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O México de Rodrigo Otávio e de Cyro dos Anjos: entre as atribuições do funcionário e o olhar do escritor

The Mexico of Rodrigo Otávio and Cyro dos Anjos: between the duties of the public service and the vision of the writer

Resumos

Rodrigo Otávio e Cyro dos Anjos estiveram no México no cumprimento de funções político-diplomáticas. Rodrigo Otávio visitou o país pela primeira vez em 1923 e Cyro dos Anjos o fez exatamente 30 anos depois. Neste artigo serão analisados os registros escritos que deixaram (o livro de viagem de Rodrigo Otávio e as cartas pessoais e oficiais de Cyro dos Anjos), a fim de saber como estes intelectuais analisaram o país, a partir de sua ligação profissional e afetiva com ele, num período em que as relações culturais e intelectuais entre o México e o Brasil eram escassas e episódicas.

Rodrigo Otávio; Cyro dos Anjos; México


Rodrigo Otávio and Cyro dos Anjos were in Mexico to accomplish diplomatic and political duties. Rodrigo Otávio visited the country for the first time in 1923 and Cyro dos Anjos did the same thirty years later. In this article the written records that they left will be analyzed (Rodrigo Otávio's travel book and Cyro dos Anjo's personal and official letters) in order to know how both intellectuals conceived the country, regarding their professional and affective ties with it, in times when the cultural and intellectual relations between Mexico and Brazil were scarce and sporadic.

Rodrigo Otávio; Cyro dos Anjos; Mexico


DOSSIÊ: INTELECTUAIS E CIRCULAÇÃO DE IDEIAS NA AMÉRICA LATINA

O México de Rodrigo Otávio e de Cyro dos Anjos: entre as atribuições do funcionário e o olhar do escritor* * Autora convidada. ** Contato: rcrespo@unam.mx [

The Mexico of Rodrigo Otávio and Cyro dos Anjos: between the duties of the public service and the vision of the writer

Regina Crespo** * Autora convidada. ** Contato: rcrespo@unam.mx [

Centro de Investigaciones sobre América Latina y el Caribe, Universidad Nacional Autónoma de México, Ciudad de México, México

RESUMO

Rodrigo Otávio e Cyro dos Anjos estiveram no México no cumprimento de funções político-diplomáticas. Rodrigo Otávio visitou o país pela primeira vez em 1923 e Cyro dos Anjos o fez exatamente 30 anos depois. Neste artigo serão analisados os registros escritos que deixaram (o livro de viagem de Rodrigo Otávio e as cartas pessoais e oficiais de Cyro dos Anjos), a fim de saber como estes intelectuais analisaram o país, a partir de sua ligação profissional e afetiva com ele, num período em que as relações culturais e intelectuais entre o México e o Brasil eram escassas e episódicas.

Palavras-chave: Rodrigo Otávio, Cyro dos Anjos, México

ABSTRACT

Rodrigo Otávio and Cyro dos Anjos were in Mexico to accomplish diplomatic and political duties. Rodrigo Otávio visited the country for the first time in 1923 and Cyro dos Anjos did the same thirty years later. In this article the written records that they left will be analyzed (Rodrigo Otávio's travel book and Cyro dos Anjo's personal and official letters) in order to know how both intellectuals conceived the country, regarding their professional and affective ties with it, in times when the cultural and intellectual relations between Mexico and Brazil were scarce and sporadic.

Keywords: Rodrigo Otávio, Cyro dos Anjos, Mexico

Nos primeiros cinquenta anos do século XX, a presença de escritores e intelectuais brasileiros no México foi escassa e se associou geralmente ao cumprimento de missões políticas e funções diplomáticas. Os brasileiros que estiveram no México e escreveram sobre ele durante esse período recorreram a uma vasta gama de registros que abrangeu desde os relatórios oficiais até a narrativa ficcional, passando pelos depoimentos, memórias e cartas pessoais. Para a execução eficiente das tarefas que lhes foram encomendadas como funcionários, conduziram-se normalmente de acordo com as demandas formais da diplomacia e da polidez ressabiada da política; no plano mais livre da escrita criativa e pessoal, puderam eventualmente dar mais espaço à especulação filosófica e à análise cultural e sociológica. Ao decidir escrever um livro de viagem ou um relato ficcional, não buscaram a precisão de um texto sociológico; em suas cartas pessoais, abriram espaço para um subjetivismo que os escritos oficiais normalmente não aceitam. Nos relatórios secretos ou confidenciais que enviaram ao Brasil, empregaram argúcia, senso crítico e sinceridade pouco usuais nos ofícios e memorandos de livre circulação.

Lendo o que produziram, podemos observar que o Brasil serviu, muitas vezes, como ponto de referência para suas reflexões sobre o México e funcionou como elemento norteador de uma discussão muito presente entre os intelectuais durante a primeira metade do século XX, acerca do tema da identidade, tanto nacional como latino-americana. Por um lado, é possível afirmar que, nestes registros, a percepção dos costumes, da vida cotidiana, das crenças locais, da evolução histórica e, finalmente, das idiossincrasias dos mexicanos sempre teve direta ou indiretamente como tela de fundo a comparação com o Brasil. Por outro lado, não se pode negar que tal comparação se nutriu, também, de uma espécie de "triangulação" às vezes composta com referentes europeus e, na maioria delas, estadunidenses.

Não podemos esquecer que, no âmbito político e econômico, as relações entre o México e o Brasil se conduziram muitas vezes tendo como referência o lugar ocupado por cada um dos países em relação aos Estados Unidos. A conquista da hegemonia subcontinental, que estava em grande parte condicionada à aprovação do governo estadunidense, justificava para os brasileiros o alinhamento quase automático à sua política internacional. A proeminência que os governos do Brasil e do México sempre buscaram para seus países na esfera latino-americana se refletiu em muitas das decisões que tiveram que tomar nas relações bilaterais. Os vai-e-vens das relações entre os governos do México e dos Estados Unidos costumavam ser reportados e avaliados pelos representantes diplomáticos brasileiros no México. Em sua correspondência ao Itamaraty, tendiam a não apoiar os mexicanos e a justificar as atitudes muitas vezes intervencionistas dos vizinhos do norte sobre o território, a política e a economia do país, tomando-as como ações necessárias para a conquista do progresso numa sociedade tão cheia de conflitos e – por que não dizê-lo? – atrasada. Os mexicanos, quase sempre em pugna com os vizinhos, poucas vezes encontraram entre os brasileiros as mostras da solidariedade continental que esperavam obter.[1 1 ] Vale a pena ler os relatórios sobre o México que o corpo diplomático brasileiro enviava sistematicamente ao Itamaraty, principalmente os reservados e confidenciais. Embaixadores como Antonio Feitosa (1925-1926), Rinaldo Lima e Silva (1926-1931) e, principalmente, Abelardo Roças (1931-1939) elaboraram diagnósticos detalhados sobre a situação social e política mexicana (não isentos, evidentemente, de preconceitos e do peso de categorias cientificamente questionáveis, mas hegemônicas no período). Estes escritos ajudam a entender a visão predominante entre os brasileiros sobre o México durante a primeira metade do século. Os funcionários intelectualizados do Itamaraty tiveram um papel importante na construção do conhecimento sobre o México, num período em que as relações culturais e intelectuais entre brasileiros e mexicanos eram, na realidade, poucas e circunstanciais. Para mais detalhes sobre o tema, consultar CRESPO, Regina. Miradas diplomáticas: México en la correspondencia del Palacio Itamaraty (1919-1939). Secuencia, Revista de historia y ciencias sociales, n.86, p.139-166, 2013. Disponível em: < http://secuencia.mora.edu.mx/index.php/Secuencia/article/view/5999>. Acesso em: 08 jul. 2014. [ ]

Entre os escritores e intelectuais que visitaram o país entre as décadas de 1920 e 1950, vários permaneceram hesitantes frente à dicotomia que separava o racionalismo anglo-saxão e o espiritualismo (ou sentimentalismo) latino. A imagem do "homem cordial", elaborada por Rui Ribeiro Couto numa famosa carta que enviou ao seu célebre amigo Alfonso Reyes, de certa maneira condensa tal dicotomia.[2 2 ] Esta carta, diga-se de passagem, constituiu uma das poucas colaborações de brasileiros à revista literária Monterrey, que o então embaixador do México no Brasil publicava no Rio de Janeiro. Reyes a difundiu, juntamente com uma carta de Prudente de Moraes Neto sobre temas da identidade cultural ibero-americana, mas não teceu nenhum comentário sobre o seu conteúdo. Monterrey, 7, diciembre de 1931. Monterrey. Ed. Facsimilar. México: Fondo de Cultura Económica, 1980, p.169 (Coleção Revistas Literarias Mexicanas). [ ] Nela, o brasileiro perguntava:

Não lhe parece que haverá sempre uma oposição fundamental entre os anglo-saxões da América (mesmo penetrados de sangue italiano, espanhol, português, etc. tudo fundido em Babitt) e os latinos dessa mesma América (ainda que penetrados de sangue germânico, polaco, etc., tudo fundido em Juan da Silva)? Sí, amigo, eso existe: el espírito yankee... No hay que cerrar los ojos. O lo aceptamos, o lo combatimos.[3 3 ] Trecho em espanhol no original. [ ]

Essa oposição, aparentemente insolúvel, alimentou direta ou indiretamente os registros que outros brasileiros produziriam sobre o México. Ronald de Carvalho deixaria duas obras embebidas de um latino-americanismo generoso e simultaneamente aguerrido. A primeira foi um livro de poemas, Toda a América.[4 4 ] O livro foi publicado pela primeira vez em 1926, no Rio de Janeiro. Em 1930, saiu em espanhol, na coleção "Biblioteca Brasileña", com tradução do poeta espanhol modernista Francisco Villaespesa. Em 1935, saiu uma terceira edição em espanhol, logo após a morte do poeta. As referências seguintes são a esta versão. O livro começa com um poema chamado "Advertência", que se inicia com um vocativo: "¡Europeo!". Nele, o poeta recorda a ordem, a velhice e a rotina da paisagem de seu interlocutor, e lhe recorda que, como filho da obediência, da economia e do bom senso, não sabe o que é ser Americano, e desconhece "los tumultos de nuestra sangre temperada en saltos y disparada sobre pampas, sábanas, altiplanos" Desconhece a "¡Alegría de inventar, de descubrir (...) de criar el camino con la planta del pie!". O poema seguinte, Brasil, é um poema de consagração, que insere o país-continente no continente maior da cultura latino-americana. O último poema, que dá título ao livro, caracteriza-se por seu espírito épico; seus versos livres vão compondo um grande diálogo do poeta com a América Latina, no qual o México ocupa um lugar de destaque. CARVALHO, Ronald de. Toda la América. São Paulo/Rio de Janeiro: Editora Hispano-Brasileña, 1935, p.11-18, p.52-69 (Col. "Biblioteca Brasileña. Los poetas"). [ ] A segunda foi Imagens do México, um breve livro de crônicas sobre o país.[5 5 ] CARVALHO, Ronald de. Imagens do México. Rio de Janeiro: Edição do Anuário do Brasil, 1929. [ ] As linhas iniciais de "Lição do deserto", texto que abre o livro, estão marcadas pela posição arielista, tão em voga na década de 1920:

Quem penetra o território mexicano, pela fronteira do Rio Grande, recebe o choque de um constraste fulminante. Para trás, ficam (...) os campos de cultura, os canais de irrigação, os "cottages", os "bungalows" e as aldeias norte-americanas, cortadas como tabuleiros de xadrês, onde os cow-boys passeiam a sua arrogância de peões (...) para trás a fartura, a economia, o bom senso medíocre das contas em ordem, a filosofia tranquila dos livros de razão. (...) Em frente, desdobrando-se numa tapeçaria de mica, (...) estende-se o deserto.[6 6 ] CARVALHO, Ronald de. Imagens do México, p.9. Nas citações, manteve-se a pontuação original e atualizou-se a ortografia. ]

Muitos anos depois da publicação do pequeno livro de Carvalho, Erico Verissimo escreveria México, história duma viagem.[

Quem também escreveu sobre o país foi Clodomir Vianna Moog. Em 1952, foi indicado para presidir a Comissão de Ação Cultural da OEA, cuja sede estava no México, e viveu no país por mais de dez anos. Vianna Moog não escreveu memórias, ensaios ou um livro de viagens. Em 1962, publicou um longo romance, Tóia, em torno da paixão outonal de um diplomata brasileiro por uma jovem mexicana mestiça, Tóia, que encontra em um bordel. O cenário é a Cidade do México dos anos 1950, que Vianna Moog conheceu muito bem. No desenrolar da trama, o autor ofereceria aos leitores uma espécie de síntese de suas ideias sobre o país (a presença simbólica permanente da "conquista" na vida cotidiana, as suscetibilidades sociais, os ressentimentos nacionalistas, o mote da melancolia atávica dos mexicanos, seu fatalismo ancestral etc.).8 8 ] Significativamente, o romance começa com a surpresa da camareira que entra no quarto do protagonista, no hotel em que está hospedado e o escuta cantar. "Pensara que o hóspede fosse cubano, pois o via muito alegre. Mexicano é que não era. Os mexicanos, segundo a camareira, raro tinham motivo para alegrar-se. (...) Nuestra vida, señor, son puras tristezas – explicou com resignação". MOOG, Clodomir Vianna. Tóia, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1962, p.3-4. [

