Para perto futuro prometeu muita coisa republicana: a travessia da cultura política brasileira em Grande Sertão:Veredas1

Fagundes, Bruno Flávio Lontra

doi:10.1590/2237-101X009016006

Resumos

O artigo identifica algumas tensões e ambigüidades presentes na narrativa de Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa. Analisa o processo de inserção do protagonista Riobaldo Tatarana no mundo de jagunços sertanejos, verificando como o personagem corporifica alguns dilemas cruciais da constituição de uma cultura política republicana no Brasil, especialmente quanto às contradições do papel da escola na formação de uma comunidade cívica brasileira de memória e tradições. Mais, esse artigo postula que Riobaldo Tatarana encarna na narrativa um dos maiores conflitos na constituição de uma cultura política republicana brasileira durante o século XX, aquele do relacionamento entre cultura letrada e o analfabetismo.

Cultura política; republicanismo brasileiro; analfabetismo.

This article identifies some of the tensions and ambiguities present in the narrative of João Guimarães Rosa's Grande Sertão: Veredas. It analyses the protagonist Riobaldo Tatarana's process of insertion into the world of the hinterland hired bullies, inquiring into how the character embodies some of the crucial dilemmas of a republican political culture constitution in Brazil, especially as for the contradictions of the role of school in the Brazilian civic community formation of memoir and traditions. Moreover, this article postulate that the character Riobaldo Tatarana embodies into the narrative one of the most conflits in the constitution of a Brazilian republican political culture during the twentieth century, that of the relationships between culture of letters and the illiteracy.

Political culture; Brazilian republicanism; illiteracy.

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ALMOND, G.A; VERBA, S. The civic culture political attitudes and democracy in five nations. Estados Unidos: Little, Brown and Company, 1963.
BERSTEIN, Serge. Le modèle républicain: une culture politique syncrétique. In: BERSTEIN, Serge (Org.). Les cultures politiques em France. Paris: Éditions du Seuil, 1999, p. 113-143.
BERSTEIN, Serge. A cultura política. In: RIOUX; SIRINELLI (Orgs.). Para uma história cultural. Lisboa: Estampa, 1998, p. 349-363.
BIGNOTTO, Newton. Humanismo cívico hoje. In: BIGNOTTO, Newton (Org.). Pensar a República. BHTE: Editora da UFMG, 2000, p. 49-70.
CARDOSO, Sérgio. Por que República? Notas sobre o ideário democrático e republicano. In: CARDOSO, Sérgio (Org.). Retorno ao republicanismo. BHTE: Editora UFMG, 2004, p. 45-66.
CARVALHO, José Murilo. Os bestializados. O Rio de Janeiro e a República que não foi. 3a ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
ISER, Wofgang. Atos de fingir. In: ISER, Wofgang. O fictício e o imaginário: perspectivas de uma antropologia literária. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1996, p. 13-37. 35. PUTNAM, Robert D. Comunidade e democracia a experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996.
ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 5a ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1967.
WHITE, Hayden. O texto histórico como artefato literário. In: WHITE, Hayden.Trópicos do discurso. Ensaios sobre a crítica da cultura. São Paulo: Edusp, 2001, p. 97-116.

1
Este artigo é versão modificada de trabalho final da disciplina Culturas Políticas na História: estudos de caso, realizado no segundo semestre de 2006 junto ao Programa de Pós-Graduação em História, Doutorado, da UFMG, onde, como bolsista, conto com o apoio institucional da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig).
2
Neste trabalho, será feita referência a esse personagem do livro apenas como "senhor".
3
Trabalho com a 5^a edição de Grande Sertão: Veredas, de 1967. Os números entre parênteses assinalam o número da página da qual o trecho foi retirado. Alguns pequenos pedaços foram retirados apenas para compor esse texto e nem foram localizadas as páginas.

Datas de Publicação

Publicação nesta coleção
Jun 2008

Histórico

Recebido
Abr 2007
Aceito
Nov 2007

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[1] ALMOND, G.A; VERBA, S. The civic culture political attitudes and democracy in five nations. Estados Unidos: Little, Brown and Company, 1963.

[2] BERSTEIN, Serge. Le modèle républicain: une culture politique syncrétique. In: BERSTEIN, Serge (Org.). Les cultures politiques em France. Paris: Éditions du Seuil, 1999, p. 113-143.

[3] BERSTEIN, Serge. A cultura política. In: RIOUX; SIRINELLI (Orgs.). Para uma história cultural. Lisboa: Estampa, 1998, p. 349-363.

[4] BIGNOTTO, Newton. Humanismo cívico hoje. In: BIGNOTTO, Newton (Org.). Pensar a República. BHTE: Editora da UFMG, 2000, p. 49-70.

[5] CARDOSO, Sérgio. Por que República? Notas sobre o ideário democrático e republicano. In: CARDOSO, Sérgio (Org.). Retorno ao republicanismo. BHTE: Editora UFMG, 2004, p. 45-66.

[6] CARVALHO, José Murilo. Os bestializados. O Rio de Janeiro e a República que não foi. 3a ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

[7] ISER, Wofgang. Atos de fingir. In: ISER, Wofgang. O fictício e o imaginário: perspectivas de uma antropologia literária. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1996, p. 13-37. 35. PUTNAM, Robert D. Comunidade e democracia a experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996.

[8] ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 5a ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1967.

[9] WHITE, Hayden. O texto histórico como artefato literário. In: WHITE, Hayden.Trópicos do discurso. Ensaios sobre a crítica da cultura. São Paulo: Edusp, 2001, p. 97-116.