Acessibilidade / Reportar erro

Violência familiar contra adolescentes e jovens gays e lésbicas: um estudo qualitativo

RESUMO

Objetivo:

Analisar as experiências de adolescentes e jovens gays e lésbicas no processo de revelação da orientação sexual às suas famílias.

Método:

Estudo qualitativo realizado em uma cidade do interior paulista. Participaram 12 adolescentes e jovens gays ou lésbicas. Para a coleta dos dados utilizou-se a entrevista semiestruturada e a análise dos dados ocorreu por meio do método de interpretação dos sentidos.

Resultados:

As reações familiares no processo de “saída do armário” dos participantes foram violentas, com perseguições e até a expulsão de casa, além da repressão das expressões das vivências homoeróticas, o que impactou na saúde e qualidade de vida dos mesmos.

Considerações finais:

A família é componente essencial da rede de apoio, mas também espaço que pode gerar e reproduzir formas de violência em nome da heteronormatividade. Serviços de saúde devem desenvolver práticas de cuidado e atenção à família e ao adolescente e jovem homossexual vítima de violência.

Descritores:
Adulto Jovem; Homossexualidade; Relações Familiares; Homofobia; Saúde do Adolescente

ABSTRACT

Objective:

To analyze the experiences of gay and lesbian adolescents and young people in the process of revealing sexual orientation to their families.

Method:

A qualitative study carried out in a city in the state of São Paulo. Twelve gay and lesbian adolescents and youngsters participated. For the data collection, the semi-structured interview was used and data analysis was performed using the method of interpretation of the senses.

Results:

The family reactions in the process of “coming out of the closet” of the participants were violent, with persecution and even expulsion from home, in addition to the repression of expressions of homoerotic experiences, which impacted on their health and quality of life.

Final considerations:

The family is an essential component of the support network, but also a space that can generate and reproduce forms of violence in the name of heteronormativity. Health services should develop care practices and care for the family and adolescent and homosexual youth victim of violence.

Descriptors:
Young Adult; Homosexuality; Family Relationships; Homophobia; Adolescent Health

RESUMEN

Objetivo:

Analizar las experiencias de los adolescentes y jóvenes gays y lesbianas en el proceso de revelación de la orientación sexual a sus familias.

Método:

Estudio cualitativo realizado en una ciudad del interior de São Paulo. Participaron 12 adolescentes y jóvenes gays o lesbianas. Para la recolección de los datos se utilizó la entrevista semiestructura y el análisis de los datos ocurrió por medio del método de interpretación de los sentidos.

Resultados:

Las reacciones familiares en el proceso de “la salida del armario” de los participantes fueron violentas, con persecuciones e incluso la expulsión de casa, además de la represión de las expresiones de las vivencias homoeróticas, lo que impactó en la salud y calidad de vida de estas personas.

Consideraciones finales:

La familia es componente esencial de la red de apoyo, pero también espacio que puede generar y reproducir formas de violencia en el nombre de la heteronormatividad. Los servicios de salud deben desarrollar prácticas de cuidado y atención a la familia y al adolescente y joven homosexual víctima de violencia.

Descriptores:
Adulto Joven; Homosexualidad; Relaciones Familiares; Homofobia; Salud del Adolescente

INTRODUÇÃO

Este estudo buscou compreender as experiências de adolescentes e jovens gays e lésbicas no processo de revelação da orientação sexual às suas famílias. Estudos internacionais demonstram que o modo como a família reage à revelação da orientação sexual influencia na qualidade de vida e na saúde dos gays e lésbicas, por exemplo, reações negativas dos familiares encontram-se associadas com menor apoio social e maior incidência de problemas de saúde mental como ansiedade, depressão, ideação suicida e consumo excessivo de álcool(11 Ortiz-Hernández L, Valencia-Valero RG. Disparidades em salud mental asociadas a la orientación sexual en adolescentes mexicanos. Cad Saúde Pública [Internet]. 2015 [cited 2017 May 24]; 31(2):417-30. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00065314
http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00065...

2 Puckett JA, Woodward EN, Mereish EH, Pantalone DW. Parental rejection following sexual orientation disclosure: impact on internalized homophobia, social support, and mental health. LGBT Health [Internet]. 2015 [cited 2017 May 23]; 2(3):265-9. Available from: http://online.liebertpub.com/doi/10.1089/lgbt.2013.0024
http://online.liebertpub.com/doi/10.1089...
-33 Needham BL, Austin EL. Sexual orientation, parental support, and health during the transition to young adulthood. J Youth Adolesc [Internet]. 2010 [cited 2017 May 23]; 39(10):1189-98. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20383570
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2038...
). Não se trata, portanto, de um processo restrito ao campo individual das pessoas, mas que envolve a coletividade e, consequentemente, os profissionais e serviços de saúde que atendem à população LGBT. A ausência de conhecimentos específicos acerca desse público e das violências que sofrem pode dificultar a prestação de cuidados em saúde a ele destinados ou às suas famílias. Assim, estudos empíricos sobre a temática podem ampliar a compreensão de profissionais e equipes de saúde, o que repercute na qualidade do cuidado por eles oferecido.

Destaca-se preliminarmente que adolescência e juventude correspondem a processos e construções sociais, culturais, político-econômicas, territoriais e relacionais que, ao longo de diferentes épocas e processos históricos foram adquirindo determinados significados e concepções. Ambas as fases são interseccionadas por marcadores sociais de diferença, tais como: classe, etnia, sexualidade e gênero(44 Moreira JO, Rosário AB, Santos AP. Juventude e adolescência: considerações preliminares. Psicol [Internet]. 2011 [cited 2017 Mar 15]; 42(4):457-64. Available from: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/view/8943/7450
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/...

5 Oliveira VM. Identidades interseccionadas e militâncias políticas. In: Grossi M, Uziel AP, Melo L. Conjugalidades, parentalidades e identidades lésbicas, gays e travestis. Rio de Janeiro: Garamond; 2007.
-66 Costa Jr FM, Couto MT. Geração e categorias geracionais nas pesquisas sobre saúde e gênero no Brasil. Saúde Soc [Internet]. 2015 [cited 2017 Mar 15]; 24(4):1299-315. Available from: http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v24n4/1984-0470-sausoc-24-04-01299.pdf
http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v24n4/19...
). No caso dos adolescentes e jovens gays ou lésbicas que expõem de maneira pública seus desejos e identificações sexuais, a discriminação e o preconceito potencializam a vulnerabilidade à qual, geralmente, já se encontram expostos(77 Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF. O direito de ser adolescente: oportunidade para reduzir vulnerabilidades e superar desigualdades. Brasília: Unicef; 2011. 182 p.). A esse respeito, é relevante destacar que a estrutura social e sexual que gera preconceitos e atos discriminatórios se fundamenta no dualismo heterossexual e homossexual, mas de forma a priorizar a heterossexualidade por meio de um dispositivo que a naturaliza e, ao mesmo tempo, a torna compulsória(88 Miskolci RA. A teoria queer e a sociologia: o desafio de uma analítica da normalização. Sociol [Internet]. 2009 [cited 2017 Feb 20]; 11(21):150-82. Available from: http://www.scielo.br/pdf/soc/n21/08.pdf
http://www.scielo.br/pdf/soc/n21/08.pdf...
).

