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SOBRE A DOMESTICAÇÃO DO GÊNERO GRAMATICAL1 1 Este texto foi escrito durante o isolamento motivado pela pandemia de Covid-19, que teve início em 2020. Faço esse registro, pois esse fato foi responsável por uma sensibilização da percepção do outro justamente em um momento em que estávamos inacessíveis. Agradeço ao Rômulo Bittencourt, a quem eu devo muito do debate que me levou a pensar o tema e com quem mantive o único contato humano no período. Agradeço às/aos pareceristas anônimas/os que contribuíram sobremaneira para a atual versão do texto. Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo apoio no desenvolvimento da pesquisa da qual faz parte o presente trabalho. Qualquer erro remanescente no texto é de minha inteira responsabilidade.

ON THE DOMESTICATION OF THE GRAMMATICAL GENDER

RESUMO

Neste trabalho, problematizo o conceito de categoria gramatical, particularmente gênero, apontando suas limitações como categoria discreta das línguas, a partir de cosmovisões diversas, a fim de redimensionar sua pretensa universalidade. As categorias gramaticais conhecidas no mundo ocidentalizado são constituídas ontologicamente, perpetrando-se como pressuposto na análise linguística desde então. Sua estrutura baseada em um Ser ocidental não é questionada em toda a sua existência, domesticando a descrição das diversas línguas. Entretanto, a partir de estudos linguísticos tipológicos e antropológicos que levaram em consideração epistemologias e cosmogonias diversas, foi possível verificar uma discrepância entre a categoria linguística gênero em diferentes línguas. Essa imposição categorial na análise linguística mostra-se ainda mais violenta quando vista através das lentes decoloniais, que nos permitem delinear não apenas uma epistemologia racista e sexista nos contornos da gramática/linguística ocidental, mas também ao confrontarmos um modelo ontológico às diversas cosmovisões. Dessa forma, ofereço uma reflexão do conceito de gênero gramatical como categoria, a partir da descentralização do conhecimento e de uma topologia linguística do ser, visando o cotejo do conceito convencional de gênero, caro à tradição gramatical, e suas representações em algumas línguas não indo-europeias, destacando seu apagamento na formulação do conceito de universalidade gramatical.

Palavras-chave:
gramática; categoria; gênero; cosmovisões

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