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Entre Portugal e o Brasil: Cristóvão de Gouveia, S. J. (1542-1622) e a arquitetura da Companhia de Jesus

Between Portugal and Brazil: Cristóvão de Gouveia, S. J. (1542-1622) and the Architecture of the Society of Jesus

Resumo

O presente estudo analisa e problematiza a ação de Cristóvão de Gouveia (1542-1622) no contexto das manifestações artísticas da Companhia de Jesus em Portugal e no Brasil, durante a segunda metade do séc. XVI e as primeiras décadas do séc. XVII. Este trabalho parte da revisão de fontes manuscritas e impressas já publicadas, mas acrescenta informações inéditas e notas explicativas, que permitem ter uma visão mais abrangente do percurso desse jesuíta. Os documentos abordados, à guarda do Archivum Romanum Societatis Iesu (ARSI), do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT) e da Biblioteca Pública de Évora (BPE), entre outros acervos, fornecem dados fulcrais sobre o papel determinante que Cristóvão de Gouveia teve quer na dinamização de festas e celebrações da Companhia, quer nas estratégias adoptadas para a construção de algumas casas. Entre estas últimas, destacam-se as quintas de recreio, em Portugal e no Brasil, mandadas construir e reabilitar por esse jesuíta. É, pois, este campo específico da arquitetura da Companhia, pouco conhecido, que este artigo pretende esclarecer.

Palavras-chave:
Companhia de Jesus; Cristóvão de Gouveia; Portugal-Brasil

Abstract

The present study analyses and explores the actions of Cristóvão de Gouveia (1542-1622) regarding the artistic manifestations of the Society of Jesus in Portugal and Brazil, during the second half of the sixteenth century and the first decades of the seventeenth century. This work is based on the review of previously published manuscript and printed sources, but adds new information and interpretations, which allow for a more comprehensive view of Gouveia’s life and work. The documents used, held in the Archivum Romanum Societatis Iesu (ARSI), in the Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT) and in the Évora Public Library (BPE), among other archives and libraries, provide crucial data on the decisive role played by Cristóvão de Gouveia in the promotion of festivities and celebrations of the Society of Jesus, and in the strategies adopted for the construction of some Jesuitic houses. Among the latter, are the Recreational Manors (Quintas de Recreio) in Portugal and Brazil, built and restored by him. It is therefore this little-known field of the Society’s architectural history that we aim to clarify.

Keywords:
Society of Jesus; Cristóvão de Gouveia; Portugal-Brazil

A investigação que ora se apresenta, alicerçada numa nova leitura das fontes manuscritas, tem por objetivo avaliar a ação de Cristóvão de Gouveia como Reitor, Visitador do Brasil e Provincial de Portugal no contexto artístico da Companhia de Jesus a três níveis principais: na dinamização de festas e celebrações da Companhia, através de encomendas artísticas e escolha de programas decorativos; nas estratégias adotadas para a construção e reabilitação de alguns colégios jesuítas; nas ordens dadas para a construção de quintas de recreio para os membros da Companhia, capítulo até agora menos conhecido da arquitetura dos jesuítas e no qual se distinguiu.

A fixação da Companhia de Jesus na Assistência Portuguesa foi marcada pela implementação de estruturas adequadas à sua missão, para as quais foram determinantes agentes culturais de peso, que iam desde os externos ao instituto religioso, tais como monarcas e outros fundadores, a todo um conjunto de elementos internos, que permitiam que o processo da implantação e edificação no terreno se cumprisse de acordo com os propósitos e dinâmicas jesuítas.

Cristóvão de Gouveia é um dos protagonistas dessa primeira geração de jesuítas, acerca do qual escreveu o seu companheiro Fernão Cardim (1583-1585) (CARDIM, 1925CARDIM, Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil e de algumas cousas notaveis que se achão assi na terra como no mar. Rio de Janeiro: J. Leite & Cia., 1925., p. 288) e a que se referiram outros autores, tais como António Franco (1714FRANCO. António. Imagem da virtude Em o Noviciado da Companhia de Jesus no Real Collegio do Espirito Santo de Evora do Reyno de Portugal. T. I. Lisboa: Officina Real Deslandesiana, 1714., p. 170-180) em Imagem da virtude Em o Noviciado da Companhia de Jesus no Real Collegio do Espirito Santo de Evora e na obra Ano Santo da Companhia (1715) (FRANCO, 1930FRANCO, António. Ano Santo da Companhia de Jesus em Portugal. Porto: Biblioteca do Apostolado da Imprensa, 1930., p. 81).

Outras referências mais recentes foram feitas por historiadores como Francisco Rodrigues (1931RODRIGUES, Francisco. História da Companhia de Jesus na Assistência Portuguesa. T. 1. Porto: Apostolado da Imprensa, 1931., p. 451; 1938), Serafim Leite (1938LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. T. I, II. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938., p. 489-493), Dauril Alden (1996)ALDEN, Dauril. The Making of an Enterprise: the Society of Jesus in Portugal, its Empire, and Beyond, 1540-1750. Stanford: Stanford University Press, 1996., J. Vaz de Carvalho (2001CARVALHO, J. Vaz de. Gouveia, Cristóvão de. In: O’NEILL, Charles E.; DOMÍNGUEZ, Joaquín María (Dir.). Diccionario Histórico de la Compañia de Jesús, Biográfico-Temático. T. II. Roma: Institutum Historicum; Madrid: Universidad Pontificia Comillas, 2001. p. 1792-1793., p. 1792-1793), Anna Maria Fausto Monteiro de Carvalho (2002)CARVALHO, Anna Maria Fausto Monteiro de. Os Reais Colégios da Companhia de Jesus no Brasil. Articulação espacial e arquitectura. Tese (Doutorado em História da Arte) - Universidade de Coimbra, Coimbra, 2002., Luís Kist (2008KIST, Luís. Os Jesuítas no começo do Brasil, Guiados pela Fé e Regidos pela Colônia. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2008., p. 199), Marcos Roberto de Faria (2014FARIA, Marcos Roberto de. A organização de um corpo disperso. Uma análise da atividade jesuítica em terras brasílicas (1583). Revista Brasileira de Educação, v. 19, n. 57, p. 417-440, abr./jun. 2014., p. 417-440), Paulo de Assunção (2016ASSUNÇÃO, Paulo de. O Colégio Jesuítico da Bahia: entre a sua fundação e a invasão holandesa. Revista de Estudos de Cultura, n. 6, p. 65-80, set./dez. 2016., p. 65-80), Jefferson Mariano Santana (2017)SANTANA, Jefferson Mariano. O destino da missão: a visita padre Gouveia á Província Jesuítica do Brasil na narrativa de Fernão Cardim (1583-1585). Dissertação (Mestrado em História) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2017. e, mais recentemente, Cláudia Gomes Duarte (2019)DUARTE, Cláudia Gomes. O Território como Sistema. Governo do Espaço e Arquitetura da Companhia de Jesus na Capitania do Espírito Santo (Séculos XVI-XVIII). Tese (Doutorado em Arquitetura) - Universidade do Porto, Porto, 2019., entre outros.

As informações incluídas nas obras desses autores revelaram, no entanto, a existência de lacunas, especialmente no âmbito do papel determinante que Cristóvão de Gouveia desempenhou no quadro artístico da Companhia de Jesus, a saber: as estratégias que adotou para a dinamização do culto ou, no campo da arquitetura, as motivações que o conduziram à aquisição e à beneficiação de casas, sobretudo as de recreio e quintas.1 1 Não é nosso propósito analisar a fundo a arquitetura, a organização espacial e as fontes referentes aos colégios e residências aludidos ao longo do texto, mas tão somente compreender o lugar que tiveram no trajeto de Cristóvão de Gouveia. O estudo que agora se apresenta pretende preencher esses vazios de informação.

Síntese biográfica

Cristóvão de Gouveia, nascido no Porto a 8 de janeiro de 1542,2 2 Serafim Leite indica a data de 3 de janeiro de 1537, sem explicitar a fonte (LEITE, 1938, p. 489). era filho de Henrique Nunes de Gouveia, natural do Faial e filho de Cornélio Dutra, capitão-mor dessa ilha, e de Beatriz Madureira, natural do Porto.3 3 Pese embora os nossos esforços no sentido de localizar o registo de batismo, a fim de confirmar este dado, que se estima ter sido realizado na freguesia de São Nicolau, isso não nos foi possível, em virtude de os registos paroquiais dessa freguesia que chegaram aos nossos dias terem início no ano de 1583. Desse matrimónio nasceram vários filhos e filhas, que, atendendo ao contexto da época, ingressaram quase todos na vida religiosa (FRANCO, 1930FRANCO, António. Ano Santo da Companhia de Jesus em Portugal. Porto: Biblioteca do Apostolado da Imprensa, 1930., p. 153-154).

Henrique Nunes de Gouveia foi um dos primeiros beneméritos da Companhia de Jesus no Porto, com a doação de umas casas na rua da Lada, freguesia de São Nicolau, onde se fixou a primeira comunidade de jesuítas, em 1560, e onde residiu São Francisco de Borja (1510-1572) (MARTINS, 2014MARTINS, Fausto Sanches. Jesuítas de Portugal: 1542-1759. Arte, culto, vida quotidiana. Porto: Edição do Autor, 2014., p. 25). Se a referida doação foi motivada pela admissão de Cristóvão e de seu irmão, João de Madureira (1548-1601),4 4 João Madureira destacou-se na Companhia de Jesus por ter sido reitor do colégio de Santo Antão e Prepósito da igreja de São Roque. Desempenhou ainda funções de confessor dos Duques de Aveiro (FRANCO, 1930, p. 566). no seio dessa comunidade, a fim de iniciarem os seus estudos, ou se essa admissão foi reflexo da devoção que Nunes de Gouveia tinha pela causa jesuíta, é algo que ainda não conseguimos apurar. O que é certo é que terá sido na Invicta5 5 Invicta ou Invencível é outra designação para a cidade do Porto, que reporta ao título que lhe foi conferido por D. Maria II (1819-1853). que Cristóvão de Gouveia iniciou o seu percurso na Companhia, aprendendo as primeiras letras.

A 10 de janeiro de 1556, ingressou no noviciado de Coimbra, onde fez os primeiros votos e estudou Latim e Artes. Após uma breve passagem pelo colégio de Évora, tomou ordens em 1571 e, a 3 de fevereiro de 1572, regressou a Coimbra, e proferiu os quatro últimos votos.6 6 Pobreza, castidade, obediência e obediência ao Papa para servir nas missões. Aí foi mestre dos noviços. Em 1573 encontrava-se ainda nessa cidade. Redigiu diversas missivas a Juan Alfonso de Polanco (1517-1576)7 7 ARCHIVUM ROMANUM SOCIETATIS IESU (ARSI), Roma. Cartas de Cristóvão de Gouveia para Juan Alfonso de Polanco, 1573. Lusitania 65, fº 131-134, fº 138-139. e a Everardo Mercuriano (1514-1580),8 8 ARSI, Roma. Cartas de Cristóvão de Gouveia para Everardo Mercuriano,1573. Lusitania 65, fº 307-308, fº 356. Geral da Companhia, sobre assuntos internos do colégio, como os cargos e funções existentes no mesmo. Terá sido a passagem por essa cidade e o contato com o culto das Onze Mil Virgens9 9 O culto das Onze Mil Virgens ou de Santa Úrsula e de suas Companheiras inscreve-se num conjunto de devoções hagiográficas, foi particularmente difundido pelos colégios da Companhia de Jesus em Portugal, a saber em Coimbra, Évora, Lisboa e Braga. (orago da igreja do colégio do Santíssimo Nome de Jesus) basilar para a promoção de imagens e de relíquias que viria a desenvolver?

