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Determinantes da adesão aos serviços de mobilidade compartilhada: uma investigação empírica no contexto brasileiro

Adherence determinants to shared mobility services: an empirical investigation in the Brazilian context

Resumo

Os serviços de mobilidade compartilhada (SMC) são uma alternativa inovadora de transportes nos centros urbanos. Sendo assim, utilizando-se de uma survey com 597 usuários, por meio de uma análise fatorial confirmatória, identificaram-se os determinantes do uso dos SMC no contexto brasileiro. Os benefícios econômicos, o prazer e a sustentabilidade são preditores da atitude e da intenção comportamental em relação aos SMC. Notou-se um relacionamento negativo entre reputação e atitude quanto aos SMC. Observou-se uma relação positiva entre atitude relativa aos SMC e intenção comportamental. Esses resultados contribuem metodologicamente para validar, no contexto brasileiro, uma escala de mensuração dos determinantes de adesão da utilização de SMC.

Palavras-chave:
Mobilidade urbana; Serviços de mobilidade compartilhada; Determinantes; Análise fatorial confirmatória

Abstract

Shared Mobility Services (SMC) is an innovative transportation alternative in urban centers. Thus, using a survey with 597 users, through a Confirmatory Factor Analysis, the determinants of SMC use in the Brazilian context was identified. Economic benefits, pleasure, and sustainability are predictors of Attitude toward SMCs and behavioral intent about SMCs. There was a negative relationship between Reputation and Attitude for the SMCs. A positive relationship was observed between Attitude and SMC and Behavioral Intent. These results contributed methodologically for validating a scale of measurement of the adherence determinants of the use of SMC in the Brazilian context.

Keywords:
Urban mobility; Shared mobility services; Determinants; Confirmatory factorial analysis

Introdução

A mobilidade urbana tornou-se um problema para os centros urbanos (Moura, 2017Moura, L. R. (2017). Mobilidade Urbana e Política Pública: uma análise de bicicletas integradas na perspectiva da sustentabilidade. In Anais da VIII Jornada Internacional de Políticas Públicas. São Luis: UFMA.), pois o aumento do poder aquisitivo e as políticas de incentivo à compra de automóveis (Cadurin, 2016Cadurin, L. D. P. (2016). Demanda potencial para um sistema de compartilhamento de bicicletas pedelecs: o caso de um campus universitário (Dissertação de mestrado). Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos.) proporcionaram dependência dos transportes individuais, necessidade de deslocamento e congestionamentos (Mello, 2008Mello, E. S. (2008). Mobilidade urbana sustentável em projetos estruturantes: analise urbanística e ambiental do corredor de transporte da Avenida Bernardo Vieira – Natal/RN (Dissertação de mestrado). Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal.), fatores que colaboram para a maior desumanização das cidades (Cadurin, 2016Cadurin, L. D. P. (2016). Demanda potencial para um sistema de compartilhamento de bicicletas pedelecs: o caso de um campus universitário (Dissertação de mestrado). Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos.).

Nos grandes centros urbanos, há uma maior incidência de serviços de mobilidade compartilhada (SMC), que têm como fenômeno amplo a “economia compartilhada” (Le Vine & Polak, 2015Le Vine, S., & Polak, J. (2015). Introduction to special issue: new directions in shared480 mobility research. Transportation, 42(3), 407-411. http://dx.doi.org/10.1007/s11116-015-9603-4.
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), contrário ao hiperconsumo (Freitas et al., 2016Freitas, C. S., Petrini, M. C., & Silveira, L. M. (2016). Desvendando o consumo colaborativo: Uma proposta de tipologia. In Anais do 9º Congresso Latino-Americano no Varejo. São Paulo: FGV-EAESP.). A economia compartilhada adota práticas de mercado inteligentes para uma sociedade colaborativa e sustentável, por exemplo, o compartilhamento de bicicletas ou de carros (Heinrichs, 2013Heinrichs, H. (2013). Sharing economy: a potential new pathway to sustainability. GAIA-Ecological Perspectives for Science and Society, 22(4), 228-231. http://dx.doi.org/10.14512/gaia.22.4.5.
http://dx.doi.org/10.14512/gaia.22.4.5...
).

Embora existam estudos sobre as motivações e os fatores para a participação em serviços de compartilhamento (Hamari et al., 2016Hamari, J., Sjöklint, M., & Ukkonen, A. (2016). The sharing economy: why people participate in collaborative consumption. Journal of the Association for Information Science and Technology, 67(9), 2047-2059. http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552.
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; Mohlmann, 2015Mohlmann, M. (2015). Collaborative consumption: determinants of satisfaction and the likelihood of using a sharing economy option again. Journal of Consumer Behaviour, 14(3), 193-207. http://dx.doi.org/10.1002/cb.1512.
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; Yakin et al., 2017Yakin, V., Kacar, A. İ., & Ay, C. (2017). Sharing Economy: why the Turkish consumers use Airbnb? Journal of Marketing and Consumer Behaviour in Emerging Markets, 6(2), 25-36. http://dx.doi.org/10.7172/2449-6634.jmcbem.2017.2.2.
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; Barbosa, 2017Barbosa, C. P. R. (2017). Sharing economy: drivers and barriers to portuguese travelers use peer-to-peer accommodation rentals (Dissertação de mestrado). Instituto Universitário de Lisboa, Lisboa.; Sampaio et al., 2018Sampaio, L. C., Fischer, W., & Miura, M. N. (2018). Comportamento do consumidor na economia compartilhada: por que as pessoas participam? In Anais do XXIX Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ENANGRAD). São Paulo: ANGRAD.) e de mobilidade compartilhada (Murphy, 2016Murphy, C. (2016). Shared mobility and the transformation of public transit. Washington: National Academy of Sciences. http://dx.doi.org/10.17226/23578.
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; Le Vine & Polak, 2015Le Vine, S., & Polak, J. (2015). Introduction to special issue: new directions in shared480 mobility research. Transportation, 42(3), 407-411. http://dx.doi.org/10.1007/s11116-015-9603-4.
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; Shaheen et al., 2016Shaheen, S., Cohen, A., & Zohdy, I. (2016). Shared mobility: current practices and guiding principles. Washington: U.S. Department of Transportation.), há uma lacuna relativa às pesquisas sobre o comportamento desses fatores em SMC no contexto brasileiro.

Neste estudo, a sustentabilidade, o prazer, a reputação, os benefícios econômicos e a atitude em relação aos SMC foram tratados como construtos exógenos, e a intenção comportamental, como construto endógeno. Este artigo sugere que os SMC buscam dar ou compartilhar acesso a produtos e serviços, de pessoa para pessoa, coordenados por meio de serviços on-line (Hamari et al., 2016Hamari, J., Sjöklint, M., & Ukkonen, A. (2016). The sharing economy: why people participate in collaborative consumption. Journal of the Association for Information Science and Technology, 67(9), 2047-2059. http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552.
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).

