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Morte e memória: a necrofilia política da Ação Integralista Brasileira (AIB)

Death and memory: the politics necrophilia of Ação Integralista Brasileira (AIB)

Resumos

O objetivo do trabalho é analisar a atuação da Ação Integralista Brasileira (AIB) na construção da sua galeria de mártires políticos. Esse partido surgiu a partir da unificação de inúmeros movimentos e organizações que se fundiram em 1932 e configurou-se como uma das mais importantes agremiações partidárias, durante a década de 1930. Entre os anos de 1932-1937, os integralistas conseguiram organizar núcleos em quase todas as regiões do país e atrair para suas fileiras milhares de adeptos. O trabalho analisa como os rituais políticos da AIB colaboraram na construção da memória do movimento integralista, utilizando os conceitos de memória, de Jacques Le Goff, e de lugares de memória, de Pierre Nora.

Integralismo; rituais políticos; década de 1930


The aim of this work is to analyze the performance of the political party named Brazilian Integalist Action the construction of his gallery of political martyrs. This party came into existence after the unification of innumerable movements and organizations that gathered together in 1932, and became one of the most important political parties during the 1930’s. During the years of 1932-1937, the integralists managed to form groups in almost all the regions of the country, and attract millions of supporters. The article analyzes how political rituals of IBA collaborated in the construction of memory integralist movement. We will use the concept of memory, from Jacques Le Goff, and places of memory, from Pierre Nora.

Integralism; political rituals; Decade of 1930


ARTIGOS

Morte e memória: a necrofilia política da Ação Integralista Brasileira (AIB)

Death and memory: the politics necrophilia of Ação Integralista Brasileira (AIB)

Pedro Ernesto Fagundes

Professor do Departamento de Arquivologia, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em História (PPGHIS - UFES), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Av. Fernando Ferrari, 514, Campus Universitário de Goiabeiras, CEP 29075-910 – Vitória – ES, pefagundes@uol.com.br

RESUMO

O objetivo do trabalho é analisar a atuação da Ação Integralista Brasileira (AIB) na construção da sua galeria de mártires políticos. Esse partido surgiu a partir da unificação de inúmeros movimentos e organizações que se fundiram em 1932 e configurou-se como uma das mais importantes agremiações partidárias, durante a década de 1930. Entre os anos de 1932-1937, os integralistas conseguiram organizar núcleos em quase todas as regiões do país e atrair para suas fileiras milhares de adeptos. O trabalho analisa como os rituais políticos da AIB colaboraram na construção da memória do movimento integralista, utilizando os conceitos de memória, de Jacques Le Goff, e de lugares de memória, de Pierre Nora.

Palavras-chave: Integralismo, rituais políticos, década de 1930

ABSTRACT

The aim of this work is to analyze the performance of the political party named Brazilian Integalist Action the construction of his gallery of political martyrs. This party came into existence after the unification of innumerable movements and organizations that gathered together in 1932, and became one of the most important political parties during the 1930’s. During the years of 1932-1937, the integralists managed to form groups in almost all the regions of the country, and attract millions of supporters. The article analyzes how political rituals of IBA collaborated in the construction of memory integralist movement. We will use the concept of memory, from Jacques Le Goff, and places of memory, from Pierre Nora.

Keywords: Integralism, political rituals, Decade of 1930

A formação e os rituais integralistas

O dia 7 de outubro de 1932 é considerado um dos mais importantes no calendário político dos integralistas. Nessa data, celebra-se a publicação do chamado "Manifesto de Outubro", primeiro documento assinado e lido publicamente pelos integrantes da Ação Integralista Brasileira (AIB). O local de tão singular evento foi o tradicionalíssimo Teatro Municipal de São Paulo.1 1 Para saber mais sobre a fundação da AIB, ver TRINDADE, Hélgio. Integralismo: o fascismo brasileiro na década de 1930. Porto Alegre/São Paulo: Editora UFRGS/Difel, 1974.

Adotando o modelo das organizações fascistas, sobretudo da Itália, os integralistas seguiam uma série de rituais e normas. Como exemplo, os militantes do partido deveriam estar sempre vestidos de camisas verdes com gravatas pretas: daí serem chamados de "camisas-verdes".

Tinha como símbolo a letra do alfabeto grego sigma (Σ), que na matemática é utilizada para realizar o cálculo integral, numa alusão à necessidade de integrar todos os brasileiros. Estavam organizados em milícias e realizavam desfiles e marchas de caráter militar. A palavra de origem tupi-guarani anauê era usada como saudação, que deveria ser feita com o braço direito estendido.

Outra estratégia dos integralistas para chamar a atenção e atrair a simpatia da população eram as chamadas "bandeiras" ou "caravanas" integralistas, que tinham o objetivo de divulgar as ideias do movimento e, ao mesmo tempo, fundar núcleos da AIB. Sendo assim, em agosto de 1933 começou uma fase de pleno crescimento da AIB em nível nacional, intensificando-se, nesse período, o trabalho de propaganda e organização. Os principais dirigentes da organização partiram em caravanas para várias cidades e regiões do Brasil. Foi a partir dessas incursões que se deu a expansão da organização para além dos limites do Estado de São Paulo. Como veremos a seguir, outro importante instrumento de divulgação da organização foram seus rituais políticos.

No dia 23 de setembro de 1933, a população da capital paulista assistiu ao início de uma das cerimônias que se tornou uma das características marcantes da Ação Integralista Brasileira, a AIB. Naquela data, a população da cidade testemunhou um grupo de milicianos a marchar com seus uniformes verdes e bandeiras azuis, sob o comando de Gustavo Barroso. A partir desse primeiro desfile, onde houvesse um núcleo integralista, haveria uma cerimônia ou ritual da organização.2 2 TRINDADE, Hélgio. Integralismo.

Os momentos da vida dos militantes passaram a contar com ritos e símbolos que cumpriram a tarefa de padronizar e unificar as ações do partido, através da construção de uma mística do movimento.3 3 CAVALARI. Rosa M. F. Integralismo: ideologia e organização de um partido de massa no Brasil (1932-1937). Bauru/SP: EDUSC, 1999, p.163. Os documentos da AIB previam que, em todas as fases da vida, os militantes deveriam contar com rituais específicos, tais como no batismo, no ingresso no partido, no casamento e até no velório.

É interessante destacar que, historicamente, em vários países e épocas diferentes, o Estado, movimentos e partidos políticos utilizaram uma série de rituais e comemorações no sentido de mobilizar os cidadãos em geral e, especialmente, os jovens e os estudantes. Novos feriados, cerimônias, heróis e símbolos do poder buscavam marcar esses momentos para fazer verdadeiros espetáculos de propaganda e exaltação.4 4 Para mais informações sobre esse assunto, ver em: HOBSBAWM, Eric. A produção em massa de tradições: Europa, 1870 a 1914. In: HOBSBAWM, Eric e RANGER, Terence. A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997, p.271-316.

A forma mais comum de celebração era a realização de desfiles e paradas públicas. Algo comum que, ao longo da história, as mais diversas sociedades foram incorporando às suas tradições nacionais.5 5 Para mais informações sobre esse assunto, ver em: RYAN, M. A parada norte-americana: representações da ordem social do século XIX. In: HUNT, Lynn. (org.). A nova história cultural. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p.177-209. Essa forma de comemoração e celebração seria herdeira dos desfiles triunfais das legiões da Roma antiga, das grandes procissões medievais, das apresentações militares dos exércitos de Napoleão pelo Arco do Triunfo, até chegar à sua forma mais moderna: a parada norte-americana.6 6 A forma e a estruturação dos desfiles surgidos durante o século XIX, na América do Norte, acabaram transformando-se no padrão das apresentações e paradas. Os desfiles realizados, principalmente, nas datas religiosas e cívicas, com os participantes organizados em colunas, empunhando estandartes de suas agremiações e acompanhados por uma banda de música, acabou tornando-se modelo para outros países.

