Resumo:
A emergência de regimes autoritários na América Latina nas décadas de 1960 e 1970 gerou o deslocamento de grande número de pessoas, que abandonaram seus países em razão da crescente violência da qual eram vítimas. A repressão e a censura, como foi o caso do Brasil, não se restringiram à esfera política mais tradicional, mas avançaram também sobre os campos cultural e comportamental, perseguindo os movimentos de contracultura. Este artigo procura estudar experiências de exílio de brasileiros em Londres entre 1968 e 1974, e suas relações com a contracultura. Analisamos como a repressão e a censura no âmbito moral e comportamental levou muitos sujeitos ao exterior para, em seguida, discutir algumas dessas experiências, as razões para a escolha pela capital inglesa como local de refúgio, assim como refletir acerca das singularidades e ambiguidades dos exílios londrinos ligados ao universo contracultural.
Palavras-chave:
Exílio; Contracultura; Ditadura
Abstract:
The emergence of authoritarian regimes in Latin America in the 1960s and 1970s generated the displacement of a large number of people, who left their countries due to the increasing violence of which they were victims. Repression and censorship, as was the case in Brazil, were not restricted to the traditional political sphere, but also advanced into the cultural and behavioral fields, persecuting counterculture movements. This article seeks to study Brazilians’ experiences of exile in London between 1968 and 1974, and their relations with the counterculture. We analyze how repression and censorship in the moral and behavioral sphere took many subjects abroad and then discuss some of these experiences, the reasons for choosing the English capital as a place of refuge, as well as reflecting on the singularities and ambiguities of London exiles linked to the countercultural universe.
Keywords:
Exile; Counterculture; Dictatorship
Festival da Ilha de Wight, Inglaterra, agosto de 1970. Duzentas mil pessoas já se faziam presentes nas ensolaradas e ainda verdes colinas. Era uma quinta-feira, véspera do início oficial do evento. Nos dias seguintes se reuniriam seiscentos mil para assistir atrações como Miles Davis, Jimi Hendrix e The Doors. Um animado grupo de amigos que fazia um som improvisado entre as barracas do acampamento, dos quais muitos brasileiros, foram convidados ao palco principal para uma jam session. Eram mais de vinte pessoas. Enquanto um dos jovens estendia a bandeira verde e amarela à frente do palco, o apresentador anunciava que a insustentável situação política vivida no Brasil era uma das razões deles estarem lá, levantando aplausos solidários do público. Ali se faziam presentes figuras como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rogério Sganzerla, Helena Ignez, Antonio Bivar e José Vicente. Alguns tocavam, outros dançavam. Entre outras músicas, Caetano cantou London, London. Gil, com Aquele abraço, canção-despedida do país natal diante do adeus forçado, encerrava a apresentação e provocou emoção e lágrimas no palco.
A cena narrada, construída a partir de memórias e imagens do evento (Bivar, 1970, 1984; Tropicália, 2012; O sonho…, 2017), não ocorreu em Londres, mas é representativa da experiência de muitos brasileiros que optaram por viver seus desterros, forçados ou voluntários, na capital britânica. Viajar e participar de festivais era comum entre esses estrangeiros, em consonância com as práticas e imaginário da contracultura. Em meio a levas de exilados produzidos pelas ditaduras que surgiram em vários países latino-americanos nas décadas de 1960 e 1970, a escolha por viver na Inglaterra refletia, em muitos casos, o posicionamento daqueles personagens no debate político-cultural da época.
O êxodo populacional provocado pelos regimes autoritários gerava o surgimento de “lugares de exílio”, localidades como Montevidéu, Santiago e Cidade do México, que recebiam grande número de desterrados. Paris foi centro de atração de latino-americanos, especialmente de militantes e intelectuais de esquerda (Roniger, 2014; Napolitano, 2014). Para Sznajder e Roniger (2013), as comunidades de exílio podem ser analisadas por meio do grau de politização e ativismo e a capacidade de organização e articulação entre os conterrâneos. Londres, que era considerada uma das “mecas” da cultura pop e da contracultura, como lugar de exílio de brasileiros possuía suas especificidades, tanto pelos posicionamentos político-culturais dos que lá buscavam abrigo quanto pelas possibilidades de retorno ao Brasil.
Silvina Jensen (2011) compreende o exílio, em razão de sua condição dinâmica, como um objeto poliédrico e móvel, sendo necessário analisar tanto a nação que expulsa quanto o país de destino. Para a autora, trata-se de um fenômeno plural que possui uma variabilidade intrínseca, com uma multiplicidade de experiências no que se refere a trajetórias pessoais, políticas e laborais, assim como em relação à integração cultural e ao retorno ou não à sua terra. Como afirma Pablo Yankelevich (2011, p. 22), “não houve um único exílio para cada um dos países de origem, mas múltiplos exílios desenvolvidos por uma diversidade de motivos e de práticas políticas e sociais”. Para ele, tendo em vista essa multiplicidade, há ainda muitas lacunas temáticas e metodológicas a serem exploradas nas pesquisas sobre o tema. Os exílios londrinos e suas relações com a contracultura são uma dessas lacunas.