Nesse breve artigo analisaremos os registros sobre o México produzidos por dois escritores brasileiros. O primeiro, Rodrigo Otávio, foi contemporâneo de Ronald de Carvalho e coincidiu com o poeta em sua primeira viagem ao país, em 1923. O segundo, Cyro dos Anjos, escritor e funcionário público como Erico Verissimo e Clodomir Vianna Moog, conviveu com ambos na Cidade do México.[9 9 ] Vianna Moog chegou a ciceronear Verissimo na Cidade do México. As discussões e divergências que tiveram acerca da cultura, das artes e da vida política e social do país foram tema de algumas das páginas do livro de Verissimo, que esteve no México em várias ocasiões. Sobre as impressões de Verissimo sobre o México, consultar BAGGIO, Kátia Gerab. Magia e paixão: o México sob o olhar de Erico Verissimo. Projeto História, São Paulo, n.32, p.79-95, 2006. Durante uma de suas visitas, Verissimo compartilhou com Cyro dos Anjos algumas atividades profissionais. Na correspondência diplomática, informa-se que os escritores participaram dos debates do VI Congresso do Instituto Internacional de Literatura Ibero-Americana e que foram muito aplaudidos por todos os presentes. "O mês cultural". Setembro. Outubro a dezembro 1953. Arquivo Histórico do Palácio do Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores do Brasil (AHI), Pasta 32/4/13. Cyro dos Anjos incluiu uma versão ao espanhol do famoso ensaio de Vianna Moog, "Uma interpretação da literatura brasileira" (publicado pela primeira vez em 1942), no segundo volume dos Cuadernos Brasileños, que editou com o apoio da Embaixada do Brasil no México. [ ]

Como buscaremos ver, Rodrigo Otávio era mais político – e talvez por isso mais prudente – que Erico Verissimo, além de ser menos crítico – e certamente mais simpático com relação ao México – que Vianna Moog. Ao narrar sua entrada ao México, chegando, como Verissimo, dos Estados Unidos, elogiaria diplomaticamente a calidez mexicana plasmada na recepção atenciosa de um funcionário do governo que encontrou à sua espera. Nele, observou "a expressão de uma simpatia por meu país, que circunstâncias históricas e afinidades afetivas têm despertado e estimulado".[10 10 ] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru. São Paulo/Rio de Janeiro/Recife/Porto Alegre: Companhia Editora Nacional, 1940, v.18, p.15 (Série "Viagens"). Nas citações que se farão deste livro se manterá a pontuação original e se atualizará a ortografia. [ ] O escritor e jurista ilustre pôde desfrutar pessoalmente dessa simpatia desde sua primeira viagem ao México, como convidado especial, em 1923, até as que fez, nos anos seguintes, em caráter profissional, como participante ou presidente de comissões internacionais especiais de arbitragem.

Muito mais parco que Carvalho, Rodrigo Otávio, Vianna Moog e Verissimo na manifestação de seu apreço e eventualmente de suas críticas ao México e aos mexicanos, Cyro dos Anjos não foi convidado oficial do governo mexicano, como o primeiro, não desempenhou um papel político tão importante como o segundo e o terceiro, nem pôde se dar ao luxo de fazer uma viagem de turismo ao país, como o último.[11 11 ] Verissimo foi diretor do Departamento de Assuntos Culturais da União Pan-Americana (UPA), órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA), de 1953 a 1956. Percebe-se, na leitura de seu livro, que o autor teve várias prerrogativas no país, apesar de não havê-lo visitado em caráter oficial. [ ] Cyro estava atado às suas atribuições de professor e agente cultural e ocupou uma posição mais rotineira e menos atraente que os quatro autores mencionados. Foi a partir de sua rotina de professor de estudos brasileiros que pôde observar o México e os mexicanos.

Belas impressões: o jurista recorda suas viagens

Rodrigo Otávio Langgaard de Meneses, reconhecido jurista especializado em direito internacional e membro fundador da Academia Brasileira de Letras, esteve no México algumas vezes, entre 1923 e 1926. O brasileiro atuou como árbitro dos Tribunais Internacionais de Reclamações entre México e Estados Unidos, México e França e México e Alemanha. Em 1923, visitou o México, convidado pela Secretaria de Relações Exteriores. Chegou de trem e, juntamente com o poeta e diplomata Ronald de Carvalho, este convidado pela Secretaria de Educação Pública, foi recepcionado por representantes do governo mexicano, pelo embaixador Régis de Oliveira e pelos principais membros do corpo diplomático brasileiro, numa cálida manhã de junho.[12 12 ] OCTAVIO, Rodrigo; CARVALHO, Ronald de. Dos representativos del Brasil llegan a la capital. Excélsior, 23/06/1923. Recorte de jornal. AHI, pasta 221/1/09. [ ]

A imprensa não foi pródiga em elogios somente ao jurista. Um parêntese merece ser aberto para comentar que a recepção dada pela imprensa e pelo governo mexicano a Ronald de Carvalho também foi eloquente. Foram escritos artigos elogiosos às quatro conferências que deu sobre cultura e literatura brasileiras no mês de julho. Também foram notícia as viagens que realizou ao lado de José Vasconcelos, então ministro da Educação Pública, pelo interior do país. Em setembro de 1923, o embaixador Régis de Oliveira escreveria ao Itamaraty comunicando a partida de Ronald no dia 22 de agosto. O embaixador elogiava a produtiva visita do poeta e também diplomata ao México, comentando o seu êxito e a eficácia de seu trabalho para a difusão do Brasil entre os mexicanos.[13 13 ] Oliveira ao ministro Félix Pacheco, 04/09/1923. AHI, pasta 221/1/9. [ ]

O mesmo embaixador noticiaria, sem grandes detalhes, em outubro de 1923, que Rodrigo Otávio havia recebido o título de doutor honoris causa da Universidade Nacional.[14 14 ] Oliveira a Pacheco, 30/10/1923. AHI, pasta 221/1/9. [ ] Um ano depois, Rodrigo Otávio instalou-se na capital do país e aí permaneceu durante vários meses como membro de uma comissão de arbitragem. O brasileiro mudou-se para a Cidade do México com toda a família e participou ativamente de sua vida social.

Os jornais da época noticiaram com muito destaque sua chegada e sua atuação como árbitro. Não há um material abundante e claro sobre todos os casos que arbitrou, mas se nota nas notícias e reportagens publicadas pelos jornais da época uma notória simpatia com relação ao brasileiro.[15 15 ] Na seção "Notas diplomáticas", do jornal El Universal, noticiava-se a chegada de Rodrigo Otávio à capital do país, em um trem especial. Segundo o jornal, o brasileiro havia sido "designado de común acuerdo por los Estados Unidos y México, árbitro de la Comisión Especial de Reclamaciones que se reunirá en breve en esta ciudad". El Universal, 15/08/1924, Primera sección, p.4. [ ] Uma das decisões de Rodrigo Otávio em prol do México, muito comentada na imprensa, deu-se num caso de demanda de indenização do governo dos Estados Unidos, que se levou a cabo em 1926. O assunto, tratado pela Comissão de Reclamações México-Americanas, presidida por Rodrigo Otávio, referiu-se à exigência de indenização pela morte de dez mineiros estadunidenses, na cidade de Santa Isabel, no estado de Chihuahua, presumivelmente causada por um ataque de revolucionários vinculados a Francisco Villa, em 1916. O caso foi decidido a favor do México, o que causou uma série de controvérsias com o governo americano, ocupou páginas furiosas da imprensa estadunidense e artigos de apoio inflamado dos jornais mexicanos.[16 16 ] "Texto Integro del Dr. Rodrigo Octavio en el caso de Santa Isabel". El Universal, 27/04/1926, p.5. Neste mesmo jornal, dois dias depois, foram reproduzidos trechos de veículos importantes da imprensa estadunidense protestando pela decisão final. El Universal, 29/04/1926, p,1, p.6. [ ] A sentença foi publicada integralmente na imprensa mexicana e parece haver sido muito importante na trajetória internacionalista de Rodrigo Otávio, já que também foi publicada no Brasil.[17 17 ] "A decisão do caso de Santa Izabel". Sentença arbitral proferida no Tribunal Internacional Mexicano – Americano do Norte. Imp. de la Secretaría de Relaciones Exteriores, México, 1926. Jornal do Commercio, 11/12/1927, Arq. Judiciário, v.5, p.3, Rio de Janeiro, 1928. Portal Supremo Tribunal Federal. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/portal/ministro/verMinistro.asp?periodo=stf&id=127>. Acesso em: 20 jan. 2014. [ ]

Em México e Peru, que publicou em 1940, Rodrigo Otávio narra as viagens que realizou a estes dois países hispano-americanos durante a década de vinte. A ambos visitou como convidado oficial. O autor dedicou as primeiras 90 páginas de seu livro a recordar suas viagens ao México e as 78 restantes, ao Peru. Rodrigo Otávio iniciou a segunda parte de seu relato rememorando, com júbilo, o convite que recebeu, estando no México já há alguns meses para, em dezembro de 1924, assistir, como hóspede do governo do Peru, às "solenidades do centenário da batalha de Ayacucho, que consumou a libertação da América do jugo espanhol".[18 18 ] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.101. [ ]

Para os objetivos deste trabalho, analisaremos somente a parte referente ao México. No entanto, é importante comentar que o livro possui uma evidente unidade narrativa e estilística. Tanto para falar sobre o México como sobre o Peru, Rodrigo Otávio estruturou um discurso agradável e ameno, linear, recheado de curiosidades, destinado a entreter um leitor comum, ávido por conhecer lugares que provavelmente nunca visitaria e experiências que nunca viveria. O autor recorreu à história para fundamentar sua narrativa, mas o fez em rápidas pinceladas, sem mencionar as fontes em que se nutriu.

Concentremo-nos, pois, em sua narração sobre o México. Rodrigo Otávio misturaria vários momentos e reminiscências em seu relato, sem se preocupar em obedecer uma cronologia rígida. No início do livro recordava, sem mencionar datas, todo o seu périplo pelo território estadunidense, depois de sair de Nova York até chegar a Laredo, Texas.[19 19 ] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.9-15. [ ] Estas lembranças parecem estar relacionadas à sua primeira visita ao México que, como o próprio autor contaria muitas páginas depois, durou oito dias, dedicados a ver tudo o que havia de interessante na capital e seus arredores, e foi registrada numa conferência que pronunciou na Academia Brasileira de Letras.[20 20 ] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.63 e p.58, respectivamente. [ ] Provavelmente, a conferência foi a origem do livro, já que alguns dos capítulos iniciais deste estão dedicados à capital e a lugares próximos.

O relato de Rodrigo Otávio comprova a existência de um profundo interesse do presidente Álvaro Obregón pelo Brasil, que ultrapassava o plano da simpatia pessoal e se inseria em um projeto calculado de política exterior, destinado a aumentar a influência do México na esfera sul-americana.[21 21 ] Obregón foi recebido em jantares íntimos por Rodrigo Otávio (OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.67) e pelo embaixador Antonio Feitosa, a quem tratou, em sua chegada ao México, como um verdadeiro chefe de Estado, oferecendo-lhe uma recepção particular (Feitosa a Pacheco, 02/12/1924. AHI, pasta 221/1/9). Também ofereceu um jantar especial ao poeta Ronald de Carvalho, antes do regresso do poeta ao Brasil (Oliveira a Pacheco, 04/09/1923. AHI, pasta 221/1/9). [ ] Recordemos que foi justamente o governo do presidente Obregón que decidiu, unilateralmente, mudar o status da representação mexicana no Brasil de legação a embaixada.[22 22 ] Esta decisão ocasionou desconforto ao governo brasileiro. Normalmente alinhados com os Estados Unidos, os brasileiros preferiam esperar que os estadunidenses reconhecessem o governo do presidente Álvaro Obregón, mas isso ainda não acontecera. A elevação oficial da legação brasileira a embaixada deu-se no dia 10 de março de 1922; apenas no dia 30 de julho o governo brasileiro nomeou Régis de Oliveira embaixador e só no dia 15 de fevereiro do ano seguinte este apresentou suas credenciais. HUERTA SERRANO, María Guadalupe; CASADO ÁLVAREZ, Miguel. Relaciones diplomáticas México-Brasil 1822-1959: guía documental. México: Archivo Histórico Diplomático Mexicano/Secretaría de Relaciones Exteriores/Embajada de Brasil en México, 1994, p.241. [ ] Obregón também decidiu enviar um ministro de Estado como representante do México às festividades pelo Centenário da Independência do Brasil, em lugar de uma simples representação diplomática. José Vasconcelos, o flamante ministro da Educação do México pós-revolucionário, rumou ao país acompanhado de uma grande delegação, com a encomenda de presentear o povo brasileiro com uma estátua de Cuauhtémoc, o último imperador asteca.

Rodrigo Otávio recordaria em seu livro de viagem que havia tratado várias vezes com Obregón, este "homem de pequena cultura mas de viva inteligência",[23 23 ] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.61. [ ] e que o presidente fora seu cicerone numa visita ao palácio de Chapultepec, durante sua primeira viagem ao país. Após recordar que suas relações com Obregón se intensificaram quando voltou ao México mais tarde (o cruzamento de informações provenientes das notícias da imprensa e da correspondência da embaixada levam a deduzir que isso ocorreu justamente um ano depois, em 1924), Rodrigo Otávio se refere a uma excursão que fez com sua família em vagão especial pelo interior do país, novamente por cortesia do presidente mexicano.