Durante a década de 1930, o país que realizou de maneira mais monumental comemorações cívicas foi a Alemanha. O grande número de cerimônias e comemorações realizadas na Alemanha durante esse período foi uma tentativa do Estado interpretar ou reinterpretar acontecimentos históricos marcantes, sobretudo tentando estabelecer uma ligação desses fatos com a história do Partido Nazista.7 7 CONNERTON, Paul. Como as sociedades recordam. Oeiras: Celta, 1993.

A apropriação de datas pelo regime do nacional-socialismo foi uma das características mais fortes das cerimônias políticas modernas.8 8 Um exemplo evidente foi a reintrodução da cerimônia da Tocha Olímpica nas Olimpíadas modernas, durante a edição dos jogos na cidade de Berlim, em 1936. Além da tentativa de sugerir uma continuidade com o passado, essas comemorações pretendiam afirmar uma verdadeira ligação entre as forças políticas do presente com a tradição histórica reconhecida e celebrada pela população.

Assim, as forças políticas nazistas procuraram de forma sistemática incorporar e redimensionar fatos e acontecimentos ligados ao passado do país, com o intuito de estabelecer uma ponte entre as realizações do regime nazista com os grandes feitos do passado. Tendo em vista a situação da Alemanha no período pós-Primeira Guerra, houve uma nítida tentativa de criar e recriar rituais como instrumento de afirmação política.9 9 CONNERTON, Paul. Como as sociedades recordam, p.62.

Para esses tipos de regimes,10 10 Refiro-me especificamente ao nazismo e ao fascismo. os rituais são momentos em que o povo - e, principalmente, os militantes - é chamado a demonstrar e a reafirmar sua fidelidade com a causa. No caso dos rituais políticos, uma das mais importantes tarefas é atrair e conquistar simpatia do conjunto da população.

A tarefa de comunicar crenças e valores para o coletivo é facilitada pela linguagem performática - importante característica dos rituais políticos. Nesse contexto, o ritual representa uma espécie de texto coletivo simbólico11 11 CONNERTON, Paul. Como as sociedades recordam, p.60. que se expressa por meio de uma linguagem corporal.

Em um ritual político, cada gesto corporal cumpre uma determinada finalidade no sentido de transmitir uma "verdade" que deve ser assimilada por todos.12 12 CONNERTON, Paul. Como as sociedades recordam, p.62. Mais do que isso, a repetição gestual13 13 CONNERTON, Paul. Como as sociedades recordam, p.83. é um elemento que explicita a unidade e a aceitação das diretrizes do partido. Levantar o braço, desfilar, repetir uma saudação, enfim, significa mais que simples ações físicas. Representa estar enquadrado e em sintonia com as ideias e ideais do partido.

De fato, o ritual assume uma dimensão que extrapola a simples dimensão da subjetividade. No terreno da política, as cerimônias e celebrações atingem um caráter objetivo, pois, concretamente busca-se alcançar a plena subordinação dos filiados. Para isso, a necessidade das liturgias políticas que hipnotizam as "massas", garantindo ao partido/condutor a primazia na tradução do ritual e efetivo controle do poder.14 14 Para mais informações, ver em: KUSCHENIR, Karina e CARNEIRO, Leandro P. As dimensões subjetivas da política. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.24, p.227- 301, 1999.

No Brasil, visando atingir de maneira uniforme o conjunto da militância, coube aos integralistas a criação e implementação de uma série de ritos e cerimônias. No intuito de cumprir tal tarefa, foi criado um conjunto de documentos que passou a nortear nacionalmente os "Soldados de Deus".

Conhecidos como "Protocolos e Rituais Integralistas", eram constantemente atualizados pela imprensa verde, especialmente nas edições do Monitor Integralista. Os protocolos registravam todas as regras de comportamento dos integralistas, tais como uso de uniformes e de símbolos e procedimentos durante as cerimônias.

Os integralistas souberam utilizar fartamente cerimônias, rituais e celebrações como instrumento de arregimentação de novos adeptos e unificação dos antigos filiados. Tais solenidades cumpriam uma dupla função: uma interna e outra externa.15 15 BERTONHA, João Fábio. Sobre a direita: estudos sobre o fascismo, o nazismo e o integralismo. Maringá: EDUEM, 2008, p.246. Sem dúvida, no plano interno, a finalidade mais destacada era a transmissão ilusória de participação política.

A edificação dos rituais só foi possível porque a massa de filiados que participava das cerimônias o fazia de forma organizada e controlada. Ou seja: havia roteiros pré-estabelecidos, que determinavam o papel de cada elemento no cenário. Esses roteiros eram os chamados Protocolos, e previam cada detalhe sobre as solenidades e símbolos dos "camisas-verdes".

A obediência durante os desfiles era um sinal de fidelidade com as diretrizes traçadas pela direção nacional. O cumprimento de tais orientações acabava indicando o grau de comprometimento do filiado com o partido. Em suma, para se criar um sentimento de unidade, era fundamental eliminar todas as manifestações individuais.

Nesse universo, das mais destacadas armas de identidade coletiva dos integralistas foi a letra grega sigma maiúscula.16 16 O sigma, além de representar na matemática a soma de todos os elementos, tinha outro significado: é a letra com a qual os primeiros cristãos da Grécia identificavam Deus. TRINDADE, Hélgio. Integralismo. Esse símbolo ocupou lugar de destaque no movimento, juntamente com a saudação com o levantamento do braço direito acompanhado da palavra "Anauê". Entre os militantes era comum uma única saudação. Já o brado de três "anauês" era restrito ao chefe nacional.17 17 Excepcionalmente, em algumas cerimônias solenes os três "anauês" eram empregados. Os Protocolos também previam que Deus teria direito a quatro "anauês". TRINDADE, Hélgio. Integralismo. As palavras "Deus, pátria e família" compunham o lema dos seguidores de Plínio Salgado.

Como dissemos anteriormente, o uniforme verde foi outra marca ímpar dos integralistas. Tal vestimenta deveria ser usada obrigatoriamente durante as reuniões, desfiles e cerimônias do partido.18 18 Para mais informações, ver em: CALAVARI, Rosa M. F. Integralismo, p.191. O fardamento - símbolo maior da uniformização da AIB - deveria acompanhar o militante em todas as suas atividades, até mesmo durante as viagens. Em caso de falecimento, o integralista seria sepultado com seu uniforme.

De maneira semelhante aos outros símbolos, os Protocolos estabeleciam as cores e dimensões da bandeira dos "camisas-verdes". As cores escolhidas foram o azul - significando a dimensão nacional da organização - e o branco - que representava a paz que marcaria a pureza e sinceridade do movimento.19 19 CALAVARI, Rosa M. F. Integralismo, p.192.

Como se observa, cada passo e ação dos militantes eram meticulosamente planejados para envolver todos os filiados. Até os recém-nascidos poderiam ser batizados seguindo as instruções dos Protocolos. Previa-se que, depois do batismo religioso tradicional, os filhos dos militantes passariam por um rito que representaria o primeiro contato com o partido.

Nos casamentos dos militantes, também estavam previstos atos no civil e no religioso. Em ambos, a utilização do uniforme era obrigatória para noivo, padrinhos e convidados. As noivas trajariam seus vestidos portando as insígnias. Durante os atos no civil e no religioso, o dirigente mais graduado do núcleo deveria estender o braço e dizer, em voz baixa, que o chefe nacional estava presente.20 20 CALAVARI, Rosa M. F. Integralismo, p.176.

Importante mencionar ainda as marchas, desfiles e hinos da AIB que, semelhantemente a outros momentos da vida partidária, também estavam previstos nos Protocolos. Todos esses rituais contribuíam para reafirmar, na prática, os ideais do partido. Ou seja: entre os integralistas havia um permanente estímulo à ação.

