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PERCEPÇÕES DE STAKEHOLDERS SOBRE O TURISMO: UM ESTUDO NO MUNICÍPIO DE SÃO SEBASTIÃO, SP

STAKEHOLDERS’ PERCEPTIONS ON TOURISM: A STUDY IN THE MUNICIPALITY OF SÃO SEBASTIÃO, SP

PERCEPCIONES DE LOS GRUPOS DE INTERÉS SOBRE EL TURISMO: UN ESTUDIO EN EL MUNICIPIO DE SÃO SEBASTIÃO, SP

RESUMO:

Lidar com stakeholders é algo complexo, mas o mapeamento e a construção de uma articulação sustentável entre eles são fundamentais para a evolução do turismo. Analisamos a percepção de stakeholders (moradores, turistas, empresários e funcionários públicos) e diferenças entre esses grupos sobre as atividades turísticas no município de São Sebastião (SP). Um levantamento contemplou as esferas da economia, do meio ambiente e do bem-estar social. Há diferença de percepções entre esses grupos em quatro de oito aspectos: 1) felicidade com a forma de como o turismo está sendo desenvolvido; 2) aumento do turismo melhora a economia local; 3) desenvolvimento do turismo aumenta a qualidade de vida; e 4) economia local é mais importante do que as suas preocupações ambientais. Diferem os empresários e os demais stakeholders acerca de aspectos econômicos. Diferem também turistas e demais stakeholders quanto ao desenvolvimento do turismo no município. Os empresários olham o turismo de forma mais favorável. Cogita-se que os resultados tenham sofrido alguma influência contextual, já que outros estudos reportam perfis perceptuais distintos. Este artigo contribui: a) ao mostrar a aplicação de um método de mapeamento de percepções de stakeholders; b) alertando gestores públicos e privados quanto à relevância desses agentes e dessas informações.

PALAVRAS CHAVES:
Stakeholders; Percepções; Turismo

ABSTRACT:

Dealing with stakeholders is a complex issue, but mapping and building a sustainable partnership between them is fundamental for the development of tourism. This paper analyzes the perceptions of stakeholders (residents, tourists, entrepreneurs and public officials), and the differences between these groups, on tourist activities in the municipality of São Sebastião - São Paulo, Brazil. A survey was performed that considered the spheres of economy, environment and social welfare. There were differences in perceptions between these groups in four out of eight aspects: 1) happiness with the way tourism is being developed in the municipality; 2) increased tourism improves the local economy; 3) the development of tourism increases the quality of life; and 4) the local economy is more important than its environmental concerns. The perspectives of the entrepreneurs and other stakeholders differed in relation to economic aspects. They also differed in relation to the development of tourism in the municipality. The entrepreneurs looked at tourism more favorably. The results of this study had some contextual influence, and other studies reported different perceptual profiles. This paper contributes to knowledge: a) by showing a method for mapping stakeholders’ perceptions; b) by alerting government officials and private managers that intervene in tourism to the importance of these agents and this information.

KEYWORDS:
Stakeholders; Perceptions; Tourism

RESUMEN:

Tratar con los stakeholders es complejo, pero mapear y construir una asociación sostenible entre ellos es fundamental el turismo. Analizamos la percepción de los stakeholders (residentes, turistas, empresarios y empleados públicos) y las diferencias entre estos grupos sobre las actividades turísticas en el municipio de São Sebastião (SP). Una encuesta analizó las esferas de la economía, el medio ambiente y el bienestar social. Hay una diferencia de percepciones entre estos grupos en cuatro de ocho aspectos: 1) felicidad con la forma en que se está desarrollando el turismo; 2) el aumento del turismo mejora la economía local; 3) el desarrollo turístico aumenta la calidad de vida; y 4) la economía local es más importante que sus preocupaciones ambientales. Se diferencian empresarios y otros stakeholders en aspectos económicos. También difieren entre los turistas y otros stakeholders con respecto al desarrollo del turismo. Empresarios miran el turismo más favorablemente. Se supone que los resultados han tenido cierta influencia contextual, ya que otros estudios informan diferentes perfiles de percepción. Este artículo contribuye: a) para mostrar la aplicación de un método de mapeo de las percepciones de los interesados; b) alertar a los administradores públicos y privados sobre la relevancia de estos agentes y de esta información.

PALABRAS CLAVE:
Stakeholders; Percepciones; Turismo

INTRODUÇÃO

A conciliação do bem-estar social com a necessidade de crescimento econômico tem levado nações a iniciativas sustentáveis em diversas áreas. Uma dessas frentes, no Brasil, radica no turismo, do qual se esperam expansão e evolução proeminentes. Avanços: a) na oferta, como nos novos destinos receptores e na melhoria da infraestrutura turística; b) na demanda, por exemplo, mais propensão dos residentes a viajar pelo próprio país e incremento do fluxo internacional para cá (Costa, Amâncio- Vieira, Alexandre & Carmona, 2016Costa, B. K., Amâncio, S. F., Alexandre, M. L. O, & Carmona, V. C. (2016). Articulação de Stakeholders e Estratégias no Setor Turístico Brasileiro: uma Investigação em Localidades. Revista de Administração FACES Journal, 15(3), 8-26. ). A efetividade de tais realizações e resultados, todavia, tem um requisito não raramente esquecido: o conhecimento e a articulação dos stakeholders (aqueles que afetam e são afetados) que vivem e movimentam um espaço turístico.

Diversas pesquisas a respeito de percepções dos stakeholders no turismo destacam a possibilidade de uma lacuna entre dois grandes lados: a) comunidades locais e outros atores com pouca influência no planejamento; b) atores poderosos que podem influenciar os projetos e/ou realmente realizá-los (Jalani, 2012Jalani, J. O. (2012). Local people’s perception on the impacts and importance of ecotourism in Sabang, Palawan, Philippines. Procedia-Social and Behavioral Sciences, 57(1), 247-254. ; Ahn, Hyun & Kim, 2016Ahn, Y. J., Hyun, S. S., & Kim, I. (2016). City residents’ perception of MICE city brand orientation and their brand citizen ship behavior: A case study of busan, South Korea. Asia Pacific Journal of Tourism Research, 21(3), 328-353. ; Randle & Hoye, 2016Randle, E. J., & Hoye, R. (2016). Stakeholder perception of regulating commercial tourism in Victorian National Parks, Australia. Tourism Management , 54, 138-149. ; Dominguez-Gómez & Gonzáles-Gómes, 2017Dominguez-Gómez, J., & Gonzáles-Gómez, T. (2017); Analysing stakeholders’perceptions of golf-course-based tourism: A proposal for developing sustainable tourism projects”. Tourism Management , 63(1), 135-143. ). Todavia, compreender e levar em conta as posturas dos grupos envolvidos, afetados e/ou interessados em projetos e atividades turísticas (o que, por extensão, atinge o planejamento urbano), ajudam a torná-los socialmente mais inclusivos, politicamente mais equitativos, eticamente mais adequados e, no geral, mais sustentáveis (Flyvbjerg, 1998Flyvbjerg, B. (1998). Rationality and Power: Democracy in practice. Chicago: University of Chicago Press. ).

