Acessibilidade / Reportar erro

Panorama da literatura sobre a financeirização (1992-2017): uma abordagem bibliométrica * (1) O mainstream economics pode ser entendido como aquilo que “is taught in the most prestigious universities and colleges, gets published in the most prestigious journals, receives funds from the most important research foundations, and wins the most prestigious awards” (Dequech, 2007, p. 281).

An overview of the literature on financialization (1992-2017): a bibliometric approach

Resumo

O propósito deste artigo é apresentar um panorama da literatura sobre a financeirização entre 1992 e 2017 a partir de uma abordagem bibliométrica, com a utilização do software VOSviewer. Especificamente, busca-se delinear o estado da arte da literatura, identificando os trabalhos, veículos de publicação e autores-chave, bem como os subcampos nos quais as contribuições têm se distribuído. Propõe-se a identificação de cinco grandes abordagens. Uma primeira vertente remete à análise da financeirização a partir da crítica à maximização do valor ao acionista. Um segundo grupo representa um conjunto amplo de trabalhos de teor marxista e pós-keynesiano, cujo foco reside na avaliação da financeirização como um novo padrão de acumulação. Um terceiro agrupamento se organiza em torno do espraiamento das normas, práticas, regras de conduta e vocabulário típicos dos mercados financeiros na sociedade e seu impacto na vida cotidiana. Um quarto conjunto concentra-se na avaliação da forma pela qual as finanças contemporâneas condicionam a organização do espaço, particularmente das áreas urbanas. Por fim, um quinto grupo dedica-se ao exame do impacto da financeirização na atividade rural, particularmente nas economias subdesenvolvidas dependentes das exportações de commodities.

Palavras-chave:
Financeirização; Economia heterodoxa; Bibliometria; Scopus; VOSviewer

Abstract

The purpose of this paper is to present an overview of the literature on financialization between 1992 and 2017 from a bibliometric approach using the VOSviewer software. Specifically, it seeks to delineate the state of the art of literature, identifying specific studies, publication vehicles and key authors, as well as the subfields in which the contributions have been distributed. We propose the identification of five major approaches. The first approach refers to the analysis of financialization from a critique of the maximization of shareholder value standpoint. The second group represents a set of Marxist and post-Keynesian works that focus on the evaluation of financialization as a new pattern of accumulation. The third approach is organized around the spread within society of norms, practices, rules of conduct and vocabulary typical of financial markets and their impact on daily life. The fourth group focuses on the assessment of the way in which contemporary finance shapes the organization of space, particularly urban areas. Finally, the fifth group is devoted to examining the impact of financialization on rural activity, particularly in underdeveloped economies dependent on commodity exports.

Keywords:
Financialization; Heterodox economics; Bibliometrics; Scopus; VOSviewer

Introdução

A literatura econômica das últimas décadas, em particular aquela crítica ao mainstream economics1 (1) O mainstream economics pode ser entendido como aquilo que “is taught in the most prestigious universities and colleges, gets published in the most prestigious journals, receives funds from the most important research foundations, and wins the most prestigious awards” (Dequech, 2007, p. 281). , tem utilizado amplamente o neologismo financeirização para caracterizar uma série de fenômenos que teriam como resultado a maior influência das finanças, em sentido amplo, na dinâmica econômica recente. De fato, ainda que o termo conste em algumas poucas publicações associadas ao Fundo Monetário Internacional (FMI) na década de 1970 - tais como Khatkhate (1972)KHATKHATE, D. Analytic basis of the working of monetary policy in less developed countries. Staff Papers, International Monetary Fund, v. 19, n. 3, p. 533-558, 1972., Bhatia e Khatkhate (1975)BHATIA, R.; KHATKHATE, D. Financial intermediation, savings mobilization, and entrepreneurial development: the African experience. Staff Papers, International Monetary Fund, v. 22, n. 1, p. 132-158, 1975. e Makdisi (1975)MAKDISI, S. Lebanon: Monetary Developments, Management and Performance in the Postwar Period up to 1972. Part II. Middle East Journal, 29(2), 199-206. 1975 - nos quais a financeirização é entendida como uma forma de intermediação financeira das poupanças familiares, é apenas a partir da década de 1990, conforme observa Foster (2007)FOSTER, J. B. The financialization of capitalism. Monthly Review, v. 58, n. 11, p. 1-12, 2007., que a financeirização passa a ocupar uma posição crescente na literatura econômica heterodoxa em sua acepção atual.