A maioria das pesquisas que se aproximam do assunto se encontra no campo dos estudos literários, abordando a escrita exiliar de figuras como Caetano Veloso e Caio Fernando Abreu (Ginszburg, 2005; Souza, T., 2010; Cámara, 2011). Na historiografia, Helenice Rodrigues (2008, p. 40), ao apresentar a trajetória de Suely Rolnik, que se exilou em Paris “após ter sido presa e torturada no Brasil por participar de movimentos de contracultura”, trouxe contribuições para pensarmos o tema. A psicanalista foi vítima da primeira ação de repressão ao uso LSD no país, que envolveu também pessoas como Antonio Peticov e Antonio Bivar (Delmanto, 2020). Rodrigo Pezzonia (2021) buscou explorar as trajetórias de Caetano, Gil e Chico Buarque tanto no exílio quanto em seu retorno, ainda durante a ditadura.
Este artigo tem como objetivo estudar experiências de exílio de brasileiros em Londres entre 1968 e 1974, o período mais violento da ditadura, e suas relações com a contracultura. Nesse sentido, tendo em vista a estrutura triádica do exílio (Sznajder; Roniger, 2013), é necessário observar não somente os sujeitos, mas também os países de origem e destino, as razões que os levaram a abandonar o Brasil e por que escolheram a Inglaterra. Dessa forma, analisaremos inicialmente como o regime, imbuído pela Doutrina de Segurança Nacional, promoveu a repressão e a censura no âmbito moral e comportamental, levando muitas pessoas a partirem para o exterior. Em seguida, iremos explorar algumas dessas experiências, como a da comunidade de exílio que se formou em torno dos músicos tropicalistas, e de outras mais subterrâneas presentes nas obras de Caio Fernando Abreu, assim como refletir acerca das singularidades dos exílios londrinos ligados ao universo contracultural.
Contracultura e repressão política
Os estudos sobre os exílios latino-americanos surgem a partir dos desterros promovidos pelas ditaduras que ascenderam ao poder nas décadas de 1960 e 1970, como forma de denunciar os crimes cometidos pelas ditaduras, mas também de trabalhar traumas de um passado recente. Desenvolveram-se, principalmente, em torno das experiências de pessoas que estavam vinculadas à esquerda tradicional, cuja violência sofrida, o risco de prisão, tortura e morte as levaram a deixar seus países de origem. A ideia de política que informa parte dessas pesquisas é uma perspectiva mais convencional, ou seja, aquela que envolve as práticas de militância e engajamento, de organização social, partidária e institucional. Esse entendimento leva ao questionamento sobre determinados personagens e grupos, como aqueles ligados aos movimentos contraculturais, se teriam ou não atuação política, se foram perseguidos ou sofriam reais ameaças do aparelho repressor, e se tais deslocamentos poderiam ser considerados como exílios (Pezzonia, 2021).
Essa controvérsia tem origem nas disputas político-culturais do período e se desdobraram na própria memória e escrita sobre a época. No Brasil, são famosos os embates entre defensores da estética nacional-popular e da arte engajada, ligados às esquerdas tradicionais, e aqueles que propunham o experimentalismo formal de vanguarda, simbolizado pela figura dos tropicalistas e posteriormente pela arte marginal. Rixas que se mantiveram durante a década de 1970 e permanecem presentes na historiografia (Napolitano, 2017). Uma das críticas era a de que o experimentalismo artístico e os movimentos de contracultura eram apolíticos, alienados e irracionalistas, sendo apontados como simples cópias da cultura imperialista norte-americana.
A chamada contracultura, no entanto, que reúne uma diversidade de experiências sociais, artísticas e culturais, estava permeada por outra ideia de política, na qual a transformação poderia ser alcançada por meio de mudanças culturais. Ao invés da realização de uma revolução social, como no marxismo clássico, poderia se protagonizar uma revolução cultural (Lefebvre, 1991; Marcuse, 1993). Contrapondo-se à cultura hegemônica e suas instituições, a automarginalização, o uso de substâncias expansoras de consciência, a liberdade sexual, o experimentalismo estético, a vida comunitária, o trabalho não alienado, formas alternativas de comunicação e expressão artística e a prática de espiritualidades não ocidentais, entre outras ações, eram vistas como caminhos para a transformação individual, no cotidiano - um primeiro passo para uma revolução mais ampla, a construção de uma “nova cultura” (Kaminski, 2019).
Outra querela, relacionada à anterior, é a de que personagens ligados à contracultura não teriam sido vítimas da violência do regime nem tido suas vidas ameaçadas, razão pela qual não poderiam ser considerados exilados. A historiografia atual tem apresentado estudos que aprofundam a análise da via moralista da ditadura, abordando temas como o processo de politização da censura (Souza, M., 2010; Setemy, 2018; Cardenuto, 2021), a perseguição a sexualidades dissidentes (Green, Quinalha, 2014; Quinalha, 2021) e os discursos sobre a moral produzidos pela comunidade de informações (Longhi, 2015; Brito, 2019).
Nesse âmbito, as pesquisas têm demonstrado que o combate à contracultura e à pauta dos costumes se deu de forma pensada e sistemática, envolvendo os aparatos de informação, de censura e de repressão da ditadura (Dunn, 2016; Kaminski, 2018; Delmanto, 2020; Brito, 2021). Apesar do olhar enviesado, sob o prisma do imaginário anticomunista (Motta, 2002), os militares e parte de seus apoiadores percebiam o caráter subversivo das práticas contraculturais, ou seja, seu aspecto político. Essa percepção é evidente, por exemplo, na interpretação do general Moacir Araújo Lopes acerca da obra de Herbert Marcuse, filósofo alemão apontado como um dos responsáveis pela rebelião da juventude em 1968. Referência para os movimentos de contestação, o pensamento de Marcuse também foi objeto de análise da direita brasileira e dos militares (Menezes, 2019).
