Resumo
O presente artigo reune os anos de pesquisas empíricas feitas pelos co-autores com mulheres policiadas, estigmatizadas, e de baixa autonomia em setores da indústria sexual no Brasil, China, Itália e Estados Unidos. Identificamos seis formas de exclusão social prevalecentes nestes campos: econômica, de saúde, segurança, difamação pública, intersetorial, e policiamento. Analisamos as manifestações distintas dessas forças excludentes nos quatro países estudados para apresentar “control creep” - ou a criminalização sorrateira -- como espécie de abreviação teórica que significa a infiltração global de forças ideológicas, estruturais e interpessoais excludentes na vida social, nas práticas profissionais e nos procedimentos sócio-legais que marginalizam as mulheres na indústria do sexo, as situando como vítimas-criminosas que precisam de reabilitação. Unindo e desenvolvendo a literatura sobre o envolvimento feminista com e as críticas feministas de cidadania, os usos conceituais de "capiliaridade", carceralidade, a criminalização da migração e os estudos críticos sobre o tráfico human, argumentamos que a criminalização sorrateira facilita a criação de uma “tempestade perfeita” de exclusão, que promove a exclusão de fato e de jure das trabalhadoras do sexo da cidadania através de um conjunto abrangente de danos. Além disso, identificamos a “criminalização sorrateira” como um fator que limita -- até radicalmente -- a organização política de e a produção científica social sobre as populações vulneráveis que as leis anti-trabalho e anti-tráfico foram supostamente projetadas para ajudar.
Palavras-chave:
trabalho sexual; prostituição; antropologias sobre repressão