Atuação do Nurse Navigator: revisão integrativa

Actuación del Nurse Navigator: revisión integrativa

Resumo

OBJETIVO

Conhecer a produção científica sobre o enfermeiro atuando na oncologia com a função de navegador de pacientes, Nurse Navigator.

MÉTODOS

Revisão integrativa com buscas nas bases de dados LILACS, MEDLINE/PubMed, SCOPUS, SciELO, Web of Science e Science Direct, utilizando os descritores: patient; navigation; nurse; professional; cancer; oncology; navigator e navigators.

RESULTADOS

Identificaram-se 17 artigos. Estes foram agrupados conforme a abordagem temática: Processos Assistenciais; Pacientes; e Profissionais de Saúde. Evidenciou-se que o conhecimento científico produzido sobre Nurse Navigator concentra-se nos Estados Unidos, Austrália, Canadá, Suécia e Dinamarca, países onde os primeiros Programas de Navegação de Pacientes foram implantados. Não houveram estudos publicados em periódicos ou populações locais.

CONCLUSÕES

A atuação do Nurse navigator, proporciona um diferencial para a qualidade assistencial dos serviços. Apesar de serem recentes as pesquisas internacionais abordando o tema, ficou claro que ainda se faz necessária a realização de mais estudos acerca do papel deste profissional.

Palavras-chave:
Enfermagem; Navegação de pacientes; Paciente; Oncologia

Resumen

OBJETIVO

Conocer la producción científica sobre enfermero actuando en oncología con la función de navegador de pacientes, Nurse Navigator.

MÉTODOS

Revisión integradora con búsqueda en bases de datos LILACS, MEDLINE/PubMed, SCOPUS, SciELO, Web of Science y Science Direct, utilizando descriptores: patient; navigation; nurse; professional; cancer; oncology; navigator y navigators.

RESULTADOS

Se identificaron 17 artículos. Se agruparon conforme abordaje temático: Procesos Asistenciales; Pacientes; y Profesionales de Salud. Se evidenció que el conocimiento científico producido sobre Nurse Navigator se concentra en Australia, Estados Unidos, Canadá, Suecia y Dinamarca, países donde se implantaron los primeros Programas de Navegación de Pacientes. No hay estudios publicados en periódicos o poblaciones locales.

CONCLUSIONES

La actuación del Nurse navigator, proporciona un diferencial para la calidad asistencial de los servicios. A pesar de recientes las investigaciones internacionales abordando el tema, se hace necesaria la realización de más estudios acerca del papel de este profesional.

Palabras clave:
Enfermería; Navegación de pacientes; Paciente; Oncología médica

Abstract

OBJECTIVE

To identify scientific literature on oncology nurses who provide patient navigation services as nurse navigators.

METHODS

Integrative review of literature searches in the databases LILACS, MEDLINE/PubMed, SCOPUS, SciELO, Web of Science and Science Direct based on the descriptors patient; navigation; nurse; professional; cancer; oncology; navigator; and navigators.

RESULTS

Seventeen articles were identified and grouped according to the following thematic approach: Care Processes; Patients; and Health Workers. It was observed that scientific literature on nurse navigators mostly comes from the United States, Australia, Canada, Sweden, and Demark, where the first nurse navigator programmes were introduced. No studies were found in local journals or populations.

CONCLUSIONS

The nurse navigator offer a unique service for the provision of quality care. Although international research is recent, further studies on the role of these professionals are clearly needed.

Keywords:
Nursing; Patient navigation; Patient; Medical oncology

INTRODUÇÃO

A navegação de pacientes na área da saúde é um conceito desenvolvido pelo médico americano Harold Freeman, em 1990, idealizado com a finalidade de agilizar a confirmação do diagnóstico e garantir a continuidade do tratamento, do início ao fim, de pessoas com alguma doença crônica, comprovada ou não¹. Esse processo prevê que um indivíduo, denominado navegador de paciente, guie as pessoas, ajudando-as a ultrapassar as barreiras socioeconômicas, financeiras, culturais, burocráticas e psicológicas que dificultem o acesso aos serviços e sistemas de saúde¹. Utiliza-se amplamente nos Estados Unidos direcionado aos pacientes com câncer, para aumentar a probabilidade da adesão efetiva ao tratamento recomendado². Em parceria com a American Cancer Society (ACS), esse médico desenvolveu o primeiro programa, denominado Patient Navigator Program, no Hospital Harlem, em Nova York, em que os navegadores eram voluntários (profissionais da saúde e leigos)¹.