O único livro a que Rodrigo Otávio fez referência em nota de rodapé foi justamente Ocho mil kilométros de campaña, que Obregón publicou, em 1917, sobre sua atuação durante a Revolução Mexicana. Numa descrição muito breve, mas de tons evidentemente épicos, o brasileiro comentava que o sentimento patriótico foi o que levou este pequeno fazendeiro do norte do país a defender o governo constitucional do presidente Francisco Madero e notava como, apesar de seu desconhecimento das táticas militares, Obregón teve uma ação admirável e se transformou num comandante de primeira ordem.[24 24 ] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.61-62. [ ] Rodrigo Otávio evocou brevemente o assassinato de Obregón, o que sucedeu logo depois de que fora reeleito, a contracorrente de um dos lemas básicos da Revolução Mexicana: sufragio efectivo y no reelección. "Foi uma pena" – lamentou o brasileiro –, "era um homem de boa vontade, voltava ao poder com experiência da administração em condições de prestar ao seu país os melhores serviços".[25 25 ] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.62. [

Os capítulos seguintes ao dedicado ao presidente Obregón giraram em torno àquela excursão que, iniciada em Querétaro, se estendeu por Guadalajara e várias cidades do estado de Michoacán. As cidades de Cuernavaca, Veracruz e Tampico foram tema dos seguintes três capítulos. Uma vez mais, a consulta aos jornais da época e à correspondência diplomática foi esclarecedora: Rodrigo Otávio permaneceu duas semanas em Tampico, não em 1923 ou 24, mas sim em 1926, durante o julgamento do caso Santa Isabel. A parte do livro de Rodrigo Otávio dedicada ao México acaba, abruptamente, com um capítulo dedicado ao estado de Yucatán, pelo qual o jurista só passou em seu trânsito a Cuba e do qual mencionava, sem haver visitado, as plantações de henequén e de agave e as ruínas maias.

Se no exercício contínuo da reminiscência Rodrigo Otávio não teve uma preocupação explícita acerca da cronologia de suas viagens e nem muito critério com a origem dos dados históricos que utilizou, tampouco foi cuidadoso com os temas sócio-econômicos. O interesse do autor em ilustrar seu texto com dados curiosos e pitorescos o levaria a comentar de maneira elogiosa e contemplativa as belezas da arquitetura colonial, a profusão de igrejas, o refinamento do artesanato e a solicitude das pessoas. Nunca tocou temas problemáticos, como a miséria da população, a situação dos indígenas ou a precariedade laboral.

Se o olhar do brasileiro sobre o presente não se caracterizou por uma análise crítica profunda, esta apareceu de maneira um pouco mais intensa quando se debruçou sobre o passado. O viajante dedicou algumas páginas aos povos pré-colombianos que habitavam o território mexicano e à velha cidade asteca de Tenochtitlán, onde os espanhóis fincaram a capital da colônia. Numa rápida sucessão de episódios, exposta nas três páginas que constituem o capítulo III de seu livro, "A conquista", Rodrigo Otávio narrou a derrota dos astecas pelas hostes de Hernán Cortés. Hostes armadas de fúria e violência, coordenadas pela enorme sagacidade e malícia de seu comandante, personagem pelo qual o brasileiro não nutria nenhuma simpatia. Falar sobre a fundação mítica de Tenochtitlán pelos astecas na zona de lagunas dizimada pelos espanhóis trouxe o autor ao presente. Rodrigo Otávio comentou acerca das peculiaridades de Xochimilco, o último reduto do exuberante sistema de lagos e canais onde se erigira a capital asteca. Em 1923, o autor pôde visitar o pequeno povoado, hoje incorporado pela metrópole, passeando por seus canais em canoas cheias de flores e frutas, canais que, por sinal, ainda se mantêm.

Rodrigo Otávio refletiu sobre o processo de ocupação colonial sem lhe destinar nenhum elogio, já que, entre os resultados "do vandalismo fanático" da gente de Cortés – "católicos intolerantes", atiçados pelo "símbolo da religião adversa" –, estiveram não apenas a destruição da cidade, como a devastação dos seus monumentos religiosos e artísticos, perdidos para sempre para as "civilizações futuras".

O fato de a catedral ter sido construída ao lado do antigo templo maior, com seus alicerces feitos das pedras e dos ídolos dali provenientes foi realçado pelo autor do livro não só como uma violência explícita e também simbólica dos colonizadores frente aos astecas submetidos, como um dano irrecuperável para as artes e a arqueologia.[26 26 ] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.31-32. [ ] Os horrores da presença espanhola também foram enfatizados com a narração das nefastas políticas de destruição levadas adiante pelos bispos católicos, desde a consolidação do mito da Virgem do Tepeyac. O bispo Juan de Zumárraga aparece no livro não só como o hábil criador da Padroeira da Nova Espanha, mas principalmente como o perpetrador

de um dos atos mais monstruosos que registra a história: o auto de fé de todos os documentos escritos e desenhados, livros e códices, nos quais, em séculos de vida e civilização, haviam artistas e sábios de diversas raças recolhido, num pitoresco simbolismo policrômico, a narração de seu feitios e o resultado de seus estudos e pesquisas intelectuais".[27 27 ] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.38. [ ]

Em México e Peru, a culminação dessa rápida retrospectiva histórica ocorre com a chegada ao presente, no capítulo IX, "México Novo". Nele, o autor verá

um mundo novíssimo e surpreendente, porque não é ele simplesmente o produto da civilização espanhola procurada implantar desde quatro séculos, pelos conquistadores, mas o da adaptação de alguns princípios dessa civilização à índole, ao temperamento, às aspirações e aos ideais indígenas e que vêm atingindo a extremos de rebeldia renovadora.[28 28 ] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.47. [ ]

Antes de prosseguir, o autor deste livro de viagem se desculparia com seus leitores, dizendo não haver lido suficientemente nem observado "em pessoa o bastante para poder fazer afirmações categóricas". Poderia deixar-lhes, porém, "menos que uma impressão, uma simples sensação" que "de todo o esforço colonizador e dominador de Espanha, escasso resultado se colheu".[29 29 ] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.48. [ ]

Se compararmos estas palavras do viajante brasileiro com as ideias de seu contemporâneo José Vasconcelos, o famoso autor do polêmico conceito de "raça cósmica", encontraremos uma interessante divergência. O mexicano acreditava no poder harmonizador da raça branca – materializada nos ibéricos – na criação desta que seria a nova raça. Segundo o mexicano, os espanhóis tiveram a dura tarefa de resgatar os indígenas. O cristianismo foi sua ferramenta para isso pois, como diria Vasconcelos, "una religión como la cristiana hizo avanzar a los indios americanos, en pocas centurias, desde el canibalismo hasta la relativa civilización".[30 30 ] VASCONCELOS, José. La raza cósmica: misión de la raza iberoamericana. 16 ed. México: Espasa-Calpe, 1992, p.12. [ ]

Já o brasileiro só pôde observar, como resultado de três séculos de dominação, uma pequena influência dos espanhóis na "formação do povo e na transformação da raça". É certo que, desse processo, resultaram a "adaptação da vida das gentes ao ritmo da vida dos povos da Europa e a adoção dos princípios da moral cristã". Também se deu "a implantação da língua castelhana, junto à "introdução, na religião dos índios, do Cristo e das principais figuras do catolicismo romano". Mas tudo isso veio acompanhado, segundo Rodrigo Otávio, pelo "desamor pela Espanha e pelos espanhóis".[31 31 ] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.48. [ ]

Não deixa de ser curiosa a referência que Rodrigo Otávio faz à já mencionada estátua de Cuauhtémoc, que o próprio Vasconcelos levou ao Rio de Janeiro. Esta escolha, nas palavras do autor, foi uma "afirmação significativa da verdade do meu conceito".[32 32 ] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.49. [ ] Ora, os mexicanos não quiseram presentear os brasileiros com uma representação de Cortés nem de Zumárraga, mas sim do herói que tratou de resistir à conquista espanhola e foi torturado e morto por Cortés. Cortés que, como notaria o brasileiro, não teve nenhum monumento erigido no país que conquistou e onde viveu durante trinta anos e de quem nem se sabe onde repousam as cinzas.[33 33 ] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.49-50. [ ] Cortés que, em 1941, foi celebrado por um Vasconcelos então explicitamente conservador e acusado de nazista, num livro significativamente intitulado Hernán Cortés: creador de la nacionalidad.

Rodrigo Otávio quis se preservar de eventuais críticas, ao afirmar que pouco leu sobre o que viu e que, justamente por isso, não poderia oferecer aos seus leitores nada mais que impressões. A pergunta necessária – e muito mais que retórica, aqui – é acerca das impressões que teve do contexto político, social e econômico concreto do país que visitou, dado que o fez sempre a partir de uma perspectiva "oficial", convidado e "mimado" pelos representantes do governo mexicano. Mais político, talvez, que escritor, o jurista brasileiro foi muito cuidadoso com a expressão de suas "impressões". Isso se vê claramente quando elogiou o dinamismo e a beleza da urbe moderna. Ainda assim, deixaria escapar sua tristeza com os efeitos da Revolução. Novamente a escolha do verbo é importante:

Sente-se que a revolução, que mudou radicalmente o regime governamental e que por dez anos trouxe perturbações à vida nacional, lançando o país na turbulência da guerra civil, cortou o surto de progresso edilício e social que o longo período do governo de Porfirio Díaz estimulara.[34 34 ] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.58. Grifos meus. [ ]

Mas o viajante atenuou o seu juízo, dizendo que quando esteve no México "a fase aguda desse período de agitação sanguinária havia passado e homens de boa vontade e energia se esforçavam para pôr ordem na casa".[35 35 ] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.58-59. [ ] Rodrigo Otávio não fez nenhuma análise da Revolução Mexicana, seus motivos, seus antecedentes. Não teceu nenhum comentário sobre seus principais personagens. Associou, isso sim, um antes e um depois ao evento. Um antes, ligado ao progresso porfirista, que se perdeu, e um depois, vinculado ao caos que somente "homens de boa vontade" poderiam solucionar. Ao recordar sua viagem a Cuernavaca, Rodrigo Otávio deixaria de lado sua diplomacia para descrever as casas queimadas e os povoados destruídos às margens da estrada, aos que definiu como fruto das "famosas proezas revolucionárias, notadamente, do sanguinário Zapata".[36 36 ] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.81. [ ] Ao falar sobre Obregón, selecionou um trecho de suas memórias, em que o futuro general foi feito prisioneiro e quase acabou fuzilado por Pancho Villa, quem, em palavras de Obregón, citadas por Rodrigo Otávio, não passava de um "bandolero de quien los pusilánimes y la prensa asalariada, habían hecho un héroe de legenda [sic]".[37 37 ] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.62, p.64. [ ]

Em seu livro, o espaço para os "heróis populares" tradicionalmente associados à Revolução Mexicana não existe. Tampouco para as camadas populares, que aparecem eventualmente e apenas como parte do cenário elogiado pelo viajante em seus aspectos pitorescos. O México pós-revolucionário que visitou o fez acreditar na possibilidade de uma retomada do caminho ao progresso, interrompido pela Revolução. Rodrigo Otávio – como, por sinal, a maior parte dos políticos brasileiros de seu tempo, sem falar do corpo diplomático – não cultivava nenhuma simpatia pelas soluções radicais. Sua postura liberal justificou a manutenção de uma posição de simpatia com relação ao México e, talvez por isso, não tenha sido gratuita a crítica que recebeu dos estadunidenses por sua conduta, segundo eles, parcial nas comissões de arbitragem de que participou. O autor chegou a afirmar em seu livro de viagem que: "depois de outras e mais demoradas visitas, posso dizer que, sob muitos aspectos, México é o país mais interessante dos muitos que tenho visitado".[38 38 ] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.63. [ ] No entanto, a simpatia e o conhecimento do país não parecem ter sido suficientes para que o autor escrevesse um livro que ultrapassasse os moldes, por assim dizer, tradicionais do gênero da literatura de viagem.

Muito próximo aos altos funcionários, não pôde – ou não quis – ultrapassar as barreiras das visitas oficiais. Se alguma vez procurou mergulhar na atmosfera local, em busca de alguma intimidade com o país e a cotidianidade de seus habitantes, isso não aparece em seu livro. Não há nele nenhuma indicação de que o autor quisesse ultrapassar os clichês sobre o México (o bonito artesanato, os trajes coloridos e chamativos dos indígenas, as impressionantes ruínas pré-hispânicas, "o famigerado Pancho Villa", o "sanguinário Zapata", a conquista implacável etc.). Não parece que o jurista tenha caminhado pelas ruas como um verdadeiro viajante, buscando mais do que a nota exótica, mais do que o que lhe mostraram os "homens de boa vontade", expressão com a qual Rodrigo Otávio definiu os "jovens homens de Estado", e os "pintores escultores e decoradores, jovens também".[39 39 ] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.47. [ ]

O "México novíssimo" que Rodrigo Otávio conheceu, imediatamente depois da voragem da Revolução, não lhe despertou nenhum tipo de dúvida, nenhuma questão de debate que quisesse compartilhar com seus leitores. Conhecer a ação política de Rodrigo Otávio, sua atuação como árbitro e buscar os elementos – além dos meramente jurídicos – que o levaram a ditar suas sentenças sempre a favor do país é uma tarefa pendente. Talvez possa ajudar a construir um retrato mais completo deste personagem que teve uma incontestável importância para o México durante a década de 1920.

