Open-access Ecologia de aves, armas biológicas? O Projeto Ecológico de Belém e uma controvérsia histórica sobre a presença do Instituto Smithsonian e da Fundação Rockefeller na Amazônia (1963-1971)

Bird Ecology, Biological Weapons? The Belem Ecological Project and a Historical Controversy Surrounding the Presence of the Smithsonian Institution and Rockefeller Foundation in the Amazon, 1963-1971

¿Ecología de aves, armas biológicas? El Proyecto Ecológico de Belém y una controversia histórica sobre la presencia del Instituto Smithsonian y de la Fundación Rockefeller en el Amazonas (1963-1971)

RESUMO

Este artigo investiga a história do Projeto Ecológico de Belém (1963-1971), coordenado por Philip Humphrey, do Instituto Smithsonian, e desenvolvido na Amazônia em parceria com o Laboratório de Vírus da Fundação Rockefeller. O objetivo é explorar a controvérsia histórica de que pesquisas sobre ecologia de aves teriam ocultado testes das forças armadas norte-americanas para o desenvolvimento de armas biológicas durante a Guerra do Vietnã. A pesquisa põe em relevo a articulação entre as instituições do Estado e as fundações privadas na execução da política externa norte-americana na Guerra Fria. Baseado em documentação consultada em arquivos no Brasil e nos Estados Unidos, o artigo conclui pela existência de financiamento híbrido - privado e público, civil e militar - ao projeto e pelo repasse de informações produzidas a partir das pesquisas para as forças armadas norte-americanas.

Palavras-chave:
Philip Humphrey; Instituto Smithsonian; Fundação Rockefeller; Amazônia; armas biológicas

ABSTRACT

This article investigates the history of the Belem Ecological Project (1963-1971), coordinated by Philip Humphrey, from the Smithsonian Institution, and developed in the Brazilian Amazon in partnership with the Rockefeller Foundation’s Virus Laboratory. It explores the historical controversy surrounding claims that the project was a cover for US military tests developing biological weapons during the Vietnam War. The article is based on research in Brazilian and North American Archives, and it highlights the collaboration of state institutions and private foundations in carrying out US foreign policy during the Cold War. It concludes that the project had hybrid financing - private and public, civilian and military - and involved the transfer of information to the US armed forces.

Keywords:
Philip Humphrey; Smithsonian Institution; Rockefeller Foundation; Amazon; Biological Weapons

RESUMEN

Este artículo investiga la historia del Proyecto Ecológico de Belém (1963-1971), coordinado por Philip Humphrey, del Instituto Smithsonian, desarrollado en el Amazonas en conjunto con el Laboratorio de Virus de la Fundación Rockefeller. El objetivo es explorar la controversia histórica de que investigaciones sobre aves habrían ocultado pruebas de las fuerzas armadas norteamericanas para el desarrollo de armas biológicas durante la Guerra de Vietnam. La investigación pone en relievo la articulación entre las instituciones del Estado y las fundaciones en la ejecución de la política externa norteamericana en la Guerra Fría. Basándose en documentos consultados en archivos en Brasil y en los Estados Unidos, el artículo concluye la existencia de financiamiento híbrido - privado y público, civil y militar - al proyecto y por la transferencia de informaciones producidas a partir de las investigaciones para las fuerzas armadas norteamericanas.

Palabras clave:
Philip Humphrey; Instituto Smithsonian; Fundación Rockefeller; Amazonas; armas biológicas

“Você falhou. Eu rezo por você.” A mensagem ao mesmo tempo dura e condescendente foi dirigida pelo cidadão norte-americano George Wright, habitante de Norwich, no estado de Nova York, ao presidente Lyndon Johnson, em carta1 enviada à Casa Branca em 2 de janeiro de 1969. A motivação era uma matéria da Scientific Research de 9 de dezembro de 1968, assinada por William Small e intitulada “DOD Supporting Bird Studies in Pacific, Brazil” [Departamento de Defesa financia estudos sobre aves no Pacífico e no Brasil], denunciando pesquisas do Instituto Smithsonian2 em parceria com o Exército dos Estados Unidos que ocultavam testes para o desenvolvimento de armas biológicas. Ao “obedecer” aos interesses militares, apoiando “empreendimentos desumanos e estúpidos, aproximando multidões da morte”, o presidente “havia causado muito mal ao seu país e a outros seres humanos do planeta”3. Em 16 de janeiro de 1969, John S. Foster Jr., Subsecretário de Defesa para Pesquisa e Engenharia dos Estados Unidos, respondeu à carta de Wright “a pedido do presidente”, afirmando que o Departamento de Defesa patrocinava pesquisas do Smithsonian sobre aves do Pacífico cujo propósito não era o emprego de agentes biológicos, mas a “obtenção de dados sobre a dispersão natural das doenças entre a avifauna”. O projeto estava em curso há anos, mas “vinha sendo progressivamente reduzido conforme dados iam sendo acumulados”4. Pesquisas semelhantes supostamente em curso no Brasil não foram mencionadas por Foster.

Os projetos aos quais a matéria fez referência eram o Pacific Ocean Biological Survey Program [Programa de Pesquisa Biológica do Oceano Pacífico], POBSP (1963-1970), e o Belem Ecological Project [Projeto Ecológico de Belém], BEP (1967-1971), ambos coordenados por Philip Strong Humphrey, ex-curador assistente de ornitologia do Museu de História Natural de Peabody e professor assistente egresso da Universidade de Yale, que assumiu a curadoria da Divisão de Aves em 1962 e, posteriormente, a coordenação do Departamento de Zoologia Vertebral do Museu Nacional de História Natural dos Estados Unidos (NMNH). Embora o BEP tenha sido formalizado em 1967, as atividades associadas a ele tiveram início em 1963, quando se deu a primeira viagem de Humphrey a Belém. Em 1968, o ornitólogo já estava formalmente afastado do Smithsonian desde o ano anterior, atuando como diretor do Museu de História Natural da Universidade do Kansas. Ele permaneceria à frente dos projetos do Smithsonian, contudo, até seu encerramento, em 1971.

A relação entre o POBSP e os interesses militares norte-americanos já foi tratada em perspectiva histórica. Desenvolvido nas ilhas do Havaí, Line, Fênix, Tokelau, Gilbert, -Marshall, Baker, French Frigate Shoals e Sand, no Atol Johnson - território dos Estados Unidos conhecido pelos testes com armas nucleares e pelos depósitos e incineradores de armas químicas (MacLeod, 2001) -, o programa foi objeto de uma reportagem do jornalista norte-americano Ted Gup, publicada no The Washington Post em 1985 e intitulada “The Smithsonian Secret - why an innocent bird study went straight to biological warfare experts at Fort Detrick” [O segredo do Smithsonian - por que um estudo inocente sobre pássaros foi direto para especialistas em guerra biológica em Fort Detrick]. Gup argumentou que o programa, embora não fosse secreto, mantinha atividades confidenciais e encobriu testes de armas biológicas utilizando aves como vetores. Os protótipos desenvolvidos por meio dessas experiências eram enviados ao Fort Detrick5, um laboratório de armas químicas e biológicas do Exército dos Estados Unidos localizado em Frederick, Maryland, nas imediações de -Washington. Em 1 de outubro de 1963:

os Laboratórios Biológicos do Exército em Fort Detrick escreveram aos administradores do Smithsonian sobre “material contendo informações sobre Sistemas de Armas Biológicas” que revelava designações de código não descritivo para agentes de AB [Armas Biológicas]6.

Em 2001, Roy MacLeod publicou a primeira referência historiográfica ao programa no artigo “‘Strictly for the Birds’: Science, the Military and the Smithsonian’s Pacific Ocean Biological Survey Program, 1963-1970” [“Estritamente para os pássaros”: Ciência, as Forças Armadas e o Programa de Pesquisa Biológica do Oceano Pacífico do Smithsonian, 1963-1970]. Em 2016, o tema foi retomado por Juliet Lamb em reportagem para o JSTOR Daily intitulada “The Strange Tale of the Pacific Ocean Biological Survey Program” [O estranho conto do Programa de Pesquisa Biológica do Oceano Pacífico]. Em 2023, foi publicada uma pesquisa sobre o tema no livro Science, Secrecy, and the Smithsonian: The Strange History of the Pacific Ocean Biological Survey Program [Ciência, segredo e o Smithsonian: a estranha história do Programa de Pesquisa Biológica do Oceano Pacífico], de Ed Regis.

