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Fungos aeróbios no intestino grosso de borregos e de ovelhas criados em pastagens tropicais

Aerobic fungi in the large intestine of lambs and ewes raised on tropical pastures

Resumo

Fungi populations were evaluated in large intestine from sheep raised in the North of Minas Gerais, Brazil. The samples were from 39 Santa Inês crossbred ewes and 30 lambs raised on Tanzania grass (Panicum maximum cv. Tanzania), both supplemented with mineral mixtures. The clinical specimens were directly collected from rectal ampoule with sterile swabs. The development of fungal mycelium was observed in all lamb samples and positive cultures were observed in 34 ewe specimens (87.2%). After microculture of 40 colonies from lambs, 34 isolates of the genus Aspergillus, three of Paecilomyces spp., one Acremonium sp., and one Trichoderma sp. were identified. Out of the 39 isolates from ewes, 15 Paecilomyces spp., 11 Aspergillus spp., 11 Malbranchea spp., and one Onychocola sp. were identified. The results showed the predominance of the genus Aspergillus in the lambs, while the genus Paecilomyces, Malbranchea, and Aspergillus were predominant, in ewes.

sheep; digestive tract; mycelial fungi; North of Minas Gerais


ovinos; trato digestório; fungos micecianos; Norte de Minas Gerais

sheep; digestive tract; mycelial fungi; North of Minas Gerais

COMUNICAÇÃO

Fungos aeróbios no intestino grosso de borregos e de ovelhas criados em pastagens tropicais

Aerobic fungi in the large intestine of lambs and ewes raised on tropical pastures

C.E.S. Freitas; F.O. Abrão; K.L. Silva; P.N.M. Almeida; E.R. Duarte* * Autor para correspondência ( corresponding author)

Instituto de Ciências Agrárias - Universidade Federal de Minas Gerais - Montes Claros, MG

Palavras-chave: ovinos, trato digestório, fungos micecianos, Norte de Minas Gerais

ABSTRACT

Fungi populations were evaluated in large intestine from sheep raised in the North of Minas Gerais, Brazil. The samples were from 39 Santa Inês crossbred ewes and 30 lambs raised on Tanzania grass (Panicum maximum cv. Tanzania), both supplemented with mineral mixtures. The clinical specimens were directly collected from rectal ampoule with sterile swabs. The development of fungal mycelium was observed in all lamb samples and positive cultures were observed in 34 ewe specimens (87.2%). After microculture of 40 colonies from lambs, 34 isolates of the genus Aspergillus, three of Paecilomyces spp., one Acremonium sp., and one Trichoderma sp. were identified. Out of the 39 isolates from ewes, 15 Paecilomyces spp., 11 Aspergillus spp., 11 Malbranchea spp., and one Onychocola sp. were identified. The results showed the predominance of the genus Aspergillus in the lambs, while the genus Paecilomyces, Malbranchea, and Aspergillus were predominant, in ewes.

Keywords: sheep, digestive tract, mycelial fungi, North of Minas Gerais

O grupo dos fungos pode assumir importância fundamental na degradação das forragens tropicais, pois produz enzimas com atividade para degradar celulose e hemicelulose lignificadas (Cerdà, 2003). Estruturas fúngicas podem ser observadas em todas as partes do trato digestório dos ruminantes, desde as secreções salivares até as porções finais das fezes no intestino grosso (Davies et al., 1993). Para fungos anaeróbios do trato digestório, as fezes podem servir como rota de transferência entre os herbívoros. Apesar de não ocorrer coprofagia entre ruminantes, acidentalmente pode haver ingestão de fezes frescas ou secas contaminadas com os estágios de resistência e aerotolerantes (Davies et al., 1993).

Brewer e Taylor (1969), ao estudarem a população de fungos isolados aerobicamente do fluido ruminal de ovelhas criadas sob regime extensivo, observaram a presença de estruturas fungícas típicas dos gêneros Aspergillus e Sporomia no fluido ruminal. Entretanto, o papel e a importância desses gêneros não foram esclarecidos.

Além da relevância na nutrição animal, pois podem desenvolver atividade celulolítica elevada (Oyeleke e Okusanmi, 2008), os fungos podem atuar como agentes biológicos naturais no controle de parasitoses. Fungos predadores têm sido estudados como alternativa aos produtos químicos sintéticos usados no controle de helmintos gastrintestinais de ruminantes. Entretanto, é necessário selecionar linhagens que tenham potencialidade para serem usadas no biocontrole desses parasitos (Graminha et al., 2005).

Estudos da composição microbiana no trato digestório são importantes para avaliar as diferenças de colonização entre ruminantes de diferentes categorias e para selecionar possíveis isolados com atividade celulolítica, bem como para realizar o controle biológico de helmintos gastrintestinais. O presente trabalho teve o objetivo de avaliar o perfil da população de fungos aeróbios em fezes de borregos e de matrizes ovinas criados em pastagem tropical no norte de Minas Gerais.

