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Uma Análise da Transição dos Jovens Para o Primeiro Emprego no Brasil

Resumos

Esse estudo analisa o processo de transição dos jovens do desemprego para o primeiro emprego. Os resultados mostram que a experiência prévia no mercado de trabalho parece influenciar positivamente a probabilidade de encontrar emprego, e que jovens e adultos com alguma experiência anterior de trabalho apresentam probabilidades semelhantes de transição do desemprego para o emprego. Os resultados também mostram que a dificuldade relativa dos jovens em busca do primeiro emprego é ainda mais acentuada para empregos considerados de melhor qualidade.

Mercado de Trabalho dos Jovens; Primeiro Emprego; Duração do Desemprego


This paper analyzes the probability of leaving unemployment for young first-time job seekers. Estimates indicate that the probability of finding a job seems to be positively affected by previous work experience. Also, young people who have been previously employed have similar unemployment spells to adults. Also according to evidence, the difference in exit probability between workers with previous experience and first-time job seekers is larger for good quality jobs.


1. INTRODUÇÃO

A taxa de desemprego entre os jovens é geralmente bem maior do que a verificada para o total da população economicamente ativa.1 1 Ver, por exemplo, O'Higgins (2010) para uma comparação entre diversos países. No caso específico do Brasil, a situação dos jovens não é diferente. Considerando o período de janeiro de 2006 até dezembro de 2012, a taxa de desemprego registrada pela PME (Pesquisa Mensal de Emprego) para as seis principais regiões metropolitanas brasileiras foi de 7,28%. Enquanto entre os indivíduos na faixa etária de 25 até 65 anos, 5,13% se encontram desempregados, para os jovens com idade entre 15 e 24 anos a taxa de desemprego era de 16,22%.

A taxa de desemprego mais elevada observada entre os jovens pode ser consequência, em parte, da dificuldade enfrentada pelos indivíduos nesse grupo que se encontram desempregados para conseguir emprego. Além disso, os jovens também apresentam alta rotatividade, e esse fator tem sido normalmente apontado na literatura como o mais relevante para explicar as diferenças nas taxas de desemprego entre grupos etários.2 2 Como mostra a decomposição da taxa de desemprego apresentada por Marston (1976), um grupo pode apresentar uma taxa elevada pela dificuldade para obter emprego dos indivíduos nesse grupo que se encontram desempregados, pela dificuldade dos integrantes desse grupo permanecerem empregados, ou por entradas e saídas constantes da força de trabalho. De acordo com Layard, Nickell e Jackman (1991), as taxas mais elevadas de desemprego para os jovens na OCDE se devem ao fato desse grupo ser mais propenso a ficar desempregado. Resultados semelhantes para o Brasil são apresentados por Fiori (2005). Para um subgrupo específico de jovens, composto pelos que estão tentando ingressar pela primeira vez no mercado de trabalho, entretanto, a duração do desemprego pode desempenhar um papel importante.

O objetivo desse estudo é analisar a duração do desemprego dos jovens no Brasil, entre a entrada na população economicamente ativa e a obtenção do primeiro emprego. Mais especificamente, pretende-se investigar os fatores que influenciam a probabilidade de transição dos jovens do desemprego para o primeiro emprego, procurando identificar as variáveis que reduzem a duração do desemprego experimentada durante esse processo. Além disso, pretende-se estimar como a probabilidade de saída do desemprego depende da própria duração do desemprego dos jovens, e comparar o comportamento desse grupo com o apresentado por trabalhadores com experiência prévia no mercado de trabalho.

Os jovens podem não apenas passar por um período longo de desemprego até a obtenção de um trabalho, como esse emprego pode apresentar características específicas, associadas a certo grau de precariedade do posto de trabalho.3 3 Farber (1997) apresenta evidências de que trabalhadores que perdem o emprego nos Estados Unidos são mais propensos a se reempregarem em trabalhos com arranjos alternativos, que envolvem emprego temporário, trabalho em tempo parcial ou como conta-própria. Farber (1997) mostra também que esses empregos normalmente representam um processo de transição para empregos convencionais em um período seguinte. É possível que os jovem que entram no mercado de trabalho experimentem um processo semelhante. A saída da condição de desempregado pode envolver a transição dos jovens para diversos destinos possíveis, para um emprego no setor informal da economia, ou para um trabalho temporário, ou em tempo parcial, por exemplo.4 1 Ver, por exemplo, O'Higgins (2010) para uma comparação entre diversos países. Também faz parte dos objetivos do estudo, portanto, analisar quais os fatores que influenciam as probabilidades de transição do desemprego para cada um desses destinos.

Evidências para o Brasil relacionadas à transição dos jovens para o primeiro emprego são escassas, embora alguns estudos indiquem que esse grupo tenha um comportamento diferente dos demais desempregados. Menezes-Filho e Pichetti (2000)Menezes-Filho, N. A., & Pichetti, P. (2000). Os determinantes da duração do desemprego no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico, 30(1)., analisando os determinantes da duração do desemprego na região metropolitana de São Paulo, mostram que o fato do indivíduo nunca ter trabalhado anteriormente reduz significativamente a probabilidade de conseguir emprego, indicando uma dificuldade para se obter o primeiro trabalho. Monte, Araújo e Lima (2007)Monte, P., Araújo, T. & Lima, R. (2007). Primeiro emprego e reemprego: análise de inserção ocupacional e duração do desemprego no Brasil metropolitano. Economia e Desenvolvimento, 7(1), 139-177. analisam transições do desemprego para o emprego, comparando indivíduos que procuram o reemprego com aqueles em busca do primeiro emprego. Os resultados, obtidos a partir do estimador de Kaplan-Meier, mostram que as probabilidades de permanência no desemprego após os períodos de 12 e 24 meses são maiores para o grupo procurando o primeiro emprego.