Das manifestações da AIB participavam todos os militantes, independentemente da idade, do sexo, da condição financeira, do grau de instrução... Enfim, sem distinção de qualquer natureza. No meio da massa que desfilava pelas ruas do país desapareciam, momentaneamente, as diferenças e as particularidades. A sensação de deixar de ser apenas "mais um na multidão" passava pela noção - insistentemente divulgada - de que todos tinham um denominador em comum. Durante os desfiles e celebrações, desapareciam os indivíduos e surgia algo muito mais poderoso e maior: o partido.

No caso específico da AIB, como dissemos, o processo de socialização foi construído, elaborado e planejado pela direção do partido. Todas as diretrizes estavam previstas e estabelecidas por uma série de resoluções compiladas no chamado "Protocolo de Rituais Integralistas". Entre os mais importantes rituais ordinários do partido, podemos citar A Vigília da Nação, A Noite dos Tambores Silenciosos e as Matinas de Abril.

Programada para acontecer no mês de fevereiro, como homenagem ao congresso de fundação da AIB, a cerimônia da Vigília da Nação era marcada por uma sessão solene nas sedes dos núcleos. Às 21:00 horas, todos os presentes deveriam fazer um minuto de silêncio em respeito a Deus, à Pátria e ao chefe nacional. No encerramento, depois dos pronunciamentos previstos,21 21 As palavras eram a seguintes: "O Integralismo está vivo em todo o território da Nação Brasileira. A Pátria despertou. Pelo Brasil grande e forte, ergamos três anauês." Protocolos e rituais, art.163 e 170, Monitor Integralista, n.15, outubro de 1936. Apud TRINDADE, Hélgio. Integralismo, p.202. havia um juramento coletivo de fidelidade a Plínio Salgado.

As Matinas de Abril deveriam ser realizadas, anualmente, no dia 23 de abril, em comemoração ao primeiro desfile integralista - realizado em 1933 na capital paulista. Os militantes deveriam procurar uma praça, antes do nascer do Sol, para cumprirem os requisitos necessários dessa cerimônia.

Tudo tinha início quando o Sol começasse a se levantar. A partir daí, os Protocolos estabeleciam que, após um breve pronunciamento, os presentes deveriam -em silêncio - ficar com braços levantados durante alguns minutos. Depois de novo e breve pronunciamento22 22 Nessa cerimônia, as palavras proferidas eram: "Camisas-verdes. Este Sol iluminou quatro séculos da história do Brasil, iluminou a primeira marcha dos integralistas e iluminará a vitória do sigma. Assim como esperamos hoje esta alvorada, aguardamos confiantes o Dia do Triunfo. Pelo bem do Brasil, pelo Estado Integral, três anauês!" Protocolos e rituais, art.169, Monitor Integralista, n.15, outubro de 1936. Apud TRINDADE, Hélgio. Integralismo, p.205. de quem dirigisse a cerimônia, o som de clarins deveria soar em alvorada.

Entre os rituais de socialização, um dos mais impressionantes era A Noite dos Tambores Silenciosos, que deveria ocorrer todos os anos, no dia 7 de outubro. Os objetivos do rito eram múltiplos,23 23 O principal significado estava ligado à comemoração do lançamento do Manifesto de Outubro, em 1932. Entretanto, com o passar dos anos, a cerimônia revestiu-se de outras finalidades. Dentre elas: protestar contra o fechamento da milícia pelo Governo, em memória aos mortos do partido e em culto a Deus, à Pátria e à família. TRINDADE, Hélgio. Integralismo, p.203. pois pretendia homenagear uma série de datas e fatos marcantes da trajetória histórica da AIB. Os trabalhos deveriam ter início às 21:00 horas na maior quantidade possível de núcleos do País.

A presidência da sessão deveria ficar a cargo do integralista mais pobre e humilde, que representaria o chefe nacional. Os trabalhos seriam iniciados com o canto dos hinos - Nacional e da AIB. Outro ponto previa a chamada dos mártires do movimento, saudados com o grito "Presente!". A leitura de trechos do Manifesto de 1932 e o pronunciamento de discursos também estavam programados.

O ponto máximo da cerimônia acontecia à meia-noite, quando, depois de breves palavras, os tambores soavam por três minutos. 24 24 As palavras proferidas eram: "É meia-noite. Em todas as cidades da imensa pátria, nos navios em alto mar, nos lares, nos quartéis, nas fazendas e estâncias, nas choupanas do sertão, nos hospitais e nos cárceres, os Integralistas do Brasil vão se concentrar três minutos em profundo silêncio. É ‘Noite dos Tambores Silenciosos’. Atenção." Protocolos e rituais, art.86. Monitor Integralista, n.15, outubro de 1936. Apud TRINDADE, Hélgio. Integralismo, p.203. No momento seguinte, o presidente da sessão lembraria a todos que, na capital do País, o chefe nacional estava discursando. A leitura do poema "A Noite dos Tambores Silenciosos", de autoria de Jaime de Castro, marcava o ponto final do ritual.

No âmbito externo, os sinais de coesão pretendidos com a uniformização dos ritos da AIB ficavam mais nítidos nas imagens reproduzidas através da imprensa da organização. Costumeiramente, as fotografias dos jornais e revistas mostravam cenas de desfiles, paradas, casamentos e concentrações públicas. Contudo, não bastava aos núcleos realizarem os rituais. Em muitos casos, o mais importante era comunicar as solenidades realizadas. O objetivo era evidente: criar um sentimento de unidade.

A preocupação em externar, via imprensa, as celebrações realizadas ficavam mais perceptíveis em rituais como a "Noite dos Tambores Silenciosos". Após realizarem suas cerimônias, a preocupação dos dirigentes dos núcleos regionais e locais da AIB era telegrafar à chefia nacional informando sobre o sucesso da atividade.

As edições dos jornais da AIB dos dias subsequentes ficavam repletas de informes dos mais distantes núcleos do País, inclusive de vários do Estado do Rio de Janeiro,25 25 Como exemplo, podemos citar a edição do jornal A Offensiva do dia 18/10/1936, que, em sua pg. 13, trouxe uma relação com dezenas de cidades fluminenses em que se realizaram o rito "A Noite dos Tambores Silenciosos". Dentre os Municípios, podemos citar Niterói, Teresópolis, Petrópolis, Resende, Porciúncula e Campos. todos dando ciência das cerimônias. Tais procedimentos acabaram se transformando em rotina no partido. A mesma prática foi repetida durante o lançamento oficial da candidatura de Plínio Salgado.

No geral, as celebrações, rituais, desfiles, símbolos e insígnias se revertiam em espaços de reafirmação da importância do partido para o coletivo. O controle sobre a elaboração dessas manifestações pertencia à direção da AIB que, ao construir o calendário e regras, acabava por exercer o pleno domínio sobre a militância. Assim, controlar os rituais era controlar a massa e deter o monopólio sobre todos os dogmas, noções e concepções que circulavam no interior do partido, sobretudo controlar a memória política da organização.

Antes é importante destacarmos que existem inúmeros autores que trabalham com o conceito de Memória. Nesse texto adotamos a interpretação de Jaques Le Goff sobre esse conceito. Sendo assim, a memória social, como afirma Jacques Le Goff, é a capacidade de recordar.26 26 LE GOFF, Jacques. História e mémoria. 5ed. Campinas: Editora UNICAMP, 2003, p.470. E recordar é uma característica exclusiva do ser humano, somente o homem enquanto sujeito pode se lembrar de fatos e acontecimentos internos e externos das sociedades.

Existem variadas formas e modos de recordar. São os seres humanos que dão forma e conteúdo à memória, ou seja, a memória é um espaço da História. Assim a História Social busca com seus métodos de análise investigar como e por quê a sociedade se lembra de determinados fatos e acontecimentos e busca esquecer outros.

