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Entrevista - A longa trajetória de um intelectual brasileiro: Antonio Paim, filósofo e historiador das ideias1 1 Esta entrevista, realizada por telefone, em 15 de janeiro de 2021, faz parte do trabalho de coleta de fontes da pesquisa de pós-doutorado que realizamos junto ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás (PPGH/UFG). Agradecemos ao Professor Pedro Leão da Costa Neto pela ajuda na formulação das perguntas e ao próprio Professor Antonio Paim, pela disposição e disponibilidade em nos conceder a entrevista. Agradecemos ao Professor Marcos Aurélio Silva (UFSC) e a Aldo Rebelo, ex-deputado e ex-ministro, por nos facilitar o contato com Antonio Paim.

The long trajectory of a brazilian intellectual: Antonio Paim, philosopher and historian of ideas.

Resumo:

Este texto apresenta uma síntese da trajetória do filósofo e historiador das ideias Antonio Paim, seguida da entrevista realizada com ele. Na entrevista, o filósofo relata seu longo itinerário intelectual, que passou pelo marxismo e pelo kantismo, e sua carreira política, pelo comunismo, na juventude, e pelo liberalismo, na maturidade. Paim conheceu o que é ser dissidência, quando foi membro do Partido Comunista e acabou sendo um preso político, e o que é ser ligado ao establishment, quando foi assessor da presidência do Partido da Frente Liberal. A longa trajetória intelectual de Paim, com suas mudanças e intensidades, se refere à própria História do Brasil republicano, com suas reviravoltas e passagens dramáticas. Sendo um relato inédito, a entrevista ajuda a compreender a cultura intelectual brasileira da segunda metade do século XX e como se articulam os intelectuais em relação ao poder.

Abstract:

We present a synthesis of the trajectory of the philosopher and historian of ideas Antonio Paim, followed by the interview we did to him. In the interview, the philosopher recounts his long intellectual journey, which went through marxism and kantism. His political career went through communism in youth and liberalism in maturity. Paim knew what it is like to be a dissident, when he was a member of the Communist Party and ended up being a political prisoner, and what it is like to be linked to the establishment, when he was an advisor to the presidency of the Liberal Front Party. Paim’s long intellectual trajectory, with its changes and intensities, refers to the very history of republican Brazil, with its dramatic twists and turns. Being an unprecedented report, the interview helps to understand the brazilian intellectual culture of the second half of the 20th century and how intellectuals articulate themselves in relation to power.

Apresentação

Antonio Ferreira Paim nasceu na cidade de Jacobina, interior da Bahia, em 7 de abril de 1927. Pouco tempo depois de nos conceder a entrevista e de completar 94 anos, faleceu, em 30 de abril de 2021. Antonio Paim foi um filósofo e historiador das ideias que se dedicou à história das ideias no Brasil, sendo sua principal obra A história das ideias filosóficas no Brasil, publicada originalmente em 1967 e com sucessivas republicações.3 3 Edições da História das ideias filosóficas no Brasil: 1. ed. São Paulo: Grijalbo/Edusp, 1967, 276 p.; 2. ed. São Paulo: Grijalbo/Edusp, 1974, 431 p.; 3. ed. rev. e aum. São Paulo: Convívio/Instituto Nacional do Livro, 1984, 615 p.; 4. ed. rev. e aum. São Paulo: Convívio, 1987, 615 p.; 5. ed. rev. Londrina: Ed. UEL, 1997, 766 p. O filósofo publicou ainda uma extensa obra dedicada ao “pensamento brasileiro”, à filosofia no Brasil, ao liberalismo, ao socialismo, entre outros. Foi professor da Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ), professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e da Universidade Gama Filho (UGF). Tendo se aposentado da docência no ensino superior, em 1989, foi trabalhar como assessor da presidência do Partido da Frente Liberal (PFL), atual Democratas (DEM), ao lado de Jorge Bornhausen, um importante quadro que presidiu o partido. Entre os títulos e honrarias, Antonio Paim foi ganhador do Prêmio Instituto Nacional do Livro de Estudos Brasileiros (1968) e do Prêmio Jabuti (1985), tendo sido membro fundador da Academia Brasileira de Filosofia.

A entrevista ocorreu por telefone, em 15 de janeiro de 2021, sendo que o autor falou de sua última residência, na cidade de São Paulo. Esta não é a primeira entrevista concedida por Antonio Paim.4 4 Recentemente, Antonio Paim foi entrevistado pelo jornalista Guilherme Evelin (conteúdo disponível em: https://epoca.globo.com/quem-antonio-AntonioPaim-filosofo-baiano-que-fez-cabeca-do-ministro-da-educacao-23361323) e por Aldo Rebelo, do canal Bonifácio do YouTube (disponível em: https://youtu.be/N5AOgmn2s2w). Ambos os entrevistadores perguntam a Antonio Paim questões mais relativas à conjuntura política, sem centrar em sua trajetória intelectual, a qual é nosso foco. Nesse sentido, a entrevista concedida a José Crisóstomo de Souza e Ricardo Andrade é particularmente interessante, disponível no site da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (ANPOF): http://anpof.org/portal/index.php/en/2014-01-07-15-22-21/entrevistas/1980-crisostomo-e-ricardo-andrade-conversam-com-antonio-AntonioPaim-sobre-filosofia-no-brasil-1.

Nosso entrevistado foi autor de mais de seis dezenas de livros, dentre os quais destacamos aqueles voltados para a história das ideias, tais como: Cairu e o liberalismo econômico (1968), Tobias Barreto na cultura brasileira: uma reavaliação (1972, em colaboração com Paulo Mercadante), O estudo do pensamento filosófico brasileiro (1979), A UDF e a ideia de universidade (1981), Oliveira Vianna de corpo inteiro (1991), entre outros. Além desses, enfatizamos aquelas obras que consolidaram Antonio Paim como um dos liberais mais destacados entre os intelectuais brasileiros, tais como: Evolução histórica do liberalismo (1987), O liberalismo contemporâneo (1995), A agenda teórica dos liberais (1997), O liberalismo social: uma visão histórica (1998, em colaboração com o renomado liberal José Guilherme Merquior e Gilberto de Mello Kujawski), A bem-sucedida privatização brasileira (2007), entre outros.

Antonio Paim foi um dos mais longevos membros do Instituto Brasileiro de Filosofia (IBF). O IBF foi fundado na cidade de São Paulo, em 1949, sendo responsável pela Revista Brasileira de Filosofia (RBF), publicada por cinco décadas, desde 1951. A liderança do IBF cabia ao jurista paulista Miguel Reale (1910-2006). Antonio Paim publicou seu primeiro artigo na RBF, em 1965, sobre Tobias Barreto, e passou a ser um dos mais assíduos autores, com 74 artigos publicados até o ano 2000.5 5 A lista completa de artigos publicados por Antonio Paim, na Revista Brasileira de Filosofia, encontra-se no Índice (CDPB, 2005, p. 322-324). Sobre o Instituto Brasileiro de Filosofia, a Revista Brasileira de Filosofia e Miguel Reale, indicamos: GONÇALVES (2016, 2017a, 2017b, 2019a, 2017b, 2020a e 2020b), MOTOYAMA (2001), PATSCHIKI (2014), PINHO (2019), ZILLES (2000).

Nos anos 1950, concluiu o curso de filosofia da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, e o doutorado na Universidade Lomonossov de Moscou, Rússia. Antonio Paim fala detalhadamente nesta entrevista sobre a estadia na capital russa. Pela sua atuação junto do PFL, Antonio Paim foi considerado um importante intelectual liberal, mas, antes disso, na juventude fora um militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) da Bahia, de onde despontaram grandes quadros do partido e da esquerda brasileira, como Carlos Marighella e Jacob Gorender. O próprio filósofo aborda, nesta entrevista, sua trajetória no PCB, do qual acabou se desligando após a divulgação do “Relatório Secreto”, o qual revelou os crimes de Stálin, divulgado pelo presidente soviético Nikita Kruschev, durante o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, em 25 de fevereiro de 1956.

Na entrevista, Antonio Paim diz que desligar-se do PCB foi uma coisa, sair do marxismo foi outra e levou muito mais tempo, somente após anos de estudos da obra de Kant e de sua adesão ao kantismo. O “acerto de contas” do autor com o marxismo viria praticamente meio século depois da saída do PCB, com a publicação do livro Marxismo e descendência, em 2009.

Paulo Mercadante (1923-2013), intelectual com quem nosso autor publicou estudos sobre Tobias Barreto, diz que Antonio Paim buscou uma alternativa equidistante do positivismo e do marxismo, e “[...] voltar à reflexão kantiana, ler os críticos do materialismo dialético, identificar as divergências entre os marxistas, inclusive as antigas entre os clássicos e Feuerbach, entre os teóricos recentes e a social-democracia” (MERCADANTE, 1997MERCADANTE, Paulo. Antonio Paim: a trajetória ao liberalismo. Revista Brasileira de Filosofia, v. 44, n. 186, p. 197-202, abr./jun. 1997., p. 200), além de sublinhar a adesão ao culturalismo, corrente liderada por Reale. Ressata Mercadante:

Seu esforço havia desembocado na corrente culturalista de Miguel Reale, que, por sua vez, abrigara caudaloso rio da vida intelectual, por meio do Instituto Brasileiro de Filosofia e de sua Revista, todos os estuários do Brasil mental. O filósofo paulista alcançara aquela tolerância dos sábios e humanistas e antevia o no social-liberalismo a solução democrática.