O presente estudo mostra-se relevante por contribuir para o campo da pesquisa em SMC, vertente da “economia compartilhada”, pouco investigada pela literatura, no contexto nacional. Os resultados incrementam o conhecimento sobre as motivações para utilização dos SMC no contexto da economia compartilhada, contribuindo para a introdução de novas considerações a respeito do perfil dos utilizadores e, sobretudo, dos fatores motivacionais que levam as pessoas a aderir a tal fenômeno.

Além desta Introdução, este artigo apresentará, na sequência, a fundamentação teórica, que embasa teoricamente o estudo. Depois, serão vistos os procedimentos metodológicos utilizados nesta investigação e os resultados obtidos. Por fim, serão apresentadas as considerações finais, as limitações e as indicações para futuras investigações.

Sustentabilidade

Um dos princípios da economia compartilhada é a sustentabilidade ecológica. Revender, trocar, alugar e emprestar a curto prazo, todas essas práticas entre indivíduos ou empresas fazem parte da economia de compartilhamento e têm o potencial de aumentar a duração do uso de bens que consomem recursos. Portanto, a participação no consumo colaborativo pode ser considerada ecologicamente sustentável (Demailly & Novel, 2014Demailly, D., & Novel, A. S. (2014). The sharing economy: make it sustainable. Studies, 3, 14-30.).

Para Böcker & Meelen (2017)Böcker, L., & Meelen, T. (2017). Sharing for people, planet or profit? Analysing motivations for intended sharing economy participation. Environmental Innovation and Societal Transitions, 23, 28-39. http://dx.doi.org/10.1016/j.eist.2016.09.004.
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, embora as organizações de compartilhamento de acomodação de aluguel usem a sustentabilidade ambiental como um enquadramento motivacional para atrair novos clientes, seus usuários não se envolvem em compartilhamento de acomodação por motivos ambientais. Segundo Mohlmann (2015)Mohlmann, M. (2015). Collaborative consumption: determinants of satisfaction and the likelihood of using a sharing economy option again. Journal of Consumer Behaviour, 14(3), 193-207. http://dx.doi.org/10.1002/cb.1512.
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, o impacto ambiental não afeta o prazer ou a probabilidade de escolher o mesmo serviço de compartilhamento, uma vez que esse fator não compromete a intenção comportamental dos usuários dos serviços.

Conforme Hamari et al. (2016)Hamari, J., Sjöklint, M., & Ukkonen, A. (2016). The sharing economy: why people participate in collaborative consumption. Journal of the Association for Information Science and Technology, 67(9), 2047-2059. http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552.
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, a sustentabilidade percebida do serviço de compartilhamento associa-se à atitude em relação ao consumo colaborativo e não está relacionada às intenções comportamentais. Esse resultado corrobora a pesquisa de Yakin et al. (2017)Yakin, V., Kacar, A. İ., & Ay, C. (2017). Sharing Economy: why the Turkish consumers use Airbnb? Journal of Marketing and Consumer Behaviour in Emerging Markets, 6(2), 25-36. http://dx.doi.org/10.7172/2449-6634.jmcbem.2017.2.2.
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. Para Sampaio et al. (2018)Sampaio, L. C., Fischer, W., & Miura, M. N. (2018). Comportamento do consumidor na economia compartilhada: por que as pessoas participam? In Anais do XXIX Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ENANGRAD). São Paulo: ANGRAD., a sustentabilidade não influencia positivamente a atitude em relação aos SMC e não está associada à intenção comportamental no que se refere à participação nos negócios de economia compartilhada.

Conforme Miranda (2018)Miranda, M. A. R. (2018). Fatores que influenciam a atitude no Consumo Colaborativo no Brasil (Dissertação de mestrado). Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças, Vitória., a sustentabilidade influencia positivamente a atitude de adesão dos consumidores de SMC. Para Mann (2018)Mann, F. C. F. (2018). Economia compartilhada e consumo colaborativo no Brasil: análise das motivações e características dos seus participantes (Dissertação de mestrado). Universidade Federal Fluminense, Niterói., o fator ambiental exerce uma influência na decisão dos indivíduos em utilizar os serviços de mobilidade compartilhada. Uma vez que os resultados da literatura não convergem e tendo em vista que as pesquisas no contexto nacional sinalizam a existência de relações positivas entre sustentabilidade e atitude dos consumidores quanto aos SMC (Miranda, 2018Miranda, M. A. R. (2018). Fatores que influenciam a atitude no Consumo Colaborativo no Brasil (Dissertação de mestrado). Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças, Vitória.) e entre sustentabilidade e decisão de utilização do consumo de maneira compartilhada (Mann, 2018Mann, F. C. F. (2018). Economia compartilhada e consumo colaborativo no Brasil: análise das motivações e características dos seus participantes (Dissertação de mestrado). Universidade Federal Fluminense, Niterói.), formulam-se as duas primeiras hipóteses de pesquisa:

H1a: A sustentabilidade influencia positivamente a atitude em relação aos serviços de mobilidade compartilhada.

H1b: A sustentabilidade influencia positivamente a intenção comportamental dos usuários de serviços de mobilidade compartilhada.

Prazer

O prazer é um aspecto fundamental da motivação intrínseca (Deci & Ryan, 2000Deci, E. L., & Ryan, R. M. (2000). The” what” and” why” of goal pursuits: human needs and the self-determination of behavior. Psychological Inquiry, 11(4), 227-268. http://dx.doi.org/10.1207/S15327965PLI1104_01.
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). Para Maurer et al. (2015)Maurer, A. M., Figueiró, P. S., Campos, S. A. P., Silva, V. S., & Barcellos, M. D. (2015). Yes, we also can! O desenvolvimento de iniciativas de consumo colaborativo no Brasil. BASE: Revista de Administração e Contabilidade da UNISINOS, 12(1), 68-80., o prazer representa a segunda motivação intrínseca que leva as pessoas a participar da economia de compartilhamento.

Para muitos indivíduos, as razões econômicas são secundárias, uma vez que participam da economia compartilhada como forma de interação com a comunidade (Maurer et al., 2015Maurer, A. M., Figueiró, P. S., Campos, S. A. P., Silva, V. S., & Barcellos, M. D. (2015). Yes, we also can! O desenvolvimento de iniciativas de consumo colaborativo no Brasil. BASE: Revista de Administração e Contabilidade da UNISINOS, 12(1), 68-80.). Esse novo modelo econômico proporciona experiências diferentes mediante o compartilhamento, permitindo que os participantes criem e mantenham conexões sociais significativas com outros indivíduos (Botsman & Rogers, 2011Botsman, R., & Rogers, R. (2011). O que é meu é seu: como o consumo coletivo está mudando o nosso mundo. Porto Alegre: Bookman.). Para Hamari et al. (2016)Hamari, J., Sjöklint, M., & Ukkonen, A. (2016). The sharing economy: why people participate in collaborative consumption. Journal of the Association for Information Science and Technology, 67(9), 2047-2059. http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552.
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, o prazer influencia tanto a atitude das pessoas em participar das práticas de compartilhamento quanto a intenção comportamental. Resultados semelhantes foram observados por So et al. (2018)So, K. K. F., Oh, H., & Min, S. (2018). Motivations and constraints of Airbnb consumers: findings from a mixed-methods approach. Tourism Management, 67, 224-236. http://dx.doi.org/10.1016/j.tourman.2018.01.009.
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e por Sampaio et al. (2018)Sampaio, L. C., Fischer, W., & Miura, M. N. (2018). Comportamento do consumidor na economia compartilhada: por que as pessoas participam? In Anais do XXIX Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ENANGRAD). São Paulo: ANGRAD.. De acordo com Yang & Ahn (2016)Yang, S., & Ahn, S. (2016). Impact of motivation in the sharing economy and perceived security in attitude and loyalty toward Airbnb. Advanced Science and Technology Letters, 129, 180-184. http://dx.doi.org/10.14257/astl.2016.129.36.
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, o prazer é um antecedente significativo da atitude em relação ao serviço do Airbnb.