Ainda naquele ano, o general proferiu uma série de palestras em instituições militares e de ensino, que consistiam em uma “apreciação sobre a filosofia de Herbert Marcuse”. Em sua análise conjuntural, ocorria o que ele chamou de “processo Marcuse”, que levaria “a juventude à explosão do sexo e da violência”, e “no caos resultante, intervirá o comunismo, dominando-nos com as garras de ferro”. Para ser barrado, deveria haver “vigorosas ações educacionais e repressivas” (Lopes, 1968, p. 39).
Devemos notar que tais afirmações se deram pouco antes da decretação do Ato Institucional n. 5 (AI-5), ou seja, já se apontava para um fechamento maior do regime, com uma atuação mais rigorosa no campo cultural, a fim de evitar a disseminação do pensamento marcusiano, e repressão à juventude que compartilhasse de tais ideais. Dentro dos preceitos da Doutrina de Segurança Nacional, tratava-se de travar um embate no campo psicossocial, uma “guerra psicológica” (Martins Filho, 2008; Duarte, 2017), tanto por meio de ações educativas (como na implementação da disciplina de educação moral e cívica) quanto coercitivas.
Como notou Claudio Pinto Coelho (2005), as primeiras notícias veiculadas na imprensa sobre o surgimento de um movimento hippie no Brasil seguiram acompanhadas de informações acerca da repressão a esse grupo. Em matéria de 4 de março de 1970, a revista Veja anuncia a prisão de centenas de “jovens de colar no pescoço e cabelos compridos” (Hippies…, 1970, p. 70) em diferentes cidades do país. Conforme o periódico, as detenções eram resultantes de uma campanha rigorosa ordenada pela Polícia Federal. Nos primeiros anos da década, tais personagens seriam figuras recorrentes nas páginas policiais, alvos da repressão estatal.
A ação policial instaurada em nível nacional foi proveniente da orientação do Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão máximo de espionagem da ditadura, responsável por reunir e analisar dados sobre possíveis oposições e dissensos ao regime. A partir da fuga de duas adolescentes cariocas em outubro de 1969, o SNI fez circular um informe que concluía que, a “rigor, os hippies, antes que o mal se difunda por espírito de imitação ou de aventura, deveriam ser enquadrados desde logo por vadiagem, o que se constituiria em medida preventiva contra o evidente potencial de periculosidade”.1 As prisões por vadiagem foram uma das estratégias rotineiras na repressão à contracultura. Forma arbitrária de detenção que, entretanto, não permitia um tempo maior de reclusão, embora ficassem sujeitos a violências físicas e psicológicas (Kaminski, 2018).
O combate aos tóxicos foi outro instrumento de coerção a setores da juventude que não seguiam os preceitos morais e culturais do regime. Nesse sentido, órgãos de informações e de repressão tentavam provar que existia uma ligação entre a “corrupção dos costumes”, a disseminação das drogas e o comunismo (Lima, 2017), política que se refletiu no endurecimento progressivo da legislação sobre o tema. Em 26 de dezembro de 1968, logo após o AI-5, há a decretação de uma nova lei de drogas, que igualava consumidores e traficantes (Delmanto, 2020).
A eleição das práticas da contracultura como elementos promovidos por “inimigos internos”, na perspectiva da Doutrina de Segurança Nacional, compreendia o seu caráter político, embora percebido pelo olhar do imaginário anticomunista, o que fez imputá-las erroneamente como armas soviéticas. Em função de tal compreensão, mobilizaram-se a propaganda contra as drogas e o sexo, as censuras oficial e extraoficial e os órgãos de repressão. A violência exercida sobre essa parte da juventude certamente não foi tão intensa quanto a direcionada aos integrantes das organizações de esquerda. Ainda assim, não deixou de ser sistemática e, em determinados momentos, incluiu métodos como tortura (Troya, 2008; Delmanto, 2020) e assassinato (O “hippicida”, 1971). Essa violência foi suficiente para que alguns desses jovens, com melhores possibilidades econômicas, procurassem sair do país.
Em 14 de dezembro de 1968, com a promulgação do AI-5 e fechamento do Congresso Nacional no dia anterior, a previsão do tempo estampada na primeira página do Jornal do Brasil sintetizava o clima que se instalava: “Tempo negro, temperatura sufocante, o ar está irrespirável. O país está sendo varrido por ventos fortes”. A metáfora do “sufoco” foi uma das mais recorrentes na literatura da época, marcando a experiência histórica da década de 1970 devido à “opressão asfixiante da vida cotidiana sob a ditadura” (Vieira, 2007, p. 332). A sensação, para algumas parcelas da sociedade, era de asfixia. Buscavam-se válvulas de escape e locais, no país ou no exterior, onde se pudesse respirar. Segundo Antonio Bivar (1984, p. 7), em seu livro de memórias sobre o exílio,
O tempo no Brasil […] estava sufocante. Não só para os que militavam politicamente em oposição à ditadura em gestão, mas sufocante também para os que estavam vivendo uma outra revolução, a revolução das mochilas. Todos, cada um ao seu modo, sofreram com a repressão vigente.