Esses programas se concentram na identificação das barreiras enfrentadas pelo paciente para acessar o tratamento oncológico, tendo como objetivo reduzir os atrasos no acesso aos serviços, beneficiando tanto pacientes em início de investigação e tratamento quanto aqueles em cuidados paliativos². Os navegadores avaliam as necessidades dos pacientes e, junto a eles, desenvolvem um plano para superar as barreiras que impedem o acesso aos cuidados de alta qualidade³.

A partir do primeiro Programa de Navegadores de Pacientes, surgiu a figura do Nurse Navigator para a assistência ao paciente oncológico⁴. Esses profissionais da área da oncologia utilizam o seu conhecimento especializado, experiência clínica e competências para proporcionar aos pacientes um cuidado focado nos aspectos físicos, sociais e emocionais⁵. Direcionam e guiam os pacientes, familiares e cuidadores para a tomada de decisão conjunta com equipe multidisciplinar responsável pelo tratamento⁴. As ações desenvolvidas vão além do manejo do cuidado: supervisionam todo o processo de tratamento, empoderam os pacientes, fornecem informações e suporte, atuam como elo de ligação entre eles e os profissionais da equipe⁴.

O empoderamento surge no paciente a partir de um processo educativo direcionado para ajudar a transmitir conhecimentos e desenvolver habilidades, atitudes e autoconhecimento, permitindo gerenciar a sua condição de saúde e participar ativamente do tratamento⁶. Pacientes empoderados interagem de forma mais eficaz com os profissionais de saúde, pois estão mais informados, envolvidos e responsabilizados⁶.

Estudo realizado nos Estados Unidos⁷ avaliou a atuação dos enfermeiros navegadores na assistência ao paciente com câncer, evidenciando que esses profissionais melhoraram significativamente a percepção do paciente acerca do seu tratamento. Os pacientes sentiram-se mais envolvidos no seu cuidado e mais bem preparados para o futuro, pois tinham mais conhecimento sobre a forma como o câncer afeta suas vidas⁷.

A navegação de pacientes continua a evoluir⁵. Atualmente, nos programas internacionais, os navegadores são profissionais da área da saúde, estudantes e leigos voluntários, cada um com atribuições específicas de acordo com o seu nível de conhecimento. No Brasil, existem poucas instituições de saúde com esse tipo de programa implantado; nos locais onde o mesmo vigora, o serviço é direcionado a pacientes com câncer de mama, sendo a navegação realizada por assistentes sociais e enfermeiros^8-9. A figura do enfermeiro navegador, com as suas atribuições, especificidades e com a importância do papel que ele desempenha em âmbito internacional, não existe no país.

Considera-se um diferencial importante a existência do enfermeiro navegador nos serviços de oncologia do Brasil, pois, além de ajudar o paciente a superar o impacto do diagnóstico e a dificuldade de entendimento da evolução da doença, auxilia a transpor barreiras que dificultam o acesso ao sistema de saúde e que, portanto, atrasam o tratamento.

Por esse motivo, duas autoras deste artigo, por atuarem em um hospital de referência em oncologia reconhecido como um Centro de Alta Complexidade em Oncologia (CACON), revisaram a bibliografia sobre Nurse Navigator para desenvolver e implantar esse tipo de programa. Este estudo tem por objetivo: conhecer a produção de artigos científicos sobre o enfermeiro atuando na oncologia com a função de navegador de pacientes, Nurse Navigator; e, assim, tem o propósito de oferecer subsídios para a reflexão sobre esse tipo de serviço e o papel do profissional enfermeiro.

MÉTODO

Trata-se de uma revisão integrativa, método amplamente utilizado internacionalmente em pesquisas na área da enfermagem e na prática baseada em evidências por sintetizar achados de estudos com diferentes metodologias em uma mesma revisão¹⁰. As seis etapas para sua estruturação foram: 1) identificação do tema e elaboração da questão norteadora da pesquisa; 2) definição dos critérios de inclusão e exclusão dos estudos e escolha das bases de dados para a busca; 3) definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados e categorização dos mesmos; 4) avaliação dos estudos selecionados; 5) interpretação e discussão dos resultados; e 6) proposta de análise e síntese dos dados e apresentação do conhecimento produzido¹¹.