Em Évora desempenhou as funções de reitor dos colegiais nos Paços d’el Rei (antigo colégio dos Porcionistas), sendo designado como reitor do colégio de Bragança em 1577. Nessa comunidade, como se irá ver mais adiante, não só contribuiu para a boa imagem da Companhia, através do incentivo das festas do colégio, como terá concorrido para o incremento da Quinta da Rica Fé, uma das estâncias de recreio dessa casa. Essa ação é a primeira que reconhecemos no âmbito da arquitetura da Companhia de Jesus, naturalmente decorrente das funções que ele desempenhava.

Nesse mesmo ano, é designado como Visitador, deslocando-se à Madeira e regressando a Bragança, onde continuou a desempenhar funções de reitor. Foi durante o seu governo que essa unidade de ensino recebeu 200.000 réis de D. Sebastião, importância que juntamente com algumas propriedades da Coroa fortaleceu a economia do colégio. Contudo, até à data, não foi possível apurar se imprimiu alguma marca no quadro do culto e da arquitetura aquando dessa passagem pela Madeira.

Esse desempenho valeu-lhe a nomeação de Reitor do colégio de Santo Antão de Lisboa, à Mouraria, ganhando a sua carreira eclesiástica uma maior projeção. Foi o responsável pelo lançamento da primeira pedra do novo colégio de Santo Antão de Lisboa, a 11 de maio de 1579 (MARTINS, 1994MARTINS, Fausto Sanches. A Arquitectura dos Primeiros Colégios Jesuítas de Portugal: 1542-1759. Cronologia. Artistas. Espaços. V. 1. Tese (Doutorado em História da Arte) - Universidade do Porto, Porto, 1994., p. 343). A partir desse momento, as suas aptidões no âmbito da avaliação da arquitetura vão-se revelar. Enquanto Reitor da maior casa de Lisboa, Cristóvão de Gouveia começará também a dedicar a sua atenção aos espaços de recreação da Companhia.

No ano de 1583, foi nomeado pelo Geral Cláudio Aquaviva (1543-1615) como Visitador das residências do Brasil, tendo permanecido nesse cargo por seis anos (MCCOOG, 2019MCCOOG, Thomas M.. With Eyes and Ears Open: the Role of Visitors in the Society of Jesus. Leiden: Brill, 2019.). A sua ação mediadora, enquanto reitor do colégio de Santo Antão de Lisboa, com o Geral da Companhia e os revisores romanos, terá sido determinante, quer para a sua eleição como Visitador do Brasil, quer para a aquisição de conhecimentos e aptidões no domínio artístico, que viria a utilizar no seu percurso. Após várias iniciativas de natureza administrativa, mas também várias ações ligadas à encomenda artística no Brasil, que, como iremos ver, eram da sua competência, mas revelavam de igual forma a sua inclinação para determinadas matérias, Gouveia regressa ao reino, e governa o colégio do Espírito Santo de Évora.10 10 ARSI, Roma. Catalogo Primero de los Padres y hermanos de la Provincia de Portugal hecho en Abril de 1593, 1593. Lusitania 44 I, fº 88 v.

Aí prossegue com a empreitada do colégio da Purificação, fundado em 1577 pelo cardeal D. Henrique, após a concessão de Bula de instituição, em 1576, pelo papa Papa Gregório XIII (1502-1585), a que se somou um Breve de 13 de julho de 1579 (FRANCO, 1945FRANCO, António. Évora Ilustrada. Évora: Nazareth, 1945., p. 290). É também nessa cidade que lhe são imputadas responsabilidades pelo endividamento do colégio do Espírito Santo, fronteiro ao colégio da Purificação,11 11 ARSI, Roma. Carta do Visitador Pedro da Fonseca para o Geral da Companhia, 1592. Lusitania 71, fº 153. por parte de outro Visitador, o padre Pedro da Fonseca (1527-1599).12 12 O padre Pedro da Fonseca destacou-se no âmbito da filosofia, tendo o epíteto de “Aristóteles Português” (CARVALHO, 2020).

Embora não tenhamos a certeza da data exata em que passa a residir em Lisboa, certo é que, no Catálogo Trienal de 1597, já figura como Provincial da Província de Portugal, cargo que ocupou entre essa data e 1600, altura em que ainda conduziu o processo da implantação de um noviciado na Quinta de Campolide / Quinta de Monte Olivete ou da Cotovia.13 13 ARSI, Roma. Catalogo da Provincia de Portugal do anno de [15]97, 1597. Lusitania 44 I, fº 108 v. Entre 1603 e 1606, foi eleito Prepósito da mesma casa de São Roque. E, aí, terá assistido às festas da beatificação de Inácio de Loyola (1609) e de Francisco Xavier (1619).14 14 ARSI, Roma. Catalogos da Prouincia de Portugal com seu indice do anno de 1614, 1614-1619. Lusitania 44 II, fº 302 v; 350 v-351. Foi ainda nomeado bispo do Japão, cargo que não chegou a desempenhar por já estar muito doente, tendo morrido a 13 de fevereiro de 1622.

A promoção das celebrações e dos aparatos festivos

As celebrações e os aparatos festivos não são um tema novo no contexto da Companhia de Jesus. São, no entanto, escassos no que refere aos primeiros tempos desse instituto religioso, particularmente no âmbito da Assistência de Portugal.

Cristóvão de Gouveia foi um dos seus primeiros impulsionadores e o entendimento da sua ação é fundamental para a compreensão da afirmação da prática católica no tecido urbano, onde a festa não só se desenvolveu no templo, como perpassou para as principais artérias das cidades e vilas.

Uma das primeiras informações de que dispomos, na área das festas e aparatos efémeros, reporta à sua passagem por Bragança. O padre Gouveia foi responsável pela integração de várias relíquias das Onze Mil Virgens no colégio do Santíssimo Nome de Jesus (MARTINS, 2005MARTINS, Fausto Sanches. Legado patrimonial, cultural e religioso da Companhia de Jesus à Cidade de Bragança - Séculos XVI-XVIII. In: RODRIGUES, Luís Alexandre (Coord.). O Património histórico-­cultural da região de Bragança/Zamora. Porto: CEPESE, 2005. p. 145-163., p. 145-163), que o padre Inácio Martins (1531-1598) (FREITAS CARVALHO, 2007FREITAS CARVALHO, José Adriano de. Poesia e Hagiografia. Porto: Centro Inter-Universitário de História da Espiritualidade, 2007.) trouxera de Itália e da Alemanha.

Na sequência dessa doação, ordenou que se fizesse uma procissão para solenizar esse ato. E, embora não haja uma descrição pormenorizada do evento, os relatos da festa indicam que terá promovido a realização de uma tragédia, tendo, para além dessa manifestação teatral, dinamizado jogos populares, tais como: jogos de patos, argolinhas e canas.

O Senado da Câmara de Bragança também contribuiu para a organização do evento, ordenando que o cortejo se fizesse à imagem da procissão de Corpus Christi, e o bispo da diocese Bragança-Miranda, D. António Pinheiro ([15--]-1582), convocou o cabido e outros religiosos para encorajarem a participação da população (PINTO CARDOSO, 1997PINTO CARDOSO, Arnaldo. D. António Pinheiro - Um notável bispo do séc. XVI. Humanística e Teologia, n. 18, p. 125-139, 1997., p. 125-139; ANDRÉ, 2009ANDRÉ, Carlos Ascenso. Retórica e política no ocaso do Império: António Pinheiro de Porto de Mós, humanista e orador da coroa. In: SOARES, Nair de Nazaré Castro; MOREDA, Santiago López (Coord.). Génese e Consolidação da Ideia de Europa. V. IV - Idade Média e Renascimento. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2009. p. 393-413., p. 393-413).

Essa solenidade, embora distante de Lisboa, inscreveu-se no modelo de celebração que foi implementado pela ocasião da vinda das relíquias ofertadas por D. João de Borja (1533-1606) à igreja de São Roque de Lisboa, em 1588, não só pela proveniência das peças, como pelo fato de também serem relíquias das Onze Mil Virgens (FREITAS CARVALHO, 2001FREITAS CARVALHO, José Adriano de. Os recebimentos de relíquias em S. Roque (Lisboa 1588) e em Santa Cruz (Coimbra 1595). Relíquias e espiritualidade. E alguma ideologia. Via Spiritus, n. 8, p. 95-155, 2001., p. 95-155; BROCKEY, 2005BROCKEY, Liam Matthew. Jesuit Pastoral Theater on an Urban Stage: Lisbon, 1588-1593. Journal of Early Modern History, v. 9, n. 1, p. 1-50, 2005., p. 1-50; BROCKEY, 2006BROCKEY, Liam Matthew. O Alcázar do Ceo: The Professed house at Lisbon in 1588. Archivum Historicum Societatis Iesu, v. 75, n. 149, p. 89-135, Jan./June 2006., p. 89-135; TELFER, 2017TELFER, William M. A.. O Tesouro de São Roque. Um olhar sobre a Contra-­Reforma. Lisboa: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, 2017.). O empenho que se reconhece a D. António Pinheiro, conceituado humanista, nessa atividade corrobora a importância desse ato no panorama religioso do final do século XVI.15 15 D. António Pinheiro, para além de bispo de Miranda, foi bispo de Leiria e destacou-se como Visitador e reformador da Universidade de Coimbra. A sua formação clássica, decorrente de ter estudado na academia parisiense, levou a que sobressaísse no âmbito da Retórica (PINTO CARDOSO, 1997, p. 125-139; ANDRÉ, 2009, p. 393-413).

No Brasil, para a boa concretização das celebrações, foram, num primeiro momento, enviados objetos de cultura material, como relíquias e alfaias litúrgicas, de vários pontos da Assistência, por forma a dinamizar os aparatos, sendo, num segundo momento, já concretizadas várias obras nesse local, nomeadamente armações.