Ao lado de políticas de construção de consenso e consentimento entre a população (Rollemberg, Quadrat, 2011), regimes autoritários procuram silenciar, seja pela violência ou pela censura, aqueles que se opõem ou que possam vir a se contrapor a eles. O medo era parte integrante do cotidiano das ditaduras, sentimento promovido pelo terrorismo de Estado, mesmo entre aqueles que não eram alvos diretos (López González, 2017). Em carta para Hilda Hilst, de março de 1973, o ainda pouco conhecido escritor Caio Fernando Abreu, que vivia as experiências contraculturais da época, expressava os sentimentos que o levaram a abandonar o país:
Aconteceram coisas bastante duras nos últimos tempos […]. Não vale a pena contá-las, mas a conclusão, amarga, é que não há lugar para gente como nós aqui neste país, pelo menos enquanto se vive dentro de uma grande cidade. As agressões e repressões nas ruas são cada vez mais violentas, coisas que a gente lê um dia no jornal e no dia seguinte sente na própria pele. A gente vai ficando acuado, medroso, paranoico: eu não quero ficar assim, eu não vou ficar assim. Por isso mesmo estou indo embora. Não tenho grandes ilusões, também não acredito muito que por lá seja o paraíso - mas sei que a barra é bem mais tranquila e, enfim, vamos ver (Abreu, 2002, p. 437).
O trecho permite entrever o sentimento de medo provocado pela violência do regime e a consequente busca por ambientes menos opressivos, assim como aconteceu com vários dos personagens presentes neste artigo, que partiram para o exterior após prisões por porte de drogas, por vadiagem ou sem razão aparente, ou foram vítimas recorrentes da censura. Outros, mesmo não sendo alvos diretos, sentiam o contexto de fechamento do regime, o aumento da violência estatal e do silenciamento de vozes e corpos dissonantes. A ditadura expressava de maneira clara o seu recado: “Brasil: ame-o ou deixe-o”.
London, London, uma comunidade de exílio tropicalista
Os exilados brasileiros em Londres mais lembrados são, sem dúvida, os músicos Caetano Veloso e Gilberto Gil. Ambos partiram para a Inglaterra em 1969, após um tempo presos. Em 1967 e 1968, foram figuras-chave do movimento tropicalista, que tensionou o debate político-cultural brasileiro. O regime ditatorial permitiu, em seus primeiros anos, uma relativa liberdade de expressão no campo cultural pela classe média intelectualizada, que tendia para a chamada estética nacional-popular. Nesse contexto, havia fortes cobranças para que os artistas tomassem uma posição de engajamento político em suas obras. Pretendia-se unir a utopia revolucionária com uma busca das raízes populares da nação, “procurar no passado uma cultura popular genuína, para construir uma nova nação, anti-imperialista, progressista - no limite, socialista” (Ridente, 2014, p. 2). No clima de efervescência que caracterizou o final da década de 1960, o movimento tropicalista surgia como um contraponto estético e comportamental ao nacional-popular.
O movimento tropicalista surgiu da “convergência e de intensa contaminação mútua no âmbito da produção cultural brasileira” (Süssekind 2007, p. 31), com a aproximação de experiências estéticas autônomas em diferentes campos artísticos. Em um momento no qual o debate cultural construía-se no trânsito entre ação artística e política, o experimentalismo de vanguarda proposto pelos tropicalistas era contraposto à produção de uma arte “verdadeiramente nacional”. Os tropicalistas defendiam, por meio da antropofagia de Oswald de Andrade, a devoração do elemento estrangeiro a fim de criar algo autêntico, não simplesmente receber passivamente a cultura metropolitana como um bom selvagem. Além da inovação estética, obras e performances tropicalistas incorporavam o imaginário contracultural que crescia entre a juventude em vários países no final dos anos 1960, como a crítica aos costumes e valores tradicionais.
A partir do AI-5, a relativa liberdade cultural desaparecia. A onda repressiva provocou uma segunda geração de exilados - a primeira havia ocorrido em 1964, decorrente do golpe (Rollemberg, 2007). No dia 27 de dezembro de 1968, Caetano e Gil foram presos em São Paulo. Depois, em Salvador, seriam mantidos em confinamento domiciliar até julho de 1969, quando foram informados pelo general Luiz França que deveriam deixar o país.2 Conforme as memórias de Veloso (2008) sobre os interrogatórios, a razão da detenção seria o caráter subversivo do trabalho por eles desenvolvido, que se constituiria como mais perigoso que o feito pelos artistas de protesto, enquanto um dos agentes se gabava de conhecer o pensamento de Marcuse.
Gil e Caetano, assim como as irmãs Sandra e Dedé Gadelha, suas companheiras, partiram para o exílio, com paradas em Lisboa e Paris antes de aportarem em terras inglesas. O empresário Guilherme Araújo, que estava na Europa quando soube da prisão da dupla e achou mais prudente ficar por lá, pleiteou a possibilidade de fixarem residência em Londres, visto que não queriam ir para os Estados Unidos (Freire, 1972). Em relação à Paris, Caetano recorda que havia lá uma continuação intensificada dos embates existentes no Rio, em função da grande quantidade de brasileiros. Depois de toda a tensão vivida no Brasil, Londres figurava como melhor opção (Veloso, 2008).
Após a Segunda Guerra Mundial, a capital inglesa se reconstruía. Transformava-se o imaginário que sobre ela circulava nos meios de comunicação. De aristocrática à cidade moderna, democrática e jovem: a Swinging London. Paralela a essa imagem, a partir da metade da década de 1960, delineava-se outra, a de um lugar de expressões culturais de vanguarda e de estilos de vida alternativos: uma cidade contracultural. Representações que circulavam internacionalmente por meio da imprensa alternativa e de outras mídias, atraindo milhares de pessoas (Rycroft, 2011). Muitos brasileiros, exilados ou não, deslocaram-se para o país dos Beatles e dos Rolling Stones.
