y la política internacional ecuatoriana, Quito, Romero, 1939, The Catholic Revival in Mexico, New York, The Paulist Press, 1944, Introducción a la civilización hispanoamericana, Boston, Heath, 1945, El catolicismo contemporáneo en Hispanoamérica, Buenos Aires, Editorial Fides, 1951 e Haití , pueblo afroantillano, Madrid, Ediciones Cultura Hispánica, 1956. Foi professor-assistente de História na Universidade de Porto Rico antes de 1938, quando se juntou à Divisão de Assuntos Culturais. Demitiu-se do Departamento de Estado em 1945 para se tornar professor de História na Universidade Católica da América. chefe-adjunto da nova Divisão encarregada do intercâmbio pan-americano, ressaltou que:

Os canais devem ser abertos não só para o livre fluxo de nossas ideias e produção cultural para outros países, mas também para o fluxo de produção cultural de outros países para os Estados Unidos. A cooperação intelectual seria um termo vão e sem sentido se apenas uma política unilateral fosse executada. [...] a Divisão de Relações Culturais contribuirá em larga medida para divulgar o conhecimento de culturas estrangeiras entre nosso povo.3 3 Richard Pattee, "The Role of the Teacher of Spanish in the Promotion of Inter-American Cultural Relations," Hispania, vol. 22, 1939, p. 236.

Pattee elaborou o plano de ação da nova divisão para intercâmbio cultural com a América Latina. Em um memorando escrito em janeiro de 1939, argumentou que o objetivo mais importante era trazer os intelectuais latino-americanos para os Estados Unidos e ajudá-los a desenvolver amizades pessoais duradouras e ligações institucionais.4 4 Memorando de Pattee nos documentos do Departamento de Estado norte-americano, Record Group (RG) 59, Decimal File for 1930-1939, 841.43/30, National Archives, Washington; reproduzido integralmente em J. Manuel Espinosa, Inter-American Beginnings of U.S. Cultural Diplomacy, Washington, D.C., Bureau of Educational and Cultural Affairs, U.S. Department of State, 1976, p. 167-169. Ver também Helen R. Pinkney, "The Division of Cultural Cooperation," unpublished TS, December 1945, in RG 59, War History Branch Studies, box 10: CU file. O foco da ajuda do Departamento de Estado era apresentar os autores latino-americanos ao mercado norte-americano de livros e revistas e, se possível, a Hollywood. Trazer a literatura e o jornalismo latino-americanos para a atenção do público norte-americano era essencial, visto que a maioria das histórias sobre a região disponíveis em inglês concentrava-se em líderes de governo e acordos de estado, sem considerar as experiências do dia a dia. Estereótipos de todos os tipos prevaleceriam e continuariam a prevalecer, enquanto os leitores nos Estados Unidos não comparassem o que os escritores norte-americanos produziam acerca da América Latina com o que faziam autores de outros países americanos. Os autores norte-americanos que escreviam sobre a América Latina frequentemente destacavam o "espetacular e o grotesco", de tal forma que a maioria dos países parecia ser "pouco mais do que uma casa dos horrores." Compreender as opiniões dos latino-americanos, segundo Pattee, era mais importante para os Estados Unidos, na medida que se desenvolviam novas relações com a região, do que continuar a publicar as mesmas suposições dos autores norte-americanos sobre "o que é a América Latina." O novo programa buscou autores latino-americanos contemporâneos que poderiam ser interessantes para os leitores norte-americanos.5 5 Ver também Richard Pattee, "Review," Journal of Negro History, vol. 23, 1938, p. 383. Os programas do Departamento de Estado fundamentados em princípios de intercâmbio foram ofuscados na literatura histórica pela discussão do Office of Inter-American Affairs (Escritório de Assuntos Interamericanos), criado por Franklin Delano Roosevelt dentro da Casa Branca, liderada por Nelson Rockefeller. O OIAA concentrava-se em projetar as posições políticas dos Estados Unidos na América Latina. Suas atividades eram amplamente fundamentadas, como coordenar programas culturais e comerciais, além de supervisionar empreiteiros na construção de bases militares, criando programas de saúde pública e, em geral, garantindo que os objetivos estratégicos dos Estados Unidos na América Latina permanecessem nos trilhos. Ver Richard T. Arndt, "Welles, MacLeish, and Fulbright as Architect-Exemplars of Early Postwar Cultural Diplomacy," disponível em http://streitcouncil.org/uploads/PDF/As%20Architect-Exemplars%20-%20Arndt.pdfeArndt, The First Resort of Kings, p. 75-97. Quanto às declarações oficiais da Divisão de Relações Culturais, ver Ben M. Cherrington, "The Division of Cultural Relations," Public Opinion Quarterly, vol. 3, 1939, p. 136-138; Cherrington, "Cultural Ties That Bind in the Relations of the American Nations," Hispania, vol. 22, 1939, p. 243-250; Cherrington, "Editorial: Education and Cultural Relations," The Phi Delta Kappan, vol. 22, November, 1939, p. 75-76. Sobre o OIAA, ver Cary Reich, The Life of Nelson A. Rockefeller: Worlds to Conquer, 1942-45, New York, Doubleday, 1996.

No final de 1940, Érico Veríssimo, autor de seis romances, uma coletânea de contos e 17 livros infantis, recebeu um convite inesperado do Departamento de Estado norte-americano para uma excursão pelos Estados Unidos com todas as despesas pagas.6 6 Daniel M. Braddock, cônsul norte-americano em Porto Alegre, a Érico Veríssimo, em 29 de novembro de 1940, Acervo do EV, IMS. Veríssimo foi o primeiro brasileiro a receber uma " Leader Grant" (concessão para líder) do Departamento de Estado norte-americano. Dentre as várias centenas de brasileiros trazidos para os Estados Unidos entre 1941 e 1945, estavam o antropólogo Gilberto Freyre, o historiador Sérgio Buarque de Holanda, o historiador e romancista Vianna Moog e o jornalista e romancista Orígenes Lessa. Ao redor do mundo, o Departamento de Estado ofereceu cerca de mil concessões por ano, entre 1940 e 1948, dinheiro usado para financiar visitas e/ou permanências prolongadas nos Estados Unidos (Richard T. Arndt, The First Resort of Kings: American Cultural Diplomacy in the Twentieth Century, Washington, Potomac Books, 2005, p. 137). Veríssimo descreveu as circunstâncias do convite em suas memórias, Solo de clarineta: Memórias, vol. 1, Porto Alegre: Editora Globo, 1973, p. 276-277. Aos 35 anos de idade, ele era um dos jovens autores mais populares do Brasil, mas nenhum de seus trabalhos havia sido traduzido para o inglês. Entre janeiro e abril de 1941, Érico viajou pelos Estados Unidos, conhecendo políticos, celebridades, líderes empresariais e um punhado de cidadãos comuns. Durante sua odisseia, deu 24 palestras sobre a literatura e a sociedade brasileiras para grupos civis e turmas de universidades. O livro que relata suas impressões, Gato Preto em Campo de Neve, continua a ser editado e é um clássico no campo da literatura de viagem. Como um esforço para influenciar a opinião pública no Brasil, o Departamento de Estado norte-americano considerou excepcionalmente bem sucedido o convite feito a Veríssimo. Gato Preto em Campo de Neve foi um best-seller de sua categoria, com uma venda de 15 mil exemplares nos primeiros dois meses, venda que, na época, superou qualquer outro livro publicado anteriormente no país.7 7 Número de vendas citado em L. L. Barrett, revisão de uma versão editada de Gato preto em campo de neve, elaborada para estudantes de português nos Estados Unidos, Hispania, vol. 32, 1949, p. 265. Os trabalhos de Veríssimo no Instituto Moreira Salles sugerem que as vendas iniciais de Gato preto em 1941 podem muito bem ter chegado a 20 mil exemplares.

O livro apresenta um relato muito positivo sobre um povo que Veríssimo descrevia como fundamentalmente pacífico e com olhar introspectivo, porém preocupado com muitas questões, dentre as quais em 1941, se os Estados Unidos iriam para a guerra contra Hitler. A obra provocou grandes discussões no Brasil, em geral recebida favoravelmente. Os dilemas que os Estados Unidos enfrentavam, entre se envolver na guerra ou permanecer em paz, também se estendiam ao Brasil, dividido entre suas responsabilidades internacionais mas indeciso se a aliança com os Estados Unidos contra a Alemanha causaria uma inundação cultural norte-americana no país, destruindo todos os elementos distintivos da sociedade brasileira.8 8 Quanto à questão da crescente influência norte-americana sobre a sociedade brasileira, ver Antonio Pedro Tota, O Imperialismo Sedutor: A Americanização do Brasil na Época da Segunda Guerra, São Paulo: Companhia das Letras, 2000. Veríssimo dizia a seus leitores que os norte-americanos e os brasileiros se conheciam pouco. Os norte-americanos confundiam o Brasil com a América espanhola e frequentemente assumiam que o país era um lugar primitivo, onde a maioria das pessoas andava sem roupas. Ele notou que, ao visitar a Philadelphia Academy of Natural Sciences (Academia de Ciências Naturais da Filadélfia), seu anfitrião "mostra-me gráficos e instrumentos com ar um pouco protetor como se estivesse revelando a um selvagem recém-chegado à civilização as maravilhas produzidas pelo cérebro privilegiado do homem branco. Fica entre surpreendido e incrédulo quando lhe digo que no Brasil conhecemos a luz elétrica, o microscópio e a máquina fotográfica."9 9 Érico Veríssimo, Gato Preto em Campo de Neve, São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 130. Os brasileiros, por sua vez, imaginavam que os Estados Unidos eram um lugar cheio de gangsters, cowboys e mulheres perdidas.

De ambos os lados, ideias genéricas e preconceitos substituíam o verdadeiro conhecimento de parte a parte, mas Veríssimo considerava que os estereótipos refletiam mais a falta de conhecimento do que o preconceito. Veríssimo insistia continuamente ao longo do livro que os Estados Unidos possuíam muitas coisas maravilhosas, defendendo que o povo americano "sente a beleza" e "é capaz de poesia."10 10 Ibidem, p. 161. Argumentava que refletiam uma atitude diante da vida similar à da maioria dos brasileiros, eram generosos e de coração aberto, mas também largamente ignorantes quanto ao mundo externo às suas vidas imediatas. Esses dois países, que poderiam ser aliados, na avaliação de Veríssimo, pareciam adolescentes procurando intensamente a poesia da existência que lhes daria esperança no futuro da humanidade. Para que a paz voltasse ao mundo, para que não houvesse mais ditadores, para que um novo mundo em que a boa-vontade, a poesia, a fantasia, a diversidade e a tolerância florescessem, americanos e brasileiros precisariam se conhecer mais profundamente em comparação com o que ocorrera no passado. As formulações burocráticas da "Política da Boa Vizinhança" eram, para Veríssimo, sem sentido, mas o de contato e as trocas pessoais que o governo dos Estados Unidos buscavam, davam alguma esperança de bons resultados.11 11 Érico Veríssimo, Gato Preto em Campo de Neve, São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 130-133, p. 473-477.

Os Estados Unidos eram um lugar que Veríssimo queria conhecer, em parte, devido aos filmes de Hollywood que havia assistido desde sua infância, em parte, pelos muitos contos e romances de autores norte-americanos que traduziu para o português.12 12 Érico Veríssimo, Solo de clarineta: Memórias, Tomo 1, Porto Alegre: Editora Globo, 1973, p. 113. Ele também frequentou um colégio dirigido por norte-americanos em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, onde desenvolveu sua fluência em inglês. Como um autor que também trabalhava como revisor de originais para uma editora brasileira, ele se interessava particularmente como as editoras norte-americanas selecionavam os livros que iriam lançar. Durante sua estada na cidade de Nova Iorque, o Departamento de Estado possibilitou que ele conhecesse editores de algumas das maiores empresas do país. Na Macmillan, Veríssimo aprendeu que, "de certo modo, guardadas as proporções, os nossos problemas são os mesmos com que lutam os editores norte-americanos."13 13 Érico Veríssimo, op. cit., p. 206. A Macmillan havia descoberto Margaret Mitchell e publicou seu primeiro romance, Gone with the wind (E o vento levou), um sucesso mundial que vendeu milhões de exemplares. Nenhum editor brasileiro jamais poderia esperar nem mesmo uma fração daquele número de vendas, mas Theodore Purdy, da Macmillan, lhe explicou que, também nos Estados Unidos, poucos livros vendiam mais do que 100 mil exemplares. Um livro de sucesso vendia entre 10 mil e 50 mil exemplares que rendiam um certo lucro para a editora. A Macmillan permaneceu no negócio formando um grande catálogo, do qual a maioria dos títulos vendeu razoavelmente bem, com pequeno lucro para a empresa14 14 A editora também obteve metade de seu negócio com a produção e venda de livros-texto. A Macmillan foi a primeira no mercado de publicação de livros dos Estados Unidos a estabelecer estoques regionais, o que lhe permitiu suprir um grande volume de exemplares no país, em comparação com seus concorrentes. Sobre a história da Macmillan, ver John Tebbel, A History of Book Publishing in the United States, vol. 3, The Golden Age Between Two Wars, 1920-1940, New York, Bowker, 1978, p. 101-103, p. 535-537; John Tebbel, A History of Book Publishing in the United States, vol. 4, The Great Change, 1940-1980, New York, Bowker, 1981, p. 118-130. . A "avalanche" de trabalhos incluiu muitos livros medíocres, mas o processo também permitiu a seus editores publicarem livros porque simplesmente admiravam a qualidade literária do autor. Veríssimo, que trabalhara para a Editora Globo, uma pequena gráfica que se transformou em uma das maiores empresas de comunicação de massa do mundo, avaliou a tensão entre qualidade e as exigências comerciais que se tornaram uma marca da cultura norte-americana:

A casa editora que quiser ter recursos materiais suficientes para se aventurar ao lançamento de livros de autores, como, por exemplo, Thomas Mann [...] terá de ir buscar esses recursos na publicação [...] duma Agatha Christie. Não se pode exigir que a massa ame Marcel Proust e deteste Margaret Mitchell. Por outro lado, absurdo será também pensar que o gosto do público não seja passível de evolução [...] Na minha opinião, o artista que se entrega passivamente ao povo, fazendo-lhe todas as vontades no afã de ser-lhe sempre agradável, corre um risco de destruição irremediável; mas o que despreza esse mesmo público fica sujeito a se tornar inumano, precioso e isolado da vida e das suas verdades simples.15 15 Érico Veríssimo, Gato Preto em Campo de Neve, São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 364.

O sistema cultural que os Estados Unidos produziram trouxe esperança a Veríssimo de ser um autor que poderia alcançar o público norte-americano, e as pessoas que conheceu chamaram sua atenção por serem curiosas e desejosas de aprender. Ao mesmo tempo, os negócios na área de publicação dos Estados Unidos podiam atender a uma das condições básicas para os americanos conhecerem mais sobre o Brasil e seu povo. Os editores norte-americanos eram capazes de assumir riscos financeiros, e os homens e mulheres com quem Veríssimo conversou pareciam genuinamente interessados em publicar autores brasileiros. Veríssimo concordou com uma das propostas básicas por trás dos esforços do Departamento de Estado no intercâmbio cultural: quando os livros latino-americanos começassem a surgir nos Estados Unidos, encontrariam leitores e formariam uma crítica consistente, e a Política da Boa Vizinhança passaria para um novo estágio. Em vez de uma aliança de conveniência, adequada às necessidades das administrações de Roosevelt e de Vargas, Veríssimo acreditava que os dois povos começariam a ter um efetivo envolvimento mútuo. Eles mesmos demandariam mais contato. Os estereótipos ainda demorariam a acabar, pois, como Veríssimo havia notado, a mente humana parecia necessitar de fórmulas prontas para ver o que estava fora de sua experiência pessoal imediata. Porém, se o contato crescesse, tais fórmulas entrariam em conflito com a experiência, e o público dos dois países demandaria mais informações assim que cada um começasse a aprender mais sobre a realidade do outro.

Tornando-se um autor de best-seller

Veríssimo veio de uma tradicional família proprietária de terras de Cruz Alta, Rio Grande do Sul. Seu pai, que além de possuir terras era dono de uma farmácia, faliu em 1922, perdendo tudo que possuía. Veríssimo, que estudava em um colégio dirigido pelos episcopalianos (comunidade anglicana dos Estados Unidos), teve que sair da escola um ano antes de se formar e começar a trabalhar. Sua mãe deixou o marido e voltou para a casa dos pais, também tradicionais proprietários de terras que haviam perdido a maior parte da riqueza quando não conseguiram pagar as hipotecas. Ela sustentou seus filhos com um pequeno negócio de costura na casa de seus pais, enquanto Veríssimo trabalhou, primeiramente, no depósito de um tio e, depois, em um banco. Ao completar 20 anos, um parente comprou uma farmácia, da qual Veríssimo cuidou por três anos, complementando sua renda ensinando inglês e fazendo suas primeiras traduções do inglês e do francês.16 16 "Memória seletiva: O tempo e os ventos," Cadernos de Literatura Brasileira: Érico Veríssimo, vol. 16, 2003, p. 8-10.

Em 1930, mudou-se de sua cidade natal, Cruz Alta, para Porto Alegre, onde, depois de publicar seu primeiro conto, os editores de uma revista local, a Revista do Globo, ofereceram-lhe um emprego. A primeira responsabilidade de Veríssimo era consultar jornais e revistas dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Alemanha, França, Itália e Argentina para verificar as histórias e os artigos que poderiam interessar aos leitores da Revista do Globo e, então, traduzi-los para o português. Como trabalhava com pouco capital, o jornal não tinha dinheiro para comprar direitos e os editores simplesmente pirateavam o conteúdo internacional que queriam publicar.17 17 O estado do Rio Grande do Sul tinha leis que protegiam os editores que pirateavam materiais de outros países ou de outras partes do Brasil. O princípio por trás das leis era de que prover o máximo de informações possível às pessoas tinha mais valor do que proteger direitos de propriedade intelectual. Com o surgimento da Grande Depressão, os livros estrangeiros tornaram-se proibitivamente caros e as importações pararam. A publicação de títulos estrangeiros em traduções piratas permitiu aos leitores brasileiros manterem contato com o desenvolvimento literário de outros países. Ver Laurence Hallewell, Books in Brazil: A History of the Publishing Trade, Metuchen, New Jersey, Scarecrow Press, 1982, p. 228-232.

O trabalho educou Veríssimo rapidamente conforme os padrões da literatura comercial publicada na Europa e na América do Norte. Nesse processo, desenvolveu um estilo de redação capaz de transmitir os sentimentos de uma literatura de classe média internacional para os leitores brasileiros. Como a empresa se expandiu com a publicação de livros tipicamente piratas, Veríssimo traduziu romances de detetives norte-americanos e ingleses, assim como histórias de ficção mais sérias, de uma grande variedade de autores proeminentes, como Aldous Huxley, John Steinbeck, W. Somerset Maugham e Katherine Mansfield. Seu chefe o encarregou de um projeto para publicar traduções de literatura clássica e contemporânea, com a republicação de livros norte-americanos, trabalho que se tornou prioritário. Selecionou títulos a serem traduzidos e supervisionou os tradutores que havia contratado. Nesse contexto, Veríssimo apresentou, pela primeira vez, muitos autores norte-americanos para os leitores brasileiros.18 18 Érico Veríssimo, Solo de clarineta: Memórias, Tomo 1, Porto Alegre: Globo, 1973, p. 233-252; "Guia Érico Veríssimo: O Arquipélago," Cadernos de literatura brasileira, vol. 16, 2003, p. 164-165; Felipe José Lindoso, "A indústria editorial no Brasil no século XX," in Historia de las empresas editoriales de América Latina, siglo XX, ed. Juan Gustavo Cobo Borda, Bogotá, Centro Regional para el Fomento del Libro en América Latina y el Caribe, 2000, p. 122-124; Laurence Hallewell, op. cit., p. 227-242.

