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TURISMO, INCLUSÃO E EXCLUSÃO: O DISCURSO DA PERIFERIA EM CAXIAS DO SUL-RS, BRASIL

TOURISM, INCLUSION AND EXCLUSION: DISCOURSE OF PERIPHERAL RESIDENTS IN CAXIAS DO SUL-RS, BRAZIL

TURISMO, INCLUSIÓN Y EXCLUSIÓN: EL DISCURSO DE LOS PERIFÉRICOS EN CAXIAS DO SUL-RS, BRASIL

RESUMO:

Este artigo tem como objetivo discutir as percepções sobre o turismo de moradores de uma comunidade periférica, localizada no município de Caxias do Sul-RS (Brasil). A pesquisa considerou a revisão bibliográfica, cobrindo aspectos históricos que caracterizam o turismo como uma prática marcada pela exclusão, e abordagens teóricas que a ignoram. Posteriormente, seguindo as técnicas propostas pelo Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), foram ouvidos onze moradores da comunidade Cooperativa Habitacional Marianinha de Queiroz. A sistematização dos resultados em discursos sínteses permitiu compreender que os entrevistados associam o turismo: (a) à lógica da inclusão, quando afirmam que viajar de férias é diversão e lazer; e (b) à exclusão, quando lembram que o turismo é um prazer reservado às pessoas com poder aquisitivo. Segundo Milton Santos, a exclusão afeta o desenvolvimento da cidadania; nesses termos, considera-se que a exclusão da prática do turismo também contribui para esse deficit cidadão.

PALAVRAS-CHAVE:
Turismo; Exclusão; Cooperativa Habitacional Marianinha de Queiroz, Caxias do Sul/RS

ABSTRACT:

The article discusses the perceptions of residents of a peripheral community in the city of Caxias do Sul-RS (Brazil) in relation to tourism. The research conducted a bibliographic review, covering historical aspects that characterize tourism as a practice of the elite, and theoretical approaches that ignore the exclusion of the majority of people. Eleven residents of the community known as the Cooperativa Habitacional Marianinha de Queiroz were interviewed, using the techniques of Collective Subject Discourse (DSC). Analysis of the discourses revealed that the interviewees associate tourism with: (a) inclusion, stating that traveling on vacation is for fun and leisure; and (b) exclusion, recalling that tourism is a pleasure reserved for people with higher purchasing power. According to Milton Santos, exclusion affects the development of citizenship; in these terms, we consider that the exclusion in tourism also contributes to this citizenship deficit.

KEYWORDS:
Tourism; Exclusion; Cooperativa Habitacional Marianinha de Queiroz, Caxias do Sul/RS

RESUMEN:

Este artículo tiene como objetivo discutir las percepciones de los residentes en una comunidad periférica ubicada en el municipio de Caxias do Sul-RS (Brasil), sobre el turismo. El camino de la investigación se estableció a partir de revisión bibliográfica, abarcando los aspectos históricos que caracterizan el turismo como práctica marcada por la exclusión, y enfoques teóricos, que lo ignoran. Posteriormente, siguiendo las técnicas propuestas por el Discurso del Sujeto Colectivo (DSC), once residentes en la comunidad Cooperativa de Habitacional Marianinha de Queiroz fueron oídos. La sistematización de los resultados en discursos síntesis permitió comprender que estos residentes asocian el turismo: (a) con la lógica de la inclusión, cuando afirman que viajar en vacaciones es diversión y ocio; y (b) exclusión, cuando presentan que el turismo es un placer reservado a las personas con poder adquisitivo. Según Milton Santos, la exclusión afecta el desarrollo de la ciudadanía, y en estos términos consideramos que la exclusión turística es también una manifestación de la imposibilidad de experimentar los beneficios de ser ciudadano.

PALABRAS CLAVE:
Turismo; Exclusión; Cooperativa Habitacional Marianinha de Queiroz, Caxias do Sul/RS

INTRODUÇÃO

O turismo, prática social da economia capitalista, organiza-se entre os séculos XVIII e XIX, em concomitância com a Revolução Industrial. Esse contexto induz a que os discursos consagrados destaquem na atividade questões econômico-quantitativas, como número de viajantes e gastos nos destinos, ambos em crescimento contínuo, desconsiderando o contraditório, que apresenta a atividade em suas práticas pautada tanto pela inclusão quanto pela exclusão. Nesse sentido, resgatam-se contextos históricos em que o turismo se consolida como um produto da economia capitalista; e as teorizações que enfatizam os aspectos sociais da atividade, mas, destaque-se, sem abordar a questão da exclusão. Busca-se subsidiar a posterior análise dos discursos capturados na investigação empírica, relativa à questão da inclusão e da exclusão econômica, territorial, social, cultural e, não menos importante, a turística.

Considera-se, para fins do aqui proposto, que o entendimento de turismo inclui os deslocamentos, mais propriamente, e que tais fluxos dependem do trabalho social, ou seja, estruturas produtivas de serviços nos campos da hospedagem, da alimentação e do lazer de forma geral, os quais estão postos para gerar valor e valor a mais, mediante formas diversas de exploração do trabalho e acumulação por espoliação, entre outras. Assim sendo, a exclusão turística se dá em decorrência de desvalias na prestação dos serviços, mas também no seu consumo. Esta exclusão de camadas significativas das populações urbanas acompanha a exclusão territorial, em especial em cidades situadas em países periféricos ao capitalismo hegemônico. Daí decorre, além da marginalização econômica, a cultural e a turística. Segue-se o geógrafo Milton Santos (2009aSantos, M. (2009a). Pobreza Urbana. (3ª ed.). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. ; 2009bSantos, M. (2009b). Metrópole corporativa fragmentada. São Paulo: Edusp .), para quem a periferia é fruto de um processo histórico de expulsão das classes pobres do centro urbano, pela sua impossibilidade de arcar com os custos praticados naquele espaço em termos de valor dos terrenos, dos serviços e dos produtos. Alimentam-se, assim, diferentes exclusões das massas empobrecidas.