Como se pode notar na Figura 1, de pouco mais de 20 em 2008, o volume de publicações que apresentam o termo financeirização e suas traduções correspondentes para o espanhol, o francês e o português nos títulos, resumos e/ou palavras-chave passou para 326 em 2017. Esses números, que representam uma taxa de crescimento média anual em torno de 11%, indicam que os temas abarcados pelo termo financeirização constituem, hoje, um campo de pesquisa relativamente vigoroso e promissor na heterodoxia (Epstein, 2015EPSTEIN, G. Financialization: there’s something happening here. Amherst, MA: PERI, 2015. (Working Paper, n. 394).).

Figura 1
Publicações por ano (1992-2017)

Do crescente número de publicações, ademais, pode-se inferir a heterogeneidade que tem caracterizado a utilização do termo. Com efeito, é amplamente reconhecida a ausência de uma definição consensual precisa do que se compreende por financeirização (Lapavitsas, 2011LAPAVITSAS, C. Theorizing financialization. Work, Employment & Society, 25(4), 611-626. 2011). Esse fato, por sua vez, tem até mesmo levado alguns autores, tais como Toporowski (2015)TOPOROWSKI, J. Neologism as theoretical innovation in economics: the case of “financialisation.” In: O’SULLIVAN, P.; ALLINGTON, N. F. B.; ESPOSITO, M. (Ed.). The Philosophy, politics and economics of finance in the 21st century: from hubris to disgrace. New York, NY: Routledge, 2015. p. 254-266., a questionar a pertinência da utilização da financeirização como categoria analítica.

O teor polissêmico adquirido pelo termo ao longo do tempo revela sua extensa aplicação a uma ampla gama de fenômenos, que convergem apenas quanto ao papel central atribuído às finanças no capitalismo contemporâneo, em geral. A natureza dessa relevância, os mecanismos econômicos particulares que relacionam as finanças ao objeto específico de análise e até mesmo o significado das finanças são, contudo, bastante diversos.

Conforme argumenta Sawyer (2013, p. 6)SAWYER, M. What Is Financialization? International Journal of Political Economy, 42(4), 5-18. 2013, de forma acertada, a definição provavelmente mais difundida do termo é a fornecida por Epstein (2005, p. 3)EPSTEIN, G. Financialization: there’s something happening here. Amherst, MA: PERI, 2015. (Working Paper, n. 394)., pela qual a “[...] financialization means the increasing role of financial motives, financial markets, financial actors and financial institutions in the operation of the domestic and international economies”. O fato de que essa definição é suficientemente abrangente para contemplar fenômenos socioeconômicos variados, perspectivas teóricas distintas e espaços geográficos e períodos de tempo diferentes certamente constitui uma das principais razões para sua disseminada utilização. Em geral, no entanto, os autores que fazem uso do termo o utilizam para caracterizar fenômenos socioeconômicos diversos que teriam marcado a economia capitalista a partir do final da década de 1970 e início dos anos 1980, seja considerando a financeirização como um estágio único, particular da história do sistema capitalista, seja tomando-a como expressão mais recente de um processo histórico recorrente do capitalismo, sobretudo das economias desenvolvidas2 (2) Vercelli (2013; 2017) representa, nesse contexto, uma exceção importante ao argumentar, a partir de uma abordagem evolucionária, que a financeirização deve ser concebida como uma tendência secular, com aspectos históricos novos que tornam o período atual único, mas com traços estruturais que recorrentemente se manifestam com maior ou menor intensidade. .