Por outro lado, começou a publicar seus próprios contos na Revista do Globo. Seu primeiro romance, Clarissa, surgido em 1933, foi um livro moldado, Veríssimo admitiu mais tarde, depois do contato com os romances de Katherine Mansfield e Francis Jammes, dois autores que ele havia traduzido para o português.19 19 Érico Veríssimo, op. cit., p. 253. Com tudo o que ele devia fazer, seu próprio trabalho surgiu "entre uma coisa e outra"20 20 Ibidem, p. 254. . Em 1938, seu quinto romance, Olhai os lírios do campo, se transformou, sem nenhuma expectativa, no primeiro best-seller brasileiro, vendendo cerca de 40 mil exemplares. Veríssimo foi um dos três escritores brasileiros do final da década de 1930 cuja renda, como autor, embora modesta conforme os padrões europeus e norte-americanos, sustentava a si mesmo e a sua família. A partir daí, continuou como editor e tradutor de livros estrangeiros para a Editora Globo, enquanto escrevia um novo romance por ano.21 21 Em 1942, Veríssimo escreveu a um amigo brasileiro, também escritor, cujo livro foi republicado pela Editora Globo: "De 1938 para cá minhas relações com a livraria são quasi exclusivamente as de editores e editado. Tenho ainda um escritório no 'estabelecimento,' onde sou encontrado diariamente. E só tenho a ver diretamente com a escolha da obras estrangeiras. Fora disso, entrego-me a meus próprios livros" (EV a Oswald de Andrade, 3 de agosto de 1942, Acervo do EV, IMS).

Na época de sua primeira visita aos Estados Unidos, Veríssimo redigiu uma pequena nota em inglês sobre si mesmo e seus objetivos como escritor:22 22 Quando Veríssimo planejava um novo livro, suas anotações iniciais eram tipicamente escritas em inglês ("Manuscritos/Inéditos," Cadernos de literatura brasileira, vol. 16, 2003, p. 75).

It is very difficult to be a professional writer. If you want to make a living from your writing you must publish at least one book per year. But you cannot do that without endangering the very quality of your books. Take my case, for instance. I mean my novels. I am able to turn out a novel each year. I am sure they may be very readable novels.23 23 Notas sem título e sem data, Acervo do EV, IMS. Na década de 1930, Veríssimo produzia pelo menos um livro por ano. Na década de 1940, começou a gastar mais tempo com os livros que escrevia. Segundo a nota, ele escreveu seis romances, que seriam datados entre 1940 e 1943. "É muito difícil ser um escritor profissional. Se você quer ganhar a vida com seus escritos, deve publicar pelo menos um livro por ano. Mas você não pode fazer isso sem colocar em risco a qualidade de seus livros. Tome o meu caso, por exemplo. Refiro-me aos meus romances. Sou capaz de lançar um romance a cada ano. Estou certo de que podem ser romances muito bons."

Dois anos depois, em uma carta enviada a um funcionário dos estúdios da Warner Brothers, Veríssimo observou:

I am now starting a new novel. I hate to write a book each year, but I can't help it. Writing is my 'racket.' And moreover I don't believe in masterpieces. We are living in a mad and changing world. It is no use to polish and repolish what you write in order to cause the book to last. What is going to last of the thousands and thousands of books that are being published in these days of our years?24 24 Érico Veríssimo a John Leroy Johnston, 14 de maio de 1942, Acervo do EV, IMS. "Agora, estou começando um novo romance. Eu odeio escrever um livro por ano, mas não posso evitar. Escrever é meu 'tráfico'. E, além do mais, eu não acredito em obras-primas. Estamos vivendo em um mundo louco e em transição. É inútil polir e polir várias vezes o que você escreve, para que o livro dure. O que vai durar dos milhares e milhares de livros publicados nestes dias?"

Veríssimo tentava despertar o interesse dos produtores para um de seus livros e a carta acompanhou o manuscrito de Olhai os lírios do campo em inglês.

Diferentemente de muitos outros autores de sua geração, sua formação ligada particularmente ao desenvolvimento inicial da mídia de massa em seu próprio país o tornou bem preparado para falar com o público norte-americano. Poucos autores de sua geração na América Latina haviam adotado tão plenamente as demandas da cultura de consumo moderna. Todavia, apesar do aparente interesse de muitos editores em seu trabalho e do compromisso do Departamento de Estado de garantir subsídios para ajudar um editor a pagar pelos custos adicionais de tradução, foi difícil o caminho para publicação nos Estados Unidos. A segunda metade dos anos1930 foi muito boa para o mercado dos livros, com a intensa competição entre as editoras em busca do próximo best-seller. O modelo de negócio, entretanto, permaneceu incerto, pois as vendas variaram muito. Em 1936, tomando-se como exemplo dois dos livros mais famosos publicados nos Estados Unidos, Gone with the wind (E o vento levou), de Margaret Mitchell, vendeu 1,7 milhões de exemplares, enquanto Absalom, Absalom! (Absalão! Absalão!), de William Faulkner, vendeu 6 mil. O livro de Margaret Mitchell foi o único título a vender mais de 100 mil exemplares naquele ano e, até 1941, nenhum outro livro atingiu essa marca. Os editores não exigiam ou esperavam grandes vendas de cada título, mas assumiam que o grande número de títulos lançados aumentava as possibilidades de sucesso, contanto que muitos títulos produzissem uma renda constante, mesmo que modesta. Os editores baseavam-se nas mais de 15 mil bibliotecas públicas para garantir um número mínimo de vendas. Os responsáveis pelas aquisições para as bibliotecas não levavam em conta seus julgamentos pessoais para compra de determinado livro, mas deveriam atender a uma variedade de gostos em suas comunidades, oferecendo livros que haviam recebido atenção de grandes jornais e revistas nacionais, além de evitar as obras que poderiam ser consideradas ofensivas aos valores locais. As resenhas na grande imprensa e em revistas especializadas forneciam às bibliotecas a informação de que precisavam para comprar os livros.25 25 Wayne A. Wiegand, "The American Public Library: Construction of a Community Reading Institution," in A History of the Book in America, vol. 4, Print in Motion, p. 431-451. Ver também John Tebbel, A History of Book Publishing in the United States, vol. 3, The Golden Age between Two Wars. New York: Bowker, 1978, p. 657-690. A estatística de títulos e exemplares produzidos está disponível, mas as editoras relutaram em fornecer suas informações sobre venda.

Os editores precisavam de novos originais para manter um volume de produção que havia se mostrado lucrativo, mas o número de submissões aumentou em uma taxa muito mais rápida do que o aumento dos títulos aceitos. O processo de avaliação de qualquer editor envolvia a eliminação da maioria dos livros que autores e agentes esperançosos enviavam. Os originais eram avaliados rapidamente e assumia-se que o livro seria rejeitado, a menos que demonstrasse algum potencial de provocar a imaginação dos avaliadores. No caso de Veríssimo, havia ainda um problema adicional a respeito do que precisaria ser feito para tornar um autor brasileiro atraente para o público norte-americano. Apesar de já existirem traduções para o inglês dos romances clássicos de Machado de Assis e de Aluísio Azevedo e uma pequena editora ter publicado uma tradução de Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade, em 1933, em geral a literatura de ficção brasileira contemporânea não tinha muitos antecedentes no mercado do livro dos Estados Unidos. Por outro lado, os especialistas em América Latina contratados pelos editores fizeram relatos negativos sobre o trabalho de Veríssimo. Ele ouviu de uma amiga que conhecera em Nova Iorque, também escritora, que Ernesto Montenegro, jornalista chileno residente nos Estados Unidos, havia se tornado o crítico de livros latino-americanos da editora Farrar and Rinehart, a mais importante editora de literatura estrangeira dos Estados Unidos na época. Montenegro havia rejeitado os romances de Veríssimo e os descreveu como feitos para senhoras que gostam de chorar, ao invés de leitores que buscam literatura séria. Veríssimo, concluiu Montenegro, precisava aprender mais sobre os gostos do público leitor norte-americano.26 26 Angèle Kathleen Gingras para Érico Veríssimo, 10 de fevereiro de 1941, Acervo do EV, IMS. Veríssimo acreditava que Montenegro estava equivocado em sua avaliação sobre o mercado editorial dos Estados Unidos. Vários best-sellers, dentre eles, Rebecca, Gone with the wind (E o vento levou) e How green was my valley ( Como era verde o meu vale) provaram que os leitores norte-americanos gostavam de histórias que os faziam chorar (Veríssimo a Angèle Gingras, 31 de maio de 1941). Em 1940, O Diário, jornal de Recife, conduziu uma pesquisa sobre suas leitoras e descobriu que Veríssimo era o autor brasileiro favorito entre as participantes (Altamira Cunha [que trabalhava para o jornal] a Érico Veríssimo, 23 de maio de 1940, Acervo do EV, IMS). A Greenberg Publisher, outra editora que o Departamento de Estado tentava despertar para o interesse por autores latino-americanos, recusou Caminhos Cruzados (Crossroads), de Veríssimo, pois "sua técnica é muito descontínua; sua trama é estreita; tem muitos personagens." O estilo não era adequado ao público norte-americano.27 27 J. W. Greenberg, Greenberg Publisher, a Érico Veríssimo, 5 de fevereiro de 1941; Frederick Drimmer, Editor, Greenberg Publisher, a Érico Veríssimo, 19 de agosto de 1941, Acervo do EV, IMS.

A Farrar and Rinehart recusou-se a publicar Veríssimo, assim como a Harper and Brothers. Thornton Wilder pedira pessoalmente ao seu editor na Harper and Brothers para verificar Saga, romance de Veríssimo sobre a Guerra Civil Espanhola. A resposta inicial da Harper sobre o livro era entusiástica, mas os editores questionaram se, com a nova guerra mundial, os leitores ainda se interessavam por histórias ocorridas durante a Guerra Civil Espanhola. Eles achavam que Saga teria sucesso se fosse publicado depois que o lançamento de outros livros de Veríssimo consolidasse sua reputação nos Estados Unidos. A Knopf também se recusou a publicar Veríssimo. Os editores não deram nenhuma explicação para sua decisão. Blanche Knopf, que fazia a escolha final dos livros latino-americanos que a editora selecionava, preferia trabalhar com narrativas marcadas por elementos folclóricos e/ou míticos. Ela já havia recusado a publicação do trabalho de Jorge Luis Borges por ser muito urbano, muito cheio de truques literários e distante dos elementos e da tradição popular que muitos intelectuais nos Estados Unidos tomavam como a essência da cultura latino-americana. Em 1941, o vencedor do primeiro prêmio anual de "melhor romance latino-americano" traduzido para o inglês foi Grande e estranho é o mundo (El mundo es ancho y ajeno), do peruano Ciro Alegría, uma história escrita a partir de um combate violento entre uma comunidade indígena dos Andes e políticos e homens de negócios brancos que queriam incorporar essa região rural ao sistema político e econômico nacional. Nos romances de Veríssimo, geralmente faltavam imagens da natureza portentosa ou do folclore popular ligado a um estilo de vida puro, pré-moderno, marcas registradas de várias dezenas de romances da América espanhola traduzidas para o inglês nas décadas de 1920 e 1930.

A resposta mais positiva veio da Macmillan, onde Veríssimo havia desenvolvido boas relações pessoais com Doris Patee, editora dos livros infantis, e com Theodore Purdy, que, fluente em oito línguas, negociava a aquisição de livros estrangeiros para a empresa. Purdy planejava acompanhar um dos livros de Veríssimo no processo de avaliação interno, mas, imediatamente após o ataque ao Pearl Harbor, afastou-se para trabalhar com o OSS (Office of Strategic Services, Agência de Serviços Estratégicos, precursor da CIA) em Washington. A Macmillan contratou como parecerista Lewis Hanke — especialista em história do período colonial espanhol e diretor da Fundação Hispânica na Biblioteca do Congresso (Hispanic Foundation in the Library of Congress). A avaliação de Hanke foi negativa: o trabalho de Veríssimo não era típico da literatura da América do Sul e seu retrato da sociedade sulista brasileira não distinguia suficientemente o Brasil de outros países.28 28 Theodore Purdy, Jr., a Érico Veríssimo, 19 de maio de 1941; Lois Dwight Cole, Associate Editor, Macmillan Company, a Érico Veríssimo, 4 de junho de 1941; Doris S. Patee a Érico Veríssimo, 5 de junho de 1941; Purdy a Veríssimo, 13 de junho de 1941; Purdy a Veríssimo, 23 de junho de 1941, Acervo do EV, IMS. O relato de Hanke enfatiza uma divisão na forma como diferentes grupos dentro dos Estados Unidos definiam autenticidade e acessibilidade.

O que atraiu em Veríssimo os funcionários do Departamento de Estado que descobriram seu trabalho foi sua aparente similaridade com escritores norte-americanos populares da época, como Edna Ferber, A. B. Guthrie ou John Steinbeck. Sua habilidade em descrever o Brasil contemporâneo, na opinião do Departamento de Estado, tornou seu trabalho mais acessível aos leitores norte-americanos e suas habilidades no intercâmbio cultural poderiam contribuir para assegurar o apoio popular nos Estados Unidos para uma aliança com o Brasil e para o grande número de tropas norte-americanas ali instaladas. Veríssimo tinha talento para superar diferenças culturais, o que poderia ajudar seus leitores a descobrirem histórias e interesses compartilhados. Para críticos como Lewis Hanke, a literatura publicada nos Estados Unidos deveria ajudar os leitores a entender as diferenças profundas que existiam entre o país e seus vizinhos do sul, diferenças que requeriam conhecimento profissional para elucidá-las. Robert E. Luckey, pesquisando romances brasileiros em inglês, reclamou que o trabalho de Veríssimo "ilustrava pouco a variedade do Brasil."29 29 Robert E. Luckey, "Materials for a Course in English on Portuguese and Brazilian Literature and Culture," Modern Language Journal, vol. 34, 1950, p. 422.

As avaliações negativas dos revisores poderiam ter sido o fim da história, mas Veríssimo tinha vários defensores importantes, como os escritores Thornton Wilder, John Dos Passos e Robert Nathan, este último autor de um extraordinário romance popular da época, O retrato de Jennie (A portrait of Jennie). Wilder e Dos Passos usaram seu prestígio e Nathan, sua força como sucesso de vendas, para escrever diretamente aos editores, insistindo para que fizessem outra leitura do trabalho de Veríssimo. Ademais, Philip C. Jessup, diretor da Fundo de Dotações Carnegie para a Paz Internacional (Carnegie Endowment for International Peace), cuidou do caso de Veríssimo. Em uma carta, Jessup elogiava um livro infantil que Veríssimo havia escrito sobre a história do Brasil, As Aventuras de Tibicuera:

é um livrinho inspirador [...] [na] última página, [...] [ele] expressou de forma admirável os objetivos deste Fundo e minhas ambições pessoais, já que lutei como soldado na última grande guerra de 1914-18.30 30 Philip C. Jessup, director, Carnegie Endowment for International Peace (Fundo de Dotações Carnegie para a Paz Internacional), Division of International Law, a Érico Veríssimo, 17 de agosto de 1941, Acervo do EV, IMS.

O endosso de escritores e figuras públicas, como Jessup, foi importante para manter vivo o interesse pelo seu trabalho. Em termos práticos, porém, também pesaram os esforços dos funcionários do Departamento de Estado que facilitaram os contatos. Enfim, o próprio Veríssimo acionou um defensor interno em uma editora, alguém como Theodore Purdy na Macmillan, cujo entusiasmo poderia compensar as hesitações de seus colegas.

Muito do que Veríssimo vivenciou fazia parte do mercado editorial. Ligações pessoais eram importantes para os autores receberem boas avaliações de seus trabalhos. Em um mercado onde era difícil calcular previamente o resultado da venda dos produtos, eram as reações instintivas, sem qualquer base em cálculos precisos, que conduziam a tomada de decisões. O relato de Hanke à Macmillan minou o entusiasmo que os editores sentiam, a princípio, por um novo autor a ser incorporado ao seu catálogo, deixando-os inseguros a respeito das chances de sucesso. Simultaneamente, a Macmillan tentava lançar um romance da escritora chilena Magadalena Petit Marfán, La Quintrala, publicado em 1942 e divulgado pela mídia como um

conto do século dezessete no Chile, em que uma mulher bonita e rica, conhecida como La Quintrala, é a personagem principal. Sua trajetória de maldade e derramamento de sangue, bruxaria e assassinato é baseada em lendas. Seus catorze crimes começam com o envenenamento de seu próprio pai quando ela tinha dezesseis anos e continuam ao longo de sua longa vida. Os poderes do bem e do mal são representados, de um lado, por sua governanta negra e bruxa, de outro, por seu santo confessor.31 31 Da sobrecapa do livro de Magdalena Petit Marfán, La Quintrala, traduzido por Lulu Vargas Vila, New York, Macmillan, 1942.

Os editores da Macmillan procuravam uma obra de ficção latino-americana que se adequasse ao mercado popular de ficção dos Estados Unidos, e o trabalho de Marfán se ajustava às imagens sobre o folclore e a vida pré-moderna associada à América Latina.

Enquanto os livros de Veríssimo ainda estavam sob avaliação na Macmillan, Doris Patee escreveu o seguinte sobre sua obra: "é raro encontramos um autor estrangeiro que escreva em outra língua e que tenha tanta compreensão dos interesses e problemas dos Estados Unidos como você." Mas, então, ela acrescentou: "Minha opinião sobre os livros estrangeiros é que eles devem representar claramente a sua terra." Ela ressaltou que o livro de Veríssimo sobre Joana D'Arc não seria apropriado para tradução, já que, no mercado do livro norte-americano, o tema precisava ser tratado por um autor francês, inglês ou norte-americano. "queremos histórias que, de fato, reflitam o seu país." Então, dificultando o parecer positivo, Patee continuou:

Gostamos não apenas de histórias sobre o dia a dia no Brasil, que apresentam acidentes de percurso, panos de fundo, costumes, os quais são novidade para nossos [leitores], mas também de experiências que podem ser compartilhadas, porque são parte da vida de um [povo] muito parecido com o nosso, exceto pelo fato de viverem em outra terra. Esse parece ser um livro difícil de encontrar.

As histórias sobre o Brasil precisavam ser específicas e únicas para o país, mas, ao mesmo tempo, tinham de transmitir situações universais que leitores médios reconheceriam com prazer. Em uma carta posterior, escrita enquanto Caminhos Cruzados (Crossroads) estava no prelo, Patee afirmou:

Vemos frequentemente que há considerável diferença no apelo de livros estrangeiros... aqui e em sua própria terra. Há certamente algo de universal nos interesses [dos leitores] e deveria haver livros que pudéssemos trocar, mas, em muitos casos, eles parecem muito estranhos e diferentes para encontrar a mesma resposta. Tenho a sensação de que, para realmente encontrar uma boa venda para um livro sobre o Brasil ou sobre histórias brasileiras, este teria de ser escrito especialmente para o mercado norte-americano.32 32 Doris Patee a Érico Veríssimo, 17 de março de 1941; Patee a Veríssimo, 12 de abril de 1943, Acervo do EV, IMS.

As contradições no parecer de Patee sugerem que os editores frequentemente não tinham ideia dos motivos que faziam autores estrangeiros — como Thomas Mann ou Vicente Blasco Ibáñez, dois grandes autores do período entre-guerras no mercado norte-americano — terem tamanho sucesso e outros não. Sem esse conhecimento, não havia uma base firme para prever se um livro seria bem sucedido, pesando mais a confiança nos instintos dos editores na avaliação dos riscos. Patee mostrava-se interessada que Veríssimo produzisse um livro para o departamento infantil da Macmillan, um dos maiores do país. Um livro infantil bem sucedido poderia gerar muita renda para o editor e para o autor, tanto quanto um romance de sucesso, mas com produção, publicidade e custos de marketing consideravelmente menores. Assim como seu romance, Veríssimo não conseguiu fazer uma proposta que Patee aprovasse e a ideia de um livro infantil para o mercado norte-americano evaporou, aparentemente junto com o interesse da Macmillan em adicioná-lo a seu catálogo.

