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Competência em Informação: mapeamento do uso de fontes de informação por discentes da área da saúde

Information Literacy: Mapping of the use of information sources by health students

Resumo

A Competência em Informação surge da preocupação com a formação em pesquisa e uso das tecnologias por futuros profissionais. Na área da saúde, a informação científica fundamenta a tomada de decisão, pois os resultados de pesquisa potencialmente podem se transformar em ação. O objetivo desse artigo é mapear a competência em informação de graduandos da área da saúde na utilização de fontes de informação para fins de pesquisa científica, com base nos padrões de competência em informação para o ensino superior da Association of College and Research Libraries. Trata-se de estudo transversal do tipo descritivo, de abordagem quantitativa e qualitativa. Participaram 318 estudantes vinculados ao Instituto de Saúde e Sociedade de uma Universidade no Estado de São Paulo, dos cursos de graduação em Educação Física, Fisioterapia, Nutrição, Terapia Ocupacional, Psicologia e Serviço Social. Verificou-se que os graduandos possuem dificuldades em estabelecer a necessidade de informação, pouco conhecimento em relação ao acesso as bases de dados disponíveis, dificuldades em avaliar a qualidade das fontes utilizadas, necessidade de discutir o uso ético da informação e desconhecimento do conceito de competência em informação. Conclui-se que o tema precisa ser mais explorado em pesquisas e tratado em contínuo processo de formação nas universidades.

Palavras-chave
Competência em Informação; Educação Superior; Estudantes de Ciências da Saúde

Abstract

Information Literacy arises from the concern with the training in research and the use of technologies by future professionals. In the health area, the use of scientific information grounds the decision-making process, because the search results may potentially be transformed into action. The aim of this study is to map the information literacy of health graduates in the use of sources of information for scientific research purposes, based on standards of information literacy for higher education of the Association of College and Research Libraries. The research is a descriptive type cross-sectional study with a quantitative and qualitative approach. Three hundred and eighteen students enrolled in the Institute of Health and Society of a University in the State of São Paulo participated in undergraduate courses in Physical Education, Physiotherapy, Nutrition, Occupational Therapy, Psychology and Social Work. It was found that the students have difficulties in establishing the need for information, low knowledge when it comes to accessing the databases available, difficulties in assessing the quality of the sources used, need to discuss the ethical use of information and they are unaware of the concept of information literacy. In conclusion, the subject needs to be explored by researchers, as well as be addressed in the training process at universities.

Keywords
Information Literacy; Higher Education; Health Sciences Students

Introdução

Nas últimas décadas, mudanças decorrentes do desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação tornaram o uso e o domínio delas como fundamentais. Todavia, o acesso ao universo informacional por vezes é complexo e requer preparação para o desenvolvimento de competências e habilidades necessárias à apreensão de conhecimento.

Nesse contexto, a Competência em Informação é essencial. Seu objetivo é converter usuários da biblioteca em usuários da informação e aprendizes independentes (Dudziak, 2010Dudziak, E.A. Competência Informacional: análise evolu-cionária das tendências da pesquisa e produtividade científica em âmbito mundial. Informação & Informação, v.15, n.2, p.1-22, 2010. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/7045/0>. Acesso em: 5 mar. 2013.
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). Johnston e Webber (2007)Johnston, B; Webber, S. Como podríamos pensar: alfabetización informacional como una disciplina de la era de la información. Anales de Documentacion, n.10, p.491-504, 2007. Disponible en: <http://revistas.um.es/analesdoc/article/download/290/269>. Acceso en: 20 nov. 2015.
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apontam que a competência em informação é a adoção apropriada de um comportamento informativo, adequando as necessidades que nos permitam fazer uso inteligente e ético da informação. A American Library Association (1989)American Library Association. Presidential Committe on Information Literacy: Final report. Chicago: ALA, 1989. Available from: <http://www.ala.org>. Cited: Nov. 10, 2013.
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considera que para ser competente em informação a pessoa deve saber localizar, avaliar e usar a informação de maneira ética. De modo geral, é aprender a aprender e conhecer como está estruturado o conhecimento.