Ainda que relativamente bem delimitada no tempo e no espaço, a diversidade de objetos de análise aos quais se tem recorrido ao termo para sua compreensão pode ser atestada pelas oito características que comporiam a financeirização elencadas pela Financialization Economy Society and Sustainable Development (FESSUD)3 (3) O FESSUD é um projeto de pesquisa multidisciplinar, que teve duração de 5 anos (2011-2016), com financiamento da Comissão Europeia, congregando 14 universidades sob coordenação do Prof. Malcolm Sawyer. Os objetivos do projeto eram analisar a financeirização e seus impactos econômicos, sociais e ambientais com vistas a oferecer guias para os policy makers. Para maiores detalhes: http://fessud.eu/the-project/. Description of Work (2011, p. 3 apud Sawyer, 2013SAWYER, M. What Is Financialization? International Journal of Political Economy, 42(4), 5-18. 2013, p. 7-8):

First, it refers to the large-scale expansion and proliferation of financial markets over the past thirty years....

Second, the process has been closely interwoven with deregulation of the financial system itself and the economy more generally....

Third, financialisation, understood as both the expansion and the proliferation of financial instruments and services, has been associated with the birth of a whole range of financial institutions and markets, and corresponding acronyms, that are bewilderingly complex, quite apart from futures markets for trading in commodities yet to be produced (for which futures carbon trading is the most striking) and, infamously, subprime mortgages....

Fourth, at a systemic level, financialisation has been located in terms of the dominance of finance over industry....

Fifth, financialisation is strongly associated with market mechanisms, complemented or even reinforced by policies that have underpinned rising inequality of incomes and of inequality more generally....

Sixth, though, consumption has often been sustained by the extension of credit, not least through the use of capital gains in housing as collateral....

Seventh, it is not merely the expansion and proliferation of financial instruments and markets that are striking but also the penetration of such financing into a widening range of both economic and social reproduction - housing, pensions, health, and so on....

Finally, financialisation is associated with a particular culture which is to be interpreted broadly.... In short, financialisation is a complex term, containing several different dimensions and aspects.

Diante da heterogeneidade que esse cenário indica, vários autores se propuseram, em maior ou menor medida, a sistematizar o debate em torno da financeirização (e.g. Hein & van Treeck, 2008HEIN, E.; VAN TREECK, T. . ‘Financialisation’ in Post-Keynesian models of distribution and growth-a systematic review. IMK Working Paper, n. 10, 2008. ; Goldstein (2009)GOLDSTEIN, J. P. Introduction: the political economy of financialization. Review of Radical Political Economics, v. 41, n. 4, p. 453-457, 2009.; van der Zwan, 2014; Davis & Kim, 2015DAVIS, G. F.; KIM, S. Financialization of the economy. Annual Review of Sociology, v. 41, n. 1, p. 203-221, 2015.; Epstein, 2015EPSTEIN, G. Financialization: there’s something happening here. Amherst, MA: PERI, 2015. (Working Paper, n. 394).; Sawyer, 2016SAWYER, M. Confronting Financialisation. In P. Arestis & M. Sawyer (Eds.), Financial Liberalisation (pp. 43-85). Cham: Springer International Publishing. 2016; Gkanoutas-Leventis, 2017GKANOUTAS-LEVENTIS, A. The many faces of financialisation. In GKANOUTAS-LEVENTIS, A. Spikes and shocks. London: Palgrave Macmillan UK, 2017. p. 23-37.). Com efeito, além de concorrer para uma caracterização mais adequada da literatura, contribuindo para a história da disciplina, esses esforços são necessários para facilitar a comunicação entre os pesquisadores ao tentar estabelecer as linhas mestras das principais contribuições sobre o tema. No entanto, sobretudo pelo volume crescente e já extenso de publicações sobre o tema, é possível que sistematizações dessa natureza, baseadas em pesquisas bibliográficas convencionais, pareçam limitadas pela incapacidade de ter em perspectiva parte relevante das contribuições sobre o tema. Nesse sentido, a análise bibliométrica pode servir como método complementar de pesquisa ao ampliar o volume de publicações analisadas acerca de determinado objeto e estabelecer suas relações mútuas. A vantagem da análise bibliométrica é, sobretudo, a de permitir a construção de um mapa relativamente amplo das publicações, sob vários ângulos (critérios), processo que dificilmente poderia ser feito valendo-se de uma pesquisa bibliográfica tradicional. Ademais, a partir da análise bibliométrica, é possível também identificar principais linhas e tendências futuras no interior da literatura, mitigando os possíveis vieses e limites, inclusive de natureza física, de leitura e reflexão do próprio pesquisador que procura sistematizar o tema.