Um dos vários testemunhos que prova a necessidade de dotar as novas igrejas jesuítas com alfaias próprias consta numa carta, enviada de São Roque a 31 de dezembro de 1562, onde se pode ler:

Para o Brasil estão a caminho 4 da Companhia (...) El Rey os mandou prover do necessário para a sua viagem e embarcação na nova capitania. Também lhes mandou dar 15 Vestimentas 13 frontais e nove panos de púlpito de diversas cores de sedas - ƒ- Tafetá; Cetim, e Damasco, com barras de veludo e suas alvas manípulos e estolas para as Igrejas que hão edificado os Padres da Companhia e 18 cálices de prata e 11 vestimentas comuns para durante a semana de um certo pano que vem das Índias com 11 frontais do mesmo para as igrejas, ordenou que se dessem sinos e ferros para fazer cruzes de ouro e deu muitos corporais guardas e outras coisas necessárias para estas vestes que Sua Alteza deu. Levam estes irmãos 7 vestimentas 3 frontais e um pano de púlpito de seda que os Padres das Índias enviaram para os do Brasil levam também panos para se vestirem os Padres que residem naquelas partes.16 16 Trad. livre da autora: “Para El Brasil estan de camino 4 dela Compañia (...) El Rey los mando proueer delo necessario para su viage y Embarcaçion en la noua capitanea. Tambien les mando dar 15 Vestimentas 13 frontales y noeue pannos de pulpito de diuersas colores de cedas - ƒ- Tafeta; Cetin, y Damasco, con barras de tertiopelo y sus aluas manipulos y estolas para las Iglesias que alla an edificado los Padres dela Compañia y 18 caliçes de plata y 11 uestimentas comunes edificado los Padres dela Compañia y 18 caliçes de plata y 11 uestimentas comunes para Entre semana de Vn çierto paño que viene delas Indias con 11 frontales delo mesmo para las Iglesias mando se diessen campanillas y hierros para hazer hostias cruzes doradas y dio muchos corporales guardas y otras cosas necessarias Vltra destos ornamentos que S. A. a dado lleuan estos hermanos 7 vestimentas 3 frontales y vn panno de pulpito de ceda que los Padres de las Indias Embiaron para los del Brasil lleuan tambien pannos para se vestiren los Padres que residen en aquellas partes”. ARSI, Roma. Carta quadrimestral da Casa de São Roque (Lisboa) para Diego Laynez, 1562. Lusitania 51, fº 259 v-260, citado por LEITE, 1938, p. 321.

Nesse local, onde o Visitador se empenhou particularmente no aumento do Culto Divino, há notícia de esse tema ter ocupado a agenda do primeiro encontro que teve com o então Provincial do Brasil, o padre José de Anchieta (1534-1597). Com efeito, Cristóvão de Gouveia procurou promover, logo à sua chegada, a realização de festas, com o intuito de passar uma imagem dinâmica e atual, e ao mesmo tempo cumprir as diretrizes veiculadas pelo Concílio de Trento (1545-1563).

Ao chegar ao colégio da Bahia, segundo o testemunho do padre António Franco, procurou aumentar a devoção dos crentes, novamente através da doação de relíquias. Doa, para esse efeito, um corpo de prata, com uma cabeça de uma das Onze Mil Virgens (PORTUGAL, 2020PORTUGAL, Francisco Assis. Fé e Arte em Relíquias e Relicários. Revista Imagem Brasileira, n. 9, p. 33-38, 2020., p. 33-38), e legou, também a outras casas da Província do Brasil outros relicários. Ordenou ainda que se fizesse uma procissão, à semelhança do que havia feito em Bragança, com máquinas, largada de touros e jogos de canas. Para maior culto dessas mártires, incentivou, por fim, a fundação de uma irmandade, estabelecendo essa devoção no Brasil (FRANCO, 1714FRANCO. António. Imagem da virtude Em o Noviciado da Companhia de Jesus no Real Collegio do Espirito Santo de Evora do Reyno de Portugal. T. I. Lisboa: Officina Real Deslandesiana, 1714., p. 176).

Uma carta de Fernão Cardim ao Provincial de Portugal, datada de 16 de outubro de 1585, que reporta a missão do Visitador em 1583, corrobora esses dados e elucida sobre alguns pormenores do relicário, para além de também informar que este foi agrupado a outros dois, com cabeças das mesmas Virgens, que já existiam no colégio, e que todo esse aparato também foi acompanhado por música e danças.17 17 BIBLIOTECA PÚBLICA DE ÉVORA (BPE), Évora. Carta enviada por Fernão Cardim ao provincial de Portugal, Sebastião de Morais, sobre a missão do P. Cristovão de Gouveia às partes do Brasil no ano de 1583, out. 1585. COD-CXVI-1-33, n. 6 16 (citado por CARDIM,1925, p. 380).

Embora não haja a certeza de se tratar das mesmas relíquias, não se pode ignorar que, nas festas da beatificação de Inácio de Loyola, ocorridas no colégio da Bahia em maio de 1610, foi construída uma estrutura em forma de santuário, organizado em pirâmide rematada por uma cruz de prata dourada, com uma relíquia do Santo Lenho, doze corpos de Santos, quatro de prata e oito de madeira, “todos que se pode dizer bem acabados os quaes pella mesma ordem diuizauão uarias outras peças de prata, braços de pao, e Relicarios, em que estão as Reliquias mais notaueis deste Collegio”.18 18 ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO (ANTT), Lisboa. Manuscritos da Livraria, 1610. n. 486, fº 229 v.º - v.

Na ocasião da sua estada em Terras de Vera Cruz, entre as várias celebrações que ocorreram, foi também realizada uma outra festa de matriz europeia na Aldeia do Espírito Santo,19 19 Atualmente conhecida como Vila Nova do Espírito Santo de Abrantes, ou apenas Vila de Abrantes. também narrada por Cardim, onde se ergueu um sepulcro com “columnas, cornijas, frontispicios de obra de papel, assentada sobre madeira” (CARDIM, 1925CARDIM, Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil e de algumas cousas notaveis que se achão assi na terra como no mar. Rio de Janeiro: J. Leite & Cia., 1925., p. 324). O aparato ostentou um pálio, que guardava o crucifixo, bandeiras de tecido pintado, e os Ofícios foram feitos por Cristóvão de Gouveia (CARDIM, 1925CARDIM, Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil e de algumas cousas notaveis que se achão assi na terra como no mar. Rio de Janeiro: J. Leite & Cia., 1925., p. 324). E, embora a residência jesuíta tenha sido demolida em 1940, ainda hoje se pode observar o espaço onde estava a igreja que foi palco dessa ação, com as transformações usuais que se operaram nesse tipo de edifícios (LINS, 2010LINS, Eugénio de Ávila. Igreja do Divino Espírito Santo. In: MATTOSO, José (Dir.). Património de Origem Portuguesa no Mundo. Arquitectura e Urbanismo. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. p. 89., p. 89).

O evento contou com a participação da comunidade local, a qual Gouveia procurou sempre envolver em todas as suas atividades.20 20 A importância que Gouveia reconheceu ao papel que os índios podiam desempenhar nas atividades festivas, nas obras, conduziu a que, estrategicamente, obtivesse licença régia para que estes não pagassem dízimos nos primeiros quinze anos da sua conversão (FRANCO, 1714, p. 178). E embora não haja a certeza de ser a mesma festa, Serafim Leite narra que no mesmo ano de 1583, e também na capitania do Espírito Santo, Gouveia assistiu a uma festa:

com alardos à portuguesa (...), com muitas danças, folias, bem vestidos, e o rei e a rainha ricamente ataviados com outros principais e confrades (...): fizeram no terreiro da nossa igreja seus caracóis, abrindo e fechando com graça por serem mui ligeiros, e os vestidos não carregavam muito (LEITE, 1938LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. T. I, II. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938., p. 217-218).

Ao passar por Piratininga, Gouveia foi novamente obsequiado com uma festa. Nessa urbe, foi recebido pelos principais da terra, que o acolheram com escaramuças em seus ginetes. Foi criado um percurso até um altar, decorado com ramos, e foi concedida ao Visitador, segundo a visão da época, a honra de levar uma cruz de prata com o Santo Lenho, e outras relíquias por si oferecidas a essa casa. Nesse trajeto, ocorreram várias danças, com “homens de espadas” e meninos que frequentavam a escola (LEITE, 1938LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. T. I, II. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938., p. 310-311). Desconhecendo-se se terá promovido nos bastidores essa festa, ou se a mesma terá sido realizada por ir ao encontro da dinâmica que tentou estabelecer, essa celebração inscreveu-se, sobretudo, e uma vez mais, no cumprimento das regras pós-tridentinas, onde se promoveram a exaltação e o culto das relíquias.

Em 1588, inaugurou-se a nova igreja do colégio do Rio de Janeiro, cuja edificação, como se aludirá mais adiante, foi diligenciada por Gouveia em 1585. Embora desconheçamos se o Visitador esteve presente, convém considerar essa hipótese, pois ele não só tinha dinamizado essa construção, como, à data, ainda se encontrava no Brasil. O aparato contou com a deslocação do Santíssimo Sacramento, da igreja velha para a nova (LEITE, 1938LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. T. I, II. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938., p. 392-393).21 21 A igreja tinha 115 palmos de comprimento (2530 cms), 50 de largo (1100 cms) e 45 de altura (990 cms) (LEITE, 1938, p. 392-393).

Já em Portugal, e apesar de desconhecermos qual o papel que poderá ter tido nas grandes festas da beatificação de Inácio de Loyola (1609) e de Francisco Xavier (1619), bem como na visita de Filipe III de Espanha (1578-1621) a Lisboa e à igreja de São Roque, onde à data residia, convém não ignorar que terá sido, pelo menos, um dos assistentes dessas efemérides. Nas festas de Inácio de Loyola em Lisboa, que se celebraram em 1610, são referidos o “Padre Preposito (...), os consultores da Casa e Prouincia, o Padre Ministro com os outros Padres o Irmão Sotoministro com uarios Irmãos Coadjutores”,22 22 ANTT, Lisboa. Manuscritos da Livraria, 1610. n. 486, fº 153 v.º- v (citado por COUTINHO; FERREIRA, 2020, p. 168-169). onde seguramente este decano se incluía.

Na Joyeuse Entrée, segundo Manuel Severim de Faria, Filipe III deslocou-se à igreja de São Roque, sendo atualmente essa visita associada ao ciclo pictórico da vida de Francisco Xavier realizado na mesma data.23 23 BPE, Évora. FARIA, Manuel Severim de, Annaes de Portugal que comprehendem os successos do Reino, e suas Conquistas de todo o tempo, que governaraõ os tres Reys de Castella, até a Aclamação delRey D. João IV, 1619. Códice CVI/2-19, fº 134 (citado por SIMÕES, 2020, p. 97-98). O Catálogo da Província de Portugal de 1619 refere que nesse ano também:

acrecentou se o sanctuario com algumas muy insignes Reliquias que de nouo mandou a esta Casa a Senhora Dona Francisca d'Aragão. A igreia se acrecentou com peças, ornamentos de tella, e bordadura, castiçães e alampadas de prata, cortinas ricas, pauilhões, caixões de pao fino com pregadura dourada, e com se dourar toda a abobada da sacristia; no que tudo se gastarão noue mil quinhentos e cincoenta cruzados.24 24 ARSI, Roma. Primeiro catalogo da Província de Portugal feito no anno de 1619, 1619. Lusitania 44 II, fº 2 (citado por COUTINHO; FERREIRA 2020, p. 171).

O despertar do gosto pela arquitetura e a consolidação das obras nos colégios

Os estudos na área das Artes terão sensibilizado Cristóvão de Gouveia para as matérias da saúde, nomeadamente da salubridade e recreação, e a sua formação clássica ter-lhe-á permitido contatar com autores clássicos e com Tratados de Arte. Desconhecemos, todavia, quais as suas efetivas competências em matéria de construção, ou que outro tipo de habilitações poderá ter adquirido a fim de levar a cabo essas tarefas.

Se a aprovação de desenhos arquitetónicos coube ao Consiliarius Aedificiorum,25 25 O Consiliarius Aedificiorum ou revisor romano era o responsável pela aprovação ou censura dos projetos arquitetónicos (PATETTA, 2003, p. 389-400). compreende-se, através da análise da correspondência, que Gouveia também desempenhou um papel determinante no que refere à escolha dos arquitetos e dos debuxos.