Segundo Barbosa (2017)Barbosa, C. P. R. (2017). Sharing economy: drivers and barriers to portuguese travelers use peer-to-peer accommodation rentals (Dissertação de mestrado). Instituto Universitário de Lisboa, Lisboa., o prazer foi valorizado entre os usuários de acomodação P2P e está diretamente relacionado ao valor da experiência (motivação intrínseca) e ao desempenho das plataformas (motivação extrínseca). Já Tussyadiah & Pesonen (2018)Tussyadiah, I. P., & Pesonen, J. (2018). Drivers and barriers of peer-to-peer accommodation stay–an exploratory study with American and Finnish travellers. Current Issues in Tourism, 21(6), 703-720. http://dx.doi.org/10.1080/13683500.2016.1141180.
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identificaram que o prazer foi o elo mais forte entre intenção e prazer em plataformas P2P. Assim, suportado pelos resultados reportados na literatura, propõem-se as seguintes hipóteses de pesquisa:

H2a: O prazer percebido influencia positivamente a atitude em relação aos serviços de mobilidade compartilhada.

H2b: O prazer percebido influencia positivamente a intenção comportamental dos usuários de serviços de mobilidade compartilhada.

Reputação

A reputação é o caráter de certa marca ou, ainda, a percepção geral das particularidades substanciais sobre empresas ou marcas (Fombrun & Rindova, 2000Fombrun, C. J., & Rindova, V. P. (2000). The road to transparency: reputation management at Royal Dutch/Shell. The Expressive Organization, 7, 7-96.). Na visão de Liang & Shi (2005)Liang, Z., & Shi, W. (2005). PET: a personalized trust model with reputation and risk evaluation for P2P resource sharing. In Proceedings of the 38th Annual Hawaii International Conference on System Sciences (HICSS'05) (pp. 201b-201b). New York: IEEE., a reputação é o julgamento de valor por parte de um avaliador a partir do comportamento passado do avaliado. Assim, a reputação seria um fator importante de motivação externa para a participação no consumo colaborativo (Maurer et al., 2015Maurer, A. M., Figueiró, P. S., Campos, S. A. P., Silva, V. S., & Barcellos, M. D. (2015). Yes, we also can! O desenvolvimento de iniciativas de consumo colaborativo no Brasil. BASE: Revista de Administração e Contabilidade da UNISINOS, 12(1), 68-80.), uma vez que pode estar relacionada à confiança (Kim et al., 2015Kim, J., Yoon, Y., & Zo, H. (2015). Why people participate in the sharing economy: a social exchange perspective. In Proceedings of the Pacific Asia Conference on Information Systems. PACIS.).

Segundo Hamari et al. (2016)Hamari, J., Sjöklint, M., & Ukkonen, A. (2016). The sharing economy: why people participate in collaborative consumption. Journal of the Association for Information Science and Technology, 67(9), 2047-2059. http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552.
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, a reputação afeta a atitude das pessoas em relação às atividades compartilhadas e a intenção comportamental, resultado que foi evidenciado por Yakin et al. (2017)Yakin, V., Kacar, A. İ., & Ay, C. (2017). Sharing Economy: why the Turkish consumers use Airbnb? Journal of Marketing and Consumer Behaviour in Emerging Markets, 6(2), 25-36. http://dx.doi.org/10.7172/2449-6634.jmcbem.2017.2.2.
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. JáSampaio et al. (2018)Sampaio, L. C., Fischer, W., & Miura, M. N. (2018). Comportamento do consumidor na economia compartilhada: por que as pessoas participam? In Anais do XXIX Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ENANGRAD). São Paulo: ANGRAD. notaram que, no contexto brasileiro, a reputação associa-se positivamente à atitude quanto aos SMC, muito embora não tenham sido notados indícios empíricos de que esteja relacionada à intenção comportamental dos indivíduos em participar dos negócios de compartilhamento. Segundo Yang & Ahn (2016)Yang, S., & Ahn, S. (2016). Impact of motivation in the sharing economy and perceived security in attitude and loyalty toward Airbnb. Advanced Science and Technology Letters, 129, 180-184. http://dx.doi.org/10.14257/astl.2016.129.36.
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, a reputação é um antecedente significativo de atitude em relação ao Airbnb, pois tende a ser um impulsionador pessoal dos tipos de comportamento do consumidor. Assim, com base nos resultados empíricos mapeados na literatura, propõem-se as seguintes hipóteses de pesquisa:

H3a: A reputação percebida influencia positivamente a atitude em relação aos serviços de mobilidade compartilhada.

H3b: A reputação percebida influencia positivamente a intenção comportamental dos usuários de serviços de mobilidade compartilhada.

Benefícios econômicos

A participação na economia de compartilhamento demonstra um comportamento racional de maximização da utilidade (Maurer et al., 2015Maurer, A. M., Figueiró, P. S., Campos, S. A. P., Silva, V. S., & Barcellos, M. D. (2015). Yes, we also can! O desenvolvimento de iniciativas de consumo colaborativo no Brasil. BASE: Revista de Administração e Contabilidade da UNISINOS, 12(1), 68-80.) pela substituição da propriedade exclusiva de bens por um serviço de compartilhamento de baixo custo (Hamari et al., 2016Hamari, J., Sjöklint, M., & Ukkonen, A. (2016). The sharing economy: why people participate in collaborative consumption. Journal of the Association for Information Science and Technology, 67(9), 2047-2059. http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552.
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).

