RESUMO
A democracia brasileira se move como um pêndulo: de tempos em tempos, seus limites são expandidos ou diminuídos (Avritzer, 2019AVRITZER, L. (2019). O pêndulo da democracia. São Paulo: Todavia.). Após um período ditatorial violento, a redemocratização foi gradualmente fortalecida. Políticas públicas para a inclusão da população LGBT+ foram importantes neste processo. A ascensão do bolsonarismo, no entanto, vem puxando o pêndulo democrático para o extremo oposto. Contudo, isso não acontece sem contestação. Nesse cenário, analisamos a circulação de um poster divulgando uma palestra sobre uma “epidemia de trangêneros”, que aconteceria na Assembleia Legislativa de Porto Alegre em março de 2020. Tais disputas textuais podem nos ajudar a reconceitualizar o estado atual da democracia brasileira como produzido na tensão entre projetos escalares (Carr e Lempert, 2016CARR, E. S.; LEMPERT, M. (2016). Scale: Discourse and dimensions of social life. Oakland: University of California Press.) distintos. As trajetórias textuais sob escrutínio indicam que o vai-e-vem do pêndulo democrático não acontece de forma linear como Avritzer (2019)AVRITZER, L. (2019). O pêndulo da democracia. São Paulo: Todavia. parece sugerir. A recente retração iliberal coexiste com valores e ganhos conquistados em períodos de expansão democrática, fato que explica o cancelamento da palestra devido a protestos online e offline contra sua realização. Esse tipo de resistência parece sugerir que projetos escalares desdemocratizantes não são homogêneos nem totalizadores, o que permite a novas coletividades políticas contestar sua opressão.
Palavras-chave:
trajetórias textuais; democracia; escalas; transexualidade; resistência