Ao assumir o reitorado do único colégio de Lisboa nessa data, sabemos que se empenhou nas questões em torno do projeto dessa estrutura, bem como na controvérsia suscitada pela escolha de um arquiteto, por parte do cardeal D. Henrique (1512-1580). A Companhia de Jesus tinha, como tem vindo a ser defendido por vários investigadores, procedimentos internos próprios no que à seleção dos arquitetos dos seus colégios se referia (PINHO, 2017PINHO, Inês Gato de. El nuestro modo de proceder e a especificidade da arquitectura da tipologia escolar jesuíta na Província Lusitana. In: CRAVEIRO, Maria de Lurdes; GONÇALVES, Carla Alexandra; ANTUNES, Joana (Coord.). Equipamentos Monásticos e Prática Espiritual. Lisboa: Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja, 2017. p. 221-246., p. 221-246), e a interferência do rei e mecenas neste processo gerou alguma discórdia. Segundo Baltazar Telles e o padre António Franco, D. Henrique chamou o jesuíta Baltazar Álvares (1560-1630), arquiteto-mor do reino, que de imediato traçou uma planta, que o cronista caraterizou por ser “em tudo magnificentíssima” (TELLES, 1647TELLES, Balthazar. Chonica da Companhia de Iesv na Provincia de Portugal. V. II. Lisboa: Paulo Craesbeeck, 1647., p. 21; FRANCO, 1714FRANCO. António. Imagem da virtude Em o Noviciado da Companhia de Jesus no Real Collegio do Espirito Santo de Evora do Reyno de Portugal. T. I. Lisboa: Officina Real Deslandesiana, 1714., p. 173).

Tal intromissão por parte do monarca não terá agradado aos jesuítas, mesmo tratando-se de um membro da Companhia de Jesus, uma vez que tinham a sua própria organização, no que respeitava a matérias construtivas. Vencidas essas querelas, e apaziguados os ânimos com o rei e com o Senado da Câmara, tal como relatou ao padre Everardo Mercuriano (1514-1580), Geral da Companhia, o padre Gouveia assumiu a responsabilidade de lançar a primeira pedra do novo colégio, a 11 de maio de 1759.26 26 ARSI, Roma.Cartas de Cristóvaõ de Gouveia a Everardo Mercuriano, 1579. Lusitania 68, fº 87, fº 117, fº 170-171 v. e 213 - fls. 170 a 171 v e fl. 213 (citado por MARTINS, 1994, p. 340-341, p. 344-347).

Para além de mediar essa tensão, Cristóvão de Gouveia viu-se ainda a braços com a escolha de um novo arquiteto da obra, em 1581, e com os avanços e os retrocessos na empreitada, motivados por hesitações de diversas naturezas. A vinda do tracista italiano Giuseppe Valeriano (1542-1596) foi certamente um momento alto no seu reitorado. Todavia, como Fausto Sanches Martins (1994MARTINS, Fausto Sanches. A Arquitectura dos Primeiros Colégios Jesuítas de Portugal: 1542-1759. Cronologia. Artistas. Espaços. V. 1. Tese (Doutorado em História da Arte) - Universidade do Porto, Porto, 1994., p. 340-341, p. 344-347) sublinhou, a opção pelo risco de Silvestre Jorge (c. 1526-1608), que já tinha dado mostras da sua capacidade em Évora, em virtude da súbita doença e subsequente regresso de Valeriano a Roma, parece ter agradado ao padre Gouveia, que defendeu junto do Geral que esse projeto não devia sofrer mais alterações.

Concomitantemente a todo esse processo, Cristóvão de Gouveia envolve-se no destino a dar ao colégio de Santo Antão, mais tarde designado como “o velho” ou “Coleginho”, sendo este vendido, após o seu reitorado, a outra ordem religiosa, que aproveitou as boas estruturas e que as adequou às necessidades da nova comunidade.27 27 A 28 de abril de 1594 a Companhia de Jesus vende o edifício, por onze mil cruzados, à Ordem dos ermitas de Santo Agostinho, sendo alterada a invocação do espaço para colégio de Santo Agostinho. Entretanto, no que a Santo Antão se refere, e revisitando as memórias do padre Franco, quando o padre Gouveia deixou o colégio, a construção não tinha mais do que a altura das janelas, uma vez que as fundações eram particularmente profundas, passando do “andar das hortas de bayxo”, o que seguramente terá demorado mais tempo a executar do que o esperado (FRANCO, 1714FRANCO. António. Imagem da virtude Em o Noviciado da Companhia de Jesus no Real Collegio do Espirito Santo de Evora do Reyno de Portugal. T. I. Lisboa: Officina Real Deslandesiana, 1714., p. 174).

Poucos anos depois, ainda as obras de Santo Antão estavam muito incipientes, este jesuíta foi eleito Visitador do Brasil, abandonando aquelas questões e virando o seu olhar para as casas dessa área geográfica. Cristóvão de Gouveia, para além das iniciativas tomadas no âmbito da edificação do colégio de Santo Antão-o-Novo, percorreu, na qualidade de Visitador, vários espaços da Província do Brasil, onde também fomentou a construção, particularmente aquando da sua passagem pela Bahia.

Numa das primeiras cartas que enviou ao padre Cláudio Aquaviva (1543-1615), Geral da Companhia, de 25 de julho de 1583, menciona a sua visita à Ilha da Madeira e reporta, acerca da residência da Bahia que:

No edifício está este colegio mediocremente acomodado, tem construido já um claustro [pátio] em quadra, com bons quartos, faltam alguns e os escritórios todos, e casa para noviços, e escolas; tudo isso se fará muito lentamente, por não haver possibilidade para o fazer.28 28 Trad. livre da autora: “En el edifiçio esta este colegio mediocremente acommodado, tiene heçho ya uno claustro en quadra, con buenas camaras, faltan angunas y las offiçinas todas, y casa para nouiçis, y escholas; lo que todo se hara muy despaçio, por no tener possibilidad para lo hacer”. ARSI, Roma. Carta de Cristóvão de Gouveia para Cláudio Acquaviva, 1583. Lusitania 68, fº 339.

A 31 de dezembro desse ano, dá notícia de que o colégio tinha um pátio de pedra e cal e, na parte leste, uma igreja, com sacristia. A sul tinha, no piso inferior, a dispensa e adega e, no piso superior, a capela e a enfermaria. O lanço poente tinha 19 quartos, nove por cima e dez por baixo, com três janelas grandes que faziam uma cruz nos corredores. A nordeste ficavam mais treze quartos (sete por cima e seis por baixo). O autor estabelece ainda uma comparação entre o colégio da Bahia e o de Coimbra, informando que estes quartos eram forrados a cedro e maiores do que os desse colégio português. Os portais eram de cantaria, mas é notado o fato de os corredores estarem ainda por acabar (LEITE, 1938LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. T. I, II. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938., p. 53). Tal informação é bastante significativa para a compreensão da espacialidade, mas também para o entendimento das opções materiais.

Na mesma ocasião, sabemos que convocou pedreiros e carpinteiros, e deu-lhes escravos, se aceitarmos o testemunho de António Franco, para que pudessem aprender esses ofícios e auxiliar nas muitas obras que este gestor tinha em mente (FRANCO, 1714FRANCO. António. Imagem da virtude Em o Noviciado da Companhia de Jesus no Real Collegio do Espirito Santo de Evora do Reyno de Portugal. T. I. Lisboa: Officina Real Deslandesiana, 1714., p. 176-177). Sabe-se, também, que foi a partir do seu plano que se erigiu uma capela para albergar relíquias, o refeitório, estrategicamente edificado sobre um panejamento murário da cerca, com vista para o mar, a nova portaria, livraria e a casa dos noviços, com eirado, com idêntica vista para o oceano (FRANCO, 1714FRANCO. António. Imagem da virtude Em o Noviciado da Companhia de Jesus no Real Collegio do Espirito Santo de Evora do Reyno de Portugal. T. I. Lisboa: Officina Real Deslandesiana, 1714., p. 177).

Em 1584, encontrando-se em Pernambuco, redigiu nova missiva ao Geral, onde refere a planta que de novo se fazia nesse colégio, da autoria do irmão e arquiteto Francisco Dias (1536-1632),29 29 Segundo Inês Gato de Pinho, a quem agradecemos a informação, o irmão Francisco Dias deverá ter nascido em 1536 e quando foi admitido na Companhia era mencionado como alvenéu e canteiro. A data da sua morte é avançada por Serafim Leite (ARSI, Roma. Visitas dos Padres Visitadores depois de serem approuadas pelo Padre Geral, s.d.. Brasil 2, fº 142). acrescentando, a propósito da igreja: “Para a igreja futura tem o Padre Reitor iniciado um retábulo de pedra que parece custará mais de mil ducados”.30 30 Trad. livre da autora: “Para la iglesia futura tem el Padre Retor principiado un retabolo de piedra que pareçe costara mas de mil ducados”. ARSI, Roma. Carta de Cristóvão de Gouveia para Cláudio Acquaviva, 1584. Lusitania 68, fº 402. Francisco Dias, segundo Francisco Rodrigues, tinha dado mostras da sua capacidade de traçar na igreja de São Roque de Lisboa, e foi enviado para Angra em 1575 e em 1577 para o Brasil (RODRIGUES, 1938RODRIGUES, Francisco. História da Companhia de Jesus na Assistência Portuguesa. T. 2. Porto: Apostolado da Imprensa, 1938., p. 67; LEITE, 1938LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. T. I, II. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938., p. 55; LEITE, 1953LEITE, Serafim. Novos documentos sobre Francisco Dias. Mestre de Obras de S. Roque em Lisboa e arquitecto da Companhia de Jesus no Brasil. Archivum Historicum Societatis Iesu, v. XXII, n. 43, p. 352-366, jan./jun. 1953.).

Em 1584 e 1585 colaborou estreitamente com o Visitador Cristóvão de Gouveia, que lhe pediu que revisse os planos do colégio de Olinda, vindos de Roma, para maior contenção de despesas. Na verdade, o projeto romano tinha sido pensado para o real colégio do Rio de Janeiro, mas, devido à orografia, fora adaptado ao de Pernambuco.

Tal como Anna Maria Carvalho comprova na sua tese de doutoramento, na senda de Serafim Leite e Paulo Santos, o irmão Dias acaba por colaborar nos dois projetos (LEITE, 1938LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. T. I, II. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938., p. 64-65; LEITE, 1945LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. T. V. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1945., p. 120; SANTOS, 1966SANTOS, Paulo F.. Contribuição ao Estudo da Arquitetura da Companhia de Jesus em Portugal e no Brasil. In: V COLÓQUIO INTERNACIONAL DE ESTUDOS LUSO-BRASILEIROS, 1966, Coimbra. Separata das atas... Coimbra: s.n., 1966, p. 515-559., p. 45; CARVALHO, 2002CARVALHO, Anna Maria Fausto Monteiro de. Os Reais Colégios da Companhia de Jesus no Brasil. Articulação espacial e arquitectura. Tese (Doutorado em História da Arte) - Universidade de Coimbra, Coimbra, 2002., p. 304, p. 308). E, em 1600, ainda se encontrava a fazer obras na residência de Santos (LEITE, 1938LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. T. I, II. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938., p. 267).