A análise empírica adotada nesse artigo é baseada na estimação de modelos de duração usando os dados da PME (Pesquisa Mensal de Emprego). Os resultados encontrados mostram que jovens sem experiência no mercado de trabalho têm probabilidades mais baixas de saírem do desemprego, mesmo em relação a indivíduos na mesma faixa etária que já tiveram trabalho anteriormente. Essa dificuldade dos jovens em busca do primeiro emprego é ainda maior para os trabalhos no setor formal, com contrato por tempo indeterminado e em tempo integral. Não se notam, porém, diferenças entre jovens e adultos que já trabalharam anteriormente.

O artigo está estruturado em 5 seções, além dessa introdução. Na seção 2, são descritos os dados da PME, utilizados na análise empírica. A seção 3 apresenta a abordagem empírica, e a seção 4 mostra uma análise descritiva relacionando transições do desemprego para o emprego. Na seção 5, são apresentados e comentados os resultados estimados para os determinantes da transição do desemprego para o emprego, assim como de transições que consideram múltiplos destinos de saída do desemprego. A seção 6 resume as principais conclusões do artigo.

2. DADOS

Na análise empírica, são utilizados dados da PME, que é calculada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para o período de janeiro de 2006 até dezembro de 2012. A PME é representativa das seis principais regiões metropolitanas brasileiras (Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo). Usando a estrutura longitudinal da PME, é possível computar saídas dos desempregados dessa condição para a de ocupado três meses depois.

Cada domicílio selecionado para fazer parte da PME deve ser entrevistado 8 vezes durante um período de 16 meses, caso não exista atrito. Em cada entrevista, são coletadas informações sobre todos os moradores do domicílio com 10 anos ou mais. O grupo de interesse nesse estudo é representado por jovens desempregados que nunca tiveram emprego anteriormente. Portanto, é selecionada uma amostra de jovens com idade entre 15 e 24 anos no período da primeira entrevista da PME, que declararam nunca terem trabalhado antes.

Para indivíduos que nunca trabalharam, a duração do desemprego pode ser calculada pelo tempo de procura por trabalho. Nos períodos posteriores à primeira entrevista, podem ser observadas transições de parte desses indivíduos para a condição de empregados. São incluídos na amostra os indivíduos que três meses após a primeira entrevista permaneceram desempregados ou transitaram para a condição de empregados. Usando esse critério, são selecionados 2.420 jovens desempregados que nunca trabalharam antes.

As trajetórias dos jovens que nunca trabalharam são comparadas com as de dois outros grupos, representados por jovens na mesma faixa de idade, entre 15 e 24 anos, mas que já trabalharam anteriormente, e por indivíduos com idade entre 25 e 60 anos, que também já tiveram trabalho. Para esses dois grupos, a duração do desemprego é construída a partir do tempo de procura por emprego, sem considerar que para parte dos indivíduos o tempo sem emprego pode ser mais curto. Isso é feito para manter a comparabilidade com a amostra de jovens que nunca trabalharam.5 5 Essa definição de tempo de desemprego é a mesma utilizada por Menezes-Filho e Pichetti (2000). A amostra de jovens que já trabalharam tem 4.803 observações, enquanto a terceira amostra, de adultos, é composta de 9.462 observações.

Além das transições do desemprego para o emprego, também são analisadas situações que consideram as características do emprego de destino, caso o indivíduo consiga se empregar. Três diferentes critérios são usados para classificar o tipo de emprego. Primeiro, os empregos são classificados entre formais e informais. São definidos como formais os trabalhadores com carteira, os funcionários públicos, os empregadores e os trabalhadores por conta-própria que contribuem para a previdência. Empregados sem carteira e trabalhadores por conta-própria que não contribuem para a previdência são classificados como informais. Em seguida, os empregos são classificados entre aqueles com contrato por tempo indeterminado e os temporários, com prazo determinado. Finalmente, os empregos são divididos entre aqueles em tempo integral, definidos nesse artigo como empregos com 30 horas ou mais habitualmente trabalhadas na semana, e os empregos em tempo parcial, que compreendem as situações em que o número de horas habitualmente trabalhadas na semana é inferior a 30.

A Tabela 1 apresenta algumas estatísticas descritivas para as amostra de jovens (com idade entre 15 e 24 anos) a procura do primeiro emprego, de jovens desempregados que já trabalharam, e de adultos (definidos aqui como indivíduos com idade entre 25 e 60 anos). Nota-se que os jovens procurando o primeiro emprego representam 14,1% do total de desempregados que fazem parte da amostra, enquanto os jovens que já trabalharam tem uma participação de 29,1% nesse total. A participação conjunta desses dois grupos de jovens, portanto, corresponde a quase metade do total de desempregados na amostra.6 1 Ver, por exemplo, O'Higgins (2010) para uma comparação entre diversos países.

Tabela 1
Estatísticas descritivas.

De acordo com a Tabela 1, quase metade dos jovens procurando pelo primeiro emprego se encontrava frequentando a escola. Entre jovens que já trabalharam a proporção que se encontrava nessa situação diminui para cerca de um quarto, enquanto entre os adultos é de apenas 8%. A frequência à escola pode reduzir a intensidade de busca por emprego, embora a própria decisão de estudar possa ter sido influenciada, em parte, pela dificuldade para conseguir emprego. Percebe-se também que 12,7% dos jovens que nunca trabalharam estão procurando emprego há mais de 12 meses, porcentagem semelhante a de adultos com idade entre 25 e 60 anos. Entre os jovens que já trabalharam anteriormente, apenas 6,6% estão desempregados há mais de 12 meses, quase a metade da porcentagem registrada para os dois outros grupos.