A capacidade de mobilização de Antonio Paim, favorecida pelo seu talento generoso, foi posta a serviço da causa liberal. [...] (MERCADANTE, 1997MERCADANTE, Paulo. Antonio Paim: a trajetória ao liberalismo. Revista Brasileira de Filosofia, v. 44, n. 186, p. 197-202, abr./jun. 1997., p. 200).

Mercadante define ainda o liberalismo de Antonio Paim, a partir de uma atitude pragmática, adaptada à realidade brasileira:

A verdade é que não há doutrina liberal genuína. Há permanentes debates em processo de reflexão. A começar por tradições diversas. Em cada nação, as circunstâncias emprestam significado as feições devidas. [...] O estudo dessas vicissitudes, levadas a cabo por pensadores vacinados contra a ideia hegeliana do estado, bem como contra os prejuízos do Saber de Salvação, conduziu Antonio Paim à escolha de visão liberal adequada à realidade brasileira. (MERCADANTE, 1997MERCADANTE, Paulo. Antonio Paim: a trajetória ao liberalismo. Revista Brasileira de Filosofia, v. 44, n. 186, p. 197-202, abr./jun. 1997., p. 201).

Outro intelectual que fala de nosso autor é o português Eduardo Abranches de Soveral (1927-2003), o qual foi cofundador, ao lado de Antonio Paim, nos anos 1990, do Instituto de Filosofia Luso-Brasileiro (IFLB), sediado em Lisboa. Juntos, Antonio Paim e Soveral organizaram o Doutorado em Pensamento Luso-Brasileiro, que funcionou na UGF. Segundo Soveral (1997SOVERAL, Eduardo Abranches de. Algumas notas sobre o liberalismo pedagógico de Antonio Paim. Revista Brasileira de Filosofia, v. 44, n. 186, p. 166-169, abr./jun. 1997., p. 167), após estadia na Rússia, Antonio Paim “[r]egressou ao Brasil, militante e determinado em seu anticomunismo”. Soveral acentua, portanto, o anticomunismo característico da época da Guerra Fria. Sobre esses temas, fala, durante a entrevista, de forma branda e com a serenidade, dos anos vividos e das décadas passadas.

Soveral (1997SOVERAL, Eduardo Abranches de. Algumas notas sobre o liberalismo pedagógico de Antonio Paim. Revista Brasileira de Filosofia, v. 44, n. 186, p. 166-169, abr./jun. 1997., p. 167) caracteriza como “político” que “[...] lançou a crédito dos regimes militares uma indispensável e urgente ação modernizadora, ou seja, atribuiu-lhe o mérito de um ‘despotismo iluminado’ ainda necessário, embora retardado já, e fora de época.” Soveral (1997SOVERAL, Eduardo Abranches de. Algumas notas sobre o liberalismo pedagógico de Antonio Paim. Revista Brasileira de Filosofia, v. 44, n. 186, p. 166-169, abr./jun. 1997., p. 167) afirma que “[...] a priori rejeita e condena qualquer forma de absolutismo estatal”, o que, se levado ao pé da letra, soaria como uma reafirmação da adesão à Ditadura como algo meditado (não foi a priori). Todavia, essa afirmação faz mais sentido com o fragmento a seguir, no qual Antonio Paim se colocaria equidistante em relação aos “[...] socialismos totalitários de esquerda, e os populismos totalitários de direita.” (SOVERAL, 1997SOVERAL, Eduardo Abranches de. Algumas notas sobre o liberalismo pedagógico de Antonio Paim. Revista Brasileira de Filosofia, v. 44, n. 186, p. 166-169, abr./jun. 1997., p. 169).

Se aderiu ou não à ditadura civil-militar, é importante salientar que, anos mais tarde, na apresentação que fez ao livro O retrato6 6 Originalmente publicado em 1960, pela editora Itatiaia, de Belo Horizonte. A edição póstuma, publicada em 2015, pela editora Três Estrelas, de São Paulo, traz a apresentação de Antônio Paim. Quando o Golpe de 1964 foi dado, Peralva estava à frente do jornal carioca Correio da Manhã, e, após o Ato Institucional número 5 (AI-5), foi preso e acabou deixando o Brasil. Viveu na Alemanha Ocidental até 1979, quando foi promulgada a Lei de Anistia. De volta ao Brasil, integrou o conselho editorial do jornal Folha de S. Paulo, do qual foi correspondente no Japão. , de Osvaldo Peralva (1918-1992), que deixou o PCB após o Relatório de Kruschev, Antonio Paim denunciou a perseguição que ele sofreu após o golpe de 1964. Como esse é um aspecto importante não só da trajetória daqueles que deixaram o comunismo, em 1956, na época da chamada “desestalinização”, retratados no livro de Peralva, mas igualmente das nuances do longo itinerário político e intelectual de Antonio Paim, vale a pena a citação:

No livro, Peralva optou por chamar pelos nomes próprios apenas aqueles dirigentes comunistas muito conhecidos. Nos demais casos, ele empregou sempre “nomes de guerra”, como se dizia na gíria comunista. Apesar de O retrato apresentar um documento importantíssimo de crítica ao comunismo, de modo geral, após o Golpe de 64, os militares arrolaram Peralva nos inquéritos sobre o Partido Comunista e o denunciaram por ter se recusado a decodificar aqueles nomes. Esse fato atesta bem a estreiteza de visão do grupo que, com a ditadura militar, se apossou da hegemonia.

O episódio, porém, possui o mérito de evidenciar que teria sido melhor correr o risco da chamada “ditadura sindicalista”, insuflada pelos comunistas e sonhada por João Goulart, do que tentar preservar a democracia por meio de golpes de Estado. (ANTONIO PAIM, 2015, p. 12-13, grifos nossos).

Soveral acrescenta que Antonio Paim também veria a necessidade de “teorizar e praticar uma eficaz pedagogia do liberalismo”: “O momento inicial e indispensável dessa pedagogia consistirá na apologia e na prática de um liberalismo puro e duro, no estilo de Regan e da Senhora Teacher [sic]”7 7 Soveral deve estar se referindo à Margaret Thatcher, primeira ministra do Reino Unido, entre 1979 e 1990, responsável por aplicar políticas neoliberais de austeridade e de desmonte do welfare state, naquele país. (SOVERAL, 1997SOVERAL, Eduardo Abranches de. Algumas notas sobre o liberalismo pedagógico de Antonio Paim. Revista Brasileira de Filosofia, v. 44, n. 186, p. 166-169, abr./jun. 1997., p. 169), assinalando assim a posterior adesão do filósofo baiano ao neoliberalismo. Todavia, é importante salientar que, quando nos concedeu a entrevista, Antonio Paim defendeu um programa de renda mínima universal, o qual é uma política mais identificada com a socialdemocracia do que com o liberalismo e, sobretudo, o neoliberalismo. Lá se vão mais de duas décadas desde que Soveral escreveu sobre Antonio Paim e, nesta entrevista, novas nuances de seu pensamento são evidenciadas.

Existem dois aspectos fundamentais na carreira de Antonio Paim: as disputas com as quais se envolveu na PUC do Rio de Janeiro e a fundação do Centro de Documentação do Pensamento Brasileiro (CDPB).

Em 1979, Antonio Paim vivenciou forte polêmica que ocorreu na PUC do Rio de Janeiro, onde organizou e coordenou o Mestrado em Pensamento Brasileiro. Conforme relata Antonio Paim, no livro de sua autoria, Liberdade acadêmica e opção totalitária: um debate memorável8 8 Publicação: Rio de Janeiro: Arte Nova, 1979. , a professora Anna Maria Moog Rodrigues protestou e acabou se desligando da instituição, após um texto da autoria de Miguel Reale9 9 Trata-se do texto “Filosofia como autoconsciência de um povo”, que foi a conferência pronunciada por Miguel Reale, em 1961, durante a fundação da seção da cidade de Fortaleza do Instituto Brasileiro de Filosofia. O texto está disponível em livro de Antonio Paim (1979, p. 224-248), e foi publicado na obra: REALE, Miguel. Pluralismo e liberdade. São Paulo: Saraiva, 1963, p. 47-62. Para uma análise pormenorizada do IBF e da obra filosófica de Reale e do grupo ibeefeano, recomendamos: GONÇALVES, 2016, a ser publicada em breve. ser vetado do programa de estudos, por parte do Chefe de Departamento, Henrique Lima Vaz. A instituição argumentava contra a atuação política de Reale, e alunos protestaram contra ele. Antonio Paim solidarizou-se à professora Rodrigues e ao autor vetado, e se desligou da PUC. O conflito é mencionado por Antonio Paim, nesta entrevista. O fato é que a polêmica se tornou pública e ganhou a imprensa, na época.