A questão norteadora de pesquisa definida foi: Quais os conhecimentos divulgados por artigos científicos abordando o tema Nurse Navigator? Os critérios de inclusão estabelecidos foram: artigos científicos publicados na íntegra com livre acesso online; nos idiomas português, ou espanhol ou inglês; com abordagem sobre a questão de pesquisa; de todas as tipologias e sem delimitação do período de publicação. Consideraram-se como critérios de exclusão: publicações classificadas como editorial, cartas, dissertações, teses, manuais e protocolos.

Foram definidas as buscas em bases de dados eletrônicas na área da saúde, a saber: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE/PubMed), SCOPUS, Web of Science e as bibliotecas Scientific Eletronic Library Online (SciELO), e Science Direct. A identificação dos artigos nas bases ocorreu no período de 26 de agosto até 06 de setembro de 2016, utilizando descritores controlados obtidos nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e no Medical Subject Headings (MeSH): patient; navigation; nurse; professional; cancer; oncology. Também foram utilizados dois descritores não controlados: navigator e navigators. Os mesmos foram combinados entre si pelos operadores booleanos “AND” e/ou “OR” usando as combinações apresentadas no Quadro 1.

Quadro 1
Descritores combinados com operadores booleanos utilizados nas etapas de busca dos artigos

Inicialmente, as autoras realizaram a identificação dos títulos e posteriormente dos resumos, com a finalidade de selecionar os artigos que atendiam aos critérios de inclusão. Ainda, se buscou descrever os países de origem dos periódicos e das populações estudadas. Conforme apresentado na Tabela 1, encontraram-se 395 artigos, sendo excluídos 292 após a leitura do título. Dos 103 artigos que restaram da primeira seleção, foram eliminados 74 após a leitura dos resumos por apresentarem um ou mais critérios de exclusão e oito por serem repetidos em diferentes bases de dados. Após a leitura dos artigos na íntegra, foram excluídos quatro, visto que não abordavam diretamente o tema em questão. Portanto, a amostra final constituiu-se de 17 publicações.

Tabela 1
Síntese da busca nas bases de dados e seleção dos artigos

Base de Dados	Busca inicial		Leitura dos Resumos	Leitura do Artigo na Íntegra	Final
	Identificados na busca	Excluídos	Excluídos	Excluídos	Selecionados
LILACS	1	1	0	0	0
SCIELO	0	0	0	0	0
MEDLINE/PubMed	86	66	13	1	6
SCOPUS	39	27	6	1	5
Science Direct	174	150	19	0	5
Web of Science	83	36	44	2	1
COCHRANE	12	12	0	0	0
TOTAL	395	292	82	4	17

• ^Fonte:
  Dados da pesquisa, 2016.

Os artigos foram avaliados e classificados quanto ao seu rigor científico conforme as características de cada estudo, possibilitando uma classificação por nível de evidência e graus de recomendação, conforme validade e confiabilidade. Nessa etapa, foi utilizado um instrumento baseado na Rating System for the Hierarchy of Evidence for Intervention/Treatment Question para a classificação do nível de evidência (NE) dos estudos¹². Este é utilizado para classificar a qualidade das evidências das pesquisas na enfermagem¹³. Resumidamente, os níveis se referem: NE 1, revisões sistemáticas ou metanálises de ensaios clínicos randomizados relevantes; NE 2, um ou mais ensaios clínicos randomizados; NE 3, ensaios clínicos controlados sem randomização; NE 4, casos-controle e estudos de coorte; NE 5, revisões sistemáticas de estudos descritivos e estudos qualitativos; NE 6, evidência de um único estudo descritivo ou qualitativo; NE 7, relatórios de opiniões de especialistas¹².

