Entre os Guarani, os cantos correspondem a um dos principais veículos de aquisição de conhecimento e agência xamânica. Na década de 90, com a formação de corais de crianças e jovens, algumas modalidades de cantos vieram protagonizando a inserção dos Guarani Mbya e Nhandeva nas regiões Sul e Sudeste do país no mundo dos projetos e eventos culturais, com a multiplicação de CDs e apresentações. Meu propósito é dar relevo a controvérsias e a forte inflexão que correspondeu a veiculação desses cantos nas relações com os jurua (os brancos). A estratégia até então predominante entre os Guarani de “invisibilidade cultural” foi tensionada pelo empenho de figurar a “cultura”, de modo a dar-lhe contornos reconhecíveis e valorizáveis, potencializando nos cantos o dispositivo de se fazer ouvir, tanto no eixo vertical como horizontal da existência.
cantos guarani; projetos indígenas; “cultura”; redes ameríndias