Hamari et al. (2016)Hamari, J., Sjöklint, M., & Ukkonen, A. (2016). The sharing economy: why people participate in collaborative consumption. Journal of the Association for Information Science and Technology, 67(9), 2047-2059. http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552.
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notaram que os benefícios econômicos não apresentam efeito significativo na atitude em relação aos SMC, no entanto exercem influência direta e positiva na intenção comportamental de participar das práticas de compartilhamento. Por sua vez, Yakin et al. (2017)Yakin, V., Kacar, A. İ., & Ay, C. (2017). Sharing Economy: why the Turkish consumers use Airbnb? Journal of Marketing and Consumer Behaviour in Emerging Markets, 6(2), 25-36. http://dx.doi.org/10.7172/2449-6634.jmcbem.2017.2.2.
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observaram que os benefícios econômicos têm uma relação positiva com a atitude e associam-se negativamente à intenção comportamental. Já Sampaio et al. (2018)Sampaio, L. C., Fischer, W., & Miura, M. N. (2018). Comportamento do consumidor na economia compartilhada: por que as pessoas participam? In Anais do XXIX Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ENANGRAD). São Paulo: ANGRAD. observaram que os benefícios econômicos impactam positivamente na atitude quanto aos SMC e na intenção comportamental. Para Pinotti (2016)Pinotti, R. C. (2016). Hospitalidade e a intenção de recompra no contexto da economia compartilhada: um estudo em meios de hospedagem alternativos com equações estruturais (Dissertação de mestrado). Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo., os benefícios econômicos influenciam a intenção de recompra dos usuários dos meios de hospedagem alternativos, uma vez que demonstram uma maior preocupação com a experiência em si. Quanto a Mann (2018)Mann, F. C. F. (2018). Economia compartilhada e consumo colaborativo no Brasil: análise das motivações e características dos seus participantes (Dissertação de mestrado). Universidade Federal Fluminense, Niterói., ele notou que os benefícios econômicos percebidos exercem uma influência sobre a atitude dos consumidores em utilizar o consumo compartilhado.

Tussyadiah & Pesonen (2018)Tussyadiah, I. P., & Pesonen, J. (2018). Drivers and barriers of peer-to-peer accommodation stay–an exploratory study with American and Finnish travellers. Current Issues in Tourism, 21(6), 703-720. http://dx.doi.org/10.1080/13683500.2016.1141180.
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identificaram que os benefícios econômicos estão associados à intenção de uso desses modelos de acomodações, principalmente entre os viajantes jovens. Portanto, a partir dos resultados empíricos observados, sugerem-se as seguintes hipóteses de pesquisa:

H4a: Os benefícios econômicos percebidos influenciam positivamente a atitude em relação aos serviços de mobilidade compartilhada.

H4b: Os benefícios econômicos percebidos influenciam positivamente a intenção comportamental dos usuários de serviços de mobilidade compartilhada.

Atitude em relação aos SMC e intenção comportamental

A atitude é um fator determinante das intenções comportamentais, uma vez que exprime os gostos e as aversões dos indivíduos (Engel et al., 2000Engel, F., Blackwell, R. D., & Miniard, P. W. (2000). Comportamento do consumidor. Rio de Janeiro: LTC.), e é um importante antecedente do comportamento (Ajzen, 1991Ajzen, I. (1991). The theory of planned behavior. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 50(2), 179-211. http://dx.doi.org/10.1016/0749-5978(91)90020-T.
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; Engel et al., 2000Engel, F., Blackwell, R. D., & Miniard, P. W. (2000). Comportamento do consumidor. Rio de Janeiro: LTC.; Wang & Liu, 2009Wang, W. H., & Liu, Y. J. (2009). Attitude, behavioral intention and usage: an empirical study of Taiwan Railway’s internet ticketing system (pp. 72). Taiwan: National Taiwan Ocean University.). De acordo com a teoria da ação racional (Fishbein, 1963Fishbein, M. (1963). An investigation of the relationships between beliefs about an object and the attitude toward that object. Human Relations, 16(3), 233-240. http://dx.doi.org/10.1177/001872676301600302.
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, 1967Fishbein, M. (1967). Attitude and the prediction of behavior. In M. Fishbein (Ed.), Readings in attitude theory and measurement. New York: Wiley.), as atitudes e as intenções precedem o comportamento e estão relacionadas a um conjunto de fatores pessoais e sociais (normas subjetivas). Para Lopes & Alves (2017)Lopes, M. S., & Alves, C. A. (2017). Das redes sociais ao Instagram, da intenção ao comportamento: um estudo sobre a influência do eWOM (boca-a-boca eletrônico) na intenção de visitar um restaurante. In Anais do XX Seminários em Administração (Semead) (Vol. 1, pp. 1-20). São Paulo: FEA-USP., a atitude é um fator interacional dinâmico em que um indivíduo se correlaciona com o objeto da atitude e que pode ser alterado ao longo do tempo.

A atitude influencia a intenção de compra futura, manifestada mediante um comportamento individual direcionado para um produto (Wang & Yang, 2008Wang, X., & Yang, Z. (2008). Does country-of-origin matter in the relationship between brand personality and purchase intention in emerging economies? Evidence from China’s auto industry. International Marketing Review, 25(24), 458-474. http://dx.doi.org/10.1108/02651330810887495.
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). Esse comportamento representa um reflexo da afetividade, que tem influência no comportamento do consumidor (Hultman et al., 2015Hultman, M., Kazeminia, A., & Ghasemi, V. (2015). Intention to visit and willingness to pay premium for ecotourism: the impact of attitude, materialism, and motivation. Journal of Business Research, 68(9), 1854-1861. http://dx.doi.org/10.1016/j.jbusres.2015.01.013.
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). Assim, a intenção de comportamento é a disposição ou o planejamento dos indivíduos em executar um comportamento particular (Ajzen, 1991Ajzen, I. (1991). The theory of planned behavior. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 50(2), 179-211. http://dx.doi.org/10.1016/0749-5978(91)90020-T.
http://dx.doi.org/10.1016/0749-5978(91)9...
).

Hamari et al. (2016)Hamari, J., Sjöklint, M., & Ukkonen, A. (2016). The sharing economy: why people participate in collaborative consumption. Journal of the Association for Information Science and Technology, 67(9), 2047-2059. http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552.
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identificaram que a atitude quanto aos SMC pode influenciar as intenções comportamentais, no entanto isso ocorre em um grau muito pequeno em comparação à relação tipicamente observada entre esses construtos. Esse resultado também foi observado nas pesquisas de Yakin et al. (2017)Yakin, V., Kacar, A. İ., & Ay, C. (2017). Sharing Economy: why the Turkish consumers use Airbnb? Journal of Marketing and Consumer Behaviour in Emerging Markets, 6(2), 25-36. http://dx.doi.org/10.7172/2449-6634.jmcbem.2017.2.2.
http://dx.doi.org/10.7172/2449-6634.jmcb...
e Sampaio et. al. (2018)Sampaio, L. C., Fischer, W., & Miura, M. N. (2018). Comportamento do consumidor na economia compartilhada: por que as pessoas participam? In Anais do XXIX Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ENANGRAD). São Paulo: ANGRAD.. Partindo do pressuposto de que a atitude seria uma informação ou uma avaliação sobre determinados produtos e serviços (Fishbein & Ajzen, 1975Fishbein, M., & Ajzen, I. (1975). Beliefs, attitude, intention and behavior: an introduction to theory and research. Reading: Addison-Wesley.; Bagozzi & Burnkrant, 1979Bagozzi, R. P., & Burnkrant, R. E. (1979). Attitude organization and the attitude-behavior relationship. Journal of Personality and Social Psychology, 37(6), 913-929. http://dx.doi.org/10.1037/0022-3514.37.6.913.
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), consumidores que adquirem informações e opiniões do seu grupo de referência têm uma intenção mais forte para comprar determinados produtos do que os que não têm informações ou opiniões sobre um produto específico (Conner et al., 2001Conner, M., Kirk, S. F. L., Cade, J. E., & Barrett, J. H. (2001). Why do women use dietary supplements? The use of the theory of planned behaviour to explore beliefs about their use. Social Science & Medicine, 52(4), 621-633. http://dx.doi.org/10.1016/S0277-9536(00)00165-9. PMid:11206658.
http://dx.doi.org/10.1016/S0277-9536(00)...
).