No contexto universitário, essas habilidades são fundamentais para a elaboração de atividades complexas, a exemplo dos trabalhos acadêmicos (Mata, 2014Mata, M.L. A inserção da Competência Informacional nos currículos dos cursos de Biblioteconomia no Brasil e nos cursos de Informação e Documentação na Espanha. 2014. 196f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2014. Disponível em: <http://www.marilia.unesp.br/Home/PosGraduacao/CienciadaInformacao/Dissertacoes/mata_ml_do_mar.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2015.
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). A formação em pesquisa do estudante requer um papel ativo da Universidade e da Biblioteca, a fim de torná-lo autônomo nesse cenário.

Segundo O’Neil (2005)O’Neil, P.M.B. Development and validation of the beile test of information literacy for education (B-TILED). 2005. 271p. Thesis (Doctor of Philosophy) – University of Central Florida, Orlando, 2005. Available from: <http://www.academia.edu/709945/Development_and_Validation_of_the_Beile_Test_of_Information_Literacy_for_Education_B-TILED_>. Cited: Nov. 5, 2013.
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, a biblioteca universitária é um recurso educacional que deve ser utilizado na formação acadêmica dos estudantes, para desenvolvimento da competência de uso das fontes de informação. Para Mata (2009, p.18)Mata, M.L. A competência informacional de graduandos de biblioteconomia da região sudeste: um enfoque nos processos de busca e uso ético da informação. 2009. 162f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2009. Disponível em: <http://www.marilia.unesp.br/Home/PosGraduacao/CienciadaInformacao/Dissertacoes/mata_ml_me_mar.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2013.
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, esse processo envolve também outras habilidades, como: “saber definir as necessidades informacionais [...] acessar, buscar, utilizar e comunicar a informação de maneira ética”.

Na área da Saúde, a necessidade de constante atualização requer do profissional o acesso a informações científicas relevantes, pois suas decisões refletem no bem-estar das pessoas (Perea et al., 2015Perea, C.M. et al. Competências Informacionais em Ciências da Saúde: uma proposta formativa para estudantes de graduação em enfermagem. Revista Ibero-Americana de Ciência da Informação, v.8, n.1, p.1-13, 2015.). A importância da competência em informação nessa área envolve, principalmente, a prática clínica baseada em evidências como forma de garantir investigações cientificamente fundamentadas (Pereira; Veiga, 2014Pereira, C; Veiga, N. Educação para a Saúde Baseada em Evidências. Millenium, v.46, p.107-136, 2014. Disponível em: <http://www.ipv.pt/millenium/Millenium46/8.pdf>. Acesso em: 13 nov. 2017
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). Nesse contexto, estudos que discutam a competência em informação são relevantes, pois seus resultados podem contribuir para a reflexão e desenvolvimento de propostas para a formação do estudante e sua autonomia informacional (Cavalcante et al., 2012Cavalcante, L.E. et al. Competência em Informação na Área da Saúde. In CID: Ciência da Informação e Documentação, v.3, n.1, p.87-104, 2012. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/incid/article/download/42372/46043>. Acesso em: 5 mar. 2014.
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).

Para a Biblioteconomia, o estudo do usuário é inerente aos serviços e produtos oferecidos pela biblioteca, o que torna imprescindível o mapeamento do perfil do mesmo (Campello, 2003Campello, B. O movimento da competência informacional: uma perspectiva para o letramento informacional. Ciência da Informação, v.32, n.3, p.28-37, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ci/v32n3/19021.pdf>. Acesso em: 5 mar. 2014.
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; Evangelista et al., 2008Evangelista, R. et al. Competência informacional e medicina baseada em Evidências. Transinformação, v.20, n.1, p.73-81, 2008. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-37862008000100006
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). Assim, considera-se necessário mapear e avaliar a competência em informação de graduandos da área da Saúde quanto ao seu processo de busca e uso da informação.

