Resumo
Nas narrativas de parto de dois grupos etários de mulheres de camadas médias no Rio de Janeiro, o foco recaiu em grande parte no modo como obstetras participaram de suas experiências e na importância de confiar neles. Neste artigo, pretendo discutir esta menção frequente à confiança na relação médico-paciente, buscando compreender seus sentidos particulares nas experiências das mulheres pesquisadas e contribuir para os debates teóricos em torno da confiança. Estes significados devem ser entendidos em relação às noções e experiências de gestação e parto destas mulheres, que estão, por sua vez, articulados a ideias de pessoa, corpo, gênero e são afetados pelo grupo etário, posição social e raça. De modo mais amplo, argumento que a confiança não diz respeito apenas à formação de laços de cooperação, como aparece em muitos estudos nas ciências sociais. Ao tratar a confiança como um idioma relacional moral, aponto que esta noção remete fundamentalmente ao modo como as pessoas são pensadas e como devem se comportar.
Palavras-chave:
parto; confiança; relação médico-paciente; pessoa; gênero