Essa divisão binária de gênero se relaciona com comportamentos e atitudes identificados com o feminino ou o masculino em coerência ao sexo biológico correspondente. Aqueles que desviam em relação a essa norma, comumente, enfrentam dificuldades para serem aceitos pela sociedade, podendo sofrer agressões físicas, verbais, sexuais, bullying, estigmatização social, discriminação no trabalho, na família e nos serviços públicos, além de desigualdade de acesso aos direitos como os de educação e saúde(99 Borrillo D. Homofobia. In: Lionço T, Diniz D. (Orgs.). Homofobia e Educação: um desafio ao silêncio. Brasília: Letras Livres: Ed UnB; 2009.). Os diversos tipos de violência que se apresentam no cotidiano daqueles que desviam da norma heterossexual visam, entre outros aspectos, produzir nesses sujeitos a conformidade às regras e hierarquias sociais(1010 Eribon D. Reflexões sobre a questão gay. Rio de Janeiro: Companhia de Freud; 2008.). Nesse contexto, pode-se desenvolver a denominada homofobia internalizada, que se refere ao medo do preconceito em razão do sujeito homossexual ter internalizado o estigma social associado à sua orientação sexual(22 Puckett JA, Woodward EN, Mereish EH, Pantalone DW. Parental rejection following sexual orientation disclosure: impact on internalized homophobia, social support, and mental health. LGBT Health [Internet]. 2015 [cited 2017 May 23]; 2(3):265-9. Available from: http://online.liebertpub.com/doi/10.1089/lgbt.2013.0024
http://online.liebertpub.com/doi/10.1089...
). A homofobia internalizada pode promover também o isolamento social dos indivíduos perante seus pares quando eles passam a considerar negativamente os outros homossexuais, ou então, situações de exclusão e violência dentro da comunidade LGBT que, somadas às reações negativas de outros indivíduos do convívio social dos homossexuais, podem afetar-lhes a qualidade de vida e as condições de saúde(1111 Berg RC, Munthe-Kass HM, Ross MW. Internalized Homonegativity: a systematic mapping review of empirical research. J Homosex [Internet]. 2016 [cited 2017 May 25]; 63(4):541-58. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26436322
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2643...
).

Um momento em que adolescentes e jovens gays ou lésbicas se encontram vulneráveis a receberem reações negativas ou sofrerem violência é quando revelam sua orientação sexual às pessoas de sua convivência. Geralmente, a revelação é feita para amigos e familiares e as reações dessas pessoas, quando negativas ou agressivas podem, a curto ou longo prazo, acarretar danos ao desenvolvimento saudável dos adolescentes e jovens homossexuais. Um estudo realizado com 224 jovens americanos, com o objetivo de compreender as reações familiares frente à orientação sexual e expressão de gênero de seus filhos durante a adolescência e os impactos na saúde concluiu que os efeitos adversos, punitivos e traumáticos das reações familiares frente à revelação da homossexualidade colaboraram para que os adolescentes homossexuais tivessem oito vezes mais probabilidades de tentativa de suicídio, seis vezes mais probabilidade de terem depressão, três vezes mais propensão a usarem drogas ilegais e três vezes mais probabilidade de terem uma relação sexual desprotegida em comparação com adolescentes homossexuais que não foram rejeitados(1212 Ryan C, Huebner D, Diaz RM, Sanchez J. Family rejection as a predictor of negative health outcomes in white and latino lesbian, gay, and bisexual young adults. Pediatr [Internet]. 2009 [cited 2017 Feb 20]; 123(1). Available from: http://pediatrics.aappublications.org/content/123/1/346
http://pediatrics.aappublications.org/co...
).

Problemas de convivência e relacionamento familiar, igualmente, podem surgir quando a família não faz o acolhimento ou quando exige que não se revele a identidade e orientação sexual para outras pessoas. Esses tipos de reações podem afastar os adolescentes e jovens homossexuais de seus lares de forma involuntária ou por serem deliberadamente expulsos de casa. Em situações de não aceitação ou expulsão de casa, o adolescente ou jovem, ao revelar sua orientação sexual, tem que construir um novo referencial familiar a partir de recursos da comunidade e/ou do grupo de amigos, pois o primeiro é marcado pelo desamparo e falta de apoio(1313 Sedgwick EK. A Epistemologia do armário. In: Cadernos Pagu. Dentzien P.(Trad.). Campinas: Núcleo de Estudos de Gênero Pagu; 2007.). Para tanto, os adolescentes e jovens, gays ou lésbicas precisam de uma rede social significativa que os acolha e ampare. Entende-se por rede social uma estrutura formada por sujeitos e serviços por meio da qual o apoio social é fornecido. É uma organização de interações do sujeito que são consideradas enquanto significativas. Nela se estabelecem as relações de vínculo e suas funções capazes de promover bem-estar, saúde e qualidade de vida(1414 Sluzki, CE. A rede social na prática sistêmica. Berliner C. (Trad.). São Paulo: Casa do Psicólogo; 1997.).

Não poder contar com o apoio social de outras pessoas também constitui um aspecto de vulnerabilidade que pode ser enfrentado pelos homossexuais ao revelarem sua orientação sexual, pois as reações da rede também podem envolver incompreensão e/ou violência. Nesse sentido, as diversas mudanças ocorridas nas últimas décadas não foram capazes de desconstruir ou eliminar o “armário” que é entendido como um dispositivo de manutenção do segredo da sexualidade homossexual, envolvendo contradições e nuances, nas quais os sujeitos irão negociar constantemente sua visibilidade e a aceitabilidade de seus desejos e vida íntima(1313 Sedgwick EK. A Epistemologia do armário. In: Cadernos Pagu. Dentzien P.(Trad.). Campinas: Núcleo de Estudos de Gênero Pagu; 2007.). Diante desse cenário, o apoio familiar e social pode representar proteção, que aumenta a resiliência e diminui os impactos da homofobia na saúde e bem-estar de adolescentes e jovens homossexuais ao revelarem sua orientação sexual(1515 Bos H, Gartrell N. Adolescents of the USA National Longitudinal Lesbian Family Study: can family characteristics counteract the negative effects of stigmatization? Fam Process [Internet]. 2010 [cited 2017 Feb 20]; 49(4):559-72. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21083555
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2108...
).

Um estudo realizado com 257 homossexuais adultos sobre a reação de seus familiares quando revelaram a sua orientação sexual identificou que, quando os familiares rejeitaram o indivíduo, após a revelação, o sofrimento psicológico decorrente da rejeição se manteve ao longo de vários anos(22 Puckett JA, Woodward EN, Mereish EH, Pantalone DW. Parental rejection following sexual orientation disclosure: impact on internalized homophobia, social support, and mental health. LGBT Health [Internet]. 2015 [cited 2017 May 23]; 2(3):265-9. Available from: http://online.liebertpub.com/doi/10.1089/lgbt.2013.0024
http://online.liebertpub.com/doi/10.1089...
). Essa relação, entretanto, foi mediada pelo apoio social recebido pelos indivíduos, demonstrando a importância de se possuir uma boa rede de apoio, quando este não é promovido pela família. Uma vez que consideramos a família como rede de apoio social importante para fortalecer laços de proteção e para a garantia dos direitos de adolescentes e jovens, e com o intuito de responder melhor à complexidade das demandas despertadas pela violência, questiona-se: Qual a experiência de apoio familiar e social de adolescentes e jovens gays e lésbicas quando revelaram sua orientação sexual para suas famílias? Qual o impacto da reação familiar no processo de significação e construção de sentidos para esses sujeitos?