Milton Leitenberg (1984, p. 35) tratou do Projeto Ecológico de Belém em referência à controvérsia pública em que o Smithsonian esteve envolvido no final dos anos 1960, associada “aos estudos do Projeto Pacífico e estudos semelhantes realizados no Brasil”7. No entanto, o projeto permanece praticamente desconhecido e não havia sido, até o momento, objeto de pesquisa histórica. Valendo-se de recursos do Escritório de Pesquisa do Exército norte-americano (Army Research Office)8, o projeto dedicou-se ao estudo sobre distribuição ecológica, diversidade, rotas de voo e relações entre arbovírus e aves9, além de ter sido um meio pelo qual milhares de pássaros foram taxidermizados e enviados para o acervo do NMNH.

Ao todo, o museu abriga 5.000 espécimes de aves brasileiras, coletadas desde 1910, ano da fundação do museu, até 2024. Dessas, 4.426 chegaram enquanto o projeto coordenado por Humphrey esteve vigente (1963 a 1971); a maior parte, 2.895 unidades, vinda do Pará. Junto com as 1.137 aves que, na mesma época, foram capturadas no Amapá, onde havia bases do Smithsonian em Serra do Navio, em Porto Platon e no rio Tracajatuba, visitadas por Humphrey pelo menos duas vezes, em 1964 e 1966, chega-se a mais de 90% das aves -capturadas pelo instituto no Brasil no período, o que corresponde a 80% do total de espécimes brasileiros conservados pelo museu10.

O BEP foi realizado em parceria com o Laboratório de Vírus da Fundação Rockefeller (Belem Virus Laboratory), implantado no Instituto Evandro Chagas. O casal de norte-americanos Calista e Ottis Causey, que vivia no Brasil desde os anos 1940 e havia atuado no Serviço de Febre Amarela e no Serviço de Malária do Nordeste, foi o primeiro responsável pelo laboratório. Segundo Andrade (2019, p. 20), “o Laboratório de Vírus de Belém estava plenamente inserido nos debates internacionais sobre virologia, ligado a outros laboratórios criados a partir de parcerias semelhantes em diversos locais do mundo”.

O laboratório não era o primeiro do tipo no Brasil. Peça central no sistema internacional de saúde emergente na primeira metade do século XX, a Fundação Rockefeller tinha como pressuposto que “a pobreza e o atraso se deviam principalmente a doenças infecciosas que não só causavam mortes e doenças, mas minavam a produtividade e a expectativa de vida” (Cueto; Palmer, 2015, p. 109)11. A fundação havia entrado no país em 1916 e, “em 1923, estabeleceu um convênio com o governo brasileiro, para cooperação médico-sanitária e programas de erradicação de endemias, notadamente a febre amarela e depois a malária” (Schueler, 2015). Em 1928, foi instituído na Bahia um laboratório responsável por estudos sobre a epidemiologia dessas doenças em Salvador e em cidades do interior, como Cachoeira, Nazaré e Santo Amaro (Batista, 2022). Na década de 1940, foi instalado mais um laboratório da fundação, no campus da Fiocruz, no Rio de Janeiro, para a produção de vacina contra a febre amarela. O laboratório de Belém foi criado em 1954, através de uma parceria da -Rockefeller com o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), que já atuava na região. A partir de 1956, o Departamento de Microbiologia da Universidade do Brasil também se tornaria consignatário do novo contrato entre a Rockefeller e o SESP (Belem Virus Laboratory - 1962 Annual Report12). O Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), então recém-criado, em 1951, e o Instituto Oswaldo Cruz foram parceiros e patrocinadores de pesquisas desenvolvidas no laboratório.

As pesquisas do Projeto Ecológico de Belém foram conduzidas, na maior parte do tempo, em uma área federal brasileira pertencente ao Ministério da Agricultura e gerida pelo Instituto de Pesquisas e Experimentação Agropecuárias do Norte (IPEAN). Essa região de floresta foi demarcada em 1966, com recursos do Smithsonian, e nomeada Área de Pesquisas Ecológicas do Guamá (APEG), compartilhada por cientistas e instituições presentes na região de Belém à época, a exemplo do próprio Instituto Evandro Chagas e do Museu Paraense Emílio Goeldi. O Projeto Ecológico de Belém esteve vinculado principalmente a duas frentes de pesquisa na APEG, Zoologia de Vertebrados, coordenada por Humphrey, e Epidemiologia, coordenada pelos diretores do laboratório da Rockefeller: Ottis e Calista Causey, Robert Shope e John Woodall. A respeito do programa de Epidemiologia desenvolvido na APEG, Samuel Soares de Almeida et al. (2007, p. 23-24), do Goeldi, afirmaram que:

Os estudos com arbovírus mereceram forte oposição de grupos de pesquisa e da mídia, dentro e fora do Brasil, uma vez que julgava-se tratar de pesquisa de interesse estratégico para os USA, ligada ao desenvolvimento de armas biológicas. (...) Foram só especulações e nunca ficou provado qualquer vínculo entre as pesquisas aqui realizadas com os tais interesses norte-americanos.

Ao investigar o Projeto Ecológico de Belém, este artigo explora a controvérsia histórica de que pesquisas sobre ecologia de aves teriam ocultado testes das forças armadas norte-americanas para o desenvolvimento de armas biológicas. O Instituto Smithsonian, embora seja uma agência federal dos Estados Unidos, existe juridicamente como um truste, congregando capital público e privado (Henson, 2013). A Fundação Rockefeller, por sua vez, configura-se como uma instituição privada paraestatal, que protagonizou, desde 1913, quando foi fundada, a abertura de fronteiras e o estabelecimento de redes intelectuais e políticas ultramarinas. Seus esforços corroboraram a diplomacia pública norte-americana e, muitas vezes, a antecederam. Ao tratar da relação entre política e ciência no esforço de guerra, a pesquisa põe em relevo a relação entre as instituições do Estado e as fundações privadas na execução da política externa norte-americana durante a Guerra Fria (Parmar, 2015).

Kennedy, McNamara e o Projeto 112: Guerra Fria e armas biológicas

Em 1961, após ser empossado, o presidente John Kennedy nomeou Robert McNamara, então presidente da Companhia Ford Motor, Secretário de Defesa dos Estados Unidos, função que ocuparia até 1968. Ele foi responsável pela organização de um grupo de trabalho que tinha como objetivo avaliar estrutura, organização e equipamentos das forças armadas norte-americanas e propor reformas. Esse esforço resultou em 150 projetos, identificados numericamente e em sequência, entre eles o Projeto 112, cuja “tarefa era avaliar prospectos de armas químicas e biológicas tanto para uso estratégico como para emprego em situações de guerra tática mais limitadas” (Regis, 2023, p. 90)13.

Armas químicas e biológicas eram consideradas alternativas às bombas nucleares, precisamente porque menos letais e facilmente atribuídas a causas naturais. Em maio de 1961, McNamara solicitou ao Estado-Maior Conjunto que preparasse “um plano para desenvolvimento de uma capacidade adequada de dissuasão biológica e química, para incluir estimativas de custos e uma avaliação de consequências políticas domésticas e internacionais” (Regis, 2023, p. 90)14.

O projeto operaria a partir de três frentes: um novo posto de comando do Exército dos EUA, o Centro de Testes Deseret (DTC), em Utah, que “planejaria, agendaria e organizaria os testes e avaliaria seus resultados”; o Projeto SHAD (Perigo e Defesa a Bordo), conjunto de “miniexército, marinha, corpo de fuzileiros navais e equipe de ataque da força aérea que realmente realizaria os testes, tanto químicos quanto biológicos”; e

o POBSP, cuja função era realizar uma sistemática busca por um ou mais locais onde os testes de armas biológicas e químicas em grande escala pudessem ser conduzidos secretamente e com segurança (Regis, 2023, p. 91)15.