Os baianos passariam a aglutinar grande quantidade de artistas e intelectuais brasileiros a sua volta, como Helena Ignez, Júlio Bressane, Rogério Sganzerla, Neville d’Almeida, Antonio Bivar, Antonio Peticov, Jorge Mautner, Hélio Oiticica, Torquato Neto, entre outros (Coelho, 2002). Nessa casa, diria Caetano (Veloso, 2008, p. 414), “onde muitos amigos brasileiros autoexilados vieram morar - recebemos a visita de Haroldo de Campos, que a apelidou de Capela Sixteena”. Era um ponto de encontro da comunidade de expatriados (Gil; Zappa, 2013).
A maioria das pessoas citadas estavam no exterior em função da opressão do regime. Sócios na produtora Belair, os diretores do cinema marginal Rogério Sganzerla e Júlio Bressane, e a atriz Helena Ignez foram para Londres após terem vários de seus filmes censurados (Jaber, 2018). O artista plástico Antônio Peticov e o dramaturgo Antonio Bivar partiram após serem presos em uma operação de combate às drogas, que gerou o primeiro processo judicial envolvendo o LSD no Brasil (Bivar, 2014; Delmanto, 2020). O poeta Torquato Neto e o artista plástico Hélio Oiticica, integrantes da Tropicália, estavam na capital britânica no momento da decretação do AI-5, preparando uma exposição, e decidiram ficar e aguardar os desdobramentos (Coelho, 2002). Em torno dos tropicalistas, acabou se formando uma “comunidade de exílio” (Sznajder; Roniger, 2013) que se tornou uma referência, especialmente para aqueles vinculados ao meio artístico e da contracultura.
Foi para a casa de Caetano e Gil que Antonio Bivar ligou quando chegou em Londres, procurando se instalar na cidade:
Na manhã seguinte saí à procura de lugar ainda mais barato pra ficar. Depois de ir a uns quatro lugares indicados pela YMCA e de ouvir sempre a mesma resposta, que a casa estava cheia, lembrei-me que trazia no bolso o número do telefone de Gilberto Gil (que ainda não conhecia pessoalmente) e liguei pra lá. Por sorte um conhecido meu, o Johnny Howard, de passagem pela casa dos baianos, ao saber que era eu na linha, me convidou a ficar em sua casa (Bivar, 1984, p. 10).
Pouco tempo depois, Bivar foi morar na residência dos irmãos Claudio e Sérgio Prado, que estavam desde 1965 na cidade e conheciam toda a movimentação hip, head e freak da área. No apartamento vivia uma comunidade flutuante de mais de trinta pessoas que “consistia da fina-flor da ala adolescente de uma faixa bastante original do underground” (Bivar, 1984, p. 12). Posteriormente, ele alugou um quarto que dividiria com seu amigo José Vicente. Os dois faziam parte do que foi chamado de nova dramaturgia, pois rompia com as estruturas que dominavam o teatro brasileiro até 1968 (Machado, 2002). Ambos, antes de partirem para o exílio, haviam sido agraciados com o Prêmio Molière, que concedia passagem de ida e volta para Paris ou Londres.
O cotidiano desses desterrados, pelos relatos consultados, girava em torno do universo underground londrino. Frequentavam concertos de rock, peças de teatro, projeções de cinema alternativo, festivais. Passeios pela Portobello Road, Picadilly Circus, Hyde Park, viajavam para outros países. Uma lembrança recorrente era a de que se podia andar pelas ruas das formas mais extravagantes sem causar espanto ou reações adversas dos demais transeuntes, algo impossível no Brasil. O máximo de reação seriam olhares cúmplices. Antonio Bivar sentia um deslumbramento com todas aquelas possibilidades, a revolução estava acontecendo ali, na liberdade de se expressar, de sentir, de transformar: um “alegre e moderno conto de fada que era essa vida em Londres” (Bivar, 1984, p. 35). Ele via o sonho de parte daquela geração acontecer.
Os dois músicos tropicalistas, impedidos de voltar, sentiam de formas diferentes o exílio. Gil, mesmo sem previsão de regresso, esteve mais disponível para a experiência exiliar. Depois de um tempo de recolhimento, abriu-se para o que Londres tinha a oferecer, começou a se dedicar ao estudo da música, do violão, a vivenciar os mesmos espaços e a apresentar-se nos mesmos locais em que os então astros do rock haviam tocado (Almeida, 1972). Caetano, por outro lado, viveu uma grande “fossa”. Os sentimentos de tristeza e melancolia foram registrados em canções gravadas em seus discos londrinos. Uma das mais representativas do período é a faixa “London, London”:
I’m wandering round and round, nowhere to go
I’m lonely in London, London is lovely so
I cross the streets without fear
Everybody keeps the way clear […]
It’s good at least, to live and I agree (Veloso, 1971).3
Contudo, apesar da tristeza e da solidão, lá ele estava vivo, podia andar livre pelas ruas, sem medo. O compositor também expressou o mesmo sentimento em uma de suas cartas publicadas em O Pasquim: “Eu atravesso as ruas sem medo, pois sei que eles são educados e deixam o caminho livre para eu passar” (Veloso, 1969, p. 4). A questão da liberdade vivida em Londres, em comparação com a ditadura brasileira, aparece em publicação de Gil (1970, p. 6) no mesmo periódico, dialogando com o famoso poema de Gonçalves Dias: “Por isso talvez Deus tenha me tirado de lá e me colocado numa rua fria e vazia onde pelo menos eu possa cantar como o passarinho. As aves daqui não gorjeiam como as de lá, mas ainda gorjeiam”. Além dos dois baianos, outros desterrados, como Bivar e Jorge Mautner, colaboravam com a imprensa alternativa brasileira. As crônicas sobre o cotidiano, a música e outros temas publicadas em O Pasquim ajudavam a divulgar a cidade como destino contracultural entre a juventude, a terra onde estavam exilados os tropicalistas e na qual se podia viver com liberdade.