Nessa perspectiva, o objetivo deste artigo é mapear a competência em informação de graduandos da área da Saúde, na utilização de fontes de informação para fins de pesquisa científica. Para tanto, os padrões de competência em informação para o ensino superior da Association of College and Research Libraries (2000)Association of College and Research Libraries. Information literacy competency for higher education. Chicago: ALA, 2000. Available from: <http://www.ala.org/acrl/standards/informationliteracycompetencystandards>. Cited: Nov. 26, 2012.
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são utilizados. Cabe informar que os dados desta pesquisa foram levantados no ano de 2015. Em janeiro de 2016, a Association of College and Research Libraries (ACRL) passou a adotar uma nova estrutura dos padrões de competência em informação para o ensino superior, por meio do Documento “Framework for Information Literacy for Higher Education”.

Os padrões da ACRL, Information Literacy Competency Standards for Higher Education, esboçam o processo pelo qual os professores, bibliotecários e demais pessoas podem identificar um estudante como competente em informação.

Procedimentos Metodológicos

Trata-se de estudo transversal do tipo descritivo, de abordagem quantitativa e qualitativa. Foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa institucional.

Participaram 318 estudantes do Instituto de Saúde e Sociedade de uma Universidade no Estado de São Paulo, dos cursos de graduação em Educação Física – modalidade Saúde, Fisioterapia, Nutrição, Terapia Ocupacional, Psicologia e Serviço Social.

O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário elaborado com base nas normas, indicadores de rendimento e resultados previstos na Information Literacy Competency Standards for Higher Education (Association of College and Research Libraries, 2000Association of College and Research Libraries. Information literacy competency for higher education. Chicago: ALA, 2000. Available from: <http://www.ala.org/acrl/standards/informationliteracycompetencystandards>. Cited: Nov. 26, 2012.
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) e nos objetivos da Seção de Instrução (Association of College and Research Libraries, 2001Association of College and Research Libraries. Sección de Instrucción, IS-ACRL. Objetivos de formación para la alfabetización en información: un modelo de declaración para bibliotecas universitarias. Boletín de la Asociación Andaluza de Bibliotecarios, n.65, p.47-71, 2001. Disponible en: <http://www.ala.org/acrl/standards>. Accesso en: 26 nov. 2012.
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). Algumas questões foram adaptadas e/ou traduzidas dos questionários CREPUQ, FYILLAA, B-TILED e Mata (2009)Mata, M.L. A competência informacional de graduandos de biblioteconomia da região sudeste: um enfoque nos processos de busca e uso ético da informação. 2009. 162f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2009. Disponível em: <http://www.marilia.unesp.br/Home/PosGraduacao/CienciadaInformacao/Dissertacoes/mata_ml_me_mar.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2013.
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, que também utilizaram os parâmetros da ACRL.

O questionário com 34 questões foi dividido em: 7 questões gerais para caracterização dos discentes; 26 questões específicas estruturadas com base nos cinco padrões da Association of College and Research Libraries (2000)Association of College and Research Libraries. Information literacy competency for higher education. Chicago: ALA, 2000. Available from: <http://www.ala.org/acrl/standards/informationliteracycompetencystandards>. Cited: Nov. 26, 2012.
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: Padrão 1 necessidade informacional, Padrão 2 acesso a informação, Padrão 3 avaliação da informação, Padrão 4 uso da informação e Padrão 5 uso ético da informação; além de uma questão aberta para verificar se os estudantes se consideram competentes em informação, segundo a definição a seguir. O competente informacional sabe usar as várias mídias de informação, sabe como o mundo da informação está estruturado, como acessar redes formais e informais de informação, além de conhecer as estruturas de comunicação (Dudziak, 2010Dudziak, E.A. Competência Informacional: análise evolu-cionária das tendências da pesquisa e produtividade científica em âmbito mundial. Informação & Informação, v.15, n.2, p.1-22, 2010. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/7045/0>. Acesso em: 5 mar. 2013.
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). Essa questão foi analisada qualitativamente (Bardin, 2011Bardin, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.).

