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Sistemas econômicos e sociedade: capitalismo, comunismo e Terceiro Mundo

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Antonio Celso Agune

Sistemas econômicos e sociedade: capitalismo, comunismo e Terceiro Mundo

Por George Dalton. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1977. 226 p.

Trata-se da tradução feita por José Fernandes Dias da primeira versão inglesa do livro, publicada em 1974 por Penguin Books, de Harmondsworth, Middlesex, Inglaterra; cujo título original é: Economic systems and society: capitalism, communism and The Third World.

O autor procura descrever os aspectos mais importantes do funcionamento e evolução dos sistemas econômicos. Iniciando sua análise na Revolução Industrial, passa pelos vários estágios do capitalismo e pelo socialismo, até chegar às economias em desenvolvimento do Terceiro Mundo.

A obra é dividida em duas partes: a primeira, compreendendo o período de 1750 a 1950, abrange os quatro capítulos iniciais; a segunda, de 1950 em diante, é composta pelos três últimos.

No primeiro capítulo - Capitalismo do século XIX: máquinas e mercados (p. 21-59) descreve a Revolução Industrial na Inglaterra como fruto de aproximadamente 500 anos de desenvolvimento comercial e agrícola e de profundas alterações políticas. Procura demonstrar que a Revolução Industrial, apesar de proporcionar enormes benefícios às populações - aumento da renda, diminuição do analfabetismo, melhoria nos níveis de nutrição, etc. - deu origem, também, a uma série de novos problemas, como por exemplo a miséria urbana, a devastação do meio ambiente, o desemprego esporádico e outros tantos.

Tece também uma crítica aos historiadores quanto à análise dos benefícios da Revolução Industrial dizendo que "... a esquerda avalia a Revolução Industrial como uma catástrofe social, parcialmente porque deseja reformar ou socializar o capitalismo. A direita avalia a Revolução Industrial como uma forma de desenvolvimento progressivo para a humanidade, parcialmente porque deseja preservar o capitalismo..." (p. 34). Contudo o autor não deixa transparecer sua posição sobre o assunto, preferindo dar como justificativa as dificuldades de análise do período (falta de dados e guerras).

Analisa, ainda que de modo muito simplista, o que foi a doutrina do laissez-faire e sua participação no processo de desenvolvimento capitalista.

No segundo capítulo, descreve as diversas correntes e experiências socialistas - socialismo utópico, marxista e democrático - tendo como premissa básica o fato de serem respostas ou alternativas aos problemas encontrados no sistema capitalista. Tece algumas considerações sobre a teoria de Marx, colocando como causas para sua não aceitação imediata fatos que, a meu ver, são pouco significativos, como a linguagem (negação da negação, mais-valia) e uma certa deficiência teórica em alguns pontos; deixando de fazer referência a aspectos relevantes como, por exemplo, o interesse de classe e o aspecto ideológico desta.

No terceiro capítulo - O capitalismo do bem-estar, 1930/50 (p. 89-108) - definido como "... o capitalismo regulamentado pela intervenção estatal" (p. 90), procura demonstrar as mudanças estruturais que ocorreram neste período, colocando o New Deal (1933/8) e a Teoria Geral de Keynes (1936) como fatos marcantes destas alterações. O primeiro por ser uma ruptura nítida com o passado e o segundo por oferecer uma base teórica para esta ação.

Analisa, embora rapidamente, o primeiro governo trabalhista majoritário na Inglaterra (1945/51), "jogando" uma afirmação bastante discutível:"... a justificativa para as medidas de nacionalização (na Inglaterra) foi especificamente econômica e não ideológica" (p. 104). Com isso, demonstra acreditar que, independentemente da classe que assumiu o poder, as medidas governamentais seriam as mesmas; já que o fator de decisão foi o econômico.

No quarto capítulo - A economia soviética de 1917/53 (p. 111-37) - procura realçar as principais diferenças entre o período stalinista e o capitalismo de bem-estar até 1950. A esse respeito, considera que "... a economia de comando soviético equivale funcionalmente à economia de mercado capitalista ..." (p. 123), apesar de a primeira concentrar seus esforços na produção de bens de investimento e militares, estipulados pelo planejamento central. Cabe, aqui, uma certa dúvida quanto aos objetivos do capitalismo de bem-estar colocados pelo autor: pleno emprego, redução nas disparidades da distribuição da renda, etc. Isso porque, segundo alguns autores, como J. Gurley, os objetivos da política econômica norte-americana seriam outros; por exemplo, a manutenção de uma taxa de desemprego ao redor de 6% para diminuir o poder de barganha dos trabalhadores e a ampliação ou manutenção do mundo capitalista.

Analisa, ainda, algumas das imperfeições do sistema soviético, como os altos custos da polícia secreta e da censura e a inexistência dos ganhos do comércio exterior.

Na segunda parte do livro, que descreve os sistemas econômicos a partir de 1950, o quinto capítulo - As economias capitalistas reformadas (p. 141-63) - relata alguns aspectos das economias capitalistas desenvolvidas, como os serviços de bem-estar, a gerência científica, a distribuição da renda e, também, a experiência francesa de planejamento.

No sexto capítulo - As novas economias comunistas (p. 166-89) - o autor descreve, rapidamente, as experiências da China e Iugoslávia, bem como as alterações sofridas no sistema soviético - vale a pena ressaltar que o autor não faz distinção alguma entre socialismo e comunismo, usando indistintamente tanto um como outro termo.

Discute, ainda, o fato de as economias capitalistas e socialistas estarem ou não convergindo para um mesmo ponto, afirmando que, apesar de as semelhanças entre ambos os sistemas estarem-se acentuando, são poucas as evidências de uma possível fusão futura.

No último capítulo - As economias em desenvolvimento no Terceiro Mundo (p. 191-228) - após relatar as dificuldades de análise dos países que o compõem, devido às grandes diferenças entre eles - cultura, tradição, estágio de desenvolvimento, etc. - procura listar algumas características comuns, como por exemplo o baixo nível de renda, a alta taxa de analfabetismo, a dependência do setor agrícola e a concentração da renda. Analisa, ainda de forma rápida e simplista, as vantagens e desvantagens enfrentadas por esses países retardatários no processo de desenvolvimento.

Por fim, demonstra certo receio com relação aos gastos militares nos países subdesenvolvidos, gastos estes que aumentaram a uma taxa média anual de 8%, enquanto o PNB cresceu a uma taxa média anual de 4,7% nos últimos anos, ocupando, na maioria dos casos, o primeiro lugar no orçamento público.

Apesar das limitações levantadas, acredito que esta obra atinge perfeitamente os objetivos propostos pelo próprio autor, qual seja o de "... destinar-se aos estudantes universitários que iniciam suas leituras em economia, ciências sociais e história econômica" (p. 11).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Ago 2013
  • Data do Fascículo
    Mar 1978
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