As cartas do professor: perguntas, pedidos e comentários reservados

Em 1953, trinta anos depois da primeira visita de Rodrigo Otávio ao México, Cyro dos Anjos comentava numa carta enviada ao seu amigo Carlos Drummond de Andrade que já se encontrava nas frias altitudes mexicanas, aos pés do vulcão Popocatepetl, então coberto de neve. Suas primeiras e sucintas impressões, compartilhadas com o amigo, eram de que "a Cidade do México é bela, e proclama-se mais populosa do que o Rio". Quanto ao povo, o escritor de Montes Claros afirmava: "é simpático, embora um pouco reservado. Reserva que lembra a mineira e que exprime desconfiança".[40 40 ] Cyro dos Anjos a Carlos Drummond de Andrade. México, 7 de janeiro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond: correspondência de Cyro dos Anjos & Carlos Drummond de Andrade. São Paulo: Globo, 2012, p.128-129. [ ] Cyro viveria na Cidade do México, com sua esposa e cinco filhos, até abril de 1954. Havia sido convidado a trabalhar como professor de Estudos Brasileiros na Universidade Nacional do México, sem prejuízo de seus vencimentos como funcionário do IPASE (Instituto de Pensões e Aposentadoria dos Servidores do Estado). Além de se ocupar com as aulas na universidade, Cyro dos Anjos percorreu muitas cidades do país, dando palestras sobre o Brasil, num trabalho de difusão financiado pela embaixada brasileira.

Os dados sobre a permanência do escritor no México foram encontrados basicamente na correspondência que ele manteve com o Ministério das Relações Exteriores, na correspondência oficial enviada pela própria embaixada ao ministério, em algumas notícias da imprensa e, finalmente, nas cartas que intercambiou com Carlos Drummond de Andrade, durante o período.[41 41 ] Algumas das cartas de Cyro dos Anjos ao Itamaraty estão depositadas na pasta "Divisão cultural do Itamaraty, 1952-1955", do arquivo Cyro dos Anjos da Fundação Casa de Rui Barbosa. Outras cartas do escritor e a correspondência enviada pelo embaixador e pelo encarregado de negócios estão depositadas nas pastas correspondentes aos anos de 1953 e 1954, do Arquivo Histórico do Palácio do Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores do Brasil (AHI). Existe uma pasta com algumas cartas trocadas entre Cyro dos Anjos e Alfonso Reyes, durante a permanência do brasileiro no México, nos arquivos da Capilla Alfonsina, Biblioteca de Alfonso Reyes. [ ]

Cyro, que como seu conterrâneo Drummond teve uma longa trajetória como funcionário público, parece ter embarcado na aventura mexicana, tomando-a como a única porta possível para uma estadia no exterior.[42 42 ] Na verdade, as razões da contratação de Cyro dos Anjos não ficam claras, mas parecem associar-se a algum pedido do próprio escritor. A Drummond, escreveria: "De qualquer modo, tirando as saudades dos amigos e da terra, não tenho agora outros motivos para lamentar a viagem. Eu estava bastante cansado e com os nervos enfrangalhados pela guerra fria que sofri aí, desde o início do novo governo. Foi uma experiência dura para um camarada mal defendido, intimamente, contra os assaltos da angústia". Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 23 de abril de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.145. O exercício de funções culturais no âmbito diplomático o levou também a Lisboa, onde permaneceu, com toda a família, até finais de 1955. [ ] O escritor não deixou um registro literário sobre a sua permanência no país nem se conhece algum diário seu sobre o período. Tampouco deixou um relato de viagem, apesar de haver viajado muito e percorrido várias cidades mexicanas. Suas cartas – oficiais e pessoais – acabaram por se converter no único registro que Cyro dos Anjos produziu das experiências que teve como professor e agente cultural, das dificuldades materiais que sofreu para realizar o seu trabalho e, principalmente, de suas impressões sobre o México e os mexicanos.

O escritor, na sinceridade própria das cartas pessoais, dizia a seu amigo e compadre Carlos Drummond de Andrade:

Nem as preocupações do curso, nem as fadigas para a procura de casa, nem as dificuldades do primeiros contatos no país me livram de grandes crises de melancolia. Acho absurdo que tenha vindo parar nestas remotas plagas, e minha vida me parece ainda mais inútil do que aí. Enfim, trabalho por sentimento do dever. Alguns passeios, uma visita às Pirâmides, um giro aos museus saciam a nossa curiosidade. E o resto é tédio como em toda a parte.[43 43 ] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 7 de janeiro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.129-130. Grifos meus. [ ]

De caráter saturnino, com uma profunda noção de sua responsabilidade profissional, como fica claro na citação acima, o mineiro só se deixaria empolgar realmente pelo país depois que saiu rumo ao interior, em sua tournée de conferências sobre o Brasil. Veremos aqui duas das poucas manifestações de euforia encontradas na correspondência do autor, ainda que nelas nem tudo fossem elogios:

O interior do México é fabuloso. Se eu tivesse imaginado isso há mais tempo não teria ficado essa temporada toda na capital – cidade chata e cosmopolita. Vi ontem uns famosos Orozcos. Estou horrorizado: é o grande pintor do Ódio. Grande, porém abominável.[44 44 ] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. Guadalajara, 18 de outubro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.179-180. [ ]

Esta é Guanajuato, velha cidade onde o tempo estacionou de verdade. Uma espécie de Toledo mantida no interior do México. Passei por Morelia, Guadalajara e agora estou aqui. O interior do México me reconciliou com o país. Vi coisas fabulosas em Guadalajara.[45 45 ] Cartão-postal de Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. Guanajuato, 20 de outubro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.180. [ ]

Ao contrário de Rodrigo Otávio que, entre tantas atribuições, deu-se o tempo de tomar notas para, primeiramente escrever uma conferência e, anos depois, publicar seu livro, Cyro dos Anjos não parece ter-se animado a empreender uma aventura similar. Como se pode perceber em sua correspondência a Drummond, Cyro dos Anjos, mais do que contar sobre sua rotina no México, pedia ao amigo notícias da vida política e cultural do Brasil. Não podemos esquecer que 1953 e 54 foram anos muito instáveis na política nacional, como Drummond descreveria, sem ocultar uma certa ironia pessimista, em suas cartas a Cyro.

A trajetória de Cyro e Drummond como funcionários públicos está associada à importante rede intelectual a que pertenceram, nucleada em Belo Horizonte nas décadas de 1920 e 1930 (composta entre outros por Gustavo Capanema, Gabriel Passos, João Alphonsus, Milton Campos, Pedro Nava e Abgar Renault). A vinculação de ambos tanto ao jornalismo como à esfera pública lhes abria um horizonte mais amplo de participação política. De qualquer forma, sua mobilidade dependia de arranjos estratégicos em esferas mais altas que a que ambos ocupavam. Isso ajuda a explicar o interesse de Cyro em ter um panorama mais claro do que sucedia no Brasil e o esforço de Drummond em propiciá-lo ao amigo. As observações que trocavam sobre a política brasileira se complementavam com seus comentários sobre literatura, normalmente associados ao campo literário nacional, com eventuais referências sobre autores mexicanos. Em lugar de se dedicar a escrever especificamente sobre o México, Cyro dos Anjos, ciente do caráter circunstancial de sua estada no exterior, buscou dedicar os momentos que tinha disponíveis ao seu terceiro romance, Montanha, publicado em 1956.[46 46 ] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 23 de fevereiro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.154. [ ]

Isso não quer dizer que o México não fosse tema das cartas de Cyro a Drummond, que inclusive chegou a pedir que Cyro lhe mandasse notícias mexicanas com mais frequência.[47 47 ] Drummond de Andrade a Cyro dos Anjos. Rio de Janeiro, 9 de março de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.158. [ ] Ao lembrar um fato pitoresco ou um evento político, o escritor aproveitava para tecer algumas considerações sobre aspectos culturais do México e dos mexicanos. Foi o que sucedeu, por exemplo, quando contou ao amigo sobre a polêmica que Diego Rivera gerou no país, ao pintar, no mural para um teatro, a efígie da Virgem de Guadalupe na capa de gabardine de Cantinflas.[48 48 ] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 23 de fevereiro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.155-157. [ ] O episódio suscitou uma enorme discussão em que jornais, partidos políticos (inclusive o Comunista), e até o próprio Cantinflas protestaram e o pintor acabou tendo que recuar. Cyro dos Anjos, recém chegado ao México, pôde observar, com este episódio, a enorme importância da religião no país e percebeu um dado importante: o governo, que historicamente sempre atacara o clero, roubou da Igreja a figura da Virgem, fazendo-a, habilmente, propriedade da nação.

Cyro dos Anjos não foi um escritor prolífico.[49 49 ] Além do seu romance mais famoso, O amanuense Belmiro, de 1937, Cyro dos Anjos publicou os romances Abdias (1945) e Montanha (1956), um livro de poemas, Poemas coronários (1964) e dois livros de memórias, Explorações no tempo (1963) e A menina do sobrado (1979). Também publicou um ensaio, A criação literária, que apareceu inicialmente no México, em espanhol, como parte do segundo volume de Cuadernos brasileños, que Cyro dos Anjos publicou com o apoio da embaixada do Brasil. Cyro dos Anjos enviou os dois exemplares a Alfonso Reyes e este lhe respondeu com uma elogiosa crítica ao seu ensaio. Alfonso Reyes a Cyro dos Anjos. México, 9 de fevereiro de 1954. Capilla Alfonsina, Biblioteca Alfonso Reyes. [ ] Ocupou vários cargos na administração pública e teve, como muitos jovens intelectualizados de sua geração, a ideia do serviço público como missão. Como intelectual, assumiu esta responsabilidade pública com abnegação de amanuense. No México, teve que lutar desde o início, através de cartas e ofícios enviados aos seus superiores no Ministério das Relações Exteriores, para poder realizar melhor o seu trabalho de docência e difusão cultural.

Aos poucos, Cyro dos Anjos foi abrindo espaço para o cumprimento de suas atividades de professor, à frente da Cátedra de Estudos Brasileiros, criada na Universidade Nacional. A ideia de uma cátedra fixa na universidade se associava provalmente a uma política do último governo Vargas de maior aproximação com os países latino-americanos, política que, no caso mexicano, também incluía a publicação, financiada pela embaixada, de livros de literatura, história e cultura brasileiras pela prestigiosa editora Fondo de Cultura Económica.

Na verdade, a ideia de manter uma cátedra já havia surgido em várias ocasiões, e não só entre os brasileiros. Em 31 de dezembro de 1928, Pascual Ortiz Rubio – ex-embaixador do México no Brasil, promovido pelo presidente Calles a ministro do Interior, candidato e futuro presidente do país – comentava, numa entrevista,[50 50 ] "Nuestro país bien querido en Brasil". Entrevista con Pascual Ortiz Rubio. Excélsior, 31/12/1928, p.1, p.4. [ ] que era fundamental estreitar relações com "esa gran Nación Sudamericana", pujante como haviam sido os Estados Unidos na primeira metade do século anterior. Como, segundo o jornal, o general Ortiz Rubio havia observado que o conhecimento do espanhol era muito difundido no Brasil, pensou em propor à Secretaria de Relações Exteriores a criação de uma cátedra de português brasileiro (em suas palavras, "más armonioso y más rico" que o lusitano), a fim de propiciar o maior conhecimento da literatura e da produção científica brasileira entre os mexicanos. Ortiz Rubio afirmava que havia tido a satisfação de ser atendido e que no ano seguinte se inauguraria a cátedra na capital do país, em um ato ao que ele planejava dar especial importância organizando uma cerimônia. As prioridades do novo presidente devem ter sido outras, já que não foi possível encontrar nenhuma referência à fundação da cátedra nos anos imediatamente posteriores.

Depois de mais de uma década, em 1942, novamente sob Getúlio Vargas, ainda durante o Estado Novo, fundou-se na Universidade Nacional a Cátedra de Literatura Brasileira, ocupada por Renato Mendonça, que já era um reconhecido historiador e cumpria as funções de segundo secretário da embaixada do Brasil no México. Mendonça teve muito prestígio no mundo acadêmico mexicano. Publicou alguns livros no país e, além das aulas na universidade, proferiu várias palestras sobre o Brasil em geral e também sobre temas de sua história diplomática.[51 51 ] ALMEIDA, Paulo Roberto de. "Renato Mendonça: um intelectual na diplomacia". Trabalho preparado para o seminário: Renato de Mendonça: Diplomacia, Ciência e Letras. Casa do Patrimônio do IPHAN, Maceió, AL, 3-4/10/2012. Disponível em: < http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/2424RenatoMendIntelecDiplom23.pdf>. Acesso em: 4 fev. 2014. [ ] Aparentemente, a cátedra de Literatura Brasileira desapareceu quando Mendonça foi removido ao Brasil, interrompendo-se o trabalho realizado por ele.

Em março de 1953, como Cyro dos Anjos relatou detalhadamente ao ministro Jaime Chermont, chefe da Divisão Cultural do Itamaraty, a inauguração do curso de Estudos Brasileiros na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) foi um sucesso. Contou com a presença de Alfonso Reyes e José Vasconcelos, os dois mais notáveis intelectuais mexicanos simpáticos ao Brasil, já idosos, com dificuldades de locomoção, o que dava à sua presença uma importância ainda maior. Também estiveram presentes vários políticos, diplomatas, estudantes e professores.[52 52 ] Cyro dos Anjos ao ministro Jaime Chermont. Anexo. Embaixada do Brasil ao Itamaraty, Mês cultural. Fevereiro de 1953. AHI, pasta 32/4/11. Chermont era próximo de Drummond, como se nota nas cartas trocadas entre este e Cyro dos Anjos. [ ]

Não se pode dizer que a rotina de Cyro dos Anjos no México tenha sido fácil. O exame da correspondência que enviou ao Itamaraty comprova as dificuldades que o escritor padeceu para conseguir levar a cabo o seu projeto. Faltavam livros, faltavam dicionários, faltavam gramáticas e sobravam pedidos formais do professor para que o governo brasileiro solucionasse tais dificuldades.