Para a análise estatística foram separadas as questões de opinião – que visam o levantamento da ideia do discente sobre o tema, das questões de conhecimento, com resposta corretas. Foi utilizado o modelo de análise de variância com fatores hierárquicos e o método de comparações múltiplas de Tukey (1977)Tukey, J.W. Exploratory data analysis. Boston: Addison-Wesley, 1977.. Esse teste permitiu comparar e testar diferenças entre os Cursos e Anos com relação às variáveis Acertos e Habilidades.

Resultados

Quanto à caracterização dos discentes, em média, 80% não teve experiência prévia de graduação, pós-graduação ou iniciação científica. Cerca de 60% não tinha treinamento em busca de informações bibliográficas e utilizavam a biblioteca com baixa frequência semanal.

Os resultados das questões específicas são apresentados nas Tabelas 1 e 2, respectivamente com as questões de opinião e as questões de conhecimento. A Tabela 1 apresenta as respostas mais frequentes, de acordo com os anos dos cursos pesquisados.

Tabela 1
Questões de opinião: respostas mais frequentes. Santos (SP), Brasil, 2017.
Tabela 2
Questões de conhecimento: respostas “certa/errada” e sua frequência. Santos (SP), Brasil, 2017.

A Tabela 2, destaca a frequência de respostas corretas, conforme os anos dos cursos pesquisados.

O desempenho dos graduandos foi analisado conforme a abrangência de cada padrão da Association of College and Research Libraries (2000)Association of College and Research Libraries. Information literacy competency for higher education. Chicago: ALA, 2000. Available from: <http://www.ala.org/acrl/standards/informationliteracycompetencystandards>. Cited: Nov. 26, 2012.
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, indicador de rendimento e resultado previsto, como apresentado no Quadro 1.

Quadro 1
Comparação dos resultados com os padrões da Association of College and Research Libraries (2000).
Tabela 3
Coeficientes de correlação calculados para as variáveis Habilidades e Acertos, segundo o curso. Santos (SP), Brasil, 2017.

De acordo com a análise inferencial, o curso de Psicologia teve média de acerto maior do que os cursos de Educação Física e Terapia Ocupacional, apenas no 1º ano. O curso de Serviço Social teve média de acerto menor do que o curso de Terapia Ocupacional, apenas no 4º ano.

Os resultados permitem dizer que não existe correlação entre as variáveis. E, de modo geral, não há relação entre as Habilidades e os Acertos.

Dos trezentos e dezoito estudantes que participaram do estudo, cento e noventa e quatro responderam a questão aberta, cujos resultados são apresentados no Quadro 2. Ele foi elaborado a partir das falas mais representativas da amostra, conforme as categorias: competentes em informação, parcialmente competente, não competentes no contexto da competência em informação e opinião sobre o tema.

Quadro 2
Competência Informacional declarada pelos respondentes. Santos (SP), Brasil, 2017.

Destaca-se em todas as categorias o reconhecimento da importância de ser competente na busca e seleção de informações bibliográficas de qualidade e, ao mesmo tempo, certa dificuldade no que se refere à autonomia para tanto.

Discussão

Mapeou-se neste estudo a competência em informação de graduandos da área da saúde quanto à utilização de fontes de informação, de acordo com os padrões da Association of College and Research Libraries (2000)Association of College and Research Libraries. Information literacy competency for higher education. Chicago: ALA, 2000. Available from: <http://www.ala.org/acrl/standards/informationliteracycompetencystandards>. Cited: Nov. 26, 2012.
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.

Os dados demonstram que, de modo geral, os estudantes atendem os preceitos básicos da competência informacional, especialmente sobre onde buscar informações científicas de qualidade. No entanto, apresentam dificuldades no que se refere às técnicas de busca e avaliação da qualidade das informações obtidas, bem como o uso ético das mesmas. Por outro lado, observa-se que há uma melhoria crescente dos padrões informacionais conforme o estudante avança nos anos de graduação, como demonstram as Tabelas 1 e 2.