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em relação às características dos artigos analisados, identificou-se que todos foram publicados em periódicos internacionais, a saber: Seminars in Oncology Nursing (n = 4); The American Journal of Surgery (n = 2); Current Oncology: A Canadian Cancer Recearch Journal (n = 1); Journal of the American Board of Family Medicine (n = 1); Journal Of Clinical Oncology (n = 1); BMC Health Services Research Journal (n = 1); Mayo Clinic Proceedings Journal (n = 1); European Journal of Cancer Care (n = 1); Journal of Radiology Nursing (n = 1); The Australian Journal of Nursing Practice, Scholarship and Research (n = 1); European Journal of Oncology Nursing (n = 1); General Hospital Psychiatry Journal (n = 1); European Journal of Cancer: EJC Supplements (n = 1). Os países de origem dos estudos foram: Estados Unidos (n = 9), Canadá (n = 4), Dinamarca (n = 2), Austrália (n = 1) e Suécia (n = 1).

Evidenciou-se que os estudos sobre o tema foram iniciados recentemente, pois o ano de publicação dos artigos é de: 2009 (n = 1); 2010 (n = 2); 2012 (n = 1); 2013 (n = 5); 2014 (n = 3); 2015 (n = 3); e 2016 (n = 2).

Quanto ao delineamento dos estudos, constatou-se: ensaio clínico randomizado (n = 3); revisão de literatura (n = 3); pesquisa qualitativa (n = 3); pesquisa quantitativa (n = 2); estudo de caso (n = 2); revisão integrativa (n = 1); relato de experiência (n = 1); artigo de reflexão (n = 1); e misto (qualitativo e quantitativo, n = 1). Dessa forma, os estudos foram classificados conforme níveis de evidência: três com NE 2; um com NE 4; seis com NE 6; e dois com NE 7. No entanto, cinco artigos foram abordados por tipologias que não são citadas no sistema de classificação de NE escolhido, portanto as autoras optaram em classificar quatro delas como NE 6 (três revisões de literatura, uma revisão integrativa) e uma com NE 5 (um estudo misto, quantitativo e qualitativo).

A analise dos achados permitiu a elaboração das seguintes categorias temáticas: Processos Assistenciais; Pacientes; e Profissionais de Saúde. Os Quadros 2, 3 e 4 apresentam a síntese dos artigos incluídos nesta revisão integrativa.

A navegação de pacientes é uma estratégia bastante utilizada pelos serviços que prestam assistência na área da oncologia em âmbito internacional. Os Programas de Navegação de Pacientes são gerenciados em sua maioria por enfermeiros e, por isso, amplamente reconhecidos como mecanismos que ajudam a garantir a continuidade dos cuidados oncológicos^14-15. O enfermeiro, além de gerenciar, ao desempenhar o papel de navegador, atua junto aos pacientes, familiares/cuidadores e profissionais da equipe multidisciplinar envolvidos na assistência, fornecendo informações relativas ao tratamento e realizando a sua interlocução entre os mesmos, identificando e eliminando barreiras que dificultam o andamento dos processos relacionados ao cuidado¹⁴. O impacto de sua atuação acontece nos processos relacionados à assistência, na vida dos pacientes antes, durante e após o tratamento e no trabalho dos profissionais de saúde.

Categoria Temática Processos Assistenciais

Quadro 2
Síntese dos Artigos Incluídos na Categoria Temática Processos Assistenciais

Os artigos incluídos nesta categoria abordavam o impacto da navegação de pacientes realizada pelo enfermeiro nos processos relacionados à assistência aos pacientes oncológicos, seja ela preventiva, diagnóstica, de tratamento ou de reabilitação. A navegação de enfermagem (Nurse Navigation) é entendida como uma função e um processo que compartilha características com outros tipos de navegadores profissionais e navegadores leigos²¹. A atuação do Nurse Navigator, quando ocorre nos processos de triagem de pacientes com risco de desenvolver neoplasias, proporciona aos médicos oncologistas acesso a informações que podem afetar as futuras decisões relativas ao direcionamento das investigações diagnósticas¹⁴.