Entre a primeira e a quarta entrevistas da PME, 29% dos jovens desempregados que nunca trabalharam encontraram um emprego. Essa porcentagem é muito inferior quando comparada aos valores registrados para os outros dois grupos. Entre os jovens que já trabalharam, 39% conseguiram emprego, enquanto entre os adultos, 41% conseguiram se empregar durante esse mesmo período de 3 meses. Quando se consideram as características dos empregos obtidos pelos indivíduos em cada um desses grupos, as diferenças também são acentuadas. Apenas 12% dos jovens em busca do primeiro emprego conseguiram se ocupar no setor formal, ou seja, entre os que conseguiram emprego, quase 2/3 foram para o setor informal. Para os dois outros grupos considerados, 18% dos desempregados obtiveram um emprego formal no período de três meses.

A Tabela 1 mostra também que 22% dos jovens na coluna 1 transitaram para empregos com prazo indeterminado, mesma porcentagem dos que conseguiram empregos com pelo menos 30 horas de trabalho na semana. Entre os jovens que já trabalharam, assim como entre os adultos, transições para empregos com essas características são bem mais frequentes. Cerca de 30% dos desempregos nesses dois últimos grupos transitaram para empregos com contrato por prazo indeterminado, enquanto em torno de 34% conseguiram empregos com 30 horas de trabalho ou mais.

3. MÉTODO EMPÍRICO

A análise empírica utilizada neste artigo é baseada na estimação de modelos de duração com os dados em painel da PME. Primeiramente, as transições do desemprego para o emprego são descritas através do estimador não-paramétrico de Kaplan-Meier, apresentado abaixo. Para isso, definimos a função de risco, que fornece a probabilidade instantânea de o indivíduo deixar o desemprego em um dado período t, dado que permaneceu desempregado até t. Essa função de risco pode ser escrita da seguinte forma:

onde F(t) é a função distribuição acumulada de e fК(t) é a função densidade de probabilidade. A função sobrevivência, representada por S(t), onde S(t)=1 − F(t), oferece a probabilidade de que a duração do desemprego seja maior ou igual a t. O estimador de Kaplan-Meier para a função sobrevivência procura apresentar a probabilidade de permanência no desemprego em cada instante de tempo,

onde NrК é o número de indivíduos que não saíram do desemprego e nem estavam censurados no período tr−1 e E é o número de indivíduos que transitaram do desemprego para o emprego entre os períodos tr−1 e t.

Como mencionado acima, transições do desemprego para o emprego podem ser analisadas também levando em consideração o tipo de emprego obtido. Quando as saídas do desemprego envolvem múltiplos destinos, porém, não é adequado utilizar o estimador de Kaplan-Meier, mas a função de incidência acumulada, que na situação em que são considerados possíveis destinos de saída do desemprego pode ser representada por

onde Ŝ(tm) é o estimador de Kaplan-Meier para saídas de todos os tipos; djm/d é um estimador da função de risco para saídas do tipo sendo djmК o número de transições do desemprego para o destino j no período t e n é o número de indivíduos em risco no período tm−1.

Para analisar a influências de determinadas covariadas sobre a duração do desemprego, também são utilizados modelos paramétricos e semi-paramétricos, em que a função de risco é condicionada nas seguintes características: idade, gênero, raça, anos de escolaridade, região metropolitana de residência, além de dummies de ano. Sendo o vetor de variáveis explicativas e utilizando uma função Weibull, a função de risco é dada por

Se α>К1, a dependência da duração é positiva, ou seja, a probabilidade de saída do desemprego se torna mais elevada quanto maior o tempo de desemprego do indivíduo. Se α<К1, a probabilidade de saída do desemprego diminui com o tempo de desemprego. Na situação em que αК=1, a probabilidade de saída do desemprego não depende do tempo de permanência nesse estado.7 7 Também são estimados modelos que consideram a presença de heterogeneidade não-observada entre os indivíduos. Essa hete­rogeneidade é introduzida através de um termo multiplicativo. Adotando uma função Weibull para TК, a função de risco nesse h(t,xi,viκ) =viex'κiκβκ αtα−1 onde v iκ é um termo com distribuição gaussiana inversa que procura captar a heterogeneidade não observada.

Os resultados também são estimados usando o modelo de Cox de riscos proporcionais (Cox, 1972, 1975). A função de risco nesse modelo pode ser definida por

onde (x) é representada pela função ex'β, e λ0(t) é a função de risco base, que é estimada de forma não-paramétrica.

Para considerar situações em que existem múltiplos destinos de saída do desemprego, a função de risco para o modelo paramétrico passa a ser representada por , onde e o subscrito representa os destinos de saída do desemprego. Para o modelo semiparamétrico, a função de risco no caso de múltiplos destinos pode ser escrita como .

Os resultados obtidos a partir do estimador de Kaplan-Meier e da função de incidência acumulada são mostrados na seção 4. Os resultados estimados usando os modelos paramétricos e semiparamétricos são apresentados na seção 5.

