Open-access Estudos altmétricos no Brasil: uma análise a partir dos currículos da Plataforma Lattes-CNPq

Altmetric studies in Brazil: An analysis from the curricula on the Lattes Platform-CNPq

Resumo

Campo das metrias da informação com nove anos de existência, a altmetria existe no Brasil há seis anos. Se o campo for considerado de forma mais ampla, tomando-se, como exemplo, estudos cientométricos a partir de dados cibermétricos ou webométricos, é possível identificar trabalhos mais antigos. Entretanto, o processo de delimitação do referido campo se deu em 2010, quando Jason Priem cunhou o termo “altmetrics” via Twitter, tendo o mencionado vocábulo chegado ao Brasil como “altmetria” em 2013. No estudo bibliométrico exploratório aqui apresentado é utilizada a base de currículos Lattes para identificar artigos e comunicações em congressos de pesquisadores, com ou sem doutorado, que atuam no campo da altmetria no Brasil. Ademais, serão também identificadas as suas grandes áreas, além de áreas de atuação, distribuição geográfica e a evolução de fontes de dados e as temáticas ao longo dos anos. Para tanto, foi efetuada a identificação dos currículos por intermédio da busca avançada na Plataforma Lattes, utilizando-se os termos “altmetria”, “altmétrico”, “altmétrica”, “altmetric” ou “altmetrics”. Os 94 currículos encontrados, sendo 37 de doutores e 57 de não doutores, tiveram seus conteúdos filtrados pelos termos de busca utilizados. Foram identificados 26 artigos em periódicos e 36 comunicações em congressos. Dos 94 pesquisadores, 53 deles produziram apenas em altmetria e 41 produziram valendo-se da intercessão com Facebook, Twitter ou Mendeley. O campo é dominado por pesquisadores da grande área de Ciências Sociais Aplicadas, destacando-se a Ciência da Informação e, em menor grau, a área da Comunicação. As abordagens vêm evoluindo, percorrendo um caminho que vai desde aquelas mais teóricas até as práticas, avaliativas, críticas e as contextualizações institucionais e regionais.

Palavras-chave
Altmetria; Brasil; Facebook; Lattes; Twitter

Abstract

Field of the information metrics studies with nine years of existence, altmetrics has in Brazil a history three years more recent. If, on the other hand, we consider the field more broadly, such as scientometric studies based on cybermetric or web-based data, we could identify older works. However, delimitation of the field occurred in 2010, when Jason Priem coined the term “altmetrics” via Twitter having arrived in Brazil as “altmetria” in 2013. In the exploratory bibliometric study here presented, we used the Lattes curriculum to identify articles and communications in congresses of researchers, with or without a doctorate degree, who work in the field of altmetrics in Brazil, their large areas and areas of expertise, geographical distribution and the evolution of data and thematic sources over the years. To this end, the identification of curricula was made through the advanced search in the Lattes Platform by the terms “altmetria”, “altmétrico”, “altmétrica”, “altmetric” or “altmetrics”. The 94 curricula found, 37 of which were doctors and 57 of non-doctors, had their contents filtered by the search terms used. Twenty-six articles were identified in periodicals and 36 communications in events. From the 94 researchers it is verified that 53 of them produced only in altmetrics and 41 with intercession with Facebook, Twitter or Mendeley. The field is dominated by researchers from the large area of Applied Social Sciences with emphasis on Information Science and to a lesser extent for Communication. Research focus have been evolving from more theoretical approaches towards practical, evaluative, critical and institutional and regional contexts.

Keywords
Altmetrics; Facebook; Lattes; Twitter

Introdução

Quando Garfield (1955) apresenta sua proposta de um índice de citações para ciência2, algumas conjecturas sobre o impacto que essa ferramenta teria no processo de construção do conhecimento científico, permitindo escolhas de leituras e a legitimação dos melhores trabalhos, bem como das citações recebidas, foram feitas pelo autor. Essas considerações vão desde o potencial de um índice baseado em citações como indutor para redução do que chamou de “citação acrítica”, o que seria o acompanhamento para os cientistas saberem sobre “artigos que citaram ou criticaram artigos” com o propósito de excluir os menos interessantes ou influentes, até a possibilidade de o autor acompanhar a discussão acadêmica de seu trabalho (Garfield, 1955). Assim, é possível considerar que, já naquela época, o volume de informação e o acesso aos artigos colocavam em xeque o processo de comunicação científica como forma de permitir o diálogo aberto de temas e proposições da ciência a nível mundial entre os seus pares.