Feitas as considerações iniciais, a pesquisa teve por objetivo levantar e analisar as percepções presentes nos discursos de sujeitos excluídos da prática turística. A metodologia segue o proposto por Lefevre e Lefevre (2003Lefevre, F., & Lefevre, A. M. C. (2003). O discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em pesquisa qualitativa (Desdobramentos). Caxias do Sul, RS: Educs.), no que denominam como Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), por meio da qual é possível, a partir das falas individuais de pessoas envolvidas em determinado contexto ou situação, reconstituir um discurso síntese, significativo do coletivo. A comunidade adotada como objeto empírico de pesquisa é a Cooperativa Habitacional Marianinha de Queiroz (Coopemarque).

O município de Caxias do Sul está localizado a nordeste do Estado do Rio Grande do Sul (Brasil) e tem sua história oficial associada à chegada de imigrantes itálicos na região, no final do século XIX, conquistando autonomia política e administrativa com a emancipação em 1910. Segundo o último Censo Nacional, conta com uma população de aproximadamente 435.564 habitantes, com Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de 0,782 e PIB per capita de R$ 44.007,35 (Ibge, 2019Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2019). Cidades. Recuperado em 6 de agosto de 2019 de Recuperado em 6 de agosto de 2019 de https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rs/caxias-do-sul/panorama
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), resultando em R$3.667,27 o per capita mensal. Em termos econômicos, volta-se em maior medida para o setor industrial (53,4%), seguindo-se serviços (29,6%) e comércio (17%) (CIC, 2019Câmara da Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul. (2019). Desempenho da economia de Caxias do Sul - maio/19. Caxias do Sul. Recuperado em 06 de agosto de 2019 de Recuperado em 06 de agosto de 2019 de https:// ciccaxias.org.br/desempenho-economico/
https:// ciccaxias.org.br/desempenho-eco...
; Prefeitura de Caxias do Sul, 2014Prefeitura de Caxias do Sul (2014). Perfil Socioeconômico. 2014. Recuperado em 6 de agosto de 2019 de Recuperado em 6 de agosto de 2019 de https://ciccaxias.org.br/conheca-caxias-do-sul/
https://ciccaxias.org.br/conheca-caxias-...
). De acordo com César (2018César, P. de A. B. (2018). Configuração físico-territorial do setor metalomecânico da Serra Gaúcha e sua relação com o turismo: estudo de Caxias do Sul (RS). Ateliê do Turismo, 1, 67-88. Recuperado em 10 novembro de 2019 de Recuperado em 10 novembro de 2019 de https://periodicos.ufms.br/index.php/adturismo/article/view/6771
https://periodicos.ufms.br/index.php/adt...
), Caxias do Sul concentra o maior número de indústrias em relação aos demais municípios da região turística da Serra Gaúcha, alcançando expressiva participação no setor devido a sua centralidade. A Marianinha de Queiroz - comunidade e cooperativa - é resultado de uma ocupação em área pública do município de Caxias do Sul, abrigando na atualidade 155 famílias, que residem em edifícios e casas unifamiliares, construídas ao longo de quase três décadas de ocupação. Realizada a ocupação entre 1989 e 1990, os primeiros oito anos foram marcados por moradias precárias, inúmeras ações judiciais de despejo e por exaustivas negociações com o Poder Público local para dirimi-las. A situação demandou dos moradores a busca por formas de subsistência no local, como ligações clandestinas para acesso à energia elétrica e à água tratada. O processo de construção de moradias salubres veio com a oferta pela municipalidade de aquisição da área ocupada pelos moradores. Para viabilizar a compra dos terrenos, a solução encontrada foi a organização de uma cooperativa habitacional para arrecadação dos valores necessários. Nas palavras de Rosana Saldanha Pereira, atual presidente da Cooperativa: “Éramos em 62 moradores e tínhamos que economizar muito para honrar o contrato e pagar a área. Era comum que, de dois litros de leite que se comprava, passamos a comprar um para que pudéssemos pagar”a a Fonte: Jornal dos Bairros, veículo editado e impresso pela União das Associações de Bairros (UAB), em agosto de 2015. Disponível em: <https://issuu.com/jornaldosbairroscaxias/docs/jornaldosbairros_agosto2015_web>. Acesso em: 30 jul. 2019. .

Hoje, a comunidade alcançou o status de bairro, mas, de certa forma, as distâncias físicas e simbólicas do centro urbano se mantêm. Os dados coletados em pesquisa a campo demonstram que o PIB per capita de Caxias do Sul, de acordo com o IBGE, não corresponde à realidade das famílias do grupo em estudo. Demonstra-se que a renda per capita média mensal de 54,09% dos moradores não ultrapassam um salário mínimob b Salário mínimo vigente no ano de 2019. (R$ 998), sendo que, desses, 18,03% contam com apenas metade desse valor por pessoa ao mêsc c Ressalta-se que esses dados contemplam os resultados de uma pesquisa censitária realizada na comunidade no mês de agosto de 2019, no âmbito de uma pesquisa mais ampla. .

Diante disso, o questionamento colocado na investigação buscou resgatar e descrever como tal comunidade, hoje em conformidade com as exigências legais em termos de moradia, entende o turismo, considerando-se que o próprio usufruto de momentos de lazer e de acesso às viagens demanda dos indivíduos prioridades em termos de dispêndios financeiros e usufruto do seu tempo livre, que, de acordo com dados pesquisados, não têm como serem contempladas como prioridade nos gastos familiares, a partir das condições objetivas das famílias. No que segue, o presente artigo apresenta uma contextualização de como, ao longo da sedimentação da atividade, o turismo marcou-se pela exclusão de amplas camadas sociais e que isso ainda é pouco teorizado nos discursos acadêmicos. No seguimento, aprofunda-se a questão metodológica, que se desdobra nos resultados e na sua análise, apresentados no terceiro momento do texto.