Para ilustrar essa perspectiva, Dominguez-Gómez e Gonzáles-Gómes (2017Dominguez-Gómez, J., & Gonzáles-Gómez, T. (2017); Analysing stakeholders’perceptions of golf-course-based tourism: A proposal for developing sustainable tourism projects”. Tourism Management , 63(1), 135-143. ) identificaram percepções de stakeholders que influenciam - versus as que não afetam - o desenvolvimento de um projeto de turismo esportivo. Viram nos stakeholders influentes um discurso tradicionalista desenvolvimentista, com referências genéricas a crescimento, desenvolvimento econômico da área, melhoria da qualidade dos serviços, planejamento urbano e paisagismo. Já nos stakeholders não influentes havia uma visão menos positiva dos efeitos de projetos esportivos na área, com um sentimento de “agressão” e de perda de valores típicos locais (culturais, ambientais, patrimoniais). Ligam essas díspares perspectivas ao fato de os stakeholders influentes terem sido mais favorecidos economicamente pelo projeto; os não influentes, menos beneficiados, se postavam mais críticos. Também foram investigadas, entre outras, as percepções: a) de turistas que visitaram repetidas vezes um país (Wickens, 2004Wickens, E. (2004). Repeat visitor - host encounters: a case study from Greece. Tourism , 52(2), 143-150. ); b) sobre patrimônio histórico (Poria et al., 2006Poria, Y., Biran, A., & Reichel, A (2006). Tourist perceptions: personal vs. nonpersonal. Journal of Heritage Tourism , 1(2), 121-132. ); c) divergência e convergência de grupos de stakeholders nos domínios econômico, social e ambiental de destinos turísticos (Hardy e Beeton, 2001Hardy, A., & Beeton, R. (2001). Sustainable tourism or maintainable tourism: managing resources for more than average outcomes. Journal of Sustainable Tourism , 9(3), 168-192. ; Byrd et al., 2009Byrd, E., Boesley, H., & Dronberger, M. (2009). Comparisons of stakeholder perceptions of tourism impacts in rural eastern North Carolina. Tourism Management, 30(5), 693-703. ). Hardy e Beeton (2001Hardy, A., & Beeton, R. (2001). Sustainable tourism or maintainable tourism: managing resources for more than average outcomes. Journal of Sustainable Tourism , 9(3), 168-192. ), por exemplo, identificaram que moradores, operadores e reguladores divergiam nas suas principais preocupações sobre o turismo em um município na Austrália. Moradores preocupavam-se mais com os efeitos do turismo na comunidade local. Aos operadores interessavam mais fatores do produto turístico, como sua qualidade, marketing e satisfação do turista. A prioridade dos reguladores recaía na infraestrutura. Já em Byrd et al. (2009Byrd, E., Boesley, H., & Dronberger, M. (2009). Comparisons of stakeholder perceptions of tourism impacts in rural eastern North Carolina. Tourism Management, 30(5), 693-703. ), numa zona rural da Carolina do Norte (EUA), funcionários públicos concordavam mais (relativamente a moradores, turistas e empresários) com as seguintes afirmações: (a) o desenvolvimento do turismo aumenta a qualidade de vida da comunidade; (b) o desenvolvimento do turismo melhora a aparência da comunidade; (c) o aumento do turismo melhora a economia local. Hardy e Beeton (2001) recorrem a uma análise construtivista, enquanto Byrd et al. (2009) adotam uma positivista. No conjunto, esses esforços se complementam e impulsionam o arcabouço científico. No Brasil, os estudos sobre percepções na esfera do turismo ainda são poucos. Entre eles, estão: a) Decker et al. (2011) trataram de alunos de hotelaria na cidade de São Paulo; b) Carmo (2011) contemplou chefes de recursos humanos e pessoal de empresas ao lado de turistas nacionais e internacionais acerca do uso de piercings e tatuagens por funcionários de hotéis; c) Dalonso et al. (2016Dalonso, Y. S., Lourenço, J. M., & Remoaldo, P. C. (2016). A Importância do Natal nos Destinos de Gramado (Brasil) e Rovaniemi (Finlândia): um estudo a partir da percepção de Stakeholders. Revista Turismo em Análise , 27(1): 65-84. ) ligaram, em municípios, percepções de stakeholders às atrações do destino.

A descrição das percepções dos stakeholders enseja a gestão efetiva dos grupos no que tange a tópicos fundamentais ao turismo nas esferas econômicas, sociais e ambientais (Hardy & Beeton, 2001Hardy, A., & Beeton, R. (2001). Sustainable tourism or maintainable tourism: managing resources for more than average outcomes. Journal of Sustainable Tourism , 9(3), 168-192. ; Byrd et al., 2009Byrd, E., Boesley, H., & Dronberger, M. (2009). Comparisons of stakeholder perceptions of tourism impacts in rural eastern North Carolina. Tourism Management, 30(5), 693-703. ). Os econômicos afetam o turismo de diversas formas, desde a promoção da micro, pequena e média empresa (Wanhill, 2000Wanhill, S. (2000). Small and medium tourism enterprises. Annals of Tourism Research , 27(1), 132-147. ), até empregabilidade, sazonalidade da oferta & demanda e arrecadação tributária (Archer & Cooper, 2002Archer, B., & Cooper, C. (2002). Os impactos Negativos e positivos do turismo. THEOBALD, W. (Ed.). “Turismo Global”. São Paulo: SENAC. ; Cooper et al., 2007Cooper, C., Fletcher, J., Fyall, A., Gilbert, D., & Wanhill, S. (2007). Turismo: princípios e práticas. (3.ed.). Porto Alegre: Bookman. ). Os fatores sociais englobam a melhoria da qualidade de vida e o agravamento da criminalidade em função do turismo. Nesses moldes, o turismo pode melhorar aspectos espaciais e culturais (Alves, 2014Alves, M. (2014). Turismo e desenvolvimento local: a qualidade de vida sob a ótica da população do Arraial de Conceição do Ibitipoca - MG. Turismo em Análise, 25(3), 628-648. ) de um destino, mas também, num contrapeso, ser fonte de custo social, mediante mais crimes fomentados pelo “turista”, sua vulnerabilidade e o dinheiro que eles trazem (Fujii & Mak, 1980Fujii, E., & Mak, J. (1980). Tourism and crime: implications for regional development policy. Regional Studies, 14(1), 27-36. ). Neste sentido, pesquisar as percepções dos diferentes grupos de stakeholders pode possibilitar aos profissionais do turismo, incluindo os agentes públicos, novas informações que os auxiliem nas estratégias para o planejamento e desenvolvimento do turismo.

Nesse contexto, este artigo foca a seguinte questão: “Quais são as percepções dos stakeholders - e como elas convergem e divergem entre os grupos - sobre as atividades turísticas em um município?”. Objetiva-se: 1) propor um conjunto teórico de variáveis relevantes para o turismo; 2) analisar as percepções de quatro grupos: moradores, turistas, empresários e funcionários públicos do município de São Sebastião - SP; 3) verificar se os interesses econômicos prevalecem comparativamente aos ambientais, em especial porque São Sebastião é banhado pelo Oceano (sensível à poluição) e pela Mata Atlântica (ecossistema já bem degradado). Para tanto, as bases conceituais e teóricas pertinentes são examinadas a seguir, seguidas pelo método, resultados, discussão e considerações finais.