Em janeiro de 1972, Caetano, Gil, Guilherme Araújo e familiares retornaram ao Brasil. As condições e a negociação que possibilitaram a volta dos baianos até hoje não estão bem claras, mas fazem parte das contradições e ambiguidades presentes na esfera cultural do regime (Napolitano, 2017). O comediante Chico Anysio (1992) afirma que teria intermediado junto ao filho do ditador Emílio Médici a autorização para o regresso deles. Veloso (2008) ressalta a possível participação de João Gilberto, que ligou pedindo para que voltasse para o Brasil, que não haveria problemas com os militares. Ao desembarcarem no Galeão, foram recebidos pelo Centro de Informações do Exército para esclarecimentos e para ouvirem as recomendações de como deveriam se portar no país.4
“London, London ou Ajax, brush and rubbish”
O retorno dos músicos tropicalistas marcou o encerramento de uma comunidade de exílio que girava em torno daqueles artistas, acolhendo e agregando sujeitos que sofriam com a repressão às práticas contraculturais no Brasil. Contudo, não significou o fim do desterro de brasileiros em Londres. Caio Fernando Abreu, nome que se tornaria significativo na literatura brasileira, buscou refúgio na cidade e deixou uma série de escritos sobre a sua passagem. Fontes que permitem visualizar outras experiências dos exílios londrinos, vivências que não estiveram ligadas à badalada comunidade tropicalista.
A carta à escritora Hilda Hilst, citada anteriormente, nos traz o sentimento que o levaria ao exílio, de medo da repressão cotidiana promovida pelo regime. A amiga já o havia acolhido em sua “Casa do Sol”, em Campinas, enquanto se escondia do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) após o AI-5, que o procurava em razão de ter participado de manifestações em 1968, época em que trabalhou na revista Veja, na capital paulista (Dip, 2014). O jovem autor mergulha nas vivências contraculturais da época, indo morar no Rio de Janeiro. Período assim descrito por ele:
Aquele Rio do começo dos anos 70, com a coluna ‘Underground’ de Luiz Carlos Maciel, no Pasquim, do píer de Ipanema, com as dunas da Gal (ou do barato), dos jornais alternativos tipo Flor do Mal. Tempo de dançadas federais. Tempo de fumaça, de lindos sonhos dourados e negra repressão. Tempos de Living Theatre expulso do país, do psicodelismo invadindo as ruas para ganhar seus contornos tropicais. […] Eu estava lá. Metido até o pescoço: apavorado viajante (Abreu, 2012, p. 9-10).
Em uma dessas “dançadas federais”, Caio foi preso por drogas e espancado pela polícia, fato que o fez ser demitido e a retornar ao seu estado natal (Abreu, 2002). Em Porto Alegre, assim como tantos outros, juntava dinheiro para sair do país, o que conseguiu após ter um de seus contos premiado pelo Instituto Estadual do Livro.
Seu primeiro destino foi a Suécia, nação que adotava uma perspectiva socialdemocrata de governo, possuía uma série de políticas de bem-estar social e se abria para receber grande quantidade de refugiados (Sznajder, 2011), assim como tinha oportunidades para jovens viajantes. Segundo o fotógrafo Marcos Santilli, que viveu em Estocolmo e se tornou amigo de Caio Fernando Abreu em Londres, “era verão, época em que era possível a estudantes e estrangeiros trabalhar temporariamente de forma legal. Bem pagos, conseguíamos fazer alguma economia para suportar os tempos difíceis de trabalho ilegal nas outras estações” (apudDip, 2014, p. 150). Contudo, em função das grandes diferenças culturais e climáticas, muitos latino-americanos tinham dificuldades em se adaptar e optavam por seguir para outros países (Sznajder; Roniger, 2013), que a princípio teriam clima mais agradável e melhor sintonia em termos culturais. Conforme Luiz Carlos Temple Troya,
A Suécia era um país muito interessante, mas, ao mesmo tempo, era muito refratário a essa questão cultural, era tudo muito dentro moldes da socialdemocracia. E eu tinha vontade de ir para Londres, que naquele momento era uma ‘Meca’ da contracultura. Havia teatro, havia a possibilidade de ocupar casas, e tentamos viver em comunidades com as pessoas que ocupavam casas, tudo isso era bem interessante (Kaminski; Troya, 2021, p. 28).