Nesse sentido, o propósito deste artigo é apresentar um panorama da literatura sobre a financeirização entre 1992 e 2017 a partir de uma abordagem bibliométrica. Especificamente, busca-se delinear o estado da arte das contribuições sobre o tema, identificando os trabalhos e autores-chave, os principais veículos de difusão da literatura e os subcampos nos quais as contribuições acerca da financeirização tem se distribuído preponderantemente.

Além desta breve introdução, o artigo está dividido em quatro outras seções. A seção seguinte dedica-se à descrição dos dados utilizados e da metodologia adotada. Na segunda seção, por sua vez, apresenta-se uma visão geral sobre o atual estado da literatura sobre a financeirização. A terceira seção dedica-se à identificação das principais linhas de pesquisa no interior dessa temática por meio das técnicas bibliométricas disponíveis pelo software VOSviewer. Por fim, na última seção, tecem-se algumas considerações finais, à guisa de conclusão.

1 Dados e metodologia

Os dados para a avaliação bibliográfica da literatura sobre a financeirização foram obtidos na base Scopus, da Elsevier. Outras bases bibliográficas relevantes para as ciências sociais aplicadas, particularmente a economia, são a Web of Science, a Jstor e o Google Scholar. Embora as bases Jstor e Google Scholar apresentem uma cobertura maior para o tema analisado, apenas a Scopus e a Web of Science padronizam as referências bibliográficas e demais informações das publicações indexadas (fonte e tipo de documento, filiações autorais, detalhes de financiamento, entre outros) de forma a permitir a aplicação de técnicas bibliométricas com maior precisão. Dentre essas duas, a Scopus foi selecionada por indexar um maior número de publicações na data da coleta de dados (5 de Janeiro de 2018): enquanto a Web of Science identificou 1370 publicações, a Scopus apresentou 1691.

Evidentemente, isso não exclui possíveis erros e limitações. Dentre erros comuns, encontram-se: citações equivocadas, ausentes ou mesmo autocitações; publicações ou autores que mudam de nome e/ou sobrenome; e até mesmo inconsistências na forma de indexação. Sobre as limitações, é necessário ter em conta que um dos aspectos centrais é o idioma: quase a totalidade das publicações está em língua inglesa (mais de 90%). Ademais, há o próprio alcance da indexação das bases bibliográficas. É notável que autores geralmente muito citados e considerados relevantes na área não estejam presentes, como é o caso de Epstein (2005)EPSTEIN, G. Financialization: there’s something happening here. Amherst, MA: PERI, 2015. (Working Paper, n. 394)., que se trata de uma coletânea sobre a financeirização comumente referenciada na literatura sobre o tema. De fato, parcela predominante das publicações indexadas são artigos (75%), enquanto livros e capítulos de livro representam apenas cerca de 10% do conjunto total. No entanto, a base de publicações indexadas tem passado a integrar um conjunto cada vez maior de trabalhos, além de retroagir no tempo, incorporando autores, fontes, instituições etc. do passado relacionadas ao tema.

Os termos utilizados para a busca nos títulos dos trabalhos, resumos e palavras-chave foram: “financialization”; “financialisation”; “financeirização”; “financiarización”; “financiarisación”; “financiarisation”; e “financiarization”.