Logo após a primeira das cartas de Doris Patee citadas anteriormente, Veríssimo recebeu uma carta mais formal da Macmillan negando a oferecer-lhe um contrato. Nesse momento, a Editora da Universidade do Novo México abordou Veríssimo com a proposta para que um de seus livros saísse na Inter-American Translation Series, subsidiada pela Fundo de Dotações Carnegie para a Paz Internacional (Carnegie Endowment for International Peace). O editor admitiu que haveria poucas vendas além das bibliotecas de universidade mas, pelo menos, o livro estaria disponível em inglês.33 33 Joaquin Ortega, School of Inter-American Affairs, University of New Mexico, a Érico Veríssimo, 6 de dezembro de 1941; Providence Raimond, secretary, School of Inter-American Affairs, University of New Mexico, a Érico Veríssimo, 2 de abril de 1942, Acervo do EV, IMS.

Ao ouvir de seus amigos do Departamento de Estado sobre essa proposta, Theodore Purdy fez uma rápida viagem para Nova Iorque para convencer o editor-chefe a anular a decisão do departamento editorial da Macmillan. Purdy decidiu que Caminhos Cruzados (Crossroads) seria o primeiro livro a ser lançado, precisamente porque apresentava um cenário urbano. Ele havia apreciado o fato de Porto Alegre ser parecida com muitas cidades modernas de médio porte dos Estados Unidos. Acreditava ainda que o livro poderia ser apreciado por seus méritos como uma narrativa e não como um símbolo que sintetizasse outro país.34 34 Theodore Purdy, Jr., a Érico Veríssimo, 31 de julho de 1941; Purdy a Veríssimo, 25 de agosto de 1941; Purdy a Veríssimo, 27 de outubro de 1941; Purdy a Veríssimo, 31 de dezembro de 1941; Mary S. Thompson, Publicity Department, Macmillan Company, a Érico Veríssimo, 16 de setembro de 1942; Purdy a Veríssimo, 20 de setembro de 1942, Acervo do EV, IMS.

As críticas sobre o livro, quando lançado em inglês no ano de 1943, validaram o julgamento de Purdy, assim como o resultado positivo de suas vendas. Pela primeira vez na história do mercado editorial dos Estados Unidos, o romance de um autor latino-americano foi impresso várias vezes. A crítica apreciou o fato de que, apesar de os personagens e os cenários serem claramente brasileiros, as situações gerais descritas eram facilmente acessíveis. O Brasil não era uma terra estrangeira exótica, mas sim uma sociedade na qual pessoas buscavam amor e segurança enquanto sofriam com a pobreza, o desemprego, o crime e com o perigo persistente de guerra. Como o New York Times resumiu: "uma história de vida em uma cidade brasileira moderna e fervilhante, onde os personagens seguem seus destinos cruzados no meio de problemas não diferentes dos nossos."35 35 "Books—Authors," New York Times (16 January, 1943), p. 11.

O próprio Veríssimo esperava que a tradução não fizesse sucesso, dizendo a seu tradutor que a ausência "de elementos pitorescos que muitos leitores esperam em um romance de um autor brasileiro –— palmeiras, índios, rumba, serenatas, a Floresta Amazônica e assim por diante" arruinariam a edição.36 36 Érico Veríssimo a Louis Kaplan, 9 de janeiro de 1942, Acervo do EV, IMS. Qual era o apelo? O Manual de Estudos Latino-Americanos (Handbook of Latin American Studies), publicado pela Biblioteca do Congresso, identificou a habilidade de Veríssimo para entrelaçar "os destinos humanos na vida de uma cidade provinciana, neste caso, Porto Alegre, desencadeados pela prosa infalivelmente bela do autor e por sua profunda simpatia e emoção humana."37 37 Anotação sobre Érico Veríssimo, O resto é silêncio, Handbook of Latin American Studies, vol. 9, 1944, HLAS Item#: re464267, disponível em: http://lcweb2.loc.gov/hlas/. Outro crítico descreveu o trabalho de Veríssimo como marcado por "modéstia inata, a absoluta falta de qualquer sinal de pompa [e um] indômito senso de humor, sempre pronto a acabar com qualquer toque de presunção."38 38 L. L. Barrett, revisão de uma versão editada de Gato preto em campo de neve, produzida para estudantes de português nos Estados Unidos, Hispania, vol. 32, 1949, p. 265.

Na obra, Veríssimo descreveu a revolta de uma sociedade agrária diante da intensificação da industrialização e da urbanização. Ele apresentou tal mudança por meio de núcleos de relações pessoais que dramatizavam os sofrimentos psicológicos vivenciados sob os processos sociais. Dada a centralidade da família para a antiga ordem agrária, os sofrimentos sociais terminavam na fratura dos membros familiares (da mesma forma como os pais de Veríssimo se separaram em 1922), criando expectativas de que as mulheres e as crianças lutariam por maior autonomia. Os romances de Veríssimo exploravam sofrimentos pessoais profundos, marcando o desejo de novos tipos de vínculo. Felicidade, depressão, amores, divórcios, inimizade tradicional entre famílias eram indicadores de estados sociais em transição.39 39 Para mais informações sobre o argumento acerca da relação familiar e a transformação social no trabalho de Veríssimo, ver Ligia Chiappini Moraes Leite, Modernismo no Rio Grande do Sul: Materiais para o seu estudo, São Paulo, Instituto de Estudos Brasileiros, 1972; Ligia Chiappini Moraes Leite, Regionalismo e modernismo: O caso gaúcho, São Paulo, Ática, 1978; B. A. Richards, Érico Veríssimo: The Brazilian Novels Assessed in the Context of Modernism and Latin American Fiction, London, King's College, University of London, 1981; Maria Antonieta Antonacci, Rio Grande do Sul: As oposições e a revolução de 1923, Porto Alegre, Mercado Aberto,1981; Luiza H. Schmitz Kleimann, Rio Grande do Sul, terra e poder: História da questão agrária, Porto Alegre, Mercado Aberto, 1986; Sandra Jatahy Pesavento, A burguesia gaúcha: Dominação do capital e disciplina do trabalho, Rio Grande do Sul 1889-1930, Porto Alegre, Mercado Aberto, 1988. Em Um lugar ao sol, um chefe local mata o pai da personagem principal. Sua mãe muda-se com os três filhos para a cidade. A filha surge como personagem central do romance à medida que se divide entre o anseio pela solidariedade da vida interiorana e a liberdade pessoal que descobre na cidade. Essa fórmula identificou-se com muitos filmes de Hollywood e romances "água com açúcar", a maioria com sucesso na época de Gone with the wind (E o vento levou), de Margaret Mitchell. Em suas histórias sobre o sofrimento familiar, Veríssimo celebrava a vida de homens e mulheres forçados a descobrir suas possibilidades latentes. A mistura de aspectos utópicos e sociológicos sustentou o que um de seus críticos nos Estados Unidos chamou de

o sonho da possível união da humanidade por meio da compreensão mútua, da cooperação pacífica e da obra social, com o banimento da injustiça e da ambição egoísta. Em síntese, nos aproximamos aqui dos vastos problemas que confrontam o mundo atual; e esses problemas são tratados no espírito da nobreza de coração que Veríssimo, o biógrafo, encontrou tão admiravelmente em sua Joana D'Arc. 'Pode ser que tudo isso seja apenas um grande sonho. Mas sonhar também é humano.'40 40 Anotação sobre Érico Veríssimo, Olhae os lyrios do campo [ sic, o correto é Olhai os lírios do campo], Handbook of Latin American Studies, vol. 4, 1938, HLAS Item#: re394248a. Os escritores brasileiros das décadas de 1920 e 1930 são geralmente conhecidos por rejeitarem a cultura francófila da então chamada "República Velha" (1889-1930), abraçando o modernismo com foco na exploração de características peculiares do nacionalismo ou regionalismo brasileiro; também exploravam a identidade brasileira, retornando para as raízes culturais e sociais de cada estado. Veríssimo pode ser visto como ator na intersecção do modernismo com o regionalismo. Ele tinha familiaridade com tendências literárias da Europa e da América do Norte, com forte inclinação para escrevera um grande público de classe média.Seus temas exploravam criticamente as relações sociais no Rio Grande do Sul, embora a estrutura mal descrevesse os objetivos de Veríssimo como escritor e sua posição nas letras nacionais. Ver Wilson Martins, The Modernist Idea: A Critical Survey of Brazilian Writing in the Twentieth Century, New York, New York University Press, 1970, Antônio Cândido, On Literature and Society, Princeton, Princeton University Press, 1995, Roberto Schwarz, Misplaced Ideas: Essays on Brazilian Culture, London, Verso, 1992.

A editora Macmillan passou a lançar um novo romance de Veríssimo a cada dois anos e concordou em publicar um livro escrito por ele sobre a história da literatura brasileira. Decidiram ainda adiantar recursos para a tradução, pois as exigências burocráticas atrasavam a publicação. Graças à recepção positiva que Caminhos Cruzados (Crossroads) recebera, os editores sentiam que a venda dos novos títulos cobririam facilmente os custos de tradução.41 41 George P. Brett, Jr., President of Macmillan Company, a Érico Veríssimo, 6 de agosto de 1943, Acervo do EV, IMS. Para se ter uma ideia do sucesso comercial de Veríssimo nos Estados Unidos, ele foi o único autor latino-americano a ter mais de dois títulos publicados entre 1940 e 1967, período em que a Macmillan lançou oito livros, um recorde que excedeu o de todos os outros autores latino-americanos no mercado editorial dos Estados Unidos antes de 1970, quando houve uma súbita explosão de títulos de autores com tais origens traduzidos para o inglês.42 42 Mesmo com a "explosão" após 1970, até hoje, apenas 14 autores latino-americanos apresentaram um número de títulos em inglês igual ao de Veríssimo: Jorge Amado, Miguel Ángel Asturias, Jorge Luis Borges, Ernesto Cárdenal, Julio Cortázar, José Donoso, Carlos Fuentes, Gabriel García Márquez, Machado de Assis, Pablo Neruda, Octavio Paz, Manuel Puig, César Vallejo e Mario Vargas Llosa.

Os críticos, com algumas exceções, elogiavam Veríssimo por suas habilidades narrativas e sua compreensão da condição humana. O crítico do Chicago Tribune enalteceu Caminhos Cruzados (Crossroads) por ser "brasileiro nos detalhes e universal na emoção." Dizia-se que Veríssimo era o romancista mais popular na América do Sul, e "Caminhos Cruzados (Crossroads), com sua hábil junção de cinco histórias, mostrou o porquê."43 43 F. B., "Books: South American Writes a Tense, Dramatic Story," Chicago Tribune, vol. 17, February 1943, p. 23. William Du Bois, ao avaliar o livro para o New York Times, comparou Veríssimo a Theodore Dreiser: "ambos os escritores têm a mesma vitalidade abundante, a mesma abordagem áspera; ambos derramam suas histórias como dínamos sobrecarregados e deixam as peças caírem onde quiserem." Du Bois elogiou Veríssimo por ter maior controle sobre a forma e o conteúdo do que Dreiser. Quanto ao cenário brasileiro, Du Bois posicionou Porto Alegre como a capital do estado mais sulista do Brasil, acrescentando que

O romance de Érico Veríssimo faz mais do que lustrar a geografia. Vai mais longe do que trazer um ponto de vista diferente em uma terra estranha e viva para nós. Embora sua rápida viagem por Porto Alegre dure apenas cinco dias, ela abrange a cidade do cortiço ao boulevard. O senhor Veríssimo movimenta seus personagens com tanta facilidade que o leitor se esquece de já percorreu. Mas, ao terminar o livro, perceberá que Porto Alegre não é tão diferente de Jacksonville [Flórida, previamente observada na resenha como tão distante da linha do Equador quanto Porto Alegre]. Caminhos Cruzados [Crossroads] é, definitivamente, uma contribuição sólida para a Política da Boa Vizinhança. [...] Sem um único falso clímax, sem ultrapassar o estilo de reportagem desprovido de arte, [Veríssimo] prende rapidamente o interesse do leitor desde o começo, à medida que manipula um grande número de personagens. O personagem menor aparece extremamente vivo em suas mãos, embora ele não faça mais do que uma cena na trama. [...] Apesar de [Veríssimo] não oferecer salvação para aliviar a carga do homem, este é compreendido em seu interior; ele é, em alguns casos, profundo como um santo em uma couraça e, em outros, cínico; ele é sempre é tão fácil de ler quanto um livro infantil. Crossroads é um grande romance, mas este crítico literário desejaria apenas que fosse maior. Ele não se envergonha de admitir que o "devorou" em uma sentada.44 44 William Du Bois, crítica sem título, New York Times, 24 January, 1943, Book Review Section, p. 6.

Essa crítica foi particularmente auspiciosa para a estreia de Veríssimo como romancista nos Estados Unidos. Du Bois juntou-se à equipe do New York Times em 1926 e logo tornou-se editor-chefe da seção de crítica literária, posição que manteve por três décadas. A crítica de Du Bois sobre Caminhos Cruzados (Crossroads) estabeleceu uma referência para discutir o trabalho de Veríssimo, a qual muitos outros críticos usaram para avaliar traduções subsequentes de seus livros. Significativamente, o Library Journal e o Booklist recomendaram que as bibliotecas adquirissem a obra, o que era importante para se garantir o sucesso comercial de um livro.45 45 Library Journal, vol. 67, 1 November, 1942, p. 952; Booklist, vol. 39, 1 March, 1943, p. 275. As avaliações dos críticos sobre os livros de Veríssimo nos 15 anos seguintes ressaltavam cada vez mais seu estilo agradável em excelentes traduções, sua grande compreensão da condição humana, sua habilidade em tecer várias histórias sob uma mesma unidade e a exploração das fragilidades humanas que se tornavam aceitáveis "mediante uma grande curiosidade pelo mistério da existência humana."46 46 Granville Hicks, crítica sem título do Time and the wind (O tempo e o vento), New York Herald Tribune, 8 November, 1951, Book Review Section, p. 7.

Enquanto Caminhos Cruzados (Crossroads) e O resto é silêncio (The rest is silence) apresentam cenários urbanos, Olhai os lírios do campo (Consider the lilies of the field) ocorre em uma pequena cidade fictícia na região agrária do Rio Grande do Sul. Esse romance é centrado em dois médicos, marido e mulher, que trabalham juntos em uma pequena clínica, sofrendo com as dificuldades e as desigualdades da vida rural durante a Grande Depressão. Trata-se de uma história que também ecoou nos Estados Unidos e atraiu leitores da mesma forma que havia atraído no Brasil. Encorajado por seus editores da Macmillan a desenvolver uma história épica da vida no sul do Brasil, Veríssimo começou a trabalhar em um extenso romance (sete volumes na edição em português) que traçou a trajetória de uma família da zona rural do Rio Grande do Sul de 1745 a 1945. Com a publicação em inglês da primeira parte, O Continente, em 1951, sob o título O tempo e o vento (Time and the wind), Herschel Brickell, ao escrever para o Saturday Review of Literature, exaltou Veríssimo como o autor mais importante a trabalhar acerca da América Latina e definiu o novo livro como "um romance tão bom quanto qualquer um que a América Latina já tenha produzido em todos os tempos."47 47 Herschel Brickell, crítica sem título do Time and the Wind ( O tempo e o vento), Saturday Review of Literature, vol. 34, 22 September, 1951, p. 15.

Assim como na crítica de Du Bois sobre Caminhos Cruzados (Crossroads), os críticos puderam perceber as singularidades das paisagens brasileiras, observando que as cenas, os temas, os lugares e as pessoas eram acessíveis. Os personagens de Veríssimo lutavam para pagar o aluguel ou conseguir um tratamento para uma criança doente, tentavam escapar do controle dos pais ou lidar com um casamento sem amor. Em uma passagem de Caminhos Cruzados (Crossroads), o narrador observa que, na cidade,

bondes e automóveis circulam pelas ruas, homens andam e trabalham, dramas acontecem, há tragédias ocultas, choros de dor e de alegria; poetas escrevem versos para a Lua, vadios passeiam pelos jardins, homens desempregados andam a deriva sem objetivos, gênios e imbecis nascem.48 48 Érico Veríssimo, Crossroads, traduzido por L. C. Kaplan, New York, Macmillan, 1943, p. 106.

O tradutor de Caminhos Cruzados (Crossroads), um funcionário dos correios de Chicago, que aprendeu sozinho o português descobrindo novos romances que lhe pareciam interessantes, traduzindo-os para o inglês, não americanizou a trama ou a linguagem. Ele repetiu as formas de tratamento em português que Veríssimo havia usado, como "senhor", "dona", "seu", cada um com seu significado social próprio para os brasileiros, sem tornar a narrativa lenta com explicações sobre as nuances do uso de cada uma delas. Leitores atentos, ao longo do tempo, podiam intuir como termos específicos funcionavam em uma sociedade com uma hierarquia social mais definida do que a dos Estados Unidos. Porém, os leitores que não percebiam isso ainda notariam que, apesar das muitas similaridades, havia diferenças fundamentais entre as sociedades brasileira e norte-americana. Os leitores podem ter observado que muitos personagens baseiam suas ações em padrões estabelecidos nos Estados Unidos e na Europa, com resultados quase sempre ridículos. Os efeitos são claros, mas o livro não explicou a existência de uma cultura colonizada como característica da classe média e da elite no Brasil, nem o tradutor se esforçou para adicionar outras explicações. Outro tema do livro que escapou à maioria dos leitores dos Estados Unidos foi o exercício do paternalismo na sociedade brasileira. O enredo gira ao redor de dois personagens que perderam seus empregos, pois seus patrões deviam favores a pessoas mais poderosas com dependentes em busca de emprego. Para manter boas relações com pessoas cuja ajuda seria importante no futuro, os patrões inventavam razões para demitir empregados que não tinham padrinhos. O público brasileiro entendia bem como o sistema de clientelismo funcionava, e a forma como Veríssimo o tratou mostra o custo humano desta prática, sem necessidade de maiores explicações. Nos Estados Unidos, os leitores compreendiam que os patrões em seu país eram ocasionalmente conhecidos por demitir empregados para oferecer tratamento preferencial a amigos de amigos. No entanto, o público norte-americano não entendia, pela leitura do livro, que o problema no Brasil derivava de estruturas sociais fortemente enraizadas e não de escolhas morais dos indivíduos. Tampouco percebiam que a falta de um padrinho poderia tornar a busca por um novo emprego praticamente impossível.49 49 Sobre o clientelismo no Brasil, ver Luiz Henrique Nunes Baía, O poder do clientelismo: Raízes e fundamentos da troca política, Rio de Janeiro, Editora Renovar, 2003; Edson de Oliveira Nunes, A Gramática Política do Brasil: Clientelismo e Insulamento Burocrático, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editora, 2003; Paul Cammack, "Clientelism and Military Government in Brazil," in Private Patronage and Public Power: Political Clientelism in the Modern State, ed., Christopher Clapham, London, Frances Pinter, 1982; José Murilo de Carvalho, "Barbacena: A Família, a Política e uma Hipótese," Revista Brasileira de Estudos Políticos, vol. 20, 1966, p. 153-194; Luis de A. Costa Pinto, Lutas de Família no Brasil: Introdução ao seu Estudo, São Paulo, Editora Nacional, 1949; Nestor Duarte, A Ordem Privada e a Organização Política Nacional, São Paulo, Editora Nacional, 1939; Linda Lewin, Política e Parentela na Paraíba: Um Estudo de Caso da Oligarquia de Base Familiar, Rio de Janeiro, Record, 1993; Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, São Paulo, Companhia das Letras, 1995; publicado originalmente em 1936.