TURISMO, INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Para fins do resgate analítico no âmbito deste artigo, tem-se aprioristicamente o proposto por Milton Santos (2009aSantos, M. (2009a). Pobreza Urbana. (3ª ed.). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. , 2009b, 2003Santos, M. (2003). Economia espacial: críticas e alternativas. São Paulo: Edusp.), para quem a exclusão e a consequente formação de periferias decorrem de um processo urbano constante de expulsão das massas pobres das áreas centrais. A periferia se coloca “como único sítio possível para populações pobres, que aportam na grande cidade em busca de trabalho” (Yázigi, 2017Yázigi, E. (2017). Periferia e turismo: mitos & realidades. Rosa dos Ventos Turismo e Hospitalidade , 9(4), 675-689. Recuperado em 30 agosto de 2019 de Recuperado em 30 agosto de 2019 de http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/rosadosventos/article/view/5629
http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php...
, p. 680). No contexto das metrópoles, Santos (2009b) defende que o crescimento econômico é oligárquico, pois somente alguns - os mais abonados - podem ascender, em detrimento da expansão limitada das classes médias e a privação de direitos no que se refere às classes populares. Para o geógrafo, a periferia e a pobreza são um problema de ordem política, pois comprometem o exercício da cidadania pelos sujeitos que nela habitam (Santos, 2009a). A plena realização dos sujeitos, tanto em termos de recursos materiais como de qualidade de vida, demanda um quadro de vivências que inclua ofertas culturais e econômicas no território, assim como a acessibilidade aos mesmos, e a liberdade individual calcada no direito de ir e vir no espaço habitado e para além dele (Santos, 2000Santos, M. (2000). O espaço do cidadão. São Paulo: Studio Nobel.).

Sob viés historicista, é possível percorrer os processos associados às viagens, destacando-se neles as exclusões decorrentes e não apenas o realce à atividade como práticas sem maiores barreiras sociais, econômicas ou culturais. Beltrão (2001Beltrão, O. D. (2001). Turismo: a indústria do século XXI. Osasco: Novo Século.), por exemplo, reporta à Bíblia, que registraria as viagens como prática comum daqueles que vivessem do comércio ou estivessem envolvidos em conflitos belicosos, logo, não genericamente presentes nas sociedades. O mesmo autor cita o Império Romano, quando as cidades foram urbanizadas, com o objetivo de demonstrar poder e domínio sobre culturas ‘inferiores’. As viagens eram realizadas pelas elites em direção ao litoral e às estâncias termais, motivadas pelo prazer e pelo divertimento, embora o contexto social romano fosse marcado pela escravidão de pessoas às quais eram negados direitos, entre outros, ao descanso ou ao ócio.

Durante a Idade Média, sob a lógica da estratificação de classes do feudalismo europeu, as viagens estiveram reduzidas à nobreza e aos servos; aos viajantes pobres caberia acompanhar lideranças militares ou religiosas em seus deslocamentos. Outra marca medieval são as peregrinações a lugares sagrados, mas houve também aquelas motivadas pelo conhecimento e pelo aprimoramento, realizadas pelos filhos das elites (Faraldo & López, 2013Faraldo, J. M., & López, C. R. (2013). Introducción a la história del turismo. Madrid: Alianza Editorial.). No século XIII, na cidade de Florença, registra-se o surgimento de hospedarias para abrigar viajantes “que peregrinavam pela Europa em busca do intercâmbio com professores e alunos, nas importantes universidades europeias” (Beltrão, 2001Beltrão, O. D. (2001). Turismo: a indústria do século XXI. Osasco: Novo Século., p. 23). A expressão Grand Tour, utilizado pela primeira vez em 1611, denominaria a continuidade de tal prática de viagem pelos filhos homens da nobreza inglesa, que percorriam o território europeu para familiarizarem-se com outras culturas e estruturas políticas (Faraldo & López, 2013). Entretanto, como ressaltado por Boyer (2002Boyer, M. (2002). El turismo en Europa, de la Edad Moderna al siglo XX. Historia contemporánea, 25, 13-31. Recuperado em 01 agosto de 2019 de Recuperado em 01 agosto de 2019 de https://eco.mdp.edu.ar/cendocu/repositorio/00924.pdf
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), o “distinguir era el móvil esencial del Tour, más que el valor pedagógico atribuido a los viajes” (p.14).

El hecho de que todo esto haya comenzado em Gran Bretaña no es fortuito. [...] El modelo educativo británico, a finales de los siglos XVIII y principios del XVIII, se disoció de las didácticas continentales. El viaje vino a ser un elemento fundamental de una educación abierta que formaba al «gentleman». Bath, con el pretexto de tomar las aguas, permitía el contacto entre la aristocracia de nacimiento y las nuevas capas enriquecidas gracias al comercio. De esta manera la sociedad comenzaba a abrirse. Por consiguiente, ¿fue el Tour anterior a la máquina de vapor? ¿Por qué no?. (Boyer, 2002Boyer, M. (2002). El turismo en Europa, de la Edad Moderna al siglo XX. Historia contemporánea, 25, 13-31. Recuperado em 01 agosto de 2019 de Recuperado em 01 agosto de 2019 de https://eco.mdp.edu.ar/cendocu/repositorio/00924.pdf
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, p. 18).

Mas, destaque-se, Boyer (2002Boyer, M. (2002). El turismo en Europa, de la Edad Moderna al siglo XX. Historia contemporánea, 25, 13-31. Recuperado em 01 agosto de 2019 de Recuperado em 01 agosto de 2019 de https://eco.mdp.edu.ar/cendocu/repositorio/00924.pdf
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) não concorda em tratar como ‘turistas’ os viajantes dos períodos que antecedem ao século XVIII:

El turismo fue algo inventado, por lo que hay que ponerse en guardia de esa tendencia de los historiadores aficionados a hacer remontar el turismo hasta la época romana. La permanencia geográfica no es una prueba. La historia regresiva y anecdótica no instituye una continuidad. Durante siglos los viajeros han utilizado los mismos caminos y atravesado los mismos collados para acercarse a Italia, los enfermos han ido a beber las mismas aguas, los creyentes han caminado hacia los mismos lugares de culto que fueron paganos en un primer momento y después se convirtieron en centros de peregrinaje cristianos. Es, pues, un abuso del lenguaje calificarlos como turistas. A. Siegfried tenía razón cuando afirmaba que «c’est le mobil qui fait le touriste». Los motivos de las personas que se desplazaban antes del siglo XVI, o incluso en el XVIII, eran diferentes. (p. 15-16).

