O desastre radioativo de Goiânia - um "evento crítico" - expôs a formação de novas identidades sociais que se opuseram à configuração de "radioacidentados", uma classificação estabelecida pelo sistema perito nuclear e definida exclusivamente pelas altas doses de radiação. Na procura pelo sentido da doença e do sofrimento, percebidos como causados pelo desastre, novos sujeitos sociais emergiram e atribuíram novas interpretações à materialidade dos corpos contaminados. Narrando suas experiências subjetivas, eles posicionaram suas identidades de vítimas em relação à experiência corporificada do lugar contaminado e na resignificação de objetos próprios à história do desastre e à tecnologia nuclear. Este trabalho focaliza a articulação entre corpo biológico, narrativas, memória, "coisas" e a constituição de identidades sociais. É uma análise histórica com base em uma etnografia multivocal sobre o desastre com o Césio-137.
Desastre Radioativo; Narrativas; Lugar; Memória Corporificada; Cultura Material; Identidade de Vítima