Tais informações deveriam ter sido incluídas no livro, assim como mais explicações sobre a situação política por trás das discussões acerca da influência e da política pública. O preço da precisão sociológica seria uma narrativa pouco fluente, e o tradutor optou por se concentrar na história. Escolha muito diferente fez Samuel Putnam, notável acadêmico latino-americano, quando traduziu o romance de Jorge Amado sobre a disputa social na plantação de cacau da Bahia, Terras do sem fim, publicado sob o título The Violent Land pela Knopf, em 1945. A tradução do livro de Jorge Amado foi capaz de apresentar aos seus leitores a complexidade dos movimentos sociais e políticos no Brasil nas décadas de 1930 e de 1940, informação potencialmente valiosa em razão da importância do Brasil como um aliado na guerra. O livro traduzido de Veríssimo, por sua vez, fez ecoar nos Estados Unidos ideias de que os políticos são um bando de corruptos e mentirosos, sem estabelecer que países diferentes têm formas distintas de corrupção política. Dadas as respectivas bases políticas dos dois autores –— Amado era um militante do Partido Comunista e Veríssimo acreditava que "o esforço dos homens de boa vontade, sem violência nem fanatismo, possa igualar as diferenças sociais"50 50 Érico Veríssimo, Caminhos Cruzados, São Paulo, Companhia das Letras, 2005, p. 153; traduzido por L. C. Kaplan em Crossroads como "a marvelous day when the efforts of men of good will will level all social differences, without violence or extremes" (176). —, as estratégias adaptadas pelos dois tradutores podem ter sido as mais convenientes para seus autores.

Embaixador da Boa Vizinhança

No início de 1943, quando Caminhos Cruzados (Crossroads) estava para ser lançado, Richard Pattee entrou em contato com Veríssimo, fazendo um convite para passar um ou dois anos nos Estados Unidos e ensinar literatura brasileira em uma universidade norte-americana. Veríssimo estava em dúvida se devia aceitar a oferta, já que ele havia terminado sua educação formal em idade precoce e não tivera experiência como professor no Brasil. Todavia, a ideia de passar um longo período nos Estados Unidos teve forte apelo. Veríssimo esperava ser capaz nesta ocasião de acompanhar mais de perto as tendências do mercado editorial norte-americano e fazer melhor uso dos contatos que havia estabelecido nos Estados Unidos para consolidar o lugar da língua portuguesa sobre uma vasta gama de best-sellers norte-americanos. Apesar desse objetivo, ele e sua esposa decidiram que preferiam morar na Califórnia ao invés da costa leste, optando por uma parte do país que Veríssimo descreveu como culturalmente mais confortável para ele e sua família.51 51 Érico Veríssimo a Richard Pattee, 13 de janeiro de 1943 e 21 de maio de 1943, Acervo do EV, IMS. Em junho de 1942, ele havia escrito para uma amiga dos Estados Unidos que esperava passar um ou dois anos na Califórnia depois da guerra (Érico Veríssimo a Angèle Kathleen Gingras, 15 de junho de 1942). Para o relato da Universidade da Califórnia sobre as expectativas do Departamento de Espanhol e Português quanto à função de professor visitante de Veríssimo, ver S. G. Morley, Chair of the Department of Spanish and Portuguese, University of California, Berkeley, a Harry H. Pierson, Division of Cultural Relations, U.S. Department of State, 26 May, 1944, em anexo à correspondência recebida em 1944 pertencente aos Estados Unidos da América, nos arquivos da Secretaria de Estado das Relações Exteriores, Arquivo Histórico do Itamaraty.

O Departamento de Estado arranjou-lhe um cargo na Universidade da Califórnia - Berkeley, onde Veríssimo tornou-se um dos 157 professores visitantes cuja permanência em faculdades e universidades norte-americanas havia sido subsidiada pelo governo federal.52 52 J. Manuel Espinosa, "Exchange of Professors Between the United States and Other American Republics," The Americas, vol. 3, 1947, p. 535-543. Veríssimo lecionava literatura brasileira em inglês, três dias por semana, em um curso de graduação. Suas aulas tiveram tanto sucesso que a sala precisou ser mudada para acomodar o número de estudantes que queriam se matricular. Ele sentia saudades de casa, mas morar nos Estados Unidos ainda era uma aventura. Ninguém questionou suas credenciais de professor e isso deu-lhe um insight sobre a vida nos Estados Unidos, que, acreditava, explicava a flexibilidade social:

E no meio de todas essas manifestações, eu só fico a pensar nesta coisa melancólica. Se eu dissesse que na minha cidade eu não poderia ser professor pela simples razão de não ter um título de doutor e não ser católico praticante, eles cairiam para trás de surpresa.53 53 Érico Veríssimo a Henrique Bertaso, 8 de novembro de 1943, Acervo do EV, IMS.

Veríssimo queria ficar o suficiente para ultrapassar as impressões superficiais e chegar a um ponto no qual ele poderia entender por que o país funcionava tão bem, mesmo no meio de um caos. Essa questão seria tema de seu segundo livro nos Estados Unidos, Volta do Gato Preto. Embora o livro tenha sido proposto para ser um registro de sua rotina diária, partes importantes de sua experiência foram inteiramente omitidas, uma vez que ficara frustrado com as respostas que buscava. Veríssimo pode ter percebido o que se passava no alerta que Lewis Hanke deu para outro escritor brasileiro em sua chegada aos Estados Unidos: "se você quer escrever um livro sobre um país, três meses é o período certo. Se não, você terá de morar ali por dez anos." O choque de novidades gerava uma reação inicial que, acreditava Hanke, se perdia depois na batalha para se entender as contradições profundamente enraizadas nas rotinas do dia a dia.54 54 Observação feita pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda em uma entrevista, ao se lembrar de uma conversa em 1941, quando visitou os Estados Unidos a convite do Departamento de Estado. Ver Sérgio Buarque de Holanda e Richard Graham, "An Interview with Sérgio Buarque de Holanda," Hispanic American Historical Review, vol. 62, 1982, p. 14.

Em sua segunda e mais longa permanência nos Estados Unidos, o Departamento de Estado proporcionou excursões nas quais ele pôde apresentar palestras sobre o Brasil e suas esperanças no Pan-americanismo para uma grande variedade de grupos locais. Conforme as estimativas da pesquisa que realizei, com base nos arquivos e registros do Departamento de Estado sobre Veríssimo, entre 1943 e 1945 ele falou para não menos que 200 grupos, viajando a todas as partes do país para discursar em clubes civis, clubes de senhoras, grupos universitários, associações de negócios e instituições religiosas. Sua audiência nos eventos era de centenas de pessoas e, em uma de suas palestras, seis mil pessoas apareceram para ouvi-lo. Veríssimo falou no rádio e foi convidado para batizar um destroyer em homenagem ao diplomata brasileiro Barão do Rio Branco.

Entrevistado em um programa de rádio de Sacramento, Califórnia, Veríssimo falou sobre o quanto a Califórnia lembrava sua terra natal:

A luz do sol – o cheiro das árvores está no ar –, o plátano, as magnólias e até mesmo o semblante das pessoas. Outra coisa, eles não se apressam – é um traço dos brasileiros. [...] as pessoas da costa leste e de New England são um pouco diferentes [dos brasileiros], ao contrário dos californianos. Há muitas influências estrangeiras, e uma similaridade climática e paisagística torna os brasileiros e os californianos muito parecidos. Você sabe, acredito que a geografia e o ambiente influenciam muito a alma de um povo.55 55 Érico Veríssimo – entrevistado por Eloise Keeler no programa de rádio "At Your Service" KFBK, 1530 (Sacramento, California), 9:00 AM, Tuesday, 3 July, 1944, transcrito no Acervo do EV, IMS.

Como sempre, a entrevistadora pediu-lhe que falasse sobre as relações raciais no Brasil. Em sua resposta, Veríssimo mencionou a unidade cultural do povo brasileiro e, mesmo com as diferenças raciais, o espírito dos brasileiros era repartido através das raças, sem que houvesse distinção racial na forma como as pessoas falavam o português. Com um toque de humor, Veríssimo acrescentou que o Brasil era especial porque Deus é brasileiro. "E agora, o que eu vou responder?", perguntou a entrevistadora. "Não responda – apenas acredite!", Veríssimo brincou, e a entrevistadora respondeu: "Dizem que nós, os californianos, alegamos que tudo aqui é maior e melhor, mas não fazemos afirmações tão brilhantes como as que você faz."

O assunto da conversa mudou para a contribuição do Brasil na guerra. Veríssimo falou sobre seus textos contra os nazistas, assim como as ameaças que recebeu de fascistas brasileiros. Desde que o Brasil havia entrado na guerra, a Marinha patrulhava o sul do Atlântico para destruir submarinos e destroyers alemães, os soldados lutavam na campanha italiana e os agentes federais brasileiros capturavam os sabotadores alemães e seus colaboradores brasileiros. O Brasil estava desempenhando seu papel na guerra, ele garantiu aos seus ouvintes, mas os alertou sobre os sabotadores morais que estavam tentando ativamente quebrar a aliança entre Estados Unidos e Brasil:

Axis sympathizers try to tell Brazilians that you Americans are just an imperialist country and that you are not interested in pure friendship. You just want markets for your products. I think we must at all costs try to promote a better understanding between North and South America.56 56 "Simpatizantes do Eixo tentam dizer aos brasileiros que os Estados Unidos são apenas um país imperialista e não estão interessados em uma amizade genuína. Querem apenas mercados para seus produtos. Acho que nós devemos, a todo custo, tentar promover um melhor entendimento entre a América do Norte e a América do Sul."

Quando questionado sobre como atingir uma "melhor compreensão," Veríssimo advertiu:

Through the work of honest, clever, and good willing writers who are more interested in serving inter-American relations than to make sensational statements or just best sellers. By sending down to Brazil students and women and not only big shots. Increasing the visits of women between both countries was important because when [women] like a place they will talk and talk and talk in a very effective way about that place. And they generally are not so much interested in business, but in human relations.57 57 Entrevista com Érico Veríssimo no programa "At Your Service" KFBK, 1530 (Sacramento, California), 9:00 AM, Tuesday, 3 July, 1944, transcrito no Acervo do EV, IMS. "Mediante o trabalho de escritores honestos, hábeis e de boa vontade, que estejam mais interessados em servir à relação interamericana do que fazer declarações sensacionais ou apenas best-sellers. Enviando também estudantes e mulheres ao Brasil e não apenas pessoas muito importantes. Aumentar as visitas das mulheres entre os dois países era importante, pois quando [as mulheres] gostam de um lugar, elas falam, falam e falam de forma efetiva sobre o que viram. E, geralmente, elas não se interessam tanto por negócios, mas sim por relações humanas."

As conversas de Veríssimo eram bem-humoradas, e isso era um ponto que ele mesmo enfatizava: uma nação na qual cidadãos médios têm um senso de humor bem desenvolvido não tenderá para o fascismo ou o comunismo. Norte-americanos e brasileiros não se levavam muito a sério, então, nenhum dos dois países corria o risco de ser dominado por um movimento radical. Porém, disse à sua audiência norte-americana que havia líderes nos negócios e na política, em ambos os países, que se levavam muito a sério. Se houvesse algum problema na relação entre Estados Unidos e Brasil, a causa seriam os homens sérios e importantes da elite.58 58 Bess M. Wilson, "Brazilian Views Told by Author," Los Angeles Times, 6 November, 1944, p. A6. Em contraste com a avaliação de Veríssimo, Selden Chapin, oficial e assistente-chefe da Division of the American Republics (Divisão das Repúblicas Americanas) do Departamento de Estado, fez um memorando para avisar ao Departamento que os visitantes norte-americanos no Brasil deveriam evitar o humor, já que os brasileiros não tinham oradores que faziam piadas em seus discursos (Chapin, "Need of Cultural Relations with Brazil," 5 April, 1937, NA/DS/RG59, Lot Files, Entry 209, Office of American Republic Affairs, Its Predecessors, and Its Successors, Memorandums Relating to General Latin American Affairs, Country File B24). Em um discurso para o Town Hall59 59 Associação civil privada que organizava (e ainda organiza) encontros públicos sobre problemas contemporâneos (N.T.). de Los Angeles, Veríssimo alertou sua audiência que as relações com o Brasil poderiam se deteriorar, pois as forças armadas, muitos líderes na Igreja Católica e grupos comunitários germano-brasileiros afirmavam que os Estados Unidos eram materialistas, sem religião, imorais e imperialistas. Veríssimo falou da importância dos filmes e dos visitantes norte-americanos, já que o cidadão brasileiro julgava uma pessoa não pelos boatos que escutava, mas pelo que via. Pediu, em seguida, para que seus ouvintes dessem mais atenção à forma como os outros viam o seu país.60 60 "Relations with Brazil Reported Deteriorating: Brazil Cools toward U.S.," Los Angeles Times, 14 November, 1944, p. A1.

As falas de Veríssimo eram parte de um amplo programa para influenciar a opinião pública nos Estados Unidos. Os especialistas que examinavam o programa de distribuição de filmes estabelecido pela Agência de Assuntos Interamericanos estimaram que, a cada mês, aproximadamente cinco milhões de pessoas nos Estados Unidos assistiam aos "filmes patrocinados pelo Office of Inter-American Affairs (OIAA – Agência de Assuntos Interamericanos) sobre temas latino-americanos em escolas, faculdades, centros comunitários, clubes, igrejas e em todo lugar." O objetivo era

inspirar uma 'visão simpática' sobre a América Latina e um interesse positivo pela região como objeto de estudo, viagem ou investimento. Mais especificamente, infundir uma disposição positiva para as políticas de Boa Vizinhança de Roosevelt e uma apreciação da importância estratégica e econômica da região para os Estados Unidos.61 61 Gisela Cramer e Ursula Prutsch, "Nelson A. Rockefeller's Office of Inter-American Affairs (1940 – 1946) and Record Group 229," Hispanic American Historical Review, vol. 86, 2006, p. 795.

Programas falados permitiam às audiências desenvolver um entendimento mais pessoal sobre o outro país, pois o apresentador conhecia a audiência e sabia o que fazer para as pessoas responderem de forma positiva. Veríssimo tinha talento para isso, o que fez dele um valioso orador da Política da Boa Vizinhança, particularmente em áreas do país que haviam sido baluartes do sentimento isolacionista.62 62 Seth Garfield notou que o America First Committee (Primeiro Comitê da América), organização isolacionista primária dos Estados Unidos, havia abraçado o pan-americanismo como alternativa para a guerra na Europa e na Ásia. Uma divisão pan-americana de trabalho poderia prover os Estados Unidos com commodities tropicais – como borracha, essencial para a larga produção industrial –, mas que vinham das colônias europeias na Ásia e na África. Ver Garfield, "A Amazônia no imaginário norte-americano em tempo de guerra," Revista Brasileira de História, vol. 29, 2009, p. 19-65.

A visita de Veríssimo a Abilene, no Texas, em março de 1945, pôde oferecer uma noção do que a Política da Boa Vizinhança significava como aspeto da vida quotidiana. Abilene era, na época, uma cidade de médio porte, com 50 mil habitantes, em meio à região do gado e do petróleo, no noroeste do Texas. Situa-se nas Grandes Planícies, no coração da Bible Country.63 63 Termo informal usado no jornalismo norte-americano para identificar as regiões sudeste e centro-sul dos Estados Unidos, onde o protestantismo evangélico tem sido uma característica definidora da cultura regional e a frequência à igreja é maior do que nas outras regiões. (N.A.) Na época da visita de Veríssimo, Abilene não era uma comunidade cosmopolita, nem um lugar de grande diversidade. Cerca de 600 pessoas apareceram para participar das atividades da tarde na Faculdade Cristã de Abilene, encontrando o local decorado com as bandeiras dos Estados Unidos e do Brasil e com apetrechos relacionados aos vaqueiros norte-americanos e brasileiros. Após cantarem "Star-Spangled Banner"64 64 "A Bandeira Estrelada", hino dos Estados Unidos. (N.T.) , a audiência cantou o Hino Nacional Brasileiro traduzido para o inglês. Seguiu-se, então, um repertório de canções populares norte-americanas e brasileiras, sendo todos encorajados a cantar acompanhando as letras traduzidas e projetadas em uma tela, acima das letras originais. Na ocasião, duas canções apresentadas em português deram ao público uma noção de como soavam na língua original.

Após o programa cultural, Érico Veríssimo discursou durante 50 minutos, projetando slides intitulados "Brasil, o gigante dócil" ("Brazil, the gentle giant"). A fala de Veríssimo foi bem-humorada, mas ele aproveitou a oportunidade e a boa vontade que havia gerado em seus ouvintes para apresentar críticas amigáveis aos Estados Unidos, insistindo em falar sobre a longa história da desigualdade racial e sobre o perigo das leis segregacionistas. O Texas era um estado com aplicação rigorosa das leis de Jim Crow65 65 As leis de Jim Crow foram leis estaduais, promulgadas entre 1876 e 1965 nos estados do Sul, e estabeleciam a segregação racial em todas as instalações públicas, anulando os direitos políticos e civis dos afro-americanos. (N.A.) , mas Veríssimo seguiu inabalável, como se estivesse na Califórnia ou em Nova Iorque. Ele comparou a situação dos Estados Unidos com o legado da miscigenação no Brasil, sem chegar a afirmar que o país havia alcançado totalmente a igualdade racial. Mencionou ainda a inclinação dos norte-americanos para o excesso de trabalho e para a posse de bens materiais, tratando também da desinformação dos meios de comunicação sobre a América Latina, dando exemplos da maneira como o Brasil era representado em filmes ou na imprensa. Veríssimo esperava que a comunicação entre os dois países aumentasse, tal como ocorrera no dia do evento, e que o Brasil fosse tão familiar para os norte-americanos quanto eram a Inglaterra ou a França.

Ao final de sua fala, foi ovacionado pelo público. O evento foi encerrado com um buffet, que serviu, segundo dizia o cardápio, "comida típica brasileira"66 66 Ainda que o cardápio não apresentasse maiores identificações dos pratos, "churrascaria" era, certamente, semelhante ao barbecue texano. e a oportunidade para os presentes conversarem pessoalmente com o orador. Veríssimo considerou o evento um grande sucesso. Tocado pela apresentação, o diretor da faculdade ofereceu-lhe um contrato de trabalho por um ano. Ao longo de uma viagem de três semanas pelo Texas, Oklahoma, Kansas e Kentucky, Veríssimo falou em 19 locais para audiências entusiasmadas. Veríssimo havia criado uma forma toda própria de estabelecer conexão dos cidadãos médios norte-americanos com o Brasil. Cidades como Abilene, no Texas, eram importantes para se atingirem os objetivos de longo prazo do programa, porque as dúvidas relacionadas ao mundo haviam chegado ali. Se o novo projeto de afirmação dos Estados Unidos como líder do mundo pós-guerra não quisesse ser vítima dos sentimentos isolacionistas profundamente enraizados, os cidadãos dessa e de outras comunidades provincianas precisavam ser persuadidos.67 67 Érico Veríssimo a Henrique Bertaso, 14 de fevereiro de 1945; 17 de abril de 1945.

Em meados de 1945, quando chegou a hora de voltar para casa, Veríssimo avaliou se não poderia ser mais feliz permanecendo nos Estados Unidos. Suas relações com editores norte-americanos eram excelentes, tanto assim que, em 1943, começara a esboçar um romance épico que seria reconhecido como sua obra de arte, O tempo e o vento.68 68 Em suas memórias, Veríssimo disse que pensara em escrever a saga do Rio Grande do Sul em 1935, durante o centenário da Guerra dos Farrapos, mas pediu mais tempo para elaborar a estrutura da história (Érico Veríssimo, Solo de clarineta: Memórias, vol. 1, Porto Alegre, Editora Globo, 1973, p. 288). Os editores da Macmillan o encorajaram a escrever um romance histórico que narrasse a colonização e o desenvolvimento do Brasil, garantindo-lhe que muitos leitores ao redor do mundo amavam sagas ambiciosas. Na primeira reunião com os editores da Macmillan, em 1941, eles trouxeram E o vento levou (Gone with the wind), de Margaret Mitchell, e o romance de Richard Llewellyn sobre uma família de galeses que trabalhavam em minas de carvão, Como era verde o meu vale (How green was my valley), como modelos de colaboração bem sucedida entre editores e autores. Era possível transformar um escritor desconhecido em um sucesso internacional, com a ajuda de adaptações cinematográficas de Hollywood para vender os livros em cada parte do mundo. Por que então um autor brasileiro não poderia contar histórias autênticas de seu próprio povo e se tornar famoso?