A partir dos dados coletados, o tratamento bibliométrico passou pela construção e análise de redes baseadas na bibliografia selecionada a partir do software VOSviewer4 (4) O VOSviewer (Visualization of Similarities Viewer) faz parte de um conjunto de softwares gratuitos cuja função é a análise e visualização bibliométrica. O software foi desenvolvido por Van Eck e Waltman. Disponível em: www.vosviewer.com. , cuja ênfase está na análise e na visualização de conjuntos grandes de dados bibliográficos a partir de uma abordagem distance-based5 (5) De acordo com van Eck e Waltman (2010), pequenas redes bibliográficas podem ser, em geral, representadas graficamente por programas como o Pajek (graph-based). Já redes maiores passariam a requerer um tratamento visual mais cuidadoso e aprofundado, exigindo um método de análise e visualização que fosse capaz de mais bem extrair as informações da base sob observação, tal como o distance-based approach. . De modo amplo, os nodos da rede bibliográfica são postos de maneira que a distância entre eles indica aproximadamente a sua relação segundo determinados critérios de agregação, conformando um mapa.

Cada critério destaca um aspecto da rede formada pela bibliografia sobre o tema e, assim, a análise deve contemplar mais de um critério. O presente estudo se vale de quatro critérios complementares: a citação, a co-citação, o acoplamento bibliográfico e a co-ocorrência de termos. O mais simples é o critério de citação, que relaciona unidades de acordo com a frequência com que elas citam umas às outras. Em seguida, tem-se o método da co-citação, segundo o qual a relação entre duas unidades de análise é definida pela frequência com que elas são citadas simultaneamente por um terceiro elemento. Já o critério de acoplamento bibliográfico (bibliographic coupling) - método diretamente complementar ao da agregação por co-citações - procura estabelecer relações entre as unidades com relação às suas referências compartilhadas. Isso significa que a maior proximidade entre dois nodos evidencia a maior quantidade de referências coincidentes (a análise pode ser estendida para três ou mais textos simultâneos). Por fim, o critério de co-ocorrência procura identificar elementos comuns aos textos da base de dados; como demonstrado mais à frente, ele será utilizado para identificar termos significativos, de modo que se possa sugerir subáreas dentro da base.

A construção do mapa como proposto pelas técnicas do VOSviewer é feita em três etapas (Van Eck; Waltman; Noyons, 2010VAN ECK, N. J.; WALTMAN, L. Software survey: VOSviewer, a computer program for bibliometric mapping. Scientometrics, v. 84. n. 2, p. 523-538, 2010.). Tomando como ilustração o critério de co-ocorrência de termos, veja-se adiante como essas etapas se definem (Olczyk, 2016OLCZYK, M. Bibliometric approach to tracking the concept of international competitiveness, Journal of Business Economics and Management, 17(6), 945-9592016)6 (6) Os procedimentos para os demais critérios (acoplamento bibliográfico, co-citação etc.) são similares, embora a especificação matemática das equações possa ser distinta. Para maiores detalhes, veja-se van Eck e Waltman (2007) e van Eck e Waltman (2017). . Primeiramente, constrói-se uma matriz de similaridades cujos elementos são dados por

Eq. 1 As ij = C ij c i c j ,

em que Cij denota co-ocorrências dos elementos i e j, e ci, cj denotam as ocorrências totais de i e de j. Com isso, o passo seguinte é a construção da rede baseada nos elementos, acima definidos, da matriz. O seu princípio é simples: elementos muito similares devem ser localizados próximos uns dos outros, enquanto elementos pouco similares devem permanecer mais distantes. Para isso, a função-localização a ser minimizada é

Eq. 2 V X i , , X n = i < j s ij X i X j 2 ,

onde o vetor Xi denota a localização do elemento i, e ||-|| denota a norma da diferença entre as posições de i e j. Os autores impõem ainda a condição de que a distância média entre dois itens seja igual a 1 (para evitar mapas “triviais”, onde todos os itens tenham a mesma posição):

Eq. 3 2 n n 1 i , j X i X j = 1 ,

Por último, para garantir que a solução encontrada seja ótima e consistente, é necessário garantir três condições: 1) translação, ou seja, a solução deve estar centrada na origem; 2) rotação, que diz que a solução deve ser encontrada de tal modo que a variância no eixo horizontal deve ser maximizada; 3) reflexão, segundo a qual se estabelece que se a mediana de X11, ..., Xn1 for maior do que zero, a solução se reflete no eixo vertical. Se for menor do que zero, reflete-se no eixo horizontal (Van Eck; Waltman, 2010VAN ECK, N. J.; WALTMAN, L. Software survey: VOSviewer, a computer program for bibliometric mapping. Scientometrics, v. 84. n. 2, p. 523-538, 2010.).