REVISÃO DA LITERATURA

Esta seção revisa a literatura, a começar pela Teoria dos Stakeholders, de natureza geral, e as especificidades das percepções dos stakeholders no turismo. Revisam-se, ademais, os tópicos destino turístico, desenvolvimento turístico, governo local e turismo, criação de empregos, economia local, qualidade de vida, criminalidade e preocupação ambiental no que tocam ao turismo.

Teoria dos Stakeholders e Percepção de Stakeholders no Turismo

Stakeholder, define Freeman (1984Freeman, R. (1984). Strategic management: A stakeholder approach. Boston: Pitman.), é “qualquer grupo ou indivíduo que possa afetar ou ser afetado pela realização dos objetivos da organização”. Interessam sobretudo as partes interessadas legítimas. Para Ackoff (1974Ackoff, R. L. (1974). Redesigning the future: A systems approach to societal problems. New York: Wiley. ), a legitimidade está nos stakeholders que a organização precisa para existir, especificamente clientes, fornecedores, funcionários, investidores e comunidades (Dunham et al., 2006Dunham, L., Freeman, R., & Liedtka, J. (2006). Enhancing stakeholder practice: A particularized exploration of community. Business Ethics Quarterly, 16(1), 23-42. ). Compreender as motivações, as necessidades e os recursos dos stakeholders é condição essencial para a eficácia na formulação de estratégias e planos também para o turismo (Murphy & Murphy, 2004Murphy, P. E.; Murphy, A. E. (2004). Strategic management for tourism communities: bridging the gaps. Clevedon: Channel View Publications. ).

A Teoria dos Stakeholders, devotada ao “pensamento das partes interessadas” sobre uma organização ou entidade, emergiu como narrativa para remediar três desafios interconectados: i) entender como o valor é criado e negociado; ii) conectar a ética e o capitalismo; iii) como se deve administrar para que os dois desafios anteriores sejam equacionados (Parmar et al., 2010Parmar, B. L., Freeman, R. E., Harrison, J. S., Wicks, A. C., Purnell, L., De Colle, S. (2010). Stakeholder Theory: the state of the art. Academy of Management Annals, 4(1), 403-445. ). Tal Teoria é um gênero que se desdobra numa variedade de usos de suas concepções.

Reconheceram na Teoria dos Stakeholders, Donaldson e Preston (1995Donaldson, T., & Preston, L. (1995). The stakeholder theory of the corporation: Concepts, evidence, and implications. Academy of Management Review, 20(1), 65-91. ), três dimensões: descritiva, instrumental e normativa. Na descritiva, descrevem-se e, às vezes, se explicam características e comportamentos organizacionais específicos, do que são exemplos: a) a natureza da organização; b) como os gestores pensam a gestão, c) como os membros de um conselho pensam os interesses dos grupos constituintes, d) como organizações são realmente gerenciadas. Na dimensão normativa, interpreta-se a função da organização, incluindo a identificação de diretrizes morais. A dimensão instrumental inclui o conhecimento de pensamentos e comportamentos em função dos fins que eles viabilizam alcançar; aqui se insere a “percepção” dos stakeholders, conceito central neste artigo. No exterior, a comunidade acadêmica do Turismo dedica um bom espaço às percepções dos grupos de stakeholders (Yuksel et al., 1999Yuksel, F., Bramwell, B., Yuksel, A. (1999). Stakeholder interview and tourism planning at Pamukkale, Turkey. Tourism Management , 20(3), 351-360.; Byrd et al., 2009Byrd, E., Boesley, H., & Dronberger, M. (2009). Comparisons of stakeholder perceptions of tourism impacts in rural eastern North Carolina. Tourism Management, 30(5), 693-703. ; Tkaczynski et al., 2009Tkaczynski, A., Rundle-Thiele, S. R., Beaumont, N. (2009). Segmentation: a tourism stakeholder view. Tourism Management , 30(2), 169-175. ; Pizzitutti et al., 2017Pizzitutti, F., Walsh, S. J., Rindfuss, R. R., Gunter, R., Quiroga, D., Tippett, R., & Mena, C. F. (2017). Scenario planning for tourism management: a participatory and system dynamics model applied to the Galapagos Islands of Ecuador. Journal of Sustainable Tourism , 25(8), 1117-1137. ). Nessa linha, Goeldner e Ritchie (2003Goeldner, C., & Ritchie, J. (2003). Tourism: Principles, practices, philosophies. (9th ed.). New Jersey: John Wiley & Sons, Inc. ) apontam quatro grupos chave: moradores, turistas, empresários e funcionários públicos. Até então, a maioria dos estudos se restringia a um ou alguns desses grupos, preponderando os de turistas (Wickens, 2004Wickens, E. (2004). Repeat visitor - host encounters: a case study from Greece. Tourism , 52(2), 143-150. ; Weaver & Lawton, 2004Weaver, D. B., Lawton, L. J. (2004). Visitor attitudes toward tourism development and product integration in an Australian urban-rural fringe. Journal of Travel Research , 42,286-296. ; Poria et al., 2006Poria, Y., Biran, A., & Reichel, A (2006). Tourist perceptions: personal vs. nonpersonal. Journal of Heritage Tourism , 1(2), 121-132. ) e de moradores (Andereck & Vogt, 2000Andereck, K., & Vogt, C. (2000). The relationship between residents’ attitudes toward tourism and tourism development options. Journal of Travel Research, 39(1), 27-36. ; Andereck et al., 2002). Poucos projetos incluíram empresários e funcionários públicos (McGehee, 1991; Clarkson et al., 2001; McGehee et al., 2006), e em número menor ainda eram as investigações que mapearam mais de um grupo de stakeholders (Hardy & Beeton, 2001Hardy, A., & Beeton, R. (2001). Sustainable tourism or maintainable tourism: managing resources for more than average outcomes. Journal of Sustainable Tourism , 9(3), 168-192. ; Byrd et al., 2009).

