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EDITORIAL

Este número de Trabalho, Educação e Saúde se inicia com o ensaio Tramitação e desdobramentos da LDB/1996: embates entre projetos antagônicos de sociedade e de educação, de Iria Brzezinski. O propósito deste ensaio histórico é lançar luz sobre um tema permanentemente relevante para as políticas públicas: a relação e as disputas entre interesses públicos e privados e sua materialização no âmbito das políticas de educação. O cenário da discussão remete à LDB de 1996, e a autora descreve um panorama amplo de desdobramentos específicos desta lei, analisando, entre outros elementos, a conformação de novas instituições educacionais; questões curriculares; a redefinição da categoria de profissionais da educação e a formação destes trabalhadores.

Na sequência, os primeiros três artigos compõem um conjunto de textos que provoca a reflexão sobre o ensino em saúde, tendo as questões sobre o trabalho como temática central e o desenvolvimento da atenção básica como contexto. Assim, o artigo de Josiane Vivian Camargo et al., A Educação Permanente em Saúde como estratégia pedagógica de transformação das práticas: possibilidades e limites, propõe-se a discutir repercussões sobre o processo de trabalho da implementação da estratégia de educação permanente posta em curso em Londrina. Tal estratégia foi predominantemente de educação a distância e, de acordo com a pesquisa dos autores, a despeito das dificuldades pontuadas no artigo, possibilitou um avanço em termos de compreensão da dinâmica de trabalho e ampliação da participação dos profissionais. O artigo de Roberta Mota e Helena David, A crescente escolarização do agente comunitário de saúde: uma indução do processo de trabalho?, trata da articulação entre o trabalho e a formação de agentes comunitários de saúde (ACS), a partir de uma perspectiva política desta interface. As autoras, cuja pesquisa tem por base a realidade desses profissionais em uma região do Rio de Janeiro, descrevem o perfil deles e traçam análises apontando para questões relativas à profissionalização do grupo pertencente às classes populares, que hoje atua como ACS. O artigo Educação Permanente com os auxiliares de enfermagem da Estratégia Saúde da Família em Sobral, Ceará, de Aldiania Carlos Balbino et al., confere destaque ao discurso de auxiliares de enfermagem, valoriza a educação permanente em saúde como forma de construir o papel dos profissionais da saúde e, em particular, da enfermagem, entendendo esses processos como condição para conformar competência técnica, crítica e interativa compatível com o horizonte ético e político do Sistema Único de Saúde.

Também falando sobre educação, no sentido de formação, no que diz respeito às relações entre saúde e ambiente, o artigo Formação de agentes comunitários em ambiente e saúde na Colônia Juliano Moreira: uma abordagem etnográfica, de Fátima Cecchetto, Simone Monteiro e Érica Fernandes, parte da perspectiva de que uma intervenção, como a educação, é um projeto que se constrói com base em uma polifonia dos sujeitos, agentes políticos com interesses e demandas diferenciadas. Apoiadas pelos referenciais da pesquisa qualitativa e do método etnográfico, as autoras buscam captar diversos significados construídos em torno do curso. A análise de expectativas dos alunos, por exemplo, indica a associação entre qualificação e inserção no mercado de trabalho ao mesmo tempo em que identificam a apropriação dos saberes propostos pelo curso com a possibilidade de intervir positivamente sobre a qualidade de vida naquele espaço.

Os dois artigos finais apresentam ângulos diferentes por meio dos quais se pode pensar sobre o ensino de odontologia no Brasil. Em Profissão, docente de odontologia: o desafio da pós-graduação na formação de professores, Mariângela Baltazar, Samuel Moysés e Carmen Célia Bastos proporcionam, a partir de uma perspectiva histórica, uma sólida base para refletir sobre a formação desses docentes, contribuindo para entender o seu caráter tecnicista. Além disso, cita e discute a insuficiência da formação oferecida na pós-graduação quando está em pauta o objetivo de qualificar um odontólogo para o exercício crítico da docência. É em torno da discussão sobre avanços e dificuldades que perpassam o processo de ensino em odontologia que Aline Guio Cavaca et al. constroem a pesquisa cujos resultados dão origem ao texto A relação professor-aluno no ensino da odontologia na Universidade Federal do Espírito Santo. A investigação, na qual os sujeitos são professores e alunos, corrobora a perspectiva de que as transformações propostas pelas novas diretrizes curriculares requerem a reconfiguração das práticas de ensino, encaminhando para debate a necessidade de rever os processos de formação pedagógica.

O relato, feito por Arlindo Serpa Filho e Regiane Cristina Okochi, em Capacitação de técnicos de saúde: uma experiência pioneira no estado do Tocantins, retoma a questão da formação e relação saúde-ambiente para recuperar os aprendizados proporcionados por este curso de atualização no qual questões teóricas se aliam a experiências práticas delimitadas por uma visão multidisciplinar e que tem a promoção em saúde como eixo norteador.

Claudio Katz, na entrevista realizada por Marcela Pronko, tece críticas ao novo desenvolvimentismo, explora as possibilidades do marxismo latino-americano e faz considerações sobre a democracia.

Este número apresenta ainda a resenha de Maiko Rafael Spiess, na qual analisa a publicação no Brasil do clássico de David Bloor, Conhecimento e imaginário social.

Angélica Ferreira Fonseca

Carla Macedo Martins

Isabel Brasil Pereira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Mar 2012
  • Data do Fascículo
    Out 2010
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