Como afirma o autor, toda memória é política, pois parte de uma construção histórica que se materializa graças a um processo de escolha de uma determinada parcela da sociedade sobre o que deve ser objeto de lembrança. Dessa forma, o exercício de lembrar seria antes de tudo um ato social. O homem como sujeito na sociedade comemoraria de maneira simbólica, através de uma série de rituais, um conjunto de datas que teriam o objetivo de transmitir a nossa noção de cultura.

O controle da memória coletiva passou a ser uma das questões centrais a partir, principalmente, do momento da invenção da escrita pois, ao longo da História, a memória tem passado por fases que ora são de completa retração, ora são de transbordamento. Da antiguidade clássica, passando pela Idade Média, pela Renascença chegando até os nossos dias o controle dessa memória coletiva e a sua utilização, tem sido uma das maiores motivadoras das lutas das forças sociais pelo poder.

A memória, no entanto, não é apenas individual. A memória coletiva é a forma de maior interesse para o pesquisador, pois é composta pelas lembranças vividas pelo indivíduo ou que lhe foram repassadas, e que também pertencem a um grupo. Esse tipo de memória tem características bem específicas, como girar quase sempre em torno do cotidiano do grupo, quase nunca fazendo referências a acontecimentos históricos valorizados pela historiografia, tendendo a idealizar o passado.

De igual maneira, o esquecimento é um aspecto importante para a compreensão da memória coletiva, pois muitas vezes é voluntário, indicando a vontade do grupo de ocultar determinados fatos. Para Pierre Nora, existiria um movimento dialético da lembrança e do esquecimento.27 27 NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. Projeto História, São Paulo, n.10, p.7-28, 1993. Mais adiante no texto voltaremos a tratar das questões teóricas apresentadas por Pierre Nora. Sendo, dessa forma, passível de serem afetados por manipulações, longos períodos de repetição monótona e repentinas revitalizações. O autor indica ainda que existiria uma diferenciação entre memória e História. Nesse sentido o historiador deveria perceber que a História seria uma representação do passado que demanda análise e discurso crítico, já a memória seria um fenômeno sempre atual: existiriam tantas memórias quanto grupos existentes na sociedade.

Caberia ao profissional historiador lançar luz sobre o campo da memória para extrair o máximo de dados para a análise historiográfica. Assim, depois de apresentarmos esses conceitos teóricos, sobretudo os fornecidos por Jacques Le Goff, pretendemos analisar a construção da galeria de mártires da AIB e como suas memórias foram utilizadas pelos dirigentes "camisas-verdes".

A construção dos mártires integralistas

Da mesma forma que os outros rituais, as informações sobre as mortes de militantes em confrontos de rua também ocuparam um espaço privilegiado nos órgãos da imprensa integralista. Essa espécie de luto político que envolvia todo o conjunto do partido estava prevista nos "Protocolos Integralistas", pois todos os detalhes que envolviam o velório dos "camisas-verdes" estavam meticulosamente previstos.

Na verdade, a preocupação com os rituais que envolviam os mortos tinha um objetivo claro: criar os mártires da AIB. No que tange aos rituais fúnebres, os "Protocolos" apresentavam uma série de procedimentos que deveriam ser adotados, como, por exemplo, o caixão ser coberto pela bandeira do partido.28 28 TRINDADE, Hélgio. Integralismo, p. 202. Haveria um momento em que um dirigente solicitaria um minuto de silêncio das pessoas presentes.

Na sequência, era realizada a chamada do nome do falecido. Os companheiros deveriam responder, ao mesmo tempo, "Presente!" O próximo passo era um dos mais surpreendentes, pois o dirigente que comandasse os trabalhos deveria proferir as seguintes palavras: "No integralismo não se morre! Quem entrou nesse movimento imortalizou-se no coração dos camisas-verdes".29 29 Monitor Integralista, n. 6, maio de 1934, p.9.

A ideia de imortalidade estava intimamente ligada aos casos de falecimento dos militantes. Ou seja: ao morrer, o integralista continuaria servindo ao partido, só que, agora, com algumas peculiaridades: o espaço de organização no post mortem seria a chamada Milícia do Além. Seu comandante seria ninguém menos que Deus.

Se considerarmos que a maioria dos militantes era composta por católicos, podemos afirmar que essas liturgias tinham a finalidade de reforçar a fidelidade à causa, sobretudo através da insistência em destacar o papel daqueles que sacrificaram suas vidas pelo partido.

Todo o esforço em publicar matérias na imprensa sobre os velórios, sepultamentos e homenagens visava algo como uma sacralização da política.30 30 O Brasil, no período entre as décadas de 1930 e1940, testemunhou uma prática que se tornou comum: as imagens políticas tiveram uma associação ligadas às questões religiosas. Naquela época, a administração Vargas desenvolveu um amplo projeto de comunicação que procurou associar todos os fatos positivos do Governo à imagem pessoal do governante maior. Para incutir a ideia do líder preocupado com as questões sociais, o "Pai do Pobres", foram usadas fartamente imagens, cartazes, bustos e estátuas com a finalidades de criar um verdadeiro culto cívico entre a população. Para saber mais, ver LENHARO, Alcir. A Sacralização da Política. 2 ed. Campinas: Papirus, 1986. A intenção clara dos dirigentes era cristalizar - entre os membros do partido e, sobretudo, no público externo - uma imagem positiva em relação àqueles que eram por eles considerados mártires.

Essa intenção ficava clara ao observar que imagens de militantes mortos e feridos em combates de rua ocupavam os mesmos espaços nas publicações da AIB que cenas de desfiles, casamentos, sessões solenes e atividades de caráter social. As cenas de caixões, velórios, cadáveres e sepulturas eram divulgadas sem cortes ou censura pelos órgãos da imprensa verde. Os integralistas chegaram a compor um panteão de mártires.

Os conflitos que geraram os primeiros mártires integralistas ocorreram apenas em 1934, quando a organização estava prestes a completar dois anos de fundação. Uma explicação pode ser o fato de que somente a partir dessa data a AIB alcançou um nível de organização e um número de filiados que passou a incomodar seus opositores.

Outro ponto a se destacar é que o número de mortos cresceu com o passar dos anos: 1934, três; 1935, quatro; 1936, seis; e, 1937, sete. O crescimento do número de filiados e núcleos organizados foi acompanhando por uma escalada na quantidade de vítimas fatais. É importante destacar que 1937 - ano da campanha presidencial - foi o ano que registrou mais casos de falecimentos em combates de rua.

A completa ausência de "blusas-verdes" na relação de mártires serve para reafirmar o papel e a função das mulheres no partido. Na luta política, caberia aos militantes a tarefa de enfrentar e derrotar os inimigos nos combates de rua. Já em relação às mulheres, o "campo de batalha" seria nas escolas, postos de saúde, consultórios e lactários da AIB.

Militantes de quase todas as regiões do País tiveram o "privilégio" de compor o panteão de mártires. A diversidade regional dos integralistas que partiram como heróis para a "Milícia do Além" também serviu para reforçar o caráter nacional do partido. Isso porque não interessava se o mártir era do Norte ou do Sul. Todos passaram a ser reverenciados igualmente na imprensa integralista.

Essa prática já ficou perceptível no caso do primeiro militante morto em um combate com opositores da AIB. O papel de primeiro mártir dos "camisas-verdes" pertence ao militante Nicola Rosica,31 31 Para maiores informações sobre o conflito de Bauru, ver POSSAS, Lídia M. V. O trágico três de outubro: estudo histórico de um evento. Bauru, SP: Universidade do Sagrado Coração, 1993. do Núcleo Municipal de Bauru, que morreu em 3 de outubro de 1934, vitima de um disparo de arma de fogo durante um conflito envolvendo militantes do movimento sindical da cidade. Poucos dias depois, a imagem do velório do militante circulou nacionalmente através do jornal oficial dos "soldados de Deus".