Uma rápida consulta à correspondência diplomática dos quatro primeiros meses de 1953 nos mostra a insistência do professor em seus pedidos, que iam de gramáticas a discos de música popular e erudita.[53 53 ] Cyro dos Anjos a Chermont. Anexo único ao ofício 67, 22 de março de 1953. AHI, pasta 32/4/11. Além de gramáticas e de antologias de poesia brasileira, o professor também pedia o envio de alguns discos – Villa Lobos, Lorenzo Fernandez, Mignone –, além de composições populares, folclóricas e carnavalescas. [ ] A cátedra foi inaugurada com 22 alunos, entre os quais duas americanas, três espanhóis e um italiano.[54 54 ] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 23 de março de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.143. [ ] Cyro dos Anjos percebeu, desde o início, as dificuldades de oferecer um curso com bibliografia em português no México, onde a inexistência de familiaridade com este idioma era notória. Agregue-se a isso que não havia bibliografia suficiente sobre o Brasil no país, nem sequer em espanhol. O plano de oferecer um curso de um ano, com um chamariz importante: o melhor aluno receberia o prêmio de uma viagem ao Brasil, implicava muito mais que manter os estudantes recebendo palestras semanais sobre temas brasileiros. Por isso, o pedido ao Itamaraty de um curso de português, dado por um professor que trabalhasse paralelamente com Cyro do Anjos, acabou finalmente sendo atendido.

A seriedade e o compromisso de Cyro dos Anjos na realização de seu trabalho durante o ano em que esteve à frente da cátedra se notam nas cartas elogiosas enviadas pela embaixada ao Itamaraty. No dia primeiro de junho de 1954, o primeiro secretário Jorge d'Escragnolle Taunay escreveu um longo comentário sobre o trabalho do escritor. Reconhecia que Cyro dos Anjos havia aberto caminho nos círculos intelectuais mexicanos para a cultura brasileira, multiplicando o seu alcance de várias maneiras. O programa do curso e o seu desempenho mostravam seu alto nível intelectual. A dedicação do escritor à difusão do Brasil no México se refletia na direção dos Cuadernos Brasileños, cuja aceitação pelo público havia sido, nas palavras do diplomata, "inquestionável e inigualável", e no apoio que ofereceu desinteressadamente à tradução dos livros brasileiros editados pelo Fondo de Cultura Económica, assim como a trabalhos culturais da missão diplomática.[55 55 ] Partida do Professor Cyro dos Anjos. 1º de junho de 1954. Maio a agosto de 1954. AHI, Pasta 32/5/2. Quanto aos Cuadernos Brasileños, toda sua produção editorial foi feita por Cyro dos Anjos. O primeiro volume reuniu os melhores trabalhos apresentados pelos alunos do curso. O segundo reuniu, além do ensaio de sua autoria ( vide nota 49), um artigo sobre a história da educação no Brasil, de autoria de Yara Vargas (que trabalhava junto a Cyro como professora de português), uma conferência sobre a imprensa brasileira, de José Carlos de Souza Palhares, então segundo secretário da embaixada e, finalmente, o importante ensaio "Uma interpretação da literatura brasileira", de Vianna Moog, publicado pela primeira vez, no Brasil, em 1942. [ ]

Mas, apesar dos elogios, o primeiro secretário reclamava veladamente da abrupta saída de Cyro dos Anjos no meio do semestre e da demora para a chegada de seu substituto, o filólogo Aurélio Buarque, que já havia sido designado. Em tais circunstâncias, comentava que ele mesmo tivera que ministrar o curso, contando com o apoio de algumas palestras do escritor Vianna Moog. Ainda não havia sido possível realizar os exames semestrais e isso representava, segundo ele, uma série de malefícios ao curso, que apenas tinha um ano de existência.

A transferência de Cyro dos Anjos a Lisboa resultou de uma série de manobras políticas e pedidos do próprio escritor, em que interveio inclusive seu amigo Drummond de Andrade.[56 56 ] As cartas de 1º de dezembro a 27 de março deixam isso claro. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.186-200. [ ] Mas os pedidos de transferência de Cyro dos Anjos já haviam sido vários e anteriores a este caso. Em setembro de 1953, numa carta de caráter reservado ao ministro Chermont, o escritor mencionava seu interesse em dar o curso no Canadá, em francês, na Universidade de Montreal, e também se oferecia a dá-lo no Chile e no Peru.[57 57 ] Cyro dos Anjos a Chermont. Carta reservada. México, 29 de setembro de 1953. Pasta "Divisão Cultural do Itamaraty, 1952-1955", arquivo Cyro dos Anjos, Fundação Casa de Rui Barbosa. [ ] O ministro lhe responderia rapidamente, também em caráter reservado, que as cátedras de estudos brasileiros em Lima e em Ottawa já haviam sido ocupadas, respectivamente pelos escritores Josué Montelo e Pedro Xisto de Carvalho.[58 58 ] Chermont a Cyro dos Anjos. Carta reservada. 9 de outubro de 1953. Pasta "Divisão Cultural do Itamaraty, 1952-1955", arquivo Cyro dos Anjos, Fundação Casa de Rui Barbosa. [ ]

A seu amigo Drummond, Cyro nunca declarou explicitamente que o seu desejo de partir se devesse a alguma insatisfação com o México. Chegou a reclamar da altitude e dos danos que esta ocasionava à sua saúde, mas não evocou nenhum aspecto específico da sociedade mexicana que o desagradasse. Em dezembro de 1953, escreveria ao amigo:

Em mês e meio corri o México por todos os quadrantes, de automóvel, de avião, de trem de ferro (...). Não creio que haja, no mundo, lugares fantásticos como os que eu vi, onde coisas incríveis sucedem (...). Como vê estou gostando do México, e aguentaria um ano mais aqui, apesar das saudades da terra e dos amigos. Mas, já que, pelo meu contrato, tenho que passar dois anos fora do Brasil, e conhecendo agora todo o México, preferia aproveitar a oportunidade de ir para a Europa, com a saída do Álvaro [Lins], de Lisboa.[59 59 ] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 1º. de dezembro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.186. Grifos meus. [ ]

Não obstante a escolha significativa do verbo "aguentar", a justificativa de Cyro para insistir em que o amigo o ajudasse na obtenção da transferência a Lisboa parece ter sido mais pragmática, associada ao desejo de todo brasileiro com formação intelectual de conhecer e viver no velho continente. Entretanto, se Cyro dos Anjos não preocupou o amigo com reclamações sobre o país, ocupou algumas vezes sua atenção com o peso de suas amarguras cotidianas associadas ao trabalho. Foi assim quando lhe comentou, mais de um mês depois de iniciado o curso, que teve que improvisar cópias do poema "Edifício Esplendor", de Drummond, e de "Mosca azul", de Machado de Assis, para trabalhar com os alunos, já que não havia recebido nenhuma das encomendas de livros feitas ao Ministério.[60 60 ] E só pôde fazê-lo porque tinha à mão o livro Apresentação da poesia brasileira, de Manuel Bandeira, publicado em português e espanhol, em 1946, pelo Fondo de Cultura Económica. Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 23 de abril de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.145-146. [ ]

Drummond procurou ajudá-lo, enviando-lhe, via Itamaraty, 25 exemplares de Explorações do Tempo, do próprio Cyro, e intercedendo junto ao diretor da Divisão Cultural, por intermédio de um amigo, para que apressassem a remessa das antologias de poesia que lhe haviam prometido. Indignado, Drummond não pôde conter sua raiva, chegando a perder a sua tradicional compostura: "Que gente mole, e como se solta assim no estrangeiro um cristão encarregado de missão cultural, sem lhe fornecer os meios elementares de trabalho! (...) Estes calhordas do Itamaraty deviam ser carimbados com um pontapé no lugar que eles mais usam, e V. sabe qual é".[61 61 ] Drummond de Andrade a Cyro dos Anjos. México, 23 de abril de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.149. [ ]

Cyro dos Anjos havia conseguido estabelecer uma ponte direta e frequente com o ministro Jaime Chermont. Em várias oportunidades lhe escreveu especificamente para comentar sobre os resultados de seu trabalho, sempre insistindo na necessidade de mais material histórico, literário e inclusive audiovisual para aprimorar sua missão no país. O êxito de suas conferências em universidades e teatros do interior do México, com o tema "O Brasil e sua cultura", foi inegável. Cyro enviava junto com suas cartas vários recortes com pequenas notas da imprensa local comentando e elogiando as conferências. Um deles, do jornal Sol de San Luis, de 16 de novembro de 1953, foi particularmente eloquente, pois, ao comentar sobre a palestra que o escritor oferecera na Universidade Potosina, afirmava que se tratava de um trabalho que o Brasil estava levando a cabo, para estreitar os laços culturais entre os países latino-americanos. Ora, se a intenção do governo brasileiro era realmente esta, a missão de Cyro estava cumprida.[62 62 ] Cyro dos Anjos a Chermont. México, 28 de novembro de 1953. Pasta "Divisão Cultural do Itamaraty, 1952-1955", arquivo Cyro dos Anjos, Fundação Casa de Rui Barbosa. [ ]

O escritor aproveitava suas viagens também para distribuir os livros de literatura e cultura brasileiras editados pelo Fondo, num trabalho extenuante de difusão cultural, em que, novamente, a determinação do intelectual em cumprir sua função social constituía, é preciso repetir, uma verdadeira abnegação de amanuense. Além disso, também levava em sua bagagem filmes e pequenos documentários sobre o Brasil que havia conseguido emprestados, ironicamente, na embaixada dos Estados Unidos. Cyro dos Anjos insistiu várias vezes, em suas cartas a Chermont, para que o governo brasileiro os comprasse.

O público médio das conferências, de 100 a 300 pessoas, indicava o interesse e o carinho dos mexicanos do interior com relação aos temas do Brasil e surpreendia, em comparação com os 20 alunos da cátedra que Cyro dos Anjos ministrava na UNAM Nesta carta de cunho oficial e em certo sentido protocolar, o escritor reputava o escasso público do curso na capital, "não à falta de curiosidade pelas coisas do Brasil, e sim à circunstância de, nas cidades grandes, a agitação, a dificuldade da vida e a multiplicidade de problemas obrigarem os jovens a limitar os seus estudos ao mínimo essencial à respectiva carreira".[63 63 ] Cyro dos Anjos a Chermont. México, 31 de outubro de 1953. Pasta "Divisão Cultural do Itamaraty, 1952-1955", arquivo Cyro dos Anjos, Fundação Casa de Rui Barbosa. [ ]

Só podemos especular acerca do porquê das tentativas de Cyro dos Anjos de conseguir uma transferência do México antes dos dois anos pelos quais havia sido contratado. O desejo de ir à Europa, a sensação de já ter conhecido o país, o desconforto da altitude, as dificuldades que havia sofrido, dentro do próprio Itamaraty, para realizar seu trabalho poderiam ser justificativas suficientes. No entanto, me parece importante analisar especificamente o conteúdo da carta reservada que enviou a Chermont, no dia 1º de dezembro de 1953, comentando sobre a cátedra finalmente de maneira franca. Nela, Cyro dos Anjos foi sincero e direto, deixando de lado a formalidade que tradicionalmente acompanhava a sua correspondência a Chermont. Depois de elogiar o nível de alguns dos alunos, Cyro observava que só haviam se inscrito 22 e acabariam o curso 15. E essa situação se dava apesar dos dois meses de propaganda do curso que ele mesmo fizera e da oferta da viagem ao Brasil. Comentava que em Berkeley os cursos tinham 50 alunos sem qualquer atrativo de bolsa e os alunos eram muito mais exigidos, com aulas de português e literatura adicionais. Depois de seis meses, eram capazes de ler os autores em português. Vale a pena transcrever as razões que Cyro via para isso:

a) o escasso interesse que há, no México, em relação às coisas do exterior. A educação da juventude, nas últimas três décadas (desde a Revolução), vem obedecendo às inspirações de um nacionalismo estreito, que superestima as coisas locais, inculcando nos jovens a ideia de que tudo, aqui, é maior e melhor do que no resto da América Latina. O mito da mexicanidad atua em certas camadas sociais de modo impressionante, havendo grande aceitação no país, para tudo quanto afague a vaidade, a megalomania e o narcisismo de sua élite. Esse estado de espírito não é propício a que se desperte curiosidade acerca de outras terras;

b) a apatia de outras camadas do povo, onde a percentagem de sangue indígena é considerável. Calcula-se que haja 70% de índios puros na população do México. Onde não há chauvinismo e xenofobia (esta última, em relação aos norte-americanos, é por certo justificada, pois estes estão absorvendo o país), observa-se a indiferença e abulia do nativo;

c) por fim, a frouxidão do ensino, consequente da influência perniciosa da política. O partido oficial, – que é, praticamente, o partido único – especula com as associações estudantis, do mesmo modo que o faz com os sindicatos de operários e com os órgãos de outras classes. E, para ter o apoio dos estudantes, o governo atende a todas as exigências da classe, ainda as mais descabidas. As "vacaciones" são sempre acrescidas de períodos suplementares ao sabor dos caprichos dos alunos, durante o período de aulas, é comum se fazerem "puentes" de 3, 4 dias. Tudo isso, a nosso ver atua de modo desmoralizador no espírito da mocidade, esmorecendo-lhe o ânimo para esforços mais vivos.