4. UMA ANÁLISE DESCRITIVA DA DURAÇÃO DO DESEMPREGO

Nesta seção, são apresentados os resultados obtidos a partir do estimador não paramétrico de Kaplan-Meier para transições entre o desemprego e o emprego, assim como para a função de incidência acumulada, que considera múltiplos destinos de saída do desemprego. Na Figura 1, nota-se que a probabilidade de continuar desempregado após um determinado período de tempo é sempre maior para os jovens que nunca trabalharam anteriormente do que para os outros dois grupos reportados. Após 4 trimestres, por exemplo, a probabilidade de um jovem que nunca trabalhou ainda permanecer desempregado é de 64%, enquanto para os jovens na mesma faixa etária (de 15 até 24 anos) que já tiveram trabalho anteriormente essa probabilidade é estimada em 44%. Para a amostra de indivíduos com idade 25 e 60 anos que já trabalharam, a probabilidade de permanência no desemprego após 4 trimestres é estimada em 47%. Considerando um período de 20 trimestres, a probabilidade estimada de jovens em busca do primeiro emprego ainda se encontrarem desempregados é de 34%. Para os outros dois grupos analisados essa probabilidade varia entre 12% e 16%.

Figura 1
Estimador de Kaplan-Meier para a probabilidade de permanência no desemprego (Saídas do desemprego para o emprego).

A Figura 2 mostra os resultados estimados para a função de incidência acumulada considerando transições do desemprego para o emprego formal e para o emprego informal. Nota-se que para os três grupos analisados as probabilidade de deixar o desemprego para um emprego informal são maiores do que as probabilidades de saída para um emprego formal. A maior diferença, porém, é verificada entre os jovens que nunca trabalharam. Após 4 trimestres, a probabilidade de transição para um emprego informal é estimada em 21% nesse grupo, o que corresponde a 6 pontos percentuais a mais do que a probabilidade de saída para um emprego formal. Entre os jovens que já trabalharam, a probabilidade de transição para a informalidade após 4 trimestres é estimada em 30%, e a probabilidade de transição para um emprego formal é estimada em 26%. Para os indivíduos com idade entre 25 e 60 anos, as probabilidades estimadas de transição para empregos informais e formais são estimadas em 28% e 25%, respectivamente.

Figura 2
Função de incidência acumulada — transições do desemprego para empregos formais e informais.

De acordo com os resultados reportados na Figura 3, jovens que nunca trabalharam anteriormente apresentam probabilidades de transição para empregos com contrato por prazo determinado semelhantes aos dois outros grupos de trabalhadores analisados. As probabilidades de saída do desemprego para um emprego por tempo indeterminado, no entanto, são bem mais baixas para os jovens procurando o primeiro emprego. Para esse grupo, a probabilidade estimada de saída do desemprego para um emprego com contrato por prazo indeterminado após 4 trimestres é estimada em 26%. Para os jovens e os adultos que já tiveram emprego antes, essas probabilidades são estimadas em 44% e 38%, respectivamente.

Figura 3
Função de incidência acumulada — transições do desemprego para empregos por prazo indeterminado ou temporários.

Na Figura 4, são consideradas transições do desemprego para empregos em tempo integral (com 30 horas habitualmente trabalhadas ou mais) ou parcial (com menos de 30 horas). As probabilidades de saída para empregos em tempo parcial são até mais intensas entre os jovens em busca do primeiro emprego do que para os demais grupos. Quando são consideradas transições para empregos em tempo integral, porém, nota-se que os grupos que compreendem indivíduos que já tiveram emprego anteriormente apresentam probabilidades próximas de 50% de deixarem o desemprego para esse estado após 4 trimestres. Para os jovens que nunca trabalharam, essa probabilidade, considerando o mesmo período, é estimada em 26%.

Figura 4
Função de incidência acumulada — transições do desemprego para empregos em tempo integral e parcial.

Resumindo, os resultados apresentados nesta seção mostram que a probabilidade de transição do desemprego para o emprego é mais baixa para os jovens que nunca trabalharam anteriormente. Para as saídas do desemprego envolvendo como destinos empregos classificados como de pior qualidade, os jovens que nunca trabalharam antes apresentam comportamentos semelhantes aos de grupos que tiveram alguma passagem pelo mercado de trabalho. Considerando transições do desemprego para empregos tidos como de melhor qualidade, entretanto, as probabilidades de saída do desemprego para esses destinos são mais baixas para os jovens procurando o primeiro emprego.

5. OS DETERMINANTES DA DURAÇÃO DO DESEMPREGO

5.1. Transições do desemprego para o emprego

A Tabela 2 mostra os resultados estimados para transições do desemprego para o emprego usando o modelo paramétrico com função Weibull, com e sem o termo para heterogeneidade não observada, e o modelo semi-paramétrico de Cox. As regressões são estimadas utilizando a amostra completa e incluem dummies para os jovens e as pessoas com idade entre 25 e 60 anos que tiveram trabalho anteriormente, enquanto o grupo de referência é representado por jovens com idade entre 15 e 24 anos que nunca tiveram trabalho antes da primeira entrevista da PME.

Tabela 2
Resultados estimados para transições do desemprego para o emprego.

Em todas as colunas da Tabela 2, nota-se que a probabilidade estimada de transição para o emprego é sempre maior para indivíduos que já trabalharam anteriormente do que para os jovens procurando o primeiro emprego. Na coluna (1), os adultos apresentam um risco de saída do desemprego para o emprego 70% maior do que os jovens que nunca trabalharam. Entre os jovens, o fato de já ter trabalhado anteriormente aumenta em 64% o risco de saída do desemprego, de acordo com a coluna (1). Considerando a heterogeneidade não observada na coluna (2), as diferenças estimadas em relação ao grupo de referência, composto por jovens em busca do primeiro emprego, são ainda mais acentuadas.

Percebe-se também que a probabilidade de transição do desemprego para o emprego é menor para as mulheres, e também diminui com a idade e com a escolaridade. A dummy indicando que o indivíduo é negro não se mostra estatisticamente significativa em nenhum desses três modelos.