OBJETIVO

Analisar, a partir do referencial teórico Queer, as experiências de adolescentes e jovens gays e lésbicas no processo de revelação da orientação sexual para suas famílias.

MÉTODO

Aspectos éticos

Em todas as etapas do estudo foram seguidas as recomendações e orientações da Resolução 466/2012 sobre os aspectos éticos que regulamentam as pesquisas com seres humanos, e o projeto foi apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP).

Referencial teórico-metodológico

A pesquisa ancora-se nos conceitos advindos da Teoria Queer, que sublinha a centralidade dos mecanismos sociais relacionados à operação do binarismo heterossexual e homossexual para a organização da vida social contemporânea, dando atenção crítica para uma política do conhecimento e da diferença(88 Miskolci RA. A teoria queer e a sociologia: o desafio de uma analítica da normalização. Sociol [Internet]. 2009 [cited 2017 Feb 20]; 11(21):150-82. Available from: http://www.scielo.br/pdf/soc/n21/08.pdf
http://www.scielo.br/pdf/soc/n21/08.pdf...
). Na atualidade, é proposta uma ruptura da conexão sexo-natureza e gênero-cultura, ao sugerir-se que ambos, sexo e gênero, são representações culturais compreendidas não só pela produção e a normatização do masculino e do feminino, mas também pelas formas psíquicas e representativas que o gênero assume(1616 Butler J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 2003.). Desta forma, gênero é compreendido enquanto performances sociais, a estilização repetida do corpo, ressignificado como um conjunto de atos reiterados dentro de um marco regulador heteronormativo e seu efeito substantivo é performaticamente produzido e imposto pelas práticas da coerência entre sexo, gênero, desejo e práticas sexuais(1616 Butler J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 2003.). Assim, a mobilização do pensamento Queer tem se voltado para os conhecimentos e práticas sociais que organizam a sociedade, sexualizando os corpos, desejos, identidades a partir da relação binária entre heterossexualidade e homossexualidade(88 Miskolci RA. A teoria queer e a sociologia: o desafio de uma analítica da normalização. Sociol [Internet]. 2009 [cited 2017 Feb 20]; 11(21):150-82. Available from: http://www.scielo.br/pdf/soc/n21/08.pdf
http://www.scielo.br/pdf/soc/n21/08.pdf...
).

Tipo de Estudo

Trata-se de um estudo de natureza qualitativa.

Procedimentos metodológicos

Cenário do estudo

O estudo foi desenvolvido em um município de médio porte localizado no interior do Estado de São Paulo.

Fontes de dados

Participaram do estudo 12 adolescentes e/ou jovens gays e lésbicas, com idades entre 14 e 24 anos. A seleção dos sujeitos da pesquisa foi realizada através da técnica de bola de neve (snowball), que se inicia com um participante ou um grupo de participantes que vão sucessivamente indicando novos sujeitos para participar do estudo, possibilitando ao pesquisador a imersão em seu círculo social(1717 Hanneman R, Riddle M. Introduction to social network methods. Riverside, CA: University of California, Riverside; 2009.).

A definição do grupo de sujeitos não privilegiou a representatividade numérica, mas o aprofundamento da temática, bem como sua capacidade de apreender a totalidade do fenômeno nas suas diversas dimensões e no seu aprofundamento teórico(1818 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: a pesquisa qualitativa em saúde. 12. ed. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro; 2012. 407 p.).

Coleta e organização dos dados

A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas, em que os participantes expressaram seus pensamentos, vivências e significados construídos a partir de suas experiências(1818 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: a pesquisa qualitativa em saúde. 12. ed. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro; 2012. 407 p.) de apoio familiar e social ou de violência, no processo de revelação de suas orientações sexuais para suas famílias.

O contato com os participantes ocorreu no primeiro semestre de 2015, com o intuito de iniciar uma aproximação nos pontos de encontro do público LGBT localizados no município pesquisado, como praças e shoppings. Em um primeiro contato com cada um dos participantes foram detalhados o objetivo da pesquisa, as condições de participação, e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para os sujeitos participantes com idade acima de 18 anos, do Termo de Assentimento Livre e Esclarecido para os sujeitos menores de 18 anos e do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para os pais ou responsáveis pelos adolescentes menores de 18 anos. Esclarece-se que para tanto, foram acessados somente adolescentes cujas condições de sua orientação sexual fossem declaradas e anuentes em sua família, pois a pesquisadora e o estudo não podiam se configurar em um motivo de revelação ou conflito familiar. Essa informação foi devidamente e detalhadamente discutida com cada sujeito para a possibilidade de participação.

Após a concordância dos participantes, foram agendados os encontros para a realização das entrevistas em locais de sua preferência. A maioria das entrevistas ocorreu em locais públicos, porém que assegurassem a privacidade. Outras foram realizadas nas residências dos participantes sem a presença de outros membros da família. O tempo médio das entrevistas foi de 90 minutos. Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra pelo pesquisador principal. O anonimato dos participantes foi garantido por meio da utilização de nomes fictícios escolhidos pelos próprios adolescentes ou jovens.

Análise dos dados

Na análise dos dados, foi utilizado o método de interpretação dos sentidos(1919 Gomes R, Souza ER, Minayo MCS, Malaquias JV, Silva CFR. Organização, processamento, análise e interpretação de dados: o desafio da triangulação. In: Minayo MCS, Assis SG, Souza ER. Avaliação por triangulação de métodos: abordagem de programas sociais. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2005.). Esse método é fundamentado nos princípios hermenêutico-dialéticos, que buscam interpretar o contexto, as razões e as lógicas de falas, ações e inter-relações entre grupos e instituições. Este método responde às necessidades desta pesquisa, pois busca, por meio dos princípios da hermenêutica compreender o ser histórico imerso em seu contexto e cultura e, através da dialética, interpretar, refletir e problematizar os fatos, as linguagens e os símbolos presentes na investigação. Entendendo que os sujeitos reconstituem o vivido, atribuindo-lhe sentido e emitem enunciados sobre si mesmos, que nos dão pistas de como se constituem como sujeitos em meio a contextos de violências(2020 Brah A. Diferença, diversidade, diferenciação. Cadernos Pagu [Internet]. Campinas 2006 [cited 2017 Fev 20];(26):329-76. Available from: http://www.scielo.br/pdf/cpa/n26/30396.pdf
http://www.scielo.br/pdf/cpa/n26/30396.p...
), busca-se compreender quais as linguagens possíveis para falar da violência, o que é dito e para quem, como são colocadas em perspectiva as situações relatadas a partir da produção da experiência no momento da entrevista(2020 Brah A. Diferença, diversidade, diferenciação. Cadernos Pagu [Internet]. Campinas 2006 [cited 2017 Fev 20];(26):329-76. Available from: http://www.scielo.br/pdf/cpa/n26/30396.pdf
http://www.scielo.br/pdf/cpa/n26/30396.p...
).

