Acessibilidade / Reportar erro

A Sociedade do Conhecimento realmente existente na perspectiva do desenvolvimento desigual

The really existing Knowledge Society from the perspective of uneven development

Resumos

Tem sido afirmado, sobretudo, nos três últimos decênios, tanto na academia quanto em outros ambientes, que se vive numa sociedade do conhecimento. Esta seria amparada por uma nova economia, fundada no uso cada vez mais intensivo de informação e conhecimento. Mas, pode-se aceitar que se vive numa sociedade do conhecimento? Que uma nova economia, movida pela aceleração de ciência, tecnologia e inovação, dá sustentação a essa sociedade do conhecimento? Neste breve ensaio se pretende jogar luz sobre alguns aspectos que encobrem a noção de sociedade do conhecimento, visando-se um questionamento das bases sobre as quais essa sociedade do conhecimento poderia emergir. É possível que a sociedade atual seja uma na qual a informação, o conhecimento, a ciência, a tecnologia e a inovação tenham sua centralidade. Contudo, além da centralidade dessas dimensões, também é um traço dessa sociedade do conhecimento uma dinâmica cada vez mais favorável à busca de ganhos econômicos e ao enriquecimento dos estratos mais abastados da população em escala planetária, de modo que há problemas em se considerar que qualquer indivíduo pode ingressar no admirável mundo novo do conhecimento. Talvez, por se desprezar que ele é atravessado por múltiplas implicações econômicas, tecnológicas, ambientais, culturais, políticas e ideológicas.

Conhecimento; Desenvolvimento desigual; Desigualdades; Nova economia; Sociedade do conhecimento


It has been asserted, especially, in the last three decades, both in academia and in other environments, that we live in a knowledge society. A society supported and driven by a new economy, based on an ever more intensive use of information and knowledge. But, is it acceptable that we really live in a knowledge society? That a new economy, driven by the acceleration of science, technology and innovation, supports this knowledge society? In this brief essay I intend to shed some light on these issues from the perspective of an inquiry into the bases on which the knowledge society could emerge. It is possible that today’s society is one in which information, knowledge, science, technology and innovation have its centrality. However, besides the centrality of these dimensions, the so-called knowledge society also rests on a dynamic increasingly favorable to the pursuit of economic gain and to preserve the privileges of the more affluent strata of the population on global scale. So it seems to be problematic consider that any individual can freely enter the brave new world of knowledge. Maybe because its supporters disregard that this world is crossed by multiple economic, technological, environmental, cultural, political and ideological implications.