Entretanto, pode-se entender, pela autocrítica de Garfield a um dos derivados deste índice, o Journal Impact Factor (JIF), que o resultado prático da construção de uma base com agregação de citação cumpriu em menor medida o que seriam as “promessas” feitas por seu criador em 1955. Assim, “como a energia nuclear, o fator de impacto é uma maldição e uma benção. [...] esperava que ele fosse utilizado de forma construtiva, enquanto reconhecia que em mãos erradas ele poderia ser utilizado de forma abusiva” (Garfield, 1999, p.111, tradução nossa).

Os abusos no uso de indicadores como o JIF, os quais foram mencionados por Garfield, derivam da necessidade de gestores por um indicador que, de alguma forma, qualifique de maneira rápida e imediata os resultados publicados de pesquisas. O processo de publicação com revisão por pares é sabidamente lento, e mesmo o processo de citação, que poderia ser utilizado como uma Métrica ao Nível de Artigo (Article Level Metrics ou ALM), demora alguns anos para acontecer e se consolidar, com diferenças significativas entre áreas do conhecimento. Assim, entende-se que a aceleração dos processos de comunicação, derivados da revolução que Einstein ainda em 1950 chamou de Bomba das Telecomunicações3, não teria indicadores que estivessem à sua altura.

Com a chegada das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), e mais especificamente da Internet e da Web, naturalmente a ciência e o processo de comunicação científica foram impactados. Bossy (1995), visionariamente, apregoa que, na Internet, poderia haver um novo campo de estudos métricos da informação, ao qual chamou de Netometrics, que permitiria a observação da ‘ciência em ação’. O campo do que se configurou como Webometria – termo postumamente proposto por Almind (Almind; Ingwersen, 1997) – passou por seu apogeu e crise com desafios a serem enfrentados (Gouveia, 2012). Ademais, ao longo dos anos, alguns trabalhos tentaram abordar a possibilidade de se correlacionar as métricas da Web aos então emergentes sites de redes sociais (Vaughan; Hysen, 2002; Neylon; Wu, 2009; Priem; Hemminger, 2010).

De toda forma, somente em 2010, depois de Priem definir o nome do campo via Twitter, que é lançado o Manifesto Altmétrico (Priem et al., 2010), marco inicial para definição do campo e sua separação dos estudos webométricos. Nele, novamente se vê algumas das “promessas” de Garfield, além de ser possível notar um foco mais específico na possibilidade de um indicador rápido, ao nível de artigo, que permitiria observar o diálogo científico em processo, o que vai ao encontro do aventado por Bossy (1995).

Ainda que o campo tenha menos de 10 anos de existência, sua produção e o interesse pelo que ele propicia vêm crescendo com o tempo mundialmente, como se pode notar na criação recente do Journal of Altmetrics, além dos fóruns e eventos dos últimos anos. No Brasil, a Altmetria se inicia com os trabalhos de Gouveia (2013) e Souza e Marcondes (2013). Apenas em 2018 ocorreu um evento amplo cujo tema especificamente focava na altmetria, o I Latmetrics – Altmetria e Ciência Aberta na América Latina, o que demonstra que esse campo de estudo ainda é recente no País. Assim, convém se questionar: de onde são esses pesquisadores? Qual a relação entre os estudos altmétricos no Brasil e as diferentes fontes de dados? De que áreas provêm esses pesquisadores? Como a temática tem evoluído no País?

Neste estudo bibliométrico exploratório foi utilizada a base de currículos Lattes para identificar artigos e comunicações em congressos de pesquisadores, com ou sem doutorado, que atuam no campo da altmetria no Brasil. Ademais, também serão identificadas as suas grandes áreas, além de áreas de atuação, distribuição geográfica e a evolução de fontes de dados e as temáticas ao longo dos anos.

Entende-se que a base Lattes pode conter currículos de pesquisadores estrangeiros; além disso, seu processo de atualização depende do interesse e da ação dos usuários. Sabe-se que os currículos Lattes são a fonte de consulta mais consolidada no País para análise de concessão de recursos públicos para pesquisas. Assim, o retrato obtido a partir da base revela os pesquisadores que estão vinculados, de alguma forma, ao sistema de financiamento público de pesquisa. Profissionais vinculados a empresas privadas, pesquisadores ainda em processo de formação acadêmica, dentre outras possibilidades aqui não listadas, podem ou ter seus currículos desatualizados ou não ter currículos na base. Para fins deste estudo, considerou-se que os currículos encontrados pertencem a pesquisadores vinculados ao Brasil; ademais, foi considerado que o nível de atualização existente é o melhor olhar possível no momento, guardadas as limitações anteriormente apontadas.

Procedimentos Metodológicos

A partir do recurso de busca avançada, utilizando-se os termos “altmetric”, “altmetrics”, “altmetria”, “altmétrica e altmétrico”, foi efetuado um levantamento de currículos na base Lattes. Para traçar um perfil de interesses de pesquisa dentre os pesquisadores de altmetria no Brasil, um diagrama de Venn foi gerado utilizando-se a ferramenta online InteractiVenn (Heberle, 2015). Com essa ferramenta, os currículos com alguma menção aos três dos principais sites observados em pesquisas em altmetria, notadamente Facebook, Twitter ou Mendeley, foram agrupados com a lista de currículos coletados neste estudo.

Para consolidação dos conteúdos dos currículos Lattes em altmetria, foi utilizado o script desenvolvido por Mena-Chalco e Cesar-Jr. (2009) – scriptLattes v. 8.13. Também foi efetuada uma filtragem dos conteúdos com o uso dos termos de busca previamente definidos. Para análise das produções bibliográficas em altmetria, foram consideradas aquelas situadas entre os anos de 2010 (marco do lançamento do manifesto altmétrico) e 2018 (último ano completo no momento de coleta da amostra). O software VOSviewer (Van Eck; Waltman, 2010) v1.6.10 foi utilizado no modo “mapa baseado em dados textuais” para visualização das relações entre os termos, sendo aplicado um tesauro4 para remoção de stopwords5 em português e consolidação de termos, além de tradução prévia para português dos títulos em outros idiomas.

A geolocalização dos pesquisadores foi obtida pelo ScriptLattes a partir de consultas ao Google Maps API. Também foram obtidas informações quanto à grande área e à área de atuação, a qual considera a primeira grande área e área atribuída no currículo pelo pesquisador.

Resultados

A busca por currículos Lattes com alguma menção à altmetria mostrou a recorrência de 37 pesquisadores com doutorado e 57 sem doutorado, num total de 94 currículos, sendo que 26 dos 37 doutores e 28 dos 57 não doutores atualizaram seus currículos em 2019.

Ao se efetuar a busca avançada na plataforma por currículos com os termos Mendeley, Twitter e Facebook, o total encontrado (doutores e não doutores) foi de 515, 4.151 e 10.909, respectivamente. Pode-se considerar que, principalmente no caso do Twitter e Facebook, alguns dos currículos selecionados não são de estudos sobre/com essas ferramentas, portanto os quantitativos podem estar superestimados.

O objetivo deste levantamento foi identificar, dentre os currículos de pesquisadores em Altmetria, quantos estariam lidando também com essas ferramentas como objeto de estudo. A Figura 1 apresenta o diagrama de Venn com quantitativo de currículos que abordam as referidas temáticas e suas intersecções com os de estudos altmétricos.

Figura 1
Diagrama de Venn dos currículos Lattes de doutores e não doutores a partir de buscas pelo assunto Facebook, altmetria, Mendeley e Twitter

A partir da consolidação dos dados, é possível observar a preponderância de currículos atribuídos à grande área das Ciências Sociais Aplicadas, com destaque para a área da Ciência da Informação, seguida pela área da Comunicação. Nove currículos, sendo dois de doutores e sete de não doutores, não tinham dados definidos para “grande área” ou “área”. A Tabela 1 apresenta os dados obtidos separados por não doutores e doutores.

Tabela 1
Grande área e área de atuação de doutores e não doutores em altmetria na Plataforma Lattes.

Para o mapa de geolocalização, foi possível identificar o total de 47 pesquisadores, sendo 29 com doutorado e 18 sem doutorado. Não foram localizados currículos para a região Norte do país. A Figura 2 apresenta a distribuição geográfica desses pesquisadores.

Figura 2
. Distribuição geográfi ca de 47 dos 94 pesquisadores com e sem doutorado que atuam em altmetria no Brasil.

Dos 26 artigos publicados, verificou-se uma distribuição por revistas nacionais (14 revistas) e internacionais (7 revistas). Foram encontrados mais de um artigo apenas na “Em Questão” (5 artigos) e na “Informação & Informação” (2 artigos). Diferentemente, das 36 comunicações em congressos, 10 foram apresentadas no Encontro Brasileiro de Bibliometria e Cientometria, 8 no recém-criado Latmetrics–Altmetria e Ciência Aberta na América Latina, e 7 no Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (Enancib), sendo os 11 restantes apresentados pontualmente em outros eventos.