Na trajetória analítico-interpretativa dos dados, foi necessário ter a visão do conjunto para apreensão das particularidades do material da pesquisa; identificar os sentidos atribuídos por parte dos entrevistados; identificar e problematizar as ideias explícitas e implícitas nos depoimentos; buscar os sentidos mais amplos (socioculturais), subjacentes às falas dos sujeitos da pesquisa; realizar um diálogo entre as ideias problematizadas, informações provenientes de outros estudos acerca do assunto e o referencial teórico do estudo; e por fim, elaborar uma síntese interpretativa, procurando articular o objetivo do estudo, base teórica adotada e dados empíricos(2121 Gomes R, Leal AF, Knauth D, Silva GSN. Sentidos atribuídos à política voltada para a Saúde do Homem. Ciênc Saúde Colet [Internet]. 2012 [cited 2017 May 25]; 17(10):2589-96. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n10/en_08.pdf
http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n10/en_0...
).

RESULTADOS

Caracterização dos adolescentes e jovens

O quadro 1 permite a visualização de dados sociodemográficos dos adolescentes e jovens participantes.

Participaram deste estudo 12 adolescentes e/ou jovens gays e lésbicas com idade entre 14 e 24 anos, sendo três do sexo feminino e nove do sexo masculino.

Quadro 1
Dados sociodemográficos dos participantes da pesquisa

Destaca-se que os nomes fictícios foram escolhidos pelos próprios participantes, a partir dos quais, ressaltaram alguns aspectos do processo de descoberta da sexualidade e de sua aceitação, como por exemplo, o adolescente que se denominou como “Normal” carrega em seu discurso a normalidade e a legitimidade de seu desejo e práticas sexuais, entretanto, não consegue falar sobre sua orientação sexual com seus pais, permanecendo “dentro do armário”, no contexto familiar.

O adolescente que se denominou como “Deturpado” aponta o quanto gosta de questionar os padrões e normas regidas por sua família e pela sociedade, e, o quanto isso gera conflitos e dificuldades nos seus relacionamentos. Já o jovem “Potter”, que vivenciou inúmeras experiências de violência em vários contextos, tais como na escola, na família e na sociedade, se coloca como um mágico (Harry Potter), capaz de encarar os desafios necessários para se assumir homossexual. O adolescente “Cálculos”, revelou o uso de sua racionalidade para lidar com as adversidades do seu cotidiano, bem como para lidar com sua família.

Com relação à composição familiar dos participantes, duas famílias eram monoparentais, compostas pela mãe e pelo adolescente/jovem (Deturpado e Biologia), uma composta pelos tios e pelo jovem (Potter), pois o pai faleceu e a mãe o abandonou, uma mora sozinha (Duda), e o restante das famílias é composta pela mãe, pelo pai/padrasto e pelo adolescente/jovem (Lipe, Dakota, Afrodite, Normal, Sam, Cálculos, Chanel e Paulo Gustavo).

Após a análise interpretativa dos dados coletados nas entrevistas, extraiu-se o núcleo de sentido apresentado a seguir.

Experiências de saída do “armário”: “Ele disse que eu era louco, disse que eu não estava são, que eu não estava com muita certeza

Depreende-se que as famílias tiveram reações de violência, rejeição, repressão e silenciamentos no processo de “saída do armário”, demonstrando que a heteronormatividade é expressa como dispositivo regulatório da sexualidade. De acordo com os participantes, a família apresentou atitudes consideradas como homofóbicas em relação à orientação sexual e identidade de gênero reveladas, além do controle, vigilância, perseguição e até expulsão de casa, como se observa nos relatos a seguir:

A parte da família do meu pai, eles são homofóbicos [...] eles são falsos... [...]. ‘Nossa, como você é linda Sam, olha que bonitinha, pena que gosta de mulher!'. [...] eles jogavam na minha cara: ‘Sua sapatão'. (Sam)

Eu era questionado se eu estava namorando, [...] se eu estava ficando com mulher, quando passava na televisão uma garota de biquíni eles ficavam perguntando para mim se ela era gostosa, bonita, não sei o que. [...] eu chegava com uma amiga minha aqui em casa eles ficavam forçando a barra, ‘E aí, vocês vão ficar? Vocês vão namorar?' [...] se eu chegava com um menino também ao mesmo tempo era controverso, porque eles queriam que eu tivesse mais amizades masculinas, mas quando eu tinha uma amizade masculina eles ficavam desconfiados de eu ter alguma relação, então era uma relação completamente de desconfiança, então tudo que eu fizesse seria ruim, e isso com quatorze anos, eu querendo e sendo limitado por tudo que eu fazia, então eu sempre tive uma autoestima muito baixa [...] eu não conseguia ter forças [...] era derrubado. (Potter)

Um dos participantes do estudo relata sua vivência de violência e expulsão de casa pelos seus pais, pela qual houve rompimento dos vínculos familiares.

O dia que eu cheguei de manhã [da casa do namorado] de moto-táxi, minha mãe estava lavando o quintal, aí ela esperou eu pagar o moto-taxi [...] já veio me agredindo com a mangueira [...] meu pai veio pra cima de mim e me bateu, me bateu muito! [...] Aí como eu estava nervoso, com a cabeça quente e eu acabei gritando pra eles que eu era gay, aí minha mãe já levou um choque, minha mãe: ‘eu não quero gay dentro de casa e eu não criei filho para isso, para ficar dando o cu para rua! Pega suas coisas e vai embora!' (Paulo Gustavo)

Os adolescentes e jovens também revelaram que suas famílias tiveram dificuldades para compreender e aceitar a orientação sexual homossexual, referindo-se ao desejo homossexual como “loucura”, “falta do fazer”, “safadeza” e até “ato desumano”.

Meu pai acha uma falta do que fazer, meu pai é meio ignorante em tudo, na verdade. Então ele só fica observando e repudiando da maneira dele. Eu ignoro para não passar nervoso. (Lipe)

Eles acreditavam muito que a homossexualidade é safadeza, mas o que custava eles entenderem é que desde muito, muito novo eu já tenho este desejo. (Potter)

Ele [pai] disse que eu era louco, disse que eu não estava são, que eu não estava com muita certeza, e também por eu não ter um modo de vida ou por eu não ter uma visão de futuro. (Deturpado)

A gente tocou uma vez [no assunto de revelar-se homossexual] que ela, sem olhar muito para mim, com medo, com vergonha, ela perguntou: ‘Mas como aconteceu isso? Você viu em algum lugar e achou legal?' E perguntou se eu queria alguma ajuda de psicólogo, e eu falei ‘se precisar eu aviso', mas eu nunca cheguei a ir. (Dakota)

Os participantes também narraram situações em que a família tentou reprimir a expressão das vivências homoeróticas, muitas vezes, silenciando-se frente a elas e, consequentemente, invisibilizando as práticas, evitando abordar o tema, para que as práticas desviantes fossem de algum modo caladas ou, ao menos, contidas.