Estudo que avaliou a atuação desse profissional na triagem de pacientes com risco de desenvolver câncer de pulmão evidenciou melhor agilidade ao ser usado este processo, levando os pacientes diagnosticados com essa neoplasia a iniciarem seu tratamento sistêmico 10 dias mais cedo em relação aos indivíduos diagnosticados sem a intervenção do Nurse Navigator ⁽¹⁴. Em outro estudo com pacientes já com diagnostico inicial de câncer de mama, a atuação desse profissional reduziu, em média, em nove dias o tempo de espera para realização de tratamento cirúrgico¹⁸. Em contrapartida, em outro estudo que investigou se a intervenção junto a pacientes com exame de rastreamento para câncer de cólon positivo (sangue oculto nas fezes) seria efetiva para aumentar o número de colonoscopias para diagnóstico da neoplasia, ficou evidenciado que a sua interferência no processo não modificou significativamente o resultado¹⁶. Com isso, constatou-se, nas pesquisas realizadas, que nem todos os processos serão beneficiados pela intervenção do Nurse Navigator e que o resultado desta depende do momento em que ocorre. Por isso, a literatura sugere que os processos de navegação e as funções dos navegadores se iniciem no começo da trajetória do tratamento oncológico (rastreamento e diagnóstico) para atingir os desfechos desejados²².

A implantação de Programas de Navegação vem sendo amplamente utilizada em países como Estados Unidos, Canadá e Austrália como uma forma de otimizar processos e transpor barreiras que dificultam o acesso de pacientes aos diferentes tratamentos, aos serviços disponibilizados e aos sistemas de saúde. Assim, existem diferentes modelos de navegação delineados de acordo com as características do local em que são implementados. No entanto, na sua essência, compartilham um mesmo conceito e objetivo principal.

Mesmo que esses programas existam há mais de duas décadas nesses países, ainda surgem muitos desafios na definição dos seus processos e funções, preparo e qualificação dos navegadores, fazendo-se necessária a realização de mais pesquisas sobre o tema^21,23. Em estudo que descreveu a implantação de um programa de navegadores direcionado para mulheres sem seguro de saúde e com exames de mamografia com achados anormais, a atuação do Nurse Navigator mostrou-se eficaz no direcionamento dos processos para a definição do diagnóstico dessas pacientes¹⁹. Uma das maiores dificuldades e a mais evidente das barreiras é o acesso dos pacientes aos serviços especializados para definição do diagnóstico, o que gera importantes atrasos no início do tratamento¹⁹.

Um desafio considerável na implementação de programas de navegadores de pacientes é identificar como avaliar a efetividade dos processos relacionados à navegação de uma forma suficientemente sensível, confiável e validada para medir se os desfechos planejados com a implantação foram atingidos¹⁵. Esses dados são importantes para que os gestores e demais profissionais envolvidos possam avaliar o impacto da navegação nos seus processos; e são fundamentais para o sucesso, sustentabilidade e futuro desses serviços¹⁵.

As funções dos navegadores dentro desses programas são determinadas pelas facilidades das áreas e serviços onde eles operacionalizam as suas atividades²². Um enfermeiro oncológico experiente na função de Nurse Navigator tem o que é fundamental para um navegador eficiente: conhecimento especializado da doença e processos, para prestar uma assistência dentro do continuum do cuidado e centrado no paciente²². A atuação desse profissional, na oncologia, tem um impacto positivo tanto no paciente quanto na equipe assistencial por meio da promoção da continuidade do cuidado, aliada a melhoria dos processos assistenciais e de comunicação²². A comunicação entre os profissionais de saúde é uma das principais barreiras que dificulta a continuidade da assistência, mas um programa de navegação eficiente possibilita estabelecer uma relação de trabalho mais próxima entre eles, facilitando essa comunicação²⁰. Estudo realizado na Austrália²⁴ descreveu a evolução dos modelos de navegação dentro da atenção primária do país, concluindo que a figura do Nurse Navigator, nesses programas, pode ser uma solução inovadora para que os pacientes tenham uma jornada muito mais suave, no futuro, dentro do Sistema de Saúde²⁴. Isso reforça, também, a importância da atuação desses profissionais junto à equipe multidisciplinar nas ações de promoção da saúde e do autocuidado dos pacientes^22,24.

Categoria Temática Pacientes

Quadro 3
Síntese dos Artigos Incluídos na Categoria Temática Pacientes

A jornada do tratamento oncológico pode ser extremamente assustadora e estressante para a maioria dos pacientes²⁶. Incertezas, ansiedade e preocupações são comumente relatadas pelos indivíduos ao longo da sua trajetória²⁶. Pacientes diagnosticados com câncer se deparam com a necessidade de tomar decisões que podem alterar completamente as suas vidas, enquanto negociam com um Sistema de Saúde muitas vezes fragmentado⁷. Isso contribui para aumentar o sofrimento de lidar com um diagnóstico o qual coloca o seu futuro em risco⁷. Além disso, a busca pelo atendimento especializado e as dificuldades que encontram nesse processo faz com que fique evidente a demora para acessar o tratamento necessário, causando uma dose extra de ansiedade e insegurança com o seu futuro²⁵. Os artigos incluídos nesta categoria versavam sobre o impacto da navegação realizada pelo enfermeiro na vida destes pacientes.

