Acessibilidade / Reportar erro

Adsorção de ácidos húmicos em latossolo roxo natural e tratado com oxalato de amônio

Adsorption of humic acids on natural and ammonia-oxalate treated oxisol

Resumos

A interação de substâncias húmicas com minerais no solo pode influir na dinâmica da decomposição da matéria orgânica e na sua estabilidade. A adsorção de dois ácidos húmicos em Latossolo Roxo natural (LR natural) e tratado com oxalato de amônio (LR tratado) foi efetuada, com vistas em investigar os mecanismos de adsorção e os principais grupos funcionais envolvidos, bem como relacionar a capacidade adsortiva de acordo com as características químicas e moleculares dos adsorbatos. Os ácidos húmicos extraídos com solução de NaOH 0,5 N de uma amostra de carvão (AHc) e de um solo Brunizém (AHs) foram caracterizados por análise elementar e espectroscopia de 13C-RMN. A parametrização dos dados experimentais das isotermas de adsorção foi do tipo y = A tanh Bx, e o modelo de Langmuir também foi aplicado. As amostras adsorvidas foram analisadas por espectroscopia no Infra-Vermelho por Reflectância Difusa com Transformada de Fourier (DRIFT). A adsorção dos ácidos húmicos no LR natural foi de natureza química, sendo evidenciado por DRIFT que a reação de troca de ligantes das carboxilas com a superfície dos minerais foi um mecanismo importante. O AHc, que apresentou caráter aromático mais elevado e maior teor de carboxilas na molécula, foi adsorvido em maior quantidade do que o AHs nos dois adsorventes, o que indica a possível participação de estruturas aromáticas na interação organomineral. No LR tratado, cuja área superficial específica foi superior (ASE = 140,9 m² g-1), a adsorção foi mais elevada do que no LR natural (ASE = 66,1 m² g-1). A maior ASE no LR tratado foi relacionada com o rompimento de microagregados no tratamento com oxalato de amônio que extraiu a porção cimentante dos óxidos de ferro que unia os minerais. A interação neste tipo de adsorvente, estimada segundo a equação y = A tanh Bx, foi mais forte do que na amostra natural, o que pode estar relacionado com a presença de sítios de adsorção hidrofóbica pela presença do oxalato na superfície, com a exposição de sítios mais reativos após tratamento e pH mais ácido. O modelo de Langmuir mostrou-se adequado para explicar a adsorção na amostra natural, enquanto, no LR tratado com oxalato de amônio, o ajuste não foi satisfatório. Em geral, a aplicação da equação y = A tanh Bx forneceu melhor ajuste (R² maior) do que a equação de Langmuir.

parametrização; troca de ligantes; 13C-RMN; DRIFT; interação química


The adsorption of two humic acids (HA) was carried out on a natural Oxisol (natural LR) and on an ammonium-oxalate treated sample (treated LR), in order to investigate the adsorption mechanisms and the main functional groups involved and relate the adsorptive capacity with the chemical and molecular characteristics of the adsorbates. The HA extracted with 0.5 N NaOH solution from a coal sample (HAc) and from a Mollisol sample (HAs) were characterized by elemental analysis and 13C-NMR spectroscopy. The experimental data were fitted according to the equation y = A tanh Bx and the model of Langmuir was also applied. The adsorbed samples were analyzed by Diffuse Reflectance Fourier Transformed Infrared Spectroscopy (DRIFT). The HA adsorption on the natural LR was of a chemical nature, with the ligand exchange reaction between the carboxyl groups and the mineral surfaces being an important mechanism, as shown by DRIFT. The AHc had a higher aromatic character and a higher carboxyl content in its molecule and was adsorbed in greater quantity than the AHs in both adsorbents. This result also suggests a possible participation of aromatic moieties in the organo-mineral interaction. The treated LR, which had a higher specific surface area (SSA = 140.9 m² g-1), showed a greater adsorptive capacity than the natural LR (SSA = 66.1 m² g-1). The higher SSA in the treated sample was related to the breakup of microaggregates by the oxalate treatment, caused by the extraction of the cementing portion of iron oxides that bonded the particles together. The interaction in this adsorbent, as estimated by the parametrization y = A tanh Bx, showed higher chemical affinity than in the natural sample. This can be related to the adsorbed oxalate that created hydrophobic adsorption sites, the exposure of more reactive sites after the treatment and the lower pH value. The Langmuir model was adequate to explain the adsorption in the natural sample, while in the treated sample, the results obtained were not satisfactory. Generally, the proposed parametrization y = A tanh Bx yielded the better fit (i.e. higher R²) in comparison to the Langmuir equation.