Ninguém me questiona, todo mundo sabe, mas não questiona. Ninguém nem se refere a este assunto. Eu acho que eles ficam esperando eu falar que sou gay. (Normal)

[...] olha, eu sou tão longe deles [do pai e do irmão] que não, eles não perguntam [sobre sua sexualidade], devem desconfiar, mas eu não sei se eles desconfiam ou não, sei lá. Eu acho que desconfiam [...] o meu irmão eu acho que desconfia sim, mas o meu pai ele é muito fechado, eu não sei se ele desconfia, se ele sabe, o que ele acha de mim, entendeu? (Chanel)

Destaca-se que de forma menos expressiva, em algumas trajetórias dos adolescentes e jovens participantes da pesquisa, a família, principalmente a figura materna mostrou-se acolhedora e compreensiva no momento da revelação da orientação sexual de seus filhos.

A minha mãe é super de boa, super cabeça aberta, desde pequeno ela sempre conversou comigo, me aceitou. (Afrodite)

Eu mesma me assumi para mim e enfim, me assumi para a minha família, e todos me acolheram de tal forma, tanto que quando eu falei para minha mãe ela só falou para mim que estava esperando a hora certa que eu ia falar para ela, porque ela falou que já sabia! (Sam)

Total, me apoiou totalmente [mãe], não teve um pingo de recriminação na hora que eu me assumi para ela, ela aceitou totalmente. (Chanel)

No entanto, a figura paterna foi a que mais violentou, discriminou e cobrou uma coerência entre sexo, gênero, desejo e práticas sexuais de seus filhos.

Ele [Pai] acha que por eu não ter nascido homem eu não posso ficar com mulher, então ele acha que é errado e ele tem as coisinhas na cabeça dele e a relação é meio conflituosa. (Lipe)

Meu pai me obrigava a fazer umas situações, ele falava que queria que eu fosse macho bastante, e para ele, para ser macho bastante eu tinha que pegar e virar meio copo de pinga pura, ele me obrigou aos oito anos tomar meio copo de pinga pura porque para ele o macho tomaria uma pinga daquelas ali e aguentaria numa boa. (Potter)

Houve implicações deste processo de “saída do armário” para a saúde dos participantes. De acordo com o fragmento abaixo. A violência sofrida no contexto familiar afetou a saúde mental e a qualidade de vida deste jovem, gerando ideação e tentativa de suicídio.

[...] a violência afetou e trouxe consequências gravíssimas na minha vida hoje, eu tinha um ambiente ruim dentro de casa, insuportável [...] na adolescência pensei em me suicidar, minha tia tinha remédio e eu tomava remédio da minha tia, isso com quatorze anos, eu comecei a tomar remédio da minha tia que era antidepressivo, eu ia lá e tomava os remédios [...] tudo isso porque a minha cabeça era uma panela de pressão, e aí eu chegava em casa e ainda tinha os meus tios me cobrando, porque eles não me aceitavam. (Potter)

Expressas nas narrativas dos participantes, as reações dos familiares no processo de revelação de suas orientações sexuais foram, de forma predominante, não acolhedoras e violentas, potencializando a vulnerabilidade à que são expostos, com impacto na saúde e qualidade de vida dos mesmos.

DISCUSSÃO

Para adentrar na discussão dos dados, cabe ressaltar que os questionamentos advindos da Teoria Queer foram utilizados como ferramenta de baliza teórica e epistemológica para a análise do material empírico deste estudo. Dessa forma, faz-se necessário reconhecer que os sujeitos se constroem dentro de um contexto sociocultural marcado por relações de poder, no qual são determinados os padrões de normalidade de ser, estar e se relacionar com os outros, a partir de uma linearidade da matriz heterossexual(1616 Butler J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 2003.), que é pautada no paradigma binário de concepção heterocentrada do humano(2222 Pinafi T. Do Paradigma essencialista para o pós-estruturalismo: uma reflexão epistemológica sobre sexualidade. Temas Psicol [Internet]. 2015 [cited 2017 May 25]; 23(3):693-700. Available from: http://dx.doi.org/10.9788/TP2015.3-13
http://dx.doi.org/10.9788/TP2015.3-13...
).

Diante disso, para compreender o processo de revelação da orientação sexual homossexual, ou “saída do armário” é necessário perceber as negociações e posicionamentos dos sujeitos nos espaços de sociabilidade, possibilitando que a sexualidade seja revelada em determinados contextos ou edificar novos armários e potencializar o sofrimento para o sujeito que se revela(1313 Sedgwick EK. A Epistemologia do armário. In: Cadernos Pagu. Dentzien P.(Trad.). Campinas: Núcleo de Estudos de Gênero Pagu; 2007.). Esse regime de visibilidade dita quais são os modelos de relacionamento reconhecidos e aceitáveis e controla as outras formas de relacionamento por meio da vigilância moral, exigindo que este se mantenha discreto ou invisível, não sendo expresso publicamente(2323 Miskolci R. Negociando visibilidades: segredo e desejo em relações homoeróticas masculinas criadas por mídias digitais. Rev Bagoas [Internet]. 2014 [cited 2017 Feb 20]; 8(11):51-78Available from: https://periodicos.ufrn.br/bagoas/article/download/6543/5073
https://periodicos.ufrn.br/bagoas/articl...
).

No caso de alguns participantes desta investigação, a negociação da “saída do armário” com os membros da família foi possível e com outros não, caracterizando a instabilidade e vulnerabilidade na manipulação do conhecimento sobre a sexualidade de alguém, cuja “verdade” passa pelo controle do julgamento coletivo é um regime que está presente antes e após a revelação da sexualidade(1313 Sedgwick EK. A Epistemologia do armário. In: Cadernos Pagu. Dentzien P.(Trad.). Campinas: Núcleo de Estudos de Gênero Pagu; 2007.). Destaca-se ainda, que esta negociação é imbricada no contexto sociocultural e histórico, em que a hegemonia da heterossexualidade é predominante e definidora do reconhecimento e prestígio social(2323 Miskolci R. Negociando visibilidades: segredo e desejo em relações homoeróticas masculinas criadas por mídias digitais. Rev Bagoas [Internet]. 2014 [cited 2017 Feb 20]; 8(11):51-78Available from: https://periodicos.ufrn.br/bagoas/article/download/6543/5073
https://periodicos.ufrn.br/bagoas/articl...
).

No processo de desconfiança e investigação acerca da sexualidade de seu filho, a família exige, direta ou indiretamente, que a pessoa homossexual se auto revele e, após a revelação, estabelece que o mesmo se auto anule, este processo é entendido enquanto códigos contraditórios do armário(1313 Sedgwick EK. A Epistemologia do armário. In: Cadernos Pagu. Dentzien P.(Trad.). Campinas: Núcleo de Estudos de Gênero Pagu; 2007.). Assim, percebe-se que as relações intrafamiliares se configuram por meio de estruturas de poder, através de tentativas de enquadramento, de controle e de vigilância acerca da sexualidade, buscando torná-la compulsoriamente heterossexual.