Em 1585 Gouveia ordenou que se fizesse uma nova igreja no colégio da Bahia, mais ampla do que a anterior e capaz de atender a população da cidade.31 31 Informação constante em: Cristóvão de Gouveia, SJ. In: BRASILHIS Database - Redes pessoais e circulação no Brasil durante a Monarquia Hispânica, 1580-1640. Disponível em: <http://brasilhis.usal.es/pt-br/personaje/cristovao-de-gouveia>. Acesso em: 17 nov. 2021 A ideia dessa reformulação não era nova, ocupando-se novamente o irmão Francisco Dias dessa tarefa.

No mesmo ano, o padre José de Anchieta (1534-1597) testemunhava que a igreja do Rio mandada construir por Mem de Sá (1500-1572) em 1567 também era precária. As Informações dadas por esse autor corroboram que o colégio estava implantado num local sobranceiro ao mar, tinha entre 10 e 12 cubículos, igualmente forrados de cedro. A mesma fonte continua a repetir que a igreja era pequena e velha, assim como as oficinas. Para além desses esclarecimentos, dá-nos conta da morosidade das obras “por não haver tanta comodidade de cal e oficiais, e por não se pagarem 166 ducados que El-Rei D. Sebastião lhe deu de esmola”, bem como pormenores relativos à cerca e a equipamentos, tais como o tanque (ANCHIETA, 1933ANCHIETA, José de. Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1933., p. 419-420).

A correspondência, por sua vez, clarifica sobre outro constrangimento da construção do colégio da Bahia. Segundo as palavras incluídas na carta que enviou desse local, a 19 de agosto de 1585, para o Geral da Companhia, fica-se a saber que:

Há muitos anos, quando se estava a fazer a traça do edifício, os padres compraram um determinado terreno e casas para que se edificasse a igreja e as escolas, conforme a traça, e como entre este local e o colégio corre uma rua pública que de nenhuma maneira se pode evitar, nem as pessoas podem passar por ela, parecia que as escolas e a igreja não se ajustariam bem nesta divisão, estando no meio da referida rua, e tentou-se adaptar a traça para que todo o edifício ficasse junto ao colégio e por esta razão foi muito difícil mudar o referido local com outro melhor e mais acomodado, onde se pudesse edificar a igreja e as oficinas do pessoal de serviço.32 32 Trad. livre da autora: “ha muchos annos que haziendo-se la traça del edificio compraron los Padres cierto sitio de tierra y casas para que en el se edificasse la iglesia, y escuelas conforme a la traça, y como entre este sitio y el collegio corre una calle publica que en ninguna manera se puede excusar ni la gente passar y otra parte, parecio que no quedauan bien las escuelas y iglesia con esta diuision, quedando en medio la dicha calle, y anti se ha procurado acommodar la traça para que todo el edificio que he unido al collegio y por esta causa se deficaua mucho trocar el dicho sitio con otro mejor y mas acommodado, adonde se pudiesse edificar la iglesia, y officinas de la gente de seruiçio”. ARSI, Roma. Carta de Cristóvão de Gouveia para Cláudio Acquaviva, 1585. Lusitania 69, fº 131-132.

Na mesma data, tal como era comum, Gouveia enviou outra carta ao mesmo destinatário, reportando-se a outros assuntos, tais como as visitas às capitanias do Espírito Santo e de São Vicente. Acerca da residência do Rio, informa que:

deu-se ordem para que logo se começasse a igreja, porque a que temos é mais velha e pequena. As traças do edifício se renovaram quase de todo abreviando-se mais de metade tornando o edifício mais cómodo, e bonito.33 33 Trad. livre da autora: “diosse orden que luego se começasse la Iglesia, porque la que tenemos es mas uieja y pequena. Las traças del edifiçio se renouaron quasi del todo abreuiando-sse mas de la mitad y queda ansi el edificio mas commodo, y hermoso”. ARSI, Roma. Carta de Cristóvão de Gouveia para Cláudio Acquaviva, 1585. Lusitania 69, fº 133 v..

Mas, regressando às obras da Bahia, a 1 de janeiro de 1589, Cristóvão de Gouveia constatava que tinham sido feitas alterações aos planos de Francisco Dias, por si aprovados, determinando que tal não voltasse a ocorrer (LEITE, 1938LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. T. I, II. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938., p. 55-56).34 34 Acerca desses planos vide as três plantas, de que não é propósito deste estudo analisar, constantes no ARSI, Collegia, 1 jul. 1369, 2 jul. 1369 e 3 jul. 1369 (citado por VALLERY-RADOT, 1960, p. 453-454; VARELA GOMES; LOBO, 2012, p. 508). Com efeito, segundo informação publicada e interpretada por Serafim Leite, Cristóvão de Gouveia adoptou uma posição muito particular, relativamente à questão da alteração de planos, certamente motivado pela sua (má) experiência em Santo Antão. O Visitador refere, numa missiva do mesmo ano de 1589, que enviou ao então padre Geral, a propósito da ação de Francisco Dias, que “não se devia admitir dispensa nos traçados, que se fizeram com muito cuidado e acordo do Irmão Francisco Dias, Arquitecto” (citado por LEITE, 1953LEITE, Serafim. Novos documentos sobre Francisco Dias. Mestre de Obras de S. Roque em Lisboa e arquitecto da Companhia de Jesus no Brasil. Archivum Historicum Societatis Iesu, v. XXII, n. 43, p. 352-366, jan./jun. 1953., p. 357). A essa ideia acrescia que para se evitarem gastos inúteis:

se prohibe a qualquer superior, que não mande fazer fora das traças cousa alguma de momento, nem menos desmanche, o que estiver já feito, se não for para fazer o que fica nas traças, e procurem continuar o que esta começado, e [h]avendo alguma dúvida se resolvera com parecer dos consultores, e do Ir. Francisco Dias, ou outro Architecto em seu lugar (citado por LEITE, 1953LEITE, Serafim. Novos documentos sobre Francisco Dias. Mestre de Obras de S. Roque em Lisboa e arquitecto da Companhia de Jesus no Brasil. Archivum Historicum Societatis Iesu, v. XXII, n. 43, p. 352-366, jan./jun. 1953., p. 357).

Após a sua atuação no Brasil, Gouveia regressou a Portugal, para exercer funções de reitor no colégio do Espírito Santo de Évora, como se constata da leitura das missivas que enviou ao padre Geral, e das que o padre Visitador Pedro da Fonseca lhe dirigiu, todas de 1592. Nessa altura, vê-se envolvido num conflito com esse padre.35 35 Fausto Sanches Martins (1994, p. 308) é da opinião que a figura de Pedro da Fonseca é controversa, e que em matéria de opinião sobre arquitetura surge permanentemente em confronto com vários jesuítas e com várias comunidades. Gouveia tinha acusado o Visitador de hesitar nas determinações dadas e Fonseca tinha culpado o reitor de más decisões e incumprimento de ordens. A encomenda de um conjunto de obras novas, nas quais se incluía um dormitório para o lado das casas do conde de Basto,36 36 Implantado na antiga alcáçova eborense, essas casas, ou palácio, foram paço real, sendo depois propriedade da família Castro (condes de Basto). A sua feição quinhentista, marcada por uma loggia e por torreões, remete para o período onde foram empreendidas as campanhas de obras mais significativas, bem como as pinturas murais de c. de 1578-1580, da autoria do pintor flamengo Francisco de Campos (c.1515-1580). a aquisição de peças para a igreja e propriedades para culturas forrageiras, junto à Quinta de Valbom, eram o motivo da discórdia. Contudo, foi durante esse período, como já foi acima mencionado, que acompanhou as obras do colégio da Purificação, ficando esse edifício parcialmente concluído em 1593 e cumprindo o cerimonial de lançar a beca a seis colegiais na igreja a 25 de março desse ano (FRANCO, 1945FRANCO, António. Évora Ilustrada. Évora: Nazareth, 1945., p. 290).

O espaço, segundo as palavras do padre António Franco, e de acordo com o remanescente, implantou-se num declive, ficando, na parte a poente, dois andares e a portaria e, na nascente, três andares. Possuía ainda dois pátios, ou claustras, um deles com um poço, ainda hoje visível, que abastecia a Imprensa da Universidade, que aí se estabeleceu. Na área residencial tinha quatro corredores, que comunicavam entre si (FRANCO, 1945FRANCO, António. Évora Ilustrada. Évora: Nazareth, 1945., p. 290-291).37 37 Dois corredores tinham 340 palmos (7480 cms) e os outros dois 155 (3410 cms). Os quatro tinham 10 palmos de largura (220 cms) (FRANCO, 1945, p. 290-291). Embora essa realização tenha prestigiado a carreira do padre Gouveia, o seu governo ficará sempre marcado pelos conflitos com o Visitador Pedro da Fonseca, que possivelmente ditaram o seu destino e o seu regresso à capital.38 38 ARSI, Roma. Cartas do Visitador Pedro da Fonseca e de João Álvares para o Geral da Companhia, 1592. Lusitania 71, fº 153, fº 277 (citado por MARTINS, 1994, p. 249-250).

Uma nova vertente da encomenda arquitetónica: as quintas e os espaços de recreação

Um dos segmentos menos estudados no âmbito da arquitetura da Companhia de Jesus, particularmente na Assistência Portuguesa, é o das quintas/fazendas e espaços de recreação, essenciais para a boa recuperação de maleitas e para o descanso semanal. Essas residências estavam vocacionadas para a recreação espiritual, ou para a recuperação física dos jesuítas, de acordo com o art.º 591 das Constituições, mas também eram objeto de recriação, ou seja, eram objeto de criação de uma nova versão das suas residências mais comuns, as urbanas (HAMY, 1892HAMY, A. Documents pour servir a l’histoire des domiciles de la Compagnie de Jésus dans le monde entier de 1540 a 1773. Paris: Alphonse Picard, 1892.; AIXALÁ, 2001AIXALÁ, J.. Residencia. In: O’NEILL, Charles E.; DOMÍNGUEZ, Joaquín María (Dir.). Diccionario histórico de la Compañía de Jesús, Biográfico-­Temático. T. I. Roma: Institutum Historicum; Madrid: Universidad Pontificia Comillas, 2001. p. 679-680., p. 679-680).

Para além dessa primeira função, à qual estava subjacente uma escolha criteriosa do local, estes complexos periurbanos tinham também por objetivo não distarem significativamente dos colégios que os geriam e terem valências na área da produção agrícola, para sustento das estruturas de maiores dimensões, ou seja, assumiam-se como fonte de rendimento. Possuíam ainda equipamentos necessários para dar resposta às questões de saúde, como a botica, mas também a questões de natureza recreativa, como espaços vocacionados para o lazer e para a higiene mental, para além das edificações adjacentes, para fins rurais. Em Portugal, a produção dessas casas era essencialmente agrícola e vitivinícola, sendo o azeite e o vinho as mais importantes fontes de rendimento. Já no Brasil, era o açúcar que se destacava.