Feita a determinação da similaridade entre as unidades de análise e construído o mapa, são-lhes ainda atribuídos clusters (grupos). Cada unidade entra em exatamente um cluster, não havendo sobreposições e tampouco unidades sem cluster. Para isso, o VOSviewer procura maximizar a seguinte função:

Eq. 4 V c 1 , , c n = i < j δ c i c j s ij γ ,

com n sendo o número de publicações, sij a similaridade já definida entre i e j, γ um parâmetro de resolução da equação, e ci o cluster ao qual a unidade i é atribuída. δ (xi, xn) será igual a 1, se j e i forem iguais e será 0, caso contrário.

2 Contextualização geral literatura

Do total de 1669 publicações sobre a financeirização entre 1992 e 2017, tem-se que um conjunto relativamente pequeno destas concentram boa parte das referências realizadas. Tal como se observa na Tabela 1 a seguir, verifica-se que 15 artigos (próximo de 1% do total) concentram aproximadamente 20% do total de citações da base.

Tabela 1
Principais publicações por citação (1992-2017)

Dentre as instituições com maior número de publicações, tem-se: 1) University of Manchester, com 41 publicações; 2) University of London, com 30; 3) SOAS University of London, com 27; 4) University of Amsterdam, 23; 5) University of Leeds, 22; 6) University of Sydney, 20; 7) Centre National de la Recherche Scientifique, KU Leuven e Manchester Business School, com 18; 8) Universidade de São Paulo, University of Toronto e University of Oxford, com 16; e 9) Open University, University of Massachusetts, Cardiff University e York University, com 15 publicações.

Considerando os países de origem das instituições com ao menos 4 publicações sobre o tema (Tabela 2), sobressaem-se duas observações. Em primeiro lugar, verifica-se uma importante concentração da produção bibliográfica sobre a financeirização no mundo, de modo que 5 países respondem por cerca de 51% do total de publicações. Em segundo lugar, parcela substantiva desses trabalhos são oriundos de países de língua inglesa (41%), sobretudo do Reino Unido (26,6%).

Tabela 2
Países com maior publicação, por instituições com pelo menos 3 publicações (1992-2017)

Quanto aos principais veículos por meio dos quais as publicações sobre o tema são difundidas de acordo com o volume de trabalhos sobre a financeirização, tem-se as 10 seguintes revistas: Socio-Economic Review; New Political Economy; Review of Radical Political Economics; Critical Perspectives on Accounting; International Journal of Urban and Regional Research; Geoforum; Cambridge Journal of Economics; Competition and Change; Environment and Planning A; Journal of Post Keynesian Economics. No total, estas 10 revistas apresentam 3807 citações, valor que representa 24% do total de citações. Nesse contexto, é digno de nota que a própria ausência de determinadas revistas conceituadas internacionalmente como parte do mainstream em Economia (e em menor grau em outras áreas do conhecimento, tais como Sociologia, Geografia, etc.) mostra a dominância de abordagens heterodoxas no tratamento da financeirização.

Por fim, no que se refere à área das publicações, verifica-se que parcela expressiva das revistas dedicadas à financeirização referem-se à Economia e às Ciências Sociais. Com efeito, das 10 revistas com maior volume de publicações sobre o tema, todas são classificadas na área de Economics, Econometrics, and Finance. Destas, metade também são classificadas na área de Social Sciences. Em menor número encontram-se as áreas de Business, management and accounting e Arts and Humanities7 (7) A base Scopus classifica as Ciências Humanas nos seguintes subconjuntos: Arts and Humanities, Business, Management and Accounting, Decision Sciences, Economics, Econometrics and Finance, Psychology, Social Sciences e Multidisciplinary. .