Dessa forma, durante esse processo de revelação da sexualidade, a família exige a linearidade entre sexo, gênero, desejo e práticas sexuais, a fim de garantir e preservar ordem heterossexual. Muitas famílias, ao se depararem com a dissidência da heterossexualidade de seus membros, realizam uma série de punições, que vão desde ofensas verbais leves até violências físicas sérias(2424 Schulman S. Homofobia familiar: uma experiência em busca de reconhecimento. Rev Bagoas [Internet]. 2010 [cited 2017 Jan 15];(5):67-78. Available from: https://periodicos.ufrn.br/bagoas/article/view/2312/1745
https://periodicos.ufrn.br/bagoas/articl...
). Estudos apontam que a rejeição e violência familiar no processo de “outcoming” e o não fornecimento de apoio social tem impacto direto na saúde de adolescentes e jovens homossexuais, com consequências tais como: isolamento social, depressão, ideação e tentativa de suicídio, baixo desempenho escolar, baixa autoestima, maiores exposições sociais e aumento da homofobia internalizada(11 Ortiz-Hernández L, Valencia-Valero RG. Disparidades em salud mental asociadas a la orientación sexual en adolescentes mexicanos. Cad Saúde Pública [Internet]. 2015 [cited 2017 May 24]; 31(2):417-30. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00065314
http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00065...
-22 Puckett JA, Woodward EN, Mereish EH, Pantalone DW. Parental rejection following sexual orientation disclosure: impact on internalized homophobia, social support, and mental health. LGBT Health [Internet]. 2015 [cited 2017 May 23]; 2(3):265-9. Available from: http://online.liebertpub.com/doi/10.1089/lgbt.2013.0024
http://online.liebertpub.com/doi/10.1089...
,2525 Soliva T, Silva Jr JB. Entre revelar e esconder: pais e filhos em face da descoberta da homossexualidade. Sex Salud Soc [Internet]. 2014 [cited 2017 Feb 20];(17):124-48. Available from: http://www.scielo.br/pdf/sess/n17/1984-6487-sess-17-0124.pdf
http://www.scielo.br/pdf/sess/n17/1984-6...
-2626 Natarelli TRP, Braga IF, Oliveira WA, Silva MAI. The impact of homophobia on adolescent health. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2015 [cited 2017 Jan 15]; 19(4):664-70. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n4/en_1414-8145-ean-19-04-0664.pdf
http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n4/en_14...
).

Dados de uma pesquisa realizada com dez mulheres que vivenciavam modos de vida dissidentes da normativa heterossexual, com enfoque na homofobia no contexto familiar, revelaram que as famílias exercem controle sobre seus membros de modo a manter a compulsoriedade da heterossexualidade. Com relação à homofobia no contexto familiar, apenas aquelas que não assumiram a sua dissidência erótica para seus familiares não sofreram ataques homofóbicos diretos da mesma. Ainda que, de modos indiretos, todas elas percebiam que esse modo de vivência do erotismo não era aprovado ou considerado desejável, e que, caso fosse revelado, elas poderiam passar por situações de violências(2727 Toledo LG, Teixeira Filho FS. Homofobia familiar: abrindo o armário ‘entre quatro paredes'. Arq Bras Psicol [Internet]. 2013 [cited 2017 Jan 15]; 65(3):376-91. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/arbp/v65n3/05.pdf
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/arbp/v65n3...
). Outra pesquisa, realizada com jovens universitários do sexo masculino, entre 18 e 24 anos, que se auto identificavam como homossexuais, buscando desvelar as tensões geradas entre estes jovens com suas famílias de origem, em face da descoberta da homossexualidade, revelaram que a família se apresenta enquanto cenário de conflitos e de violências, tanto físicas quanto psicológicas a partir da revelação da homossexualidade(2525 Soliva T, Silva Jr JB. Entre revelar e esconder: pais e filhos em face da descoberta da homossexualidade. Sex Salud Soc [Internet]. 2014 [cited 2017 Feb 20];(17):124-48. Available from: http://www.scielo.br/pdf/sess/n17/1984-6487-sess-17-0124.pdf
http://www.scielo.br/pdf/sess/n17/1984-6...
).

Resultados da pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo apontam que a família é um dos maiores espaços de discriminação homofóbica(2828 Prado MAM, Junqueira RD. Homofobia, hierarquização e humilhação social. In: Venturi G, Bokany V, (Org.). Diversidade sexual e homofobia no Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo; 2011.). Corroborando outras pesquisas realizadas em diversas capitais brasileiras durante as paradas LGBT, em que a família era o primeiro ou segundo espaço de violência homofóbica(2929 Carrara S, Ramos S. Política, direitos, violência e homossexualidade: Pesquisa 9ª Parada do Orgulho GLBT: Rio 2004. Rio de Janeiro: CEPESC; 2005.

30 Carrara S, Facchini R, Simões J, Ramos S. Política, direitos, violência e homossexualidade: Pesquisa 9ª Parada do Orgulho GLBT - São Paulo 2005. Rio de Janeiro: CEPESC; 2006.

31 Knauth D, Benedetti M, (Org.). Política, direitos, violência e homossexualidade: Pesquisa 8ª Parada Livre de Porto Alegre. Relatório de pesquisa. Porto Alegre: CEPESC; 2006.
-3232 Prado MAM, Rodrigues CS, Machado FV. Participação, política e homossexualidades: 8ª Parada GLBT de Belo Horizonte. Belo Horizonte: Prefeitura Municipal de Belo Horizonte; 2006.).

Consoante aos resultados destes estudos, as experiências vivenciadas pelos participantes desta investigação evidenciam as posturas heteronormativas da família, legitimando a produção e a manutenção de diversas situações de violência, culminando muitas vezes na expulsão/saída da casa de origem ou na submissão às violências, explícitas ou sutis, potencializando a vulnerabilidade na qual estes adolescentes e jovens estão expostos, gerando impactos em suas saúdes e qualidades de vida. As situações de violência no contexto familiar se constituem a partir de dispositivos com efeitos psicossociais no curso de vida dos adolescentes e jovens, por meio de mecanismos subjetivos que mantém o silêncio e a impotência diante da violência não apenas física, mas, sobretudo, simbólica, por meio dos quais a norma heterossexual submete jovens gays e lésbicas às estratégias biopolíticas de controle dos seus corpos.

As narrativas acerca do distanciamento dos participantes com a figura paterna e a proximidade das figuras femininas da rede social corroboram outros estudos sobre a dificuldade dos pais em aceitar a homossexualidade e terem uma relação de intimidade com seus filhos(3333 Seutter RA, Rovers M. Emotionally absent fathers: Furthering the understanding of homosexuality. J Psychol Theol [Internet]. 2004 [cited 2017 May 25]; 32(1):43-9. Available from: http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.471.9777&rep=rep1&type=pdf
http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/dow...
-3434 Campos LS, Guerra VM. O ajustamento familiar: associações entre o apoio social familiar e o bem-estar de homossexuais. Psicol Rev [Internet]. 2016 [cited 2017 May 25]; 25(1):33-57. Available from: http://revistas.pucsp.br/index.php/psicorevista/article/view/29609/20615Portuguese
http://revistas.pucsp.br/index.php/psico...
). Este distanciamento do pai e das outras figuras masculinas do homossexual reforça o modelo de masculinidade hegemônico, que estabelece culturalmente e historicamente a valorização da masculinidade heterossexual, branca, de classe média, e que estabelece relações de poder tanto com a mulher, quanto com aqueles que desviam dos padrões desta masculinidade(3535 Gomes R. Sexualidade masculina, gênero e saúde. 1th ed. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2008.). Diante disso, a violência, o preconceito e a discriminação estabelecem uma relação de manutenção do status quo desta masculinidade, que precisa ser reafirmada e atestada.