Na edição do jornal, pode-se observar que os militantes de Bauru seguiram todas as orientações dos "Protocolos Integralistas", pois as bandeiras do Brasil e da AIB cobriam parte do caixão.32 32 A Offensiva, p.3, 10/10/1934. Poucos dias depois, um conflito de proporções muito maiores voltou a ocupar as manchetes do jornal da AIB. Os trágicos resultados da chamada "Batalha da Praça da Sé" atraíram também a atenção da imprensa nacional, principalmente por conta do saldo final de cinco vítimas fatais.

O conflito envolveu integralistas que pretendiam realizar um desfile na região central de São Paulo e forças antifascistas que se mobilizaram para impedir a manifestação.33 33 Para maiores informações sobre a Batalha da Praça da Sé, ver em MAFFEI, Eduardo. A Batalha da Praça da Sé. Rio de Janeiro: Philobilion, 1984. (Coleção Redescobrimento do Brasil). A escalada da violência e o aumento do número de mortos geraram muitas manchetes e fotografias nos jornais integralistas.

A imprensa verde reservou espaços generosos em suas publicações, não sobrando imagens de mortos, feridos e manchetes de natureza anticomunista. Os detalhes do desfile, do conflito, dos atos heróicos dos militantes da AIB e a relação dos mortos e feridos no conflito estiveram nas primeiras páginas do jornal A Offensiva.

O conflito da Praça da Sé marcou profundamente a trajetória dos integralistas. Foi algo como um batismo de sangue. Todos os personagens e fatos ligados à data de 7 de outubro de 1934 assumiram um teor sacro entre os militantes. O culto aos mártires que tombaram nesse enfrentamento de rua repercutiu por anos no interior do partido e gerou um conjunto de homenagens registradas em cartazes, reportagens especiais, fotografias e muitos nomes de escolas.34 34 Mais adiante, trataremos especificamente do batizado de escolas com nomes de mártires integralistas.

Constantemente, as imagens e referências aos militantes que tombaram em conflitos de rua retornavam à imprensa da AIB. Seus exemplos eram apresentados como verdadeiros modelos de perfeitos militantes que, apesar de estarem na "Milícia do Além", continuariam "produzindo tantas centenas de milhares de companheiros".35 35 Revista Anauê, p.9, Maio de 1935.

Os rostos e histórias de seus martírios apareciam nas publicações do partido de forma semelhante aos vitrais das igrejas católicas. Como verdadeiros textos icônicos, o propósito era cultivar a noção de morte sacrificial como modelo a ser seguido pelo conjunto da militância. Os mártires integralistas e, principalmente, o cultivo dessas imagens serviam como importantes instrumentos de coesão e como potencializador de atos de coragem da militância.

O culto aos acontecimentos da capital paulista originou um verdadeiro padrão de comportamento no interior da AIB. Tanto que, três anos depois do conflito da Praça da Sé, ainda havia homenagens na imprensa do partido. Uma edição da revista Anauê, de 1937, trouxe uma matéria que destacou a coragem dos integralistas que enfrentaram, sem demonstrar medo, os "comunistas" que teriam praticado um ato covarde em nome da "hidra de Moscou".36 36 Revista Anauê, p.11, 10/7/1937.

A reportagem prossegue destacando que os militantes não mediariam esforços ou poupariam sacrifícios em sua missão: edificar uma pátria baseada nos preceitos cristãos. Afirmava que "selariam com sangue a sua fé no integralismo". A revista destacou duas fotos. A primeira mostra um integralista ferido nas pernas que estava sendo carregado por um enfermeiro e outro "camisa-verde".

Vê-se também um grande número de policiais que estavam mobilizados para apaziguar o conflito. Na sequência da reportagem, outra imagem apresenta cena que, possivelmente, foi captada durante a troca de tiros. Na foto, aparecem muitos integralistas correndo desesperadamente, outros se protegendo atrás de postes e alguns caídos na praça.37 37 Foram exatamente essas cenas de integralistas correndo desesperados que inspiraram os militantes antifascistas a criarem a frase "Um integralistas não corre, voa", que depois originou o apelido de "galinhas-verdes".

Entre as homenagens aos mártires produzidas pela imprensa da AIB, uma das mais interessantes foi uma gravura em preto e branco. Publicada em janeiro de 1936, era assinada por A.G. Gouveia e tinha como característica principal o tom dramático. O cenário era algo como um cemitério coberto por cruzes típicas de sepulturas.38 38 Revista Anauê, Ano II, n.6, p.1, jan. 1936.

Contudo, a imagem que dominava a cena era uma mulher vestindo uma mortalha negra e em posição de saudação com o braço direito estendido. Sobre a figura feminina pairavam os sobrenomes dos mártires: Falcão, Guimarães, Rosica, Schroeder, Spinelli e Sechin. Embaixo do desenho, em letras grandes, estava a palavra "presente".

Apesar de ser apenas um desenho, a intenção da publicação era evidente: transmitir a idéia de perenidade apesar da morte. Não faltaram oportunidades para a imprensa da AIB reproduzir imagens impressionantes. O assassinato do militante capixaba Alberto Sechin, por exemplo, em 1935, ocupou um espaço de destaque na galeria de imagens fúnebres dos seguidores de Plínio Salgado.39 39 Para maiores informações sobre a assassinato de Alberto Sechin, ver em FAGUNDES, Pedro E. Sangue nos trilhos de Cachoeiro de Itapemirim — ES: Integralistas e comunistas e a disputa pela memória do conflito de 1935. Anais eletrônicos do V Encontro Regional da Anpuh-ES. Estado e Sociedade. Vitória-ES, 2004.

De fato, o que chamava a atenção nas primeiras fotos e reportagens publicadas sobre o conflito na cidade de Cachoeiro de Itapemirim eram as cenas do cadáver e do velório de Alberto Sechin.40 40 A Offensiva, p. 1, 9/11/1935. No jornal da AIB, em meio a manchetes que acusavam os "comunistas", estava uma foto do cadáver do militante em cima de uma cama e com roupas do hospital.

A má qualidade da fotografia não permite identificar maiores detalhes. Não houve nenhum tipo de constrangimento em ocupar meia página da publicação com uma fotografia que apresentava claramente detalhes do cadáver do militante capixaba, inclusive, focalizando os ferimentos ainda sangrando.41 41 Revista Anauê, Ano II, n.6, p.36, jan. 1936.

Na parte de baixo da mesma página, outra fotografia retrata o velório do jovem militante. Dessa vez, contrariando inclusive os Protocolos Integralistas, o corpo estava completamente coberto por uma imensa bandeira do partido. Ao seu redor dezenas de militantes velavam o cadáver. As imagens publicadas não deixam dúvidas sobre seus objetivos: causar comoção. Em ambas as publicações, as fotografias e o texto que narra os acontecimentos são aspectos reveladores da dinâmica desenvolvida pela AIB para demarcar esse incidente de rua como mais uma página na história de lutas heróicas da organização contra as forças sombrias do comunismo.42 42 Revista Anauê , Ano II, n.6, p.36, jan. 1936.

A exposição de uma imagem forte no jornal do partido poderia ser justificada pela pressa em relatar o incidente ou a indignação causada pela morte de um jovem. Contudo, a publicação da mesma foto, meses depois, com muito mais destaque e nitidez na revista oficial da AIB não deixa margem a dúvida em relação às intenções dos dirigentes integralistas.

Quanto às imagens de luto, em especial as da revista Anauê, configuram a existência de um padrão que, ao focalizar e ressaltar as chagas do militante alvejado, pretendia fixar certas marcas no imaginário social dos militantes do partido. A tendência era que a repercussão da matéria e das fotos promovesse a imediata notoriedade do militante e alimentassem a veneração do seu martírio.

O próprio convite para a Missa de Sétimo Dia do militante é um exemplo claro da prática política adotada em casos de militantes mortos em combates de rua. A AIB agiu rápido no sentido de sacralizar a memória desses "camisas-verdes", pois o texto do convite referia-se ao jovem militante como "mártir glorioso". O vocabulário empregado não deixava dúvidas sobre sua intenção: criar um culto aos seus mártires.