Em 1982, foi fundado o Centro de Documentação do Pensamento Brasileiro (CDPB), sediado na cidade de Salvador, com apoio do governo do Estado da Bahia e de empresas privadas, sendo considerado entidade de “utilidade pública” por duas leis (uma municipal e uma estadual) e por um decreto do Presidente da República, José Sarney.10 10 Lei Municipal 3.360/1984, Lei Estadual 4.281/1984 e Decreto Presidencial 92.368/1986. No ato da fundação, Antonio Paim fez doação de sua biblioteca pessoal ao CDPB e foi nomeado seu primeiro presidente.

O CDPB foi responsável pela publicação do Dicionário biobibliográfico de autores brasileiros: filosofia, pensamento político, sociologia, antropologia11 11 CENTRO de Documentação do Pensamento Brasileiro (CDPB). Dicionário Biobibliográfico de autores brasileiros: filosofia, pensamento político, sociologia, antropologia. Brasília: Senado Federal, 1999. , que é praticamente um catálogo dos autores e obras disponíveis em sua biblioteca. Além do Dicionário, foi publicada a série Bibliografia e Estudos Críticos, dedicada a diversos intelectuais, tais como: Silvestre Pinheiro Ferreira (1769-1846), Alceu Amoroso Lima (1893-1983), Tobias Barreto (1839-1889), Jackson de Figueiredo (1891-1928), Silvio Romero (1851-1914) e Miguel Reale (1910-2006). Ademais, o CDPB editou uma série de índices das seguintes revistas: Revista Brasileira de Filosofia (1951-2000), Revista Convivium (1962-1987) e A Ordem (1921-1980).

Podemos afirmar que a entrevista não só traz aspectos importantes e inéditos da longa trajetória intelectual de Antonio Paim, que hoje fala de sua vida com a serenidade do tempo passado, mas também os dramas e a complexidade de quem conheceu o establishment de “fora” e de “dentro”, como opositor e parte da estrutura, pois vivenciou a perseguição contra os comunistas, quando foi do PCB e viveu alguns anos na Rússia soviética e, por outro lado, a estrutura de um partido da ordem, quando trabalhou no Instituto Tancredo Neves (PFL), na época da chamada redemocratização. Essas vivências compõem a singularidade da sua trajetória intelectual, e seu testemunho é parte da própria história do Brasil republicano no pós-Segunda Guerra Mundial, no pós-Ditadura e no início do presente século, história essa marcada por tantas reviravoltas e intensidades, assim como o próprio itinerário intelectual de Antonio Paim.

A seguir, as perguntas que foram feitas, durante a entrevista, seguidas da transcrição das respostas.

RG: Como o Professor caracterizaria sua formação intelectual, os principais momentos, que vão dos seus estudos de Marx e na antiga União Soviética, até os estudos de Kant e da corrente culturalista?

AP: Bom, eu era comunista, em consequência, formalmente pelo menos, sendo marxista. Eu ganhei uma bolsa, por conta do comunismo, e fui estudar em Moscou, na Universidade Lomonossov. É uma universidade clássica, do século XVIII. Eu apenas estudei o marxismo. O que aconteceu comigo, que entrei para o Partido Comunista, na altura dos meus vinte anos de idade, é que eu segui a popularidade enorme que a União Soviética ganhou no Brasil com a [vitória na Segunda] Guerra, a resistência em Stalingrado... Então ficou uma coisa popular. E aí, aquilo, no Brasil pelo menos, era o que havia de mais representativo da intelectualidade, fora os católicos. Entrava todo mundo para o Partido Comunista. Candido Portinari era um grande pintor brasileiro, foi para o Partido Comunista. Carlos Drummond de Andrade era um grande, talvez o maior, poeta brasileiro, com o perdão dos outros poetas. Ele entrou para o Partido Comunista. Quer dizer, todo mundo era do Partido Comunista. Naturalmente, não justifica o fato de que eu fosse “Maria vai com as outras”, mas explica, registra pelo menos o que aconteceu. Então, eu fiquei no Partido Comunista durante 10 anos, entre 1945-1956, até o Relatório Kruschev, que foi em 1956. Então, eu sair do Partido Comunista era uma coisa simples. Sair do marxismo não era simples. Realmente, eu fiz um esforço enorme, durante muitos anos. Formalmente, o que eu estudei na Universidade Lomonossov era equivalente a um doutorado. Eu fiquei quatro anos naquilo. E aquilo era um regime duro de seminário, que exigia que você lesse. Basta dizer que eu só consegui terminar o livro, que se chama Marxismo e Descendência, em 2002 [1. ed. 2009; 2. ed. 2019], mais ou menos.

Eu me aposentei da universidade em 1989, mais ou menos. Então, sendo muito bem relacionado com os portugueses, que imigraram para o Brasil, por conta da Revolução dos Cravos [ocorrida em 25 de abril de 1974], eu fiquei muito amigo do Professor Eduardo Soveral12 12 Eduardo Silvério de Abranches de Soveral (1927-2003) foi um intelectual monarquista, professor, diplomata e filósofo português. Em Portugal, lecionou na Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. No Brasil, lecionou na Universidade Católica de Petrópolis, na Universidade Gama Filho e na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Foi membro da Academia de Ciências de Lisboa e da Academia Brasileira de Filosofia. , que era um intelectual importantíssimo da Europa. Então, quando eu me aposentei no Brasil, eu fiquei como professor visitante da Universidade Nova de Lisboa [NOVA]. Eu ia uma vez por ano, fim do ano, na época do Natal, por exemplo, e ficava lá até antes ou depois do Carnaval. Durante vinte e tantos anos eu fiz isso. E eu aproveitei as circunstâncias para conseguir sair do marxismo. Lá, eu tinha a facilidade da biblioteca fantástica da NOVA e, além disso, eu me aproximei lá de um livreiro, que tinha trabalhado no Brasil, e fui muito amigo. O meu livro chama-se Marxismo e Descendência, eu li os marxistas mais importantes de tudo quanto é país. Durante anos, isso. E eu precisava ter acesso [aos livros]. Eu não ganhava exatamente pouco, era o suficiente para viver, mas não tinha nenhuma forma de ter uma biblioteca moderna, comprando livros. Eu me vali desse português que morou no Brasil e dirigia uma grande livraria. Durante muitos anos, durante os fins de ano, eu conseguia ler e consegui me safar.

Então, eu entrei no Partido Comunista e saí com facilidade. A primeira consequência: me cortaram a bolsa [universitária de estudos] lá na União Soviética. Saí do PC, perdi a bolsa. Então, por coincidência, em 1956, faleceu a senhora que fazia as traduções para a Rádio de Moscou, para o português, e eu fiquei no lugar dela. Me pagavam bem melhor que a bolsa. Eu não era da Rádio propriamente, me davam o que era para traduzir, eu traduzia, durante o tempo que eu fiquei em Moscou, uns quatro anos. Eu consegui sobreviver sem a bolsa.

RG: E como o senhor chega aos estudos de Kant e da corrente culturalista?

AP: Bom, a importância do marxismo é o fato que pertence a um movimento da maior importância da História da Filosofia. O idealismo alemão é uma coisa extraordinária. Naquele tempo, existia a Universidade do Brasil, década de 50. Eu me formei nessa universidade, bacharel em Filosofia. Eu fui incumbido nessa universidade de fazer uma cátedra, uma disciplina, de filosofia brasileira. O primeiro curso de filosofia brasileira fui eu que organizei, lá na universidade.

Na Universidade do Brasil, no Departamento de Filosofia, a gente tinha amizade com um cara que entendia do Kant no Brasil. Era o professor Leandro Ratsbona. Ele era meteorologista, responsável pela meteorologia no Brasil, e era da organização meteorológica internacional. O hobby dele era [estudar] o Kant. Ele e eu éramos dois sujeitos disciplinados. Sabe quantos anos eu estudei o Kant? Dezesseis anos, página por página da Crítica da Razão Pura, com o Ratsbona. Eu ia na casa dele, todo sábado de tarde. Ficava esperando que ele me acenasse da janela. Ali na [Rua] Barata Ribeiro que ele morava, numa esquina de Copacabana.

Eu fui escalado para dar aula no curso de História da Filosofia. Eu dava Kant e Hegel. O marxismo eu estudei na Rússia. Eu era um pouco melhor que os outros, mas, do ponto de vista do Ratsbona, era uma “brincadeira”. Ficamos muito amigos. É um método de estudo que não é factível. Uma pessoa isolada, um curso de você ler página por página. Eu fiz texto de como ler o Kant pela primeira vez, era uma coisa que tinha muita aceitação na universidade.

RG: Como o Professor caracterizaria sua trajetória política: os principais momentos, desde a militância comunista até o pensamento liberal e suas atividades no Instituto Tancredo Neves e na assessoria do Partido da Frente Liberal (PFL)?

AP: Muitas coisas aconteceram por acaso comigo, como a senhora que faleceu e eu a substituí na tradução [na Rádio Moscou]. Não queria dizer que eu fosse tradutor. Foi uma coincidência. Muito da minha trajetória política tem muito disso. Eu era comunista, fui comunista mesmo. Funcionário do Partido Comunista. Dirigente comunista. Perseguido pela polícia, preso. Eu fiquei preso dois anos e dois meses. Condenado a sete [anos]. Então eu me meti até o pescoço no Partido Comunista.

Com a saída [do PC, anos depois], eu me candidatei a uma assessoria. Era o começo da criação das fundações partidárias. Foram os alemães que inventaram isso. E como os alemães fizeram aquele grande estrago na Europa, o Konrad Adenauer, o primeiro presidente13 13 Na Alemanha, os chefes do governo ocupam o cargo de “chanceler”. não fascista após a derrota do Hitler, inventou um sistema de ter partido político forte, com gente de conhecimento da literatura e tal. Foi o começo das fundações partidárias. Eu trabalhava no mesmo prédio onde funcionava um dos cursos, no antigo prédio onde tinha sido o consulado italiano, com o rompimento das relações com o Eixo [na Segunda Guerra Mundial], ali naquela esquina da [Avenida] Antonio Carlos [, no Centro do Rio de Janeiro]. Eu me aproximei, fiz o primeiro concurso que fizeram para essa instituição que estava sendo criada. Era o batismo de fogo. Coincidência histórica, eu consegui o lugar.

Eu fui assessor do Jorge Bornhausen, que era o presidente do Instituto14 14 A Fundação Presidente Tancredo Neves (1910-1985) foi fundada em 28 de julho de 1987. A fundação mantém o Memorial Tancredo Neves, inaugurado em dezembro de 1990, sediado em São João del-Rei, Minas Gerais. , a Fundação do Partido da Frente Liberal, que era obstinado, um grande dirigente. Ele reunia todos segunda-feira, de noite. O Parlamento funcionava na terça-feira. Na véspera, na segunda-feira, ele reunia um staff dele, e eu às vezes era chamado, quando havia uma questão teórica, transcendentemente, eu botava para estudar o assunto. Por exemplo: representação política. Eu dava uma espécie de conferência sobre como é que Burke criou uma doutrina da representação política, na chamada Carta de Bristol.15 15 Edmund Burke (1729-1797), um dos fundadores do conservadorismo moderno, publicou, em 1777, A Letter to the Sheriffs of Bristol (Uma carta aos delegados eleitores de Bristol). Depois, o Stuart Mill aderiu a essa teoria de que o representante tinha que ser superior ao representado. Era uma diferença intelectual, de formação intelectual. Era uma doutrina dos primórdios da doutrina [da representação]. Depois, com o desenvolvimento das fundações partidárias, é que se tomou conhecimento da doutrina do Benjamin Constant. Era a melhor definição. A representação política é representação de interesses. Então, os interesses são inconfundíveis. Os interesses religiosos são de um tipo, os interesses pecuniários são de outro. Os interesses do indivíduo são... Quer dizer, dá uma base social, do grupo, de um determinado grupo social. E ficou sendo a melhor doutrina.

O problema do partido político no Brasil não era com o Bornhausen: o Bornhausen não, ele obrigava a ler, a seguir [a doutrina]. Era o tempo do Vilmar Rocha16 16 Vilmar da Silva Rocha foi presidente do Instituto Tancredo Neves entre 1997-2007, deputado estadual de Goiás, deputado federal e secretário de Estado do governador goiano Marconi Perillo, entre 2014 e 2018. e fizemos um bom trabalho. Vilmar era o presidente [do Instituto Tancredo Neves]. Nós fizemos um curso, em doze volumes que nós imprimimos. Fizemos o curso com bastante sucesso. No PFL de Sergipe, por exemplo, a senhora [Maria do Carmo Alves], que depois virou senadora, sem nenhum proselitismo, aceitava dever pra casa. Tem muito trabalho [nos partidos]. A comissão dá um trabalho danado. Então, eles refugam, habitualmente, qualquer nova tarefa. São todos sobrecarregados. Naquele tempo, essa coisa [funcionava] pela persistência do Bornhausen. E o Vilmar Rocha fez um bom trabalho. Eu acho que o Vilmar tinha feito uma opção liberal. Eu entendia a opção liberal como sendo uma adesão ao governo representativo. Não ter nenhuma fantasia com relação à democracia direta, com a ideia da representação, e aprimorar, quer dizer, se você fez uma opção pela social-democracia, tem que saber o que é a social-democracia. Aqui no Brasil isso virou uma pro forma. Com trinta partidos políticos, você não pode levar a sério uma coisa dessas.

RG: Uma das suas primeiras atividades políticas e públicas, já durante a juventude, foi a sua militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB). Como foi a sua trajetória, as razões da sua entrada e dos conflitos que vieram determinar a sua saída do PCB?

AP: Eu não sei se você tem ideia do que seja o Relatório Kruschev. O Relatório é a responsabilização de todos os crimes cometidos pelo comunismo, prisões arbitrárias, fuzilamentos sem processo. Foi tudo atribuído ao Stalin, tudo foi o Stalin que fez. Aquilo ninguém aguentou. O Partido Comunista acabou em 1956. Acabou mesmo. Quer dizer, o Secretário Geral, no PC, que mandava. O Secretário Geral era o Diógenes Arruda17 17 Diógenes Arruda Câmara (1914-1979) foi um militante do PCB e diretor da Problemas - revista mensal de cultura política. , de uma família importantíssima de Pernambuco, a Arruda Câmara. O Arruda passou na China, na volta passou em Moscou. Eu estava lá, morando, e estava esperando que eles dessem um visto para trazer minha mulher. Os russos relutavam tremendamente, não sei por quê. A saída do país era uma dificuldade danada. Não era só comigo não. Eu casei com uma russa e eles não deixavam a mulher sair de lá. Eu fiquei muito tempo lá graças a eles. Então, ninguém aguentou aquilo.

Só para você ter uma ideia, o Agildo Barata, que era um revolucionário de 1935,18 18 Antonio Paim se refere aos levantes comunistas do ano de 1935, os quais ocorreram nas cidades do Rio de Janeiro, Recife e Natal, liderados pelo PCB. Sobre esse evento histórico, indicamos o livro de Marly de Almeida Gomes Vianna (2007). militar, popular, de uma família de militares, nome de Rua, Barata Ribeiro. O Agildo estava voltando dessa viagem, estava em Moscou, e eu o obriguei [a ler], o Partido Comunista, lá na Rússia, todo mundo leu aquilo. Mas eles resistiam muito à saída, mas não imaginavam aquela repercussão toda do Relatório. Para começar, existiam muitos boatos. Uma ditadura, as notícias circulam por boatos, fofoca. Então, dizia-se que Boleslaw Bierut,19 19 Boleslaw Bierut (1892-1956) foi Presidente da República Popular da Polônia de 1947 a 1952 e secretário do Partido Operário Unificado Polaco até sua morte. que era apresentado como o “bicho” do Stálin, como um “serviçal”, era o presidente da Polônia. Dizem que o Kruschev20 20 Nikita Kruschev (1894-1971) foi Primeiro Ministro da União Soviética entre 1958 e 1964. chamou ele e disse: “- Você não tem outra saída senão meter uma bala na cabeça.” Deu o revólver para ele, que deu o tiro e voltou para a Polônia morto, em um caixão. Não existe documento sobre isso. E aquilo provocou um drama danado na Polônia. Tiraram o Gomulka21 21 Antonio Paim se refere a Wladyslaw Gomulka (1905-1982), líder comunista polonês e primeiro secretário do Partido Operário Unificado Polaco. da cadeia, expulsaram os generais que ocupavam posto militar. O Agildo Barata estava escrevendo um livro, para provar que o Relatório Kruschev era uma invenção da CIA.22 22 Sigla da Central Intelligence Agency, a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos. Quer dizer, aquilo era um absurdo total.

Até hoje não se estabeleceram as razões pelas quais eles resolveram “fuzilar” o Stalin. Stalin era a grande figura, fez a revolução industrial da Rússia, da União Soviética. Ganhou a guerra. Era uma pessoa fora de série. Grande herói. “Pai dos pobres”, como se dizia no Brasil.

RG: Então sua saída do Partido Comunista se deveu...

AP: Foi o Relatório Kruschev. Aí “acabou” o Partido Comunista.

RG: O senhor estudou filosofia na Universidade Lomonossov de Moscou. Como eram os estudos de filosofia na antiga URSS? Qual era o sistema de ensino da filosofia?

AP: A Universidade Lomonossov era uma universidade antiga, do século XVII e tal. Na União Soviética, criaram um braço da universidade ligada à energia, à energia elétrica e a toda forma de energia. Então, havia um grande instituto, que aparecia nos jornais. Uma construção moderna da universidade e tal. A União Soviética apresentava aquela nova organização. E as partes antigas [da universidade], eu, por exemplo, a Faculdade de Filosofia onde eu estudava era junto da Faculdade de Direito e da Faculdade de Medicina, na parte velha de Moscou. Tinha o Kremlin, o Rio Moscou, umas construções, e ali naquela parte velha é que funcionavam as antigas faculdades. Do mesmo jeito, os comunistas não se meteram naquilo não. Aquilo era uma cópia do modelo francês. O modelo francês era das grandes escolas. Eles tinham o fundamental, a liberal art, quer dizer, a cultura geral que todo mundo estudava e, depois, a especialização era feita lá mesmo. Do Direito, da Medicina e da Filosofia. Portanto, a rigor [os comunistas] não mexeram [na universidade]. O ensino do marxismo era igual a qualquer outra universidade. O fato de que eu tenha estudado o Kant com o Ratsbona é uma coisa excepcional, não quer dizer que fosse inacessível. Poucas pessoas recorriam a esse estudo. Do ponto de vista da escolaridade, não havia grande diferença. Era uma cópia do modelo francês, inclusive a língua. Houve uma época em que o Pedro, o Grande23 23 Pedro I (1672-1725), czar e imperador da Rússia. , obrigou a elite russa a falar francês. Todo mundo falava francês.

RG: Como eram as suas relações intelectuais com o seu irmão, Gilberto Ferreira Antonio Paim (1919-2013), um importante intelectual, e o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB)? O Professor chegou a estabelecer alguma relação com o ISEB?

AP: Eu tenho uma informação perfunctória sobre o ISEB. O Gilberto era um cara muito importante na Fundação Getúlio Vargas e ele a representava no ISEB. O próprio Roberto Campos24 24 Roberto de Oliveira Campos (1917-2001) foi presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no governo de Juscelino Kubitschek, Ministro do Planejamento, entre 1964 e 1967, deputado federal e senador. pertenceu ao ISEB. Eu nunca me aproximei do ISEB. Eu tinha um professor lá [na Universidade do Brasil], que era o catedrático de História da Filosofia, que era do ISEB. Eu nunca me aproximei dele por essa via e o Gilberto não fazia proselitismo com a família. Quer dizer, nunca fez menção que eu ia [para o ISEB]. Primeiro, que o ISEB era uma elite. Eu tenho a impressão que faltava à elite nacionalista, o que era uma novidade, [uma proposta]. Por exemplo, o Partido Comunista era internacionalista. Mas o movimento capitaneado pelo ISEB era nacionalista. Eles não tinham uma proposta. Eu suponho que eles conseguiram a proposta através do Getúlio Vargas. O Vargas é uma coisa mal estudada, porque o comunismo penetrou muito no Brasil, em certas instituições e fomentou o ódio aos Estados Unidos, sem nenhuma procedência. Quem criou [a usina siderúrgica de] Volta Redonda foram os Estados Unidos. A Comissão Mista Brasil-Estados Unidos25 25 A Comissão Preparatória do Plano Siderúrgico Nacional - também conhecida como “Comissão Mista” - foi criada em 5 de agosto de 1939, durante o Estado Novo, sob a presidência de Getúlio Vargas, que visava à construção de uma grande usina siderúrgica no Brasil, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que foi sediada na cidade de Volta Redonda, Estado do Rio de Janeiro. Em setembro de 1940, após negociações com o governo dos Estados Unidos, um empréstimo para a construção da CSN foi liberado. A “Comissão Mista” foi reavivada em outras ocasiões, durante o governo de Eurico Gaspar Dutra, entre 19 de julho de 1951 e 31 de julho de 1953, com vistas aos setores da agricultura, energia e transporte, e durante o segundo governo de Getúlio Vargas, que durou de 31 de janeiro de 1951 a 24 de agosto de 1954. Nessa ocasião, a Comissão Mista valeu-se dos estudos realizados pelas missões norte-americanas Cooke (1942) e Abbink (1948), enviadas ao Brasil, e aprovou 41 projetos do Plano de Reaparelhamento Econômico. é que deu o programa de industrialização para o Brasil. Não se fala no assunto, é como se não tivesse havido o fato. Criou-se a mentalidade que os Estados Unidos eram contra a industrialização brasileira. É mentira. É mentira flagrante. É a Comissão Mista Brasil-Estados Unidos que deu o programa de modernização, de industrialização que foi aplicado pelos militares.

Havia uma discussão no Brasil sobre o progresso etc. O que os comunistas fizeram foi discutir, para eles o desenvolvimento econômico obedecia uma lei, tinha que começar pelo comunismo primitivo, depois seguia, era substituído pelo escravagismo, pelo feudalismo, depois pela industrialização e, por fim, pelo socialismo, pelo comunismo. Aquilo todos liam, toda essa discussão acabava interessando apenas um grupo muito pequeno de comunistas. E mesmo os caras do Partido Comunista estavam se lixando para essa discussão. Uma minoria no próprio Partido discutia o caráter da revolução brasileira. Os caras do Sul, os castilhistas, os getulistas, quadradamente, sempre entendiam como sendo o problema da industrialização, a revolução que o Brasil precisa é a revolução industrial, e eles criando no segundo governo Vargas. O Vargas foi deposto, depois foi eleito. Nesse governo não se fala. Uma influência nefasta do comunismo, a verdade é que não digo nenhuma novidade.

RG: Como o Professor chegou aos estudos do “Pensamento Brasileiro”, o qual se tornou o objeto principal de pesquisa? Assim como outros destacados intelectuais brasileiros, o seu interesse pelo Brasil está de alguma forma associado a sua estadia no exterior?

AP: Eu era secretário do jornal comunista. Quando eu entrei, era um garoto de 19 anos, e fui ser jornalista da Tribuna Popular.26 26 Jornal diário que circulava no Rio de Janeiro, criado em 22 de maio de 1945 e fechado em dezembro de 1947, vinculado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Quando entrei para o Partido Comunista, fui convidado a ser da Tribuna Popular. Eu não era jornalista coisa nenhuma. Fui aprender, eu fiz um estágio na seção internacional do jornal. O jornal era dividido por seções. Seção de esporte, eu andei com o João Saldanha27 27 João Alves Jobim Saldanha (1917-1990) foi um quadro histórico do PCB, jornalista, escritor, e dirigente técnico da Seleção Brasileira de Futebol, entre 1969 e 1970. Devido à sua militância contra a Ditadura, denunciando internacionalmente as atrocidades cometidas, acabou substituído por Mário Jorge Lobo Zagallo. pra cima e pra baixo. João Saldanha era comunista. E eu fiz meu estágio, inclusive morando na casa dele, e levava a sério a formação. Eu, enfim, assumi a secretaria do jornal. O secretário do jornal é aquele que edita o jornal, diz qual vai ser a manchete. [Trabalhava] Até de madrugada, duas horas da madrugada. Se tem alguma discussão no Parlamento, é o secretário que diz se continua ou se não vai [ser publicado]. Enfim, é o “todo poderoso” na hora da edição. E no dia seguinte levava porrada, porque os outros não concordavam. Mas aquilo já passou, já acontecia a mesma coisa no dia seguinte. Eu fui preso quando tentaram fechar o jornal. [Antes disso,] Eles pediam para fechar o jornal trazendo uma ordem judicial. Nesse dia, não trouxeram uma ordem judicial e eu também resolvi não entregar o jornal. Resisti, foi tiro pra lá, tiro pra cá. E eu fui condenado a sete anos, e depois a tive a pena reduzida para dois anos e dois meses.

Os dois meses iniciais da minha prisão foram um martírio enorme. O comandante do presídio era um louco, anticomunista. Eu sobrevivi, porque tinha uma boa saúde. Era pra matar mesmo. Eu vivia na solitária, que era um “apartamento” sem nada, só tinha o aparelho para fazer [necessidades]. [Ficava] nu da cintura para cima e dormia no piso de azulejo. Negócio para matar o cara. Quando passou para a penitenciária, o presidente de lá era um homem civilizado. Os comunistas eram organizados no chamado “coletivo”. Eu era “presidente” do coletivo. Então, eu falava com a chefia do presídio, era comigo que ela se entendia. No primeiro dia, durante a conversa, o diretor do presídio mostrou que era um homem muito civilizado. Ele me aconselhou: “- Se você não botar esse pessoal para trabalhar, seja no que for, você bota para trabalhar, se não vão lhe atucanar na sua vida. Você tem ocupar eles. Eu pago um salário para eles.” Tinha um monte de profissões lá e o sujeito dava o pagamento para a família. E havia mais uma franquia que era você ter relações sexuais com uma pessoa, uma vez por semana. Aquilo era um achado. O diretor do presídio me disse: “- Vou dar uma incumbência a você. Mas você não vai me fazer nenhuma traição. É o seguinte: eu preciso de alguém que me organize a biblioteca, que tenha o poder de comprar livros. Você não vai levar livro comunista [para a biblioteca]. Você assume o compromisso comigo.” Cultura não tem nada que ver com isso. Então, eu trabalhei dois anos como diretor da biblioteca do presídio. Nesse período, eu li, por exemplo, o Silvio Romero todo. E li o Tobias Barreto. O esboço do livro, que, quando saí da cadeia, publiquei, que era A Filosofia da Escola do Recife28 28 PAIM, Antonio. A Filosofia da Escola do Recife. Rio de Janeiro: Saga, 1966. , que era uma escola importante.