As diferenças por gênero, também identificadas em outros estudos na literatura econômica, podem ser atribuídas ao papel tradicionalmente desempenhado pelas mulheres nas tarefas domésticas, o que pode influenciar principalmente nas suas avaliações sobre possíveis propostas de emprego recebidas (Lynch, 1989Lynch, L. M. (1989). The youth labor market in the eighties: Determinants of re-employment probabilities for young men and women. Review of Economics and Statistics, 71(1), 37-45.). Menezes-Filho e Pichetti (2000)Menezes-Filho, N. A., & Pichetti, P. (2000). Os determinantes da duração do desemprego no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico, 30(1). também analisam a relação entre a probabilidade de deixar o desemprego e a idade e a escolaridade do trabalhador. Os resultados encontrados por esses autores são semelhantes aos reportados na Tabela 2, indicando que trabalhadores mais velhos e mais escolarizados, uma vez desempregados, apresentam maiores dificuldades para sair dessa situação para um emprego do que os mais jovens e menos escolarizados.8 8 Os resultados são robustos a uma especificação que representa a escolaridade através de dummies para os seguintes grupos: (i) 4 a 7 anos de estudo, (ii) 8 a 10 anos, (iii) 11 a 14 anos, e (iv) 15 anos de estudo ou mais. Na coluna (1), a dependência da duração é negativa, mas considerando a heterogeneidade não observada, na coluna (2), a dependência da duração passa a ser positiva. De acordo com esse último resultado, quanto maior o tempo de desemprego, maior a probabilidade de transição para o emprego.

Como mostrado na Tabela 1, uma parcela elevada dos jovens, principalmente os que não tiveram trabalho anteriormente, se encontrava frequentando a escola. A Tabela A-1, no Apêndice A A. APÊNDICE Tabela A-1 Resultados estimados para transições do desemprego para o emprego(individuos que não frequentavam a escola).   Weilbull Cox   Sem heterogeneidade Com heterogeneidade   Variável (1) (2) (3) Indivíduo com idade entre 25 e 60 anos 0,477 (0,063) 0,731 (0,090) 0,392 (0,052) Jovem (15-24 anos) que já trabalhou 0,467 (0,058) 0,710 (0,082) 0,364 (0,048) Idade -0,010 (0,002) -0,013 (0,003) -0,005 (0,002) Mulher -0,282 (0,028) -0,432 (0,041) -0,256 (0,023) Negro 0,062 (0,034) 0,068 (0,047) 0,042 (0,027) Escolaridade -0,021 (0,002) -0,032 (0,007) -0,021 (0,004) Parâmetro α 0,871 (0,007) 1,375 (0,012) - Parâmetro σ2   4,441 (0,134)   Observações 13.517 13.517 13.517 Notas: Os erros-padrão são apresentados entre parênteses. Todas as regressões incluem dummies para as regiões metropolitanas e para os anos. Tabela A-2 Resultados estimados para transições do desemprego para o emprego (Homens).   Weilbull Cox   Sem heterogeneidade Com heterogeneidade   Variável (1) (2) (3) Indivíduo com idade entre 25 e 60 anos 0,669 (0,075) 0,991 (0,107) 0,546 (0,061) Jovem (15-24 anos) que já trabalhou 0,510 (0,064) 0,771 (0,092) 0,406 (0,054) Idade -0,015 (0,003) -0,019 (0,004) -0,008 (0,002) Negro 0,101 (0,043) 0,118 (0,060) 0,068 (0,033) Escolaridade -0,030 (0,006) -0,047 (0,009) -0,029 (0,005) Parâmetro α 0,891 (0,009) 1,410 (0,015) - Parâmetro σ2   4,192 (0,144)   Observações 7.839 7.839 7.839 Notas: Os erros-padrão são apresentados entre parênteses. Todas as regressões incluem dummies para as regiões metropolitanas e para os anos. Tabela A-3 Resultados estimados para transições do desemprego para o emprego (Mulheres).   Weilbull Cox   Sem heterogeneidade Com heterogeneidade   Variável (1) (2) (3) Indivíduo com idade entre 25 e 60 anos 0,372 (0,076) 0,599 (0,108) 0,322 (0,063) Jovem (15-24 anos) que já trabalhou 0,487 (0,064) 0,734 (0,090) 0,393 (0,053) Idade -0,005 (0,003) -0,007 (0,004) -0,002 (0,002) Negro -0,010 (0,044) -0,032 (0,061) -0,006 (0,033) Escolaridade -0,005 (0,006) -0,007 (0,009) -0,005 (0,005) Parâmetro α 0,877 (0,009) 1,371 (0,016) - Parâmetro σ2   4,911 (0,231)   Observações 8.829 8.829 8.829 Notas: Os erros-padrão são apresentados entre parênteses. Todas as regressões incluem dummies para as regiões metropolitanas e para os anos. , apresenta os resultados estimados para uma amostra restrita a indivíduos que não frequentavam a escola, usando as mesmas especificações da Tabela 2. Os resultados obtidos com essa amostra restrita são bastante semelhantes aos apresentados na Tabela 2.

As decisões sobre oferta de trabalho normalmente são bastante diferentes entre homens e mulheres, assim como a demanda por trabalho por parte dos empregadores também não é necessariamente igual para homens e mulheres. Para analisar se as transições do desemprego para o emprego apresentam dife renças por gênero, as tabelas A-2 e A-3, no Apêndice, mostram os resultados estimados separadamente para homens e mulheres. Algumas diferenças importantes por gênero podem ser notadas. Quando os adultos são comparados aos jovens que nunca trabalharam anteriormente, por exemplo, nota-se que a diferença na probabilidade de transição do desemprego para o emprego é bem maior entre os homens do que entre as mulheres. Já os resultados estimados para as probabilidades de transição dos jovens que já trabalharam em relação aos que nunca tiveram emprego são semelhantes entre homens e mulheres.

