EDITORIAL
É com prazer que tornamos público o primeiro número da Trabalho, Educação e Saúde, que tem como proposta editorial contribuir para a construção de objeto interdisciplinar entre as áreas mencionadas no título.
É relevante apontar que esta política editorial se depara com limites históricos, dentre os quais destacamos o fato que a Educação e a Saúde, como áreas acadêmicas, vêm se constituindo a partir de problemáticas, teorias e abordagens diferenciadas. Contudo, partilhamos a idéia de que o papel histórico de um periódico científico coloca-se muito além da mera divulgação de conhecimento, constituindo-se efetivamente como uma práxis de construção da ciência, sem deixar de considerar os limites e as possibilidades de um projeto de tal porte.
Como concepção norteadora deste periódico, temos a construção de modelos em que o pensamento não sucumba ao fetiche da totalidade fechada, à vida social alienada, às várias formas que a dominação assume em nossa época, evitando as ilusões, extremas e complementares, de um mundo objetivado e sem fissuras e de uma subjetividade plena, isolada e provedora de sentido ao mundo.
A revista é constituída das seções: Ensaio, Artigos, Debate, Relato, Resenhas e Entrevista. O ensaio segue o modelo defendido por Theodor Adorno, que o define como uma forma crítica de grande alcance teórico que põe em guarda os defensores de uma suposta objetividade científica, onde o estudo do objeto deverá resultar em comunicações fechadas e conclusivas. Intitulado "Educação pela Imagem & Outras Miragens", o ensaio de André Bueno analisa as formas contemporâneas do capitalismo e formas de enfraquecimento da tradição crítica.
"Notas sobre Trabalho e Sacrifício" é o título do artigo de José Leon Crochík. Trata-se de reflexão sobre o trabalho e de conceitos a ele relacionados, como o de práxis, sacrifício, dominação e adaptação. Como nos diz o autor, são apontamentos sobre a questão da formação pelo trabalho pensada a partir da Teoria Crítica da Sociedade, mais precisamente em textos de Horkheimer, Adorno e Marcuse.
Os artigos "Educar o Trabalhador Cidadão Produtivo ou o Ser Humano Emancipado?", de Gaudêncio Frigotto e de Maria Ciavatta, e "É Possível uma Pedagogia das Competências Contra-Hegemônica? Relações entre Pedagogia das Competências, Construtivismo e Neopragmatismo", escrito por Marise Ramos, tratam de questões diretamente ligadas à formação do trabalhador. No primeiro, os autores explicitam termos e conceitos, como trabalhador produtivo, cidadania e cidadão produtivo, utilizados como noções no cenário desenhado nas últimas décadas pelo embate capital e trabalho, e como operam no campo educativo. Em seu artigo, Marise Ramos problematiza a Pedagogia das Competências, bem como possibilidades e limites de vir a ser um instrumento contra-hegemônico na educação profissional dos trabalhadores.
Marina Peduzzi, no artigo intitulado "Mudanças Tecnológicas e seu Impacto no Processo de Trabalho em Saúde", reflete sobre as transformações ocorridas no trabalho em Saúde. Como pano de fundo, as recentes transformações do mundo do trabalho e a atual convivência com setores de produção de modalidades de trabalho anteriores.
O estudo de Cristina Araripe Ferreira "Concepções da Iniciação Científica no Ensino Médio: uma proposta de pesquisa" leva-nos a refletir sobre a orientação acadêmica e a iniciação científica de alunos do Ensino Médio. Este artigo traz a singularidade de questões decorrentes desta prática inovadora e ainda não instituída como habitual da rede escolar.
Na seção Relato, em que privilegiamos reflexões em torno de experiências de formação implementadas, aborda-se o Programa de Formação Profissional de Auxiliares de Enfermagem (Profae) a partir de situações desenvolvidas em Minas Gerais.
A seção Debate tem, neste primeiro número, o diálogo de um autor com a sua obra. Trata-se de textos escritos por Dermeval Saviani: o primeiro, escrito em 1987, e o segundo, uma análise do próprio autor ao revisitar aquele texto. Como questão central, a concepção de Politecnia.
A Entrevista com a Profa. Lucie Tanguy, socióloga, pesquisadora da Universidade Paris X-Nanterre, é colaboração significativa para pensarmos a formação profissional do trabalhador, visto ser a França um lugar privilegiado de produção acadêmica e de embates teóricos neste campo.
O leitor dispõe, ainda, de resenhas de três livros relevantes para as discussões travadas na área Trabalho, Educação e Saúde.
Por último, destacamos a seção Memória, em que Luiz Fernando Ferreira contribui para a luta contra o esquecimento social e histórico fazendo, em tom de crônica, o resgate da vida de Joaquim Venâncio, trabalhador da saúde, personagem de grande importância na história da Fundação Oswaldo Cruz.
Articulando o trabalho da memória e a memória do trabalho com a produção do conhecimento científico atual, pretendemos criar uma fonte relevante de divulgação e de legitimação deste conhecimento, que é, sem dúvida, social, fruto do trabalho de várias gerações.
Os Editores
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
06 Nov 2012 -
Data do Fascículo
Mar 2003