A reprodução dessa longa citação tem uma justificativa. Cyro dos Anjos, funcionário exemplar, preocupado em desempenhar com rigor a missão cultural que dele se esperava, concentrou-se nas tarefas que recebeu e inclusive assumiu algumas mais. Seu propósito foi ampliar a presença cultural do Brasil no México e, ao encontrar algumas condições favoráveis (alguns bons alunos no curso, o interesse genuíno das plateias do interior pelo Brasil), foi levado a pensar que sua missão poderia ter alguma eficácia. O programa do curso, de caráter bastante panorâmico, não oferecia nenhuma dificuldade a estudantes universitários. Bastante eclético, iniciava com dois blocos temáticos de velha tradição tainiana: "A terra" e "O homem", seguidos de um terceiro, sobre os ciclos econômicos, para se completar com dois blocos mais, respectivamente sobre a formação política e a formação cultural do Brasil. No entanto, a busca de razões para explicar por que um curso sobre o Brasil não conseguira conquistar mais do que os elogios retóricos dos jornais e dos discursos oficiais e a presença de tão poucos alunos parece havê-lo levado a abandonar a discrição e diplomacia de sempre para refletir de maneira incisiva sobre aspectos da sociedade mexicana que não lhe agradavam.

A primeira e a terceira razões para o imobilismo e o desinteresse que Cyro dos Anjos detectou especificamente entre seus alunos, mas que pôde generalizar para o conjunto dos universitários, complementam-se e se associam ao México urbano resultante da Revolução. A segunda razão, que se separa das anteriores, é presa das concepções racialistas e deterministas ainda muito vigentes no período. A associação da apatia das camadas populares ao seu grande percentual de sangue indígena de certa maneira explicaria a sua marginalização do conjunto da sociedade. Para Cyro dos Anjos a indiferença e a abulia caracterizavam os "nativos". Com esta definição genérica, o autor induzia o seu interlocutor a associar os tais "nativos" ao México arcaico, impassível e insensível às transformações inerentes à vida moderna. Curiosa, porém, é a observação de Cyro dos Anjos acerca da altíssima proporção de índios puros na população mexicana: 70% atavicamente separados dos 30% aos que ele, por outro lado, não perdoava a xenofobia, o chauvinismo, a preguiça e a falta de curiosidade, reunidas e camufladas todas elas em um "nacionalismo estreito".

O quadro que apresenta da situação educativa é grave. A política de cooptação, estabelecida pelo Estado mexicano a partir da ação do partido oficial, só poderia ser nociva à formação técnica e intelectual dos estudantes. A sedução feita pelo Estado a este setor, com a concessão de "prebendas" tão questionáveis como o excesso de férias, em lugar de construir massa crítica, fortalecia os propósitos de manutenção de uma vasta massa de manobra. Se esta massa fosse formada e contida em um modelo de autocelebração, com o desprezo por qualquer comparação com o exterior que demeritasse o país, o exercício permanente da apologia do nacional e o consequente fechamento da juventude ao exterior manter-se-iam por anos.

Algumas das cartas pessoais de Cyro dos Anjos, além da que escreveu ao ministro, comprovam que tinha muitas restrições ao país e à sociedade mexicana. Em uma delas, enviada a Drummond, dizia: "No México, nada [há] de novo, desde a reforma agrária de 1917, que foi a maior tapeação da história universal". E continuava: "estou guardando minhas impressões para quando regressar, porque a via epistolar não oferece muita segurança". Curiosamente indicava uma alternativa para explicar ao amigo o que pensava sobre o tema: se realmente queria conhecer algo sobre o México, que procurasse um artigo da revista Esprit em que o autor, Jacques Séverin, apesar de um "pouco de incompreensão europeia no que concerne às coisas americanas", fazia uma análise certeira do país.[64 64 ] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 1º de dezembro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.144-145. [ ] Nota-se, nessa sugestão, um convite ao diálogo crítico, com a manifestação sincera, ainda que indireta, de suas opiniões sobre o México, já que o artigo de Séverin era uma crítica meticulosa e dura aos verdadeiros alcances da Revolução Mexicana e à natureza real da sua democracia. Percebe-se, nas opiniões que Cyro dos Anjos emitiu ao ministro Chermont, ecos evidentes da leitura deste artigo.[65 65 ] Séverin recordava, entre outros temas, que o presidente sempre provinha do partido oficial e que, depois de eleito, designava os governadores. Observava a inexistência de uma verdadeira oposição e a ausência total de independência da imprensa, já que era subvencionada pelo Estado, inclusive os poucos veículos de corte esquerdista. Os sindicatos não possuíam qualquer autonomia, eram incapazes de proteger seus afiliados e suas lideranças eram cooptadas. A estrutura econômica e social do país lhe parecia completamente injusta e baseada na desigualdade. A população, presa da religião. Séverin considerava o sistema educativo incompetente e a produção cultural débil. SÉVERIN, Jacques. Démocratie mexicaine. Revue Esprit, 1952. Disponível em: < http://chezrevel.net/democratie-mexicaine/>. Acesso em:12 fev. 2014. [ ]

Em outra carta, também dirigida a Drummond, Cyro apresenta um diagnóstico seco e pouco lisongeiro do panorama cultural mexicano, em que a comparação desfavorável com o Brasil não se faria esperar: "a produção literária aqui é muito fraca, e a pouca prosa que se publica restringe-se a assuntos astecas ou a temas nacionalistas. São impressionantes as múltiplas manifestações de narcisismo que se notam, aqui, em todos os setores. Vejo que o nosso Brasil, com todos os seus defeitos, leva vantagem: é um país voltado para o mundo".[66 66 ] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 1º de junho de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.152. [ ]

Finalmente, na terceira, uma carta manuscrita sem data a Rodrigo (provavelmente Rodrigo Melo Franco, ligado ao já mencionado grupo dos mineiros, então diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Cyro dos Anjos insistia para que ele falasse com o ministro Chermont para que o enviasse ao Canadá. E concluía: "Além do mais – cá entre nós – o México enche. Oportunamente falarei a respeito". A preocupação com a vulnerabilidade da via epistolar, sempre justificando a discrição de Cyro dos Anjos, se mantém, mas se deixa contaminar por uma sinceridade que necessita expressar-se.[67 67 ] Cyro dos Anjos a Rodrigo. Carta manuscrita, sem lugar e sem data. Pasta "Divisão Cultural do Itamaraty, 1952-1955", arquivo Cyro dos Anjos, Fundação Casa de Rui Barbosa. [ ]

Entre livros de viagem, cartas e recortes de jornal

Junto com uma das cartas que o ministro Chermont enviou a Cyro dos Anjos, cumprimentando-o pelo êxito dos Cuadernos Brasileños, encontra-se um recorte da Tribuna da Imprensa elogiando o trabalho do escritor.[68 68 ] Chermont a Cyro dos Anjos. Rio de Janeiro, 12 de março de 1954. Pasta "Divisão Cultural do Itamaraty, 1952-1955", arquivo Cyro dos Anjos, Fundação Casa de Rui Barbosa. No artigo, a atividade do escritor era vista como "notável esforço para a aproximação entre os dois países". A conclusão do texto era veemente: "se cada professor de literatura brasileira que trabalha no exterior desenvolvesse atividade igual à de Cyro dos Anjos, a cultura nacional seria muito bem servida". "Ciro dos Anjos no México". Tribuna da Imprensa, 4 de abril. ] Na mesma carta (talvez devido a alguma distração do arquivista que organizou a correspondência diplomática de Cyro dos Anjos), encontra-se outro recorte de um artigo em espanhol, sem data ou lugar, de autoria do diplomata e escritor mexicano Eduardo Luquin, intitulado "El Brasil en México". Depois de elogiar o Brasil e de parabenizar os brasileiros que, com a iniciativa do curso, buscaram "una compenetración, un acercamiento auténtico, preferible sin duda a las competencias olímpicas, a las visitas, a los discursos y protestas de amistad", o autor concluiu:

Yo me pregunto si nosotros, que poseemos un caudal de cultura aún más rico que el de los brasileños, no podríamos seguir su ejemplo comisionando a personas capacitadas para que ofrezcan en los principales países de nuestro Continente, un curso de estudios mexicanos en que se presentara la imagen del México precortesiano y muy especialmente la del México contemporáneo en sus múltiples y variados aspectos.

As palavras iniciais deste parágrafo ilustram com perfeição a imagem dos mexicanos que Cyro dos Anjos expôs e compartilhou com o ministro e com seus amigos do grupo dos mineiros. Curiosamente, apesar de gabar-se de possuir uma cultura mais rica que a dos brasileiros, os mexicanos parecem não haver seguido o seu exemplo. Não houve reciprocidade às iniciativas do governo brasileiro e não se criaram cátedras de estudos mexicanos no Brasil. Não se implementou, com recursos mexicanos, um programa editorial de obras relevantes da cultura e da literatura do país, em português. No âmbito da política exterior mexicana, as prioridades de difusão provavelmente eram outras, e a difusão cultural do México no Brasil não estava entre elas.

Em seu livro de viagem, Rodrigo Otávio nunca se pronunciou sobre temas como as "manifestações de narcisismo" e o nacionalismo exacerbado que Cyro dos Anjos observou, temas capazes de comprometer o caráter edulcorado que deu às lembranças das viagens que fez ao México. Uma recordação amável de um país rico e interessante, felizmente conduzido, depois da sanguinária Revolução, por "homens de boa vontade" foi o que registrou em seu simpático e agradável relato.

Cyro dos Anjos restringiu a expressão de suas opiniões sobre o México às cartas pessoais e aos relatórios de trabalho. Não se preocupou, como o célebre jurista, em construir para si uma imagem de amigo do país. Procurou, como intelectual comprometido, cumprir com seriedade e qualidade a sua missão cultural, sem imiscuir-se publicamente nos assuntos do país. Reunir a correspondência de Cyro dos Anjos, organizá-la e analisá-la em busca de suas recordações e opiniões sobre o México poderia assemelhar-se à construção de uma espécie particular de diário de viagem, útil para os estudiosos da obra e da vida de Cyro dos Anjos, mas também para os interessados nas relações culturais e políticas entre o México e o Brasil.

Ambos os registros, o livro de viagem de Rodrigo Otávio e a correspondência pessoal e oficial de Cyro dos Anjos, constituem um material interessante, não somente para enxergar o México e a sua evolução política, cultural e social, a partir de duas perspectivas tão distintas, como para entender com mais detalhe as linhas de ação adotadas pelo governo brasileiro em suas relações com o mexicano.