Ilion Troya, como é mais conhecido, abandonou a faculdade no interior de São Paulo e integrou-se ao Living Theatre, companhia renomada no campo experimental que veio ao Brasil a convite de José Celso Martinez Corrêa, do grupo Oficina. Fundada em Nova Iorque na década de 1940, mas nômade na Europa desde 1964, o Living Theatre era uma das principais referências do teatro contracultural, sendo responsável por um dos espetáculos mais emblemáticos de 1968, o polêmico Paradise now. Em 1971, o brasileiro e os demais membros do grupo foram presos em Ouro Preto pela Brigada do Vício, setor do Dops criado com a missão de reprimir o consumo de drogas em Minas Gerais (Kaminski, 2023). Acusados de uso de entorpecentes e subversão, a detenção dos intérpretes estrangeiros provocou grande repercussão internacional, o que os levou a serem expulsos do país por Médici, e levou Ilion ao exílio.
Foi em Estocolmo que Caio Fernando Abreu teve seu primeiro contato com Troya, um de seus parceiros de exílio londrino e de vida em squats, e a quem dedicaria o conto “London, London ou Ajax, brush and rubbish”, que faz menção à canção de Caetano Veloso. Mas, embora falem da mesma cidade, exibem universos em parte distintos (Souza, T., 2010), mesmo que contraculturais, representando diferentes experiências do exílio. Se, por um lado, as narrativas de Caio Fernando Abreu trazem as angústias existenciais do desterrado, como nas músicas do baiano, por outro, mostram as agruras materiais. O texto - escrito em diferentes línguas que se embaralham, expressão da convivência com pessoas de distintas nacionalidades - apresenta o cotidiano dos subempregos possíveis para determinados estrangeiros, tal como os trabalhos de limpeza:
Bolhas nas mãos. Calos nos pés. Dor nas costas. Músculos cansados. Ajax, brush and rubish. Cabelos duros de poeira. Narinas cheias e poeira. Stairs, stairs. Bathrooms, bathrooms. Blobs, blobs. Dor nas pernas. Subir, descer, chamar, ouvir. Up, down. Many times lost me by undergrounds, corners, places, gardens, squares, streets, terraces. Dor, pain. Blobs, bolhas. […] Dura paisagem, hard landscape. Tunisianos, japoneses, persas, indianos, congoleses, panamenhos, marroquinos. Babylon City ferve. Blobs in stranger’s hands, virando na privada o balde transbordante de sifilização, enquanto puxo a descarga para que Mrs. Nurnes (ou Lascelley ou Hill ou Simpson) não me escute (Abreu, 2014, p. 245).
Sem a comunidade de exílio tropicalista, desfeita com o retorno dos músicos ao Brasil, Caio Fernando Abreu e outros brasileiros compartilhavam de rede distinta, composta por sujeitos de origens diversas, com construções de práticas para sobreviver às condições adversas, especialmente no inverno londrino. Se as atividades laborais eram as comuns do cosmopolitismo do pobre (Santiago, 2004), outras táticas eram ressignificadas no contexto da contracultura (Certeau, 2008). O shoplifting, a realização de pequenos furtos em lojas, que aparece em seus textos, por exemplo, era visto como forma de contraposição ao capitalismo, de desafio às autoridades e que, claro, poderia prover os marginalizados na sociedade da abundância e do desperdício. Abbie Hoffman (1971), um dos ícones da contracultura norte-americana, publicou a obra Steal this book [Roube este livro], em que ensinava uma gama variada de táticas para se aproveitar das brechas do sistema. Ironicamente, o escritor gaúcho seria preso em terras inglesas por furtar uma biografia de Virginia Woolf (Abreu, 2002).
Uma prática da contracultura europeia foi o do squat, a ocupação coletiva de prédios e residências abandonados e ociosos, como alternativa à falta de moradia e em resposta à especulação imobiliária (Rudy, 2019). A legislação inglesa era relativamente flexível a esse tipo de ação, desde que a apropriação do espaço obedecesse determinadas condições. Alguns movimentos alternativos, inclusive locais, produziam manuais de como proceder nas invasões para se manter dentro dos regulamentos.
Marcos Santilli relembra a sua ida a uma dessas ocupações:
Em dezembro reencontrei Caio em Londres, por acaso. Ambos em grande dificuldade de trabalho e subsistência, com vistos de turista vencendo. Para eliminar o aluguel, nos juntamos num squat (casa abandonada e invadida) de latino-americanos na Bravington Road. Era daquelas típicas casas geminadas, de tijolo aparente e dois pavimentos. Multirracial, multi-instrumental, a casa abrigava todas as variações sexuais possíveis, hippies, em sua maioria, artistas, todos momentaneamente sem condições de voltar a seus países, por razões diversas (apudDip, 2014, p. 156).
Embora tivessem respaldos legais, essas moradias normalmente careciam de luz elétrica e aquecimento, assim como estavam passíveis de serem objeto de reintegração de posse, os moradores recebendo ordem para abandonar os locais. O que levava os sujeitos que ali estavam a procurar outras casas desocupadas para construírem novos squats.
No conto “Lixo e purpurina”, um “diário, em parte verdadeiro, em parte ficção”, Caio Fernando Abreu (2014, p. 197) apresenta suas vivências nessas habitações compartilhadas. O início do texto, com data de 27 de janeiro de 1974, se ambienta no contexto em que a polícia dá um prazo para desocuparem o squat em que estavam vivendo. Na residência da qual partiriam, e que não teria mais razão para ser limpa, restos de purpurina e de plumas compartilhavam o espaço com o lixo. Resquícios da alegria e do sonho se tornavam, como eles, despejo. Sem saber se encontrariam outra casa para ocupar, o narrador refletia:
Amanhã é dia de nascer de novo. Para outra morte. Hoje é dia de esperar que o verde deste quase fim de inverno aqueça os parques gelados, as ruas vazias, as mentes exaustas de bad trips. […] Estamos encalhados sobre as malas e tapetes com nossos vinte anos de amor desperdiçado, longe do país que não nos quis (Abreu, 2014, p. 199).