parametrization; ligand exchange; 13C-NMR; DRIFT; chemical interaction


SEÇÃO II - QUÍMICA DO SOLO

Adsorção de ácidos húmicos em latossolo roxo natural e tratado com oxalato de amônio(1 (1 ) Trabalho apresentado em parte no VI Encontro de Química da Região Sul em Maringá (PR), de 4-6 de novembro de 1998. )

Adsorption of humic acids on natural and ammonia-oxalate treated oxisol

D. P. DickI; J. GomesII; C. BayerIII; B. BodmannIV

IProfessora Adjunta do Departamento de Físico-Química, Instituto de Química, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Av. Bento Gonçalves 9500, CEP 91501-970 Porto Alegre (RS). Professora PPG-Ciência do Solo, Faculdade de Agronomia, UFRGS. Bolsista do CNPq. E-mail: dpdick@if1.if.ufrgs.br

IIGraduanda do curso de Bacharelado em Química, UFRGS. Bolsista de IC do CNPq

IIIProfessor Adjunto do Departamento de Solos, UDESC, Caixa Postal 281, CEP 88520-000 Lages (SC)

IVProfessor Titular do Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas, UNISINOS, CEP 93022-000 São Leopoldo (RS)

RESUMO

A interação de substâncias húmicas com minerais no solo pode influir na dinâmica da decomposição da matéria orgânica e na sua estabilidade. A adsorção de dois ácidos húmicos em Latossolo Roxo natural (LR natural) e tratado com oxalato de amônio (LR tratado) foi efetuada, com vistas em investigar os mecanismos de adsorção e os principais grupos funcionais envolvidos, bem como relacionar a capacidade adsortiva de acordo com as características químicas e moleculares dos adsorbatos. Os ácidos húmicos extraídos com solução de NaOH 0,5 N de uma amostra de carvão (AHc) e de um solo Brunizém (AHs) foram caracterizados por análise elementar e espectroscopia de 13C-RMN. A parametrização dos dados experimentais das isotermas de adsorção foi do tipo y = A tanh Bx, e o modelo de Langmuir também foi aplicado. As amostras adsorvidas foram analisadas por espectroscopia no Infra-Vermelho por Reflectância Difusa com Transformada de Fourier (DRIFT). A adsorção dos ácidos húmicos no LR natural foi de natureza química, sendo evidenciado por DRIFT que a reação de troca de ligantes das carboxilas com a superfície dos minerais foi um mecanismo importante. O AHc, que apresentou caráter aromático mais elevado e maior teor de carboxilas na molécula, foi adsorvido em maior quantidade do que o AHs nos dois adsorventes, o que indica a possível participação de estruturas aromáticas na interação organomineral. No LR tratado, cuja área superficial específica foi superior (ASE = 140,9 m2 g-1), a adsorção foi mais elevada do que no LR natural (ASE = 66,1 m2 g-1). A maior ASE no LR tratado foi relacionada com o rompimento de microagregados no tratamento com oxalato de amônio que extraiu a porção cimentante dos óxidos de ferro que unia os minerais. A interação neste tipo de adsorvente, estimada segundo a equação y = A tanh Bx, foi mais forte do que na amostra natural, o que pode estar relacionado com a presença de sítios de adsorção hidrofóbica pela presença do oxalato na superfície, com a exposição de sítios mais reativos após tratamento e pH mais ácido. O modelo de Langmuir mostrou-se adequado para explicar a adsorção na amostra natural, enquanto, no LR tratado com oxalato de amônio, o ajuste não foi satisfatório. Em geral, a aplicação da equação y = A tanh Bx forneceu melhor ajuste (R2 maior) do que a equação de Langmuir.

Termos de indexação: parametrização, troca de ligantes, 13C-RMN, DRIFT, interação química.