ALBERTO SECHIN

A Família Sechin e a Ação Integralista Brasileira convidam aos seus amigos e aos companheiros de Alberto Sechin, mártir glorioso, a assistirem a missa de 7 dia, a realizar-se quinta-feira, 7 de novembro, na Igreja Matriz desta cidade,ás 7. Cachoeiro de Itapemirim, 6 de novembro de 1935.43 43 LAZZARO, A. et al. Lembranças camponesas: a tradição oral dos descendentes de italianos em Venda Nova do Imigrante. Vitória: s.n, 1992. p.267.

As homenagens ao militante morto prosseguiram mesmo 12 meses após sua morte. Em novembro de 1936, centenas de "camisas-verdes" marcharam vários quilômetros entre a localidade de Duas Barras e São Vicente, em Cachoeiro de Itapemirim. Portando bandeiras e coroas de flores, dessa vez a parada teve outra finalidade: homenagear a passagem de um ano da morte de Alberto Sechin.

A peregrinação até esse túmulo foi destaque na imprensa verde e reforça a tese de que as informações sobre os mártires do partido recebiam uma ampla cobertura dos órgãos de imprensa da AIB. É importante destacar a competência dos integralistas em criar e construir rituais, cerimônias, enfim, um amplo e complexo elenco de eventos que tinham como finalidade destacar não apenas seus mártires individualmente, mas, acima de tudo, colar essas imagens e representações de sacrifício e heroísmo ao movimento integralista em geral.

Assim, um dos mais importantes lugares de memória da AIB no Sul do Espírito Santo foi o túmulo construído para receber os restos mortais do militante morto no conflito de Cachoeiro de Itapemirim. É importante registrar que foi feito com acabamento em mármore verde e tem o símbolo da AIB esculpido em alto-relevo.

Dessa forma, esse conjunto de evidências indica a existência de uma concentração de vestígios deixados pelos integralistas. Todos esses artefatos historiográficos estão interligados no sentido de legitimar e perpetuar a galeria de mártires da AIB. A necessidade de construir e, acima de tudo, vincular sua imagem ao sacrifício desses mártires, deu ao movimento integralista um importante instrumento de propaganda e, ao mesmo tempo, de estímulo para seus militantes por todo o País.

Por mais elementar que possa parecer, a simples concepção de que um integralista seria eterno foi um dos elementos essenciais que, possivelmente, durante os conflitos de rua com forças antintegralistas, serviu de força, impulsionou e encorajou os novos militantes no sentido de se mirarem no exemplo dos mártires do integralismo.

Outro aspecto emblemático que pode servir para sintetizar o esforço dos integralistas em cristalizar na memória coletiva de seus militantes as lembranças de seus mártires foi a prática de batizarem inúmeras escolas integralistas com os nomes desses militantes mortos.

No Estado do Rio de Janeiro, podemos constatar que, do universo de 124 escolas e cursos profissionalizantes mantidos pelo partido, 12 foram batizadas com nomes de "camisas-verdes" mortos em conflitos de rua.44 44 Em relação às escolas nos núcleos municipais e distritais, estavam assim divididas: Jaime Guimarães (Barra Mansa, Ribeiro Grande, Santa Maria Madalena, Teresópolis e Serrana), Nicola Rosica (Campos, Floresta e Valença), Caetano Spinelli (Guarulhos e Moselha), Juvenal Falcão (Alto Teresópolis) e Alberto Sechin (Floresta). A postura da AIB em construir um verdadeiro panteão de mártires e, principalmente, utilizar a memória desses militantes como instrumento de coesão interna e propaganda externa foi outra marca do integralismo.

As práticas elaboradas e desenvolvidas pelo partido de organizar romarias, batismo de escolas, publicação de gravuras, fotografias e textos, além de contribuírem como fonte de vestígios da memória integralista, indicam que a AIB investiu bastante na construção daquilo que hoje chamaríamos de lugares de memória. Segundo Pierre Nora:

Os lugares de memória nascem e vivem do sentimento que não há memória espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter aniversários, organizar celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notariar atas, porque essas operações não são naturais.45 45 NORA, Pierre. Entre Memória e História, p.13.

Para Pierre Nora, esse conceito indica que um espaço ocuparia os três sentidos da recordação: o material, o simbólico e o funcional. Assim esses três sentidos podem ser encontrados nas manifestações de memória, juntos ou separados. Como em um depósito de arquivos, um testamento, um manual de aula, uma associação de ex-combatentes, todos esses espaços podem ser classificados como lugares de memória.

Os atos que têm a capacidade de cristalizar uma lembrança, um acontecimento, por mais simbólicos que sejam, como o ritual de um minuto de silêncio, podem ser enquadrados como um dos sinais que caracterizam a existência de um lugar de memória.

A valorização dos restos, através da vigilância comemorativa, para Pierre Nora, seria um dos únicos meios que garantiria que a História não fosse varrida. Com isso o papel das festas, dos museus, dos cemitérios, dos arquivos, dos aniversários, dos tratados, dos monumentos, enfim, dos lugares de memória é serem marcos testemunhais de uma outra era, seriam rituais de uma sociedade sem ritual, sacralização de sociedades dessacralizadas e, por último, sinais de pertencimento de grupo em uma sociedade que só reconhece indivíduos iguais e idênticos.

Com essa constatação, o autor conclui, que antes que o lugar de memória exista é fundamental que se tenha uma vontade de memória. O que o autor entende como vontade de memória seriam as manifestações que indicariam que um determinado local deveria ser digno de uma concentração de lembranças. Como se os lugares de memória tivessem o poder de parar o tempo, sua razão fundamental seria bloquear o esquecimento, fixando um estado de coisas como se fosse possível, nas palavras do autor, imortalizar a própria morte.

Nesse sentido, a chamada vigilância comemorativa46 46 A vigilância comemorativa seria uma espécie de valorização dos elementos e dos sinais que lembram o passado. Seria um dos únicos meios que garantiria que a história não fosse varrida. NORA, Pierre. Entre Memória e História. seria manifestada através das cerimônias. Os integralistas chegaram ao extremo de tentar criar um novo calendário político, com o ano de 1932 sendo o marco do primeiro ano da "Era Integralista".

Com isso, as festas, os museus, os cemitérios, os arquivos, os aniversários, os tratados, os monumentos, enfim, os lugares de memória desempenham os papéis de marcos testemunhais de outra era. Para que todo o esforço atingisse seu objetivo, deveria haver uma vontade de memória que, no caso da AIB, se manifestou, principalmente, no batismo de escolas.

Assim, podemos concluir que um dos mais importantes lugares de memória da AIB no sul do Estado do Espírito Santo é o túmulo construído para receber os restos mortais do militante morto no conflito de Cachoeiro de Itapemirim. É importante registrar que tal foi feita em mármore verde e tem o símbolo da AIB esculpido em alto-relevo.

Dessa forma, esse conjunto de evidencias indica a existência de uma concentração de vestígios deixados pelos integralistas. Todos esses artefatos historiográficos estão interligados no sentido de legitimar e perpetuar a galeria de mártires da AIB. A necessidade de construir e, acima de tudo, vincular sua imagem ao sacrifício desses mártires, deu ao movimento integralista um importante instrumento de propaganda e, ao mesmo tempo, de estimulo para seus militantes por todo o país.

Contudo, nem sempre a recepção da memória de grupo é percebida da mesma forma por outros elementos da sociedade. Haja vista, que nos livros didáticos e na memória histórica a imagem que acabou sendo cristalizada sobre a AIB foi de uma organização que apoiou o golpe do Estado Novo e, principalmente, que articulou uma tentativa de tomada do poder em 1938 – chamada por muitos de Intentona Integralista – que poderia levar o país para o lado de países como a Alemanha e a Itália.47 47 VICTOR, Rogério Lustosa. O Integralismo nas águas do Lete: história, memória e esquecimento. Goiânia: UCG, 2005, p.80-92.