A imagem de mudança cíclica, da vida e da morte, das estações, coabitava com o sentimento de ser rejeitado por seu próprio país. Na liberdade almejada na Swinging London, longe da repressão ditatorial, se faziam presentes também o medo e o pânico das bad trips, as dores do trabalho árduo, a fome e a ansiedade de não saber onde se irá dormir nas congelantes noites de inverno.
E ecoavam nos versos de John Lennon (1970) e de Gilberto Gil (1972): “o sonho acabou”. A contracultura em Londres vivia um momento de refluxo (Rycroft, 2011), já não parecia tão alegre, acolhedora e revolucionária como nos anos anteriores: “no muro perto de casa alguém escreveu com sangue: flowerpower is died” (Abreu, 2014, p. 247). Suas vivências ficcionalizadas percorrem quatro meses em constante busca por moradia e trabalho para garantir a subsistência. Em meio a despejos, fome, detenção, prisão de amigos e falta de dinheiro, batia o desalento, a incerteza e a vontade de retorno: “só penso em voltar, lá não há liberdade, mas tem sol. E comida” (Abreu, 2014, p. 208). No final de maio de 1974, quando se encerra o diário, pouco mais de um ano após sua partida, o escritor embarcava em direção ao Brasil. Ilion Troya permaneceria no exílio, juntando-se novamente ao Living Theatre em Nova Iorque.
Regresso, retorno…
Em relação aos exílios, há um mosaico de diferentes memórias e trajetórias individuais e suas complexidades (Yankelevich, 2011). Não seria diferente no caso londrino. Neste texto, passamos brevemente por algumas delas, por meio de relatos registrados em cartas, canções, contos, crônicas e entrevistas. Embora cada uma tenha suas singularidades, guardam questões em comum, como o fato de terem partido devido à crescente violência promovida pela ditadura brasileira, a escolha por Londres em razão do que ela representava no universo cultural da época, assim como pelas ligações que possuíam com a contracultura.
As condições de partida e regresso de cada um, contudo, apresentam algumas diferenças. Como vimos, grande parte dos personagens citados foram vítimas da repressão ou da censura. Por um lado, se Caetano Veloso e Gilberto Gil foram extraoficialmente expulsos e tiveram que receber autorização não escrita para poder voltar, por outro, a maioria presente neste trabalho escolheu o desterro por vontade própria. Assim, podemos considerar que esses eram “exilados voluntários” (Silva, 2010), que decidiram deixar o país compreendendo que no exterior haveria maior liberdade política, cultural e comportamental. Contudo, como lembra Sznajder (2011, p. 68), pode ser difícil “traçar uma linha divisória entre expulsão e fuga”. Nesse sentido, uma das marcas de ambuiguidade presente nos exílios voluntários londrinos era a possibilidade de regresso.
O retorno implicava enfrentar os riscos inerentes a sua condição e ao que levou a pessoa à fuga. Sujeitos envolvidos em grupos de oposição armada certamente sofriam muito mais ameaças à vida que aqueles que partiram em razão da repressão no campo comportamental, da censura e do medo promovido pelo terrorismo de Estado. Fato que influi na própria experiência de estar no exílio, na ponderação constante entre os perigos de voltar e as condições existenciais e materiais. Como escreveu Caio Fernando Abreu (2014), não havia liberdade no Brasil, mas tinha sol e comida. E esses eram itens que pesavam na balança de cada exilado, assim como a saudade, sendo o principal o quanto de liberdade teriam caso voltassem. Tivemos muitos brasileiros que só puderam regressar após a Anistia em 1979, Caetano Veloso e Gilberto Gil precisaram de autorização, enquanto outros tinham a possibilidade de retorno em aberto.
Outra ambiguidade desses exílios se refere ao imaginário contracultural relativo às viagens, que via a estrada como um espaço de liberdade. Era possível encontrar jovens mochileiros com vestes alegres e cabelos longos nos mais diferentes lugares do mundo (Kaminski, 2022). No Brasil, entre os jovens que viviam a contracultura, o anseio de partir crescia diante do endurecimento do regime. Dessa forma, no caso dos exílios voluntários, compreendemos que a viagem poderia ser em parte desejada, sendo que a repressão e o medo fortaleciam a decisão de abandonar o país, fator que não era exclusivo da contracultura.
Diante do caráter poliédrico e móvel dos exílios, as experiências dos brasileiros em Londres possuíam suas singularidades e ambiguidades, fruto de suas relações com a contracultura. Ao mesmo tempo, compunham um quadro mais amplo, latino-americano, desse fenômeno que são os exílios em massa, produto dos regimes autoritários que emergiram no continente. Mesmo situados em Londres, muitos continuavam se deslocando, seja para outras cidades ou países, seja para festivais como o da Ilha de Wight, fazendo um som improvisado no acampamento, uma jam session no palco principal, cantando “London, London” e “Aquele abraço”. A insustentável situação política vivida no Brasil era uma das razões de estarem ali.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
17 Mar 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
-
Recebido
03 Jul 2024 -
Aceito
27 Nov 2024