Para visualização dos termos nos títulos de artigos e comunicações em congressos, 62 no total, primeiramente foram padronizados os termos em gênero e número. No caso do termo de busca, especificamente, foram consolidados todos os termos usados para “altmetria”, com exceção dos casos em que a altmetric.com, mais conhecido agregador de dados altmétricos, foi citada textualmente, sendo consolidada para altmetric. Os parâmetros utilizados foram contagem binária, com a seleção de, no mínimo, três ocorrências para os termos e um ajuste para atração de 2 para 4, visando um melhor espalhamento dos nós e leitura aprimorada (Figura 3).

Figura 3
Grafo de termos nos títulos de artigos e comunicações em congresso com ao menos três ocorrências (n=30)

Foram obtidos 30 termos a partir da escolha de, no mínimo, três ocorrências. O total de termos existentes após filtragem das stopwords é de 182; com duas ocorrências, haveria 58 termos. É importante ressaltar que, apesar de terem sido citadas nos títulos analisados, instituições como Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade Federal do Goiás (UFG) não tiveram o número mínimo de ocorrências e, por isso, não são apresentadas no grafo. O mesmo ocorre com as citações a revistas como PlosONE, Scientometrics, bases como a Base de Dados em Ciências da Informação (Brapci), portais como o Scientific Eletronic Lubrary (SciELO) e plataformas como ScienceOpen.

Ao longo do tempo, ocorreram mudanças nos perfis dos artigos publicados. A aproximação com a altmetria se inicia com textos teóricos – sua aplicação como alternativa às citações e às análises institucionais e de periódicos – e, posteriormente, avança até os estudos específicos por plataforma e o debate sobre o papel do bibliotecário. O Quadro 1 sistematiza esses diferentes períodos para artigos e comunicações em congresso. Os termos estão ordenados por aparição e, em seguida, por ordem alfabética.

Quadro 1
Temáticas e fontes de dados utilizadas nos artigos e comunicações em congresso sobre altmetria na base Lattes.

Discussão

A altmetria no Brasil tem, em termos de publicações, cerca de seis anos. No entanto é possível observar que, ao longo desse tempo, houve uma ampliação paulatina de sua produção e de seu escopo: desde os primeiros artigos teóricos (Gouveia, 2013; Souza; Marcondes, 2013; Souza, 2014; Barros, 2015; Vanti; Sanz-Casado, 2016), até os estudos de avaliação de periódicos (Araujo, 2015a; Araujo, 2015b; Nascimento; Oddone, 2015), usando plataformas específicas como Facebook e Twitter (Maricato; Lima, 2017; Araujo; Murakami; Prado, 2018), ScienceOpen (Araujo; Oliveira; Lucas, 2017; Travieso-Rodriguez; Araujo, 2018), e portais e bases como SciELO (Fraumann et al., 2016; Barcelos Jesus, Maricato 2018), Brapci (Santos et al., 2018) e Lattes (Araujo; Alves, 2018; Gouveia, 2018) como fontes de dados iniciais. O papel do bibliotecário esteve presente tanto na produção de um livro dedicado ao tema (Nascimento, 2016) quanto num artigo (Araujo, 2018).

O olhar sobre os repositórios institucionais (Borba; Marinho; Caregnato, 2017; Reis; Spinola; Amaral, 2017) e as teses e dissertações (Costa; Oliveira; Araujo, 2018) mostra a possibilidade de se pensar na altmetria como uma alternativa para acompanhamento de uso da chamada “literatura cinzenta”. O enfoque do Brasil, suas instituições e a relação com a Ibero-américa, também vem sendo algo crescente (Fraumann et al., 2016; Gouveia, 2016b; Araujo; Oliveira, Lucas, 2017; Costa; Oliveira; Araujo, 2018; Travieso-Rodriguez; Araujo, 2018), podendo-se considerar o I Latmetrics como um movimento de integração. A internacionalização da produção brasileira também chama a atenção, dado que um terço dos artigos foi publicado em revistas internacionais.

É importante também verificar a discussão da altmetria no âmbito da ciência aberta (Cintra; Furnival; Milanez, 2017; Souza; Gouveia, 2018) e da área de comunicação e divulgação científica (Gouveia, 2016a; Empinotti; Paulino, 2018). Ao se analisar o perfil dos pesquisadores doutores e não doutores, percebe-se que o campo é dominado pela grande área de Ciências Sociais Aplicadas com destaque para os doutores e não doutores em Ciência da Informação e de não doutores em Comunicação. A distribuição geográfica dos pesquisadores é nacional, com ausência apenas de representantes da Região Norte, mas há que se levar em consideração a incapacidade do recurso de identificação automática em atribuir geolocalização para todos os pesquisadores encontrados.