A filiação do POBSP ao Projeto 112 levou Regis a afirmar que “a causa imediata foi o secretário de defesa, mas o indivíduo responsável final pelo Programa do Pacífico do Smithsonian foi o presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy” (Regis, 2023, p. 89)16.

Armas biológicas não eram um tema novo na arena internacional. Em 1925, após a Primeira Guerra Mundial, foi assinado o Protocolo de Genebra, que proibia o uso de armas químicas e biológicas, mas era omisso sobre sua produção, armazenamento, estocagem e transferência. Durante a Segunda Guerra Mundial e, posteriormente, na Guerra Fria - em parte, aproveitando a brecha aberta pelo protocolo, em parte, ignorando-o -, esse tipo de armas, produzidas através de programas do Estado, voltou de forma massiva. O Projeto 112 teve um impacto efetivo na sistemática de pesquisa e produção de armas biológicas pelos Estados Unidos nesse período, com pelo menos cinquenta testes realizados (Guillemin, 2005).

No verão de 1962, Philip Humphrey assumiu a função de curador da Divisão de Aves do NMNH. Em entrevista ao jornalista Philip Boffey, da revista Science, em fevereiro de 1969, Humphrey narrou ter recebido, ao iniciar o trabalho no museu, uma visita de oficiais do Exército. Eles falavam em nome do Projeto 112. A versão de Humphrey foi de que os militares o procuraram pedindo ajuda para encontrar uma universidade para abrigar o estudo ecológico sobre aves no Pacífico e que teria sido ele quem os convenceu a alocar o projeto no Smithsonian17. A conversa pavimentou o caminho para o POBSP e projetos correlatos, como o Patagonian Birds [Aves da Patagônia], o Ecology Distribution of Neotropical Birds [Distribuição Ecológica de Aves Neotropicais] e o Projeto Ecológico de Belém18. Portanto, o projeto de Belém não tinha em comum com o do Pacífico apenas a coordenação de Philip Humphrey e a fachada do Smithsonian, mas sua intrínseca relação com o projeto de Kennedy e McNamara na Guerra Fria. Após a visita, Humphrey iniciou uma profícua comunicação com uma instituição já experiente nas relações com a América Latina, que conduzia um programa internacional de vírus desde 1951 e cujas redes políticas e científicas abririam portas para que o Smithsonian se estabelecesse no Brasil: a Fundação Rockefeller.

Ciência e política em uma floresta tropical úmida da América do Sul: o Projeto Ecológico de Belém e o isolamento de vírus na Amazônia

Antes da primeira expedição de Humphrey à Amazônia, entre 24 de janeiro e 24 de maio de 1963, o propósito de estudar aves como vetores de vírus já estava claro. Em ofício19 datado de 27 de novembro de 1962, após a visita dos militares, a Fundação Rockefeller aprovou uma subvenção de US$ 4.80020 para as pesquisas de campo do ornitólogo, sob o título “Cooperative field studies of relationship of birds to arthropod-transmitted virus disease in the region of Bragança, Brazil” [Estudos de campo cooperativos sobre a relação de aves com doenças causadas por vírus transmitidos por artrópodes na região de Bragança, Brasil]. A viagem foi planejada em correspondências trocadas entre ele, Ottis Causey e Wilbur Downs, tenente-coronel aposentado do Exército após a Segunda Guerra Mundial que atuava como Diretor Associado da Rockefeller. As pesquisas foram realizadas na região de Bragança, no nordeste do Pará, onde estava previsto um surto espontâneo do vírus EEE [Encefalite Equina Oriental] vindo da Guiana Inglesa, e em Utinga, região de floresta próxima a Belém (Figura 1).

Figura 1
Fragmento do estado do Pará, com destaque para as imediações da cidade de Belém e para a cidade de Bragança

O relatório do Laboratório de Vírus da Rockefeller em Belém daquele ano contou com um item intitulado “Estudos Ornitológicos”, que se referia às pesquisas conduzidas por Humphrey nas terras de Fazenda Velha, pertencentes ao IPEAN, e em Bragança. Conforme o documento, os procedimentos incluíam inocular “órgãos e sangue das aves coletadas nesse estudo (...) em camundongos sugadores para tentativa de isolamento de vírus e, sempre que possível, o plasma foi preservado para estudo de anticorpos”21. Ao todo, 1.165 aves haviam sido capturadas para os testes. Embora as atividades não estivessem concluídas, uma avaliação preliminar indicava falta de evidências do envolvimento de aves da floresta do IPEAN na atividade dos vírus isolados. O relatório de Humphrey para a Rockefeller corroborou essa avaliação. Apesar disso, no ano seguinte, o projeto foi renovado sob o argumento de que a primeira expedição havia sido “altamente bem-sucedida”, segundo o diretor do laboratório, Robert Shope. A Rockefeller autorizou um segundo aporte, no valor de US$ 2.99822, a ser aplicado em viagem realizada entre 20 de junho e 30 de setembro daquele ano.

Shope atuou por seis anos em Belém, onde exerceu o cargo de diretor do laboratório após a transferência de Causey para a Nigéria, em dezembro de 1963, até junho de 1965, quando Woodall assumiu o posto. Graduado e mestre em medicina pela Universidade de Cornell e residente na Universidade de Yale, ele havia passado três anos trabalhando no Corpo Médico do Exército dos Estados Unidos em Detrick. Depois disso, foi transferido para a Unidade de Pesquisa Médica do Exército dos EUA em Kuala Lumpur, na Malásia, região central do Pacífico (Murphy et al., 2004). Sobre a renovação do contrato com o Smithsonian, ele afirmou: “Gostaria de deixar registrado que recomendo que o apoio da Fundação Rockefeller seja estendido na medida em que os seus [de Humphrey] projetos se encaixam nos nossos meios e fins”23.

Após o primeiro trimestre de pesquisa de Humphrey, Shope havia se tornado seu principal interlocutor no Brasil. No final de 1963, o ornitólogo solicitou a ele a indicação de alguém para isolar vírus em aves do Pacífico. Shope afirmou que não tinha ninguém para recomendar: “Para responder à sua última pergunta, se posso sugerir alguém que esteja disposto a testar mil ou mais coleções de soros no Pacífico Central contra o maior número possível de vírus, não”24. Apesar da negativa, a carta-resposta foi copiada para Downs.

Em 1964, novas técnicas foram introduzidas, como o anilhamento das aves, sua identificação numérica e devolução à floresta, e a dispersão de vírus no ambiente através de aerossol. As práticas de captura e taxidermização continuaram. Em 1965, o Smithsonian autorizou que Humphrey contratasse um assistente, o biólogo Thomas Lovejoy, responsável pela instalação de redes mistas no dossel florestal para captura de aves e realização dos testes. Conforme Lovejoy, foi essa experiência que despertou nele o interesse em estudar a Amazônia, pouco tempo depois objeto de seu doutorado em Yale. Em entrevista à Fapesp, Lovejoy desvencilhou-se de qualquer relação com o programa de vírus: “Eu tinha tantos dados que acabei fazendo a tese só sobre ecologia de aves e entreguei todos os dados virais e epidemiológicos para o laboratório de vírus de Belém”25.

Contrariando a fala de Lovejoy, Downs havia afirmado, em declaração pública a respeito do projeto, ainda em 1969, que Humphrey estava fazendo apenas pesquisa sobre ecologia de aves na bacia amazônica e que era seu assistente no laboratório, Lovejoy, quem estava estudando as relações entre “aves e vírus a partir de subvenções da Força Aérea e do Serviço de Saúde Pública dos EUA”26 (apud Leitenberg, 1984, p. 36). Apesar de isentar Humphrey de responsabilidade pelo projeto, Downs defendeu o repasse de informações das pesquisas com arbovírus para as forças armadas: “os resultados da investigação sobre aves tropicais e vírus são úteis aos militares e deveriam ser-lhes disponibilizados”27 (apud Leitenberg, 1984, p. 36)

Para Leitenberg (1984), “o problema de uma avaliação clara [do BEP]” - que possibilitou desresponsabilizações e ensejou a controvérsia pública acerca de sua natureza e finalidade - repousa, em parte, na origem híbrida das suas fontes de financiamento: “Institutos Nacionais de Saúde, a Fundação Rockefeller, o Escritório de Pesquisa Científica da Força Aérea, o Gabinete de Pesquisa do Exército e o Ministério da Agricultura do Brasil”28. Além disso, uma diversidade de instituições e pesquisadores esteve envolvida nele, incluindo biólogos brasileiros.

Fernando Novaes, do Museu Goeldi, por exemplo, colaborou para as pesquisas realizadas por Humphrey. Além disso, parte das aves capturadas e taxidermizadas não foram enviadas para o NMNH, mas destinadas ao acervo do Goeldi. Havia ciência de Novaes de que as pesquisas coordenadas por Humphrey incluíam estudos sobre arbovírus. No relatório anual do laboratório de Belém referente a 1963, consta que, após a partida de Humphrey, o projeto foi conduzido por ele durante um mês29. Em carta a Downs, Humphrey relatou que Novaes estava continuando o trabalho de campo, incluindo coleta de sangue e espécimes vivos para o laboratório de vírus de Belém. A colaboração com o laboratório está nos relatórios individuais do próprio Novaes e nos relatórios institucionais do Goeldi até o início dos anos 1970, embora o museu não estivesse formalmente associado ao Projeto Ecológico de Belém30.

A também ornitóloga brasileira Yoshika Oniki, doutoranda na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, era orientada, ao mesmo tempo, por Domiciano Dias, Fernando Novaes e Philip Humphrey, integrava o programa de Entomologia da APEG e contribuiu para a produção de informações acerca dos ciclos virais. Não foi identificada, entretanto, evidência documental de que ela, Novaes ou quaisquer outros cientistas brasileiros tivessem ciência dos acordos prévios que haviam tornado possíveis as pesquisas do Smithsonian no Brasil, tampouco do repasse de informações obtidas através das pesquisas para os laboratórios militares em Fort Detrick. Conforme Leitenberg:

Os estudos do Smithsonian/Exército no Brasil também servem como exemplo de como a ampliação dos interesses de defesa gradualmente envolve e inclui áreas de interesse científico que já podem existir há muitos anos sem quaisquer relações de defesa (Leitenberg, 1984, p. 37)31.

Em 1965, a Rockefeller concedeu US$ 3.58332 para a terceira expedição de Humphrey. Naquele momento, Shope já estava retornando aos Estados Unidos e Woodall assumira a direção do laboratório. Nos relatórios do PEB, ele passaria a ser referenciado como “Programa APEG”, prenunciando a demarcação da área do IPEAN, no final de 1966, correspondente a 310 hectares. As pesquisas do programa de Epidemiologia, especificamente, eram realizadas em uma área de floresta que media 25 hectares (Figura 2). O presidente do instituto, José Maria Pinheiro Condurú, estabeleceu o “Programa Integrado de Colaboração Científico-Educacional na Amazônia”, que visava à regulamentação das atividades de pesquisa já em andamento na região. Para tanto, instituía uma Comissão de Coordenação das Atividades de Pesquisa da APEG composta por cinco membros: o próprio Condurú, João Murça Pires, John Woodall, Domiciano Dias e Philip Humphrey, que assumiria a função de secretário da comissão. O Smithsonian custeou a demarcação da área com, pelo menos, dois repasses: o primeiro, no valor de US$ 12.50033; o segundo, de US$ 10.00034.

Figura 2
Belém e imediações, com destaque para a APEG

A pesquisa coordenada por Humphrey, que levou ao isolamento do EEE, entre outros vírus, pela primeira vez na Amazônia, foi sumarizada no artigo “The Epidemiology of EEE, WEE, SLE and Turlock Viruses, With Special Reference to Birds, in a Tropical Rain Forest Near Belem, Brazil” [A epidemiologia dos vírus EEE, WEE, SLE e Turlock, com especial referência às aves, em uma floresta tropical úmida perto de Belém, Brasil], publicado em 1966 no American Journal of Epidemiology, em coautoria com Robert Shope, Ottis Causey, Amélia Homobono Paes de Andrade e Gilberta Bensabah (cientistas vinculadas ao Instituto Evandro Chagas)35. Segundo os autores, tratava-se, inicialmente, de um estudo epidemiológico da Encefalite Equina Venezuelana (VEE), endêmica na floresta, e na relação de aves com sua disseminação. A partir de 1964, entretanto, o projeto havia sido ampliado, passando a incluir testes com outros vírus, como a Encefalite Equina do Oeste (EEO), a Encefalite St. Louis (SLE) e o vírus Turlock.

À reportagem de Gup, em 1985, Humphrey mencionou dois “agentes candidatos” testados pelos militares: VEE, “um vírus altamente infeccioso que causa uma síndrome aguda semelhante à influenza”; e febre Q, “uma doença infecciosa aguda que pode durar meses, embora raramente seja fatal”. Segundo Humphrey, “os vírus VEE produziram mais doenças humanas no Hemisfério Ocidental do que qualquer outro arbovírus”36.

A relação entre os testes com VEE e febre Q, causada pela bactéria Coxiella burnetii, e o desenvolvimento de armas biológicas não era novidade para o Exército americano. Segundo Smith III, “os primeiros estudos de dose-resposta foram realizados (...) em janeiro de 1955”. Os voluntários foram expostos à C. burnetti - febre Q “dentro da esfera de teste gigante conhecida como Bola Oito em Detrick”. Esse projeto, inicialmente chamado de CD-22, ficou conhecido depois como Projeto Whitecoat, vigorou até 1973 e também “expôs voluntários humanos à tularemia, à Encefalite Equina Venezuelana (VEE) e à enterotoxina B estafilocócica, entre outros”37 (Smith III, 2014, p. 49).

O declínio do Belem Ecological Project: o escândalo midiático nos EUA e uma nova política internacional contra armas biológicas

No dia 6 de janeiro de 1969, a Scientific Research publicou, na seção “Carta dos leitores”, um texto do cientista Philip Siekevitz, da Universidade Rockefeller, afirmando que se sentia “muito perturbado” pela reportagem de William Small e que a questão central era: “A presença de tropas americanas na América do Sul só poderia ser resultado de uma política, não de uma defesa; de uma política militar americana imperialista, aventureira, a mesma que está causando o desastre do Vietnã”38.

Após a reportagem, outros veículos da imprensa reverberaram a controvérsia envolvendo o Smithsonian. Primeiro, o telejornal NBC News; depois, a revista Science, onde o jornalista Philip Boffey questionou as denúncias, afirmando que, embora não houvesse dúvidas de que o Smithsonian estava conduzindo uma pesquisa biológica no Pacífico sob contrato com o Exército, não havia evidências de que o instituto estivesse participando ou acobertando o desenvolvimento de armas químicas ou biológicas. O mesmo valia para o projeto semelhante no Brasil. Apesar de a reportagem ter colocado em dúvida as acusações, os leitores não ficaram convencidos. Stephen Jay Gould, da Universidade de Harvard, escreveu ao jornal dizendo: “Nenhum homem pode ser tão ingênuo a ponto de pensar que um projeto confidencial, financiado pelo Exército e administrado através do Fort Detrick, foi instituído por seus -idealizadores em nome da pura pesquisa”39.

Conforme Guillemin (2005, p. 9), “a opinião pública contra as armas biológicas contou eficazmente durante a década de 1960 no Reino Unido e nos Estados Unidos, mas muitas vezes o público ignorava os programas ou era incapaz de influenciar as políticas”40. As matérias sobre o Programa do Pacífico, nesse sentido, alcançaram uma sociedade civil e uma comunidade científica já dispostas a rejeitar a guerra biológica, mas carentes de informações sobre as diretrizes em curso nas forças armadas.

Em 25 de novembro de 1969, em discurso em Detrick, sob impacto do escândalo mi-diático, o presidente Richard Nixon proibiu a pesquisa, o desenvolvimento e o uso de armas biológicas. Conforme o presidente, os Estados Unidos limitariam “sua investigação biológica a medidas defensivas, tais como imunização e medidas de segurança”. Ele asseverou, ainda, que havia solicitado ao Departamento de Defesa “fazer recomendações quanto ao descarte dos estoques existentes de armas bacteriológicas”41. Em 1972, o país tornou-se signatário da Convenção sobre Armas Biológicas, comprometendo-se com a destruição de todo o arsenal disponível nos laboratórios militares dos Estados Unidos (Cole, 1988).

Antes do pronunciamento de Nixon, as pesquisas para fins ofensivos e defensivos eram consideradas quase a mesma coisa para as forças armadas dos Estados Unidos. Segundo relatório do Pentágono de 1949, “as informações obtidas a partir de pesquisas sobre o aspecto defensivo das AB são, em sua maior parte, aplicáveis também a problemas ofensivos” (apud Cole, 1997, p. 199)42. Em publicação oficial de Detrick, datada de 1968, consta que “a investigação e o desenvolvimento nos aspectos ofensivos das AB prosseguiram de mãos dadas com os desenvolvimentos defensivos, pois, na verdade, os dois são quase inseparáveis” (apud Cole, 1997, p. 199)43. Conforme Smith III (2014, p. 5), “não existe uma defesa perfeita contra as AB, dadas as suas características (...), e é mais fácil fabricar uma arma biológica do que criar um sistema eficaz de defesa biológica”44.

Em 26 de agosto de 1969, antes do discurso de Nixon, o governo brasileiro havia publicado o Decreto nº 65.05745, assinado pelo presidente Arthur da Costa e Silva, que dispunha “sobre a concessão de licença para a realização de Expedições Científicas no Brasil” e estabelecia que competia ao CNPq “autorizar e fiscalizar expedições científicas ou quaisquer outras atividades que envolvam a exploração, levantamento, coleta, filmagens ou gravações do material científico, realizadas por (...) instituições e pessoas físicas estrangeiras, oficiais ou não”, além de “julgar da idoneidade e da competência das entidades ou das pessoas que pretendam realizar expedições científicas”. Previa, ainda, que tais expedições dependeriam de anuência prévia do Conselho de Segurança Nacional.

Apesar da normativa, o PEB já tinha adquirido uma dinâmica própria, em parte alheia às diretrizes de Brasília. Em documento datilografado e apócrifo de 8 de setembro de 1969, menos de duas semanas após a publicação do decreto, um funcionário da Diretoria Estadual do Pará do Ministério da Agricultura, identificado apenas como “vigia do posto de Ananindeua”, autorizou os funcionários Geraldo Pereira da Silva e Crisolino Coutinho de Andrade, do Instituto Evandro Chagas, “a pegar pássaros, insetos e outros e qualquer animais (sic)46” para serviços de pesquisa até o dia 30 daquele mês.

Em carta de 23 de fevereiro de 1964, Humphrey escrevera a Shope: “Espero que a situação política no Brasil não constitua um sério empecilho à minha proposta de viagem a Belém”47. Em 22 de abril, depois do golpe militar, Shope responderia: “A situação política tem sido extremamente interessante, mas até agora em nada impediu o nosso trabalho. Acredito que o atual regime representa uma certa estabilidade que deverá ser favorável”48. Quando, em 1969, o decreto de Costa e Silva restringiu as expedições no Brasil, o programa já estava arrefecendo. A política local, entretanto, teve pouco impacto sobre o declínio do projeto, que respondeu mais às pressões internas nos Estados Unidos e à agenda internacional.

Em novembro de 1969, houve um encontro na sede do IPEAN em que Richard -Cowan, diretor do NMNH, e Philip Humphrey anunciaram o fim do suporte financeiro do Smithsonian à APEG49. Em março daquele ano, Cowan havia sugerido a Humphrey, em carta, que as pesquisas no Brasil fossem movidas do Smithsonian para o Kansas (McLeod, 2001). Em documentos contábeis do Smithsonian de 1968 a 1970, entretanto, constam informações de que Humphrey continuava vinculado ao instituto, que respondia por 50% do seu salário. Os outros 50% vinham de fontes diversas, públicas e privadas, sendo 10% referentes à coordenação do Aves Neotropicais, 20% pelo programa do Pacífico, 10% pelo da Patagônia e 10% pelo programa do Brasil, no valor de US$ 1.705 ao ano50, que cabia à Fundação Rockefeller51.

Entre 1968 e 1972, a previsão orçamentária do Smithsonian para o programa do Pacífico foi de US$ 700.00052 e para o projeto de Belém, US$ 135.00053. Por se tratar de uma projeção feita em 1968, pode ser que não tenha se cumprido, pois a data formal de encerramento do BEP é 197154. Naquele ano, findaria também o Programa Internacional de Vírus da Fundação Rockefeller, cujos quadros haviam sido significativamente incorporados na Universidade de Yale. Leitenberg (1984) afirma que o custo total das forças armadas com o Programa do Pacífico (e os projetos a ele vinculados, incluindo o de Belém) foi em torno de US$ 3.000.00055.

À guisa de conclusão: Nuremberg e a ética na Guerra Fria

Havia, antes da Convenção sobre Armas Biológicas, de 1972, pressupostos éticos que pudessem guiar as forças armadas relativamente ao tema. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos não ignorava os princípios do Código de Nuremberg, de 1947, produzido sob impacto das experiências de médicos nazistas nos campos de concentração. Eles seriam recomendados às forças armadas em memorando de fevereiro de 1953: “seja dado conhecer a natureza, a duração e o propósito do experimento; o método e os meios pelos quais será conduzido; todos os inconvenientes e perigos razoavelmente esperados” (Cole, 1996, p. 38). Portanto, “implicitamente desde 1947 e explicitamente desde 1953, os testadores de guerra biológica e química dos EUA estavam sob ordens de fazer cumprir os padrões do Código de Nuremberg”. Essa é a razão pela qual “a noção de que os padrões éticos para a investigação em seres humanos na década de 1950 eram diferentes dos de hoje é falsa, apesar das alegações recentes em contrário” (Cole, 1996, p. 39)56.

Guillemin (2005, p. 94) põe em dúvida que as armas testadas pelo Projeto 112 tenham de fato sido utilizadas na Guerra do Vietnã. Embora os testes “que envolviam doenças tropicais e foram concebidos para penetrar nas copas das florestas” possam “ter tentado alguns estrategistas militares, frustrados pelas táticas de guerrilha dos vietcongs e querendo todas as opções de ataque”, para a autora, “a política do governo dos EUA manteve a linha”57. -Norman Covert (1997, p. X), ex-funcionário de Detrick, também negou o uso de armas biológicas pelas forças armadas, ao afirmar que: “Na verdade, (...) nenhuma arma biológica jamais foi utilizada pelas tropas dos EUA num campo de batalha”58. Nixon manifestou em Detrick “a sua repetida renúncia ao primeiro uso de armas químicas letais” e “ao uso de agentes e armas biológicas letais e todos os outros métodos de guerra biológica”59. A declaração, por si só, atesta que a prática de uso de armas biológicas para fins ofensivos existia antes disso.

Indagado, Humphrey admitiu a relação dos programas coordenados por ele com os interesses do Departamento de Defesa. Afirmou que sabia “que os militares estavam a planejar certos testes de armas biológicas no Pacífico Central e basicamente queriam saber se era seguro”. Para ele, “havia uma distinção clara entre o trabalho ecológico básico realizado pelo Smithsonian e a forma como essa informação era posteriormente utilizada pelos militares”. Prosseguiu: “Penso que naquela altura havia uma função apropriada para o Smithsonian e, ainda hoje, penso que seria uma função apropriada para o Smithsonian no interesse nacional”. E arrematou: “Pessoalmente, não concordo com a noção de guerra biológica. Eu acho que é terrível, mas é um fato da vida”60.

  • 1
    Os documentos referentes ao Belem Ecological Project foram consultados nos Smithsonian Institution Archives (SIA), em Washington, D. C., Estados Unidos.
  • 2
    O Instituto Smithsonian é uma agência governamental norte-americana instituída por ato do Congresso Nacional, em 1846. Atualmente, abarca dezenove museus e sete centros de investigação, constituindo, conforme Pamela Henson (2013), ex-diretora do arquivo da instituição, o maior complexo de instituições de guarda e pesquisa do mundo.
  • 3
    Trad. livre da autora: “You as president of these United States have obeyed the military approach to international relations, and in the process you have done much harm to your country and to other human beings on this planet. You have failed. I pray for you”. SMITHSONIAN INSTITUTION ARCHIVES, Washington, D. C. RU 429, cx. 4, pasta POBSP.
  • 4
    Trad. livre da autora: “The Department of Defense has sponsored research on birdlife in the Pacific, the purpose of which was not research for employment of biological agents, but to obtain data on the natural spread of disease by birdlife. (…) In order to obtain sound scientific data on the bird populations in the area under U.S. Military control, and the migratory habits of the birds, a project has been financed at the Smithsonian Institution for several years. The project has been progressively reduced in scope as data are accumulated”. SMITHSONIAN INSTITUTION ARCHIVES, Washington, D. C. RU 429, cx. 4, pasta POBSP.
  • 5
    Fort Detrick é uma unidade militar fundada em 1943, que se tornou sinônimo do desenvolvimento de armas químicas e biológicas pelo Exército americano durante a Guerra Fria. Em 1972, quando Nixon comprometeu-se publicamente com a destruição do arsenal bélico dessa natureza, grande parte dos documentos foi também destruída e o restante, enviado para outros lugares, como o Arquivo Nacional (National Archives and Records Administration, NARA II), a Assessoria Geral do Exército (Adjutant General of the Army), responsável pelo serviço administrativo e de recursos humanos, e o Campo de Provas de Aberdeen (Aberdeen Proving Ground), em Maryland. Em 1978, o Escritório de Relações Públicas (Public Affairs Office) de Detrick iniciou um projeto de recuperação dos documentos da instituição, incluindo doações de papéis guardados por ex-funcionários. A documentação foi enviada para o NARA II (Covert, 1997). Em consulta realizada no arquivo, em 2017, nenhum registro do Belem Ecological Project foi encontrado.
  • 6
    Trad. livre da autora: “On Oct. 01, 1963, the Army Biological Laboratories at Fort Detrick wrote to the Smithsonian administrators about ‘Material containing Biological Weapons System information which reveals the nondescriptive code designations for BW [Biological Weapons] agents…”. GUP, Ted. The Smithsonian Secret […]. The Washington Post, Washington, 12 maio 1985. Disponível em: https://www.washingtonpost.com/archive/lifestyle/magazine/1985/05/12/science/bd1e9eff-157f-4fb7-97a5-e0e270315bcf/. Acesso em: 30 jan. 2025.
  • 7
    Trad. livre da autora: “In the late 1960's the Smithsonian Institution was involved in public controversy over the Project Pacific studies and similar studies performed in Brazil”.
  • 8
    Trad. livre da autora: “The project was funded through a grant from the Army Research Office and ran from 1967 to 1971”. SMITHSONIAN INSTITUTION ARCHIVES, Washington, D. C. National Museum of Natural History. Department of Vertebrate Zoology, Belém Ecological Project Records. RU 534. Disponível em: https://siarchives.si.edu/collections/siris_arc_217098. Acesso em: 30 jan. 2025.
  • 9
    No âmbito do Belem Ecological Project, foram realizados testes com outros animais, como mamíferos e répteis. Entretanto, o número de espécimes é inexpressivo se comparado ao de pássaros. Uma iniciativa paralela do Smithsonian, coordenada pelo zoólogo Charles Handley, também em parceria com o Laboratório de Vírus da Fundação Rockefeller, dedicou-se a testes com morcegos e representou um incremento expressivo no acervo da Divisão de Mamíferos do museu.
  • 10
    Os dados baseiam-se em simulações feitas no banco de dados do Museu Nacional de História Natural, utilizando-se recortes espaciais (país: Brasil; estados: Pará e Amapá) e cronológicos (1910-2024; 1963-1971). Disponível em: https://collections.nmnh.si.edu/search/birds/?irn=4010403. Acesso em: 30 jan. 2025.
  • 11
    Trad. livre da autora: “poverty and backwardness were mainly due to infectious disease that not only caused death and illness but undermined productivity and life expectancy”.
  • 12
    ARQUIVO DO INSTITUTO EVANDRO CHAGAS, Ananindeua, Pará. Belem Virus Laboratory - 1962 Annual Report, cod. 015.2, cx. 3.
  • 13
    Trad. livre da autora: “In essence, its task was to evaluate the prospects of chemical and biological weapons for both strategic use as well as for employment in more limited, tactical warfare situations”.
  • 14
    Trad. livre da autora: “Prepare a plan for development of an adequate biological and chemical deterrent capability, to include cost estimates, and an appraisal of the domestic and international political consequences”.
  • 15
    Trad. livre da autora: “Getting all of these functions operational involved the formation of three distinct entities. The first was a new US Army command post, the Deseret Test Center (DTC), in Utah. It would plan, schedule, and organize the tests, and it would evaluate their results. The second was Project SHAD (Shipboard Hazard and Defense). This was the fittingly opaque cover name for the mini-joint army, navy, marine corps, and air force strike team that would actually perform the tests, both chemical and biological. And the third entity was the POBSP, whose job it was to undertake a systematic search for one or more sites where the large-scale biological and chemical weapons trials could be conducted secretly and safely”.
  • 16
    Trad. livre da autora: “The proximate cause was the secretary of defense, but the individual who was ultimately responsible for the Smithsonian’s Pacific Program was the president of the United States, John F. Kennedy”.
  • 17
    Trad. livre da autora: “Philip Humphrey (...) told Science that in the summer of 1962 military officials came to the Smithsonian for help in finding an University that might be interested in conducting an ecological study in the Pacific. Instead of suggesting another institution, however, Humphrey, who was then curator of birds at the Smithsonian, put together a proposal himself, and the Army accepted it. The project started in 1963”. BOFFEY, Philip M. Biological Warfare: Is the Smithsonian Really a “Cover”? Science, v. 163, n. 21, p. 791-796, fev. 1969. Disponível em: https://www.science.org/doi/10.1126/science.163.3869.791. Acesso em: 30 jan. 2025.
  • 18
    SMITHSONIAN INSTITUTION ARCHIVES, Washington, D. C. RU 136, cx. 1, pasta 22.
  • 19
    Os documentos referentes às viagens de Humphrey à Amazônia, que embasam este item, estão localizados em: ROCKEFELLER ARCHIVE CENTER, Sleepy Hollow, NY. Smithsonian Institution - Humphrey, Philip S. (birds as virus carriers), 1962-1966. Record Group (RG) 200, “Projects United States”, box 611, folders 5229-5238.
  • 20
    A preços de setembro de 2024, o valor corresponderia a aproximadamente US$ 49.297,88, cerca de R$ 268.550,20. O deflator utilizado para o dólar foi o Consumer Price Index (CPI), disponível em: https://data.bls.gov/cgi-bin/cpicalc.pl. Para a conversão em reais, utilizou-se a ferramenta do Banco Central do Brasil, disponível em: https://www.bcb.gov.br/conversao (cotação de 30 set. 2024).
  • 21
    Trad. livre da autora: “Organs and bloods of the birds collected in this study were inoculated into suckling mice for virus isolation attempts and, where possible, plasma was preserved for antibody study”. ARQUIVO DO INSTITUTO EVANDRO CHAGAS, Ananindeua, Pará. Belem Virus Laboratory - 1963 Annual Report, cod. 015.2, cx. 4.
  • 22
    Aproximadamente US$ 30.394,61, cerca de R$ 165.574,64.
  • 23
    Trad. livre da autora: “I would like to go on record as recommending that RF support be extended to the extent that his projects fit with RF aims and means”. ROCKEFELLER ARCHIVE CENTER, Sleepy Hollow, NY. Smithsonian Institution - Humphrey, Philip S. (birds as virus carriers), 1962-1966. Record Group (RG) 200, “Projects United States”, box 611, folders 5229-5238.
  • 24
    Trad. livre da autora: “To answer your last question, can I suggest someone who is willing to test a thousand or more sera collections in the central Pacific against as many viruses as possible, no”. ROCKEFELLER ARCHIVE CENTER, Sleepy Hollow, NY. Smithsonian Institution - Humphrey, Philip S. (birds as virus carriers), 1962-1966. Record Group (RG) 200, “Projects United States”, box 611, folders 5229-5238.
  • 25
    GUIMARÃES, Maria; FIORAVANTI, Carlos. Thomas Lovejoy: cinquenta anos de Amazônia [Entrevista]. Pesquisa Fapesp, São Paulo, n. 230, p. 24-29, abr. 2015. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2015/04/024-029_Entrevista_230.pdf. Acesso em: 30 jan. 2025.
  • 26
    Trad. livre da autora: “Downs from Rockefeller/Yale says that Philip S. Humphrey... is doing ecological research on birds in the Amazon basin - not virus research. But a Humphrey assistant working at the Belem Lab, Thomas Lovejoy of Rockefeller, is studying birds and viruses under grants from the Air Force and the US Public Health Service”.
  • 27
    Trad. livre da autora: “Furthermore, he says, research results on tropical birds and viruses are of use to the military and should be made available to it”.
  • 28
    Trad. livre da autora: “The problem of clear assessment is compounded in that the funding for the Brazilian projects was supplied by the National Institutes of Health, the Rockefeller Foundation, the Air Force Office of Scientific Research, the Army Research Office and the Brazilian Ministry of Agriculture. Brazilian biologists were also involved in the project studies”.
  • 29
    Trad. livre da autora: “After Dr. Humphrey departure, the program was carried on for an additional month by Dr. Fernando da Costa Novaes of the Museu Goeldi in Belem”. ARQUIVO DO INSTITUTO EVANDRO CHAGAS, Ananindeua, Pará. Belem Virus Laboratory - 1963 Annual Report, cod. 015.2, cx. 4.
  • 30
    Os relatórios foram consultados presencialmente no Arquivo Guilherme de La Penha, do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, Pará.
  • 31
    Trad. livre da autora: “The Smithsonian-Army studies in Brazil also serve as an example of how broadening defense interests gradually involve and subsume areas of scientific concern which may already have been in existence for many years without any defense relationships”.
  • 32
    Aproximadamente US$ 35.750,74, cerca de R$ 194.752,16.
  • 33
    Aproximadamente US$ 122.800,00, cerca de R$ 668.953,00.
  • 34
    Aproximadamente US$ 98.200,00, cerca de R$ 534.944,50
  • 35
    HUMPHREY, Philip S. et al. The Epidemiology of EEE, WEE, SLE and Turlock viruses, with special reference to birds, in a tropical rain forest near Belem, Brazil. American Journal of Epidemiology, Oxford, v. 84, n. 3, p. 467-477, nov. 1966. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/6005906/. Acesso em: 30 jan. 2025.
  • 36
    Trad. livre da autora: “Humphrey said he remembers the names of two ‘candidate agents’ to be tested by the military: VEE and Q fever. VEE is Venezuelan Equine Encephalitis, a highly infectious virus that causes an acute influenza-like syndrome. (…) VEE viruses have produced more human illness in the Western Hemisphere than any other arbovirus. Q fever is an acute infectious disease that can linger for months though it is rarely fatal”. GUP, Ted. The Smithsonian Secret […]. The Washington Post, Washington, 12 maio 1985. Disponível em: https://www.washingtonpost.com/archive/lifestyle/magazine/1985/05/12/science/bd1e9eff-157f-4fb7-97a5-e0e270315bcf/. Acesso em: 30 jan. 2025.
  • 37
    Trad. livre da autora: “The first dozen-response studies were conducted on volunteers in January 1955. Volunteers were exposed to C. burnetti -Q fever being a non-lethal infection that responds rapidly to antibiotics, - inside the giant test sphere known as the Eight Ball at Detrick. Initially called Project CD-22, these tests were successful enough to provide the preamble to what became known as Project Whitecoat. It continued until the military draft ended in 1973. Along with Q fever, Project Whitecoat exposed human volunteers to tularemia, Venezuelan equine encephalitis (VEE), and Staphylococcal enterotoxin B, among other agents”.
  • 38
    Trad. livre da autora: “But it is the crux of the matter: the presence of American troops in South America could only be the result of a policy, not a defense; of an adventuristic, imperialistic American military policy, the same as is causing the disaster of Vietnam”. SMITHSONIAN INSTITUTION ARCHIVES, Washington, D. C. RU 429, cx. 4, pasta POBSP.
  • 39
    Trad. livre da autora: “No man can be so naive as to think that a classified project financed by the army and administrated thought Fort Detrick has been funded by its backers in the name of pure research”. Ibidem.
  • 40
    Trad. livre da autora: “Public opinion against biological weapons counted effectively during the 1960`s in the United Kingdom and the United States, but often the public was ignorant of the programs or incapable of influencing policy”.
  • 41
    Trad. livre da autora: “The United States will confine its biological research to defensive measures such as immunization and safety measures. The Department of Defense has been asked to make recommendations as to the disposal of existing stocks of bacteriological weapons”. STATEMENT on Chemical and Biological Defense Policies and Programs. The American Presidency Project, Santa Bárbara, [s. d.]. Disponível em: https://www.presidency.ucsb.edu/documents/statement-chemical-and-biological-defense-policies-and-programs. Acesso em: 30 jan. 2025.
  • 42
    Trad. livre da autora: “Information obtained from research on the defensive aspect of BW is, in the greater part, applicable to offensive problems as well”.
  • 43
    Trad. livre da autora: “As recently as 1968 an army publication indicated that ‘research and development in the offensive aspects of BW proceeded hand in hand with defensive developments for, in truth, the two are almost inseparable’”.
  • 44
    Trad. livre da autora: “There is no perfect defense against BW, given their characteristics (…), and it is easier to make a biological weapon than to create an effective system of biological defense”.
  • 45
  • 46
    ROCKEFELLER ARCHIVE CENTER, Sleepy Hollow, NY. Belem, Brazil Field Office Ottis R. Causey 1959-1963 - Wilbur G. Downs 1967. Contracts, Agreements and Authorizations. Record Group (RG) 6.2, box 3, folder.
  • 47
    Trad. livre da autora: “I hope the political situation in Brazil does not constitute a serious threat to my proposed trip to Belem”. ROCKEFELLER ARCHIVE CENTER, Sleepy Hollow, NY. Smithsonian Institution - Humphrey, Philip S. (birds as virus carriers), 1962-1966. Record Group (RG) 200, “Projects United States”, box 611, folders 5229-5238.
  • 48
    Trad. livre da autora: “The political situation has been extremely interesting, but so far in no way disabling to our work. I believe the present regime represents a certain stability which should be favorable”. Ibidem.
  • 49
    ARQUIVO DO INSTITUTO EVANDRO CHAGAS, Ananindeua, Pará. Belem Virus Laboratory - 1969 Annual Report, cod. 015.2, cx. 7.
  • 50
    Aproximadamente US$ 15.315,90, cerca de R$ 83.433,37.
  • 51
    SMITHSONIAN INSTITUTION ARCHIVES, Washington, D. C. RU 136, cx. 1, pasta 22.
  • 52
    Aproximadamente US$ 5.242.534,44, cerca de R$ 28.558.706,36.
  • 53
    Aproximadamente US$ 1.011.060,21, cerca de R$ 5.507.750,49.
  • 54
    SMITHSONIAN INSTITUTION ARCHIVES, Washington, D. C. RU 136, cx. 2, pasta 6.
  • 55
    Aproximadamente US$ 23.183.897,06, cerca de R$ 126.294.279,23.
  • 56
    Trad. livre da autora: “There should be made known (…) the nature, duration, and purpose of the experiment; the method and means by which it is to be conducted; all inconveniences and hazards reasonably to be expected. (…) Thus, implicitly since 1947 and explicitly since 1953, U.S. biological and chemical warfare testers were under orders to enforce the standards of the Nuremberg Code. The notion that ethical standards for human subject research in the 1950s were different from those of today is untrue, despite latter-day allegations to the contrary”.
  • 57
    Trad. livre da autora: “Those [tests] involving tropical diseases and designed to penetrate jungle canopies might have tempted some military planners frustrated by Vietcong guerrilla tactics and wanting every attack option, but US government policy held the line”.
  • 58
    Trad. livre da autora: “Indeed (…), not one biological weapon was ever deployed by U. S. troops in a field of battle”.
  • 59
    Trad. livre da autora: “Reaffirms its oft-repeated renunciation of the first use of lethal chemical weapons. (...) The United States shall renounce the use of lethal biological agents and weapons, and all other methods of biological warfare”. STATEMENT on Chemical and Biological Defense Policies and Programs. The American Presidency Project, Santa Bárbara, [s. d.]. Disponível em: https://www.presidency.ucsb.edu/documents/statement-chemical-and-biological-defense-policies-and-programs. Acesso em: 30 jan. 2025.
  • 60
    Trad. livre da autora: “What I knew is that the military was planning certain biological weapons testing in the central Pacific and basically they wanted to know whether it was safe. So I seemed to me then, as now, there was a clear distinction between the basic ecological work done by the Smithsonian and how that information was subsequently used by the military. (…) I think that there was at that time an appropriate function for the Smithsonian, and, even today, I think it would be an appropriate function for the Smithsonian in the national interest. I personally don’t happen to agree with the notion of biological warfare. I think it is hideous, but is a fact of life”. GUP, Ted. The Smithsonian Secret […]. The Washington Post, Washington, 12 maio 1985. Disponível em: https://www.washingtonpost.com/archive/lifestyle/magazine/1985/05/12/science/bd1e9eff-157f-4fb7-97a5-e0e270315bcf/. Acesso em: 30 jan. 2025.

Agradecimentos

Este artigo é resultado de pesquisa desenvolvida em duas etapas. O projeto teve início em 2017 e contou, até 2018, com financiamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), através do Programa de Apoio a Jovens Doutores (PROPESQ), da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (PRPPG) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). O fomento possibilitou o período de pesquisa nos Estados Unidos, quando foram consultados os arquivos do Instituto Smithsonian e da Fundação Rockefeller. Em 2024, a pesquisa foi retomada como projeto de pós-doutorado, ainda em curso, desenvolvido no Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/FIOCRUZ), intitulada “Guerra Fria e Ambientalismo Internacional: dois projetos do Instituto Smithsonian para a Amazônia brasileira (1963-1984)”, desenvolvida sob a supervisão do professor Dr. Rômulo de Paula Andrade. A pesquisa teve apoio do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB), através do qual foi possível viagem a Belém para consulta aos arquivos Guilherme de La Penha, do Museu Paraense Emílio Goeldi, Biblioteca Engenheiro Agrônomo Milton de Albuquerque, da Embrapa Amazônia Oriental, e Instituto Evandro Chagas. Para o desenvolvimento deste artigo, a autora contou também com Lorena Silva Brandão para as conversões monetárias, pelo que agradece.

Referências

  • ANDRADE, Rômulo de Paula. Uma floresta cheia de vírus! Ciência e desenvolvimento nas fronteiras amazônicas. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 39, n. 82, p. 19-42, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbh/a/nJLQYCbvMWwFPWfwtfyrtzz/ Acesso em: 30 jan. 2025.
    » https://www.scielo.br/j/rbh/a/nJLQYCbvMWwFPWfwtfyrtzz/
  • BATISTA, Ricardo dos Santos. Um laboratório da Fundação Rockefeller: interação médica e produção de conhecimento científico na saúde internacional. História, São Paulo, v. 41, p. 1-21, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/his/a/5TqHrcXqDm9r9JBx9gmKqkK/ Acesso em: 30 jan. 2025.
    » https://www.scielo.br/j/his/a/5TqHrcXqDm9r9JBx9gmKqkK/
  • COLE, Leonard A. Clouds of Secrecy: The Army’s Germ Warfare Tests Over Populated Areas. Lanham: Rowman & Littlefield, 1988.
  • COLE, Leonard A. The Eleventh Plague: The Politics of Biological and Chemical Warfare. Nova York: W. H. Freeman and Company, 1996.
  • COVERT, Norman M. Cutting Edge: A History of Fort Detrick, Maryland, 1943-1993. Fort Detrick: Public Affairs Office, 1997.
  • CUETO, Marcos; PALMER, Steven. Medicine and Public Health in Latin America: A History. Nova York: Cambridge University Press, 2015.
  • ALMEIDA, Samuel Soares et al. Mocambo: diversidade e dinâmica biológica da área de pesquisa ecológica do Guamá (Apeg). Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi; Embrapa Amazônia Oriental, 2007.
  • GUILLEMIN, Jeanne. Biological Weapons: From the Invention of State-Sponsored Programs to Contemporary Bioterrorism. Nova York: Columbia University Press, 2005.
  • HENSON, Pamela M. O Instituto Smithsonian: arquivos e história da ciência. Acervo, Rio de Janeiro, v. 26, n. 1, p. 113-122, 2013. Disponível em: https://revista.an.gov.br/index.php/revistaacervo/article/view/495 Acesso em: 30 jan. 2025.
    » https://revista.an.gov.br/index.php/revistaacervo/article/view/495
  • LAMB, Juliet. The Strange Tale of the Pacific Ocean Biological Survey Program. JSTOR Daily, [s. l.], 15 dez. 2016. Disponível em: https://daily.jstor.org/strange-tale-pacific-ocean-biological-survey-program/ Acesso em: 30 jan. 2025.
    » https://daily.jstor.org/strange-tale-pacific-ocean-biological-survey-program/
  • MACLEOD, Roy. “Strictly for the Birds”: Science, the Military and the Smithsonian’s Pacific Ocean Biological Survey Program, 1963-1970. Journal of the History of Biology, v. 34, p. 315-352, jun. 2001. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1023/A:1010371321083 Acesso em: 30 jan. 2025.
    » https://link.springer.com/article/10.1023/A:1010371321083
  • LEITENBERG, Milton. Research and Development in (C)BW: An Examination of the Possibility of Distinguishing between Civil and Military, Offensive and Defensive. Federation of American Scientists, 1984. Disponível em: https://man.fas.org/eprint/leitenberg/cbw.pdf Acesso em: 30 jan. 2025.
    » https://man.fas.org/eprint/leitenberg/cbw.pdf
  • MURPHY, Frederick A. et al. In Memoriam: Robert Ellis Shope 1929-2004. Emerging Infectious Diseases, v. 10, n. 4, p. 762-765, abr. 2004. Disponível em: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/vol10no4/04-0156.htm Acesso em: 30 jan. 2025.
    » http://www.cdc.gov/ncidod/EID/vol10no4/04-0156.htm
  • PARMAR, Inderjeet. Foundations of the American Century: The Ford, Carnegie, and Rockefeller Foundations in the Rise of American Power. Nova York: Columbia University Press, 2015.
  • REGIS, Ed. Science, Secrecy, and the Smithsonian: The Strange History of the Pacific Ocean Biological Survey Program. Oxford: Oxford University Press, 2023.
  • SCHUELER, Paulo. Rockefeller, um “magnata” na saúde pública. Bio-Manguinhos/FIOCRUZ, Rio de Janeiro, 10 jun. 2015. Disponível em: https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/noticias/1010rockefeller-um-magnata-na-saude-publica Acesso em: 30 jan. 2025.
    » https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/noticias/1010rockefeller-um-magnata-na-saude-publica
  • SMITH III, Frank L. American Biodefense: How Dangerous Ideas about Biological Weapons Shape National Security. Ithaca: Cornell University Press, 2014.
  • Editores responsáveis:
    Ricardo dos Santos Batista e Silvia Liebel

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Dez 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    22 Fev 2025
  • Aceito
    06 Maio 2025
location_on
Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro Largo de São Francisco de Paula, n. 1., CEP 20051-070, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21) 2252-8033 R.202, Fax: (55 21) 2221-0341 R.202 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: topoi@revistatopoi.org
rss_feed Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS
Reportar erro