O experimento foi realizado no município de Francisco Sá, inserido na mesorregião do norte de Minas Gerais. A amostragem envolveu 69 ovinos, sendo 39 matrizes adultas da raça Santa Inês, no período de periparto, e 30 borregos mestiços Santa Inês com dois a quatro meses de idade, ambos criados em capim-tanzânia (Panicum maximum cv. Tanzânia) e suplementados com mistura mineral. As crias lactentes recebiam concentrado à base de farelo de soja e milho em creep feeding e eram amamentadas de forma natural em suas mães.

As coletas foram realizadas na última semana de abril de 2007. Após a pré-assepsia da região perianal com iodo-PVPI, as fezes foram coletadas diretamente da ampola retal, com auxílio de swabs estéreis, e transportadas em caixas isotérmicas, em temperatura de 4 a 7ºC. Posteriormente, esses espécimes foram semeados em placas contendo o meio de ágar Sabouraud suplementado com cloranfenicol (concentração final igual a 300mg/litro) e incubados em estufa BOD a 37ºC em até sete dias. As colônias desenvolvidas foram reisoladas em tubo estéril contendo o mesmo meio de cultura e submetidas ao microcultivo para processo de identificação (Lacaz et al., 2002). Foi coletado pelo menos um isolado fúngico de cada animal amostrado. O delineamento utilizado foi o inteiramente ao acaso. As taxas de detecção dos fungos foram avaliadas pelo teste do qui-quadrado (Sampaio, 1998), sendo consideradas diferenças significativas aquelas com valores de P<0,05, utilizando-se o programa SAEG.

Os resultados revelaram cultivos positivos para fungos micelianos em todas as amostras provenientes dos borregos. Para as matrizes, foram observados exames positivos em 34 (87,2%) amostras, isto é, ocorrência significativamente menor (P<0,01). Após o microcultivo de 40 amostras de fungos micelianos provenientes dos borregos, identificaram-se 34 isolados de Aspergillus spp., três de Paecilomyces spp., um de Acremonium spp. e um de Trichoderma spp.

O gênero mais frequentemente identificado nos borregos foi o Aspergillus. Recentes estudos avaliaram os efeitos da adição do extrato de Aspergillus oryzae, espécie utilizada na produção de molho de soja, sobre amostras do fungo anaeróbio Neocallimastix frontalis, proveniente do rúmen de vacas leiteiras. Os resultados demonstraram aumento de três vezes na produção de zoósporos móveis de N. frontalis, indicando o potencial promissor da adição do extrato de A. oryzae no ambiente ruminal (Schimidt et al., 2004). Dessa forma, os fungos do gênero Aspergillus encontrados nesse trabalho poderiam também apresentar interação positiva com os demais microrganismos da microbiota autóctone do rúmen e ainda ter um papel favorável na degradação da celulose, uma vez que estudos têm demonstrado intensa atividade celulolítica desse gênero (Ruegger e Tauk-Tornisielo, 2004; Oyeleke e Okusanmi, 2008).

Entre os 39 isolados de fungos das matrizes, identificaram-se 15 Paecilomyces spp., 11 Aspergillus spp., 11 Malbranchea spp. e um Onychocola sp. Os resultados mostram predominância dos gêneros Paecilomyces, Malbranchea e Aspergillus nas matrizes (P<0,05).

A menor ocorrência do gênero Aspergillus nas matrizes ovinas (P<0,05) em relação aos borregos poderia ser justificada pela maior estabilidade da microbiota autóctone apresentada pelos animais adultos (Lacaz, 1992). Outro fator que pode ter sido determinante na composição da microbiota do intestino grosso desses animais é a diferença de alimentação das duas categorias avaliadas nesta pesquisa. Estudos mostram que isolados de Aspergillus niger apresentam síntese enzimática de lactase e satisfatória atividade amidolítica (Araújo, 1979). Dessa forma, fungos desse gênero poderiam ocorrer em maior frequência, em relação aos demais fungos no intestino grosso de borregos, em razão da presença da lactose na dieta desses animais, pois estavam em amamentação natural e recebiam concentrado no creep feeding.

Braga et al. (2008), ao testarem o efeito ovicida do fungo Paecilomyces lilacinus sobre os ovos de Taenia saginata, relataram que, em condições laboratoriais, ao final de 10 dias, o fungo demonstrou eficácia ovicida de até 52% sobre esse cestódeo. Entretanto, o potencial anti-helmíntico dos isolados de Paecilomyces obtidos nesta pesquisa ainda não foi considerado para esta pesquisa. Os resultados indicam diversidade na microbiota fecal de borregos e matrizes criados em condições tropicais.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho teve apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e da Pró-Reitoria de pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais.

Recebido em 19 de abril de 2010

Aceito em 14 de abril de 2011

E-mail: duartevet@hotmail.com

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  • *
    Autor para correspondência (
    corresponding author)
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Mar 2012
    • Data do Fascículo
      Fev 2012

    Histórico

    • Recebido
      19 Abr 2010
    • Aceito
      14 Abr 2011
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