Para este estudo, a atitude em relação aos SMC caracteriza-se como: (1) um dos principais determinantes do comportamento; (2) distinta da ação, isto é, do comportamento efetivo; e (3) relacionada à motivação para participar ou consumir. Diante do exposto, propõe-se a última hipótese da pesquisa:

H5: A atitude em relação aos SMC influencia positivamente a intenção comportamental dos usuários de serviços de mobilidade compartilhada.

Conforme a Figura 1, o modelo proposto apresenta dois construtos endógenos (intenção comportamental e atitude) e quatro construtos exógenos (sustentabilidade, prazer, reputação e benefícios econômicos), além duas variáveis de controle (gênero e renda).

Figura 1
- Modelo conceitual investigado. Fonte: adaptada de Hamari et al. (2016)Hamari, J., Sjöklint, M., & Ukkonen, A. (2016). The sharing economy: why people participate in collaborative consumption. Journal of the Association for Information Science and Technology, 67(9), 2047-2059. http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552.
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.

Método da pesquisa

Foram investigados 597 utilizadores de serviços, como o compartilhamento de carros, de caronas ou de bicicletas, existentes no Brasil. A escolha pelos SMC justifica-se por serem os segmentos da economia compartilhada que mais crescem no país (Freese et al., 2014Freese, C., Schönberg, A. T., & Horstkötter, D. (2014). Shared mobility: how new businesses are rewriting the rules of the private transportation game. München: Roland Berger Strategy Consultants.). Utilizou-se do instrumento de coleta proposto por Hamari et al. (2016)Hamari, J., Sjöklint, M., & Ukkonen, A. (2016). The sharing economy: why people participate in collaborative consumption. Journal of the Association for Information Science and Technology, 67(9), 2047-2059. http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552.
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, com a inserção do termo consumo colaborativo para SMC, uma vez que a escala original identifica os fatores determinantes para participação nas atividades de compartilhamento de forma genérica.

Foi utilizado o modelo de Hamari et al. (2016)Hamari, J., Sjöklint, M., & Ukkonen, A. (2016). The sharing economy: why people participate in collaborative consumption. Journal of the Association for Information Science and Technology, 67(9), 2047-2059. http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552.
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composto de atitude, intenção comportamental, prazer, benefício econômico, reputação e sustentabilidade, mensurados por uma escala Likert de 5 pontos (em que 1 corresponde a “discordo totalmente”, e 5, “concordo totalmente”). Foi empregada a ferramenta Google Docs para a coleta de dados, sendo os questionários enviados e multiplicados, de 29 de junho de 2018 a 6 de agosto de 2018, via postagens em redes sociais (Facebook), seguindo o método conhecido como “bola de neve” (Malhotra, 2012Malhotra, N. K. (2012). Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. (6. ed.). Porto Alegre: Bookman.). O Quadro 1 apresenta a escala dos construtos da pesquisa:

Quadro 1
- Questionário adaptado para a pesquisa

Realizou-se um pré-teste, por meio de uma amostra composta de 92 respondentes, para averiguar a consistência interna dos construtos utilizados no estudo. Após verificar a confiabilidade das escalas (alfa de Cronbach de 0,87 para atitude em relação aos SMC; 0,91 para intenção comportamental; 0,86 para prazer; 0,74 para benefícios econômicos; 0,93 para reputação; e 0,93 para sustentabilidade) e os ajustes semânticos, utilizou-se de uma análise fatorial exploratória (AFE). O teste final foi realizado por meio de um questionário hospedado no Google Forms. Empregou-se a técnica estatística da modelagem de equações estruturais (MEE), ou Structural Equation Modeling (SEM), na sua abordagem fundamentada na covariância (Covariance-Based Structural Equation Modeling - CB-SEM). Com o auxílio do software IBM SPSS Amos®, versão 20.0, realizou-se a etapa inicial da análise CB-SEM, com a análise fatorial confirmatória (AFC) para avaliar a qualidade do ajuste do modelo de mensuração teórico quanto à estrutura correlacional observada entre conjunto de variáveis observadas (Maroco, 2010Maroco, J. (2010). Análise estatística: com utilização do SPSS. Lisboa: Edições Silabo.). Após assegurada a qualidade do ajuste dos dados, passou-se para a avaliação das relações estruturais por meio da segunda fase da abordagem CB-SEM.

Análise e discussão dos dados

Neste tópico, serão apresentados e discutidos os resultados obtidos no estudo. O respondente médio da amostra pode ser caracterizado como do gênero feminino, com idade média de 26 anos, detendo nível superior incompleto, renda familiar de 4,69 salários mínimos, residente da região Sul/Sudeste e que utiliza os serviços do aplicativo Uber (88,61%), sendo que 45% utilizam exclusivamente esse serviço.

Avaliação preliminar dos construtos

De forma a avaliar a existência do alcance dos pressupostos inerentes à condução da análise CB-SEM, avaliou-se, construto a construto, a existência de correlação entre os itens, bem como o nível de consistência interna das escalas (via alfa de Cronbach). Os resultados obtidos possibilitam concluir a ausência de problemas de multicolinearidade dos itens, sendo notada a existência de excelentes níveis de consistência interna (alfa de Cronbach superiores a 0,80).

Análise fatorial confirmatória

Na análise inicial, o item ECO_4 (“Os serviços de mobilidade compartilhada permitem-me poupar tempo”) apresentou baixa carga fatorial padronizada (β = 0,16); assim, optou-se por excluir esse item da análise, tendo em vista que a sua manutenção acarretava a obtenção de baixos índices de qualidade do ajuste (goodness of fit - GOF). Como possível explicação para a não relevância dessa variável no contexto analisado, pode-se supor que seja reflexo dos constantes congestionamentos presentes nas grandes metrópoles, da baixa infraestrutura de ciclovias, dentre outros fatores possíveis. Dessa forma, mais estudos são necessários para incrementar a compreensão desse resultado.