Pessoas doentes estão em maior risco de desenvolver um quadro de depressão²⁵. No contexto de um diagnóstico de câncer recente, os indivíduos podem desenvolver sintomas depressivos significativos, de modo que isso pode prejudicar a sua capacidade de enfrentar a doença, seguir os regimes terapêuticos do tratamento e o comprometer o autocuidado, afetando os desfechos²⁵. Em uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, foi investigado se a intervenção de um Nurse Navigator influenciaria no desenvolvimento de sintomas depressivos em pacientes com diagnóstico recente de câncer²⁵. Ficou evidenciado nos resultados desse estudo que o suporte desse profissional trouxe benefícios para tais pacientes, uma vez que influenciou positivamente tanto os que já apresentavam sintomas no momento do diagnóstico quanto aqueles que não os apresentavam²⁵. A atuação de um Nurse Navigator proporciona aos pacientes uma melhor qualidade de vida, porquanto os direciona para uma melhor percepção em relação aos cuidados durante o seu tratamento, reduzindo a ocorrência de problemas relacionados a questões psicossociais, coordenação do cuidado e acesso a informações^7,29.

Em relação ao tipo de paciente que poderia se beneficiar com o suporte de um Nurse Navigator, estudo realizado na Dinamarca diz que nem todos os pacientes poderiam e/ou deveriam dispor da ajuda proporcionada por esse profissional; no entanto, não puderam concluir como identificar tais pacientes^26-27. Isso deixa evidente a necessidade de realização de novos estudos acerca desse assunto, pois essa informação seria vital para outros profissionais e gestores da área da saúde que desejam implantar tal programa no seu serviço tendo em vista a relação custo-efetividade do mesmo^17,27.

Na relação paciente/Nurse Navigator, outro estudo, também realizado na Dinamarca, abordou o significado desse profissional para os indivíduos navegados²⁶. Ficou evidente que a relação de confiança e empatia estabelecida entre navegador e paciente é um dos pontos-chave em relação a sua atuação^20,27. Os pacientes, quando acompanhados por esse profissional, em função dessa relação de confiança, sentiram-se mais amparados emocionalmente, mais envolvidos com o seu tratamento (empoderados) e, consequentemente, mais aptos a planejar seu futuro e a tomar as decisões necessárias para direcionar a sua vida^7,14.

Pesquisa realizada na Suécia investigou a satisfação dos pacientes em relação a atuação do navegador e identificou pacientes satisfeitos, apontando a figura desse profissional como necessária no processo do cuidado²⁸. Nessa mesma pesquisa, a exceção ocorreu nas áreas relativas à continuidade do cuidado e à informação, apontadas como tendo necessidade de melhorias.

Categoria Temática Profissionais de Saúde

Quadro 4
Síntese dos Artigos Incluídos na Categoria Temática Profissionais de Saúde

Nesta Categoria temática, os artigos incluídos tratavam sobre o impacto enfermeiro atuando como navegador de pacientes no trabalho dos profissionais da saúde envolvidos na assistência oncológica.

A navegação de pacientes tem o potencial de afetar de forma positiva os variados desfechos relacionados à assistência ao paciente oncológico¹⁵. Pode ser realizada por profissionais da saúde, chamados de navegadores profissionais (professional navigators), ou por pessoas sem nenhuma formação na área, chamados de navegadores leigos (lay navigators)¹⁵. Os enfermeiros são treinados para antecipar e entender o impacto que um diagnóstico de câncer tem para os pacientes e seus familiares²⁹. Internações hospitalares planejadas e as inesperadas, o impacto emocional e econômico do tratamento fazem com que os pacientes necessitem de um suporte adicional²⁹. Em razão da sua formação, possuem o conhecimento e as habilidades necessárias para intervir diretamente nessas áreas, pois acompanham os pacientes durante toda a sua trajetória²⁹. Por isso, na área da oncologia, tais profissionais têm sustentado a posição de navegadores nos diversos modelos de programas existentes em âmbito internacional, trabalhando com uma equipe interdisciplinar e direcionando as suas ações para atingir, de forma colaborativa, os desfechos desejados para os pacientes¹⁵.