Discute-se a seguir, os resultados conforme os padrões da Association of College and Research Libraries (2000)Association of College and Research Libraries. Information literacy competency for higher education. Chicago: ALA, 2000. Available from: <http://www.ala.org/acrl/standards/informationliteracycompetencystandards>. Cited: Nov. 26, 2012.
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. Em relação ao Padrão 1, que trata da necessidade informacional, percebe-se que as maiores dificuldades se relacionam a etapa inicial de busca da informação, como a identificação dos principais conceitos e termos de um documento, o conhecimento do uso do vocabulário controlado reconhecido pelas bases de dados e outros serviços disponíveis para o acesso a variadas fontes de informação.

Sobre o Padrão 2, acesso a informação, dois indicadores são fundamentais para que o resultado da pesquisa seja eficiente: o conhecimento dos motores de busca ou buscadores de pesquisa dos sites/bases de dados, bem como sua lógica booleana (os operadores booleanos, AND, OR e AND NOT, são utilizados a fim de combinar palavras ou grupo de palavras de modo a modificar os resultados da pesquisa). O conjunto de dados deste estudo demonstram que há dificuldade por parte dos estudantes em lidar com as técnicas específicas de busca da informação, proporcionalmente ao ano de graduação.

Referente ao Padrão 3, avaliação da informação, os estudantes em geral sabem avaliar a informação e incorporá-la ao seu sistema de valores. O resultado que merece atenção refere-se à identificação dos melhores níveis de evidência para promover o uso da informação em saúde (Tabela 2), cujas respostas erradas foram provenientes de mais de 70% da amostra, sem muita diferença entre os anos de graduação. Conforme Savi e Silva (2009)Savi, M.G.M; Silva, E.L. Information flow in the clinical practice of resident physicians: An analysis from an evidence-based medicine perspective. Ciência da Informação, v.38, n.3, 2009. Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-19652009000300012>. Cited: May 20, 2015.
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, para se identificar os melhores níveis de evidências usa-se a metodologia da Medicina Baseada em Evidências (MBE), que propõe critérios de classificação para pesquisas científicas. A pirâmide de evidência apresenta a seguinte ordem de relevância: revisões sistemáticas e metanálises, ensaios clínicos randomizados e controlados, estudos de corte, estudo de caso e controle, estudos de série de caso, relatos de caso, editoriais, opiniões, pesquisa em animais e pesquisas em laboratórios. Se o estudante não sabe identificar esses níveis de evidência, corre o risco de reproduzir em sua vida profissional informações equivocadas ou de menor relevância, podendo gerar danos à saúde da população por ele atendida.

Quanto ao uso da informação, Padrão 4, os resultados sugerem que o estudante utiliza a informação de modo eficaz para alcançar um propósito específico. Porém, quanto à apresentação da pesquisa e combinação de ideias e reflexões, os estudantes não atendem aos resultados exigidos. Ressalta-se que de acordo com a norma Association of College and Research Libraries (2003)Association of College and Research Libraries. Sección de Instrucción, IS-ACRL: Características de los programas de alfabetización en información que sirven como ejemplo de las mejores prácticas. Boletín de la Asociación Andaluza de Bibliotecarios, n.70, p.67-72, 2003. Disponible en:<http://eprints.rclis.org/5931/1/70a4.PDF>. Acceso en: 23 mayo 2015.
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, o Padrão 4 e seus indicadores de rendimento e resultados, são de responsabilidade dos docentes.

Já em relação ao Padrão 5, que trata do uso ético da informação, observa-se que os temas de propriedade intelectual e direitos autorais precisam ser trabalhados em aula. É necessário o esclarecimento do tema plágio, materiais cobertos sob as leis de direitos autorais e as autorizações de reprodução de materiais. A questão da integridade científica é atual e tem demandado esforços da Academia na atualidade. Plágio, falsificação de dados e outras más condutas científicas são um problema global (Santos, 2011Santos, L.H.L. Sobre a integridade ética na pesquisa. São Paulo: Fapesp, 2011. Disponível em: <http://www.fapesp.br/6566>. Acesso em: 10 jul. 2018.
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). Nesse sentido, é imprescindível que os estudantes desde o primeiro ano de formação sejam esclarecidos a respeito do uso ético da informação, sob pena de reproduzirem padrões antiéticos na produção de conhecimento.