Na sequência, avaliou-se a qualidade do ajuste do modelo (goodness of fit - GOF), que informa o quanto o modelo reproduz a matriz de covariância entre os indicadores, ou seja, as matrizes de covariância estimada e observada (Hair et al., 2016Hair, J. F., Jr., Hult, G. T. M., Ringle, C. M., & Sarstedt, M. (2016). A primer on partial least squares structural equation modeling (PLS-SEM). Thousand Oaks: Sage Publications.). Assim, os valores reportados (χ2/Gl = 2,94; GFI = 0,91; NFI = 0,94; RFI = 0,93; IFI = 0,96; CFI = 0,96; TLI = 0,95; PCFI = 0,81; RMSEA = 0,06) revelaram que o modelo apresenta excelentes níveis de ajustamentos, uma vez que todos atendem aos limites preconizados na literatura, isto é, χ2/Gl obtido é inferior a 5; o RMSEA é menor que 0,08; os valores de GFI, NFI, RFI, IFI, CFI e TLI são suficientemente inferiores a 0,90; e o valor de PCFI está entre 0,06 e 0,8 (Hair et al., 2016Hair, J. F., Jr., Hult, G. T. M., Ringle, C. M., & Sarstedt, M. (2016). A primer on partial least squares structural equation modeling (PLS-SEM). Thousand Oaks: Sage Publications.).

O índice de parcimônia de ajustamento (PRATIO = 0,08) do modelo proposto é considerado satisfatório, uma vez que apresenta valor superior 0,06, reportado na literatura (Ribas & Vieira, 2011Ribas, J. R., & Vieira, P. R. C. (2011). Análise multivariada com o uso do SPSS. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna.). Foram notados valores inferiores (inclusive para os indicadores ECVI, LO 90, HI 90 e MECVI) para o modelo hipotético, quando comparado aos modelos saturados e independentes, pelo critério de informação de Akaike (AIC), critério Browne-Cudeck (BCC), critério de informação Bayes (BIC) e critério de informação de Akaike consistente (CAIC). Conclui-se que o modelo teórico apresentou o melhor ajustamento. As estimativas dos pesos de regressão demonstraram razões críticas superiores a 1,96 (CR > 1,96) e nível de significância estatística superior a 5% (p < 0,05). Desse modo, notou-se que, entre os indicadores dos construtos, há uma covariância sistemática e estatisticamente significante.

Um valor de AVE superior a 0,50 indica que um construto explica metade da variância de seus indicadores (Hair etal., 2016Hair, J. F., Jr., Hult, G. T. M., Ringle, C. M., & Sarstedt, M. (2016). A primer on partial least squares structural equation modeling (PLS-SEM). Thousand Oaks: Sage Publications.). Observou-se que todos indicadores das variáveis latentes (construtos) reportaram valores de AVE acima do mínimo recomendado (de 0,50), indicando a existência de nível satisfatório de validade convergente.

Os valores reportados para a confiabilidade em cada construto (atitude = 0,91; benefícios econômicos = 0,80; sustentabilidade = 0,91; intenção comportamental = 0,89; reputação = 0,92; e satisfação = 0,85) mostraram-se suficientemente superiores a 0,70, valor preconizado pela literatura. Portanto, não ocorreram problemas de validade convergente. Acerca da validade discriminante, analisada por meio do critério proposto por Fornell & Larcker (1981)Fornell, C., & Larcker, D. F. (1981). Evaluating structural equation models with unobservable variables and measurement error. Journal of Marketing Research, 18(1), 39-50. http://dx.doi.org/10.1177/002224378101800104.
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, notou-se que nenhuma das correlações entre os construtos mostrou-se superior à raiz quadrada da AVE. Assim, conclui-se pela existência de validade discriminante em cada construto do modelo investigado.

Conforme a Figura 2, o coeficiente de determinação (R2) identifica a porção da variância do construto endógeno (independente) explicada pelos construtos exógenos (dependentes) a ele relacionados (Hair et al., 2016Hair, J. F., Jr., Hult, G. T. M., Ringle, C. M., & Sarstedt, M. (2016). A primer on partial least squares structural equation modeling (PLS-SEM). Thousand Oaks: Sage Publications.). De acordo com Ringle et al. (2014Ringle, C., Silva, D., & Bido, D. (2014). Modelagem de equações estruturais com utilização do Smartpls. Revista Brasileira de Marketing, 13(2), 54-71., p. 7), o coeficiente de determinação (R2) “[...] indica a qualidade do modelo ajustado”, em que os valores 0,75, 0,50 e 0,25 são considerados, respectivamente, substanciais, moderados e fracos (Hair et al., 2016Hair, J. F., Jr., Hult, G. T. M., Ringle, C. M., & Sarstedt, M. (2016). A primer on partial least squares structural equation modeling (PLS-SEM). Thousand Oaks: Sage Publications.).

Figura 2
- Resultados da análise do modelo estrutural. Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Cerca de 56% da variância do construto atitude em relação aos SMC (R2 = 0,56) e 66% da variância do construto intenção comportamental (R2 = 0,66) foram explicadas pelo conjunto de variáveis independentes (e de controle, isto é, gênero e renda) existentes no modelo estrutural. Conforme Hair et al. (2016)Hair, J. F., Jr., Hult, G. T. M., Ringle, C. M., & Sarstedt, M. (2016). A primer on partial least squares structural equation modeling (PLS-SEM). Thousand Oaks: Sage Publications., conclui-se que ambos os construtos são explicados moderadamente.

Após isolar o efeito das variáveis de controle gênero e renda, conclui-se que os benefícios econômicos estão positivamente relacionados à atitude em relação aos SMC (β = 0,112; p < 0,001), confirmando a hipótese 1a. Esse resultado corrobora os estudos de Miranda (2018)Miranda, M. A. R. (2018). Fatores que influenciam a atitude no Consumo Colaborativo no Brasil (Dissertação de mestrado). Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças, Vitória., So et al. (2018)So, K. K. F., Oh, H., & Min, S. (2018). Motivations and constraints of Airbnb consumers: findings from a mixed-methods approach. Tourism Management, 67, 224-236. http://dx.doi.org/10.1016/j.tourman.2018.01.009.
http://dx.doi.org/10.1016/j.tourman.2018...
, Yakin et al. (2017)Yakin, V., Kacar, A. İ., & Ay, C. (2017). Sharing Economy: why the Turkish consumers use Airbnb? Journal of Marketing and Consumer Behaviour in Emerging Markets, 6(2), 25-36. http://dx.doi.org/10.7172/2449-6634.jmcbem.2017.2.2.
http://dx.doi.org/10.7172/2449-6634.jmcb...
e Sampaio et al. (2018)Sampaio, L. C., Fischer, W., & Miura, M. N. (2018). Comportamento do consumidor na economia compartilhada: por que as pessoas participam? In Anais do XXIX Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ENANGRAD). São Paulo: ANGRAD. e contrariam os achados de Hamari et al. (2016)Hamari, J., Sjöklint, M., & Ukkonen, A. (2016). The sharing economy: why people participate in collaborative consumption. Journal of the Association for Information Science and Technology, 67(9), 2047-2059. http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552.
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, justificando-se pelas dificuldades financeiras dos indivíduos (cerca de 2/3 da amostra apontou ter renda de até 5 salários mínimos, sendo que 32% do total relatou ganhar até 1 salário mínimo), indicando que a atitude em relação aos SMC é motivada pelos benefícios econômicos que os usuários podem ter.