O século XVIII apresenta-se como um período de grandes mudanças no fenômeno das viagens contemporâneas à Revolução Industrial. Nesse momento, a sociedade conhece a atividade turística na sua expressão moderna, decorrente da expansão econômica, da evolução dos transportes, do fortalecimento das cidades e da consequente urbanização dos lugares (Pires, 2001Pires, M. J. (2001). Raízes do turismo no Brasil: hóspedes, hospedeiros e viajantes no século XIX. São Paulo: Manole.). Segundo Buzard (1993Buzard, J. (1993). The beaten track: European tourism, literature, and the ways to culture, 1800-1918. Oxford: Oxford University Press.), generaliza- se o uso da palavra ‘turismo’, logo associada a um estilo de vida e sua identificação de classe, o que levaria ao menosprezo ao turista pelas classes abastadas. O turista, ainda segundo o autor, seria um ser menor, cego em relação à verdadeira cultura, que viajaria para confirmar suas expectativas e não para confrontá-las.

Para o mesmo autor, a oposição binária entre viajante e turista será uma das marcas da Modernidade, quando “a industrialização, com a consequente mudança da população em direção a cidades médias e grandes, faz emergir uma nova classe média urbana e o aparecimento de um discurso respondendo ao que era sentido como uma violação das tradições das comunidades rurais” (p. 18). O surgimento dos Correios, em 1784, na Inglaterra, demarca-se não apenas pelo transporte em territórios europeus de malas postais, mas também pela condução de passageiros, neste caso, pessoas menos abastadas, sem recursos para compra de uma carruagem própria (Pires, 2001Pires, M. J. (2001). Raízes do turismo no Brasil: hóspedes, hospedeiros e viajantes no século XIX. São Paulo: Manole.).

Nas primeiras décadas do século XIX, o vapor havia se configurado como a força motriz de trens e veleiros, modais disponíveis na época. Mais tarde, com a massificação da prática do viajar, algumas mudanças atingem esses transportes na forma de espaços reservados aos passageiros/turistas dispostos a pagar um valor maior pelo conforto na realização das longas viagens a bordo (Pires, 2001Pires, M. J. (2001). Raízes do turismo no Brasil: hóspedes, hospedeiros e viajantes no século XIX. São Paulo: Manole.), ou seja, por pessoas com recursos financeiros para sustentar o diferencial.

Sobre o turismo como distinção de classe, Boyer (2002Boyer, M. (2002). El turismo en Europa, de la Edad Moderna al siglo XX. Historia contemporánea, 25, 13-31. Recuperado em 01 agosto de 2019 de Recuperado em 01 agosto de 2019 de https://eco.mdp.edu.ar/cendocu/repositorio/00924.pdf
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) tem como tese que a invenção de lugares e práticas turísticas por grupos socioculturais dominantes são “posteriormente imitadas por las capas sociales próximas, finalizando con la apropriación” (p. 13). Afirma, ainda, que no século em tela, toda “la sociedad no se vio implicada en este fenómeno, ya que en el siglo XIX fueron sólo los rentistas los que practicaron el turismo. Es más, en el año 2000 se constata que el turismo es una distracción que continúa teniendo un «non-public», tal como dicen los sociólogos” (p.13). E acrescenta: “La difusión en el siglo XIX se hizo exclusivamente dentro del grupo social de los rentistas, quienes entonces en Europa podían representar del orden de la décima parte de la población” (p.14).

En efecto, el XIX fue el siglo en el que se difundieron las invenciones del siglo XVIII, dándoles una mayor amplitud, aunque aún es preciso hablar de unos privilegiados únicamente. Desde el XVIII hasta aproximadamente 1930, como poco, las estaciones tuvieron una clientela de rentistas. En las listas de visitantes de las diversas estaciones, el 80 e incluso el 85% eran rentistas o propietarios. Eran de edad muy diversa y jamás indicaban actividad profesional alguna. Una décima parte estaba formada por clérigos, hombres de leyes y oficiales. Se observa, pues, que esta composición de los turistas estaba muy unida a la antigua división de la sociedad en estamentos. De hecho, el turismo no era practicado por quienes daban a la economía su dinamismo industrial capitalista, de suerte que comerciantes e industriales son raros en estas listas. (Boyer, 2002Boyer, M. (2002). El turismo en Europa, de la Edad Moderna al siglo XX. Historia contemporánea, 25, 13-31. Recuperado em 01 agosto de 2019 de Recuperado em 01 agosto de 2019 de https://eco.mdp.edu.ar/cendocu/repositorio/00924.pdf
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, p. 21).

O turismo moderno acaba por se associar, na sua concepção, ao turismo massivo, quando a conquista de direitos trabalhistas em termos de férias e melhores remunerações permitem a popularização das viagens mesmo entre o operariado. Entretanto, tal ampliação de consumo não deixa de se consolidar como um produto a serviço do capital (Krippendorf, 2003Krippendorf, J. (2003). Sociologia do turismo: para uma compreensão do lazer e das viagens. São Paulo: Aleph .), restrita aos países hegemônicos, ou seja, não disponível à sociedade como um todo.

Molina (2003Molina, S. (2003). O pós-turismo. São Paulo: Aleph .) separa o turismo moderno, que ele trata como turismo industrial, em três fases distintas: (a) o turismo industrial primitivo, com início no século XIX e que se estendeu até o início da Segunda Guerra e tendo como reflexo o surgimento dos primeiros hotéis urbanos e o desenvolvimento dos balneários costeiros no Mediterrâneo; (b) o turismo industrial maduro, que demonstrou crescimento a partir de 1950, apresentando o turismo de sol e praia como um dos mais dinâmicos; e (c) o turismo pós-industrial, com seu expoente na década de 1980, demarcando uma mudança significativa no mercado turístico e a emergência de diferenciação de produtos/ serviços. A modernidade incorpora o turismo como uma possibilidade de lazer, situação que alguns autores veem como sendo uma ‘droga’ atestada e aprovada socialmente para desobstrução das vias de força de trabalho do proletariado; enquanto a classe dominante mantém a prática, já habitual aos mais endinheirados (Krippendorf, 2003Krippendorf, J. (2003). Sociologia do turismo: para uma compreensão do lazer e das viagens. São Paulo: Aleph .).