Depois disso, me aproximei do professor Miguel Reale. Eu esbarrei no Tobias Barreto com uma coisa que eu não sabia como chamar aquilo. Ele fez uma cisão no positivismo. O positivismo virou uma religião oficial do Brasil, tinha inclusive a igreja positivista. Era oficial, era a igreja do Augusto Comte. O Tobias Barreto rompe com aquilo e cria uma nova frente que eu não sabia como chamar. Chamei de “humanismo” e o Reale chamava de “culturalismo”. Foi um grande achado pra mim. É um mundo que se apreende. Então, eu me aproximei do professor Reale e vi que ele era um espírito superior, tinha uma noção do Brasil muito positiva e conhecia os intelectuais brasileiros. Tinha livros escrito sobre o assunto. E o professor Reale foi nomeado representante de São Paulo no Conselho Federal de Cultura.29 29 Miguel Reale foi membro do Conselho Federal de Cultura entre 1974 e 1989, tendo sido nomeado pelo Presidente Emílio Garrastazu Médici, durante a Ditadura Militar. Vinha uma vez por mês ao Rio de Janeiro, passava uma semana. Então, eu me aproximei muito dele. Era um homem brilhante. Realmente, uma grande figura.

RG: Durante a sua trajetória política e intelectual, o Professor construiu uma estreita parceria e colaboração com Paulo Mercadante (1923-2013), um importante intelectual no campo da história das ideias. Como surgiu essa aproximação e qual a importância dessa parceria com Mercadante, em sua trajetória?

AP: Paulo Mercadante era comunista, era de uma família de intelectuais de Minas Gerais. O pai dele era uma figura importante da política.30 30 Paulo Mercadante era filho de Xenofonte Mercadante, o qual foi um jurista brasileiro, deputado estadual constituinte de Minas Gerais, entre 1947 e 1951. Assim como Antonio Paim, Paulo havia sido do PCB e desligou-se do partido, após as revelações do Relatório Kruschev. E até à Constituição [de 1946], [Xenofonte Mercadante] era ligado ao Benedito Valadares31 31 Benedito Valadares (1892-1973) foi jornalista e influente político. Foi prefeito de sua cidade natal, Pato de Minas, governador de Minas Gerais, na época de Getúlio Vargas, entre 1933 e 1945, e posteriormente deputado federal e senador. , que era um interventor da ditadura do Estado Novo. Paulo era um homem muito sensato. O Paulo, sem nenhum exagero, escreveu um livro magnífico, A consciência conservadora no Brasil. Um assunto que ninguém tinha coragem de abordar, de exaltar. Era um intelectual independente, de grande caráter.

RG: O Professor tinha relações com o filósofo Luís Washington Vita (1921-1968), outro importante historiador das ideias no Brasil, que foi secretário do IBF entre 1960 e 1968? Como foram essas relações?

AP: O Vita foi um grande amigo meu. Ele editava a Revista [Brasileira de Filosofia] e ele que me estimulou a escrever a História das ideias filosóficas no Brasil. Eu tinha feito um trabalho, publiquei umas coisas, e não tinha ideia de fazer uma história. E faltava naturalmente alguma coisa sobre o positivismo. E o Vita me obrigou: “- Se você não faz, eu atribuo a você!” - e ficamos muito amigos. O Vita era uma figura extraordinária. Ele era um “irresponsável”. Ele não levava a sério as coisas; por exemplo, ele me mandou um xerox de um diagnóstico e escreveu nas costas uma mensagem, quer dizer, era um debochado, era uma figura extraordinária, bem-humorado, sem formalidade nenhuma. Ao contrário do Reale, que era um homem muito formal. O Vita era uma figura, morreu muito cedo.

O ensino da filosofia brasileira já foi obrigatório. Não conseguimos elaborar um programa [de ensino], acabou naquela briga na PUC, se politizou o assunto. Eu retomei o assunto, espero antes de morrer deixar resolvido, eu fiz uma história da filosofia brasileira, vai ser publicado, se supõe que publicaremos em seguida.32 32 Uma breve consideração sobre esse parágrafo da entrevista. Durante a entrevista, esse trecho foi dito pelo Professor Antonio Paim, quando respondia à pergunta seguinte, de número 9; todavia, ele retornou ao tema de Vita, de modo que inserimos essa fala aqui, para que o material ficasse mais organizado para a leitura.

RG: Como o professor vê o pensamento liberal e conservador no Brasil de hoje?

AP: O Brasil de hoje é muito perturbado e há uma proliferação de partidos políticos. No tempo do Tancredo Neves, da Assessoria do Partido da Frente Liberal, não houve meio de a gente conseguir reproduzir algumas exigências mais substanciais sobre a criação de partidos. Virou um negócio... O cara arranja 60 mil assinaturas, e o Tribunal [Superior Eleitoral] dá com a maior facilidade, não tem maiores exigências. Nós não conseguimos mudar esse regulamento. Ultimamente, eles conseguiram introduzir algumas precauções: é preciso que, na eleição, tenha tanto número [mínimo] de votos, parece que reduziria para dez [partidos], não sei quantos. Mas é um absurdo. A representação política, sendo [representação] de interesses, ela tem poucas formações políticas, poucos sistemas. Seria o socialismo, que, com a social-democracia, eles introduziram a economia de mercado e abandonaram a ideia de estatizar a economia, de ter o monopólio generalizado, quer dizer, essa é a social-democracia. A grande invenção, na minha opinião, a intervenção do Estado em favor do mais pobre, a grande invenção é a renda mínima, o programa de renda mínima, o social security. Os Estados Unidos adotaram o uso. É uma coisa extraordinária. O sujeito trabalha num lugar e é explorado, enfim, chega no fim do ano - todo mundo nos Estados Unidos é obrigado a declarar o imposto de renda -, quem não chega a vinte e tantos mil [dólares] por ano, eles complementam a renda. Tanto que é uma pressão muito grande na migração atrás disso. Mas eles zelam pelo cumprimento normal. É uma mudança mesmo no capitalismo, na minha opinião. Social-democracia, de modo que tem a social-democracia hoje, tem o liberal, o liberal-conservador, uns quatro ou cinco sistemas econômicos.

RG: O conflito tradicional entre conservadorismo, liberalismo e marxismo parece ter assumido, hoje, novas formas. As novas pautas culturais e de costumes, como as questões de gênero, significaram um deslocamento das antigas clivagens político-ideológicas. Como o Professor vê esses conflitos de hoje?

AP: Essa coisa de gênero, eu pessoalmente não engoli isso até hoje. Você transformou a mulher numa coisa muito pior, a mulher sempre teve uma posição laudatória, mulher bonita, cultuada, fotografada, desenhada, grandes pintores fizeram o retrato. Não sei se melhorou, não tenho informação. A minha repugna é essa coisa de gênero. Não entendo como uma clivagem. As mulheres sempre foram bem tratadas, essa que é a verdade. O que me parece superficial eu vou dizer: a mulher, no gênero, ela quer substituir o homem. Me parece que não seja esse o caminho. Você não pode acabar com a família. A mulher vai ter sempre um papel destacado na formação das pessoas. É impossível, a criança é absolutamente dependente. Vai ter que encontrar um meio termo aí nesse negócio, de maneira que... Do jeito que as coisas vão, as mulheres vão se ocupar dos assuntos que afetam os homens, e as crianças? Não me satisfaz essa chamada “clivagem” não.

RG: Como o Professor vê a filosofia e o seu ensino no Brasil de hoje? Qual o balanço da sua longa atividade como historiador das ideias?

AP: Eu não sei lhe dizer o ensino de filosofia em algumas universidades, que são universidades respeitáveis, uma Unicamp, uma USP33 33 A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp, criada em 1962) e a Universidade de São Paulo (USP, criada em 1934) são universidades públicas mantidas pelo governo do Estado de São Paulo. , de padrão internacional. Apesar disso, no que diz respeito às ciências sociais, há uma politização excessiva. Na minha formação de professor, a primeira coisa que a gente aprendia era: o professor tinha que começar dizendo qual era a doutrina que ele fazia parte, “sou marxista, sou comunista, sou socialista, e eu procurarei não influir na pauta que eu tenho que defender aqui, então eu vou procurar ensinar não me excluindo, o que eu acho como militante.” Por exemplo, não seria nunca um socialista, social-democrata é possível. Isso é resultado da proibição, uma perseguição absurda. Eu, um menino de 20 anos, ficar dois anos preso por defender uma ideia. Depois, eu fui dirigente comunista, vivia sendo perseguido. Tinha que mudar de nome, vivia escondido, quer dizer, um negócio absurdo.