Tendo em vista a existência, para este estudo, de uma relação positiva entre os benefícios econômicos e a intenção comportamental (β = 0,20; p < 0,001), a hipótese 1b foi confirmada. No entanto, esse resultado não se alinha aos achados de Yakin et al. (2017)Yakin, V., Kacar, A. İ., & Ay, C. (2017). Sharing Economy: why the Turkish consumers use Airbnb? Journal of Marketing and Consumer Behaviour in Emerging Markets, 6(2), 25-36. http://dx.doi.org/10.7172/2449-6634.jmcbem.2017.2.2.
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. Por outro lado, eles são coerentes com os estudos de Hamari et al. (2016)Hamari, J., Sjöklint, M., & Ukkonen, A. (2016). The sharing economy: why people participate in collaborative consumption. Journal of the Association for Information Science and Technology, 67(9), 2047-2059. http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552.
http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552...
e de Sampaio et al. (2018)Sampaio, L. C., Fischer, W., & Miura, M. N. (2018). Comportamento do consumidor na economia compartilhada: por que as pessoas participam? In Anais do XXIX Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ENANGRAD). São Paulo: ANGRAD., que demonstram que os benefícios econômicos são fatores influenciadores da intenção de utilização dos SMC, uma vez que, ao optar por utilizar esse tipo de serviço, o usuário teria a expectativa de obter uma economia financeira por não ter custos relacionados à reparação e à manutenção, já que não é proprietário dos bens (Moeller & Wittkowski, 2010Moeller, S., & Wittkowski, K. (2010). The burdens of ownership: reasons for preferring renting. Managing Service Quality, 20(2), 176-191. http://dx.doi.org/10.1108/09604521011027598.
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).

A reputação está relacionada negativamente com a atitude em relação aos SMC (β = - 0,19; p < 0,001), refutando-se, assim, a hipótese 2. Esse resultado corrobora os resultados de Hamari et al. (2016)Hamari, J., Sjöklint, M., & Ukkonen, A. (2016). The sharing economy: why people participate in collaborative consumption. Journal of the Association for Information Science and Technology, 67(9), 2047-2059. http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552.
http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552...
, Yang & Ahn (2016)Yang, S., & Ahn, S. (2016). Impact of motivation in the sharing economy and perceived security in attitude and loyalty toward Airbnb. Advanced Science and Technology Letters, 129, 180-184. http://dx.doi.org/10.14257/astl.2016.129.36.
http://dx.doi.org/10.14257/astl.2016.129...
e Sampaio et al. (2018)Sampaio, L. C., Fischer, W., & Miura, M. N. (2018). Comportamento do consumidor na economia compartilhada: por que as pessoas participam? In Anais do XXIX Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ENANGRAD). São Paulo: ANGRAD.. A utilização desse tipo de serviço de compartilhamento não melhora a imagem do usuário diante da comunidade nem o faz ganhar respeito, reconhecimento e/ou prestígio.

Quanto à hipótese que evidencia uma relação positiva entre reputação e intenção comportamental, observou-se uma relação não significante (β = 0,03; p < não significante). Portanto, a hipótese 2b não se confirmou. Esse resultado não se alinha aos achados de Yakin et al. (2017)Yakin, V., Kacar, A. İ., & Ay, C. (2017). Sharing Economy: why the Turkish consumers use Airbnb? Journal of Marketing and Consumer Behaviour in Emerging Markets, 6(2), 25-36. http://dx.doi.org/10.7172/2449-6634.jmcbem.2017.2.2.
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, contudo corrobora os estudos de Hamari et al. (2016)Hamari, J., Sjöklint, M., & Ukkonen, A. (2016). The sharing economy: why people participate in collaborative consumption. Journal of the Association for Information Science and Technology, 67(9), 2047-2059. http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552.
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e Sampaio et al. (2018)Sampaio, L. C., Fischer, W., & Miura, M. N. (2018). Comportamento do consumidor na economia compartilhada: por que as pessoas participam? In Anais do XXIX Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ENANGRAD). São Paulo: ANGRAD., uma vez que o ganho de reputação não repercute em mais consumo de atividades de compartilhamento. Esses insights demandam uma análise multigrupo, considerando as variáveis de controle (renda e gênero). Observou-se uma relação positiva entre prazer e atitude em relação aos SMC (β = 0,70; p < 0,001), confirmando, assim, a hipótese 3a. Esse resultado está alinhado aos obtidos por Hamari et al. (2016)Hamari, J., Sjöklint, M., & Ukkonen, A. (2016). The sharing economy: why people participate in collaborative consumption. Journal of the Association for Information Science and Technology, 67(9), 2047-2059. http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552.
http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552...
, So et al. (2018)So, K. K. F., Oh, H., & Min, S. (2018). Motivations and constraints of Airbnb consumers: findings from a mixed-methods approach. Tourism Management, 67, 224-236. http://dx.doi.org/10.1016/j.tourman.2018.01.009.
http://dx.doi.org/10.1016/j.tourman.2018...
, Yang & Ahn (2016)Yang, S., & Ahn, S. (2016). Impact of motivation in the sharing economy and perceived security in attitude and loyalty toward Airbnb. Advanced Science and Technology Letters, 129, 180-184. http://dx.doi.org/10.14257/astl.2016.129.36.
http://dx.doi.org/10.14257/astl.2016.129...
e Sampaio et al. (2018)Sampaio, L. C., Fischer, W., & Miura, M. N. (2018). Comportamento do consumidor na economia compartilhada: por que as pessoas participam? In Anais do XXIX Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ENANGRAD). São Paulo: ANGRAD.. Os indivíduos perceberam os SMC como potencialmente agradáveis, divertidos, interessantes e empolgantes. Foi evidenciada a relação positiva entre prazer e intenção comportamental (β = 0,62; p < 0,001), confirmando, dessa maneira, a hipótese 3b, resultado que está em consonância com as pesquisas Hamari et al. (2016)Hamari, J., Sjöklint, M., & Ukkonen, A. (2016). The sharing economy: why people participate in collaborative consumption. Journal of the Association for Information Science and Technology, 67(9), 2047-2059. http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552.
http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552...
, Yakin et al. (2017)Yakin, V., Kacar, A. İ., & Ay, C. (2017). Sharing Economy: why the Turkish consumers use Airbnb? Journal of Marketing and Consumer Behaviour in Emerging Markets, 6(2), 25-36. http://dx.doi.org/10.7172/2449-6634.jmcbem.2017.2.2.
http://dx.doi.org/10.7172/2449-6634.jmcb...
e Sampaio et al. (2018)Sampaio, L. C., Fischer, W., & Miura, M. N. (2018). Comportamento do consumidor na economia compartilhada: por que as pessoas participam? In Anais do XXIX Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ENANGRAD). São Paulo: ANGRAD..

Notou-se que a sustentabilidade se relaciona positivamente com a atitude em relação aos SMC (β = 0,14; p < 0,001), confirmando a hipótese 4a. Esse resultado contraria Sampaio et al. (2018)Sampaio, L. C., Fischer, W., & Miura, M. N. (2018). Comportamento do consumidor na economia compartilhada: por que as pessoas participam? In Anais do XXIX Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ENANGRAD). São Paulo: ANGRAD., mas essa relação mapeada no presente estudo é respaldada pela literatura e pode ser observada nas pesquisas de Hamari et al. (2016)Hamari, J., Sjöklint, M., & Ukkonen, A. (2016). The sharing economy: why people participate in collaborative consumption. Journal of the Association for Information Science and Technology, 67(9), 2047-2059. http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552.
http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552...
e de Miranda (2018)Miranda, M. A. R. (2018). Fatores que influenciam a atitude no Consumo Colaborativo no Brasil (Dissertação de mestrado). Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças, Vitória.. Na amostra analisada, as atividades de compartilhamento acomodam necessidades e desejos de maneira mais sustentável com menores danos ao meio ambiente (Pizzol, 2015Pizzol, H. O. D. (2015). Proposição de uma escala para mensuração do consumo colaborativo: compreendendo o compartilhamento de bens e a sua relação com os valores pessoais (Dissertação de mestrado). Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.), quando comparadas às alternativas tradicionais de mobilidade; assim, também foi confirmada a hipótese 4b, da relação positiva entre sustentabilidade e intenção comportamental (β = 0,97; p < 0,001). Porém, esse resultado não corrobora os estudos de Sampaio et al. (2018)Sampaio, L. C., Fischer, W., & Miura, M. N. (2018). Comportamento do consumidor na economia compartilhada: por que as pessoas participam? In Anais do XXIX Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ENANGRAD). São Paulo: ANGRAD. e Mohlmann (2015)Mohlmann, M. (2015). Collaborative consumption: determinants of satisfaction and the likelihood of using a sharing economy option again. Journal of Consumer Behaviour, 14(3), 193-207. http://dx.doi.org/10.1002/cb.1512.
http://dx.doi.org/10.1002/cb.1512...
, mas encontra respaldo em Hamari et al. (2016)Hamari, J., Sjöklint, M., & Ukkonen, A. (2016). The sharing economy: why people participate in collaborative consumption. Journal of the Association for Information Science and Technology, 67(9), 2047-2059. http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552.
http://dx.doi.org/10.1002/asi.23552...
e Yakin et al. (2017)Yakin, V., Kacar, A. İ., & Ay, C. (2017). Sharing Economy: why the Turkish consumers use Airbnb? Journal of Marketing and Consumer Behaviour in Emerging Markets, 6(2), 25-36. http://dx.doi.org/10.7172/2449-6634.jmcbem.2017.2.2.
http://dx.doi.org/10.7172/2449-6634.jmcb...
. Ao contrário das descobertas da pesquisa de Sampaio et al. (2018)Sampaio, L. C., Fischer, W., & Miura, M. N. (2018). Comportamento do consumidor na economia compartilhada: por que as pessoas participam? In Anais do XXIX Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ENANGRAD). São Paulo: ANGRAD., os achados indicam que, para os usuários dos serviços de mobilidade compartilhada, a consciência ambiental e a sustentabilidade são variáveis que estão diretamente relacionadas com possíveis novas oportunidades geradas pelo compartilhamento.

Na busca de evidenciar a relação positiva entre atitude em relação aos SMC e intenção comportamental, evidenciou-se, pelos resultados reportados, a confirmação da hipótese 5 (β = 0,15; p < 0,001). É importante ressaltar que as variáveis de controle inseridas no modelo estrutural se mostraram positivamente relacionadas; logo, são obtidos indícios empíricos da existência de um padrão de respostas distintos por gênero (β = 0,10; p < 0,01), indicando que, em média, as mulheres apresentam maiores níveis de intenção comportamental e renda (β = 0,24; p < 0,01), o que sinaliza que os grupos de renda mais elevada apresentam maior intenção comportamental.

Os resultados obtidos apontam a relevância de benefícios econômicos, prazer e sustentabilidade como “preditores” que influenciam diretamente a atitude em relação aos SMC e a intenção comportamental dos usuários do presente estudo que utilizam os SMC. Acerca da reputação, foram notadas uma influência significativa na atitude em relação aos SMC (β = -0,19; p < 0,001) e uma relação não significativa quanto à intenção comportamental (β = 0,03; p < não significante).

De forma a consolidar os achados empíricos do presente estudo e possibilitar a sua confrontação com a literatura empírica correlata, reporta-se o Quadro 2.

Quadro 2
- Confrontação da presente pesquisa com a literatura correlata

Considerações finais

A presente pesquisa identificou os fatores motivacionais determinantes para adesão aos SMC no contexto brasileiro. Por meio da condução de uma survey com uma amostra composta de 597 usuários de SMC e utilizando-se da técnica multivariada de AFC, foram obtidos indícios empíricos que possibilitaram validar, no contexto brasileiro, uma escala para mensuração dos determinantes da utilização de SMC. Constatou-se que os benefícios econômicos, a sustentabilidade e a satisfação materialista apresentaram uma influência significativa no que diz respeito à atitude em relação aos SMC e à intenção comportamental dos usuários desses serviços. Foi visto que a reputação, na amostra investigada, não apresentou relação significante com a intenção comportamental e com a atitude dos indivíduos em relação aos SMC.

Portanto, a utilização dos SMC não melhora a imagem do usuário diante da comunidade, assim como também não o faz ganhar respeito, reconhecimento e/ou prestígio. Desse modo, diante dos resultados empíricos obtidos, nota-se que os maiores atrativos para que os usuários estejam propensos a utilizar os SMC estão diretamente relacionados aos ganhos financeiros, às contribuições para a sustentabilidade e à satisfação percebida que esse tipo de serviço pode prover.

Esses resultados mostram-se relevantes, uma vez que apresentam contribuições importantes para a literatura, especialmente para as pesquisas empíricas a respeito da mobilidade compartilhada, tema recente e pouco investigado no contexto brasileiro. A validação da escala no contexto brasileiro assegura um instrumento de pesquisa viável e consistente para futuras replicações, com o intuito compreender, ainda mais, a motivação para utilização dos SMC. No âmbito dos negócios, os resultados deste estudo podem direcionar as empresas para ações de marketing voltadas a uma maior atração de indivíduos que procuram por experiências agradáveis e divertidas, que almejam uma melhor consciência ambiental e que buscam serviços que gerem ganhos econômicos pontuais.

Por fim, como limitações durante a condução do presente estudo, há, nomeadamente, a escolha do tipo de amostra, não probabilística por conveniência com 597 usuários dos SMC, impossibilitando quaisquer iniciativas de realização de generalizações estatísticas dos resultados para além dos participantes do estudo. Portanto, sugere-se a replicação deste estudo em regiões distintas, com amostras mais abrangentes, em determinado tipo de serviço de mobilidade compartilhada ou em outros setores da economia compartilhada.

  • Como citar: Santos, A. S., Nascimento, J. C. H. B., Rabêlo Neto, A., & Barbosa, F. L. S. (2019). Determinantes da adesão aos serviços de mobilidade compartilhada: uma investigação empírica no contexto brasileiro. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana, 11, e20190033. https://doi.org/10.1590/2175-3369.011.e20190033

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Editado por

Editor: Fábio Duarte

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Out 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    12 Fev 2019
  • Aceito
    29 Maio 2019
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