Iniciativas científicas recentes passaram a cobrir percepções dos vários grupos de stakeholders. Nessa esteira, Rosa et al. (2017Rosa, P., Carvalinho, L., & Soares, J. (2017). Developing a destination image through the perceptions of stakeholders: a case study. International Journal of Tourism Research , 20(1), 60-71. ), mirando o turismo em municípios, identificaram que a imagem cognitiva (por exemplo, crenças e conhecimento dos atributos de destino) é a principal influência na formação da imagem geral de um destino. Por sua vez, Ali et al. (2017Ali, F., Hussain, K., Nair, V., & Nair, P. (2017). Stakeholders’ perceptions & atitudes towards tourism development in a mature destination. Tourism, 65(2), 173-186. ) relatam as percepções de grupos de stakeholders sobre um maduro resort na Malásia. Nas implicações, realçam a importância, para a gestão estratégica do turismo, do alinhamento de necessidades e desejos dos grupos. Outros corroboram o fundamental papel das percepções de stakeholders no turismo para se chegar a estratégias mais integradas e inovadoras, capazes de lucrar com o potencial do ramo turístico (Remoaldo et al., 2017Remoaldo, P., Freitas, I., Matos, O., Lopes, H., & Silva, S. (2017). The Planning of Tourism on Rural Areas: The Stakeholders’ Perceptions of the Boticas Municipality (Northeastern Portugal). European Countryside, 9(3), 504-525. ). A satisfação dos residentes é tema recorrente nas pesquisas de marketing (Medeiros & Costa, 2016Medeiros, F., & Costa, F. (2016). Satisfação de residentes com seu lugar: definição e proposta de uma escala de mensuração de múltiplos itens. Revista - Turismo - Visão e Ação, 18(1), 83-105. ). Parte da literatura argumenta que as necessidades e os desejos dos moradores merecem precedência em comparação aos turistas, porém o desenvolvimento do turismo, com melhores resultados para todos, requer equilíbrio de benefícios e custos para os diversos grupos de stakeholders (Byrd et al., 2009Byrd, E., Boesley, H., & Dronberger, M. (2009). Comparisons of stakeholder perceptions of tourism impacts in rural eastern North Carolina. Tourism Management, 30(5), 693-703. ).

Percepções de Stakeholders

A percepção de stakeholders no Turismo espraia-se em múltiplas variáveis, como proteção ao meio ambiente, educação ambiental, restauração de patrimônio histórico, atividade turística sustentável, fundos para desenvolvimento turístico (Byrd et al., 2009Byrd, E., Boesley, H., & Dronberger, M. (2009). Comparisons of stakeholder perceptions of tourism impacts in rural eastern North Carolina. Tourism Management, 30(5), 693-703. ). Desse vasto leque, este artigo tomou, para o estudo empírico, destino turístico, desenvolvimento turístico, envolvimento do governo local no turismo, criação de empregos, melhora da economia local, melhora da qualidade de vida, aumento do crime e preocupações ambientais. Variáveis essas que são abordadas, agrupadas, na sequência.

Destino Turístico: a imagem de um município como destino turístico é influenciada por várias fontes de informação (promocionais formais e comunicação boca a boca dos que por lá já estiveram) e pelos seus principais traços históricos, culturais, simbólicos, infraestruturais, naturais, etc. (Um, & Crompton, 1990Um, S., & Crompton, J. L. (1990). Attitude determinants in tourism destination choice. Annals of Tourism Research , 17(3), 432-448. ; Fakeye, & Crompton, 1991Fakeye, P., & Crompton, J. (1991). Image differences between prospective, first-time, and repeat visitors to the lower Rio Grande Valley. Journal of Travel Research , 30(2), 10-16. ). A variedade, a quantidade e a qualidade das informações são antecedentes do componente perceptual/cognitivo da pessoa sobre a imagem de um destino (Baloglu, & McCleary, 1999Baloglu, S., & McCleary, K. (1999). A model of destination image formation. Annals of Tourism Research, 26(4), 868-897. ). Essas percepções, juntamente com as motivações funcionais e sociopsicológicas do turista, vão influenciar o componente afetivo nos sentimentos e nas atitudes acerca de um destino (Baloglu, & McCleary, 1999Baloglu, S., & McCleary, K. (1999). A model of destination image formation. Annals of Tourism Research, 26(4), 868-897. ).

Desenvolvimento Turístico: para o conceito de ‘desenvolvimento do turismo’ inexiste consenso na literatura. Pearce (1991Pearce, D. (1991). Tourist Development. (2nd ed.): Longman Scientific & Technical.) alega que tal desenvolvimento não inclui apenas destinos, origens, impactos e motivações, mas também as ligações complexas entre todos os stakeholders, num intrincado sistema global que integra a procura por turismo e a sua oferta. Toma-se aqui o ‘desenvolvimento turístico’ como um processo temporalmente evolutivo e qualificado do fenômeno turístico (Vieira, 2007Vieira, J. (2007). Planeamento e Ordenamento Territorial do Turismo: uma perspectiva estratégica. Lisboa: Editora Verbo. ) e que é percebido por aspectos socioculturais, econômicos e ambientais (Akbulut & Ekin, 2018Akbulut, O., & Ekin, Y. (2018). Percepciones y actitudes de la poblacion local hacia el turismo cinematográfico en el contexto del apego al lugar. Estudio y Perpectivas en Turismo, 27(3), 276- 294. ). Desenvolvimento esse atraente para os países ricos desenvolvidos (como França e Estados Unidos) e também para os demais. Em qualquer nação ou espaço, o desafio, para que esse desenvolvimento ocorra, é a reunião de adequadas condições e atrativos naturais, panorâmicos, históricos, arqueológicos, culturais e climáticos (Goeldner et al., 2002). Interessa sobremaneira a relação entre desenvolvimento turístico e a felicidade individual, no que três elementos influenciam: renda, qualidade de vida e comparação social. Conforme Rivera et al. (2016Rivera, M., Croes, R., & Lee, S. (2016). Tourism development and happiness: a residents’ perspective. Journal of Destination Marketing & Management, 5(1), 5-15. ), a comparação social é mais significante, ao passo que o bem-estar do indivíduo pode depender de seu nível de consumo comparativamente às pessoas com quem ele normalmente interage. Por exemplo, se a renda de um indivíduo subir e o diferencial com outros grupos seguir inalterado, a felicidade dele deve permanecer constante. Incide, pois, uma competição entre pares para superar os demais na escala social.

Governo Local e Turismo: é essencial unir o turismo às políticas públicas para que o setor cresça. As ações governamentais devem estar ligadas à associação da iniciativa privada com o terceiro setor de forma a estimular o desenvolvimento do turismo planejado e eficaz (Rigoldi et al., 2018Rigoldi, A., Spers, V., & Vieira, M. (2018). Políticas públicas de turismo en Brasil. Estudios y Perspectivas en Turismo, 27(3), 699-715. ). Apesar de o governo ser considerado fundamental no planejamento e na execução turística, a participação popular complementa e cada vez mais atinge o status de pedra angular de um turismo genuinamente sustentável (Lin & Simmons, 2017Lin, D., & Simmons, D. (2017). Structured inter-network collaboration: public participation in tourism planning in Southern China. Tourism Management , 63, 315-328. ; Teixeira et al., 2019Teixeira, F., Vieira, F., & Mayr, L. (2019). Turismo de base comunitária: uma abordagem na perspectiva da análise de clusters. Revista Turismo - Visão e Ação, 21(2), 02-21. ). Por longo período, o planejamento do turismo guiou-se pelo paradigma linear e racional, orientado pelas elites (Williams, 1998Williams, S. (1998). Tourism geography. London: Routledge .), que ignora as diferenças de valores e prioridades dos grupos de stakeholders. Por outro lado, a implementação do turismo sustentável obriga o reconhecimento dessa diversidade de grupos e da heterogeneidade que deles tipicamente emana a exigir esforços competentes para equilibrar seus interesses rumo à eficácia das intervenções turísticas. Nessa órbita, avultam a participação e o empoderamento dos vários stakeholders em todos os estágios de planejamento, incluindo a identificação de problemas e a tomada de decisão, bem como na subsequente implementação (Araujo & Bramwell, 1999Araujo, L., & Bramwell, B. (1999). Stakeholder assessment and collaborative tourism planning: The case of Brazil’s Costa Dourada project. Journal of Sustainable Tourism, 7(3-4), 356-378. ).