RG: Como o Professor avalia a atualidade dos estudos sobre o Pensamento Brasileiro? O Professor tem acompanhado os novos estudos do Pensamento Brasileiro, dos autores Ivan Domingues e Paulo Roberto Margutti Pinto?34 34 Ivan Domingues é autor de Filosofia no Brasil: Legados e Perspectivas - Ensaios Metafilosóficos (São Paulo: Unesp, 2017). Paulo Roberto Margutti Pinto é autor de História da Filosofia do Brasil (1500-hoje). 1ª Parte: O Período Colonial (1500-1822) (São Paulo: Loyola, 2013) e História da Filosofia do Brasil. A Ruptura Iluminista (1808-1843) (São Paulo: s Loyola, 2020). Como o senhor vê esses novos estudos?

AP: Não me interessei mais por acompanhar. Me pareceu, por conta daquela briga na PUC, havia uma polarização em torno do [Henrique] Lima Vaz. Ele assinou aquela carta, negócio dos estudantes. Ele voltou da Europa com uma assistência dos jesuítas junto dos estudantes e encampou aquilo. Aquilo é o único documento, na História do Brasil, que você tem uma opção pelo partido único. É um absurdo aquilo. Então, ele tinha que se retratar, como os outros fizeram. Então, ele se recusou a se retratar. E como se recusou a se retratar, continuou até hoje a favor. Ele já morreu. Então, em torno dessa história, polarizou-se uma coisa desnecessária. Não tinha por que politizar uma questão de que diz respeito ao ensino. Não é esse o caminho. Então, eu não acompanhei, não tenho opinião e estou aqui em torno disso. É uma questão idiota, quer dizer, é uma coisa significativa para minha geração, a adesão ao partido único é uma opção que nem os partidos comunistas faziam mais. E o Partido Comunista era a favor da democracia popular. Era um jeito de o Partido Comunista continuar mandando, mas era mais civilizado, vamos dizer assim, então não tem por quê. Então, não repeti as mesmas coisas, fiz uma declaração a respeito da minha posição. O Vaz é um homem de grande valor, eu examinei a obra dele, na História das ideias filosóficas no Brasil, e me dei por satisfeito.

RG: Eu terminei de fazer as perguntas. Eu fico muito grato ao senhor pela disposição e pela disponibilidade por conceder esta entrevista.

AP: Eu que agradeço, perdoe a minha dispersividade, eu acho que foi satisfatório.