Sintetizando, o turismo, fenômeno humano e prática social, estruturou-se ao longo dos séculos XVIII, XIX e primórdios do século XX como atividade de lazer exclusiva das elites europeias e norte-americanas, com muito raras exceções. Apenas após as duas grandes guerras europeias, a prática das viagens de lazer se ampliará a outras classes sociais, que não os mais privilegiados em termos sociais e econômicos, como consequência dos avanços dos transportes de massa (trem e avião, em especial) e da introdução de uma legislação trabalhista que passou a garantir, entre outros, o direito a férias (Boyer, 2002Boyer, M. (2002). El turismo en Europa, de la Edad Moderna al siglo XX. Historia contemporánea, 25, 13-31. Recuperado em 01 agosto de 2019 de Recuperado em 01 agosto de 2019 de https://eco.mdp.edu.ar/cendocu/repositorio/00924.pdf
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; 2003Boyer, M. (2003). História do turismo de massa. Bauru, SP: Edusc.). Mas, em nenhum momento, sua presença poderá ser tratada como universalizada. Seguindo-se a isso, o turismo pós-fordista, contraposto ao modelo massificado e estandardizado do ‘fazer turismo’, traz à tona discussões mais conscientes em termos sociais e ambientais. Mas, considere-se, não será uma prática generalizada na sociedade, pois, mais uma vez, apresenta-se segmentada a pequenos grupos elitizados em termos econômicos, culturais e educativos.

O rápido apanhado histórico aqui proposto procura demonstrar como o turismo ascende como prática social e fenômeno humano-social em termos de inclusão e exclusão. Contudo, as vertentes teóricas que discutem o conceito e sua abrangência não encerram a complexidade do fenômeno, pois raramente consagram a sua faceta de exclusão. Ou, no dizer de Santos Filho (2011Santos Filho, J. dos. (2011). Do pensar histórico a negação do pós-turismo: ensaio crítico sobre o pós- turismo. Rosa dos Ventos Turismo e Hospitalidade, 3(3), 393-420. Recuperado em 30 agosto de 2019 de Recuperado em 30 agosto de 2019 de http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/rosadosventos/article/view/431
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), consideram-no “fora das contradições da sociedade capitalista” (p. 394). Para o autor, as teorias predominantes o “colocam no campo funcionalista do equilíbrio e da harmonia nas relações sociais [...]. Significa dizer que reproduzem um discurso deslocado da realidade econômica, política e social brasileira” (p. 397).

As abordagens teóricas atuais, genericamente, podem ser divididas em duas vertentes: as que o entendem como um sistema econômico formado por uma série de empresas públicas e/ou privadas, responsáveis pela oferta de serviços turísticos e produtos voltados ao lazer; e àquela associada às necessidades psicossociológicas dos turistas (Dias, 2005Dias, R. (2005). Introdução ao turismo. São Paulo: Atlas.). A Organização Mundial do Turismo reforça o seu caráter econômico complexo, pela diversidade de elementos multiplicadores vinculados (Organização Mundial do Turismo [OMT], 2001Organização Mundial do Turismo - OMT. (2001). Introdução ao Turismo. São Paulo: Roca.). Os teóricos que relacionam o turismo a uma prática social e cultural orientada a atender as necessidades dos turistas, que geram diferentes interações sociais entre sujeitos envolvidos no fenômeno, não costumam, do mesmo modo, abordá-lo em suas práticas que levam à exclusão de amplas camadas sociais.

Em tempos recentes, a reflexão sobre turismo tem apresentado novos aportes. Gastal e Moesch (2007Gastal, S. A., & Moesch, M. M. (2007). Turismo, políticas públicas e cidadania. São Paulo: Aleph.) adentram o turismo como um campo de práticas histórico- sociais, pressupondo o deslocamento de sujeitos em tempos e espaços diferentes dos de suas rotinas, em ações pautadas por subjetividades que possibilitam o afastamento concreto e/ou simbólico do cotidiano. Perazzolo, Santos e Pereira (2013aPerazzolo, O. A., Santos, M. M. C. dos, & Pereira, S. (2013a). O acolhimento - ou hospitalidade turística - como interface possível entre o universal e o local no contexto da mundialização. Pasos - Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(1), p. 45-55. Recuperado em 30 agosto de 2019 de Recuperado em 30 agosto de 2019 de http://www.pasosonline.org/Publicados/11113/PS0113_04.pdf
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) teorizam ser necessário pensar em tessituras conceituais que envolvam as pessoas que protagonizam histórias e vivências turísticas, para compreender as motivações que consolidam tais processos em seu cotidiano.

Para Perazzolo et al. (2013bPerazzolo, O. A., Santos, M. M. C. dos, & Pereira, S. (2013b) Dimensión relacional de la acogida. Estudios y perspectivas en Turismo, 22(1), 138-153. Recuperado em 30 agosto de 2019 de Recuperado em 30 agosto de 2019 de https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5131413
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), os estudos relacionados à vertente socioeconômica do turismo não podem se dissociar de outras áreas que fornecem ferramentas e subsídios capazes de examinar diferentes perspectivas desse fenômeno. Sem desqualificar as demais dimensões, a complexidade do fenômeno convida a uma ampliação de sua abrangência teórica incluindo outras reflexões, que considerem a dinâmica da natureza humana, levando a um melhor entendimento das motivações e dos impulsos que incentivem experiências para além das rotinas espaço-temporais dos sujeitos.