Uma das primeiras quintas na Província de Portugal a que associamos a ação do padre Gouveia é a da Rica Fé, nas imediações de Bragança. Essa estrutura de lazer e recreação foi, segundo um despacho de D. Sebastião, de 1571, transferida para os padres da Companhia, que tomaram posse da quinta a partir de 1574, data em que o Papa Gregório XIII emitiu um Breve que confirmou que a propriedade ficava anexada ao mencionado colégio de Bragança. Dois anos depois foi emitido um alvará para se proceder à medição e tombo dos bens e propriedades e em 1613 voltou a ser feito novo arrolamento de bens, constando essa quinta, que à data tinha edificado com capela, habitações para os criados da quinta e terreno murado com vinha, árvores de fruto, pinhal e prados. Terá Cristóvão de Gouveia acrescentado algo de si a essa quinta? É nas palavras de António Franco (1714FRANCO. António. Imagem da virtude Em o Noviciado da Companhia de Jesus no Real Collegio do Espirito Santo de Evora do Reyno de Portugal. T. I. Lisboa: Officina Real Deslandesiana, 1714., p. 173) que colhemos a resposta, pois esse autor refere que não só aumentou muito essa quinta, como “fez ornamentos, & algumas peças de prata para a Igreja”. O espaço, à semelhança de outros, foi crescendo organicamente e adequando-se a novas necessidades. Em 1650 foram feitas as “bitrinas das cazas de baixo” e em 1759, com expulsão da Companhia de Jesus de Portugal, a propriedade passou para o Erário Régio, sendo incorporada em 1774 no património da Universidade de Coimbra (BANDEIRA; QUEIRÓS, 1997BANDEIRA, Ana Maria Leitão, QUEIRÓS, Abílio. O Colégio do Santo Nome de Jesus de Bragança: formação do seu Padroado e Benfeitores que contribuíram para o seu engrandecimento. In: PÁGINAS da História da Diocese de Bragança-Miranda Congresso Histórico. Actas... Bragança: s.n., 1997. p. 429-444., p. 429-444; OSSWALD, 2010OSSWALD, Cristina. O Colégio do Santo Nome de Jesus em Bragança: Um quotidiano jesuíta. Via Spiritus, n. 17, p. 261-272, 2010., p. 261-272).

A história da residência de Xabregas, na zona oriental de Lisboa, remonta ao ano de 1582, quando o padre Cristóvão de Gouveia (1542-1622) (FRANCO, 1714FRANCO. António. Imagem da virtude Em o Noviciado da Companhia de Jesus no Real Collegio do Espirito Santo de Evora do Reyno de Portugal. T. I. Lisboa: Officina Real Deslandesiana, 1714., p. 173), então reitor do colégio de Santo Antão, a adquiriu por 950.000 réis a João Freire de Andrade, Senhor de Bobadela, com dinheiro doado à Companhia pelo cardeal D. Henrique para servir de quinta de recreio aos professores do referido colégio (FRANCO, 1726FRANCO, António. Synopsis annalium Societatis Iesu. Augustae-Vindelicorum Graecii: sumptibus Philippi, Martini, & Joannis Veith, Haeredum, 1726., p. 131).39 39 ANTT, Lisboa. Manuscritos da Livraria, 1582. n. 690, fº 115 v.-116, fls. 115 (citado por RODRIGUES, 1938, p. 219). Não sabemos se o local já tinha algum ou vários edifícios, ou se também terá sido em virtude do seu desejo e dos seus sucessores que se terá construído um edifício, adequado às funções de acolher membros do colégio de Santo Antão, bem como de lhes proporcionar as comodidades necessárias para curas (PINHO; COUTINHO, 2021PINHO, Inês Gato de; COUTINHO, Maria João Pereira. Do Colégio de Santo Antão ao Alto de São João: território, obras e materiais da Quinta de Xabregas (Séc. XVIII). Cadernos do Arquivo Municipal, n. 16, p. 115-135, 2021.).

Quanto à residência de Vale de Rosal, implantada na Costa de Caparica, sabe-se que a mesma também era propriedade do colégio de Santo Antão-o-Velho, no período em que Cristóvão de Gouveia esteve no seu governo. Na biografia que o padre António Franco redige, menciona que o “Coleginho” tinha cerca de sessenta residentes e que foi nessa época que Fernão Peres, Gaspar Gonçalves e Diogo Cisneiros se recolheram nesse local, por ordem do então Geral, para redigirem “huma Summa” (FRANCO, 1714FRANCO. António. Imagem da virtude Em o Noviciado da Companhia de Jesus no Real Collegio do Espirito Santo de Evora do Reyno de Portugal. T. I. Lisboa: Officina Real Deslandesiana, 1714., p. 173). Uma ordem desta natureza e a alusão a esse episódio na biografia de Gouveia apontam para o seu envolvimento nessa disposição, pelo que não estranhamos que, à semelhança do que aconteceu com a Quinta da Rica Fé, para além de dinamizar a actividade dessa quinta, o reitor também tenha contribuído com obras e alfaias.

Considerando a passagem de Cristóvão de Gouveia pelo Brasil (c. 1583-1589), não podemos deixar de inscrever nesta equação algumas das visitas que efetuou a residências, para além das aldeias, bem como as suas observações e determinações. A gestão das quintas no Brasil, a par da dos colégios e da de alguns espaços em aldeias, era apontada por Superiores da Companhia como um factor de pressão, que os motivava a solicitar mais do que um triénio de governação, bem como “uma grande fábrica de escravos e escravas” (LEITE, 1938LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. T. I, II. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938., p. 224) para a boa concretização de obras e outras edificações. Em março de 1594, o padre Luís da Fonseca (1550-1594), Procurador do Brasil em Roma, menciona essa questão num documento, aludindo à circunstância de ser necessário ter quintas próprias, autónomas e sustentáveis, com “currais de gado, que distam do Colégio oito, doze e quinze léguas, com escravos próprios”. Luís da Fonseca acrescenta ainda que “até a madeira, pedra e cal para o edifício se há-de fazer por própria indústria e outras infinitas coisas” (LEITE, 1938LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. T. I, II. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938., p. 224).

Mas, regressando às propriedades, em São Jorge de Ilhéus, terra de Tupiniquins, por exemplo, Gouveia constata que a residência estava localizada num sítio alto, tinha quatro cubículos com sobrado, igreja e oficinas. Dentro da cerca tinha coqueiros, laranjeiras e outras árvores de espinho, importantes para a subsistência da comunidade (CARDIM, 1925CARDIM, Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil e de algumas cousas notaveis que se achão assi na terra como no mar. Rio de Janeiro: J. Leite & Cia., 1925., p. 296). Se esses aspetos, que demonstram a exiguidade dessa casa, foram determinantes para que o Visitador se pronunciasse a favor de fechar essa residência, é algo que ainda não conseguimos relacionar. Certo é que, na sequência dessa visita, Gouveia propôs que os moradores passassem a realizar missões esporádicas ao local (LEITE, 1938LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. T. I, II. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938., p. 195). Embora saibamos, por uma descrição das festas de Nossa Senhora da Assunção, de 15 de agosto de 1565, que a igreja estava bem ornada, também era dotada, entre outros acabamentos, de grades torneadas de pau vermelho (LEITE, p. 589-590).40 40 O colégio de Santo Antão de Lisboa administrava várias residências no Brasil, onde se incluiu a de Santa Ana de Ilhéus, cujas terras foram doadas por D. Filipa de Sá, filha do governador Mem de Sá e condessa de Linhares (HAMY, 1892, p. 5; LACERDA, 2010, p. 103-104).

Em Porto Seguro, o Visitador verifica que a residência que os jesuítas possuíam desde 1553 era ainda mais pequena do que as que visitara anteriormente, tendo só quatro moradores, mas também sendo sobranceira ao mar e dotada de árvores de fruto e de horta (CARDIM, 1925CARDIM, Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil e de algumas cousas notaveis que se achão assi na terra como no mar. Rio de Janeiro: J. Leite & Cia., 1925., p. 296). Desde 1559 que já tinha capela, consagrada a Nossa Senhora da Ajuda, e era nesse local que se ensinava a comunidade local. Os reparos que Gouveia faz ao sítio denotam, no entanto, o quanto esse padre era sensível à implantação dos edifícios, e, novamente, à autonomia agrícola da casa, mas, ao invés do caso de São Jorge de Ilhéus, a permanência no local não lhe ofereceu dúvidas (LEITE, 1938LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. T. I, II. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938., p. 202).

Durante a estada do padre Gouveia no Brasil, o Visitador propôs que se fizesse uma outra residência, para recreio dos padres da Bahia (CARDIM, 1925CARDIM, Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil e de algumas cousas notaveis que se achão assi na terra como no mar. Rio de Janeiro: J. Leite & Cia., 1925., p. 299). Novamente pelas palavras de António Franco sabemos que:

deo ordem a fazer quinta. Como era tam executivo elle em pessoa foy ao lugar, em que hoje he a quinta, com os seus officiaes, que erão muy destros. Em dous mezes acabou huma obra de pedra, & cal, que demandava muytos annos; Capella, corredor, Refeytorio, officinas, tudo tam bello, & capaz, que diz o manuscrito, donde isto recolho, que podia competir com as melhores quintas de Portugal. Não havendo alli arvores fructiferas, elle fez povoar o terrenho de sorte, que brevemente se tornou muy aprazivel (FRANCO, 1714FRANCO. António. Imagem da virtude Em o Noviciado da Companhia de Jesus no Real Collegio do Espirito Santo de Evora do Reyno de Portugal. T. I. Lisboa: Officina Real Deslandesiana, 1714., p. 177).41 41 Esta descrição tem possivelmente por base o manuscrito de Fernão Cardim (1925, p. 365), onde se pode ler: “[Cristóvão de Gouveia] fez uma quinta, e nella umas casas com capella, refeitorio, cozinha, uma sala com suas varandas, e um formoso terreiro com uma fonte que lança mais de uma manilha de agua, muito sadia para beber; mandou plantar arvores de espinho e outras fructas, que tudo faz uma bôa quinta, que se póde comparar com as bôas de Portugal”.

Tratava-se, portanto, da quinta do Tanque ou dos Padres, que também ficou conhecida como quinta de São Cristóvão, por afetação ao jesuíta Cristóvão de Gouveia, e que hoje é o Arquivo Público do Estado da Bahia (OLIVEIRA, 2010OLIVEIRA, Mário Mendonça. Quinta do Tanque ou Quinta dos Padres (Arquivo Público do Estado da Bahia). In: MATTOSO, José (Dir.). Património de Origem Portuguesa no Mundo. Arquitectura e Urbanismo. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. p. 204-205., p. 204-205).42 42 Serafim Leite, tendo por base uma ordem que Gouveia deu sobre esta quinta, onde mandou que se fizesse um cano para a fonte e que tivessem sempre limpo o tanque, também deduziu tratar-se da quinta do Tanque (ARSI, Roma. Visitas dos Padres Visitadores depois de serem approuadas pelo Padre Geral, s.d.. Brasil 2, fº 148; LEITE, 1938, p. 96). Nesse local, segundo uma carta do padre António Vieira (1608-1697), que também beneficiou desse espaço, o edifício de planta em U tinha em finais do século XVII 18 cubículos, além de uma arcada que rodeava todo o prédio, corredores e duas galerias “ou cobertos, para jogos de movimento (‘geminum xystum trudiculorum ludo destinatum’)”. O complexo tinha, naturalmente, e como foi acima mencionado, capela, fonte, um lago, laranjeiras e um campo de jogo (LEITE, 1945LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. T. V. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1945., p. 162).

Em Portugal, o último caso que decidimos apresentar é o das quintas de Campolide e de Monte Olivete ou da Cotovia, em Lisboa, doadas por Fernão Teles de Meneses (1530-1605) e por D. Maria de Noronha (1545-1623). A primeira, acerca da qual se desconhece se tinha algum edifício, ou não, foi o local eleito para a fundação do noviciado de Nossa Senhora da Assunção, cuja compra foi concretizada por Cristóvão de Gouveia, na qualidade de Provincial, a 26 de dezembro de 1697, e cuja sagração foi solenizada pelo mesmo padre, com missa, a 18 de dezembro de 1598 (LIMA, 1972LIMA, Durval Pires de. História dos Mosteiros, Conventos e Casas Religiosas de Lisboa. T. II. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 1972., p. 44-45). Tal como esclareceu Gustavo de Matos Sequeira (1967SEQUEIRA, Gustavo de Matos. Depois do Terramoto. Subsídios para a História dos Bairros Ocidentais de Lisboa. V. I. Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa, 1967., p. 207-208), esta propriedade nada tinha que ver com outros terrenos de Campolide, onde mais tarde os jesuítas viriam a fundar o colégio do mesmo nome, na antiga Quinta da Torre, de Estêvão Pinto de Morais Sarmento, guarda-jóias de D. João V (1689-1750). O local, tal como o olisipógrafo indica em mapa extratexto, situava-se a poente de outros terrenos doados também por Fernão Teles de Meneses e de D. Maria de Noronha, denominados Quinta de Monte Olivete ou da Cotovia. Segundo o testemunho do cronista anónimo da História dos Mosteiros, Conventos e Casas Religiosas de Lisboa, “acharam os arquitetos que, por ser o sitio de barro, nam havia nelle firmeza pera serem solidos os fundamentos” (LIMA, 1972LIMA, Durval Pires de. História dos Mosteiros, Conventos e Casas Religiosas de Lisboa. T. II. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 1972., p. 46), circunstância que levou ao abandono do local. Pouco tempo depois, os padres optaram pela dita Quinta do Monte Olivete, por ser em “sitio muy saudavel, de boas vistas e visinho de Sam Roque e da Cidade, tendo poços de agoa e lugar largo pera cerca e horta” (LIMA, 1972LIMA, Durval Pires de. História dos Mosteiros, Conventos e Casas Religiosas de Lisboa. T. II. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 1972., p. 46). E, embora não se tenha conseguido localizar documentação que comprove a troca de ideias sobre estas questões mais técnicas com Gouveia, tal decisão terá forçosamente passado por ele, uma vez que à data era o Provincial de Portugal (VEIGA, 2009VEIGA, Francisca Branco. Noviciado da Cotovia: O Passado dos Museus da Politécnica 1619-1759. Dissertação (Mestrado em Património Cultural) - Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2009.).

Considerações finais

A reconstituição do percurso de vida de Cristóvão de Gouveia entre Portugal e o Brasil, evidenciando as componentes das celebrações e aparatos festivos e a consolidação das obras nos colégios, permitiu não só agregar essa informação, como perspetivar um aspeto da sua prática, que a historiografia não havia ainda abordado, o das quintas e os espaços de recreação.

Embora não se deva dissociar a encomenda de relíquias e armações e a iniciativa arquitetónica das funções inerentes aos cargos que desempenhou, subsistem questões como: Até que ponto é que o seu gosto pessoal e as suas devoções determinavam as escolhas de alguns objetos cultuais? Quais eram os conhecimentos que fundamentavam os pareceres arquitetónicos emitidos na qualidade de Reitor e de Visitador?

Acerca dessas interrogações foi importante compreender que a sua formação, nos domínios da Arte e da cultura clássica, o terão sensibilizado para questões temporais, mas também as da matéria, temas determinantes para o entendimento da salubridade e da implantação arquitetónica.

A revisão dos contactos que estabeleceu com alguns arquitetos, como Giuseppe Valeriano, Silvestre Jorge ou o irmão Francisco Dias, que viabilizaram obras de qualidade construtiva e plástica ao nível dos colégios, foi igualmente decisiva para se compreender o conhecimento que Gouveia adquirira no contexto das vistorias e avaliações de edifícios.

Por fim, uma eventual mais-valia desta abordagem terá sido a de reunir e dar uma visão de conjunto de alguns dos seus contributos no âmbito das festas e celebrações, bem como proporcionar um maior conhecimento da marca que esse jesuíta deixou no âmbito da edificação e renovação de quintas que a Companhia de Jesus possuiu nas Províncias de Portugal e do Brasil.