Referências

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  • VIANNA, Marly de Almeida Gomes. Revolucionários de 1935: sonho e realidade. São Paulo: Expressão Popular, 2007.
  • ZILLES, Urbano (coord.); PAIM, Antonio; BONI, Luis Alberto de; MACEDO, Ubiratan Borges de (org.). Miguel Reale: estudos em homenagem aos seus 90 anos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000.
  • 1
    Esta entrevista, realizada por telefone, em 15 de janeiro de 2021, faz parte do trabalho de coleta de fontes da pesquisa de pós-doutorado que realizamos junto ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás (PPGH/UFG). Agradecemos ao Professor Pedro Leão da Costa Neto pela ajuda na formulação das perguntas e ao próprio Professor Antonio Paim, pela disposição e disponibilidade em nos conceder a entrevista. Agradecemos ao Professor Marcos Aurélio Silva (UFSC) e a Aldo Rebelo, ex-deputado e ex-ministro, por nos facilitar o contato com Antonio Paim.
  • 3
    Edições da História das ideias filosóficas no Brasil: 1. ed. São Paulo: Grijalbo/Edusp, 1967, 276 p.; 2. ed. São Paulo: Grijalbo/Edusp, 1974, 431 p.; 3. ed. rev. e aum. São Paulo: Convívio/Instituto Nacional do Livro, 1984, 615 p.; 4. ed. rev. e aum. São Paulo: Convívio, 1987, 615 p.; 5. ed. rev. Londrina: Ed. UEL, 1997, 766 p.
  • 4
    Recentemente, Antonio Paim foi entrevistado pelo jornalista Guilherme Evelin (conteúdo disponível em: https://epoca.globo.com/quem-antonio-AntonioPaim-filosofo-baiano-que-fez-cabeca-do-ministro-da-educacao-23361323) e por Aldo Rebelo, do canal Bonifácio do YouTube (disponível em: https://youtu.be/N5AOgmn2s2w). Ambos os entrevistadores perguntam a Antonio Paim questões mais relativas à conjuntura política, sem centrar em sua trajetória intelectual, a qual é nosso foco. Nesse sentido, a entrevista concedida a José Crisóstomo de Souza e Ricardo Andrade é particularmente interessante, disponível no site da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (ANPOF): http://anpof.org/portal/index.php/en/2014-01-07-15-22-21/entrevistas/1980-crisostomo-e-ricardo-andrade-conversam-com-antonio-AntonioPaim-sobre-filosofia-no-brasil-1.
  • 5
    A lista completa de artigos publicados por Antonio Paim, na Revista Brasileira de Filosofia, encontra-se no Índice (CDPB, 2005CENTRO de Documentação do Pensamento Brasileiro (CDPB). Índice da Revista Brasileira de Filosofia (1951-2000). Salvador: CDPB, 2005., p. 322-324). Sobre o Instituto Brasileiro de Filosofia, a Revista Brasileira de Filosofia e Miguel Reale, indicamos: GONÇALVES (2016GONÇALVES, Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves. A restauração conservadora da filosofia: o Instituto Brasileiro de Filosofia e a autocracia burguesa no Brasil (1949-1964). Goiânia: Gárgula/Kelps, 2020c., 2017aGONÇALVES, Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves. Um instituto para a autocracia burguesa: o Instituto Brasileiro de Filosofia (1949-1964). Revista História e Luta de Classes, v. 13, n. 24, p. 93-107, ago. 2017a. Disponível em: Disponível em: http://dev.historiaelutadeclasses.com.br . Acesso em: 10 mar. 2021.
    http://dev.historiaelutadeclasses.com.br...
    , 2017bGONÇALVES, Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves. Miguel Reale: do fascismo ao autocratismo. Revista Intellectus, v. 16, n. 1, p. 44-68, 2017b. Disponível em: Disponível em: https://doi.org/10.12957/intellectus.2017.27112 . Acesso em: 10 mar. 2021.
    https://doi.org/10.12957/intellectus.201...
    , 2019aGONÇALVES, Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves. Raízes do Autoritarismo Jurídico Brasileiro: Gênese do Pensamento de Miguel Reale. Revista Mouro, n. 13, p. 245-257, jan. 2019a. Disponível em: Disponível em: https://www.academia.edu/38285410/Ra%C3%ADzes_do_Autoritarismo_Jur%C3%ADdico_Brasileiro_G%C3%AAnese_do_Pensamento_de_Miguel_Reale?source=swp_share . Acesso em: 10 mar. 2021.
    https://www.academia.edu/38285410/Ra%C3%...
    , 2017bGONÇALVES, Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves. A Revista Brasileira de Filosofia como revista tipo: combates pela filosofia no período entre ditaduras. Revista Práxis e Hegemonia Popular, v. 4, n. 5, p. 160-174, 2019b. Disponível em: Disponível em: http://igsbrasil.org/praxis/edicao-5/a-revista-brasileira-de-filosofia-como-revista-tipo-combates-pela-filosofia-no-periodo-entre-ditaduras/ . Acesso em: 10 mar. 2021.
    http://igsbrasil.org/praxis/edicao-5/a-r...
    , 2020aGONÇALVES, Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves. Miguel Reale na construção do Golpe e da Ditadura de 1964. In: MACIEL, David; PINTO, João Alberto da Costa. Brasil 1964, Portugal 1974: ditaduras, lutas sociais e revolução. Goiânia: Gárgula, 2020a. p. 31-51. Disponível em: Disponível em: https://www.academia.edu/44656291/Miguel_Reale_na_constru%C3%A7%C3%A3o_do_Golpe_e_da_Ditadura_de_1964 . Acesso em: 10 mar. 2021.
    https://www.academia.edu/44656291/Miguel...
    e 2020bGONÇALVES, Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves; COSTA NETO, Pedro Leão. O Instituto Brasileiro de Filosofia e a Revista Brasileira de Filosofia: um exemplo de aparelho ideológico da intelectualidade conservadora. In: COSTA NETO, Pedro Leão; MACIEL, David; GONÇALVES, Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves (org.). Intelectuais, política e conflitos sociais. Goiânia: Gárgula, 2020b. p. 183-203. Disponível em: Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1p2S4EjPqt8nxl6TU6QKTxx-DHoCtWIPl/view?usp=drivesdk . Acesso em: 10 mar. 2021.
    https://drive.google.com/file/d/1p2S4EjP...
    ), MOTOYAMA (2001MOTOYAMA, Shozo (org.). Cidadania e cultura brasileira: Homenagem aos 90 anos do Professor Miguel Reale. São Paulo: Edusp, 2001.), PATSCHIKI (2014PATSCHIKI, Lucas. Miguel Reale e seus relatos autobiográficos (1986-1987). Mediações - Revista de Ciências Sociais, v. 19, n. 1, p. 119-134, 2014. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5433/2176-6665.2014v19n1p119. Acesso em: 10 mar. 2021.
    https://doi.org/http://dx.doi.org/10.543...
    ), PINHO (2019PINHO, Rodrigo Maiolini Rebello. O pensamento integralista de Miguel Reale. Verinotio - Revista on-line de Filosofia e Ciências Humanas, v. 25, n. 2, p. 331-363, 2019. Disponível em: https://www.doi.org/10.36638/1981061X.2019.25.2/331-363. Acesso em: 10 mar. 2021.
    https://doi.org/https://www.doi.org/10.3...
    ), ZILLES (2000ZILLES, Urbano (coord.); PAIM, Antonio; BONI, Luis Alberto de; MACEDO, Ubiratan Borges de (org.). Miguel Reale: estudos em homenagem aos seus 90 anos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000.).
  • 6
    Originalmente publicado em 1960, pela editora Itatiaia, de Belo Horizonte. A edição póstuma, publicada em 2015, pela editora Três Estrelas, de São Paulo, traz a apresentação de Antônio Paim. Quando o Golpe de 1964 foi dado, Peralva estava à frente do jornal carioca Correio da Manhã, e, após o Ato Institucional número 5 (AI-5), foi preso e acabou deixando o Brasil. Viveu na Alemanha Ocidental até 1979, quando foi promulgada a Lei de Anistia. De volta ao Brasil, integrou o conselho editorial do jornal Folha de S. Paulo, do qual foi correspondente no Japão.
  • 7
    Soveral deve estar se referindo à Margaret Thatcher, primeira ministra do Reino Unido, entre 1979 e 1990, responsável por aplicar políticas neoliberais de austeridade e de desmonte do welfare state, naquele país.
  • 8
    Publicação: Rio de Janeiro: Arte Nova, 1979.
  • 9
    Trata-se do texto “Filosofia como autoconsciência de um povo”, que foi a conferência pronunciada por Miguel Reale, em 1961, durante a fundação da seção da cidade de Fortaleza do Instituto Brasileiro de Filosofia. O texto está disponível em livro de Antonio Paim (1979, p. 224-248), e foi publicado na obra: REALE, Miguel. Pluralismo e liberdade. São Paulo: Saraiva, 1963, p. 47-62. Para uma análise pormenorizada do IBF e da obra filosófica de Reale e do grupo ibeefeano, recomendamos: GONÇALVES, 2016GONÇALVES, Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves. A restauração conservadora da filosofia: o Instituto Brasileiro de Filosofia e a autocracia burguesa no Brasil (1949-1964). Goiânia: Gárgula/Kelps, 2020c., a ser publicada em breve.
  • 10
    Lei Municipal 3.360/1984, Lei Estadual 4.281/1984 e Decreto Presidencial 92.368/1986.
  • 11
    CENTRO de Documentação do Pensamento Brasileiro (CDPB). Dicionário Biobibliográfico de autores brasileiros: filosofia, pensamento político, sociologia, antropologia. Brasília: Senado Federal, 1999.
  • 12
    Eduardo Silvério de Abranches de Soveral (1927-2003) foi um intelectual monarquista, professor, diplomata e filósofo português. Em Portugal, lecionou na Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. No Brasil, lecionou na Universidade Católica de Petrópolis, na Universidade Gama Filho e na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Foi membro da Academia de Ciências de Lisboa e da Academia Brasileira de Filosofia.
  • 13
    Na Alemanha, os chefes do governo ocupam o cargo de “chanceler”.
  • 14
    A Fundação Presidente Tancredo Neves (1910-1985) foi fundada em 28 de julho de 1987. A fundação mantém o Memorial Tancredo Neves, inaugurado em dezembro de 1990, sediado em São João del-Rei, Minas Gerais.
  • 15
    Edmund Burke (1729-1797), um dos fundadores do conservadorismo moderno, publicou, em 1777, A Letter to the Sheriffs of Bristol (Uma carta aos delegados eleitores de Bristol).
  • 16
    Vilmar da Silva Rocha foi presidente do Instituto Tancredo Neves entre 1997-2007, deputado estadual de Goiás, deputado federal e secretário de Estado do governador goiano Marconi Perillo, entre 2014 e 2018.
  • 17
    Diógenes Arruda Câmara (1914-1979) foi um militante do PCB e diretor da Problemas - revista mensal de cultura política.
  • 18
    Antonio Paim se refere aos levantes comunistas do ano de 1935, os quais ocorreram nas cidades do Rio de Janeiro, Recife e Natal, liderados pelo PCB. Sobre esse evento histórico, indicamos o livro de Marly de Almeida Gomes Vianna (2007VIANNA, Marly de Almeida Gomes. Revolucionários de 1935: sonho e realidade. São Paulo: Expressão Popular, 2007.).
  • 19
    Boleslaw Bierut (1892-1956) foi Presidente da República Popular da Polônia de 1947 a 1952 e secretário do Partido Operário Unificado Polaco até sua morte.
  • 20
    Nikita Kruschev (1894-1971) foi Primeiro Ministro da União Soviética entre 1958 e 1964.
  • 21
    Antonio Paim se refere a Wladyslaw Gomulka (1905-1982), líder comunista polonês e primeiro secretário do Partido Operário Unificado Polaco.
  • 22
    Sigla da Central Intelligence Agency, a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos.
  • 23
    Pedro I (1672-1725), czar e imperador da Rússia.
  • 24
    Roberto de Oliveira Campos (1917-2001) foi presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no governo de Juscelino Kubitschek, Ministro do Planejamento, entre 1964 e 1967, deputado federal e senador.
  • 25
    A Comissão Preparatória do Plano Siderúrgico Nacional - também conhecida como “Comissão Mista” - foi criada em 5 de agosto de 1939, durante o Estado Novo, sob a presidência de Getúlio Vargas, que visava à construção de uma grande usina siderúrgica no Brasil, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que foi sediada na cidade de Volta Redonda, Estado do Rio de Janeiro. Em setembro de 1940, após negociações com o governo dos Estados Unidos, um empréstimo para a construção da CSN foi liberado. A “Comissão Mista” foi reavivada em outras ocasiões, durante o governo de Eurico Gaspar Dutra, entre 19 de julho de 1951 e 31 de julho de 1953, com vistas aos setores da agricultura, energia e transporte, e durante o segundo governo de Getúlio Vargas, que durou de 31 de janeiro de 1951 a 24 de agosto de 1954. Nessa ocasião, a Comissão Mista valeu-se dos estudos realizados pelas missões norte-americanas Cooke (1942) e Abbink (1948), enviadas ao Brasil, e aprovou 41 projetos do Plano de Reaparelhamento Econômico.
  • 26
    Jornal diário que circulava no Rio de Janeiro, criado em 22 de maio de 1945 e fechado em dezembro de 1947, vinculado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB).
  • 27
    João Alves Jobim Saldanha (1917-1990) foi um quadro histórico do PCB, jornalista, escritor, e dirigente técnico da Seleção Brasileira de Futebol, entre 1969 e 1970. Devido à sua militância contra a Ditadura, denunciando internacionalmente as atrocidades cometidas, acabou substituído por Mário Jorge Lobo Zagallo.
  • 28
    PAIM, Antonio. A Filosofia da Escola do Recife. Rio de Janeiro: Saga, 1966.
  • 29
    Miguel Reale foi membro do Conselho Federal de Cultura entre 1974 e 1989, tendo sido nomeado pelo Presidente Emílio Garrastazu Médici, durante a Ditadura Militar.
  • 30
    Paulo Mercadante era filho de Xenofonte Mercadante, o qual foi um jurista brasileiro, deputado estadual constituinte de Minas Gerais, entre 1947 e 1951. Assim como Antonio Paim, Paulo havia sido do PCB e desligou-se do partido, após as revelações do Relatório Kruschev.
  • 31
    Benedito Valadares (1892-1973) foi jornalista e influente político. Foi prefeito de sua cidade natal, Pato de Minas, governador de Minas Gerais, na época de Getúlio Vargas, entre 1933 e 1945, e posteriormente deputado federal e senador.
  • 32
    Uma breve consideração sobre esse parágrafo da entrevista. Durante a entrevista, esse trecho foi dito pelo Professor Antonio Paim, quando respondia à pergunta seguinte, de número 9; todavia, ele retornou ao tema de Vita, de modo que inserimos essa fala aqui, para que o material ficasse mais organizado para a leitura.
  • 33
    A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp, criada em 1962) e a Universidade de São Paulo (USP, criada em 1934) são universidades públicas mantidas pelo governo do Estado de São Paulo.
  • 34
    Ivan Domingues é autor de Filosofia no Brasil: Legados e Perspectivas - Ensaios Metafilosóficos (São Paulo: Unesp, 2017). Paulo Roberto Margutti Pinto é autor de História da Filosofia do Brasil (1500-hoje). 1ª Parte: O Período Colonial (1500-1822) (São Paulo: Loyola, 2013) e História da Filosofia do Brasil. A Ruptura Iluminista (1808-1843) (São Paulo: s Loyola, 2020).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Fev 2023
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2023

Histórico

  • Recebido
    22 Mar 2022
  • Aceito
    19 Jun 2022
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