Turismo e Economia Local: as atividades de turismo são diversas e intensivas em mão de obra (Garsous et al., 2017Garsous, G., Corderi, D., Velasco, M., & Colombo, A. (2017). Tax Incentives and Job Creation in the Tourism Sector of Brazil’s SUDENE Area. World Development, 96(1), 87-101. ). Wanhill (2000Wanhill, S. (2000). Small and medium tourism enterprises. Annals of Tourism Research , 27(1), 132-147. ) estudou a promoção das pequenas e médias empresas turísticas, fontes de bases para que comunidades sejam empreendedoras e gerem ocupação e renda. A relação entre turismo e emprego tem sido escrutinada sob vários prismas: a) ligações entre incentivos fiscais e criação de empregos (Garsous et al., 2017); b) empregos em empresas de hospitalidade (Koens, & Wood, 2017Koens, A., & Wood, R. (2017). An analysis of international employment levels in hospitality occupations using secondary statistics. International Journal of Tourism Research, 19(5), 496-504. ); c) efeitos de eventos culturais no turismo e no emprego (Srakar, & Vecco, 2017). No seu conjunto, as pesquisas evidenciam um alto impacto do turismo na empregabilidade, em particular, e na economia, em geral (Mitchell & Ashley, 2010Mitchell, J., & Ashley, C. (2010). Tourism and Poverty Reduction: Pathways to Prosperity. London: Routledge. ; Stein et al., 2018Stein, A., Neto, E., & Dechechi, E. (2018). Reflexões sobre os impactos socioeconômicos do turismo no município de Foz do Iguaçu. Turismo: estudos e práticas, 7(2), 26-55. ).

Os impactos econômicos positivos do turismo abrangem empregos e ocupação; renda; impostos arrecadados; estrutura do destino; diversificação da estrutura produtiva local e regional, exportações (Mill & Morrison, 1985Mill, R., & Morrison, A. (1985). The tourism system: an introductory text. New Jersey: Prentice Hall International. ; Archer & Cooper, 2002Archer, B., & Cooper, C. (2002). Os impactos Negativos e positivos do turismo. THEOBALD, W. (Ed.). “Turismo Global”. São Paulo: SENAC. ; Mathieson & Wall, 2006Mathieson, A., & Wall, G. (2006). Tourism: change, impacts and opportunities. Harlow: Pearson Education. ; Cooper et al., 2007). Na vertente dos custos, destacam-se a sazonalidade da produção; a elevação da propensão a importar bens e serviços para satisfazer turistas; dependência do turismo; pressão inflacionária; maior carga tributária; empregos sazonais; pressão cambial. Em suma, o turismo exerce múltiplas e substantivas influências - tanto positivas quanto negativas - na economia do espaço que o abriga.

Turismo e Qualidade de Vida: na população de um arraial em Minas Gerais, continuadas atividades turísticas provocaram, segundo Alves (2014Alves, M. (2014). Turismo e desenvolvimento local: a qualidade de vida sob a ótica da população do Arraial de Conceição do Ibitipoca - MG. Turismo em Análise, 25(3), 628-648. ), melhorias na infraestrutura, nos serviços, na geração de emprego e renda, na convivência social. Para ele, o turismo tem potencial para melhorar a qualidade de vida, além da dimensão econômica. O turismo pode fomentar mudanças relevantes, notadamente na cultura e no espaço - natural e social - locais, elevando o padrão geral da vida (Souza, 2002Souza, M. (2002). Como pode o turismo contribuir para o desenvolvimento local? In: Rodrigues, A. Turismo e desenvolvimento local. São Paulo: Hucitec. ). Vianna e Stein (2015Vianna, S., & Stein, G. (2015). Competitividade e a Qualidade de Vida dos Residentes: Percepções Iniciais da Destinação Turística de Jericoacoara, CE. Revista Rosa dos Ventos, 7(4), 474-488. ) destacam que, para uma destinação ser considerada turística, deve “apresentar padrões mínimos de hospitalidade, a qual deve começar pela qualidade de vida dos residentes da destinação, ou seja, deve apresentar uma infraestrutura, acessos, sinalização, comércio e serviços de informações, hospedagem, alimentação”.

Turismo e Criminalidade: o crescimento do turismo tem um custo social, notadamente sob a forma de criminalidade. Fujii e Mak (1980Fujii, E., & Mak, J. (1980). Tourism and crime: implications for regional development policy. Regional Studies, 14(1), 27-36. ) indicam uma relação forte entre o movimento turístico e a criminalidade no destino visitado. Tal fenômeno prende-se a quatro razões. Primeiro, turistas são alvos lucrativos, uma vez que normalmente carregam boas quantias de dinheiro em espécie e objetos de valor. Segundo, turistas são vulneráveis na medida em que provavelmente se descuidam mais nas férias. Terceiro, sendo vitimados, turistas se mostram menos propensos a denunciar crimes ou a testemunhar contra suspeitos, pois geralmente ficam só no destino por um curto período. Por fim, um grande número de estranhos temporários, como os turistas em um destino, altera seu ambiente (Newman, 1974Newman, O. (1974). Defensible Space. New York: MacMillan. ; Fujii & Mak, 1980). Essa série de efeitos acarreta um sério problema de responsabilidade social para as partes interessadas no turismo.

Turismo e Meio Ambiente Natural: no turismo em geral, o meio ambiente natural é um atrativo na atração do turista. Nos destinos praianos, avultam as características do litoral, como a qualidade da água para o banho de mar e a preservação das paisagens. A poluição influencia consideravelmente no retorno ou não de visitantes a um destino (Krelling et al., 2017Krelling, A., Williams, A., & Turra, A. (2017). Differences in perception and reaction of tourist groups to beach marine debris that can influence a loss of tourism revenue in coastal areas. Marine Policy, 85(1), 87-99. ). Dwyer e Kim (2003Dwyer, L., Kim, C. (2003). Destination Competitiveness: Determinants and Indicators. Current Issues in Tourism , 6(5), 369-414. ) destacam como itens importantes na gestão ambiental o reconhecimento tanto pelo setor publico quanto pelo setor privado da importância de se desenvolver o turismo de forma sustentável, além da necessidade de leis e regulamentos que protejam o meio ambiente e o patrimônio, e de pesquisas e monitoramentos constantes dos impactos ambientais no turismo. De certo modo, a preservação natural converge com o interesse econômico no turismo ao reforçar a demanda pelo destino.

A Tabela 1 lista as variáveis que serão utilizadas na pesquisa empírica deste artigo, ao lado dos respectivos autores que delas tratam.