O desejo intrínseco à busca pelo novo e pelo desconhecido presentes em outros lugares pode ser potencializado ou precarizado pelas relações de acolhimento estabelecidas (Perazzolo et al., 2013bPerazzolo, O. A., Santos, M. M. C. dos, & Pereira, S. (2013b) Dimensión relacional de la acogida. Estudios y perspectivas en Turismo, 22(1), 138-153. Recuperado em 30 agosto de 2019 de Recuperado em 30 agosto de 2019 de https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5131413
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). Segundo as autoras, tal impulso “concebido no terreno psicoantropológico tal como se caracterizam na essência a contribuição da psicanálise, aponta para caminhos que levam à construção simbólica do homem na busca interminável do que não pode ser conhecido.” (p 142). O turismo, para as autoras, pode ser compreendido como um fenômeno humano-social, desencadeado pela pulsão de errância, o sair a esmo, “assentado na lembrança contínua da impermanência das coisas” (Idem), que constitui suas memórias e lembranças, conhecimentos com o outro. Assim, o fenômeno se institui na própria experiência desse sujeito, que, por meio do imaginário, espia e busca sentidos a elementos do mundo sensível, desencadeando um processo de aprendizagem por e pelo turismo (Perazzolo et al., 2013a; 2013b). Mas esse processo, ideal ou idealizado, mantém-se como prática exclusiva de certos grupos sociais e excludentes para outras camadas sociais menos abonadas.

PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS DA PESQUISA

O Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) surgiu como proposta qualitativa de superação das limitações dos métodos puramente quantitativos, para registrar o pensar de uma determinada comunidade sobre questões que lhes fossem apresentadas. Idealizado por Lefevre e Lefevre (2003Lefevre, F., & Lefevre, A. M. C. (2003). O discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em pesquisa qualitativa (Desdobramentos). Caxias do Sul, RS: Educs.), o procedimento de pesquisa foi inicialmente aplicado à grande área da saúde, para avaliar a satisfação de usuários em relação aos serviços disponibilizados na rede pública. O que os autores tratam como metodologia consiste em uma proposta de organização e tabulação de dados qualitativos de natureza verbal na sua sistematização, buscando avançar do individual presente nas falas recolhidas pela pesquisa a uma síntese significativa de um pensamento coletivo no que se refere a temáticas previamente estabelecidas ou emergentes no corpus de pesquisa.

No DSC, segundo Lefevre e Lefevre (2003Lefevre, F., & Lefevre, A. M. C. (2003). O discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em pesquisa qualitativa (Desdobramentos). Caxias do Sul, RS: Educs.), são coletados discursos individuais de pessoas que compartilham determinada experiência da realidade, sujeitos do mesmo meio social e que possam ser considerados figuras representativas do mesmo. Esses discursos constituem a matéria-prima de potenciais resultados coletivos, trabalhando especialmente sua discursividade linguística e semiótica na construção de sentido. Para que o DSC obtenha discursos relevantes e que possam contribuir para o cumprimento dos objetivos propostos às investigações, é preciso que as perguntas sejam abertas, oferecendo a possibilidade de maior liberdade ao depoente nas respostas.

Coletados os dados em entrevista, escrita ou gravada, neste caso seguindo- se sua transcrição literal e na íntegra, realizam-se a sistematização das ideias centrais e/ou as ancoragens e suas respectivas expressões-chave. A partir dessa sumarização, elencadas as expressões-chave, articula-se o discurso-síntese, redigido na primeira pessoa do singular. Este corresponderá ao Discurso do Sujeito Coletivo, ou seja, um ‘eu’ coletivizado representando o pensamento social. Se, na coleta, emergirem posicionamentos antagônicos ou de contradições expressivas, será necessário organizar mais de um discurso-síntese para aquele corpo social.

RESULTADOS

Como abordado anteriormente, a discussão teórica sobre as viagens e o turismo é bastante abrangente, o que levou a se questionar como uma comunidade periférica em termos territoriais, econômicos, sociais e culturais, se posicionaria em relação ao turismo. O Quadro 1 apresenta recortes de entrevistas realizadas em 2017-2018, com onze moradores da Cooperativa Habitacional Marianinha de Queiroz. Para o presente momento, sistematizam-se as expressões-chave das respostas à pergunta aberta, que inqueria os sujeitos sobre o que consideravam como turismo.

A metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo propõe “reconstruir, a partir de discursos individuais, como um quebra-cabeça, tantos discursos-síntese se julguem necessários para expressar uma dada ‘figura’, ou seja, um dado pensar ou representação social de um fenômeno” (Lefevre & Lefevre, 2003Lefevre, F., & Lefevre, A. M. C. (2003). O discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em pesquisa qualitativa (Desdobramentos). Caxias do Sul, RS: Educs., p. 19). Pretendeu-se, portanto, escutar os indivíduos reais, concretos, que responderam livremente à questão colocada, mantendo-se na transcrição a oralidade das falas.

Quadro 1
Turismo nas falas dos moradores da Coopemarqued d Ressalta-se que não foi utilizado nenhum software para a análise dos discursos.

Os conteúdos das falas da comunidade geraram dois discursos-síntese correspondentes aos Discursos do Sujeito Coletivo, como descritos no Quadro 1 e assim sistematizados:

DSC1: Viajar é bom, você interage com pessoas e se trabalhar com turismo, você conhece pessoas novas e aprende com elas. Turismo é sair da rotina, sair com o objetivo de conhecer lugares, relaxar, passear. Também é conhecimento, porque no turismo se conhece lugares novos, e diferentes e também coisas novas, mesmo que na sua cidade e/ou com pouco dinheiro. Remete a lugares antigos, históricos como museus, que são espaços de conhecimento. O turismo é feito para se divertir, brincar, sem preocupações e sem pressa. É lazer nas férias, viajar sem rumo, poder ficar em hotel. Ele movimenta a área de destino e a economia do lugar. Hoje é mais fácil viajar, tem agência de viagem, mas eu nunca entrei num museu.

DSC2: Turismo é pra quem tem dinheiro e pode consumir o que quiser, pra quem não precisa trabalhar para sobrevive. Eu só conheço um museu porque é de graça. A cidade não me dá condição de conhecer ela, problema de logística. Pobre não viaja, só quem sabe o que é turismo é quem viaja. O turismo é prejudicial pro morador local porque é pensado pra quem tem dinheiro, o preço das mercadorias sobe, o empresário não diferencia morador de turista. Fazem turismo pessoas normalmente aposentadas e empresários. Eu não conheço Gramado, por exemplo, porque não tenho poder aquisitivo.

Para que fosse possível uma análise coerente da amostra, portanto, fez-se necessário separar os discursos em duas sínteses, DSC1 e DSC2, respectivamente, uma vez que abarcam aspectos opostos. De um lado (DSC1), há o sujeito que associa o turismo ao sair da rotina de forma despreocupada e descompromissada, aspectos que remetem ao imaginário consagrado pelo turismo moderno, especialmente pelo turismo de massa. Consideram, entretanto, que os deslocamentos desencadeados no ‘fazer turismo’ podem se dar no interior da cidade e que o acesso pode ser tanto ao agora dos lugares, como ao seu passado, quando citam os museus como referência, o que remeteria a concepções mais contemporâneas da atividade. Assim, é possível considerar que se trata de discursos pautados na inclusão. Contudo, há que se considerar que o contraponto apresentado no DSC2 divide o posicionamento dos sujeitos. Porque, embora considerem os elementos apresentados no DSC1, ponderam que o turismo ainda é um privilégio de desfrute para os mais abastados em termos econômicos. Nesse sentido, podem ‘fazer turismo’ pessoas que possuam condições financeiras para tal. Além disso, consideram o turismo algo prejudicial à cidade em que residem, porque os preços das mercadorias e dos serviços são elevados em razão dos fluxos de visitantes, prejudicando o morador. Ou seja, tratar-se-ia de uma relação estritamente comercial. Outra consideração importante, a cidade não facilitaria a logística de deslocamento aos pontos urbanos centrais para aqueles que moram em bairros periféricos. Citam, ainda, que embora residam em cidade vizinha a Gramado, um dos destinos turísticos mais importantes do Brasil, não podem subsidiar uma viagem até lá, em razão dos altos custos praticados naquela localidade. Tais colocações destacam o turismo como uma atividade excludente e capitalista, levando-os a se sentirem excluídos das benesses da experiência turística.

O que se percebe é que há uma referência ao processo de inclusão e de exclusão que permeia a fala dos entrevistados de modo contundente. De um lado, aqueles moradores cujo o posicionamento reforça a inclusão e que se aproximam significativamente a uma vertente teórica que relaciona o turismo a uma prática social e cultural de atendimento às necessidades psicossociológicas dos turistas, desencadeando interações entre agentes promotores da atividade, sujeitos turistas, sujeitos não turistas e sujeitos potenciais turistas. Nesse sentido, os entrevistados referem que viajar promove interação, pois incentiva a conhecer pessoas e a aprender com elas (Perazzolo et al., 2013bPerazzolo, O. A., Santos, M. M. C. dos, & Pereira, S. (2013b) Dimensión relacional de la acogida. Estudios y perspectivas en Turismo, 22(1), 138-153. Recuperado em 30 agosto de 2019 de Recuperado em 30 agosto de 2019 de https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5131413
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).

Além disso, no DSC1, pode-se destacar o insistente posicionamento de que fazer turismo é sair da rotina, conhecer lugares e pessoas diferentes, mesmo que seja em sua própria cidade de residência, afirmações que retomam o proposto por Gastal e Moesch (2007Gastal, S. A., & Moesch, M. M. (2007). Turismo, políticas públicas e cidadania. São Paulo: Aleph.). Para as autoras, o turismo pressupõe o deslocamento de sujeitos em tempos e espaços diferentes de seus habituais e, para tanto, lembram que esse afastamento concreto e/ou simbólico pode se dar nos limites da cidade de residência, desde que a subjetividade esteja permeada pelo desejo de distanciar-se do cotidiano, e pelo estranhamento associado a tais vivências. Corroboram com a reflexão Perazzolo et al. (2013bPerazzolo, O. A., Santos, M. M. C. dos, & Pereira, S. (2013b) Dimensión relacional de la acogida. Estudios y perspectivas en Turismo, 22(1), 138-153. Recuperado em 30 agosto de 2019 de Recuperado em 30 agosto de 2019 de https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5131413
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), para quem o desejo de deslocamento é intrínseco ao sujeito, que se movimenta na busca constante pelo novo, o desconhecido, e para quem o processo de conhecer é potencializado pelas relações de acolhimento. Há um processo de aprendizagem por e pelo turismo, podendo se aproximar os fragmentos do discurso que remetem ao conhecimento e à aprendizagem possível por meio dos deslocamentos turísticos. O DSC2, por sua vez, remete a um discurso de exclusão, quando os entrevistados afirmam que turismo é uma atividade para quem tem dinheiro. Alegam não conhecer a própria região e que visitam atrativos ou equipamentos culturais apenas quando o acesso a eles é gratuito. Aproximam-se do abordado em termos da constituição das práticas de viagem ao longo da história ocidental, como privilégio de grupos minoritários, sendo negado aos desabonados inclusive o descanso, além do ócio. Para os entrevistados, a distinção social pela possibilidade de viajar a que discorre Boyer (2002Boyer, M. (2002). El turismo en Europa, de la Edad Moderna al siglo XX. Historia contemporánea, 25, 13-31. Recuperado em 01 agosto de 2019 de Recuperado em 01 agosto de 2019 de https://eco.mdp.edu.ar/cendocu/repositorio/00924.pdf
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) não os alcança, pois, em suas palavras, precisam trabalhar para sobreviver e seus ganhos não permitem o usufruto da atividade que, nesses termos, se apresenta como privilégio de classe, ou seja, de uma classe social da qual não pertencem. O autor acrescenta, e essa pesquisa corrobora que, ainda nos anos 2000, o turismo é uma distração que continua acumulando um não público, aquelas camadas sociais que nunca representaram número expressivo de viajantes ao longo da história das viagens. Quando os entrevistados se referem ao turismo como prejudicial ao morador local, principalmente por inflacionar valores de mercadorias e serviços, permite pensar com Coriolano (2006Coriolano, L. N. M. T. (2006) O Turismo nos discursos, nas políticas e no combate à pobreza. São Paulo: Annablume.), para quem o turismo pós- fordista incita discussões de cunho social, ambiental e econômico. As preocupações emergem dos próprios turistas em relação aos destinos, muito embora, conforme os dados coletados, há a percepção de que são também os moradores os principais críticos a esse modelo de turismo que se expande comercialmente, baseado apenas no econômico.