Knowledge; Uneven development; Inequalities; New economy; Knowledge society


  • ALBAGLI, S. Sociedade da informação e do conhecimento: desafios teóricos e empíricos. Liinc em Revista, v. 3, n. 1, p. 10-16, 2007.
  • ALTMANN, H. Influências do Banco Mundial no projeto educacional brasileiro. Educação e Pesquisa, v. 28, n. 1, p. 77-89, 2002. doi:10.1590/S1517-97022002000100005.
  • ANTUNES, R.; BRAGA, R. (Org.). Infoproletários: degradação real do trabalho virtual. São Paulo: Boitempo, 2009.
  • ATKESON, A.; KEHOE, P. J. Modeling the transition to a new economy: lessons from two technological revolutions. The American Economic Review, v. 97, n. 1, p. 64-88, 2007. doi:10.1257/aer.97.1.64.
  • ATKINSON, R. D.; CORREA, D. K. The 2007 state new economy index: benchmarking economic transformation in the States. Washington: Kauffman Foundation, ITIF, 2007.
  • BAUMGARTEN, M. Geopolítica do conhecimento e da informação: semiperiferia e estratégias de desenvolvimento. Liinc em Revista, v. 3, n. 1, p. 17-33, 2007.
  • BELL, D. O advento da sociedade pós-industrial: uma tentativa de previsão social. São Paulo: Cultrix, 1974.
  • BELLONI, M. L. Infância, mídias e educação: revisitando o conceito de socialização. Perspectiva, v. 25, n. 1, p. 57-82, 2007.
  • BIANCO, C. et al. Indicadores de la sociedad del conocimiento: aspectos conceptuales y metodológicos. Buenos Aires: Centro Redes, 2002. (Documento de Trabajo n. 2).
  • BÖHM, S.; LAND, C. The new hidden abode: reflections on value and labour in the new economy. The Sociological Review, v. 60, n. 2, p. 217-240, 2012. doi:10.1111/j.1467-954X.2012.02071.x.
  • BOYER, R. La Nouvelle Économie au futur antérieur. CEPREMAP, n. 13, 2001.
  • BRENNER, R. Novo boom ou nova bolha? A trajetória da economia norte-americana. In: SADER, E. (Org.). Contragolpes: seleção de artigos da New Left Review. Trad. Beatriz Medina. São Paulo: Boitempo, 2006. p. 117-158.
  • BURKE, P. Uma história social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot. Trad. P. Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
  • CACASSUS, J. A reforma educacional na América Latina no contexto da globalização. Cadernos de Pesquisa, n. 114, p. 7-28, 2001.
  • CASTELLS, M. A era da informação: economia, sociedade e cultura. Trad. A. Lemos. Espanha. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkain, 2003. (3 v.
  • CHARLE, C. Europa: o ensino no tom do mercado. Le Monde Diplomatique Brasil, v. 1, n. 3, p. 34-35, 2007.
  • CHESNAIS, F. A nova economia: uma conjuntura própria à potência econômica estadunidense. In: CHESNAIS, F. et al. (Org.). Uma nova fase do capitalismo? São Paulo: Xamã, 2003. p. 43-70.
  • DAGNINO, R. P. A relação universidade-empresa no Brasil e o argumento da Hélice Tripla. Revista Brasileira de Inovação, v. 2, n. 2, p. 267-307, 2003.
  • DAVID, P. A.; FORAY, D. Una introducción a la economía y a la sociedad del saber. Revista Internacional de Ciências Sociales, n. 171, p. 7-28, 2002.
  • DEMO, P. Ambivalências da sociedade da informação. Ciência da Informação, v. 29, n. 2, p. 37-42, 2000. doi:10.1590/S0100-19652000000200005.
  • DRUCKER, P. Sociedade pós-capitalista Trad. N. Montingelli Jr. São Paulo: Pioneira, Publifolha, 1999.
  • DUMÉNIL, G.; LÉVY, D. Neoliberalismo, neo-imperialismo. Economia e Sociedade, v. 16, n. 1, p. 1-19, 2007. doi:10.1590/S0104-06182007000100001.
  • EUROPEAN UNION. Green Paper Living and working in the Information Society: people first. Bruxelas: European Union Commission, 1996. Disponível em: <http://aei.pitt.edu/1227/1/live_work_info_society_gp_COM_96_389.pdf>. Acesso em: 27 dez. 2012.
  • FAGERBERG, J.; LANDSTRÖM, H.; MARTIN, B. R. Exploring the emerging knowledge base of the knowledge society. Research Policy, v. 41, n. 7, p. 1121-1131, 2012. doi:10.1016/j.respol.2012.03.007.
  • FORSTORP, P. Who’s colonizing who? The knowledge society thesis and the global challenges in the higher education. Studies in Philosophy and Education, v. 27, n. 4, p. 227-236, 2008.