Com seus rituais e cultos em homenagem aos militantes mortos, os integralistas pretendiam legitimar o próprio partido. A necessidade de construir e vincular sua imagem ao sacrifício desses mártires constituiu um importante instrumento de propaganda e, ao mesmo tempo, de estímulo para seus – novos e antigos – militantes em todo o País.

O decreto de fechamento da AIB e a repressão durante a ditadura do Estado Novo não significaram o fim das atividades dos atores políticos que atuaram nas fileiras integralistas. Depois da anistia política de 1945, os antigos "camisas-verdes" – ainda sob a liderança de Plínio Salgado – voltaram a atuar politicamente. Após um período em Portugal, Salgado retorna sua militância no Partido de Representação Popular (PRP), agremiação partidária que contou com inúmeros ex-integralistas.

Durante o período que esteve em Portugal, Plínio Salgado, teria feito uma revisão crítica da experiência da AIB e acabou abraçando a Democracia Cristã. Com o fim da ditadura do Estado Novo, retornou ao Brasil e retomou a vida política partidária fundando outra sigla: o Partido de Representação Popular (PRP).48 48 Sobre a atuação de Plínio Salgado no PRP, ver em: CALIL, Gilberto Grassi. O Integralismo no pós-guerra: a formação do PRP (1945-1950). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.

No seu novo partido, Plínio Salgado procurou retomar os antigos contatos da época da AIB. Finalmente, em 1955 o ex-chefe nacional disputou uma eleição presidencial e atingiu uma marca significativa: cerca de 5 % de votos. Nas eleições de 1958, o líder máximo dos "camisas-verdes" conquistou uma cadeira de deputado federal. Em 1964, o PRP foi um dos articuladores das Marchas da Família com Deus pela Liberdade e apoiou o golpe civil-militar.

Como relata Rogério Lustaso Victor, em várias ocasiões durante sua ação parlamentar Plínio Salgado procurou destacar a memória da "antiga AIB" e, principalmente, a memória dos mártires integralistas.

Plínio Salgado luta pelo direito à memória e se manifesta como que contestando o esquecimento da nação (...). Por não se ver presente com seus camisas-verdes na memória histórica, Salgado sente-se injustiçado e luta para que seus mártires estejam disponíveis a todos, a luta para que seus marcos, os do integralismo, sejam também, juntamente com os marcos já consagrados, marcos de toda a nação.49 49 VICTOR, Rogério Lustosa. O Integralismo nas águas do Lete, p.130.

Guardadas as diferenças político-ideológicas, ocorreu com a AIB um processo de desconstrução de sua imagem – articulado pela administração Vargas, principalmente durante os anos da ditadura do Estado Novo – semelhante ao praticado contra o Partido Comunista do Brasil (PCB) e o iminente "perigo vermelho", no período pós-1935.

Entender esse processo é encontrar a chave que explica como a chamada "história oficial" vai sendo elaborada, construída e reconstruída para atender às exigências de quem está no poder, tentando buscar no passado as justificativas para agir no presente. A compreensão desse mecanismo oferece, assim, a oportunidade de trazer para o debate as memórias da Ação Integralista Brasileira.