Na Tabela 3, as probabilidades de transição do desemprego para o emprego são estimadas usando um modelo paramétrico, separadamente para três diferentes amostras: (i) de jovens que nunca trabalharam, (ii) de jovens que já trabalharam, e (iii) de adultos que tiveram trabalho anteriormente. Com exceção da escolaridade e da dummy para indivíduos classificados como negros, as demais variáveis apresentam resultados, para cada um dos grupos, semelhantes aos obtidos com a amostra completa na Tabela 2. A dummy negro é positiva e significativa apenas para os adultos, nas colunas (3) e (6). Já com relação a variável escolaridade, os coeficientes estimados são positivos para jovens que nunca trabalharam, nas colunas (1) e (4), enquanto para os adultos a probabilidade de saída do desemprego diminui com os anos de estudo. Para os três grupos considerados na Tabela 3, a dependência da duração é negativa quando os modelos não consideram a heterogeneidade não observada. Incluindo o termo para captar essa heterogeneidade, a dependência da duração passa a ser positiva, como mostram os resultados nas colunas (4), (5) e (6).

Tabela 3
Resultados estimados para transições do desemprego para o emprego (Weilbull).

Na Tabela 4, são mostradas as evidências a partir da estimação de um modelo de Cox. De maneira geral, os resultados encontrados são semelhantes aos apresentados na Tabela 3. Para os jovens procurando o primeiro emprego, por exemplo, a probabilidade de saída do desemprego diminui com a idade, e também é menor para as mulheres em relação aos homens. Ainda para esse grupo, a probabilidade de transitar do desemprego para o emprego aumenta com a escolaridade, enquanto o efeito estimado para essa mesma variável é negativo para os adultos, sendo não significativo para os jovens que já trabalharam anteriormente.

Tabela 4
Resultados estimados para transições do desemprego para o emprego (Cox).

5.2. Transições do desemprego para o emprego e a inatividade

Antes de mostrar os resultados de transições envolvendo diferentes tipos de emprego, esta seção apresenta as probabilidades estimadas de transição do desemprego, considerando saídas para o emprego ou para a inatividade. Indivíduos desempregados há muito tempo podem decidir sair do mercado de trabalho por desalento. Reis e Aguas (2014)Reis, M., & Aguas, M. (2014). Duraçao do desemprego e transições para o emprego formal, a inatividade e a informalidade. Economia Aplicada, 18(1), 35-50. encontram evidências para o Brasil indicando que a probabilidade de transição do desemprego para a inatividade se torna cada vez maior com o tempo de desemprego.

Os resultados obtidos na Tabela 5 para transições do desemprego para o emprego não são muito diferentes daqueles apresentados na coluna (2) da Tabela 2 e nas colunas (4), (5) e (6) da Tabela 3, em que o único destino de saída do desemprego considerado é o emprego. Nota-se, porém, que as diferen ças dos jovens que nunca trabalharam em relação aos demais grupos são mais acentuadas na Tabela 5. Outra diferença que pode ser apontada se refere ao coeficiente da variável idade, que deixa de ser significativo para os jovens. Quanto às transições do desemprego para a inatividade, os resultados mostram que jovens procurando o primeiro emprego apresentam uma probabilidade menor de transição para a inatividade do que os adultos. Além disso, a dependência da duração é positiva para ambos os tipos de transição.

Tabela 5
Resultados estimados para transições do desemprego para o emprego ou a inatividade (Modelo Weilbull com heterogeneidade não observada).

5.3. Transições do desemprego para empregos formais e informais

A Tabela 6 mostra os resultados estimados, usando o modelo de riscos competitivos com função Weil bull e um termo para heterogeneidade não observada, para transições do desemprego para empregos formais e informais. Nas duas primeiras colunas dessa tabela, são reportados os resultados estimados com a amostra completa. Nas demais colunas, de (3) até (8), são mostrados os resultados estimados separadamente para cada um dos três grupos de trabalhadores definidos nesse artigo.

Tabela 6
Resultados estimados para transições do desemprego para empregos nos setores formal e informal (Modelo Weilbull com heterogeneidade não observada).

Nota-se nas colunas (1) e (2) que as probabilidades de transição do desemprego para o emprego formal, assim como para o emprego informal, são maiores para indivíduos que já tiveram alguma experiência no mercado de trabalho. Além disso, as diferenças referentes à probabilidade de saída do desemprego entre esses grupos que já trabalharam anteriormente e os jovens procurando o primeiro emprego são mais acentuadas no caso de transições para um emprego formal. Em quase todas as equações, os coeficientes encontrados para as variáveis idade e mulher são negativos e significativos, enquanto os coeficientes obtidos para a variável negro são não significativos em todo os casos reportados.

Considerando a amostra completa, os resultados indicam que a escolaridade aumenta a probabilidade de transição do desemprego para o emprego formal, e reduz a probabilidade de transição para o emprego informal. Resultados semelhantes são encontrados para os grupos de trabalhadores que já tiveram alguma experiência prévia no mercado de trabalho. Para os jovens em busca do primeiro emprego, porém, os resultados mostram que um nível mais alto de escolaridade aumenta a probabilidade de transição para o emprego formal, mas o coeficiente referente a saída do desemprego para o emprego informal não se mostra significativo. Em todos os modelos estimados na Tabela 5 a dependência da duração é positiva, tanto para transições para o setor formal quanto para transições que envolvem o setor informal.