Alianças acabam, relações se tornam profundas

A avaliação do governo brasileiro no pós-guerra sobre os programas de intercâmbio cultural com os Estados Unidos foi muito positiva. Um relatório feito para a Secretaria de Estado das Relações Exteriores, em 1948, ressaltou a crescente disponibilidade de informações acuradas sobre o Brasil nos Estados Unidos depois de uma década de esforços do governo norte-americano. O relatório indicou a importância da publicação de livros capazes de sintetizar as leis brasileiras para os negócios e o trabalho, bem como material que explicava os princípios do sistema jurídico brasileiro. Informações mais detalhadas sobre história, geografia, sociedade e economia brasileiras estavam disponíveis para os norte-americanos. O autor do relatório notou uma expansão significativa de programas de ensino da língua portuguesa e ressaltou que seus estudantes aprendiam a gramática e o vocabulário brasileiro. Artistas, músicos e escritores brasileiros ficaram mais conhecidos por lá, dando aos norte-americanos uma ideia do que era o sentimento brasileiro sobre sua nação e sua cultura. O relatório concluiu que o intercâmbio cultural aumentou a compreensão sobre o Brasil e que a colaboração com esses programas deveria continuar.69 69 Arquivo 6921/914, Índice: Conhecimento sobre o Brasil nos Estados Unidos, 19 de novembro de 1948, nos arquivos da Secretaria de Estado das Relações Exteriores, Arquivo Histórico do Itamaraty.

No pós-guerra, o Brasil industrializou-se rapidamente, mas o padrão de vida estagnou para muitos e a pobreza se aprofundou em diversos estados. A economia mundial nesse período exacerbou muitas das desigualdades há tempos presentes no país. A classe média urbana também se tornara uma vítima desse processo com uma queda acentuada na renda. Os efeitos sobre o mercado editorial no Brasil foram particularmente dramáticos. Os editores haviam prosperado durante os anos da guerra, mas, após 1945, seus negócios cresceram de maneira cada vez mais precária. A Editora Globo foi forçada a reduzir custos, cortando gastos com traduções, pois o controle de câmbio estrangeiro por parte da política governamental limitou as remessas de royalties. Além do mais, os editores norte-americanos e europeus consideravam que o mercado brasileiro tinha pouco a oferecer. Entre 1945 e 1960, o número de livros estrangeiros traduzidos para o português diminuiu 80 por cento.70 70 L. Hallewell, Books in Brazil: A History of the Publishing Trade, Metuchen, New Jersey, Scarecrow Press, 1982, p. 235. A Editora Globo, que crescera antes da Segunda Guerra Mundial ao apresentar os leitores brasileiros (a princípio, a classe média urbana) à literatura contemporânea da Europa e da América do Norte, respondeu à crise pós-guerra eliminando a literatura estrangeira de suas listas, o que não levou ao aumento da publicação de autores nacionais. A nova estratégia de sobrevivência da empresa foi mudar para a publicação de livros didáticos, textos técnicos e obras de referência, como dicionários. Com a crise econômica, os compradores de livros deixaram de ser os leitores individuais, especialmente pela situação da classe média. O sistema educacional, as agências governamentais e as corporações privadas em expansão tornaram-se os principais compradores de livros no país. Além de livros técnicos, a editora, juntamente com outros editores brasileiros, aumentou o número de traduções de clássicos universais — livros de importância histórica que estavam em domínio público e exigiam apenas despesas com o pagamento ao tradutor. Esses livros atendiam ao mercado acadêmico e a um crescente público que gastava pouco, mas desejava ganhar familiaridade com as obras clássicas da cultura ocidental. A publicação de documentos históricos brasileiros também cresceu, uma vez que sua publicação não exigia direitos autorais e era de interesse para as bibliotecas.71 71 Hallewell, Books in Brazil, p. 235, 275, 334.

Nessa época, as responsabilidades de Veríssimo na Editora Globo não tomavam muito seu tempo e ele podia se dedicar a escrever. Ainda que seus livros continuassem a vender razoavelmente bem, a renda dos royalties diminuía e, algumas vezes, era esporádica. Os royalties que recebia da Macmillan pelas vendas nos Estados Unidos e em outros mercados estrangeiros, ainda que não fossem grandes somas, ganharam cada vez mais importância e possibilitavam manter um padrão de vida modesto — porém confortável –— para ele e sua família. Na década de 1950, entretanto, as mídias de massa norte-americanas também atravessaram uma crise. Hollywood entrou em rápido declínio, à medida que mais consumidores ficavam em casa para assistir televisão. As revistas de circulação em massa, como a Life, assistiram uma diminuição constante nas assinaturas e na renda vinda dos anunciantes, os clubes de livros decaíam e a indústria do livro não poderia mais contar com os métodos desenvolvidos no período de entre-guerras para movimentar seu negócio. No início da década de 1950, o jornal de comércio industrial Publisher's Weekly explorava as novas estratégias dos editores para manter e aumentar as vendas, que incluíam uma crescente aposta nos prêmios literários nacionais, para identificar os títulos que os leitores desejavam ler, e maior divulgação das obras nas livrarias. A grande lição que os editores receberam com essa mudança nos costumes dos leitores foi que estes tinham de ser incentivados a ler. Boas histórias e personagens fortes não eram mais suficientes. O sexo explícito aumentava as vendas, mas um outro caminho para o sucesso comercial era gerar polêmicas sobre o livro ou o autor.72 72 "TV Effect on Book Buying Is 'Nil,' ABA Reports," Publishers Weekly (6 January, 1951), 21; "Specialists to Confer on Book Use and Reading," Publishers Weekly, 13 January, 1951, p. 6-7; "Nation's Business at High Level: 1951 to Bring Retail Boom", Publishers Weekly, 13 January, 1951, p. 127-129; "Summary of Events and Trends, 1950, in the American Book Trade," Publishers Weekly, 20 January, 1951, p. 221-226; "U.S. Economy Now at Record High: How Will It Affect the Book Trade?" Publishers Weekly, 5 January, 1952, p. 21; "Will the 'Award Books' Be Featured in Your Store?" Publishers Weekly, 5 January, 1952, p. 40; "Tips for the Bookseller," Publishers Weekly, 16 August, 1952, p. 700-701; "Sales Appeal," Publishes Weekly, 13 September, 1952, p. 992; "For 1953, Sales Expansion Both Bottom and Top," Publishers Weekly, 3 January, 1953, p. 41; "The Promotion of Reading Will Be Vigorous in 1953," Publishers Weekly, 10 January, 1953, p. 133; "Summary of Events and Trends, 1952, in the American Book Trade," Publishers Weekly, 24 January, 1953, p. 269-272; "Highlights of 1956 News and Trends in the U.S. Book Industry," Publishers Weekly, 21 January, 1957, p. 47-60. Ver também Priscilla Coit Murphy, "'Down with Fiction and Up with Fact': Publishers Weekly and the Postwar Shift to Nonfiction," Publishing Research Quarterly, Fall 1998, p. 29-52; e Evan Brier, A Novel Marketplace: Mass Culture, the Book Trade, and Postwar American Fiction, Philadelphia, University of Pennsylvania Press, 2009, p. 109-115. Ironicamente, o crescente anticomunismo de Veríssimo o fez menos interessante à crítica e aos leitores nos Estados Unidos, que desejavam ler sobre movimentos revolucionários na América Latina. A polêmica no Brasil de que ele era um agente do governo norte-americano não tinha valor mercadológico para os Estados Unidos, particularmente depois de 1958, e a Revolução Cubana havia se tornado o foco de atenção no país.

Veríssimo manteve ligações com os Estados Unidos até sua morte, em 1975. Ele morou na capital do país, Washington, por três anos, em meados da década de 1950, quando era diretor de intercâmbio cultural da União Pan-Americana. Seu romance Noite foi adaptado para um drama televisivo produzido para "The Alcoa Hour"73 73 Série de televisão transmitida entre 1955 e 1957 e patrocinada pela produtora de alumínio Alcoa Inc. (N.T.) , em 1957, e, apesar da presença de grandes astros, como Jason Robards e E. G. Marshall, ele não considerou a adaptação bem sucedida. Sua filha casou-se com um norte-americano, e Veríssimo tinha três netos que moravam na Virgínia. Com sua esposa, visitavam seus familiares nos Estados Unidos com regularidade, permanecendo, muitas vezes, por meses. Nessas visitas, ele reassumia a rotina de viajar pelo país dando palestras. Veríssimo sentia que a sociedade norte-americana, apesar da imensa riqueza de que desfrutava, havia se tornado mais feia e cruel depois da Segunda Guerra Mundial. A liderança dos Estados Unidos sobre o mundo democrático" ganhou uma forma cínica, com o ideal nacional evocado, mas raramente seguido. Em 1968, Veríssimo escreveu um artigo que refletia o desapontamento com relação às esperanças que o moviam em 1941:

Os Estados Unidos emergiram da segunda Guerra Mundial como os líderes naturais do mundo ocidental. Para essa tarefa estavam sem a menor dúvida preparados materialmente [...] No entanto suas elites intelectuais [...] constituem uma classe de párias, de marginais praticamente sem voz em assuntos políticos e sociais e principalmente na direção das relações exteriores do país, de sorte que tem faltado uma orientação humanista à gerência americana desta parte do mundo. Na minha opinião o erro inicial e básico de novo Big Leader foi o de imaginar que tudo quanto é bom para os Estados Unidos tem de ser necessariamente bom para o resto do mundo, sem levar em conta fatores étnicos, etnológicos, históricos ou mesmo folclóricos. Imaginaram os estadistas de Tio Sam que o American Way of Life não só podia como devia ser exportado. [...] Ora, as nações, como as crianças, têm a faculdade de se encantarem ou assustarem com suas próprias ficções. Os americanos, que eu saiba, jamais examinaram a sério a sua mitologia.74 74 Érico Veríssimo, "Gato Grisalho em Teto de Zinco" (artigo de 1968 sobre os Estados Unidos, 20 anos depois da Segunda Guerra Mundial), texto no Acervo do EV, IMS.

Veríssimo permanecia anticomunista e via a revolução em Cuba como um desastre e não como o arauto do destino mundial. O debate que ele, como autor, travou ao mesmo tempo com a sociedade norte-americana e a esquerda latino-americana tomou forma no romance O Senhor Embaixador, publicado em 1965, em inglês e português. Os capítulos do livro mostravam, em toda a América Latina, o entusiasmo da esquerda pelas revoluções ao estilo de Cuba. O discurso revolucionário de que todos poderiam se tornar "novos homens" por meio de ações heroicas conduziu apenas à ditadura, Veríssimo argumentou, mais propensa à direita do que à esquerda, mas, em ambos os casos, era uma ditadura que valorizava a violência em detrimento dos direitos humanos. Ele via as perspectivas, tanto nos Estados Unidos quanto na América Latina, como destrutivas e, em última análise, niilistas. Em vez de reformas, responsabilidade e compromisso, ambas as culturas foram tomadas por vórtices de violência que uma guinada política vai inevitavelmente gerar. Essa mensagem confundiu muitos críticos nos Estados Unidos que queriam ver uma crítica mais profunda sobre as políticas norte-americanas e não análises equilibradas. Porém, o livro foi bem sucedido, e um produtor de Hollywood comprou os direitos da obra com a ideia, que acabou fracassando, de transformá-lo em um filme estrelado por Paul Newman.

O romance seguinte de Veríssimo, O Prisioneiro, publicado em português em 1967, também nasceu diretamente de seu engajamento com a sociedade norte-americana. A história de um líder de pelotão norte-americano que captura e tortura um soldado vietnamita pode ter desempenhado o papel que os defensores do intercâmbio cultural haviam imaginado no início do século XX: uma vez que os Estados Unidos estavam às voltas com profundas divisões internas a respeito da guerra do Vietnã e uma política externa com diretrizes decisivas com relação à guerra, a contribuição para o debate de vizinhos com uma perspectiva independente, ainda que simpáticos ao país, exigia uma melhor avaliação. Estaria Veríssimo questionando que forças políticas e culturais transformaram o bom soldado da Segunda Guerra Mundial em um monstro? Como a militarização de uma sociedade corroeu as normas que incentivavam a decência e o respeito pela lei? Essas questões apontavam claramente para o Brasil, à medida que o governo militar, instalado em 1964 com a ajuda dos Estados Unidos, confrontava uma guerrilha de esquerda e escolhia combatê-la sem restrições legais ou humanitárias.

Nos Estados Unidos, as questões levantadas em O Prisioneiro não foram consideradas, porque o livro nunca foi traduzido para o inglês. Em 1966, uma corporação multinacional comprou a Macmillan, empregando novas técnicas empresariais para alavancar as novas aquisições que precisavam aumentar suas margens de lucro para pagar os custos da compra. A nova administração buscava organizar uma lista de autores menor e insistia em obter uma grande média na venda dos títulos. Mais da metade dos autores que a Macmillan havia publicado foram descartados, Veríssimo inclusive. Sua agente em Nova Iorque, Lucille Sullivan, da prestigiosa e tradicional Maurice Crain Agency, teve dificuldade em encontrar uma nova editora norte-americana para publicar seus livros. Ela tentou colocá-lo na Knopf, editora de Jorge Amado, mas as palavras de incentivo de Alfred Knopf escondiam sua profunda mágoa com o fato de Veríssimo ter sido bem sucedido na Macmillan. De certa forma, ele ficara feliz porque o maior concorrente brasileiro de Jorge Amado no mercado editorial norte-americano tinha problemas.

Sem sucesso no acordo com a Knopf, Sullivan negociou um contrato com a Greenwood Press, uma editora comercial de grande importância nos mercados de ciências sociais e direito, que desejava expandir seus negócios para o mercado de ficção. A Greenwood Press concordou em reimprimir todas as traduções de Veríssimo, tanto em brochura quanto em capa dura, e publicar seus trabalhos futuros. Mas, como a crise econômica de 1969-1971 se aprofundou, a editora ficou sobrecarregada devido a sua nova linha de livros de ficção. Os donos foram forçados a vender a firma para uma companhia multinacional, que, ao reorganizá-la, eliminou inteiramente o departamento de ficção. Sullivan decidiu então se aposentar, e a Maurice Crain Agency fechou as portas, outra vítima da crise econômica. A agência que passou a representar Veríssimo em 1971 não tinha ligações pessoais com ele, enquanto a geração de agentes e editores com quem ele havia trabalhado acabou ou estava acabando. Seus novos agentes lidavam com as oportunidades à medida que elas surgiam, sem ter grandes estímulos para salvar a carreira de um escritor cujo apogeu, pelo menos nos Estados Unidos, havia passado e cujos livros expressavam perspectivas culturais da geração anterior, que desaparecia.

No final da vida, Veríssimo voltou para o mercado brasileiro, que começara a crescer rapidamente. Ele tinha muitos leitores no Brasil, mas se decepcionou com o fato de seus leitores diminuírem em outros países, incluindo a América Latina, já que não havia uma editora norte-americana para representá-lo. O sucesso de Veríssimo nos Estados Unidos sempre tendeu a ser temporário, pois, em geral, poucos autores eram lidos pelas gerações seguintes. Sua reputação diminuía, assim como a de autores norte-americanos que ele conhecia e admirava, como Thornton Wilder, John Dos Passos, Hendrik Van Loon ou Aldous Huxley.

Veríssimo teve seu momento de fama nos Estados Unidos, em parte porque seu ponto de vista e seu estilo adequavam-se às expectativas de uma geração particular de leitores. Além disso, os anos de 1940 e 1970 foram o auge do interesse norte-americano por culturas estrangeiras, calculado pelo número de traduções publicadas e de filmes estrangeiros vistos. Um fator importante para a diminuição das traduções foi a reorganização do mercado editorial norte-americano, iniciada na década de 1960, quando firmas multinacionais compraram as grandes editoras do país. Aumentou a exigência de que os títulos deveriam atingir um mínimo de vendas. As mudanças nos modelos de negócios dificultavam a aprovação de traduções devido aos gastos adicionais envolvidos e às questões relacionadas à aceitação de autores desconhecidos. Autores como Paulo Coelho ou Stieg Larsson podiam ser traduzidos, uma vez que sua popularidade já estava consolidada e um plano de marketing, desenvolvido. Todavia, os escritores cujos trabalhos são desconhecidos raramente são oferecidos para o público em geral.

Nos Estados Unidos, somente acadêmicos especializados discutem esses trabalhos, e suas análises críticas reforçam a convicção corporativa de que autores de prestígio provavelmente não atraem leitores fora da universidade. A queda nas traduções teve efeitos políticos e ideológicos para os Estados Unidos. No mínimo, foi um sinal de relativa irresponsabilidade para com a perspectiva de uma cidadania globalizada para o país. Porém, as elites políticas e econômicas dos Estados Unidos também se tornaram cada vez mais descompromissadas com o próprio público nacional. Talvez, considerando-se a maneira como as lideranças têm crescido habituadas a agir sem qualquer compromisso público, não é surpreendente que não tenha aparecido ainda, saído das fileiras de ex-secretários de Estado, algum defensor lutando pela derrubada do isolamento cultural norte-americano.

Artigo recebido em 10 de dezembro de 2012 e aprovado para publicação em 25 de janeiro de 2013. Revisão técnica da tradução: Luciano Figueiredo e Martha Abreu