Ao se observar o diagrama de Venn da Figura 1, percebe-se que o Facebook é a plataforma com maior interseção, com 29 currículos; o Twitter vem em seguida, com 24. Apenas seis currículos apresentaram alguma menção ao Mendeley, o que é refletido na sua ausência de estudos claramente atribuídos à plataforma, dentre os trabalhos encontrados. Dos 97 pesquisadores, 53 não tiveram menções ao Facebook, Twitter ou Mendeley em seus currículos, o que permite concluir que atuaram em altmetria sem destaque para uma dessas plataformas em específico. A distribuição de doutores e não doutores mostra um perfil de uma temática ainda jovem, já que o esperado seria um volume muito maior de não doutores do que o encontrado.

A concentração dos artigos publicados na revista Em Questão pode ser um reflexo dos números temáticos do Encontro Brasileiro de Bibliometria e Cientometria, encontro onde há maior incidência de trabalhos com essa temática. O fato de o Latmetrics ter a altmetria como temática justificaria a superação do quantitativo de comunicações apresentado no Enancib.

A estratégia de busca a partir da base Lattes retornou 26 artigos, 12 a mais do que encontrado por Santos et al. (2018) em julho de 2017, quando consideram que a baixa citação dos autores brasileiros denotaria uma incipiência do campo no Brasil. Nesse sentido, espera-se que esse mapeamento, mesmo que não exaustivo, auxilie nos processos de divulgação dos trabalhos feitos por pesquisadores do País.

Conclusão

O caminho a ser percorrido pela altmetria no Brasil e no mundo passará pelos processos de estruturação de dados. Ainda que haja agregadores como a Altmetric e a Plum Analytics, por exemplo, a confiança estabelecida nesses processos de obtenção, tratamento e filtragem de dados sempre preocupará os pesquisadores. No Brasil, vê-se que alguns trabalhos fazem uso direto das APIs de mídias sociais para obtenção direta dos dados. A preocupação com a visibilidade do que é produzido localmente, e no âmbito da América Latina, Caribe e Ibero-américa, faz-se presente nas escolhas dos recortes de pesquisa. A questão do acesso aberto e sua possível vantagem para visibilidade a partir da divulgação em mídias sociais também tem sido abordada.

Chama a atenção no levantamento realizado um possível movimento da área da comunicação em aproximação com o campo da altmetria. A altmetria tem componentes de divulgação científica e de comunicação científica, e necessita ser entendida sempre na sua complexidade intrínseca. Se, de um lado, o Brasil pode ainda carecer de maior integração entre seus pesquisadores na área, por outro lado a distribuição geográfica e a existência de fóruns que abraçam a temática pode ser a fonte para a solução dessas questões.

Por último, cabe ressaltar que este estudo exploratório pode lançar um primeiro olhar sob a perspectiva dos pesquisadores encontrados na plataforma Lattes. As limitações impostas pela necessidade de ação ativa dos pesquisadores na atualização de seus currículos e das dificuldades de desambiguação dos dados precisam sempre ser levadas em conta nas conclusões apresentadas. De todo modo, mesmo com as referidas limitações postas em consideração, considera-se que o retrato apresentado é consistente com o que se apresentaria como a Altmetria no Brasil.

Como citar este artigo/How to cite this article

  • Gouveia, F.C. Estudos altmétricos no Brasil: uma análise a partir dos currículos da Plataforma Lattes-CNPq. Transinformação, v.31, e190027, 2019. http://dx.doi.org/10.1590/2318-0889201931e190027
  • 2
    A partir da proposta apresentada em 1955 por Garfield, derivou-se o Science Citation Index (SCI) e índices de citação posteriores para diferentes áreas doconhecimento, sendo a trajetória do Institute for Scientific Information (ISI) largamente debatida no campo, tendo como presente detentor a ClarivateAnalytics, bem como ferramentas concorrentes como a Scopus da Elsevier.
  • 3
    Em uma entrevista em 1950, Einstein, segundo Levy (2001, p.12), visionariamente define que o século XX havia sido atingido por três bombas (no sentido de efeito explosivo para a humanidade): a Atômica, a Demográfica e, por fim, a bomba das Telecomunicações, que modernamente pode ser reinterpretada como a bomba das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).
  • 4
    O tesauro foi gerado no formato adequado ao VOSviewer a partir da lista de stopwords utilizada no software IRAMUTEQ.
  • 5
    Stopwords, ou palavras vazias, são palavras consideradas irrelevantes para uma análise de conteúdo.

Referências

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Set 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    08 Mar 2019
  • Revisado
    10 Jun 2019
  • Aceito
    26 Jun 2019
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