Tabela 1:
Variáveis de percepção de stakeholders avaliadas na pesquisa empírica deste artigo

As pesquisas sobre percepções de stakeholders no turismo se concentram na economia do destino, em variáveis como desenvolvimento da economia local e aumento de empregos (Perdue et al., 1990Perdue, R. R., Long, P. T., Allen, L. (1990). Resident support for tourism development. Annals of Tourism Research , 17(3), 586-599. ). Indo além, Milman e Pizam (1988Milman, A., Pizam, A. (1988). Social impacts of tourism on central Florida. Annals of Tourism Research , 15(2), 191-204. ) reportaram que as diferenças de percepções entre os grupos de stakeholders são mais acentuadas nos aspectos econômicos do que nos sociais e naturais. Todavia, passadas três décadas, insta saber como se passam essas relações entre tais grupos, particularmente numa realidade brasileira e do turismo.

Especificamente sobre divergências e convergências nas percepções turísticas de stakeholders, poucos trabalhos foram encontrados (Hardy & Beeton, 2001Hardy, A., & Beeton, R. (2001). Sustainable tourism or maintainable tourism: managing resources for more than average outcomes. Journal of Sustainable Tourism , 9(3), 168-192. ; Byrd et al, 2009Byrd, E., Boesley, H., & Dronberger, M. (2009). Comparisons of stakeholder perceptions of tourism impacts in rural eastern North Carolina. Tourism Management, 30(5), 693-703. ). Algumas pesquisas trabalharam as percepções turísticas de forma interpretativa. Por exemplo, foram comparados os destinos de Gramado (Brasil) e Rovaniemi (Finlândia), a partir das percepções de alguns entrevistados (por exemplo, secretária de turismo, representante de comunidade e pesquisador universitário) e se constatou, entre outros achados, que moradores, quando têm consciência da importância econômica do turismo para a região, tendem a ter melhor relação com os visitantes (Dalonso et al., 2016Dalonso, Y. S., Lourenço, J. M., & Remoaldo, P. C. (2016). A Importância do Natal nos Destinos de Gramado (Brasil) e Rovaniemi (Finlândia): um estudo a partir da percepção de Stakeholders. Revista Turismo em Análise , 27(1): 65-84. ).

MÉTODO EMPÍRICO

Planejou-se um esquema empírico descritivo da percepção dos multi-stakeholders acerca da atividade turística no município de São Sebastião, SP. Um questionário estruturado foi aplicado na plataforma on-line Survey Monkey, desembocando numa amostra de 544 pessoas, incluindo moradores, empresários, funcionários públicos e turistas. Questionário que compreendia aspectos econômicos, ambientais e de bem-estar.

MUNICÍPIO ESTUDADO

O município de São Sebastião, com cerca de 84 mil habitantes (IBGE, 2016), fica no Litoral Norte do Estado de São Paulo, tendo divisas com os municípios de Bertioga e Caraguatatuba. É banhado pelo Oceano Atlântico e está numa área de Mata Atlântica (uma biodiversidade peculiar). Abriga a praia de Maresias, um dos polos do surfe brasileiro. A cidade é o único ponto de travessia para se chegar à ilha da cidade Ilhabela, um destino bem valorizado. São Sebastião foi tomado, nesta pesquisa, por ser um dos mais procurados, no litoral paulista, por turistas, fruto de suas vantagens pró-turísticas.

Figura 1
Mapa do município de São Sebastião e de seu entorno

Na composição do questionário, 10 itens se baseiam em Byrd et al. (2009Byrd, E., Boesley, H., & Dronberger, M. (2009). Comparisons of stakeholder perceptions of tourism impacts in rural eastern North Carolina. Tourism Management, 30(5), 693-703. ), sendo dois atinentes à identificação e oito (tipo Likert) abordam aspectos do meio ambiente, da economia local e do bem-estar social. Os itens, originalmente em inglês, foram traduzidos para o português e, depois, vertidos novamente para o inglês por um conhecedor dos dois idiomas, com o cotejo das duas versões nessa língua estrangeira, na busca de tradução mais fiel à original (Brisin, 1970). As respostas foram dadas em uma escala de cinco pontos (Maddox, 1985Maddox, R. N. (1985). Measuring satisfaction with tourism. Journal of Travel Research , 23(3), 2-5. ), sendo 1 “discordo plenamente” e 5, “concordo plenamente”. A seguir, a Tabela 2 apresenta os itens referentes às variáveis.

Tabela 2:
Itens presentes no questionário

O link do questionário foi disponibilizado em redes sociais e também enviado com um convite aos stakeholders de um dos grupos visados pela pesquisa. Das 557 respostas obtidas, 13 foram descartadas por preenchimento incompleto; restaram 544 elementos na amostra. Deles, 57% são moradores; 23%, turistas; 10%, empresários; e 10%, funcionários públicos. Para a análise dos dados, utilizou-se a técnica estatística de Análise de Variância (ANOVA) acompanhada do Teste post hoc de Bonferroni. A técnica ANOVA permite descobrir se há diferença entre as médias das respostas dos stakeholders, enquanto o Teste de Bonferroni busca a diferença entre pares específicos (Hair et al., 2010). Ao se constatar diferenças de média entre as respostas dos grupos, identifica-se a diferença de percepções entre moradores, empresários, turistas e funcionários públicos, podendo, inclusive, descobrir a diferença entre pares específicos de grupos de stakeholders.

RESULTADOS

Nesta seção são, de início, expostas a caracterização da amostra e as distribuições das variáveis. Em seguida, entram os resultados da ANOVA e do Teste post hoc de Bonferroni.

Caracterização da Amostra

A amostra é composta por 57,54% dos respondentes do gênero feminino e 42,46% masculino. Apesar disso, os grupos de stakeholders envolvidos em atividades econômicas (empresários e funcionários públicos) apresentam maioria masculina. Nos empresários, 68,50% são masculinos; frente a 31,50%, femininos. Nos funcionários públicos, por sua vez, 61,10% são masculinos e 38,90%, femininos. Mulheres foram maiores nos grupos de moradores (63,55%) e de turistas (61,90%). A Figura 2 sintetiza a caracterização da amostra.

Figura 2
Caracterização da amostra

Resultados da Amostra Geral

Uma alta proporção dos stakeholders (74%) na amostra concordam que São Sebastião é um destino turístico (V5). Mas 51% não estão felizes com a forma como o turismo está sendo desenvolvido no município. Nesta variável há diferença entre as percepções de moradores e turistas: mais da metade (59%) dos moradores não estão felizes com o desenvolvimento do turismo na cidade, porém assim se apresenta menos de um terço (26%) dos turistas. Uma grande maioria dos respondentes (92%) acredita que o governo deve se envolver nas questões do turismo; na resposta “concordo plenamente” apenas, está o grupo dos funcionários públicos (70%), com o maior percentual.

Nos aspectos econômicos, a maioria dos stakeholders enxergou benefícios provenientes do turismo. Mais de 90% da amostra concorda que o turismo aumenta os empregos e 88% que melhora a economia local. Entre os grupos, contudo, há expressivas diferenças de percepção. Moradores e turistas foram os que menos concordaram com os benefícios. Funcionários públicos e empresários foram mais incisivos na concordância plena com o efeito do turismo, elevando a quantidade de empregos e melhorando a economia local.

No que tange à qualidade de vida, 68% da amostra acredita que ela melhora com o turismo, sendo que 15% da amostra se revela neutra a tal respeito. Nessa variável, também, empresários e funcionários públicos mais concordaram plenamente. Já moradores e turistas se posicionaram mais para neutralidade ou com uma concordância mais discreta.

A respeito de uma relação entre turismo e criminalidade, houve enorme variação de percepção entre os stakeholders: 29% concordam, 37% são neutros e 34% discordam. Dentre os grupos, de novo, o olhar mais positivo para o turismo vem de funcionários públicos e, principalmente, empresários. Dos funcionários públicos, 38% discordam que o turismo pode aumentar os crimes; enquanto nos empresários a percepção é de 42%. Nesta mesma linha, moradores apresentam 34% e turistas apresentam 28% de discordância.

Na afirmação sobre a economia local como mais importante do que as preocupações ambientais, apesar do período de dificuldade econômica e de falta de empregos no Brasil, grande maioria (74%) dos stakeholders discorda. Moradores (80%) e turistas (76%) foram os que mais discordaram da afirmação; funcionários públicos (57%) e empresários (53%) apresentaram menores percentuais de discordância.

Resultados dos Testes Estatísticos

A ANOVA apontou diferenças significativas (p<0,05) nas médias dos grupos de stakeholders em quatro das oito variáveis (Tabela 3 e Figura 3): V1) Eu estou feliz com a forma como o turismo está sendo desenvolvido em São Sebastião; V2) O aumento do turismo melhora a economia local; V3) O desenvolvimento do turismo aumenta a qualidade de vida da comunidade; V4) A economia local é mais importante do que as suas preocupações ambientais. Suporta-se, desse modo, a noção de divergências de percepção entre grupos de stakeholders quanto aos impactos do turismo.

Para cada uma das quatro variáveis com diferença significativa entre as médias das percepções de grupos, se rodou um Teste de Bonferroni, para conhecer os grupos que diferem. Em V1, diferenciam os turistas e todos os demais grupos (Moradores, Empresários e Funcionários Públicos). O teste F resultou em 12,607, apontando esta variável como a de maior efeito de diferença entre médias. Na V2, não houve diferença de percepção significativa entre os pares. O teste F = 2,739 apontou esta variável com a de menor efeito. Empresários divergiram de Moradores e Turistas acerca do aumento da qualidade de vida proveniente do turismo (V3). Os Empresários também divergiram dos Moradores a respeito da maior importância da economia local relativamente às preocupações ambientais (V4). A visão dos empresários foi sempre a mais positiva (V2 a V4). Por outro lado, nos moradores a percepção é menos otimista quanto os benefícios do turismo (V2 a V4).

Por outro, os itens sem diferenças significativas se mostraram: V5) Eu considero a cidade de São Sebastião como um destino turístico; V6) O governo local deve se envolver no desenvolvimento do turismo; V7) O turismo cria novos empregos; e V8) O desenvolvimento do turismo aumenta o crime.

Tabela 3:
Análise de Variância entre as médias das percepções dos grupos de stakeholders

Figura 3
Médias das percepções dos grupos de stakeholders nas variáveis com diferenças entre grupos

DISCUSSÃO

Entender os principais interesses dos stakeholders é requisito para o sucesso no desenvolvimento turístico de um destino. Os resultados empíricos deste artigo revelaram diferenças em quatro das oito variáveis nas percepções de grupos de stakeholders no município de São Sebastião, SP.

Os empresários são o grupo que mais destoa: diferem dos moradores nas variáveis: V3) o desenvolvimento do turismo aumenta a qualidade de vida da comunidade, e V4) a economia local é mais importante do que as suas preocupações ambientais; e dos turistas nas variáveis: V1) eu estou feliz com a forma como o turismo está sendo desenvolvido em São Sebastião e também V3. Apesar de todos os grupos, na média, concordarem com afirmações de que o turismo melhora a qualidade de vida de uma comunidade e também traz benefícios econômicos, os empresários concordaram mais, exprimindo um olhar muito mais otimista acerca do impacto do turismo no município. Na pesquisa de Byrd et al. (2009Byrd, E., Boesley, H., & Dronberger, M. (2009). Comparisons of stakeholder perceptions of tourism impacts in rural eastern North Carolina. Tourism Management, 30(5), 693-703. ), em uma zona rural no EUA, a visão relativamente mais positiva estava nos funcionários públicos. Cogita-se que, no Brasil, em uma cidade com muito bom potencial turístico - como sucede em São Sebastião -, os empresários sejam mais otimistas quanto ao turismo do que numa zona rural nos EUA, onde maior é necessidade de intervenção do poder público para atrair turistas. Neste artigo, os demais grupos também enxergam vantagens econômicas no turismo, mas de maneira menos enfática. Na variável referente à criação de empregos (V7), apesar da ANOVA não revelar diferenças, os stakeholders deste artigo alinham-se com os achados de Garsous et al. (2017Garsous, G., Corderi, D., Velasco, M., & Colombo, A. (2017). Tax Incentives and Job Creation in the Tourism Sector of Brazil’s SUDENE Area. World Development, 96(1), 87-101. ): a atividade turística é ampla e necessita de mão de obra variada. Ademais, São Sebastião abriga proporcionalmente um número maior de pequenas e microempresas. A percepção dos empresários na amostra aqui reforça Wanhill (2000Wanhill, S. (2000). Small and medium tourism enterprises. Annals of Tourism Research , 27(1), 132-147. ): o turismo fomenta tanto o empreendedorismo quanto a geração de empregos (média 4,54).

A respeito dos ganhos econômicos provenientes do turismo (V2), empresários (média 4,69) e funcionários públicos (média 4,65) foram mais otimistas. A literatura destaca a criação de empregos, o aumento da renda e a elevação das receitas tributárias. Nisso aqui moradores (média 4,45) e turistas (média 4,57) mantêm a perspectiva favorável, mas em menor grau. Talvez, para ambos os grupos em São Sebastião, a inflação sazonal (na alta temporada turística) e a tributação afetem negativamente suas percepções.