  • FREEMAN, C. A hard landing for the new economy? Information technology and the United States national system of innovation. Structural Change and Economic Dynamics, v. 12, n. 2, p. 115-139, 2001. doi:10.1016/S0954-349X(01)00017-0.
  • FOLHA DE S.PAULO. Veja as crises financeiras e soluções desde a Grande Depressão. Folha de S. Paulo, 2. Abr. 2009. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u544135.shtml>. Acesso em: 28 dez. 2012.
  • GODIN, B. The new economy: what the concept owes to the OECD. Research Policy, v. 33 n. 5, p. 679-690, 2004. doi:10.1016/j.respol.2003.10.006.
  • GORZ, A. Welches Wissen? Welche Gesellschaft? In: BÖLL-STIFTUNG, H. (Org.). Gut zu Wissen Münster: Westfälisches Dampfboot, 2002. Disponível em: <http://www.wissensgesellschaft.org/themen/orientierung/welchegesellschaft.pdf>. Acesso em: 8 jun. 2004.
  • HARMS, J. B.; KNAPP, T. The new economy: what’s new, what’s not. Review of Radical Political Economics, v. 35, n. 4, p. 413-436, 2003. doi:10.1177/0486613403257800.
  • HARVEY, D. Spaces of global capitalism: towards a theory of uneven geographical development. London: Verso, 2006.
  • HILL, D. O neoliberalismo global, a resistência e a deformação da educação. Currículo sem Fronteiras, v. 3, n. 2, p. 24-59, 2003. Disponível em: <http://www.curriculosemfronteiras.org/vol3iss2articles/hill.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2012.
  • HOPENHAYN, M. Educar para la sociedad de la información y de la comunicación: una perspectiva latinoamericana. Revista Iberoamericana de Educación, n. 30, p. 187-217, 2002.
  • HUWS, U. The making of a cybertariat? virtual work in a real world. Socialist Register, n. 37, p. 1-23, 2001.
  • KUMAR, K. Da sociedade pós-industrial à pós-moderna: novas teorias sobre o mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
  • LASTRES, H. M. M.; LEGEY, L. I.; ALBAGLI, S. Indicadores da economia e sociedade da informação, conhecimento e aprendizado. In: VIOTTI, E. B.; MACEDO, M. M. (Org.). Indicadores de ciência, tecnologia e inovação no Brasil Campinas: Ed. Unicamp. 2003. p. 533-578.
  • LAUGLO, J. Críticas às prioridades e estratégias do Banco Mundial para a educação. Cadernos de Pesquisa, n. 100, p. 15-39, 1997.
  • LOJKINE, J. A revolução informacional São Paulo: Cortez, 1995.
  • MANSELL, R.; WEHN, U. Knowledge societies: information technology for sustainable development. Oxford: Oxford University Press, 1998.
  • MARCOVITCH, J. A cooperação da universidade moderna com o setor empresarial. Revista de Administração, v. 34, n. 4, p. 13-17, 1999.
  • MARTI, Y.; VEJA-ALMEIDA, R. L. Sociedad de la información: los mecanismos reguladores en el contexto de una sociedad emergente. Ciência da Informação, v. 34, n. 1, p. 37-44, 2005. doi:10.1590/S0100-19652005000100005.
  • MENOU, M. J. Educando a los ciudadanos de la sociedad mundial del conocimiento. Cooperación Sur, n. 1, p. 94-105, 2001.
  • MIRANDA, M. G. Políticas educacionais na América Latina. Cadernos de Pesquisa, n. 100, p. 37-48, 1997.
  • MONTHLY REVIEW (Ed.). The new economy: myth and reality. Monthly Review, v. 52, n. 11, p. 1-9, 2001.
  • NEWFIELD, C. EUA: o desmonte do ideal democrático. Le Monde Diplomatique Brasil, v. 1, n. 2, p. 32-33, 2007.
  • ORGANIZATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT - OECD. The knowledge-based economy Paris: Organization for Economic Co-operation and Development. 1996. Disponível em: <http://www.oecd.org/science/scienceandtechnologypolicy/1913021.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2012.
  • ORGANIZATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT - OECD. The knowledge-based economy: a set of facts and figures. Paris: Organization for Economic Co-operation and Development, 1999.
  • ORGANIZATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT - OECD. A new economy? The changing role of innovation and information technology in growth. Paris: Organization for Economic Co-operation and Development. 2000. Disponível em: <http://browse.oecdbookshop.org/oecd/pdfs/free/9200031e.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2012.
  • ORGANIZATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT - OECD. The new economy beyond the hype: the OECD growth project. Paris: Organization for Economic Co-operation and Development. 2001. Disponível em: <http://www.oecd.org/eco/productivityandlongtermgrowth/2380415.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2012.
  • PORTAL DE NOTÍCIAS DE O ESTADO DE S. PAULO - OESP. Morte de empresas pontocom dobra em 2001. O Estado de S. Paulo, 28. dez. 2001. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/arquivo/tecnologia/2001/not20011228p56215.htm>. Acesso em: 29 dez. 2012
  • PORTAL DE NOTÍCIAS DE O ESTADO DE S. PAULO - OESP. Desemprego na Europa bate novo recorde: 25 milhões. O Estado de São Paulo, 2. Out. 2012. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/impressodesemprego-na-europa-bate-novo--recorde-25-milhoes-,938836,0.htm>. Acesso em: 29 dez. 2012.
  • PLONSKI, G. A. Cooperação universidade-empresa: um desafio gerencial complexo. Revista de Administração, v. 34, n. 4, p. 5-12, 1999.
  • RIBEIRO, A. C. T. A força do passado: nem tudo que é sólido desmancha no ar. In: FELDMAN, S.; FERNANDES, A. (Org.). O urbano e o regional no Brasil contemporâneo: mutações, tensões, desafios. Salvador: Ed. UFBA, 2007. p. 21-35.
  • ROJAS, M. A. R. Relación entre los conceptos: información, conocimiento y valor – semejanzas y diferencias. Ciência da Informação, v. 34, n. 2, p. 52-61, 2005.
  • RUBIN, B. A.; BRODY, C. J. Contradictions of commitment in the new economy: insecurity, time, and technology. Social Science Research, v. 34, n. 4, p. 843-861, 2005. doi:10.1016/j.ssresearch.2005.02.002.
  • SANDOVAL, R. Hacia la construcción de um modelo multicultural de sociedad de conocimiento. Redes: Revista de Estudios Sociales de la Ciência, n. 26, p. 183-198, 2007.
  • SENE, J. E. Reformas educacionais na América Latina. Ar@cne: Revista Eletrônica de Recursos en Internet sobre Geografía y Ciencias Sociales, n. 105, 2008. Disponível em: <http://www.ub.edu/geocrit/aracne/aracne-105.htm>. Acesso em: 20 dez. 2012.
  • SMITH, N. Desenvolvimento desigual: natureza, capital e a produção de espaço. Trad. Eduardo de Almeida Navarro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988.
  • STARKS, B. The new economy and the american dream: examining the effect of work conditions on beliefs about economic opportunity. The Sociological Quarterly, v. 44, n. 2, p. 205-225, 2003. doi:10.1111/j.1533-8525.2003.tb00555.x.
  • STEINMUELLER, W. E. Las economías basadas en el conocimiento y las tecnologías de la información y la comunicación. Revista Internacional de Ciências Sociales, n. 171, p. 193-209, 2002.
  • THEIS, I. M. Do desenvolvimento desigual e combinado ao desenvolvimento geográfico desigual. Novos Cadernos do NAEA, v. 12, n. 2, p. 241-252, 2009.
  • THEIS, I. M.; BUTZKE, L. O paradoxo da geografia no capitalismo mundializado: revisitando a lei do desenvolvimento desigual e combinado. In: GALVÃO, A. et al. (Org.). Capitalismo: crise e resistências. São Paulo: Outras Expressões, 2012. p. 83-110.
  • TROTSKY, L. A história da revolução russa Trad. E. Huggins. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. v. 1.
  • UNESCO. Towards knowledge societies World Report Paris: UNESCO Publishing, 2005. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0014/001418/141843e.pdf>. Acesso em: 14 out. 2007.
  • UNITED NATIONS. Resolution adopted by the General Assembly: world summit on the Information Society. New York: United Nations, Jan. 31. 2002. Disponível em: <http://www.itu.int/wsis/docs/background/resolutions/56_183_unga_2002.pdf>. Acesso em: 29 dez. 2012.
  • VÄLIMAA, J.; HOFFMAN, D. Knowledge society discourse and higher education. Higher Education, v. 56, n. 3, p. 265-285, 2008. doi:10.1007/s10734-008-9123-7.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jul 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 2013

Histórico

  • Recebido
    11 Ago 2012
  • Aceito
    18 Fev 2013
Pontifícia Universidade Católica do Paraná Rua Imaculada Conceição, 1155. Prédio da Administração - 6°andar, 80215-901 - Curitiba - PR, 55 41 3271-1701 - Curitiba - PR - Brazil
E-mail: urbe@pucpr.br