As Unidades de Polícia Pacificadora – UPPs – implementadas no Rio de Janeiro desde 2008 têm como um de seus objetivos a promoção da integração entre as favelas e a ‘cidade formal’, superando a segregação da cidade. Com o objetivo de problematizar o raciocínio por trás dessa meta, a fim de questionar os fundamentos das UPPs, o artigo explora o contexto político e socioespacial do Brasil e do Rio de Janeiro no qual foram introduzidas as UPPs. A implantação e operação das UPPs é colocada no contexto da militarização do espaço urbano, principalmente das suas regiões mais pobres, junto com uma análise dos preconceitos sobre favelas e seus moradores articulados pelas UPPs. As UPPs são entendidas em diálogo com a obra de Giorgio Agamben como um ato soberano de "traçar linhas de distinção" entre tipos de vidas que merecem ser vividas e 'outras' construídas como politicamente inúteis. Torna-se claro que as UPPs articulam e reforçam o que Teresa Caldeira chamou de “fala do crime”, um discurso maniqueísta através do qual a população brasileira expressa e lida com seu encontro diário com a violência. A natureza disjuntiva da democracia “inclusiva e desigual” do Brasil, como explica James Holston, é enfatizada. O Brasil aparece como um país pós-ditatorial onde as reformas neoliberais e a abertura democrática causaram a paralela criação de um Estado penal autoritário que tem como alvo o subproletariado urbano.
UPPs; Política de segurança pública; Democracia brasileira; Segregação urbana