Artigo recebido em: 14/02/2014

  • [1] Vale a pena ler os relatórios sobre o México que o corpo diplomático brasileiro enviava sistematicamente ao Itamaraty, principalmente os reservados e confidenciais. Embaixadores como Antonio Feitosa (1925-1926), Rinaldo Lima e Silva (1926-1931) e, principalmente, Abelardo Roças (1931-1939) elaboraram diagnósticos detalhados sobre a situação social e política mexicana (não isentos, evidentemente, de preconceitos e do peso de categorias cientificamente questionáveis, mas hegemônicas no período). Estes escritos ajudam a entender a visão predominante entre os brasileiros sobre o México durante a primeira metade do século. Os funcionários intelectualizados do Itamaraty tiveram um papel importante na construção do conhecimento sobre o México, num período em que as relações culturais e intelectuais entre brasileiros e mexicanos eram, na realidade, poucas e circunstanciais. Para mais detalhes sobre o tema, consultar CRESPO, Regina. Miradas diplomáticas: México en la correspondencia del Palacio Itamaraty (1919-1939). Secuencia, Revista de historia y ciencias sociales, n.86, p.139-166, 2013. Disponível em: <http://secuencia.mora.edu.mx/index.php/Secuencia/article/view/5999>. Acesso em: 08 jul. 2014.
  • [4] O livro foi publicado pela primeira vez em 1926, no Rio de Janeiro. Em 1930, saiu em espanhol, na coleção "Biblioteca Brasileńa", com tradução do poeta espanhol modernista Francisco Villaespesa. Em 1935, saiu uma terceira edição em espanhol, logo após a morte do poeta. As referências seguintes são a esta versão. O livro começa com um poema chamado "Advertência", que se inicia com um vocativo: "ĄEuropeo!". Nele, o poeta recorda a ordem, a velhice e a rotina da paisagem de seu interlocutor, e lhe recorda que, como filho da obediência, da economia e do bom senso, não sabe o que é ser Americano, e desconhece "los tumultos de nuestra sangre temperada en saltos y disparada sobre pampas, sábanas, altiplanos" Desconhece a "ĄAlegría de inventar, de descubrir (...) de criar el camino con la planta del pie!". O poema seguinte, Brasil, é um poema de consagração, que insere o país-continente no continente maior da cultura latino-americana. O último poema, que dá título ao livro, caracteriza-se por seu espírito épico; seus versos livres vão compondo um grande diálogo do poeta com a América Latina, no qual o México ocupa um lugar de destaque. CARVALHO, Ronald de. Toda la América. São Paulo/Rio de Janeiro: Editora Hispano-Brasileńa, 1935, p.11-18, p.52-69 (Col. "Biblioteca Brasileńa. Los poetas").
  • [5] CARVALHO, Ronald de. Imagens do México. Rio de Janeiro: Edição do Anuário do Brasil, 1929.
  • [6] CARVALHO, Ronald de. Imagens do México, p.9. Nas citações, manteve-se a pontuação original e atualizou-se a ortografia.
  • [7] VERISSIMO, Erico. México: história duma viagem. 3 ed. Porto Alegre: Editora Globo, 1964.
  • [8] Significativamente, o romance começa com a surpresa da camareira que entra no quarto do protagonista, no hotel em que está hospedado e o escuta cantar. "Pensara que o hóspede fosse cubano, pois o via muito alegre. Mexicano é que não era. Os mexicanos, segundo a camareira, raro tinham motivo para alegrar-se. (...) Nuestra vida, seńor, son puras tristezas explicou com resignação". MOOG, Clodomir Vianna. Tóia, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1962, p.3-4.
  • [9] Vianna Moog chegou a ciceronear Verissimo na Cidade do México. As discussões e divergências que tiveram acerca da cultura, das artes e da vida política e social do país foram tema de algumas das páginas do livro de Verissimo, que esteve no México em várias ocasiões. Sobre as impressões de Verissimo sobre o México, consultar BAGGIO, Kátia Gerab. Magia e paixão: o México sob o olhar de Erico Verissimo. Projeto História, São Paulo, n.32, p.79-95, 2006.
  • [10] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru. São Paulo/Rio de Janeiro/Recife/Porto Alegre: Companhia Editora Nacional, 1940, v.18, p.15 (Série "Viagens").
  • [12] OCTAVIO, Rodrigo; CARVALHO, Ronald de. Dos representativos del Brasil llegan a la capital. Excélsior, 23/06/1923.
  • [18] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.101.
  • [19] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.9-15.
  • [20] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.63 e p.58, respectivamente.
  • [21] Obregón foi recebido em jantares íntimos por Rodrigo Otávio (OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.67) e pelo embaixador Antonio Feitosa,
  • [22] Esta decisão ocasionou desconforto ao governo brasileiro. Normalmente alinhados com os Estados Unidos, os brasileiros preferiam esperar que os estadunidenses reconhecessem o governo do presidente Álvaro Obregón, mas isso ainda não acontecera. A elevação oficial da legação brasileira a embaixada deu-se no dia 10 de março de 1922; apenas no dia 30 de julho o governo brasileiro nomeou Régis de Oliveira embaixador e só no dia 15 de fevereiro do ano seguinte este apresentou suas credenciais. HUERTA SERRANO, María Guadalupe; CASADO ÁLVAREZ, Miguel. Relaciones diplomáticas México-Brasil 1822-1959: guía documental. México: Archivo Histórico Diplomático Mexicano/Secretaría de Relaciones Exteriores/Embajada de Brasil en México, 1994, p.241.
  • [23] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.61.
  • [24] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.61-62.
  • [25] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.62.
  • [26] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.31-32.
  • [27] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.38.
  • [28] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.47.
  • [29] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.48.
  • [30] VASCONCELOS, José. La raza cósmica: misión de la raza iberoamericana. 16 ed. México: Espasa-Calpe, 1992, p.12.
  • [31] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.48.
  • [32] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.49.
  • [33] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.49-50.
  • [34] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.58. Grifos meus.
  • [35] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.58-59.
  • [36] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.81.
  • [37] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.62, p.64.
  • [38] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.63.
  • [39] OTÁVIO, Rodrigo. México e Peru, p.47.
  • [40] Cyro dos Anjos a Carlos Drummond de Andrade. México, 7 de janeiro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond: correspondência de Cyro dos Anjos & Carlos Drummond de Andrade. São Paulo: Globo, 2012, p.128-129.
  • [42] Na verdade, as razões da contratação de Cyro dos Anjos não ficam claras, mas parecem associar-se a algum pedido do próprio escritor. A Drummond, escreveria: "De qualquer modo, tirando as saudades dos amigos e da terra, não tenho agora outros motivos para lamentar a viagem. Eu estava bastante cansado e com os nervos enfrangalhados pela guerra fria que sofri aí, desde o início do novo governo. Foi uma experiência dura para um camarada mal defendido, intimamente, contra os assaltos da angústia". Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 23 de abril de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.145.
  • [43] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 7 de janeiro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.129-130. Grifos meus.
  • [44] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. Guadalajara, 18 de outubro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.179-180.
  • [45] Cartão-postal de Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. Guanajuato, 20 de outubro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.180.
  • [46] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 23 de fevereiro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.154.
  • [47] Drummond de Andrade a Cyro dos Anjos. Rio de Janeiro, 9 de março de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.158.
  • [48] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 23 de fevereiro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.155-157.
  • [51] ALMEIDA, Paulo Roberto de. "Renato Mendonça: um intelectual na diplomacia". Trabalho preparado para o seminário: Renato de Mendonça: Diplomacia, Ciência e Letras. Casa do Patrimônio do IPHAN, Maceió, AL, 3-4/10/2012. Disponível em: <http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/2424RenatoMendIntelecDiplom23.pdf>. Acesso em: 4 fev. 2014.
  • [54] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 23 de março de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.143.
  • [56] As cartas de 1ş de dezembro a 27 de março deixam isso claro. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.186-200.
  • [59] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 1ş. de dezembro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.186. Grifos meus.
  • [60] E só pôde fazê-lo porque tinha à mão o livro Apresentação da poesia brasileira, de Manuel Bandeira, publicado em português e espanhol, em 1946, pelo Fondo de Cultura Económica. Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 23 de abril de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.145-146.
  • [61] Drummond de Andrade a Cyro dos Anjos. México, 23 de abril de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.149.
  • [64] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 1ş de dezembro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.144-145.
  • [65] Séverin recordava, entre outros temas, que o presidente sempre provinha do partido oficial e que, depois de eleito, designava os governadores. Observava a inexistência de uma verdadeira oposição e a ausência total de independência da imprensa, já que era subvencionada pelo Estado, inclusive os poucos veículos de corte esquerdista. Os sindicatos não possuíam qualquer autonomia, eram incapazes de proteger seus afiliados e suas lideranças eram cooptadas. A estrutura econômica e social do país lhe parecia completamente injusta e baseada na desigualdade. A população, presa da religião. Séverin considerava o sistema educativo incompetente e a produção cultural débil. SÉVERIN, Jacques. Démocratie mexicaine. Revue Esprit, 1952. Disponível em: <http://chezrevel.net/democratie-mexicaine/>. Acesso em:12 fev. 2014.
  • [66] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 1ş de junho de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.152.
  • 7
    ] Seu início é paradigmático da velha oposição entre latinos e saxões. O autor narra sua longa viagem de férias e lembra que, ao abandonar a vida pasteurizada e funcional dos estadunidenses e ao encontrar a desordem familiar e permanente dos mexicanos, finalmente se sentia e se permitia declarar "em casa". Em
    México: história duma viagem, o escritor se transformará em protagonista de uma saga simultaneamente pessoal e literária, que se desenvolverá ao longo de trezentas páginas. Nelas, Verissimo, transformado em narrador e personagem, mistura, con maestria, impressões pessoais, curiosidades, análise histórica, antropológica e sociológica a uma sensibilidade quase amorosa pelo México que conheceu.
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    Autora convidada.
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    Contato:
  • 1
    ] Vale a pena ler os relatórios sobre o México que o corpo diplomático brasileiro enviava sistematicamente ao Itamaraty, principalmente os reservados e confidenciais. Embaixadores como Antonio Feitosa (1925-1926), Rinaldo Lima e Silva (1926-1931) e, principalmente, Abelardo Roças (1931-1939) elaboraram diagnósticos detalhados sobre a situação social e política mexicana (não isentos, evidentemente, de preconceitos e do peso de categorias cientificamente questionáveis, mas hegemônicas no período). Estes escritos ajudam a entender a visão predominante entre os brasileiros sobre o México durante a primeira metade do século. Os funcionários intelectualizados do Itamaraty tiveram um papel importante na construção do conhecimento sobre o México, num período em que as relações culturais e intelectuais entre brasileiros e mexicanos eram, na realidade, poucas e circunstanciais. Para mais detalhes sobre o tema, consultar CRESPO, Regina. Miradas diplomáticas: México en la correspondencia del Palacio Itamaraty (1919-1939).
    Secuencia, Revista de historia y ciencias sociales, n.86, p.139-166, 2013. Disponível em: <
    [
  • 2
    ] Esta carta, diga-se de passagem, constituiu uma das poucas colaborações de brasileiros à revista literária
    Monterrey, que o então embaixador do México no Brasil publicava no Rio de Janeiro. Reyes a difundiu, juntamente com uma carta de Prudente de Moraes Neto sobre temas da identidade cultural ibero-americana, mas não teceu nenhum comentário sobre o seu conteúdo.
    Monterrey, 7, diciembre de 1931.
    Monterrey. Ed. Facsimilar. México: Fondo de Cultura Económica, 1980, p.169 (Coleção Revistas Literarias Mexicanas).
    [
  • 3
    ] Trecho em espanhol no original.
    [
  • 4
    ] O livro foi publicado pela primeira vez em 1926, no Rio de Janeiro. Em 1930, saiu em espanhol, na coleção "Biblioteca Brasileña", com tradução do poeta espanhol modernista Francisco Villaespesa. Em 1935, saiu uma terceira edição em espanhol, logo após a morte do poeta. As referências seguintes são a esta versão. O livro começa com um poema chamado "Advertência", que se inicia com um vocativo: "¡Europeo!". Nele, o poeta recorda a ordem, a velhice e a rotina da paisagem de seu interlocutor, e lhe recorda que, como filho da obediência, da economia e do bom senso, não sabe o que é ser Americano, e desconhece "los tumultos de nuestra sangre temperada en saltos y disparada sobre pampas, sábanas, altiplanos" Desconhece a "¡Alegría de inventar, de descubrir (...) de criar el camino con la planta del pie!". O poema seguinte,
    Brasil, é um poema de consagração, que insere o país-continente no continente maior da cultura latino-americana. O último poema, que dá título ao livro, caracteriza-se por seu espírito épico; seus versos livres vão compondo um grande diálogo do poeta com a América Latina, no qual o México ocupa um lugar de destaque. CARVALHO, Ronald de.
    Toda la América. São Paulo/Rio de Janeiro: Editora Hispano-Brasileña, 1935, p.11-18, p.52-69 (Col. "Biblioteca Brasileña. Los poetas").
    [
  • 5
    ] CARVALHO, Ronald de.
    Imagens do México. Rio de Janeiro: Edição do Anuário do Brasil, 1929.
    [
  • 6
    ] CARVALHO, Ronald de.
    Imagens do México, p.9. Nas citações, manteve-se a pontuação original e atualizou-se a ortografia.
  • México