ENCAMINHAMENTOS PROVISÓRIOS

Este estudo parte de uma jornada de pesquisa mais ampla que tem levado a observações e imersões em espaços outros e de outros, que não aqueles academicamente cêntricos. Buscam-se, em termos mais amplos, inflar a discussão e visibilizar a voz do morador de periferia em suas relações com o turismo, vivenciado ou apenas percebido. Adota-se como viés de investigação a diversidade de abordagens metodológicas, que no presente caso priorizou o Discurso do Sujeito Coletivo, por afinidade de concepção ao proposto para investigação.

Dois encaminhamentos colocam-se aprioristicamente, para fins de reflexão conclusiva ao proposto no presente artigo, e que emergem da coleta de dados. Primeiro, a forte ênfase teórica e das práticas de mercado, que destacam o turismo como atividade econômica, eminentemente urbana na sua gênese. Segundo, a organização da cidade, que leva à exclusão das camadas populares dos seus espaços centrais, reservados às elites. Somados os dois encaminhamentos, conclui-se que, se historicamente a cidade se organiza de forma a excluir camadas significativas de sua população, o turismo seguirá a mesma lógica excludente. Mesmo quando a atividade passe a envolver públicos mais significativos em decorrência de avanços dos meios de transporte e outras tecnologias, tal se dará como nichos de mercado, ou seja, com poucas inclusões e muitas exclusões. Significa dizer que os custos para que as viagens em busca de lazer aconteçam, excluem as classes sociais já desprivilegiadas em termos territoriais, sociais e culturais. A exclusão territorial realimenta a exclusão econômica e gera interditos ao usufruto da própria cidade central, da cultura e de outros serviços especializados, caso do turismo. Em outras palavras, o direito à cidade, à cultura e às viagens de lazer, que deveriam ser garantidos a todas as camadas sociais, realimenta- se como exclusão, entre outros, do pleno exercício da cidadania. Comunidades que se organizam para buscar a posse de terrenos, mesmo que em espaços urbanos periféricos - caso da Marianinha de Queiroz -, não garantem o rompimento das teias da exclusão. Às periferias urbanas não se costuma disponibilizar serviços especializados, inclusive de lazer e cultura, o que é agravado pela precariedade em termos de mobilidade. As soluções para as precariedades incluem-se como utópicas, pois aos periféricos não se autoriza, ainda, a participação em políticas e lógicas de planejamento urbano pensadas a partir das carências e suas possíveis soluções.

Para realizar uma reflexão crítica sobre tais situações, foram entrevistados moradores de comunidade periférica sobre o turismo e sobre seus posicionamentos em relação a ele, provocação a partir da qual o estudo tomou forma. Os resultados obtidos demonstram que as condições socioeconômicas afetam seu acesso às viagens e que mesmo os deslocamentos no interior da própria cidade não são facilitados, impossibilitando que moradores periféricos exerçam atividades alimentadas por descobertas e estranhamentos, como se turistas fossem. Associando as viagens ao conhecimento de lugares novos e de visita a museus, ao lazer e ao descompromisso, é possível perceber que os entrevistados reconhecem o turismo como um momento de escape à rotina habitual. Sair para ‘fazer turismo’ é uma forma de interagir com os lugares visitados, com pessoas novas e de aproveitar períodos curtos ou longos de vacância, desde que os custos sejam acessíveis. Os deslocamentos intracidade demonstram ser possível separar o tempo de lazer do tempo de trabalho, ativando a qualidade de vida dos envolvidos. A expulsão das massas pobres do espaço cêntrico da cidade compromete o exercício de sua cidadania e o desfrute do turismo, que, ao incluir, exclui. Ambos, inclusão e exclusão, pautados pelo status financeiro dos sujeitos.

A tentativa aqui proposta de estabelecer uma relação entre turismo e periferia não encerra a longa caminhada que a complexidade que ambas as temáticas carregam. Porém, o que se pretende, em pesquisas geradas e alimentadas no âmbito acadêmico, é justamente subsidiar novos questionamentos que busquem, na imensidão de possibilidades associadas ao pensamento crítico, práticas turísticas mais humanizadas - mesmo que sejam nesse momento ainda utópicas. No seu atual estágio do estudo, já tendo sido realizadas jornadas de pesquisa, observação e imersão em espaços outros, concretizou o objetivo de dar visibilidade à voz do morador da periferia em relação ao turismo.

Nesse sentido, e naquele que se acredita ser um outro turismo possível, o campo empírico pode ser considerado um importante impulso na direção da maior compreensão de ambos os fenômenos. A prática investigativa, aqui empregada, permitiu às pesquisadoras um papel social necessário ao buscar o posicionamento do sujeito comum, habitante de um mundo corriqueiramente associado a outro mundo, mas que também é participante ativo nas transformações da sociedade. Uma das autoras, moradora da Coopemarque e também pesquisadora na Universidade, amplia a responsabilidade social e acadêmica de viabilizar tal discussão.

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  • b
    Salário mínimo vigente no ano de 2019.
  • c
    Ressalta-se que esses dados contemplam os resultados de uma pesquisa censitária realizada na comunidade no mês de agosto de 2019, no âmbito de uma pesquisa mais ampla.
  • d
    Ressalta-se que não foi utilizado nenhum software para a análise dos discursos.
  • e
    O entrevistado trabalhava como motorista de ônibus e caminhão.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Mar 2021
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2021

Histórico

  • Recebido
    07 Dez 2019
  • Aceito
    19 Maio 2020
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