  • 1
    Não é nosso propósito analisar a fundo a arquitetura, a organização espacial e as fontes referentes aos colégios e residências aludidos ao longo do texto, mas tão somente compreender o lugar que tiveram no trajeto de Cristóvão de Gouveia.
  • 2
    Serafim Leite indica a data de 3 de janeiro de 1537, sem explicitar a fonte (LEITE, 1938LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. T. I, II. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938., p. 489).
  • 3
    Pese embora os nossos esforços no sentido de localizar o registo de batismo, a fim de confirmar este dado, que se estima ter sido realizado na freguesia de São Nicolau, isso não nos foi possível, em virtude de os registos paroquiais dessa freguesia que chegaram aos nossos dias terem início no ano de 1583.
  • 4
    João Madureira destacou-se na Companhia de Jesus por ter sido reitor do colégio de Santo Antão e Prepósito da igreja de São Roque. Desempenhou ainda funções de confessor dos Duques de Aveiro (FRANCO, 1930FRANCO, António. Ano Santo da Companhia de Jesus em Portugal. Porto: Biblioteca do Apostolado da Imprensa, 1930., p. 566).
  • 5
    Invicta ou Invencível é outra designação para a cidade do Porto, que reporta ao título que lhe foi conferido por D. Maria II (1819-1853).
  • 6
    Pobreza, castidade, obediência e obediência ao Papa para servir nas missões.
  • 7
    ARCHIVUM ROMANUM SOCIETATIS IESU (ARSI), Roma. Cartas de Cristóvão de Gouveia para Juan Alfonso de Polanco, 1573. Lusitania 65, fº 131-134, fº 138-139.
  • 8
    ARSI, Roma. Cartas de Cristóvão de Gouveia para Everardo Mercuriano,1573. Lusitania 65, fº 307-308, fº 356.
  • 9
    O culto das Onze Mil Virgens ou de Santa Úrsula e de suas Companheiras inscreve-se num conjunto de devoções hagiográficas, foi particularmente difundido pelos colégios da Companhia de Jesus em Portugal, a saber em Coimbra, Évora, Lisboa e Braga.
  • 10
    ARSI, Roma. Catalogo Primero de los Padres y hermanos de la Provincia de Portugal hecho en Abril de 1593, 1593. Lusitania 44 I, fº 88 v.
  • 11
    ARSI, Roma. Carta do Visitador Pedro da Fonseca para o Geral da Companhia, 1592. Lusitania 71, fº 153.
  • 12
    O padre Pedro da Fonseca destacou-se no âmbito da filosofia, tendo o epíteto de “Aristóteles Português” (CARVALHO, 2020CARVALHO, Mário Santiago de. Fonseca, Pedro da. In: CARVALHO, Mário Santiago de; GUIDI, Simone (Ed.). The Conimbricenses.org Project. A Digital Platform for the History of Philosophy and Theology in Coimbra (1542-1772). Coimbra: Universidade de Coimbra - IFF, 2020. Disponível em: <http://www.conimbricenses.org/encyclopedia/fonseca-pedro-da>. Acesso em: 6 fev. 2021.
    http://www.conimbricenses.org/encycloped...
    ).
  • 13
    ARSI, Roma. Catalogo da Provincia de Portugal do anno de [15]97, 1597. Lusitania 44 I, fº 108 v.
  • 14
    ARSI, Roma. Catalogos da Prouincia de Portugal com seu indice do anno de 1614, 1614-1619. Lusitania 44 II, fº 302 v; 350 v-351.
  • 15
    D. António Pinheiro, para além de bispo de Miranda, foi bispo de Leiria e destacou-se como Visitador e reformador da Universidade de Coimbra. A sua formação clássica, decorrente de ter estudado na academia parisiense, levou a que sobressaísse no âmbito da Retórica (PINTO CARDOSO, 1997PINTO CARDOSO, Arnaldo. D. António Pinheiro - Um notável bispo do séc. XVI. Humanística e Teologia, n. 18, p. 125-139, 1997., p. 125-139; ANDRÉ, 2009ANDRÉ, Carlos Ascenso. Retórica e política no ocaso do Império: António Pinheiro de Porto de Mós, humanista e orador da coroa. In: SOARES, Nair de Nazaré Castro; MOREDA, Santiago López (Coord.). Génese e Consolidação da Ideia de Europa. V. IV - Idade Média e Renascimento. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2009. p. 393-413., p. 393-413).
  • 16
    Trad. livre da autora: “Para El Brasil estan de camino 4 dela Compañia (...) El Rey los mando proueer delo necessario para su viage y Embarcaçion en la noua capitanea. Tambien les mando dar 15 Vestimentas 13 frontales y noeue pannos de pulpito de diuersas colores de cedas - ƒ- Tafeta; Cetin, y Damasco, con barras de tertiopelo y sus aluas manipulos y estolas para las Iglesias que alla an edificado los Padres dela Compañia y 18 caliçes de plata y 11 uestimentas comunes edificado los Padres dela Compañia y 18 caliçes de plata y 11 uestimentas comunes para Entre semana de Vn çierto paño que viene delas Indias con 11 frontales delo mesmo para las Iglesias mando se diessen campanillas y hierros para hazer hostias cruzes doradas y dio muchos corporales guardas y otras cosas necessarias Vltra destos ornamentos que S. A. a dado lleuan estos hermanos 7 vestimentas 3 frontales y vn panno de pulpito de ceda que los Padres de las Indias Embiaron para los del Brasil lleuan tambien pannos para se vestiren los Padres que residen en aquellas partes”. ARSI, Roma. Carta quadrimestral da Casa de São Roque (Lisboa) para Diego Laynez, 1562. Lusitania 51, fº 259 v-260, citado por LEITE, 1938LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. T. I, II. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938., p. 321.
  • 17
    BIBLIOTECA PÚBLICA DE ÉVORA (BPE), Évora. Carta enviada por Fernão Cardim ao provincial de Portugal, Sebastião de Morais, sobre a missão do P. Cristovão de Gouveia às partes do Brasil no ano de 1583, out. 1585. COD-CXVI-1-33, n. 6 16 (citado por CARDIM,1925, p. 380).
  • 18
    ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO (ANTT), Lisboa. Manuscritos da Livraria, 1610. n. 486, fº 229 v.º - v.
  • 19
    Atualmente conhecida como Vila Nova do Espírito Santo de Abrantes, ou apenas Vila de Abrantes.
  • 20
    A importância que Gouveia reconheceu ao papel que os índios podiam desempenhar nas atividades festivas, nas obras, conduziu a que, estrategicamente, obtivesse licença régia para que estes não pagassem dízimos nos primeiros quinze anos da sua conversão (FRANCO, 1714FRANCO. António. Imagem da virtude Em o Noviciado da Companhia de Jesus no Real Collegio do Espirito Santo de Evora do Reyno de Portugal. T. I. Lisboa: Officina Real Deslandesiana, 1714., p. 178).
  • 21
    A igreja tinha 115 palmos de comprimento (2530 cms), 50 de largo (1100 cms) e 45 de altura (990 cms) (LEITE, 1938LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. T. I, II. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938., p. 392-393).
  • 22
    ANTT, Lisboa. Manuscritos da Livraria, 1610. n. 486, fº 153 v.º- v (citado por COUTINHO; FERREIRA, 2020COUTINHO, Maria João Pereira; FERREIRA Sílvia. Aplausos e triunfos em louvor de S. Francisco Xavier: as festas de beatificação nas cidades de Lisboa, Porto e Luanda (1619-1620). In: MORNA, Teresa de Freitas; TRIGUEIROS, António Júlio; COUTINHO, Maria João Pereira (Coord.). Missão, espiritualidade e arte em São Francisco Xavier. Lisboa: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, 2020. p. 160-210., p. 168-169).
  • 23
    BPE, Évora. FARIA, Manuel Severim de, Annaes de Portugal que comprehendem os successos do Reino, e suas Conquistas de todo o tempo, que governaraõ os tres Reys de Castella, até a Aclamação delRey D. João IV, 1619. Códice CVI/2-19, fº 134 (citado por SIMÕES, 2020SIMÕES, João Miguel. O ciclo pictórico dedicado a São Francisco Xavier na sacristia da Igreja de São Roque de Lisboa: Iconologia, Ideologia Imagética e Política no contexto da União Ibérica (1580-1640). In: MORNA, Teresa de Freitas; TRIGUEIROS, António Júlio; COUTINHO, Maria João Pereira (Coord.). Missão, espiritualidade e arte em São Francisco Xavier. Lisboa: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, 2020. p. 92-133., p. 97-98).
  • 24
    ARSI, Roma. Primeiro catalogo da Província de Portugal feito no anno de 1619, 1619. Lusitania 44 II, fº 2 (citado por COUTINHO; FERREIRA 2020COUTINHO, Maria João Pereira; FERREIRA Sílvia. Aplausos e triunfos em louvor de S. Francisco Xavier: as festas de beatificação nas cidades de Lisboa, Porto e Luanda (1619-1620). In: MORNA, Teresa de Freitas; TRIGUEIROS, António Júlio; COUTINHO, Maria João Pereira (Coord.). Missão, espiritualidade e arte em São Francisco Xavier. Lisboa: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, 2020. p. 160-210., p. 171).
  • 25
    O Consiliarius Aedificiorum ou revisor romano era o responsável pela aprovação ou censura dos projetos arquitetónicos (PATETTA, 2003PATETTA, Luciano. A arquitectura da Companhia de Jesus entre maneirismo e barroco. In: II CONGRESSO INTERNACIONAL DO BARROCO, 2003, Porto. Actas... Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2003. p. 389-400., p. 389-400).
  • 26
    ARSI, Roma.Cartas de Cristóvaõ de Gouveia a Everardo Mercuriano, 1579. Lusitania 68, fº 87, fº 117, fº 170-171 v. e 213 - fls. 170 a 171 v e fl. 213 (citado por MARTINS, 1994MARTINS, Fausto Sanches. A Arquitectura dos Primeiros Colégios Jesuítas de Portugal: 1542-1759. Cronologia. Artistas. Espaços. V. 1. Tese (Doutorado em História da Arte) - Universidade do Porto, Porto, 1994., p. 340-341, p. 344-347).
  • 27
    A 28 de abril de 1594 a Companhia de Jesus vende o edifício, por onze mil cruzados, à Ordem dos ermitas de Santo Agostinho, sendo alterada a invocação do espaço para colégio de Santo Agostinho.
  • 28
    Trad. livre da autora: “En el edifiçio esta este colegio mediocremente acommodado, tiene heçho ya uno claustro en quadra, con buenas camaras, faltan angunas y las offiçinas todas, y casa para nouiçis, y escholas; lo que todo se hara muy despaçio, por no tener possibilidad para lo hacer”. ARSI, Roma. Carta de Cristóvão de Gouveia para Cláudio Acquaviva, 1583. Lusitania 68, fº 339.
  • 29
    Segundo Inês Gato de Pinho, a quem agradecemos a informação, o irmão Francisco Dias deverá ter nascido em 1536 e quando foi admitido na Companhia era mencionado como alvenéu e canteiro. A data da sua morte é avançada por Serafim Leite (ARSI, Roma. Visitas dos Padres Visitadores depois de serem approuadas pelo Padre Geral, s.d.. Brasil 2, fº 142).
  • 30
    Trad. livre da autora: “Para la iglesia futura tem el Padre Retor principiado un retabolo de piedra que pareçe costara mas de mil ducados”. ARSI, Roma. Carta de Cristóvão de Gouveia para Cláudio Acquaviva, 1584. Lusitania 68, fº 402.
  • 31
    Informação constante em: Cristóvão de Gouveia, SJ. In: BRASILHIS Database - Redes pessoais e circulação no Brasil durante a Monarquia Hispânica, 1580-1640. Disponível em: <http://brasilhis.usal.es/pt-br/personaje/cristovao-de-gouveia>. Acesso em: 17 nov. 2021
  • 32
    Trad. livre da autora: “ha muchos annos que haziendo-se la traça del edificio compraron los Padres cierto sitio de tierra y casas para que en el se edificasse la iglesia, y escuelas conforme a la traça, y como entre este sitio y el collegio corre una calle publica que en ninguna manera se puede excusar ni la gente passar y otra parte, parecio que no quedauan bien las escuelas y iglesia con esta diuision, quedando en medio la dicha calle, y anti se ha procurado acommodar la traça para que todo el edificio que he unido al collegio y por esta causa se deficaua mucho trocar el dicho sitio con otro mejor y mas acommodado, adonde se pudiesse edificar la iglesia, y officinas de la gente de seruiçio”. ARSI, Roma. Carta de Cristóvão de Gouveia para Cláudio Acquaviva, 1585. Lusitania 69, fº 131-132.
  • 33
    Trad. livre da autora: “diosse orden que luego se começasse la Iglesia, porque la que tenemos es mas uieja y pequena. Las traças del edifiçio se renouaron quasi del todo abreuiando-sse mas de la mitad y queda ansi el edificio mas commodo, y hermoso”. ARSI, Roma. Carta de Cristóvão de Gouveia para Cláudio Acquaviva, 1585. Lusitania 69, fº 133 v..
  • 34
    Acerca desses planos vide as três plantas, de que não é propósito deste estudo analisar, constantes no ARSI, Collegia, 1 jul. 1369, 2 jul. 1369 e 3 jul. 1369 (citado por VALLERY-RADOT, 1960VALLERY-RADOT, J.. Le recueil de plans d'édifices de la Compagnie de Jésus conservé a la Bibliothèque Nationale de Paris. Roma: Institutum Historicum S. I., 1960., p. 453-454; VARELA GOMES; LOBO, 2012VARELA GOMES, Paulo; LOBO, Rui. Arquitectura de los jesuitas en Portugal y en las regiones de influencia portuguesa. In: SIMPOSIO INTERNACIONAL ZARAGOZA, 9, 10 Y 11 DE DECIEMBRE DE 2010 - LA ARQUITECTURA JESUÍTICA, 2010, Zaragoza. Actas... Zaragoza: Institución Fernando el Católico, 2012. p. 497-521., p. 508).
  • 35
    Fausto Sanches Martins (1994MARTINS, Fausto Sanches. A Arquitectura dos Primeiros Colégios Jesuítas de Portugal: 1542-1759. Cronologia. Artistas. Espaços. V. 1. Tese (Doutorado em História da Arte) - Universidade do Porto, Porto, 1994., p. 308) é da opinião que a figura de Pedro da Fonseca é controversa, e que em matéria de opinião sobre arquitetura surge permanentemente em confronto com vários jesuítas e com várias comunidades.
  • 36
    Implantado na antiga alcáçova eborense, essas casas, ou palácio, foram paço real, sendo depois propriedade da família Castro (condes de Basto). A sua feição quinhentista, marcada por uma loggia e por torreões, remete para o período onde foram empreendidas as campanhas de obras mais significativas, bem como as pinturas murais de c. de 1578-1580, da autoria do pintor flamengo Francisco de Campos (c.1515-1580).
  • 37
    Dois corredores tinham 340 palmos (7480 cms) e os outros dois 155 (3410 cms). Os quatro tinham 10 palmos de largura (220 cms) (FRANCO, 1945FRANCO, António. Évora Ilustrada. Évora: Nazareth, 1945., p. 290-291).
  • 38
    ARSI, Roma. Cartas do Visitador Pedro da Fonseca e de João Álvares para o Geral da Companhia, 1592. Lusitania 71, fº 153, fº 277 (citado por MARTINS, 1994MARTINS, Fausto Sanches. A Arquitectura dos Primeiros Colégios Jesuítas de Portugal: 1542-1759. Cronologia. Artistas. Espaços. V. 1. Tese (Doutorado em História da Arte) - Universidade do Porto, Porto, 1994., p. 249-250).
  • 39
    ANTT, Lisboa. Manuscritos da Livraria, 1582. n. 690, fº 115 v.-116, fls. 115 (citado por RODRIGUES, 1938RODRIGUES, Francisco. História da Companhia de Jesus na Assistência Portuguesa. T. 2. Porto: Apostolado da Imprensa, 1938., p. 219).
  • 40
    O colégio de Santo Antão de Lisboa administrava várias residências no Brasil, onde se incluiu a de Santa Ana de Ilhéus, cujas terras foram doadas por D. Filipa de Sá, filha do governador Mem de Sá e condessa de Linhares (HAMY, 1892HAMY, A. Documents pour servir a l’histoire des domiciles de la Compagnie de Jésus dans le monde entier de 1540 a 1773. Paris: Alphonse Picard, 1892., p. 5; LACERDA, 2010LACERDA, Ana Maria. Capela do Engenho Sant’Ana. In: MATTOSO, José (Dir.). Património de Origem Portuguesa no Mundo. Arquitectura e Urbanismo. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. p. 103-104., p. 103-104).
  • 41
    Esta descrição tem possivelmente por base o manuscrito de Fernão Cardim (1925CARDIM, Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil e de algumas cousas notaveis que se achão assi na terra como no mar. Rio de Janeiro: J. Leite & Cia., 1925., p. 365), onde se pode ler: “[Cristóvão de Gouveia] fez uma quinta, e nella umas casas com capella, refeitorio, cozinha, uma sala com suas varandas, e um formoso terreiro com uma fonte que lança mais de uma manilha de agua, muito sadia para beber; mandou plantar arvores de espinho e outras fructas, que tudo faz uma bôa quinta, que se póde comparar com as bôas de Portugal”.
  • 42
    Serafim Leite, tendo por base uma ordem que Gouveia deu sobre esta quinta, onde mandou que se fizesse um cano para a fonte e que tivessem sempre limpo o tanque, também deduziu tratar-se da quinta do Tanque (ARSI, Roma. Visitas dos Padres Visitadores depois de serem approuadas pelo Padre Geral, s.d.. Brasil 2, fº 148; LEITE, 1938LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. T. I, II. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938., p. 96).

Agradecimentos

Este trabalho foi financiado por fundos nacionais através da FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito da Norma Transitória - [DL 57/2016/CP1453/CT0046].

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Abr 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2022

Histórico

  • Recebido
    23 Abr 2021
  • Revisado
    24 Jul 2021
  • Aceito
    06 Set 2021
Pós-Graduação em História, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais Av. Antônio Carlos, 6627 , Pampulha, Cidade Universitária, Caixa Postal 253 - CEP 31270-901, Tel./Fax: (55 31) 3409-5045, Belo Horizonte - MG, Brasil - Belo Horizonte - MG - Brazil
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