Os estudantes investigados, embora apresentem dificuldades em relação à competência informacional, demostram interesse no tema e reconhecem sua relevância, especialmente para a elaboração dos trabalhos acadêmicos (Quadro 2).

Por outro lado, compreende-se que a formação para a competência informacional na universidade deve privilegiar o entendimento dela como uma habilidade a ser desenvolvida não somente para suprir as demandas dos trabalhos acadêmicos, mas para a vida profissional. Nesse sentido, metodologias ativas de aprendizagem podem favorecer a atitude ativa frente à busca e uso do conhecimento (Jacob, 2012Jacob, N.C.M. A competência informacional dos estudantes do curso de medicina da Universidade Estadual de Londrina. 2012. 97f. Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão da Informação) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2012. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.uel.br/document/?code=vtls000181109>. Acesso em: 21 set. 2015.
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).

Estudos sobre a competência informacional entre estudantes ainda são poucos no Brasil, especialmente na área de Saúde. Cavalcante et al. (2012)Cavalcante, L.E. et al. Competência em Informação na Área da Saúde. In CID: Ciência da Informação e Documentação, v.3, n.1, p.87-104, 2012. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/incid/article/download/42372/46043>. Acesso em: 5 mar. 2014.
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e Jabob (2012) são alguns exemplos, cujos resultados destacam, respectivamente, as dificuldades no manejo das bases de dados e terminologias controladas, bem como a relevância da atitude ativa do estudante no processo de construção da competência informacional. Embora esses estudos tenham sido publicados há mais de cinco anos, seus achados corroboram os resultados aqui discutidos, demonstrando que a temática ainda demanda aprofundamento e conhecimento do perfil do estudante e da formação universitária, no que se refere à competência informacional.

Conclusão

Os achados deste estudo indicam que, embora os estudantes tenham atendido aos preceitos básicos da competência em informação, demonstraram desconhecimento do conceito de Competência em Informação, dificuldades em estabelecer a necessidade de informação, pouco conhecimento em relação ao acesso as bases de dados, dificuldades em avaliar a qualidade das fontes de informação utilizadas, bem como a necessidade de se discutir o uso ético da informação.

Todavia, esses resultados demandam a problematização de diferentes questões relacionadas à formação universitária, como o déficit informacional herdado da educação básica, a formação dos docentes e as metodologias de ensino, bem como a relação/interação estudantes – docentes – bibliotecários – biblioteca.

Não se pode exigir dos estudantes autonomia para a construção de sua competência informacional se a instituição e seu projeto pedagógico não privilegiam espaços de formação adequados. Ou seja, a formação para a competência informacional (Association of College and Research Libraries, 2016Association of College and Research Libraries. Framework for Information Literacy for Higher Education. Chicago: ALA, 2016. Available from: <http://www.ala.org/acrl/standards/ilframework>. Cited: June 10, 2017.
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) deve perpassar diferentes disciplinas acadêmicas, bibliotecas e bibliotecários, desde o primeiro ano dos cursos.

Sugere-se que outros estudos sobre a temática sejam realizados, especialmente na área de Saúde, com vistas a ampliar e aprofundar as demandas por competência informacional no ensino superior.

  • Apoio: Universidade Federal de São Paulo.
  • Artigo elaborado a partir da dissertação de D.S. OLIVEIRA, intitulada “Competência Informacional (CoInfo): mapeamento do uso de fontes de informação por docentes e discentes da área da saúde”. Universidade Federal de São Paulo, 2015.

Como citar este artigo/How to cite this article

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2019

Histórico

  • Recebido
    20 Dez 2017
  • Revisado
    20 Jul 2018
  • Aceito
    20 Ago 2018
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