    [7
    ] VERISSIMO, Erico. : história duma viagem. 3 ed. Porto Alegre: Editora Globo, 1964. O livro foi publicado pela primeira vez em 1957. Recebeu também uma edição em espanhol como
    México - Historia de un viaje, com um prólogo elogioso de José Vasconcelos (México: Continental, 1959).
    [
  • 8
    ] Significativamente, o romance começa com a surpresa da camareira que entra no quarto do protagonista, no hotel em que está hospedado e o escuta cantar. "Pensara que o hóspede fosse cubano, pois o via muito alegre. Mexicano é que não era. Os mexicanos, segundo a camareira, raro tinham motivo para alegrar-se. (...) Nuestra vida, señor, son puras tristezas – explicou com resignação". MOOG, Clodomir Vianna.
    Tóia, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1962, p.3-4.
    [
  • 9
    ] Vianna Moog chegou a ciceronear Verissimo na Cidade do México. As discussões e divergências que tiveram acerca da cultura, das artes e da vida política e social do país foram tema de algumas das páginas do livro de Verissimo, que esteve no México em várias ocasiões. Sobre as impressões de Verissimo sobre o México, consultar BAGGIO, Kátia Gerab. Magia e paixão: o México sob o olhar de Erico Verissimo.
    Projeto História, São Paulo, n.32, p.79-95, 2006. Durante uma de suas visitas, Verissimo compartilhou com Cyro dos Anjos algumas atividades profissionais. Na correspondência diplomática, informa-se que os escritores participaram dos debates do VI Congresso do Instituto Internacional de Literatura Ibero-Americana e que foram muito aplaudidos por todos os presentes. "O mês cultural". Setembro. Outubro a dezembro 1953. Arquivo Histórico do Palácio do Itamaraty, Ministério das Relações
    Exteriores do Brasil (AHI), Pasta 32/4/13. Cyro dos Anjos incluiu uma versão ao espanhol do famoso ensaio de Vianna Moog, "Uma interpretação da literatura brasileira" (publicado pela primeira vez em 1942), no segundo volume dos Cuadernos Brasileños, que editou com o apoio da Embaixada do Brasil no México.
    [
  • 10
    ] OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru. São Paulo/Rio de Janeiro/Recife/Porto Alegre: Companhia Editora Nacional, 1940, v.18, p.15 (Série "Viagens"). Nas citações que se farão deste livro se manterá a pontuação original e se atualizará a ortografia.
    [
  • 11
    ] Verissimo foi diretor do Departamento de Assuntos Culturais da União Pan-Americana (UPA), órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA), de 1953 a 1956. Percebe-se, na leitura de seu livro, que o autor teve várias prerrogativas no país, apesar de não havê-lo visitado em caráter oficial.
    [
  • 12
    ] OCTAVIO, Rodrigo; CARVALHO, Ronald de. Dos representativos del Brasil llegan a la capital.
    Excélsior, 23/06/1923. Recorte de jornal. AHI, pasta 221/1/09.
    [
  • 13
    ] Oliveira ao ministro Félix Pacheco, 04/09/1923. AHI, pasta 221/1/9.
    [
  • 14
    ] Oliveira a Pacheco, 30/10/1923. AHI, pasta 221/1/9.
    [
  • 15
    ] Na seção "Notas diplomáticas", do jornal
    El Universal, noticiava-se a chegada de Rodrigo Otávio à capital do país, em um trem especial. Segundo o jornal, o brasileiro havia sido "designado de común acuerdo por los Estados Unidos y México, árbitro de la Comisión Especial de Reclamaciones que se reunirá en breve en esta ciudad".
    El Universal, 15/08/1924, Primera sección, p.4.
    [
  • 16
    ] "Texto Integro del Dr. Rodrigo Octavio en el caso de Santa Isabel".
    El Universal, 27/04/1926, p.5. Neste mesmo jornal, dois dias depois, foram reproduzidos trechos de veículos importantes da imprensa estadunidense protestando pela decisão final.
    El Universal, 29/04/1926, p,1, p.6.
    [
  • 17
    ] "A decisão do caso de Santa Izabel". Sentença arbitral proferida no Tribunal Internacional Mexicano – Americano do Norte. Imp. de la Secretaría de Relaciones Exteriores, México, 1926.
    Jornal do Commercio, 11/12/1927, Arq. Judiciário, v.5, p.3, Rio de Janeiro, 1928. Portal Supremo Tribunal Federal. Disponível em: <
    [
  • 18
    ] OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru, p.101.
    [
  • 19
    ] OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru, p.9-15.
    [
  • 20
    ] OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru, p.63 e p.58, respectivamente.
    [
  • 21
    ] Obregón foi recebido em jantares íntimos por Rodrigo Otávio (OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru, p.67) e pelo embaixador Antonio Feitosa, a quem tratou, em sua chegada ao México, como um verdadeiro chefe de Estado, oferecendo-lhe uma recepção particular (Feitosa a Pacheco, 02/12/1924. AHI, pasta 221/1/9). Também ofereceu um jantar especial ao poeta Ronald de Carvalho, antes do regresso do poeta ao Brasil (Oliveira a Pacheco, 04/09/1923. AHI, pasta 221/1/9).
    [
  • 22
    ] Esta decisão ocasionou desconforto ao governo brasileiro. Normalmente alinhados com os Estados Unidos, os brasileiros preferiam esperar que os estadunidenses reconhecessem o governo do presidente Álvaro Obregón, mas isso ainda não acontecera. A elevação oficial da legação brasileira a embaixada deu-se no dia 10 de março de 1922; apenas no dia 30 de julho o governo brasileiro nomeou Régis de Oliveira embaixador e só no dia 15 de fevereiro do ano seguinte este apresentou suas credenciais. HUERTA SERRANO, María Guadalupe; CASADO ÁLVAREZ, Miguel.
    Relaciones diplomáticas México-Brasil 1822-1959: guía documental. México: Archivo Histórico Diplomático Mexicano/Secretaría de Relaciones Exteriores/Embajada de Brasil en México, 1994, p.241.
    [
  • 23
    ] OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru, p.61.
    [
  • 24
    ] OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru, p.61-62.
    [
  • 25
    ] OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru, p.62.
    [
  • 26
    ] OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru, p.31-32.
    [
  • 27
    ] OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru, p.38.
    [
  • 28
    ] OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru, p.47.
    [
  • 29
    ] OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru, p.48.
    [
  • 30
    ] VASCONCELOS, José.
    La raza cósmica: misión de la raza iberoamericana. 16 ed. México: Espasa-Calpe, 1992, p.12.
    [
  • 31
    ] OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru, p.48.
    [
  • 32
    ] OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru, p.49.
    [
  • 33
    ] OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru, p.49-50.
    [
  • 34
    ] OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru, p.58. Grifos meus.
    [
  • 35
    ] OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru, p.58-59.
    [
  • 36
    ] OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru, p.81.
    [
  • 37
    ] OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru, p.62, p.64.
    [
  • 38
    ] OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru, p.63.
    [
  • 39
    ] OTÁVIO, Rodrigo.
    México e Peru, p.47.
    [
  • 40
    ] Cyro dos Anjos a Carlos Drummond de Andrade. México, 7 de janeiro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond: correspondência de Cyro dos Anjos & Carlos Drummond de Andrade. São Paulo: Globo, 2012, p.128-129.
    [
  • 41
    ] Algumas das cartas de Cyro dos Anjos ao Itamaraty estão depositadas na pasta "Divisão cultural do Itamaraty, 1952-1955", do arquivo Cyro dos Anjos da Fundação Casa de Rui Barbosa. Outras cartas do escritor e a correspondência enviada pelo embaixador e pelo encarregado de negócios estão depositadas nas pastas correspondentes aos anos de 1953 e 1954, do Arquivo Histórico do Palácio do Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores do Brasil (AHI). Existe uma pasta com algumas cartas trocadas entre Cyro dos Anjos e Alfonso Reyes, durante a permanência do brasileiro no México, nos arquivos da Capilla Alfonsina, Biblioteca de Alfonso Reyes.
    [
  • 42
    ] Na verdade, as razões da contratação de Cyro dos Anjos não ficam claras, mas parecem associar-se a algum pedido do próprio escritor. A Drummond, escreveria: "De qualquer modo, tirando as saudades dos amigos e da terra, não tenho agora outros motivos para lamentar a viagem. Eu estava bastante cansado e com os nervos enfrangalhados pela guerra fria que sofri aí, desde o início do novo governo. Foi uma experiência dura para um camarada mal defendido, intimamente, contra os assaltos da angústia". Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 23 de abril de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.).
    Cyro & Drummond, p.145. O exercício de funções culturais no âmbito diplomático o levou também a Lisboa, onde permaneceu, com toda a família, até finais de 1955.
    [
  • 43
    ] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 7 de janeiro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.).
    Cyro & Drummond, p.129-130. Grifos meus.
    [
  • 44
    ] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. Guadalajara, 18 de outubro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.).
    Cyro & Drummond, p.179-180.
    [
  • 45
    ] Cartão-postal de Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. Guanajuato, 20 de outubro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.).
    Cyro & Drummond, p.180.
    [
  • 46
    ] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 23 de fevereiro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.).
    Cyro & Drummond, p.154.
    [
  • 47
    ] Drummond de Andrade a Cyro dos Anjos. Rio de Janeiro, 9 de março de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.).
    Cyro & Drummond, p.158.
    [
  • 48
    ] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 23 de fevereiro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.).
    Cyro & Drummond, p.155-157.
    [
  • 49
    ] Além do seu romance mais famoso,
    O amanuense Belmiro, de 1937, Cyro dos Anjos publicou os romances
    Abdias (1945) e
    Montanha (1956), um livro de poemas,
    Poemas coronários (1964) e dois livros de memórias,
    Explorações no tempo (1963) e
    A menina do sobrado (1979). Também publicou um ensaio,
    A criação literária, que apareceu inicialmente no México, em espanhol, como parte do segundo volume de
    Cuadernos brasileños, que Cyro dos Anjos publicou com o apoio da embaixada do Brasil. Cyro dos Anjos enviou os dois exemplares a Alfonso Reyes e este lhe respondeu com uma elogiosa crítica ao seu ensaio. Alfonso Reyes a Cyro dos Anjos. México, 9 de fevereiro de 1954. Capilla Alfonsina, Biblioteca Alfonso Reyes.
    [
  • 50
    ] "Nuestro país bien querido en Brasil". Entrevista con Pascual Ortiz Rubio. Excélsior, 31/12/1928, p.1, p.4.
    [
  • 51
    ] ALMEIDA, Paulo Roberto de. "Renato Mendonça: um intelectual na diplomacia". Trabalho preparado para o seminário: Renato de Mendonça: Diplomacia, Ciência e Letras. Casa do Patrimônio do IPHAN, Maceió, AL, 3-4/10/2012. Disponível em: <
    [
  • 52
    ] Cyro dos Anjos ao ministro Jaime Chermont. Anexo. Embaixada do Brasil ao Itamaraty, Mês cultural. Fevereiro de 1953. AHI, pasta 32/4/11. Chermont era próximo de Drummond, como se nota nas cartas trocadas entre este e Cyro dos Anjos.
    [
  • 53
    ] Cyro dos Anjos a Chermont. Anexo único ao ofício 67, 22 de março de 1953. AHI, pasta 32/4/11. Além de gramáticas e de antologias de poesia brasileira, o professor também pedia o envio de alguns discos – Villa Lobos, Lorenzo Fernandez, Mignone –, além de composições populares, folclóricas e carnavalescas.
    [
  • 54
    ] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 23 de março de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.).
    Cyro & Drummond, p.143.
    [
  • 55
    ] Partida do Professor Cyro dos Anjos. 1º de junho de 1954. Maio a agosto de 1954. AHI, Pasta 32/5/2. Quanto aos
    Cuadernos Brasileños, toda sua produção editorial foi feita por Cyro dos Anjos. O primeiro volume reuniu os melhores trabalhos apresentados pelos alunos do curso. O segundo reuniu, além do ensaio de sua autoria (
    vide nota 49), um artigo sobre a história da educação no Brasil, de autoria de Yara Vargas (que trabalhava junto a Cyro como professora de português), uma conferência sobre a imprensa brasileira, de José Carlos de Souza Palhares, então segundo secretário da embaixada e, finalmente, o importante ensaio "Uma interpretação da literatura brasileira", de Vianna Moog, publicado pela primeira vez, no Brasil, em 1942.
    [
  • 56
    ] As cartas de 1º de dezembro a 27 de março deixam isso claro. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.).
    Cyro & Drummond, p.186-200.
    [
  • 57
    ] Cyro dos Anjos a Chermont. Carta reservada. México, 29 de setembro de 1953. Pasta "Divisão Cultural do Itamaraty, 1952-1955", arquivo Cyro dos Anjos, Fundação Casa de Rui Barbosa.
    [
  • 58
    ] Chermont a Cyro dos Anjos. Carta reservada. 9 de outubro de 1953. Pasta "Divisão Cultural do Itamaraty, 1952-1955", arquivo Cyro dos Anjos, Fundação Casa de Rui Barbosa.
    [
  • 59
    ] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 1º. de dezembro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.). Cyro & Drummond, p.186. Grifos meus.
    [
  • 60
    ] E só pôde fazê-lo porque tinha à mão o livro
    Apresentação da poesia brasileira, de Manuel Bandeira, publicado em português e espanhol, em 1946, pelo Fondo de Cultura Económica. Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 23 de abril de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.).
    Cyro & Drummond, p.145-146.
    [
  • 61
    ] Drummond de Andrade a Cyro dos Anjos. México, 23 de abril de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.).
    Cyro & Drummond, p.149.
    [
  • 62
    ] Cyro dos Anjos a Chermont. México, 28 de novembro de 1953. Pasta "Divisão Cultural do Itamaraty, 1952-1955", arquivo Cyro dos Anjos, Fundação Casa de Rui Barbosa.
    [
  • 63
    ] Cyro dos Anjos a Chermont. México, 31 de outubro de 1953. Pasta "Divisão Cultural do Itamaraty, 1952-1955", arquivo Cyro dos Anjos, Fundação Casa de Rui Barbosa.
    [
  • 64
    ] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 1º de dezembro de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.).
    Cyro & Drummond, p.144-145.
    [
  • 65
    ] Séverin recordava, entre outros temas, que o presidente sempre provinha do partido oficial e que, depois de eleito, designava os governadores. Observava a inexistência de uma verdadeira oposição e a ausência total de independência da imprensa, já que era subvencionada pelo Estado, inclusive os poucos veículos de corte esquerdista. Os sindicatos não possuíam qualquer autonomia, eram incapazes de proteger seus afiliados e suas lideranças eram cooptadas. A estrutura econômica e social do país lhe parecia completamente injusta e baseada na desigualdade. A população, presa da religião. Séverin considerava o sistema educativo incompetente e a produção cultural débil. SÉVERIN, Jacques. Démocratie mexicaine.
    Revue Esprit, 1952. Disponível em: <
    http://chezrevel.net/democratie-mexicaine/>. Acesso em:12 fev. 2014.
    [
  • 66
    ] Cyro dos Anjos a Drummond de Andrade. México, 1º de junho de 1953. MIRANDA, Wander Melo; SAID, Roberto (orgs.).
    Cyro & Drummond, p.152.
    [
  • 67
    ] Cyro dos Anjos a Rodrigo. Carta manuscrita, sem lugar e sem data. Pasta "Divisão Cultural do Itamaraty, 1952-1955", arquivo Cyro dos Anjos, Fundação Casa de Rui Barbosa.
    [
  • 68
    ] Chermont a Cyro dos Anjos. Rio de Janeiro, 12 de março de 1954. Pasta "Divisão Cultural do Itamaraty, 1952-1955", arquivo Cyro dos Anjos, Fundação Casa de Rui Barbosa. No artigo, a atividade do escritor era vista como "notável esforço para a aproximação entre os dois países". A conclusão do texto era veemente: "se cada professor de literatura brasileira que trabalha no exterior desenvolvesse atividade igual à de Cyro dos Anjos, a cultura nacional seria muito bem servida". "Ciro dos Anjos no México".
    Tribuna da Imprensa, 4 de abril.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Dez 2014
    • Data do Fascículo
      Dez 2014

    Histórico

    • Recebido
      14 Fev 2014
    Pós-Graduação em História, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais Av. Antônio Carlos, 6627 , Pampulha, Cidade Universitária, Caixa Postal 253 - CEP 31270-901, Tel./Fax: (55 31) 3409-5045, Belo Horizonte - MG, Brasil - Belo Horizonte - MG - Brazil
    E-mail: variahis@gmail.com