3 Uma proposta de sistematização da literatura

Após a breve contextualização acima do atual estágio em que se encontra a literatura acerca da financeirização, o propósito desta seção é, a partir da utilização do VOSviewer, identificar e caracterizar as principais linhas de pesquisa sobre o tema. Para tanto, utilizaram-se como unidade de análise para a apresentação dos clusters as fontes, os autores e os termos relevantes nos títulos, nos resumos e nas palavras-chave das publicações selecionadas.

3.1 Agrupamentos por fontes (revistas, livros, capítulos de livro, etc.)

Ao considerar as relações entre os veículos de publicação (revistas, livros, etc.) de acordo com os critérios de acoplamento bibliográfico e co-citação já é possível uma primeira aproximação quanto à forma pela qual se organizam as linhas de pesquisa no que tange ao tema da financeirização. Um panorama das relações entre as publicações que compõem o tema mostra-se útil, sobretudo se se pretende avaliar em que condições é estabelecido o diálogo acerca do mesmo. Ademais, a depender do critério e da área, podem ser observados tanto grupos com diálogos que agregam diferentes disciplinas, como também certas concentrações mais evidentes em torno de reflexões mais estritamente econômicas ou sociológicas.

A Figura 2 apresenta as fontes organizadas pelo critério de acoplamento bibliográfico. Conforme já adiantado, o critério de acoplamento bibliográfico procura aproximar unidades que compartilham referências em comum. No caso, quanto maior a coincidência de determinados veículos de publicação citados em comum, maior a proximidade entre as fontes. O clusters identificam, por esse procedimento, relações mais fortes dentro do grupo de fontes como um todo.

Figura 2
Agrupamentos por acoplamento bibliográfico das fontes (1992-2017)

Nesses termos, o mapa obtido por meio da base coletada apresenta resultados analiticamente significativos. De acordo com o que se pode verificar na Figura 2, quatro clusters são identificados de modo claro:

i) cluster vermelho, cuja concentração está em periódicos de geografia e planejamento urbano, tais como Dialogues in human geography, Geoforum, Cambridge Journal of Regions e o International Journal of Urban and Regional Research;

ii) cluster azul, cujas publicações tratam preponderantemente de assuntos agrários, relacionados ao desenvolvimento: Agriculture and Human Values, Journal of Agrarian Change;

iii) cluster verde, que está mais fortemente associado a periódicos econômicos heterodoxos de modo geral, tais como: Journal of Post-Keynesian Economics, Historical Materialism, Socio-Economic Review e Cambridge Journal of Economics;

iv) cluster amarelo, cujas publicações são associadas principalmente à área de business internacional e finanças corporativas; dentre suas principais revistas estão Critical studies on corporate responsibility governance and sustainability, Research in international business and finance e Intereconomics.

Critério complementar ao do acoplamento bibliográfico, o mapa de co-citações entre os veículos de publicação fornece-nos grupos também significativos para o exame da literatura, conforme se observa na Figura 3. Na medida em que, por esse critério, as publicações se aproximam a partir da frequência em que aparecem citadas conjuntamente, há uma indicação de que esses veículos de publicação possuem artigos relacionados semanticamente, tratam de um tema similar e/ou apresentam a co-ocorrência de ideias (Small, 1973SMALL, H. Co-citation in the scientific literature: A new measure of the relationship between two documents. Journal of the Association for Information Science and Technology, 24(4), 265-269. 1973). Cabe notar que, por aproximar publicações citadas conjuntamente, os agrupamentos fornecidos pelo critério de co-citação contemplam fontes que não necessariamente fazem parte daquelas cujo objeto é a financeirização, mas, sim, tangenciam temas a ela relacionados. Desse modo, a publicação pode até mesmo não estar indexada à Scopus. De fato, basta que publicações sobre a financeirização citem, ao mesmo tempo, essas fontes, para que as mesmas apareçam no mapa próximas umas das outras. Exemplos disso são jornais como The Guardian e New York Times, que constam na Figura 3.