Artigo recebido em: 16/01/2011

Aprovado em: 13/02/2011

  • 1 Para saber mais sobre a fundação da AIB, ver TRINDADE, Hélgio. Integralismo: o fascismo brasileiro na década de 1930. Porto Alegre/São Paulo: Editora UFRGS/Difel, 1974.
  • 3 CAVALARI. Rosa M. F. Integralismo: ideologia e organização de um partido de massa no Brasil (1932-1937). Bauru/SP: EDUSC, 1999, p.163.
  • 4 Para mais informações sobre esse assunto, ver em: HOBSBAWM, Eric. A produção em massa de tradições: Europa, 1870 a 1914. In: HOBSBAWM, Eric e RANGER, Terence. A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997, p.271-316.
  • 5 Para mais informações sobre esse assunto, ver em: RYAN, M. A parada norte-americana: representações da ordem social do século XIX. In: HUNT, Lynn. (org.). A nova história cultural. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p.177-209.
  • 7 CONNERTON, Paul. Como as sociedades recordam. Oeiras: Celta, 1993.
  • 14 Para mais informações, ver em: KUSCHENIR, Karina e CARNEIRO, Leandro P. As dimensões subjetivas da política. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.24, p.227- 301, 1999.
  • 15 BERTONHA, João Fábio. Sobre a direita: estudos sobre o fascismo, o nazismo e o integralismo. Maringá: EDUEM, 2008, p.246.
  • 26 LE GOFF, Jacques. História e mémoria. 5ed. Campinas: Editora UNICAMP, 2003, p.470.
  • 27 NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. Projeto História, São Paulo, n.10, p.7-28, 1993.
  • 31 Para maiores informações sobre o conflito de Bauru, ver POSSAS, Lídia M. V. O trágico três de outubro: estudo histórico de um evento. Bauru, SP: Universidade do Sagrado Coração, 1993.
  • 33 Para maiores informações sobre a Batalha da Praça da Sé, ver em MAFFEI, Eduardo. A Batalha da Praça da Sé. Rio de Janeiro: Philobilion, 1984. (Coleção Redescobrimento do Brasil).
  • 47 VICTOR, Rogério Lustosa. O Integralismo nas águas do Lete: história, memória e esquecimento. Goiânia: UCG, 2005, p.80-92.
  • 48 Sobre a atuação de Plínio Salgado no PRP, ver em: CALIL, Gilberto Grassi. O Integralismo no pós-guerra: a formação do PRP (1945-1950). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.
  • 1
    Para saber mais sobre a fundação da AIB, ver TRINDADE, Hélgio. Integralismo: o fascismo brasileiro na década de 1930. Porto Alegre/São Paulo: Editora UFRGS/Difel, 1974.
  • 2
    TRINDADE, Hélgio. Integralismo.
  • 3
    CAVALARI. Rosa M. F. Integralismo: ideologia e organização de um partido de massa no Brasil (1932-1937). Bauru/SP: EDUSC, 1999, p.163.
  • 4
    Para mais informações sobre esse assunto, ver em: HOBSBAWM, Eric. A produção em massa de tradições: Europa, 1870 a 1914. In: HOBSBAWM, Eric e RANGER, Terence. A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997, p.271-316.
  • 5
    Para mais informações sobre esse assunto, ver em: RYAN, M. A parada norte-americana: representações da ordem social do século XIX. In: HUNT, Lynn. (org.). A nova história cultural. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p.177-209.
  • 6
    A forma e a estruturação dos desfiles surgidos durante o século XIX, na América do Norte, acabaram transformando-se no padrão das apresentações e paradas. Os desfiles realizados, principalmente, nas datas religiosas e cívicas, com os participantes organizados em colunas, empunhando estandartes de suas agremiações e acompanhados por uma banda de música, acabou tornando-se modelo para outros países.
  • 7
    CONNERTON, Paul. Como as sociedades recordam. Oeiras: Celta, 1993.
  • 8
    Um exemplo evidente foi a reintrodução da cerimônia da Tocha Olímpica nas Olimpíadas modernas, durante a edição dos jogos na cidade de Berlim, em 1936.
  • 9
    CONNERTON, Paul. Como as sociedades recordam, p.62.
  • 10
    Refiro-me especificamente ao nazismo e ao fascismo.
  • 11
    CONNERTON, Paul. Como as sociedades recordam, p.60.
  • 12
    CONNERTON, Paul. Como as sociedades recordam, p.62.
  • 13
    CONNERTON, Paul. Como as sociedades recordam, p.83.
  • 14
    Para mais informações, ver em: KUSCHENIR, Karina e CARNEIRO, Leandro P. As dimensões subjetivas da política. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.24, p.227- 301, 1999.
  • 15
    BERTONHA, João Fábio. Sobre a direita: estudos sobre o fascismo, o nazismo e o integralismo. Maringá: EDUEM, 2008, p.246.
  • 16
    O sigma, além de representar na matemática a soma de todos os elementos, tinha outro significado: é a letra com a qual os primeiros cristãos da Grécia identificavam Deus. TRINDADE, Hélgio. Integralismo.
  • 17
    Excepcionalmente, em algumas cerimônias solenes os três "anauês" eram empregados. Os Protocolos também previam que Deus teria direito a quatro "anauês". TRINDADE, Hélgio. Integralismo.
  • 18
    Para mais informações, ver em: CALAVARI, Rosa M. F. Integralismo, p.191.
  • 19
    CALAVARI, Rosa M. F. Integralismo, p.192.
  • 20
    CALAVARI, Rosa M. F. Integralismo, p.176.
  • 21
    As palavras eram a seguintes: "O Integralismo está vivo em todo o território da Nação Brasileira. A Pátria despertou. Pelo Brasil grande e forte, ergamos três anauês." Protocolos e rituais, art.163 e 170, Monitor Integralista, n.15, outubro de 1936. Apud TRINDADE, Hélgio. Integralismo, p.202.
  • 22
    Nessa cerimônia, as palavras proferidas eram: "Camisas-verdes. Este Sol iluminou quatro séculos da história do Brasil, iluminou a primeira marcha dos integralistas e iluminará a vitória do sigma. Assim como esperamos hoje esta alvorada, aguardamos confiantes o Dia do Triunfo. Pelo bem do Brasil, pelo Estado Integral, três anauês!" Protocolos e rituais, art.169, Monitor Integralista, n.15, outubro de 1936. Apud TRINDADE, Hélgio. Integralismo, p.205.
  • 23
    O principal significado estava ligado à comemoração do lançamento do Manifesto de Outubro, em 1932. Entretanto, com o passar dos anos, a cerimônia revestiu-se de outras finalidades. Dentre elas: protestar contra o fechamento da milícia pelo Governo, em memória aos mortos do partido e em culto a Deus, à Pátria e à família. TRINDADE, Hélgio. Integralismo, p.203.
  • 24
    As palavras proferidas eram: "É meia-noite. Em todas as cidades da imensa pátria, nos navios em alto mar, nos lares, nos quartéis, nas fazendas e estâncias, nas choupanas do sertão, nos hospitais e nos cárceres, os Integralistas do Brasil vão se concentrar três minutos em profundo silêncio. É ‘Noite dos Tambores Silenciosos’. Atenção." Protocolos e rituais, art.86. Monitor Integralista, n.15, outubro de 1936. Apud TRINDADE, Hélgio. Integralismo, p.203.
  • 25
    Como exemplo, podemos citar a edição do jornal
    A Offensiva do dia 18/10/1936, que, em sua pg. 13, trouxe uma relação com dezenas de cidades fluminenses em que se realizaram o rito "A Noite dos Tambores Silenciosos". Dentre os Municípios, podemos citar Niterói, Teresópolis, Petrópolis, Resende, Porciúncula e Campos.
  • 26
    LE GOFF, Jacques. História e mémoria. 5ed. Campinas: Editora UNICAMP, 2003, p.470.
  • 27
    NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. Projeto História, São Paulo, n.10, p.7-28, 1993.
  • 28
    TRINDADE, Hélgio. Integralismo, p. 202.
  • 29
    Monitor Integralista, n. 6, maio de 1934, p.9.
  • 30
    O Brasil, no período entre as décadas de 1930 e1940, testemunhou uma prática que se tornou comum: as imagens políticas tiveram uma associação ligadas às questões religiosas. Naquela época, a administração Vargas desenvolveu um amplo projeto de comunicação que procurou associar todos os fatos positivos do Governo à imagem pessoal do governante maior. Para incutir a ideia do líder preocupado com as questões sociais, o "Pai do Pobres", foram usadas fartamente imagens, cartazes, bustos e estátuas com a finalidades de criar um verdadeiro culto cívico entre a população. Para saber mais, ver LENHARO, Alcir. A Sacralização da Política. 2 ed. Campinas: Papirus, 1986.
  • 31
    Para maiores informações sobre o conflito de Bauru, ver POSSAS, Lídia M. V. O trágico três de outubro: estudo histórico de um evento. Bauru, SP: Universidade do Sagrado Coração, 1993.
  • 32
    A Offensiva, p.3, 10/10/1934.
  • 33
    Para maiores informações sobre a Batalha da Praça da Sé, ver em MAFFEI, Eduardo. A Batalha da Praça da Sé. Rio de Janeiro: Philobilion, 1984. (Coleção Redescobrimento do Brasil).
  • 34
    Mais adiante, trataremos especificamente do batizado de escolas com nomes de mártires integralistas.
  • 35
    Revista
    Anauê, p.9, Maio de 1935.
  • 36
    Revista
    Anauê, p.11, 10/7/1937.
  • 37
    Foram exatamente essas cenas de integralistas correndo desesperados que inspiraram os militantes antifascistas a criarem a frase "Um integralistas não corre, voa", que depois originou o apelido de "galinhas-verdes".
  • 38
    Revista
    Anauê, Ano II, n.6, p.1, jan. 1936.
  • 39
    Para maiores informações sobre a assassinato de Alberto Sechin, ver em FAGUNDES, Pedro E. Sangue nos trilhos de Cachoeiro de Itapemirim — ES: Integralistas e comunistas e a disputa pela memória do conflito de 1935. Anais eletrônicos do V Encontro Regional da Anpuh-ES. Estado e Sociedade. Vitória-ES, 2004.
  • 40
    A Offensiva, p. 1, 9/11/1935.
  • 41
    Revista
    Anauê, Ano II, n.6, p.36, jan. 1936.
  • 42
    Revista
    Anauê , Ano II, n.6, p.36, jan. 1936.
  • 43
    LAZZARO, A. et al. Lembranças camponesas: a tradição oral dos descendentes de italianos em Venda Nova do Imigrante. Vitória:
    s.n, 1992. p.267.
  • 44
    Em relação às escolas nos núcleos municipais e distritais, estavam assim divididas: Jaime Guimarães (Barra Mansa, Ribeiro Grande, Santa Maria Madalena, Teresópolis e Serrana), Nicola Rosica (Campos, Floresta e Valença), Caetano Spinelli (Guarulhos e Moselha), Juvenal Falcão (Alto Teresópolis) e Alberto Sechin (Floresta).
  • 45
    NORA, Pierre. Entre Memória e História, p.13.
  • 46
    A vigilância comemorativa seria uma espécie de valorização dos elementos e dos sinais que lembram o passado. Seria um dos únicos meios que garantiria que a história não fosse varrida. NORA, Pierre. Entre Memória e História.
  • 47
    VICTOR, Rogério Lustosa. O Integralismo nas águas do Lete: história, memória e esquecimento. Goiânia: UCG, 2005, p.80-92.
  • 48
    Sobre a atuação de Plínio Salgado no PRP, ver em: CALIL, Gilberto Grassi. O Integralismo no pós-guerra: a formação do PRP (1945-1950). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.
  • 49
    VICTOR, Rogério Lustosa. O Integralismo nas águas do Lete, p.130.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      07 Fev 2013
    • Data do Fascículo
      Dez 2012

    Histórico

    • Recebido
      16 Jan 2011
    • Aceito
      13 Fev 2011
    Pós-Graduação em História, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais Av. Antônio Carlos, 6627 , Pampulha, Cidade Universitária, Caixa Postal 253 - CEP 31270-901, Tel./Fax: (55 31) 3409-5045, Belo Horizonte - MG, Brasil - Belo Horizonte - MG - Brazil
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