As percepções sobre qualidade de vida (V3) diferem entre os grupos na amostra de São Sebastião. De novo, empresários (média 4,37) e funcionários públicos (média 4,20) foram mais confiantes quanto ao impacto do turismo que moradores (média 3,94) e turistas (média 3,89) quanto à melhora da qualidade de vida na comunidade. Tal resultado sugere acertos do turismo, em São Sebastião, não só econômico, mas também nas dimensões cultural e espacial (Alves, 2014Alves, M. (2014). Turismo e desenvolvimento local: a qualidade de vida sob a ótica da população do Arraial de Conceição do Ibitipoca - MG. Turismo em Análise, 25(3), 628-648. ). O município guarda considerável valor cultural, tendo sete quarteirões e oito edifícios tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico e Turístico do Estado), igrejas e capelas (como o Convento Franciscano Nossa Senhora do Amparo do Século XVII) e 33 praias (como a de Maresias, referência internacional para surfistas). Moradores e turistas sem direto envolvimento econômico com o turismo no município podem ter mirado outros aspectos ao avaliar a relação entre turismo e qualidade de vida (V3); eis uma possível explicação das diferenças das percepções entre os grupos. Mais visitantes podem trazer mais dinheiro, mas além disso geram mais peso no meio ambiente e nas comunidades receptoras (Beeton, 2004Beeton, S. (2004). The more things change... a legacy of film-induced tourism. In: Frost, W.; Croy, G. & Beeton, S. (Eds.) International tourism and media conference proceedings. Monash University Tourism Research Unit, Berwick, 4-14 . ). O turismo precisa ser desenvolvido de forma responsável para que haja um papel crescente no bem-estar dos moradores de determinada região, interferindo positivamente na qualidade de vida desses cidadãos (Crouch & Ritchie, 1999Crouch, G.I., & Ritchie, J.R.B. (1999). Tourism, Competitiveness, and societal prosperity. Journal of Business Research, 44(1), 137-152. ; Vianna & Stein, 2015Vianna, S., & Stein, G. (2015). Competitividade e a Qualidade de Vida dos Residentes: Percepções Iniciais da Destinação Turística de Jericoacoara, CE. Revista Rosa dos Ventos, 7(4), 474-488. )

A maioria dos moradores de São Sebastião, incluindo os grupos de empresários e funcionários públicos, manifestaram descontentamento com a forma de como o turismo é desenvolvido no município (V1), ao passo que quase a metade dos turistas se disse neutra em relação a este ponto. Talvez turistas tenham essa perspectiva intermediária por não terem contato continuado com o município. Já moradores, funcionários públicos e, principalmente, empresários - mais descontentes -, não notam ações concretas do governo local em prol do turismo. Afinal, o desenvolvimento turístico reclama ações contínuas, a ponto de estabelecer um processo temporalmente evolutivo e qualificado (Vieira, 2007Vieira, J. (2007). Planeamento e Ordenamento Territorial do Turismo: uma perspectiva estratégica. Lisboa: Editora Verbo. ).

Sobre a prevalência ou não da economia frente à dimensão ambiental (V4) na amostra de São Sebastião, despontou a discordância (‘discordo’ ou ‘discordo plenamente’). Tal homogeneidade vai ao encontro de Milman e Pizam (1988Milman, A., Pizam, A. (1988). Social impacts of tourism on central Florida. Annals of Tourism Research , 15(2), 191-204. ): nos aspectos econômicos, os stakeholders tendem a divergir, mas não nos aspectos ambientais. Apesar disso, moradores (média 1,92) e empresários (média 2,31) diferenciaram em suas respostas - enquanto os moradores discordaram de maneira mais convicta, os empresários oscilaram entre a neutralidade e a discordância. Salienta-se que os moradores são peças fundamentais no planejamento e no desenvolvimento do turismo. Primeiro, porque os impactos do turismo são sentidos com maior intensidade na área de destino local, e segundo porque os residentes são cada vez mais reconhecidos como um ingrediente essencial na “atmosfera de um destino” (Simmons, 1994Simmons, D. (1994). Community participation in tourism planning. Tourism Management , 15(2), 98-108. ).

Na ligação entre turismo e criminalidade (V8), apesar da falta de diferenças significativas entre os grupos, os turistas (média 3,11) apresentaram os escores mais altos na amostra de São Sebastião. Este dado converge com Fujii e Mak (2007), que refere turistas como alvos vulneráveis, lucrativos e menos propensos a acionar a justiça.

Diante do fenômeno de heterogeneidade nas percepções dos grupos de stakeholders acerca do turismo, as organizações e os agentes envolvidos (direto e indiretamente) nessa esfera - sobretudo aqueles hábeis em liderá-lo em um destino - precisam identificá-las, compreendê-las e adotar estratégias e táticas que atenuem e compatibilizem as incongruências. Em especial, os governos - nas suas políticas para o turismo - não podem deixar de considerar os demais grupos de stakeholders, rumo a uma governança genuinamente colaborativa (Ansell & Gash, 2008Ansell, C., & Gash, A. (2008). Collaborative governance in theory and practice. Journal of Public Administration Research and Theory, 18(4), 543-571. ). Por outro lado, há custos e benefícios do mapeamento, da consideração e da participação ativa dos demais grupos de stakeholders nas políticas públicas, mas entendimento sobre essa relação, quando e como ela desponta mais benéfica do que custosa (Schalk, 2017Schalk, J. (2017). Linking Stakeholder Involvement to Policy Performance: Nonlinear Effects in Dutch Local Government Policy Making. The American Review of Public Administration, 47(4), 1-23. ).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados deste artigo evidenciam que gerir as percepções dos vários stakeholders no turismo é algo necessário e possível, conquanto dependente de pesquisa aplicada em cada destino e que se sujeita a dinamismo. A busca do equilíbrio dos benefícios é necessária para que se engrene o desenvolvimento turístico. Nessa direção, este artigo sugere um exame atento e criterioso de governos e das empresas especializadas em turismo das demais partes interessadas. As diferenças entre os grupos, frequentemente ignoradas, abrem possibilidades de gestão para impulsionar o turismo e de distribuir mais equitativamente seus ganhos e seus ônus. No entanto, deve haver uma constante ponderação entre benefícios e custos quando se considerar determinada percepção (Schalk, 2017Schalk, J. (2017). Linking Stakeholder Involvement to Policy Performance: Nonlinear Effects in Dutch Local Government Policy Making. The American Review of Public Administration, 47(4), 1-23. ).

Entre as principais contribuições, este trabalho: a) apresentou um conjunto de variáveis teóricas importantes para os estudos de percepções no turismo (vide Tabela 1); b) analisou as percepções dos grupos Moradores, Empresários, Turistas e Funcionários Públicos no turismo brasileiro e destacou a heterogeneidade de percepções entre os stakeholders, tendo no grupo dos empresários o olhar mais positivo; c) descobriu nos empresários uma menor discordância em relação às atividades turísticas darem prioridade para a economia e não para o meio ambiente. Diante das contribuições mencionadas, destaca-se que compreender a heterogeneidade perceptual, especialmente em épocas de políticas de austeridade fiscal, possibilita a gestores públicos e privados estratégias e investimentos melhores direcionados ao planejamento e ao desenvolvimento do turismo.

Entre as limitações deste artigo, há a baixa proporção de empresários (10%) e de funcionários públicos (10%) na amostra. Estudos futuros precisam vencer a dificuldade de acesso a tais grupos. Só um município foi investigado, impedindo comparações entre destinos e generalização dos achados. Eis uma indicação direta para estudos futuros. Desejável ainda é a avaliação de mudanças ao longo do tempo, mediante um esquema de pesquisa longitudinal. Superadas essas restrições, melhorará o discernimento no interessante tema em foco, das percepções de stakeholders no turismo, suas convergências e divergências.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Ago 2020
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2020

Histórico

  • Recebido
    04 Jul 2019
  • Aceito
    09 Nov 2019
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