5.4. Transições do desemprego para empregos com contrato por prazo determinado e empregos com prazo indeterminado

Os resultados estimados para a probabilidade de saída do desemprego considerando como destinos empregos com prazo indeterminado e empregos temporários são mostrados na Tabela 7. A coluna (1) indica que indivíduos que já trabalharam têm probabilidades de transição do desemprego para um emprego com contrato por prazo indeterminado bem maiores do que os jovens que nunca trabalharam. Para as saídas que tem como destino um emprego temporário, na coluna (2), as probabilidades estimadas para os dois grupos com experiência prévia no mercado de trabalho são maiores do que para os jovens buscando o primeiro emprego, mas as diferenças não são tão acentuadas quanto as observadas na coluna (1).

Tabela 7
Resultados estimados para transições do desemprego para empregos por prazo indeterminado e empregos temporários. (Modelo Weilbull heterogeneidade não observada).

Os resultados estimados para os anos de escolaridade, usando o total da amostra, indicam que aumentos na escolaridade reduzem as probabilidades de saída tanto para emprego por prazo indeterminado quanto para empregos temporários. Esses mesmos resultados são observados para os adultos que já trabalharam. Para os jovens que nunca trabalharam, os coeficientes estimados não são significativamente diferentes de zero, enquanto para os jovens que já trabalharam anteriormente a probabilidade de transição para um emprego com contrato por prazo indeterminado diminui com os anos de estudo. Considerando os jovens que nunca trabalharam, nota-se que a idade está associada a probabilidades mais baixas de transição para os dois tipos de emprego, enquanto as mulheres se mostram menos propensas a transitar para empregos com contrato por prazo indeterminado do que os homens. Para os dois destinos de saída do desemprego considerados na Tabela 7, os resultados para os três grupos de trabalhadores analisados mostram uma dependência da duração positiva.

5.5. Transições do desemprego para empregos em tempo integral e em tempo parcial

Na Tabela 8, são apresentados os resultados estimados para o modelo de riscos competitivos que con sidera dois destinos possíveis de saída do desemprego: i) um emprego em tempo integral, definido como um emprego com 30 horas ou mais habitualmente trabalhadas, ou ii) um emprego em tempo parcial, que é caracterizado nesse artigo por menos de 30 horas habitualmente trabalhadas na semana. Percebe-se na coluna (1) que os dois grupos de indivíduos que já trabalharam anteriormente, tanto aqueles com idade entre 25 e 60 anos quanto os jovens com idade entre 15 e 24 anos, apresentam probabilidades mais altas de transitarem para um emprego em tempo integral do que os jovens que nunca trabalharam anteriormente. As diferenças estimadas para transições do desemprego para empregos em tempo parcial, entretanto, não são estatisticamente significativas.

Tabela 8
Resultados estimados para transições do desemprego para o empregos em tempo integral e parcial. (Modelo Weilbull com heterogeneidade não observada).

A Tabela 8 mostra que algumas variáveis apresentam efeitos bastante distintos dependendo do tipo de transição e do grupo de trabalhadores considerados. Para os dois grupos com alguma experiência prévia no mercado de trabalho, as mulheres apresentam probabilidades mais baixas de transição para um emprego em tempo integral do que os homens, mas probabilidades mais elevadas de transição para um emprego em tempo parcial. Entre os jovens que nunca trabalharam, entretanto, as probabilidades estimadas de saída do desemprego para as mulheres são menores nos dois tipos de destino.

Para os adultos que já tiveram trabalho, a escolaridade também apresenta coeficientes negativos para os dois destinos de saída do desemprego. Já para os jovens procurando o primeiro emprego, os resultados mostram que a probabilidade de saída para um emprego em tempo parcial aumenta com a escolaridade, enquanto o coeficiente referente a transições para empregos em tempo integral não se mostra significativamente diferente de zero. Para os três grupos de trabalhadores reportados na Tabela 8, as evidências indicam que a probabilidade de transição do desemprego para qualquer um dos dois tipos de emprego aumenta com a duração do desemprego.

6. CONCLUSÕES

Neste artigo, foram analisadas as transições dos jovens do desemprego até o primeiro emprego, usando informações longitudinais da PME. As trajetórias desses jovens foram comparadas com as apresentadas por dois outros grupos, formados por jovens na mesma faixa etária que já tiveram emprego anteriormente, e por indivíduos mais velhos, com idade entre 25 e 60 anos, também com alguma experiência no mercado de trabalho.

Os resultados indicam que jovens em busca do primeiro emprego apresentam probabilidades menores de sair do desemprego do que os demais trabalhadores que já tiveram emprego antes. No entanto, a situação dos jovens que já trabalharam anteriormente parece bastante semelhante a dos adultos. Portanto, parece que a dificuldade dos jovens transitarem do desemprego para o emprego está associada particularmente ao primeiro emprego. Uma vez adquirida alguma experiência no mercado de trabalho, indivíduos nesse grupo etário não mostram condições necessariamente piores do que os trabalhadores mais velhos no que se refere à probabilidade de conseguir emprego.

As evidências também mostram que algumas variáveis influenciam a probabilidade de transição do desemprego para o emprego de uma forma particular para os jovens em busca do primeiro emprego. A escolaridade, por exemplo, é uma variável associada a menores probabilidades de saída do desemprego para os indivíduos com experiência prévia no mercado de trabalho, o que pode estar relacionado com salários de reserva mais elevados para os mais escolarizados. Esse efeito compensaria a maior propensão a receber ofertas de emprego por parte dos trabalhadores mais escolarizados. Para os jovens procurando o primeiro emprego, no entanto, a escolaridade é um fator que aumenta a probabilidade de sair do desemprego. Níveis mais elevados de educação, portanto, podem acelerar esse processo de transição até o primeiro emprego.