Figura 3
Agrupamentos por co-citação das fontes (1992-2017)

Pelo critério de co-citação, foram identificados seis agrupamentos na literatura sobre a financeirização, tais como aparecem na Figura 3:

i) cluster amarelo, cuja característica mais marcante está nas fontes com ênfase em questões administrativas e contábeis das empresas, às quais se somam temas de política e sociologia - como visto em Accounting, Organizations and Society, Academy of Management Review e Accounting Forum, que aparecem ao lado de American Journal of Sociology e Politics & Society;

ii) cluster verde, que tem em comum publicações sobre os temas de sistema bancário, finanças internacionais e, em menor grau, estudos de agricultura - em que um dos fios condutores entre eles parece ser dado pela utilização de análises econométricas. Alguns exemplos no interior desse grupo são o Journal of Finance, American Economic Review, Journal of Financial Economics, Econometrica, Journal of Agricultural and Applied Economics;

iii) cluster vermelho, comparável ao cluster de mesma cor no critério de acoplamento bibliográfico, porém bastante mais amplo, passa principalmente por fontes das áreas de geografia e planejamento urbano, pelas “finanças do cotidiano”, por estudos culturais e por análises de teor marxista; exemplos de publicações são o Journal of Economic Geography, Urban Geography, Journal of Cultural Economy, New Left Review, Historical Materialism, além de jornais como The Guardian e New York Times, Capital and Class, The Enigma of Capital, de David Harvey, e o próprio Capital, de Marx;

iv) cluster roxo, definido basicamente pelas publicações cujos temas são agricultura e desenvolvimento, tais como: Journal of Peasants Studies, Third World Quarterly e World Development;

v) cluster azul escuro, cuja ênfase se dá em fontes relacionadas às questões macroeconômicas e de economia política. Dentre os principais periódicos desse grupo estão o Cambridge Journal of Economics, Review of Radical Political Economics, Journal of Economic Issues e o World Economic Outlook. Aparecem em destaque também jornais como o Washington Post, além de livros como A Teoria Geral, de Keynes;

vi) cluster azul claro, cujas referências básicas estão relacionadas aos temas de energia e finanças, tais como Energy Economics e Energy Policy.

3.2 Agrupamentos por textos e autores

Uma forma adicional de observar as possíveis intersecções entre as publicações acerca da financeirização, de modo a detectar agrupamentos de ideias e temas, trata-se da avaliação bibliográfica da literatura por textos e autores. Analogamente à análise da seção anterior, linhas principais são identificáveis de acordo com os critérios utilizados.

Nesse sentido, o critério do acoplamento bibliográfico (Figura 4) permite-nos a sugestão - e, de modo geral, a confirmação - de determinados grupos por áreas e abordagens particulares. Nesse mapa, portanto, os autores (em função de determinados textos) são aproximados de acordo com as referências em comum com seus pares.

Figura 4
Agrupamentos por acoplamento bibliográfico dos textos (1992-2017)

Conforme se pode notar pela Figura 4, quatro agrupamentos são discerníveis de modo evidente:

i) um primeiro cluster, em azul, corresponde a trabalhos que tratam a questão da financeirização, em linhas gerais, do ponto de vista macroestrutural e das repercussões que esse fenômeno pode vir a ter sobre a acumulação, distribuição e crescimento8 (8) O conceito de “globalização” e “neoliberalismo” aparece frequentemente associado à temática da financeirização neste grupo. - seja esta da economia mundial ou, em alguns casos, de economias centrais, como a norte-americana. Trata-se também de um grupo com autores que estão dentre os mais citados na literatura, como Krippner (2005)KRIPPNER, G. R. The financialization of the American economy. Socio-Economic Review, v. 3, n. 2), p. 173-208, 2005., Lapavitsas (2009)LAPAVITSAS, C. Financialised capitalism: crisis and financial expropriation. Historical Materialism, v. 17, n. 2, p. 114-148, 2009., