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ACR BI-RADS™ na ultra-sonografia

EDITORIAL

ACR BI-RADS™ na ultra-sonografia

Luciano Fernandes ChalaI; Nestor de BarrosII

IMembro do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InRad/HC-FMUSP) e do Centro de Diagnóstico por Imagem em Mama (Cedim)

IIMembro do Departamento de Radiologia da FMUSP e do Cedim. E-mail: nestorbarros@uol.com.br

No final de 2003, o Colégio Americano de Radiologia publicou a nova edição do Breast Imaging Reporting and Data System (BI-RADS), a qual apresenta modificações e melhorias significativas em relação às edições anteriores. Entre estas modificações destaca-se a extensão do BI-RADS para a ultra-sonografia e ressonância magnética.

O BI-RADS foi introduzido no início da década de 90 pelo Colégio Americano de Radiologia e restringiu-se, até sua última edição, à mamografia. O seu objetivo foi sistematizar o laudo médico, padronizar os descritores empregados, estabelecer categorias de avaliação final e sugerir condutas apropriadas para cada uma delas. Além disso, também buscou estimular e sistematizar a coleta de dados dos serviços de mamografia, com o objetivo de avaliar as clínicas individualmente e os resultados do rastreamento mamográfico do câncer de mama nos Estados Unidos. Na segunda metade da década de 90 seu uso tornou-se obrigatório, por lei federal, nos Estados Unidos. No Brasil, embora não seja obrigatório, o BI-RADS vem sendo cada vez mais utilizado nos laudos mamográficos. No fim da década de 90 foi a base de uma reunião de consenso para padronização dos laudos mamográficos, a qual reuniu especialistas das áreas de radiologia, mastologia e ginecologia.

As vantagens do emprego do BI-RADS estão relacionadas à padronização que ele promove e às sugestões de conduta. A sistematização da estrutura evita laudos extensos e sem objetividade e a padronização dos termos facilita e torna mais compreensível a descrição de eventuais lesões. Ao uniformizar as conclusões e sugestões de conduta, evitam-se laudos inconclusivos. Além disso, esta sistematização facilita a realização e comparação de trabalhos científicos e as auditorias de clínicas e programas de rastreamento.

No entanto, à medida que se difundiu o emprego clínico do BI-RADS na mamografia, surgiram muitas controvérsias e dúvidas, as quais, quando analisadas, podem ser classificadas em quatro grupos: relacionadas aos descritores, às categorias de avaliação final, às sugestões de conduta e às lesões palpáveis. As controvérsias relacionadas ao uso dos descritores, categorias de avaliação final e sugestões de conduta têm sido resolvidas basicamente por duas medidas. A primeira delas é a educação continuada, e a outra, uma maior clareza na definição e emprego dos termos propostos, o que, no nosso entender, melhorou na última edição do BI-RADS. As controvérsias relacionadas à aplicação do BI-RADS para lesões palpáveis estão associadas ao fato de o BI-RADS ter sido estruturado para ser utilizado em mamografias de rastreamento e, portanto, em mulheres assintomáticas. A determinação da conduta para lesões palpáveis leva em conta as características clínicas e, dessa forma, não pode ser determinada unicamente com base nas características de imagem, o que explica a dificuldade do emprego do BI-RADS em lesões palpáveis.

Na mamografia observou-se um efeito interessante após a introdução do BI-RADS em nosso meio: a melhoria do nível médio dos profissionais que laudam mamografia. Isto decorreu do fato de que muitos profissionais buscaram cursos de reciclagem voltados para o BI-RADS e, por conseguinte, reciclaram seus conhecimentos em mamografia, mostrando o valor da educação continuada.

A próxima etapa a ser enfrentada será implantar o uso do BI-RADS na ultra-sonografia. Este uso modificará substancialmente o papel do ultra-sonografista em mama, pois implicará classificar a lesão de acordo com a probabilidade de malignidade e sugerir uma conduta, como na mamografia. Isto representa uma mudança de postura, pois habitualmente estas considerações não fazem parte dos laudos ultra-sonográficos.

Outra dificuldade prática será sincronizar os laudos ultra-sonográfico, mamográfico e da ressonância magnética, o que é bastante importante. Esta nova realidade, para aqueles que praticam a imaginologia mamária, ou seja, a integração de todos os métodos, trará novos desafios e dificuldades, porém é necessário enfatizar que muito mais freqüentemente lesões são vistas no ultra-som, pelo uso difundido deste método, do que na ressonância magnética, fazendo com que o aprendizado da aplicação do BI-RADS no laudo do exame ultra-sonográfico seja prioritário.

Por fim, o uso do BI-RADS na ultra-sonografia com certeza enfrentará as mesmas dificuldades e críticas vistas na mamografia. É necessário e importante lembrar que o BI-RADS, ou qualquer outro tipo de padronização, se alimenta de conhecimentos que são constantemente produzidos e, portanto, se pode modificar, antevendo-se modificações futuras nestas orientações, originárias das dificuldades e dúvidas surgidas nesta aplicação.

A despeito das dúvidas geradas no início do uso da padronização do laudo ultra-sonográfico, esperamos que progressivamente seu uso seja ampliado. Para realizar este objetivo, a exemplo do ocorrido quanto ao laudo mamográfico, a necessidade de reaprender e reciclar conhecimentos nos parece imperiosa, e a educação continuada será nossa maior arma para superar estes obstáculos, sob pena de não proporcionarmos às nossas pacientes tudo o que o método pode trazer-lhes de benéfico.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Maio 2004
  • Data do Fascículo
    Abr 2004
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