A atuação do Nurse Navigator tem um impacto positivo, tanto no paciente quanto na equipe assistencial, pois mediante a promoção da continuidade do cuidado, aliada à melhoria dos processos, esse profissional consegue direcionar melhor as necessidades e reduzir as barreiras de acesso a assistência oncológica²². Em vista disso, a Oncology Nursing Society (ONS), nos Estados Unidos, a partir da reflexão da base de conhecimentos e competências práticas necessárias para a atuação desse profissional, desenvolveu e publicou, em 2013, o documento Oncology Nurse Navigator Core Competencie descrevendo os conhecimentos e habilidades necessárias que enfermeiros oncológicos devem possuir ou adquirir durante os seus primeiros um a dois anos no papel de navegador^22,30.

Outros profissionais da saúde e pessoas leigas capacitadas podem atuar como navegadores, ajudando os pacientes a transpor diferentes barreiras relacionadas à assistência oncológica durante as fases do tratamento²². No entanto, o conhecimento específico e especializado, as habilidades e a capacidade de realizar um raciocínio clínico durante o processo de navegação, particularmente durante a fase de diagnóstico, somente um enfermeiro oncológico experiente possui^22,29. Os benefícios desse profissional desempenhando tal papel incluem: coordenação do cuidado no continuum da assistência oncológica, manejo da complexidade do tratamento, educação em saúde dos pacientes e familiares, integração entre a equipe multiprofissional, melhoria dos processos de comunicação e melhoria dos processos assistenciais das instituições²⁹.

CONCLUSÕES

Os artigos analisados sobre a temática tinham três enfoques: nos processos relacionados à assistência; na vida dos pacientes durante a sua jornada no tratamento oncológico; e no trabalho dos profissionais da saúde, principalmente dos enfermeiros atuando como navegadores de pacientes. O conhecimento e o processo de trabalho do enfermeiro são focados no cuidar e voltados para assistir o paciente em todas as suas dimensões (física, emocional, psicossocial e familiar), direcionando suas ações de forma a compreender o cuidado como um todo, seja ele preventivo, curativo ou para a reabilitação durante todo o tratamento oncológico. Tais achados demonstram que a implementação de Programas de Navegação, tendo o enfermeiro como ator na coordenação do cuidado e no continuum da assistência, proporciona aos pacientes, aos serviços e sistema de saúde um diferencial no que diz respeito à qualidade assistencial. Com isso, ficou claro que, apesar de serem recentes as pesquisas internacionais abordando o tema, ainda se faz necessária a realização de mais estudos acerca do papel e da atuação do Nurse Navigator.

A realização desta revisão integrativa também permitiu evidenciar que o conhecimento científico produzido sobre o tema Nurse Navigator se concentra com populações de países como Estados Unidos da América, Austrália, Canadá, Suécia e Dinamarca, locais onde os primeiros Programas de Navegação de Pacientes foram implantados. Todos os estudos encontrados foram publicados em periódicos internacionais e não se constataram publicações produzidas por autores brasileiros ou latino-americanos e ou com essas populações. A inexistência de referências nacionais visando a comparação com os trabalhos desenvolvidos em outros países constitui uma importante limitação deste estudo. Concluiu-se assim que a figura do Nurse Navigator, ou seja, do enfermeiro atuando como navegador de pacientes, não está sendo foco de estudos e pesquisas no Brasil ou na América Latina. Ficou evidente, também, que essa área de atuação profissional nasceu na assistência ao paciente oncológico, especialidade para a qual surgiram os primeiros Navegadores de Pacientes e na qual atualmente concentram-se os Programas, em sua maioria. Espera-se que essa revisão auxilie e estimule os enfermeiros brasileiros a organizar e implementar programas de navegação, bem como a publicar artigos apresentando as experiências nacionais. Acredita-se que esse artigo contribua para o ensino e pesquisa.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  23 Jul 2018
• Data do Fascículo
  2018

Histórico

• Recebido
  24 Maio 2017
• Aceito
  25 Ago 2017