As diferenças nos resultados estimados entre indivíduos com experiência prévia no mercado de trabalho e jovens procurando o primeiro emprego se mostram mais acentuadas para transições que tem como destino empregos considerados de melhor qualidade, como empregos no setor formal, com contratos por tempo indeterminado, ou em tempo integral. Já empregos temporários, no setor informal, ou em tempo parcial parecem oferecer oportunidades relativamente melhores para os jovens ingressarem pela primeira vez no mercado de trabalho.

  • 1
    Ver, por exemplo, O'Higgins (2010)O'Higgins, N. (2010). Youth labour markets in Europe and Central Asia. IZA Discussion Paper Nº 5094. para uma comparação entre diversos países.
  • 2
    Como mostra a decomposição da taxa de desemprego apresentada por Marston (1976)Marston, S. (1976). Employment stability and high unemployment rates. Brooking Papers on Economic Activity, 1, 169-203., um grupo pode apresentar uma taxa elevada pela dificuldade para obter emprego dos indivíduos nesse grupo que se encontram desempregados, pela dificuldade dos integrantes desse grupo permanecerem empregados, ou por entradas e saídas constantes da força de trabalho. De acordo com Layard, Nickell e Jackman (1991)Layard, R., Nickell, S. & Jackman, R. (1991). Unemployment: Macroeconomic performance and the labour market. Oxford University Press., as taxas mais elevadas de desemprego para os jovens na OCDE se devem ao fato desse grupo ser mais propenso a ficar desempregado. Resultados semelhantes para o Brasil são apresentados por Fiori (2005)Fiori, P. (2005). Desemprego dos jovens no brasil. Revista da ABET, 5(1), 30-60..
  • 3
    Farber (1997)Farber, H. (1997). Alternative employment arrangements as a response to job loss. (Mimeo) apresenta evidências de que trabalhadores que perdem o emprego nos Estados Unidos são mais propensos a se reempregarem em trabalhos com arranjos alternativos, que envolvem emprego temporário, trabalho em tempo parcial ou como conta-própria. Farber (1997)Farber, H. (1997). Alternative employment arrangements as a response to job loss. (Mimeo) mostra também que esses empregos normalmente representam um processo de transição para empregos convencionais em um período seguinte. É possível que os jovem que entram no mercado de trabalho experimentem um processo semelhante.
  • 4
    É possível até que o emprego tenha essas três características simultaneamente.
  • 5
    Essa definição de tempo de desemprego é a mesma utilizada por Menezes-Filho e Pichetti (2000)Menezes-Filho, N. A., & Pichetti, P. (2000). Os determinantes da duração do desemprego no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico, 30(1)..
  • 6
    Levando-se em conta que a participação dos adultos que nunca trabalharam é pequena, os dados na Tabela 1 indicam que os jovens representam uma parcela substancial dos desempregados no Brasil.
  • 7
    Também são estimados modelos que consideram a presença de heterogeneidade não-observada entre os indivíduos. Essa hete­rogeneidade é introduzida através de um termo multiplicativo. Adotando uma função Weibull para , a função de risco nesse h(t,xi,v) =viex'κβκ αtα−1 onde v é um termo com distribuição gaussiana inversa que procura captar a heterogeneidade não observada.
  • 8
    Os resultados são robustos a uma especificação que representa a escolaridade através de dummies para os seguintes grupos: (i) 4 a 7 anos de estudo, (ii) 8 a 10 anos, (iii) 11 a 14 anos, e (iv) 15 anos de estudo ou mais.

A. APÊNDICE

Tabela A-1
Resultados estimados para transições do desemprego para o emprego(individuos que não frequentavam a escola).
Tabela A-2
Resultados estimados para transições do desemprego para o emprego (Homens).
Tabela A-3
Resultados estimados para transições do desemprego para o emprego (Mulheres).

REFERÊNCIAS

  • Cox, D. R. (1972). Regression models and life tables. Journal of the Royal Statistical Society, Series B (Methodological), 34(2), 187-220.
  • Cox, D. R. (1975). Partial likelihood. Biometrika, 62(2), 269-76.
  • Farber, H. (1997). Alternative employment arrangements as a response to job loss. (Mimeo)
  • Fiori, P. (2005). Desemprego dos jovens no brasil. Revista da ABET, 5(1), 30-60.
  • Layard, R., Nickell, S. & Jackman, R. (1991). Unemployment: Macroeconomic performance and the labour market Oxford University Press.
  • Lynch, L. M. (1989). The youth labor market in the eighties: Determinants of re-employment probabilities for young men and women. Review of Economics and Statistics, 71(1), 37-45.
  • Marston, S. (1976). Employment stability and high unemployment rates. Brooking Papers on Economic Activity, 1, 169-203.
  • Menezes-Filho, N. A., & Pichetti, P. (2000). Os determinantes da duração do desemprego no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico, 30(1).
  • Monte, P., Araújo, T. & Lima, R. (2007). Primeiro emprego e reemprego: análise de inserção ocupacional e duração do desemprego no Brasil metropolitano. Economia e Desenvolvimento, 7(1), 139-177.
  • O'Higgins, N. (2010). Youth labour markets in Europe and Central Asia. IZA Discussion Paper Nº 5094
  • Reis, M., & Aguas, M. (2014). Duraçao do desemprego e transições para o emprego formal, a inatividade e a informalidade. Economia Aplicada, 18(1), 35-50.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2015
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