  • 1 Sobre a história dos programas de intercâmbio cultural do governo norte-americano, ver Richard T. Arndt, The First Resort of Kings: American Cultural Diplomacy in the Twentieth Century, Washington, Potomac Books, 2005;
  • Frank A. Ninkovich, The Diplomacy of Ideas: U.S. Foreign Policy and Cultural Relations, 1938-1950, Cambridge, Cambridge University Press, 1981;
  • J. Manuel Espinosa, Inter-American Beginnings of U.S. Cultural Diplomacy, 1936-1948, Washington, Bureau of Educational and Cultural Affairs, Department of State, 1976,
  • uma história semioficial escrita por um membro da Division of Cultural Affairs (Divisão de Assuntos Culturais); Ruth Emily McMurray e Muna Lee, The Cultural Approach: Another Way in International Relations, Chapel Hill, University of North Carolina Press, 1947,
  • uma comparação dos esforços norte-americanos para o intercâmbio cultural com os de várias outras grandes potências mundiais, escrita por veteranos do programa norte-americano. Os programas do Departamento de Estado fundamentados em princípios de intercâmbio em ambas as direções foram ofuscados na literatura histórica pela discussão do Office of Inter-American Affairs (OIAA - Escritório de Assuntos Interamericanos), criado por Franklin Delano Roosevelt dentro da Casa Branca, liderada por Nelson Rockefeller. Os programas culturais do OIAA direcionavam-se para projetar as posições políticas dos Estados Unidos na América Latina, mas também incluíam o envio de escritores, artistas, cineastas e fotógrafos norte-americanos à América Latina, a fim de desenvolverem trabalhos para audiências norte-americanas sobre seus aliados na Pan American Union (União Pan-Americana). As atividades do OIAA incluíram programas comerciais, bem como a supervisão de empreiteiros na construção de bases militares e a criação de programas de saúde pública, em geral, garantindo que os objetivos estratégicos dos Estados Unidos na América Latina permanecessem nos trilhos. Ver Richard T. Arndt, "Welles, MacLeish, and Fulbright as Architect-Exemplars of Early Postwar Cultural Diplomacy," disponível em http://streitcouncil.org/uploads/PDF/As%20Architect-Exemplars%20-%20Arndt.pdf,
  • e Arndt, The First Resort of Kings, p. 75-97.Gisela Cramer and Ursula Prutsch, "Nelson A. Rockefeller's Office of Inter-American Affairs (1940-1946) and Record Group 229," Hispanic American Historical Review, vol. 86, 2006, p. 785-806.
  • 2 Pattee, nascido no Arizona, em 1906, estudou na Universidade do Arizona e na Universidade Católica da América. Desenvolveu trabalhos sobre a era colonial equatoriana, mas também escreveu sobre o Haiti e o Brasil. Suas publicações frequentemente se concentravam no papel da Igreja Católica na América Latina, analisando largamente sua contribuição para o desenvolvimento social em termos positivos, por meio do foco em movimentos dentro da igreja para reivindicar a independência da dominação da Coroa durante o período colonial e, mais tarde, após a independência, atuando como um regulador do poder arbitrário dos líderes nacionais. Seu trabalho incluiu também o interesse, pouco comum para a época, pela cultura afro-americana em todo o hemisfério ocidental. Suas publicações revelaram que, além de sua determinação em defender a Igreja Católica como fonte de progresso estável, ele era um seguidor do antropólogo cubano Fernando Ortiz e foi influenciado pela concepção deste de "transculturação," na qual culturas americanas podem ser vistas como emergentes ao longo do tempo, mediante um processo de culturas diaspóricas inicialmente convergentes. Seus livros incluem Jean-Jacques Dessalines, fundador de Haití, Havana, Molina, 1936,
  • Gabriel García Moreno e a sua contribuição científica no Equador, Lisboa, Sociedade Industrial de Tipografia, 1937,
  • García Moreno y la política internacional ecuatoriana, Quito, Romero, 1939,
  • The Catholic Revival in Mexico, New York, The Paulist Press, 1944,
  • Introducción a la civilización hispanoamericana, Boston, Heath, 1945,
  • El catolicismo contemporáneo en Hispanoamérica, Buenos Aires, Editorial Fides, 1951 e Haití
  • , pueblo afroantillano, Madrid, Ediciones Cultura Hispánica, 1956.
  • Foi professor-assistente de História na Universidade de Porto Rico antes de 1938, quando se juntou à Divisão de Assuntos Culturais. Demitiu-se do Departamento de Estado em 1945 para se tornar professor de História na Universidade Católica da América. 3 Richard Pattee, "The Role of the Teacher of Spanish in the Promotion of Inter-American Cultural Relations," Hispania, vol. 22, 1939, p. 236.
  • 4 Memorando de Pattee nos documentos do Departamento de Estado norte-americano, Record Group (RG) 59, Decimal File for 1930-1939, 841.43/30, National Archives, Washington; reproduzido integralmente em J. Manuel Espinosa, Inter-American Beginnings of U.S. Cultural Diplomacy, Washington, D.C., Bureau of Educational and Cultural Affairs, U.S. Department of State, 1976, p. 167-169.
  • Ver também Helen R. Pinkney, "The Division of Cultural Cooperation," unpublished TS, December 1945, in RG 59, War History Branch Studies, box 10: CU file.5 Ver também Richard Pattee, "Review," Journal of Negro History, vol. 23, 1938, p. 383.
  • Os programas do Departamento de Estado fundamentados em princípios de intercâmbio foram ofuscados na literatura histórica pela discussão do Office of Inter-American Affairs (Escritório de Assuntos Interamericanos), criado por Franklin Delano Roosevelt dentro da Casa Branca, liderada por Nelson Rockefeller. O OIAA concentrava-se em projetar as posições políticas dos Estados Unidos na América Latina. Suas atividades eram amplamente fundamentadas, como coordenar programas culturais e comerciais, além de supervisionar empreiteiros na construção de bases militares, criando programas de saúde pública e, em geral, garantindo que os objetivos estratégicos dos Estados Unidos na América Latina permanecessem nos trilhos. Ver Richard T. Arndt, "Welles, MacLeish, and Fulbright as Architect-Exemplars of Early Postwar Cultural Diplomacy," disponível em http://streitcouncil.org/uploads/PDF/As%20Architect-Exemplars%20-%20Arndt.pdfeArndt, The First Resort of Kings, p. 75-97.
  • Quanto às declarações oficiais da Divisão de Relações Culturais, ver Ben M. Cherrington, "The Division of Cultural Relations," Public Opinion Quarterly, vol. 3, 1939, p. 136-138;
  • Cherrington, "Cultural Ties That Bind in the Relations of the American Nations," Hispania, vol. 22, 1939, p. 243-250;
  • Cherrington, "Editorial: Education and Cultural Relations," The Phi Delta Kappan, vol.  22, November, 1939, p. 75-76.
  • Sobre o OIAA, ver Cary Reich, The Life of Nelson A. Rockefeller: Worlds to Conquer, 1942-45, New York, Doubleday, 1996.
  • 6 Daniel M. Braddock, cônsul norte-americano em Porto Alegre, a Érico Veríssimo, em 29 de novembro de 1940, Acervo do EV, IMS. Veríssimo foi o primeiro brasileiro a receber uma "Leader Grant" (concessão para líder) do Departamento de Estado norte-americano. Dentre as várias centenas de brasileiros trazidos para os Estados Unidos entre 1941 e 1945, estavam o antropólogo Gilberto Freyre, o historiador Sérgio Buarque de Holanda, o historiador e romancista Vianna Moog e o jornalista e romancista Orígenes Lessa. Ao redor do mundo, o Departamento de Estado ofereceu cerca de mil concessões por ano, entre 1940 e 1948, dinheiro usado para financiar visitas e/ou permanências prolongadas nos Estados Unidos (Richard T. Arndt, The First Resort of Kings: American Cultural Diplomacy in the Twentieth Century, Washington, Potomac Books, 2005, p. 137).
  • Veríssimo descreveu as circunstâncias do convite em suas memórias, Solo de clarineta: Memórias, vol. 1, Porto Alegre: Editora Globo, 1973, p. 276-277.
  • 7 Número de vendas citado em L. L. Barrett, revisão de uma versão editada de Gato preto em campo de neve, elaborada para estudantes de português nos Estados Unidos, Hispania, vol. 32, 1949, p. 265.
  • Os trabalhos de Veríssimo no Instituto Moreira Salles sugerem que as vendas iniciais de Gato preto em 1941 podem muito bem ter chegado a 20 mil exemplares. 8 Quanto à questão da crescente influência norte-americana sobre a sociedade brasileira, ver Antonio Pedro Tota, O Imperialismo Sedutor: A Americanização do Brasil na Época da Segunda Guerra, São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
  • 9 Érico Veríssimo, Gato Preto em Campo de Neve, São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 130.
  • 10Ibidem, p. 161.11 Érico Veríssimo, Gato Preto em Campo de Neve, São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 130-133, p. 473-477.
  • 12 Érico Veríssimo, Solo de clarineta: Memórias, Tomo 1, Porto Alegre: Editora Globo, 1973, p. 113.
  • Ele também frequentou um colégio dirigido por norte-americanos em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, onde desenvolveu sua fluência em inglês.13 Érico Veríssimo, op. cit., p. 206.14 A editora também obteve metade de seu negócio com a produção e venda de livros-texto. A Macmillan foi a primeira no mercado de publicação de livros dos Estados Unidos a estabelecer estoques regionais, o que lhe permitiu suprir um grande volume de exemplares no país, em comparação com seus concorrentes. Sobre a história da Macmillan, ver John Tebbel, A History of Book Publishing in the United States, vol. 3, The Golden Age Between Two Wars, 1920-1940, New York, Bowker, 1978, p. 101-103, p. 535-537;
  • John Tebbel, A History of Book Publishing in the United States, vol. 4, The Great Change, 1940-1980, New York, Bowker, 1981, p. 118-130.
  • 15 Érico Veríssimo, Gato Preto em Campo de Neve, São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 364.
  • 16 "Memória seletiva: O tempo e os ventos," Cadernos de Literatura Brasileira: Érico Veríssimo, vol. 16, 2003, p. 8-10.
  • 17 O estado do Rio Grande do Sul tinha leis que protegiam os editores que pirateavam materiais de outros países ou de outras partes do Brasil. O princípio por trás das leis era de que prover o máximo de informações possível às pessoas tinha mais valor do que proteger direitos de propriedade intelectual. Com o surgimento da Grande Depressão, os livros estrangeiros tornaram-se proibitivamente caros e as importações pararam. A publicação de títulos estrangeiros em traduções piratas permitiu aos leitores brasileiros manterem contato com o desenvolvimento literário de outros países. Ver Laurence Hallewell, Books in Brazil: A History of the Publishing Trade, Metuchen, New Jersey, Scarecrow Press, 1982, p. 228-232.
  • 18 Érico Veríssimo, Solo de clarineta: Memórias, Tomo 1, Porto Alegre: Globo, 1973, p. 233-252;
  • Guia Érico Veríssimo: O Arquipélago, Cadernos de literatura brasileira, vol. 16, 2003, p. 164-165;
  • Felipe José Lindoso, "A indústria editorial no Brasil no século XX," in Historia de las empresas editoriales de América Latina, siglo XX, ed. Juan Gustavo Cobo Borda, Bogotá, Centro Regional para el Fomento del Libro en América Latina y el Caribe, 2000, p. 122-124;
  • Laurence Hallewell, op. cit., p. 227-242.19 Érico Veríssimo, op. cit., p. 253.20Ibidem, p. 254.21 Em 1942, Veríssimo escreveu a um amigo brasileiro, também escritor, cujo livro foi republicado pela Editora Globo: "De 1938 para cá minhas relações com a livraria são quasi exclusivamente as de editores e editado. Tenho ainda um escritório no 'estabelecimento,' onde sou encontrado diariamente. E só tenho a ver diretamente com a escolha da obras estrangeiras. Fora disso, entrego-me a meus próprios livros" (EV a Oswald de Andrade, 3 de agosto de 1942, Acervo do EV, IMS).22 Quando Veríssimo planejava um novo livro, suas anotações iniciais eram tipicamente escritas em inglês ("Manuscritos/Inéditos," Cadernos de literatura brasileira, vol. 16, 2003, p. 75).
  • 23 Notas sem título e sem data, Acervo do EV, IMS. Na década de 1930, Veríssimo produzia pelo menos um livro por ano. Na década de 1940, começou a gastar mais tempo com os livros que escrevia. Segundo a nota, ele escreveu seis romances, que seriam datados entre 1940 e 1943. "É muito difícil ser um escritor profissional. Se você quer ganhar a vida com seus escritos, deve publicar pelo menos um livro por ano. Mas você não pode fazer isso sem colocar em risco a qualidade de seus livros. Tome o meu caso, por exemplo. Refiro-me aos meus romances. Sou capaz de lançar um romance a cada ano. Estou certo de que podem ser romances muito bons."24 Érico Veríssimo a John Leroy Johnston, 14 de maio de 1942, Acervo do EV, IMS. "Agora, estou começando um novo romance. Eu odeio escrever um livro por ano, mas não posso evitar. Escrever é meu 'tráfico'. E, além do mais, eu não acredito em obras-primas. Estamos vivendo em um mundo louco e em transição. É inútil polir e polir várias vezes o que você escreve, para que o livro dure. O que vai durar dos milhares e milhares de livros publicados nestes dias?"25 Wayne A. Wiegand, "The American Public Library: Construction of a Community Reading Institution," in A History of the Book in America, vol. 4, Print in Motion, p. 431-451.
  • Ver também John Tebbel, A History of Book Publishing in the United States, vol. 3, The Golden Age between Two Wars. New York: Bowker, 1978, p. 657-690.
  • A estatística de títulos e exemplares produzidos está disponível, mas as editoras relutaram em fornecer suas informações sobre venda.26 Angèle Kathleen Gingras para Érico Veríssimo, 10 de fevereiro de 1941, Acervo do EV, IMS. Veríssimo acreditava que Montenegro estava equivocado em sua avaliação sobre o mercado editorial dos Estados Unidos. Vários best-sellers, dentre eles, Rebecca, Gone with the wind (E o vento levou) e How green was my valley (Como era verde o meu vale) provaram que os leitores norte-americanos gostavam de histórias que os faziam chorar (Veríssimo a Angèle Gingras, 31 de maio de 1941). Em 1940, O Diário, jornal de Recife, conduziu uma pesquisa sobre suas leitoras e descobriu que Veríssimo era o autor brasileiro favorito entre as participantes (Altamira Cunha [que trabalhava para o jornal] a Érico Veríssimo, 23 de maio de 1940, Acervo do EV, IMS). 27 J. W. Greenberg, Greenberg Publisher, a Érico Veríssimo, 5 de fevereiro de 1941; Frederick Drimmer, Editor, Greenberg Publisher, a Érico Veríssimo, 19 de agosto de 1941, Acervo do EV, IMS.28 Theodore Purdy, Jr., a Érico Veríssimo, 19 de maio de 1941; Lois Dwight Cole, Associate Editor, Macmillan Company, a Érico Veríssimo, 4 de junho de 1941; Doris S. Patee a Érico Veríssimo, 5 de junho de 1941; Purdy a Veríssimo, 13 de junho de 1941; Purdy a Veríssimo, 23 de junho de 1941, Acervo do EV, IMS.29 Robert E. Luckey, "Materials for a Course in English on Portuguese and Brazilian Literature and Culture," Modern Language Journal, vol. 34, 1950, p. 422.
  • 30 Philip C. Jessup, director, Carnegie Endowment for International Peace (Fundo de Dotações Carnegie para a Paz Internacional), Division of International Law, a Érico Veríssimo, 17 de agosto de 1941, Acervo do EV, IMS. 31 Da sobrecapa do livro de Magdalena Petit Marfán, La Quintrala, traduzido por Lulu Vargas Vila, New York, Macmillan, 1942.
  • 32 Doris Patee a Érico Veríssimo, 17 de março de 1941; Patee a Veríssimo, 12 de abril de 1943, Acervo do EV, IMS. 33 Joaquin Ortega, School of Inter-American Affairs, University of New Mexico, a Érico Veríssimo, 6 de dezembro de 1941; Providence Raimond, secretary, School of Inter-American Affairs, University of New Mexico, a Érico Veríssimo, 2 de abril de 1942, Acervo do EV, IMS.34 Theodore Purdy, Jr., a Érico Veríssimo, 31 de julho de 1941; Purdy a Veríssimo, 25 de agosto de 1941; Purdy a Veríssimo, 27 de outubro de 1941; Purdy a Veríssimo, 31 de dezembro de 1941; Mary S. Thompson, Publicity Department, Macmillan Company, a Érico Veríssimo, 16 de setembro de 1942; Purdy a Veríssimo, 20 de setembro de 1942, Acervo do EV, IMS.35 "BooksAuthors," New York Times (16 January, 1943), p. 11.
  • 36 Érico Veríssimo a Louis Kaplan, 9 de janeiro de 1942, Acervo do EV, IMS. 37 Anotação sobre Érico Veríssimo, O resto é silêncio, Handbook of Latin American Studies, vol. 9, 1944, HLAS Item#: re464267, disponível em: http://lcweb2.loc.gov/hlas/.
  • 38 L. L. Barrett, revisão de uma versão editada de Gato preto em campo de neve, produzida para estudantes de português nos Estados Unidos, Hispania, vol. 32, 1949, p. 265.
  • 39 Para mais informações sobre o argumento acerca da relação familiar e a transformação social no trabalho de Veríssimo, ver Ligia Chiappini Moraes Leite, Modernismo no Rio Grande do Sul: Materiais para o seu estudo, São Paulo, Instituto de Estudos Brasileiros, 1972;
  • Ligia Chiappini Moraes Leite, Regionalismo e modernismo: O caso gaúcho, São Paulo, Ática, 1978;
  • B. A. Richards, Érico Veríssimo: The Brazilian Novels Assessed in the Context of Modernism and Latin American Fiction, London, King's College, University of London, 1981;
  • Maria Antonieta Antonacci, Rio Grande do Sul: As oposições e a revolução de 1923, Porto Alegre, Mercado Aberto,1981;
  • Luiza H. Schmitz Kleimann, Rio Grande do Sul, terra e poder: História da questão agrária, Porto Alegre, Mercado Aberto, 1986;
  • Sandra Jatahy Pesavento, A burguesia gaúcha: Dominação do capital e disciplina do trabalho, Rio Grande do Sul 1889-1930, Porto Alegre, Mercado Aberto, 1988.
  • 40 Anotação sobre Érico Veríssimo, Olhae os lyrios do campo [sic, o correto é Olhai os lírios do campo], Handbook of Latin American Studies, vol. 4, 1938, HLAS Item#: re394248a.
  • Os escritores brasileiros das décadas de 1920 e 1930 são geralmente conhecidos por rejeitarem a cultura francófila da então chamada "República Velha" (1889-1930), abraçando o modernismo com foco na exploração de características peculiares do nacionalismo ou regionalismo brasileiro; também exploravam a identidade brasileira, retornando para as raízes culturais e sociais de cada estado. Veríssimo pode ser visto como ator na intersecção do modernismo com o regionalismo. Ele tinha familiaridade com tendências literárias da Europa e da América do Norte, com forte inclinação para escrevera um grande público de classe média.Seus temas exploravam criticamente as relações sociais no Rio Grande do Sul, embora a estrutura mal descrevesse os objetivos de Veríssimo como escritor e sua posição nas letras nacionais. Ver Wilson Martins, The Modernist Idea: A Critical Survey of Brazilian Writing in the Twentieth Century, New York, New York University Press, 1970,
  • Antônio Cândido, On Literature and Society, Princeton, Princeton University Press, 1995,
  • Roberto Schwarz, Misplaced Ideas: Essays on Brazilian Culture, London, Verso, 1992.
  • 41 George P. Brett, Jr., President of Macmillan Company, a Érico Veríssimo, 6 de agosto de 1943, Acervo do EV, IMS.
  • 42 Mesmo com a "explosão" após 1970, até hoje, apenas 14 autores latino-americanos apresentaram um número de títulos em inglês igual ao de Veríssimo: Jorge Amado, Miguel Ángel Asturias, Jorge Luis Borges, Ernesto Cárdenal, Julio Cortázar, José Donoso, Carlos Fuentes, Gabriel García Márquez, Machado de Assis, Pablo Neruda, Octavio Paz, Manuel Puig, César Vallejo e Mario Vargas Llosa.43 F. B., "Books: South American Writes a Tense, Dramatic Story," Chicago Tribune, vol. 17, February 1943, p. 23.
  • 44 William Du Bois, crítica sem título, New York Times, 24 January, 1943, Book Review Section, p. 6.
  • 45Library Journal, vol. 67, 1 November, 1942, p. 952;
  • Booklist, vol. 39, 1 March, 1943, p. 275.
  • 46 Granville Hicks, crítica sem título do Time and the wind (O tempo e o vento), New York Herald Tribune, 8 November, 1951, Book Review Section, p. 7.
  • 47 Herschel Brickell, crítica sem título do Time and the Wind (O tempo e o vento), Saturday Review of Literature, vol. 34, 22 September, 1951, p. 15.
  • 48 Érico Veríssimo, Crossroads, traduzido por L. C. Kaplan, New York, Macmillan, 1943, p. 106.
  • 49 Sobre o clientelismo no Brasil, ver Luiz Henrique Nunes Baía, O poder do clientelismo: Raízes e fundamentos da troca política, Rio de Janeiro, Editora Renovar, 2003;
  • Edson de Oliveira Nunes, A Gramática Política do Brasil: Clientelismo e Insulamento Burocrático, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editora, 2003;
  • Paul Cammack, "Clientelism and Military Government in Brazil," in Private Patronage and Public Power: Political Clientelism in the Modern State, ed., Christopher Clapham, London, Frances Pinter, 1982;
  • José Murilo de Carvalho, "Barbacena: A Família, a Política e uma Hipótese," Revista Brasileira de Estudos Políticos, vol. 20, 1966, p. 153-194;
  • Luis de A. Costa Pinto, Lutas de Família no Brasil: Introdução ao seu Estudo, São Paulo, Editora Nacional, 1949;
  • Nestor Duarte, A Ordem Privada e a Organização Política Nacional, São Paulo, Editora Nacional, 1939;
  • Linda Lewin, Política e Parentela na Paraíba: Um Estudo de Caso da Oligarquia de Base Familiar, Rio de Janeiro, Record, 1993;
  • Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, São Paulo, Companhia das Letras, 1995;
  • publicado originalmente em 1936.50 Érico Veríssimo, Caminhos Cruzados, São Paulo, Companhia das Letras, 2005, p. 153;
  • traduzido por L. C. Kaplan em Crossroads como "a marvelous day when the efforts of men of good will will level all social differences, without violence or extremes" (176).51 Érico Veríssimo a Richard Pattee, 13 de janeiro de 1943 e 21 de maio de 1943, Acervo do EV, IMS.  Em junho de 1942, ele havia escrito para uma amiga dos Estados Unidos que esperava passar um ou dois anos na Califórnia depois da guerra (Érico Veríssimo a Angèle Kathleen Gingras, 15 de junho de 1942). Para o relato da Universidade da Califórnia sobre as expectativas do Departamento de Espanhol e Português quanto à função de professor visitante de Veríssimo, ver S. G. Morley, Chair of the Department of Spanish and Portuguese, University of California, Berkeley, a Harry H. Pierson, Division of Cultural Relations, U.S. Department of State, 26 May, 1944, em anexo à correspondência recebida em 1944 pertencente aos Estados Unidos da América, nos arquivos da Secretaria de Estado das Relações Exteriores, Arquivo Histórico do Itamaraty.52 J. Manuel Espinosa, "Exchange of Professors Between the United States and Other American Republics," The Americas, vol. 3, 1947, p. 535-543.
  • 53 Érico Veríssimo a Henrique Bertaso, 8 de novembro de 1943, Acervo do EV, IMS.54 Observação feita pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda em uma entrevista, ao se lembrar de uma conversa em 1941, quando visitou os Estados Unidos a convite do Departamento de Estado. Ver Sérgio Buarque de Holanda e Richard Graham, "An Interview with Sérgio Buarque de Holanda," Hispanic American Historical Review, vol. 62, 1982, p. 14.
  • 55 Érico Veríssimo entrevistado por Eloise Keeler no programa de rádio "At Your Service" KFBK, 1530 (Sacramento, California), 9:00 AM, Tuesday, 3 July, 1944, transcrito no Acervo do EV, IMS. 56 "Simpatizantes do Eixo tentam dizer aos brasileiros que os Estados Unidos são apenas um país imperialista e não estão interessados em uma amizade genuína. Querem apenas mercados para seus produtos. Acho que nós devemos, a todo custo, tentar promover um melhor entendimento entre a América do Norte e a América do Sul."57 Entrevista com Érico Veríssimo no programa "At Your Service" KFBK, 1530 (Sacramento, California), 9:00 AM, Tuesday, 3 July, 1944, transcrito no Acervo do EV, IMS. "Mediante o trabalho de escritores honestos, hábeis e de boa vontade, que estejam mais interessados em servir à relação interamericana do que fazer declarações sensacionais ou apenas best-sellers. Enviando também estudantes e mulheres ao Brasil e não apenas pessoas muito importantes. Aumentar as visitas das mulheres entre os dois países era importante, pois quando [as mulheres] gostam de um lugar, elas falam, falam e falam de forma efetiva sobre o que viram. E, geralmente, elas não se interessam tanto por negócios, mas sim por relações humanas."58 Bess M. Wilson, "Brazilian Views Told by Author," Los Angeles Times, 6 November, 1944, p. A6.
  •   Em contraste com a avaliação de Veríssimo, Selden Chapin, oficial e assistente-chefe da Division of the American Republics (Divisão das Repúblicas Americanas) do Departamento de Estado, fez um memorando para avisar ao Departamento que os visitantes norte-americanos no Brasil deveriam evitar o humor, já que os brasileiros não tinham oradores que faziam piadas em seus discursos (Chapin, "Need of Cultural Relations with Brazil," 5 April, 1937, NA/DS/RG59, Lot Files, Entry 209, Office of American Republic Affairs, Its Predecessors, and Its Successors, Memorandums Relating to General Latin American Affairs, Country File B24). 59 Associação civil privada que organizava (e ainda organiza) encontros públicos sobre problemas contemporâneos (N.T.). 60 "Relations with Brazil Reported Deteriorating: Brazil Cools toward U.S.," Los Angeles Times, 14 November, 1944, p. A1.
  • 61 Gisela Cramer e Ursula Prutsch, "Nelson A. Rockefeller's Office of Inter-American Affairs (1940 1946) and Record Group 229," Hispanic American Historical Review, vol. 86, 2006, p. 795.
  • 62 Seth Garfield notou que o America First Committee (Primeiro Comitê da América), organização isolacionista primária dos Estados Unidos, havia abraçado o pan-americanismo como alternativa para a guerra na Europa e na Ásia. Uma divisão pan-americana de trabalho poderia prover os Estados Unidos com commodities tropicais como borracha, essencial para a larga produção industrial , mas que vinham das colônias europeias na Ásia e na África. Ver Garfield, "A Amazônia no imaginário norte-americano em tempo de guerra," Revista Brasileira de História, vol. 29, 2009, p. 19-65.
  • 63 Termo informal usado no jornalismo norte-americano para identificar as regiões sudeste e centro-sul dos Estados Unidos, onde o protestantismo evangélico tem sido uma característica definidora da cultura regional e a frequência à igreja é maior do que nas outras regiões. (N.A.)64 "A Bandeira Estrelada", hino dos Estados Unidos. (N.T.)65 As leis de Jim Crow foram leis estaduais, promulgadas entre 1876 e 1965 nos estados do Sul, e estabeleciam a segregação racial em todas as instalações públicas, anulando os direitos políticos e civis dos afro-americanos. (N.A.)66 Ainda que o cardápio não apresentasse maiores identificações dos pratos, "churrascaria" era, certamente, semelhante ao barbecue texano.67 Érico Veríssimo a Henrique Bertaso, 14 de fevereiro de 1945; 17 de abril de 1945.68 Em suas memórias, Veríssimo disse que pensara em escrever a saga do Rio Grande do Sul em 1935, durante o centenário da Guerra dos Farrapos, mas pediu mais tempo para elaborar a estrutura da história (Érico Veríssimo, Solo de clarineta: Memórias, vol. 1, Porto Alegre, Editora Globo, 1973, p. 288).
  • 69 Arquivo 6921/914, Índice: Conhecimento sobre o Brasil nos Estados Unidos, 19 de novembro de 1948, nos arquivos da Secretaria de Estado das Relações Exteriores, Arquivo Histórico do Itamaraty.70 L. Hallewell, Books in Brazil: A History of the Publishing Trade, Metuchen, New Jersey, Scarecrow Press, 1982, p. 235.
  • 71 Hallewell, Books in Brazil, p. 235, 275, 334.
  • 72 "TV Effect on Book Buying Is 'Nil,' ABA Reports," Publishers Weekly (6 January, 1951), 21;
  • Specialists to Confer on Book Use and Reading, Publishers Weekly, 13 January, 1951, p. 6-7;
  • Nation's Business at High Level: 1951 to Bring Retail Boom, Publishers Weekly, 13 January, 1951, p. 127-129;
  • Summary of Events and Trends, 1950, in the American Book Trade, Publishers Weekly, 20 January, 1951, p. 221-226;
  • U.S. Economy Now at Record High: How Will It Affect the Book Trade? Publishers Weekly, 5 January, 1952, p. 21;
  • "Will the 'Award Books' Be Featured in Your Store?" Publishers Weekly, 5 January, 1952, p. 40;
  • Tips for the Bookseller, Publishers Weekly, 16 August, 1952, p. 700-701;
  • Sales Appeal, Publishes Weekly, 13 September, 1952, p. 992;
  • "For 1953, Sales Expansion Both Bottom and Top," Publishers Weekly, 3 January, 1953, p. 41;
  • The Promotion of Reading Will Be Vigorous in 1953, Publishers Weekly, 10 January, 1953, p. 133;
  • Summary of Events and Trends, 1952, in the American Book Trade, Publishers Weekly, 24 January, 1953, p. 269-272;
  • Highlights of 1956 News and Trends in the U.S. Book Industry, Publishers Weekly, 21 January, 1957, p. 47-60.
  • Ver também Priscilla Coit Murphy, "'Down with Fiction and Up with Fact': Publishers Weekly and the Postwar Shift to Nonfiction," Publishing Research Quarterly, Fall 1998, p. 29-52;
  • e Evan Brier, A Novel Marketplace: Mass Culture, the Book Trade, and Postwar American Fiction, Philadelphia, University of Pennsylvania Press, 2009, p. 109-115.
  • 1
    Sobre a história dos programas de intercâmbio cultural do governo norte-americano, ver Richard T. Arndt,
    The First Resort of Kings: American Cultural Diplomacy in the Twentieth Century, Washington, Potomac Books, 2005; Frank A. Ninkovich,
    The Diplomacy of Ideas: U.S. Foreign Policy and Cultural Relations, 1938-1950, Cambridge, Cambridge University Press, 1981; J. Manuel Espinosa,
    Inter-American Beginnings of U.S. Cultural Diplomacy, 1936-1948, Washington, Bureau of Educational and Cultural Affairs, Department of State, 1976, uma história semioficial escrita por um membro da Division of Cultural Affairs (Divisão de Assuntos Culturais); Ruth Emily McMurray e Muna Lee,
    The Cultural Approach: Another Way in International Relations, Chapel Hill, University of North Carolina Press, 1947, uma comparação dos esforços norte-americanos para o intercâmbio cultural com os de várias outras grandes potências mundiais, escrita por veteranos do programa norte-americano. Os programas do Departamento de Estado fundamentados em princípios de intercâmbio em ambas as direções foram ofuscados na literatura histórica pela discussão do
    Office of Inter-American Affairs (OIAA - Escritório de Assuntos Interamericanos), criado por Franklin Delano Roosevelt dentro da Casa Branca, liderada por Nelson Rockefeller. Os programas culturais do OIAA direcionavam-se para projetar as posições políticas dos Estados Unidos na América Latina, mas também incluíam o envio de escritores, artistas, cineastas e fotógrafos norte-americanos à América Latina, a fim de desenvolverem trabalhos para audiências norte-americanas sobre seus aliados na
    Pan American Union (União Pan-Americana). As atividades do OIAA incluíram programas comerciais, bem como a supervisão de empreiteiros na construção de bases militares e a criação de programas de saúde pública, em geral, garantindo que os objetivos estratégicos dos Estados Unidos na América Latina permanecessem nos trilhos. Ver Richard T. Arndt, "Welles, MacLeish, and Fulbright as Architect-Exemplars of Early Postwar Cultural Diplomacy," disponível em
    http://streitcouncil.org/uploads/PDF/As%20Architect-Exemplars%20-%20Arndt.pdf, e Arndt, The First Resort of Kings, p. 75-97.Gisela Cramer and Ursula Prutsch, "Nelson A. Rockefeller's Office of Inter-American Affairs (1940-1946) and Record Group 229," Hispanic American Historical Review, vol. 86, 2006, p. 785-806.
  • 2
    Pattee, nascido no Arizona, em 1906, estudou na Universidade do Arizona e na Universidade Católica da América. Desenvolveu trabalhos sobre a era colonial equatoriana, mas também escreveu sobre o Haiti e o Brasil. Suas publicações frequentemente se concentravam no papel da Igreja Católica na América Latina, analisando largamente sua contribuição para o desenvolvimento social em termos positivos, por meio do foco em movimentos dentro da igreja para reivindicar a independência da dominação da Coroa durante o período colonial e, mais tarde, após a independência, atuando como um regulador do poder arbitrário dos líderes nacionais. Seu trabalho incluiu também o interesse, pouco comum para a época, pela cultura afro-americana em todo o hemisfério ocidental. Suas publicações revelaram que, além de sua determinação em defender a Igreja Católica como fonte de progresso estável, ele era um seguidor do antropólogo cubano Fernando Ortiz e foi influenciado pela concepção deste de "transculturação," na qual culturas americanas podem ser vistas como emergentes ao longo do tempo, mediante um processo de culturas diaspóricas inicialmente convergentes. Seus livros incluem
    Jean-Jacques Dessalines, fundador de Haití, Havana, Molina, 1936,
    Gabriel García Moreno e a sua contribuição científica no Equador, Lisboa, Sociedade Industrial de Tipografia, 1937,
    García Moreno y la política internacional ecuatoriana, Quito, Romero, 1939,
    The Catholic Revival in Mexico, New York, The Paulist Press, 1944,
    Introducción a la civilización hispanoamericana, Boston, Heath, 1945,
    El catolicismo contemporáneo en Hispanoamérica, Buenos Aires, Editorial Fides, 1951 e
    Haití , pueblo afroantillano, Madrid, Ediciones Cultura Hispánica, 1956. Foi professor-assistente de História na Universidade de Porto Rico antes de 1938, quando se juntou à Divisão de Assuntos Culturais. Demitiu-se do Departamento de Estado em 1945 para se tornar professor de História na Universidade Católica da América.
  • 3
    Richard Pattee, "The Role of the Teacher of Spanish in the Promotion of Inter-American Cultural Relations,"
    Hispania, vol. 22, 1939, p. 236.
  • 4
    Memorando de Pattee nos documentos do Departamento de Estado norte-americano, Record Group (RG) 59, Decimal File for 1930-1939, 841.43/30, National Archives, Washington; reproduzido integralmente em J. Manuel Espinosa,
    Inter-American Beginnings of U.S. Cultural Diplomacy, Washington, D.C.,
    Bureau of Educational and Cultural Affairs, U.S. Department of State, 1976, p. 167-169. Ver também Helen R. Pinkney, "The Division of Cultural Cooperation," unpublished TS, December 1945, in RG 59,
    War History Branch Studies, box 10: CU file.
  • 5
    Ver também Richard Pattee, "Review,"
    Journal of Negro History, vol. 23, 1938, p. 383. Os programas do Departamento de Estado fundamentados em princípios de intercâmbio foram ofuscados na literatura histórica pela discussão do
    Office of Inter-American Affairs (Escritório de Assuntos Interamericanos), criado por Franklin Delano Roosevelt dentro da Casa Branca, liderada por Nelson Rockefeller. O OIAA concentrava-se em projetar as posições políticas dos Estados Unidos na América Latina. Suas atividades eram amplamente fundamentadas, como coordenar programas culturais e comerciais, além de supervisionar empreiteiros na construção de bases militares, criando programas de saúde pública e, em geral, garantindo que os objetivos estratégicos dos Estados Unidos na América Latina permanecessem nos trilhos. Ver Richard T. Arndt, "Welles, MacLeish, and Fulbright as Architect-Exemplars of Early Postwar Cultural Diplomacy," disponível em
    The First Resort of Kings, p. 75-97. Quanto às declarações oficiais da Divisão de Relações Culturais, ver Ben M. Cherrington, "The Division of Cultural Relations,"
    Public Opinion Quarterly, vol. 3, 1939, p. 136-138; Cherrington, "Cultural Ties That Bind in the Relations of the American Nations,"
    Hispania, vol. 22, 1939, p. 243-250; Cherrington, "Editorial: Education and Cultural Relations,"
    The Phi Delta Kappan, vol. 22, November, 1939, p. 75-76. Sobre o OIAA, ver Cary Reich,
    The Life of Nelson A. Rockefeller: Worlds to Conquer, 1942-45, New York, Doubleday, 1996.
  • 6
    Daniel M. Braddock, cônsul norte-americano em Porto Alegre, a Érico Veríssimo, em 29 de novembro de 1940, Acervo do EV, IMS. Veríssimo foi o primeiro brasileiro a receber uma "
    Leader Grant" (concessão para líder) do Departamento de Estado norte-americano. Dentre as várias centenas de brasileiros trazidos para os Estados Unidos entre 1941 e 1945, estavam o antropólogo Gilberto Freyre, o historiador Sérgio Buarque de Holanda, o historiador e romancista Vianna Moog e o jornalista e romancista Orígenes Lessa. Ao redor do mundo, o Departamento de Estado ofereceu cerca de mil concessões por ano, entre 1940 e 1948, dinheiro usado para financiar visitas e/ou permanências prolongadas nos Estados Unidos (Richard T. Arndt,
    The First Resort of Kings: American Cultural Diplomacy in the Twentieth Century, Washington, Potomac Books, 2005, p. 137). Veríssimo descreveu as circunstâncias do convite em suas memórias,
    Solo de clarineta: Memórias, vol. 1, Porto Alegre: Editora Globo, 1973, p. 276-277.
  • 7
    Número de vendas citado em L. L. Barrett, revisão de uma versão editada de
    Gato preto em campo de neve, elaborada para estudantes de português nos Estados Unidos,
    Hispania, vol. 32, 1949, p. 265. Os trabalhos de Veríssimo no Instituto Moreira Salles sugerem que as vendas iniciais de
    Gato preto em 1941 podem muito bem ter chegado a 20 mil exemplares.
  • 8
    Quanto à questão da crescente influência norte-americana sobre a sociedade brasileira, ver Antonio Pedro Tota,
    O Imperialismo Sedutor: A Americanização do Brasil na Época da Segunda Guerra, São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
  • 9
    Érico Veríssimo,
    Gato Preto em Campo de Neve, São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 130.
  • 10
    Ibidem, p. 161.
  • 11
    Érico Veríssimo,
    Gato Preto em Campo de Neve, São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 130-133, p. 473-477.
  • 12
    Érico Veríssimo,
    Solo de clarineta:
    Memórias, Tomo 1, Porto Alegre: Editora Globo, 1973, p. 113. Ele também frequentou um colégio dirigido por norte-americanos em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, onde desenvolveu sua fluência em inglês.
  • 13
    Érico Veríssimo,
    op. cit., p. 206.
  • 14
    A editora também obteve metade de seu negócio com a produção e venda de livros-texto. A
    Macmillan foi a primeira no mercado de publicação de livros dos Estados Unidos a estabelecer estoques regionais, o que lhe permitiu suprir um grande volume de exemplares no país, em comparação com seus concorrentes. Sobre a história da
    Macmillan, ver John Tebbel,
    A History of Book Publishing in the United States, vol. 3,
    The Golden Age Between Two Wars, 1920-1940, New York, Bowker, 1978, p. 101-103, p. 535-537; John Tebbel,
    A History of Book Publishing in the United States, vol. 4,
    The Great Change, 1940-1980, New York, Bowker, 1981, p. 118-130.
  • 15
    Érico Veríssimo,
    Gato Preto em Campo de Neve, São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 364.
  • 16
    "Memória seletiva: O tempo e os ventos,"
    Cadernos de Literatura Brasileira: Érico Veríssimo, vol. 16, 2003, p. 8-10.
  • 17
    O estado do Rio Grande do Sul tinha leis que protegiam os editores que pirateavam materiais de outros países ou de outras partes do Brasil. O princípio por trás das leis era de que prover o máximo de informações possível às pessoas tinha mais valor do que proteger direitos de propriedade intelectual. Com o surgimento da Grande Depressão, os livros estrangeiros tornaram-se proibitivamente caros e as importações pararam. A publicação de títulos estrangeiros em traduções piratas permitiu aos leitores brasileiros manterem contato com o desenvolvimento literário de outros países. Ver Laurence Hallewell,
    Books in Brazil: A History of the Publishing Trade, Metuchen, New Jersey, Scarecrow Press, 1982, p. 228-232.
  • 18
    Érico Veríssimo,
    Solo de clarineta: Memórias, Tomo 1, Porto Alegre: Globo, 1973, p. 233-252; "Guia Érico Veríssimo: O Arquipélago,"
    Cadernos de literatura brasileira, vol. 16, 2003, p. 164-165; Felipe José Lindoso, "A indústria editorial no Brasil no século XX," in
    Historia de las empresas editoriales de América Latina, siglo XX, ed. Juan Gustavo Cobo Borda, Bogotá, Centro Regional para el Fomento del Libro en América Latina y el Caribe, 2000, p. 122-124; Laurence Hallewell,
    op. cit., p. 227-242.
  • 19
    Érico Veríssimo,
    op. cit., p. 253.
  • 20
    Ibidem, p. 254.
  • 21
    Em 1942, Veríssimo escreveu a um amigo brasileiro, também escritor, cujo livro foi republicado pela Editora Globo: "De 1938 para cá minhas relações com a livraria são quasi exclusivamente as de editores e editado. Tenho ainda um escritório no 'estabelecimento,' onde sou encontrado diariamente. E só tenho a ver diretamente com a escolha da obras estrangeiras. Fora disso, entrego-me a meus próprios livros" (EV a Oswald de Andrade, 3 de agosto de 1942, Acervo do EV, IMS).
  • 22
    Quando Veríssimo planejava um novo livro, suas anotações iniciais eram tipicamente escritas em inglês ("Manuscritos/Inéditos,"
    Cadernos de literatura brasileira, vol. 16, 2003, p. 75).
  • 23
    Notas sem título e sem data, Acervo do EV, IMS. Na década de 1930, Veríssimo produzia pelo menos um livro por ano. Na década de 1940, começou a gastar mais tempo com os livros que escrevia. Segundo a nota, ele escreveu seis romances, que seriam datados entre 1940 e 1943. "É muito difícil ser um escritor profissional. Se você quer ganhar a vida com seus escritos, deve publicar pelo menos um livro por ano. Mas você não pode fazer isso sem colocar em risco a qualidade de seus livros. Tome o meu caso, por exemplo. Refiro-me aos meus romances. Sou capaz de lançar um romance a cada ano. Estou certo de que podem ser romances muito bons."
  • 24
    Érico Veríssimo a John Leroy Johnston, 14 de maio de 1942, Acervo do EV, IMS. "Agora, estou começando um novo romance. Eu odeio escrever um livro por ano, mas não posso evitar. Escrever é meu 'tráfico'. E, além do mais, eu não acredito em obras-primas. Estamos vivendo em um mundo louco e em transição. É inútil polir e polir várias vezes o que você escreve, para que o livro dure. O que vai
    durar dos milhares e milhares de livros publicados nestes dias?"
  • 25
    Wayne A. Wiegand, "The American Public Library: Construction of a Community Reading Institution," in
    A History of the Book in America, vol. 4,
    Print in Motion, p. 431-451. Ver também John Tebbel,
    A History of Book Publishing in the United States, vol. 3,
    The Golden Age between Two Wars. New York: Bowker, 1978, p. 657-690. A estatística de títulos e exemplares produzidos está disponível, mas as editoras relutaram em fornecer suas informações sobre venda.
  • 26
    Angèle Kathleen Gingras para Érico Veríssimo, 10 de fevereiro de 1941, Acervo do EV, IMS. Veríssimo acreditava que Montenegro estava equivocado em sua avaliação sobre o mercado editorial dos Estados Unidos. Vários
    best-sellers, dentre eles,
    Rebecca, Gone with the wind (E o vento levou) e
    How green was my valley (
    Como era verde o meu vale) provaram que os leitores norte-americanos gostavam de histórias que os faziam chorar (Veríssimo a Angèle Gingras, 31 de maio de 1941). Em 1940,
    O Diário, jornal de Recife, conduziu uma pesquisa sobre suas leitoras e descobriu que Veríssimo era o autor brasileiro favorito entre as participantes (Altamira Cunha [que trabalhava para o jornal] a Érico Veríssimo, 23 de maio de 1940, Acervo do EV, IMS).
  • 27
    J. W. Greenberg,
    Greenberg Publisher, a Érico Veríssimo, 5 de fevereiro de 1941; Frederick Drimmer, Editor,
    Greenberg Publisher, a Érico Veríssimo, 19 de agosto de 1941, Acervo do EV, IMS.
  • 28
    Theodore Purdy, Jr., a Érico Veríssimo, 19 de maio de 1941; Lois Dwight Cole, Associate Editor,
    Macmillan Company, a Érico Veríssimo, 4 de junho de 1941; Doris S. Patee a Érico Veríssimo, 5 de junho de 1941; Purdy a Veríssimo, 13 de junho de 1941; Purdy a Veríssimo, 23 de junho de 1941, Acervo do EV, IMS.
  • 29
    Robert E. Luckey, "Materials for a Course in English on Portuguese and Brazilian Literature and Culture,"
    Modern Language Journal, vol. 34, 1950, p. 422.
  • 30
    Philip C. Jessup, director,
    Carnegie Endowment for International Peace (Fundo de Dotações Carnegie para a Paz Internacional),
    Division of International Law, a Érico Veríssimo, 17 de agosto de 1941, Acervo do EV, IMS.
  • 31
    Da sobrecapa do livro de Magdalena Petit Marfán,
    La Quintrala, traduzido por Lulu Vargas Vila, New York, Macmillan, 1942.
  • 32
    Doris Patee a Érico Veríssimo, 17 de março de 1941; Patee a Veríssimo, 12 de abril de 1943, Acervo do EV, IMS.
  • 33
    Joaquin Ortega, School of Inter-American Affairs, University of New Mexico, a Érico Veríssimo, 6 de dezembro de 1941; Providence Raimond, secretary, School of Inter-American Affairs, University of New Mexico, a Érico Veríssimo, 2 de abril de 1942, Acervo do EV, IMS.
  • 34
    Theodore Purdy, Jr., a Érico Veríssimo, 31 de julho de 1941; Purdy a Veríssimo, 25 de agosto de 1941; Purdy a Veríssimo, 27 de outubro de 1941; Purdy a Veríssimo, 31 de dezembro de 1941; Mary S. Thompson, Publicity Department,
    Macmillan Company, a Érico Veríssimo, 16 de setembro de 1942; Purdy a Veríssimo, 20 de setembro de 1942, Acervo do EV, IMS.
  • 35
    "Books—Authors,"
    New York Times (16 January, 1943), p. 11.
  • 36
    Érico Veríssimo a Louis Kaplan, 9 de janeiro de 1942, Acervo do EV, IMS.
  • 37
    Anotação sobre Érico Veríssimo,
    O resto é silêncio,
    Handbook of Latin American Studies, vol. 9, 1944, HLAS Item#: re464267, disponível em:
  • 38
    L. L. Barrett, revisão de uma versão editada de
    Gato preto em campo de neve, produzida para estudantes de português nos Estados Unidos,
    Hispania, vol. 32, 1949, p. 265.
  • 39
    Para mais informações sobre o argumento acerca da relação familiar e a transformação social no trabalho de Veríssimo, ver Ligia Chiappini Moraes Leite,
    Modernismo no Rio Grande do Sul: Materiais para o seu estudo, São Paulo, Instituto de Estudos Brasileiros, 1972; Ligia Chiappini Moraes Leite,
    Regionalismo e modernismo: O caso gaúcho, São Paulo, Ática, 1978; B. A. Richards, Érico Veríssimo: The
    Brazilian Novels Assessed in the Context of Modernism and Latin American Fiction, London, King's College, University of London, 1981; Maria Antonieta Antonacci,
    Rio Grande do Sul: As oposições e a revolução de 1923, Porto Alegre, Mercado Aberto,1981; Luiza H. Schmitz Kleimann,
    Rio Grande do Sul, terra e poder: História da questão agrária, Porto Alegre, Mercado Aberto, 1986; Sandra Jatahy Pesavento,
    A burguesia gaúcha: Dominação do capital e disciplina do trabalho, Rio Grande do Sul 1889-1930, Porto Alegre, Mercado Aberto, 1988.
  • 40
    Anotação sobre Érico Veríssimo,
    Olhae os lyrios do campo [
    sic, o correto é
    Olhai os lírios do campo],
    Handbook of Latin American Studies, vol. 4, 1938, HLAS Item#: re394248a. Os escritores brasileiros das décadas de 1920 e 1930 são geralmente conhecidos por rejeitarem a cultura francófila da então chamada "República Velha" (1889-1930), abraçando o modernismo com foco na exploração de características peculiares do nacionalismo ou regionalismo brasileiro; também exploravam a identidade brasileira, retornando para as raízes culturais e sociais de cada estado. Veríssimo pode ser visto como ator na intersecção do modernismo com o regionalismo. Ele tinha familiaridade com tendências literárias da Europa e da América do Norte, com forte inclinação para escrevera um grande público de classe média.Seus temas exploravam criticamente as relações sociais no Rio Grande do Sul, embora a estrutura mal descrevesse os objetivos de Veríssimo como escritor e sua posição nas letras nacionais. Ver Wilson Martins,
    The Modernist Idea: A Critical Survey of Brazilian Writing in the Twentieth Century, New York, New York University Press, 1970, Antônio Cândido,
    On Literature and Society, Princeton, Princeton University Press, 1995, Roberto Schwarz,
    Misplaced Ideas: Essays on Brazilian Culture, London, Verso, 1992.
  • 41
    George P. Brett, Jr., President of
    Macmillan Company, a Érico Veríssimo, 6 de agosto de 1943, Acervo do EV, IMS.
  • 42
    Mesmo com a "explosão" após 1970, até hoje, apenas 14 autores latino-americanos apresentaram um número de títulos em inglês igual ao de Veríssimo: Jorge Amado, Miguel Ángel Asturias, Jorge Luis Borges, Ernesto Cárdenal, Julio Cortázar, José Donoso, Carlos Fuentes, Gabriel García Márquez, Machado de Assis, Pablo Neruda, Octavio Paz, Manuel Puig, César Vallejo e Mario Vargas Llosa.
  • 43
    F. B., "Books: South American Writes a Tense, Dramatic Story,"
    Chicago Tribune, vol. 17, February 1943, p. 23.
  • 44
    William Du Bois, crítica sem título,
    New York Times, 24 January, 1943, Book Review Section, p. 6.
  • 45
    Library Journal, vol. 67, 1 November, 1942, p. 952;
    Booklist, vol. 39, 1 March, 1943, p. 275.
  • 46
    Granville Hicks, crítica sem título do
    Time and the wind (O tempo e o vento),
    New York Herald Tribune, 8 November, 1951, Book Review Section, p. 7.
  • 47
    Herschel Brickell, crítica sem título do
    Time and the Wind (
    O tempo e o vento),
    Saturday Review of Literature, vol. 34, 22 September, 1951, p. 15.
  • 48
    Érico Veríssimo,
    Crossroads, traduzido por L. C. Kaplan, New York, Macmillan, 1943, p. 106.
  • 49
    Sobre o clientelismo no Brasil, ver Luiz Henrique Nunes Baía,
    O poder do clientelismo: Raízes e fundamentos da troca política, Rio de Janeiro, Editora Renovar, 2003; Edson de Oliveira Nunes,
    A Gramática Política do Brasil: Clientelismo e Insulamento Burocrático, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editora, 2003; Paul Cammack, "Clientelism and Military Government in Brazil," in
    Private Patronage and Public Power: Political Clientelism in the Modern State, ed., Christopher Clapham, London, Frances Pinter, 1982; José Murilo de Carvalho, "Barbacena: A Família, a Política e uma Hipótese,"
    Revista Brasileira de Estudos Políticos, vol. 20, 1966, p. 153-194; Luis de A. Costa Pinto,
    Lutas de Família no Brasil: Introdução ao seu Estudo, São Paulo, Editora Nacional, 1949; Nestor Duarte,
    A Ordem Privada e a Organização Política Nacional, São Paulo, Editora Nacional, 1939; Linda Lewin,
    Política e Parentela na Paraíba: Um Estudo de Caso da Oligarquia de Base Familiar, Rio de Janeiro, Record, 1993; Sérgio Buarque de Holanda,
    Raízes do Brasil, São Paulo, Companhia das Letras, 1995; publicado originalmente em 1936.
  • 50
    Érico Veríssimo,
    Caminhos Cruzados, São Paulo, Companhia das Letras, 2005, p. 153; traduzido por L. C. Kaplan em
    Crossroads como "a marvelous day when the efforts of men of good will will level all social differences, without violence or extremes" (176).
  • 51
    Érico Veríssimo a Richard Pattee, 13 de janeiro de 1943 e 21 de maio de 1943, Acervo do EV, IMS. Em junho de 1942, ele havia escrito para uma amiga dos Estados Unidos que esperava passar um ou dois anos na Califórnia depois da guerra (Érico Veríssimo a Angèle Kathleen Gingras, 15 de junho de 1942). Para o relato da Universidade da Califórnia sobre as expectativas do Departamento de Espanhol e Português quanto à função de professor visitante de Veríssimo, ver S. G. Morley, Chair of the Department of Spanish and Portuguese, University of California, Berkeley, a Harry H. Pierson, Division of Cultural Relations, U.S. Department of State, 26 May, 1944, em anexo à correspondência recebida em 1944 pertencente aos Estados Unidos da América, nos arquivos da Secretaria de Estado das Relações Exteriores, Arquivo Histórico do Itamaraty.
  • 52
    J. Manuel Espinosa, "Exchange of Professors Between the United States and Other American Republics,"
    The Americas, vol. 3, 1947, p. 535-543.
  • 53
    Érico Veríssimo a Henrique Bertaso, 8 de novembro de 1943, Acervo do EV, IMS.
  • 54
    Observação feita pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda em uma entrevista, ao se lembrar de uma conversa em 1941, quando visitou os Estados Unidos a convite do Departamento de Estado. Ver Sérgio Buarque de Holanda e Richard Graham, "An Interview with Sérgio Buarque de Holanda,"
    Hispanic American Historical Review, vol. 62, 1982, p. 14.
  • 55
    Érico Veríssimo – entrevistado por Eloise Keeler no programa de rádio "At Your Service" KFBK, 1530 (Sacramento, California), 9:00 AM, Tuesday, 3 July, 1944, transcrito no Acervo do EV, IMS.
  • 56
    "Simpatizantes do Eixo tentam dizer aos brasileiros que os Estados Unidos são apenas um país imperialista e não estão interessados em uma amizade genuína. Querem apenas mercados para seus produtos. Acho que nós devemos, a todo custo, tentar promover um melhor entendimento entre a América do Norte e a América do Sul."
  • 57
    Entrevista com Érico Veríssimo no programa "At Your Service" KFBK, 1530 (Sacramento, California), 9:00 AM, Tuesday, 3 July, 1944, transcrito no Acervo do EV, IMS. "Mediante o trabalho de escritores honestos, hábeis e de boa vontade, que estejam mais interessados em servir à relação interamericana do que fazer declarações sensacionais ou apenas
    best-sellers. Enviando também estudantes e mulheres ao Brasil e não apenas pessoas muito importantes. Aumentar as visitas das mulheres entre os dois países era importante, pois quando [as mulheres] gostam de um lugar, elas falam, falam e falam de forma efetiva sobre o que viram. E, geralmente, elas não se interessam tanto por negócios, mas sim por relações humanas."
  • 58
    Bess M. Wilson, "Brazilian Views Told by Author,"
    Los Angeles Times, 6 November, 1944, p. A6. Em contraste com a avaliação de Veríssimo, Selden Chapin, oficial e assistente-chefe da
    Division of the American Republics (Divisão das Repúblicas Americanas) do Departamento de Estado, fez um memorando para avisar ao Departamento que os visitantes norte-americanos no Brasil deveriam evitar o humor, já que os brasileiros não tinham oradores que faziam piadas em seus discursos (Chapin, "Need of Cultural Relations with Brazil," 5 April, 1937, NA/DS/RG59, Lot Files, Entry 209, Office of American Republic Affairs, Its Predecessors, and Its Successors, Memorandums Relating to General Latin American Affairs, Country File B24).
  • 59
    Associação civil privada que organizava (e ainda organiza) encontros públicos sobre problemas contemporâneos (N.T.).
  • 60
    "Relations with Brazil Reported Deteriorating: Brazil Cools toward U.S.,"
    Los Angeles Times, 14 November, 1944, p. A1.
  • 61
    Gisela Cramer e Ursula Prutsch, "Nelson A. Rockefeller's Office of Inter-American Affairs (1940 – 1946) and Record Group 229,"
    Hispanic American Historical Review, vol. 86, 2006, p. 795.
  • 62
    Seth Garfield notou que o
    America First Committee (Primeiro Comitê da América), organização isolacionista primária dos Estados Unidos, havia abraçado o pan-americanismo como alternativa para a guerra na Europa e na Ásia. Uma divisão pan-americana de trabalho poderia prover os Estados Unidos com
    commodities tropicais – como borracha, essencial para a larga produção industrial –, mas que vinham das colônias europeias na Ásia e na África. Ver Garfield, "A Amazônia no imaginário norte-americano em tempo de guerra,"
    Revista Brasileira de História, vol. 29, 2009, p. 19-65.
  • 63
    Termo informal usado no jornalismo norte-americano para identificar as regiões sudeste e centro-sul dos Estados Unidos, onde o protestantismo evangélico tem sido uma característica definidora da cultura regional e a frequência à igreja é maior do que nas outras regiões. (N.A.)
  • 64
    "A Bandeira Estrelada", hino dos Estados Unidos. (N.T.)
  • 65
    As leis de Jim Crow foram leis estaduais, promulgadas entre 1876 e 1965 nos estados do Sul, e estabeleciam a segregação racial em todas as instalações públicas, anulando os direitos políticos e civis dos afro-americanos. (N.A.)
  • 66
    Ainda que o cardápio não apresentasse maiores identificações dos pratos, "churrascaria" era, certamente, semelhante ao
    barbecue texano.
  • 67
    Érico Veríssimo a Henrique Bertaso, 14 de fevereiro de 1945; 17 de abril de 1945.
  • 68
    Em suas memórias, Veríssimo disse que pensara em escrever a saga do Rio Grande do Sul em 1935, durante o centenário da Guerra dos Farrapos, mas pediu mais tempo para elaborar a estrutura da história (Érico Veríssimo,
    Solo de clarineta: Memórias, vol. 1, Porto Alegre, Editora Globo, 1973, p. 288).
  • 69
    Arquivo 6921/914, Índice: Conhecimento sobre o Brasil nos Estados Unidos, 19 de novembro de 1948, nos arquivos da Secretaria de Estado das Relações Exteriores, Arquivo Histórico do Itamaraty.
  • 70
    L. Hallewell,
    Books in Brazil: A History of the Publishing Trade, Metuchen, New Jersey, Scarecrow Press, 1982, p. 235.
  • 71
    Hallewell,
    Books in Brazil, p. 235, 275, 334.
  • 72
    "TV Effect on Book Buying Is 'Nil,' ABA Reports,"
    Publishers Weekly (6 January, 1951), 21; "Specialists to Confer on Book Use and Reading,"
    Publishers Weekly, 13 January, 1951, p. 6-7; "Nation's Business at High Level: 1951 to Bring Retail Boom",
    Publishers Weekly, 13 January, 1951, p. 127-129; "Summary of Events and Trends, 1950, in the American Book Trade,"
    Publishers Weekly, 20 January, 1951, p. 221-226; "U.S. Economy Now at Record High: How Will It Affect the Book Trade?"
    Publishers Weekly, 5 January, 1952, p. 21; "Will the 'Award Books' Be Featured in Your Store?"
    Publishers Weekly, 5 January, 1952, p. 40; "Tips for the Bookseller,"
    Publishers Weekly, 16 August, 1952, p. 700-701; "Sales Appeal,"
    Publishes Weekly, 13 September, 1952, p. 992; "For 1953, Sales Expansion Both Bottom and Top,"
    Publishers Weekly, 3 January, 1953, p. 41; "The Promotion of Reading Will Be Vigorous in 1953,"
    Publishers Weekly, 10 January, 1953, p. 133; "Summary of Events and Trends, 1952, in the American Book Trade,"
    Publishers Weekly, 24 January, 1953, p. 269-272; "Highlights of 1956 News and Trends in the U.S. Book Industry,"
    Publishers Weekly, 21 January, 1957, p. 47-60. Ver também Priscilla Coit Murphy, "'Down with Fiction and Up with Fact':
    Publishers Weekly and the Postwar Shift to Nonfiction,"
    Publishing Research Quarterly, Fall 1998, p. 29-52; e Evan Brier,
    A Novel Marketplace: Mass Culture, the Book Trade, and Postwar American Fiction, Philadelphia, University of Pennsylvania Press, 2009, p. 109-115.
  • 73
    Série de televisão transmitida entre 1955 e 1957 e patrocinada pela produtora de alumínio Alcoa Inc. (N.T.)
  • 74
    Érico Veríssimo, "Gato Grisalho em Teto de Zinco" (artigo de 1968 sobre os Estados Unidos, 20 anos depois da Segunda Guerra Mundial), texto no Acervo do EV, IMS.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      30 Jul 2013
    • Data do Fascículo
      Jun 2013

    Histórico

    • Recebido
      10 Dez 2012
    • Aceito
      25 Jan 2013
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