SUMMARY

The adsorption of two humic acids (HA) was carried out on a natural Oxisol (natural LR) and on an ammonium-oxalate treated sample (treated LR), in order to investigate the adsorption mechanisms and the main functional groups involved and relate the adsorptive capacity with the chemical and molecular characteristics of the adsorbates. The HA extracted with 0.5 N NaOH solution from a coal sample (HAc) and from a Mollisol sample (HAs) were characterized by elemental analysis and 13C-NMR spectroscopy. The experimental data were fitted according to the equation y = A tanh Bx and the model of Langmuir was also applied. The adsorbed samples were analyzed by Diffuse Reflectance Fourier Transformed Infrared Spectroscopy (DRIFT). The HA adsorption on the natural LR was of a chemical nature, with the ligand exchange reaction between the carboxyl groups and the mineral surfaces being an important mechanism, as shown by DRIFT. The AHc had a higher aromatic character and a higher carboxyl content in its molecule and was adsorbed in greater quantity than the AHs in both adsorbents. This result also suggests a possible participation of aromatic moieties in the organo-mineral interaction. The treated LR, which had a higher specific surface area (SSA = 140.9 m2 g-1), showed a greater adsorptive capacity than the natural LR (SSA = 66.1 m2 g-1). The higher SSA in the treated sample was related to the breakup of microaggregates by the oxalate treatment, caused by the extraction of the cementing portion of iron oxides that bonded the particles together. The interaction in this adsorbent, as estimated by the parametrization y = A tanh Bx, showed higher chemical affinity than in the natural sample. This can be related to the adsorbed oxalate that created hydrophobic adsorption sites, the exposure of more reactive sites after the treatment and the lower pH value. The Langmuir model was adequate to explain the adsorption in the natural sample, while in the treated sample, the results obtained were not satisfactory. Generally, the proposed parametrization y = A tanh Bx yielded the better fit (i.e. higher R2) in comparison to the Langmuir equation.

Index terms: parametrization, ligand exchange, 13C-NMR, DRIFT, chemical interaction.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Dr. H. Herzog do ISAS, Dortmund, Alemanha, pelo auxílio na realização das análises de RMN-13C, e ao CNPq, FAPERGS e PROPESQ/UFRGS.

LITERATURA CITADA

Recebido para publicação em maio de 1999

Aprovado em fevereiro de 2000

  • BAES, A.U. & BLOOM, P.R. Diffuse reflectance and transmission fourier transform infrared (DRIFT) spectrocopy of humic and fulvic acids. Soil Sci. Soc. Am. J., 53:695-700, 1989.
  • BAYER, C. Dinâmica da matéria orgânica em sistemas conservacionistas de manejo de solos. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1996. 241p. (Tese de Doutorado)
  • DELINEAU, T.; ALIARD, T.; MULLER, J.P.; BARRES, O.; YVON, J. & CASES, J.M. FTIR reflectance vs. EPR studies of structural iron in kaolinites. Clays Clay Miner., 42:308-320, 1994.
  • DICK, D.P. Caracterização de óxidos de ferro e adsorção de fósforo na fração argila de horizontes B-latossólicos. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1986. 196p. (Tese de Mestrado)
  • DICK, D.P. Eigenschaften von Mikroaggregaten in brasilianischen Oxisolen. Freising, Technische Universität München, 1993. 149p.
  • DICK,.D.P.; GOMES, J. & ROSINHA, P.B. Caracterização de substâncias húmicas extraídas de solos e de lodo orgânico. R. Bras. Ci. Solo, 22:603-611, 1998.
  • DUXBURY, J.M.; SMITH, M.S. & DORAN, J.M. Soil organic matter as a source and a sink of plant nutrients. In: COLEMAN, D.C.; OADES, J.M. & UEHARA, G. Dynamics of soil organic matter in tropical ecossystems. Honolulu, University of Hawaii, 1989. p.33-67.
  • EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa em Solos. Manual de métodos de análise de solo. 2.ed. Rio de janeiro, 1997. p.83-84.
  • FARMER, V.C. The infra-red spectra of minerals. London, Mineralogical Society, 1974. 537p. (Monograph, 4)
  • FONTES, M.R. Interactions of goethite and humic acid in some oxisols from Brazil. Raleigh, North Caroline State University, 1990. 75p. (Tese de Doutorado)
  • GU, B.; SCHMITT, J.; CHEN, Z.; LLANG, L. & MaCCARTHY, J.F. Adsorption and desorption of natural organic matter on iron oxide: Mechanism and models. Environ.Sci. Technol., 28:38-46, 1994.
  • HATCHER, P.G.; SCHNITZER, M.; DENNIS, L.W. & MACIEL, G.E. Aromaticity of humic substances. Soil Sci. Soc. Am. J., 45:1089-1094, 1981.
  • KAISER, K. & ZECH, W. Natural organic matter sorption on different mineral surfaces studied by DRIFT spectroscopy. Sciences of Soils, rel.2, 1997a. (http: hintze-online.com/sos/1997a/Articles/Art4)
  • KAISER, K. & ZECH, W. Competitive sorption of dissolved organic matter fractions to soils and related mineral phases. Soil Sci. Soc. Am. J., 61:64-69, 1997b.
  • KAISER, K.; GUGGENBERGER, G.; HAUMAIER, L. & ZECH, W. Dissolved organic matter sorption on subsoils and minerals studied by 13C-NMR and DRIFT spectroscopy. Eur. J. Soil Sci., 48:301-310, 1997.
  • MORELLI, M. & BORTOLLUZZI, G. Efeito do humato e poligalacturonato na sorção de fosfato pelo solo. R. Bras. Ci. Solo, 16:373-377, 1992.
  • MUNEER, M. & OADES, J.M. The role of Ca-organic interactions in soil aggregate stability. III. Mechanisms and models. Aust. J. Soil Res., 27:411-423, 1989.
  • NAKAMOTO, K. Infrared and raman spectra of inorganic and coordination compounds. 3 .ed. London, Chapmann & Hall, 1978. p.234-235.
  • OLSEN, S.R. & WATANABE, F.S. A method to determine a phosphorus adsorption maximum of soil as measured by the Langmuir isotherm. Soil Sci. Soc. Am. Proc., 21:144-149, 1957.
  • PARFITT, R.L.; FRASER, A.R. & FARMER, V.C. Adsorption on hydrous oxides. III. Fulvic acid and humic acid on goethite, gibbsite and imogolite. J. Soil Sci., 28:289-296, 1977.
  • QUIRK, J.P. Significance of surface areas calculated from water vapour sorption isotherms by the use of the BET equation. Soil Sci., 80:423-430, 1955.
  • RISTORI, G.G.; SPARVOLLI, E.; NOBILI, M. & D'ACQUI, L.P. Characterization of organic matter in particle-size fractions of vertisols. Geoderma, 54:295-305, 1992.
  • SCHULTHESS, C.P. & HUANG, C.P. Humic and fulvic acid adsorption by silicon and aluminum oxide surfaces on clay minerals. Soil Sci. Soc. Am. J., 55:34-42, 1991.
  • SCHWERTMANN, U. Differenzierung der Eisenoxide des Bodens durch Extraktion mit Ammonium-Oxalat Lösung. Z. Pflanzenernahr. Bodenkd. 105:194-202, 1964.
  • SKJEMSTAD, J.O.; CLARK, P.; GOLCHIN, A. & OADES, J.M. Characterization of soil organic matter by solid-state 13C-NMR spectroscopy. In: CADISH, G. & GILLER, K., eds. Driven by nature: Plant litter quality and decomposition. Wallingford, CAB International, 1996. p.372.
  • SPARKS, D. Environmental soil chemistry. San Diego, Academic Press, 1995. 267p.
  • SPOSITO, G. The chemistry of soils. New York, Oxford University Press, 1989. 277p.
  • STEVENSON, F.J. Humus chemistry. Genesis, composition, reactions. 2.ed. New York, John Wiley, 1994. 496p.
  • TEDESCO, M.; GIANELLO, C.; BISANI, C.A.; BOHNEN, H. & VOLSWEISS, S. Análise de solo, plantas e outros materiais. 2.ed. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1995, 174p. (Boletim Técnico, 5)
  • TIPPING, E. The adsorption of aquatic humic substances by iron oxides. Geochim. Cosmochim. Acta, 45:191-199, 1981.
  • VALLADARES, G.S.; PEREIRA, M.G. & ALVES, G.C. Aplicação de duas isotermas de adsorção de boro em solos de baixada do estado do Rio de Janeiro. R. Bras. Ci. Solo, 22:361-365, 1998.
  • VARADACHARI, C.; CHATTOPADHYAY, T. & GHOSH, K. Complexation of humic substances with oxides of iron and aluminum. Soil Sci., 162:28-34, 1997.
  • WANG, L.; CHIN, Y.P. & TRAINA, S.J. Adsorption of (poly)maleic acid and aquatic fulvic acid by goethite. Geochim. Chosmochim. Acta, 61:5313-5324, 1997.
  • (1
    ) Trabalho apresentado em parte no VI Encontro de Química da Região Sul em Maringá (PR), de 4-6 de novembro de 1998.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      06 Out 2014
    • Data do Fascículo
      Jun 2000

    Histórico

    • Recebido
      Maio 1999
    • Aceito
      Fev 2000
    Sociedade Brasileira de Ciência do Solo Secretaria Executiva , Caixa Postal 231, 36570-000 Viçosa MG Brasil, Tel.: (55 31) 3899 2471 - Viçosa - MG - Brazil
    E-mail: sbcs@ufv.br