Destaca-se a família como uma rede de apoio, acolhimento e proteção importante, principalmente para promover o bem-estar e proteger contra sofrimento mental e a homofobia internalizada, mas também como um espaço que pode gerar e reproduzir formas de violência e adoecimento em nome da “heteronormatividade”(3636 Shilo G, Antebi N, Mor Z. Individual and community resilience factors among lesbian, gay, bisexual, queer and questioning youth and adults in Israel. Am J Commun Psychol [Internet]. 2015 [cited 2017 May 25]; 55(1-2):215-27. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25510593
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2551...
).

Assim, considerando as fragilidades e as dificuldades das famílias diante do processo de revelação da sexualidade, os serviços e profissionais de educação, saúde e assistência social, podem auxiliar no fortalecimento de vínculos e encaminhamento de casos de violência, trabalhando de fato enquanto rede de apoio social, no sentido de desconstrução das posturas heteronormativas e homofóbicas em busca da efetivação dos direitos destes adolescentes e jovens.

No escopo da saúde, essa problemática precisa ser melhor qualificada e abordada pelos profissionais nessa área, com uma necessária qualificação e sensibilização tanto no reconhecimento quanto na notificação da violência e intervenção, voltada para a população LGBT. Deve ser dada a devida atenção, sobretudo às situações de violações dos direitos, com vista à um atendimento humanizado, com base na integralidade do cuidado e assistência.

Limitações do estudo

Articulações da temática com outras variáveis como questões raciais, de gênero e de classe social se configuram como uma limitação que poderá ser superada em outros estudos prospectivos.

Contribuições para a área da enfermagem, saúde ou política pública

O estudo contribui com argumentos para se problematizar a linha de cuidado para a atenção integral à saúde do adolescente e suas famílias, baseando-se na Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis/Transexuais, e auxiliar na construção de ações de combate à homofobia e promoção da saúde, bem como de articulação da rede social dos sujeitos.

Oferece contribuições para a maior visibilidade do fenômeno da violência perpetrada pela família contra adolescentes e jovens gays e lésbicas, destacando as implicações do processo de “saída do armário” para a saúde e qualidade de vida destes. Nesse sentido, amplia-se a compreensão sobre a problemática, apontando para uma necessária articulação da atenção à saúde e a integralidade do cuidado para o acolhimento e atendimento, na perspectiva intersetorial e interdisciplinar, para uma maior resolutividade das necessidades desta população. Impõe-se refletir sobre o trabalho em saúde e enfermagem junto à população LGBT contribuindo para a redução das desigualdades e estabelecimento de uma atenção universal, integral e equitativa conforme preconizado pelo Sistema Único de Saúde - SUS. Os serviços e a área de saúde podem, ainda, utilizar esse estudo em processos formativos e de treinamento para contrariar a cultura da homofobia institucionalizada e de violência contra adolescentes e jovens homossexuais que, muitas vezes, tornam os serviços inacessíveis para essa população.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo apresentou narrativas de adolescentes e jovens gays e lésbicas no processo de revelação da orientação sexual às suas famílias. Observou-se que as reações dos familiares ao se depararem com a ‘saída do armário' dos adolescentes e jovens foram violentas, com o controle, a vigilância, perseguição e até expulsão de casa, além da repressão das expressões das vivências homoeróticas, muitas vezes silenciando-se frente a elas. De forma menos expressiva, houve situações de compreensão e acolhimento. A família é um importante componente da rede de apoio social destes adolescentes e jovens, podendo potencializar a vulnerabilidade ou aumentar a resiliência, através do apoio social.

No caso dos adolescentes e jovens participantes deste estudo, a família reproduziu discursos e práticas heteronormativas, discriminando as dissidências de seus filhos e buscando recolocá-los, através da violência, dentro da norma heterossexual. Assim sendo, destaca-se a necessidade de se construir uma agenda de pesquisas para a melhor compreensão deste fenômeno e para o delineamento de políticas públicas capazes de sensibilizar profissionais e práticas de cuidado e atenção à família e ao adolescente e jovem vítima de violência.

  • FOMENTO
    Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Número do Processo 2014/00701-1.

REFERENCES

  • 1
    Ortiz-Hernández L, Valencia-Valero RG. Disparidades em salud mental asociadas a la orientación sexual en adolescentes mexicanos. Cad Saúde Pública [Internet]. 2015 [cited 2017 May 24]; 31(2):417-30. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00065314
    » http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00065314
  • 2
    Puckett JA, Woodward EN, Mereish EH, Pantalone DW. Parental rejection following sexual orientation disclosure: impact on internalized homophobia, social support, and mental health. LGBT Health [Internet]. 2015 [cited 2017 May 23]; 2(3):265-9. Available from: http://online.liebertpub.com/doi/10.1089/lgbt.2013.0024
    » http://online.liebertpub.com/doi/10.1089/lgbt.2013.0024
  • 3
    Needham BL, Austin EL. Sexual orientation, parental support, and health during the transition to young adulthood. J Youth Adolesc [Internet]. 2010 [cited 2017 May 23]; 39(10):1189-98. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20383570
    » https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20383570
  • 4
    Moreira JO, Rosário AB, Santos AP. Juventude e adolescência: considerações preliminares. Psicol [Internet]. 2011 [cited 2017 Mar 15]; 42(4):457-64. Available from: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/view/8943/7450
    » http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/view/8943/7450
  • 5
    Oliveira VM. Identidades interseccionadas e militâncias políticas. In: Grossi M, Uziel AP, Melo L. Conjugalidades, parentalidades e identidades lésbicas, gays e travestis. Rio de Janeiro: Garamond; 2007.
  • 6
    Costa Jr FM, Couto MT. Geração e categorias geracionais nas pesquisas sobre saúde e gênero no Brasil. Saúde Soc [Internet]. 2015 [cited 2017 Mar 15]; 24(4):1299-315. Available from: http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v24n4/1984-0470-sausoc-24-04-01299.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v24n4/1984-0470-sausoc-24-04-01299.pdf
  • 7
    Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF. O direito de ser adolescente: oportunidade para reduzir vulnerabilidades e superar desigualdades. Brasília: Unicef; 2011. 182 p.
  • 8
    Miskolci RA. A teoria queer e a sociologia: o desafio de uma analítica da normalização. Sociol [Internet]. 2009 [cited 2017 Feb 20]; 11(21):150-82. Available from: http://www.scielo.br/pdf/soc/n21/08.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/soc/n21/08.pdf
  • 9
    Borrillo D. Homofobia. In: Lionço T, Diniz D. (Orgs.). Homofobia e Educação: um desafio ao silêncio. Brasília: Letras Livres: Ed UnB; 2009.
  • 10
    Eribon D. Reflexões sobre a questão gay. Rio de Janeiro: Companhia de Freud; 2008.
  • 11
    Berg RC, Munthe-Kass HM, Ross MW. Internalized Homonegativity: a systematic mapping review of empirical research. J Homosex [Internet]. 2016 [cited 2017 May 25]; 63(4):541-58. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26436322
    » https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26436322
  • 12
    Ryan C, Huebner D, Diaz RM, Sanchez J. Family rejection as a predictor of negative health outcomes in white and latino lesbian, gay, and bisexual young adults. Pediatr [Internet]. 2009 [cited 2017 Feb 20]; 123(1). Available from: http://pediatrics.aappublications.org/content/123/1/346
    » http://pediatrics.aappublications.org/content/123/1/346
  • 13
    Sedgwick EK. A Epistemologia do armário. In: Cadernos Pagu. Dentzien P.(Trad.). Campinas: Núcleo de Estudos de Gênero Pagu; 2007.
  • 14
    Sluzki, CE. A rede social na prática sistêmica. Berliner C. (Trad.). São Paulo: Casa do Psicólogo; 1997.
  • 15
    Bos H, Gartrell N. Adolescents of the USA National Longitudinal Lesbian Family Study: can family characteristics counteract the negative effects of stigmatization? Fam Process [Internet]. 2010 [cited 2017 Feb 20]; 49(4):559-72. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21083555
    » https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21083555
  • 16
    Butler J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 2003.
  • 17
    Hanneman R, Riddle M. Introduction to social network methods. Riverside, CA: University of California, Riverside; 2009.
  • 18
    Minayo MCS. O desafio do conhecimento: a pesquisa qualitativa em saúde. 12. ed. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro; 2012. 407 p.
  • 19
    Gomes R, Souza ER, Minayo MCS, Malaquias JV, Silva CFR. Organização, processamento, análise e interpretação de dados: o desafio da triangulação. In: Minayo MCS, Assis SG, Souza ER. Avaliação por triangulação de métodos: abordagem de programas sociais. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2005.
  • 20
    Brah A. Diferença, diversidade, diferenciação. Cadernos Pagu [Internet]. Campinas 2006 [cited 2017 Fev 20];(26):329-76. Available from: http://www.scielo.br/pdf/cpa/n26/30396.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/cpa/n26/30396.pdf
  • 21
    Gomes R, Leal AF, Knauth D, Silva GSN. Sentidos atribuídos à política voltada para a Saúde do Homem. Ciênc Saúde Colet [Internet]. 2012 [cited 2017 May 25]; 17(10):2589-96. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n10/en_08.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n10/en_08.pdf
  • 22
    Pinafi T. Do Paradigma essencialista para o pós-estruturalismo: uma reflexão epistemológica sobre sexualidade. Temas Psicol [Internet]. 2015 [cited 2017 May 25]; 23(3):693-700. Available from: http://dx.doi.org/10.9788/TP2015.3-13
    » http://dx.doi.org/10.9788/TP2015.3-13
  • 23
    Miskolci R. Negociando visibilidades: segredo e desejo em relações homoeróticas masculinas criadas por mídias digitais. Rev Bagoas [Internet]. 2014 [cited 2017 Feb 20]; 8(11):51-78Available from: https://periodicos.ufrn.br/bagoas/article/download/6543/5073
    » https://periodicos.ufrn.br/bagoas/article/download/6543/5073
  • 24
    Schulman S. Homofobia familiar: uma experiência em busca de reconhecimento. Rev Bagoas [Internet]. 2010 [cited 2017 Jan 15];(5):67-78. Available from: https://periodicos.ufrn.br/bagoas/article/view/2312/1745
    » https://periodicos.ufrn.br/bagoas/article/view/2312/1745
  • 25
    Soliva T, Silva Jr JB. Entre revelar e esconder: pais e filhos em face da descoberta da homossexualidade. Sex Salud Soc [Internet]. 2014 [cited 2017 Feb 20];(17):124-48. Available from: http://www.scielo.br/pdf/sess/n17/1984-6487-sess-17-0124.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/sess/n17/1984-6487-sess-17-0124.pdf
  • 26
    Natarelli TRP, Braga IF, Oliveira WA, Silva MAI. The impact of homophobia on adolescent health. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2015 [cited 2017 Jan 15]; 19(4):664-70. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n4/en_1414-8145-ean-19-04-0664.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n4/en_1414-8145-ean-19-04-0664.pdf
  • 27
    Toledo LG, Teixeira Filho FS. Homofobia familiar: abrindo o armário ‘entre quatro paredes'. Arq Bras Psicol [Internet]. 2013 [cited 2017 Jan 15]; 65(3):376-91. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/arbp/v65n3/05.pdf
    » http://pepsic.bvsalud.org/pdf/arbp/v65n3/05.pdf
  • 28
    Prado MAM, Junqueira RD. Homofobia, hierarquização e humilhação social. In: Venturi G, Bokany V, (Org.). Diversidade sexual e homofobia no Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo; 2011.
  • 29
    Carrara S, Ramos S. Política, direitos, violência e homossexualidade: Pesquisa 9ª Parada do Orgulho GLBT: Rio 2004. Rio de Janeiro: CEPESC; 2005.
  • 30
    Carrara S, Facchini R, Simões J, Ramos S. Política, direitos, violência e homossexualidade: Pesquisa 9ª Parada do Orgulho GLBT - São Paulo 2005. Rio de Janeiro: CEPESC; 2006.
  • 31
    Knauth D, Benedetti M, (Org.). Política, direitos, violência e homossexualidade: Pesquisa 8ª Parada Livre de Porto Alegre. Relatório de pesquisa. Porto Alegre: CEPESC; 2006.
  • 32
    Prado MAM, Rodrigues CS, Machado FV. Participação, política e homossexualidades: 8ª Parada GLBT de Belo Horizonte. Belo Horizonte: Prefeitura Municipal de Belo Horizonte; 2006.
  • 33
    Seutter RA, Rovers M. Emotionally absent fathers: Furthering the understanding of homosexuality. J Psychol Theol [Internet]. 2004 [cited 2017 May 25]; 32(1):43-9. Available from: http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.471.9777&rep=rep1&type=pdf
    » http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.471.9777&rep=rep1&type=pdf
  • 34
    Campos LS, Guerra VM. O ajustamento familiar: associações entre o apoio social familiar e o bem-estar de homossexuais. Psicol Rev [Internet]. 2016 [cited 2017 May 25]; 25(1):33-57. Available from: http://revistas.pucsp.br/index.php/psicorevista/article/view/29609/20615Portuguese
    » http://revistas.pucsp.br/index.php/psicorevista/article/view/29609/20615Portuguese
  • 35
    Gomes R. Sexualidade masculina, gênero e saúde. 1th ed. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2008.
  • 36
    Shilo G, Antebi N, Mor Z. Individual and community resilience factors among lesbian, gay, bisexual, queer and questioning youth and adults in Israel. Am J Commun Psychol [Internet]. 2015 [cited 2017 May 25]; 55(1-2):215-27. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25510593
    » https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25510593

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2018

Histórico

  • Recebido
    08 Maio 2017
  • Aceito
    16 Jun 2017
Associação Brasileira de Enfermagem SGA Norte Quadra 603 Conj. "B" - Av. L2 Norte 70830-102 Brasília, DF, Brasil, Tel.: (55 61) 3226-0653, Fax: (55 61) 3225-4473 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: reben@abennacional.org.br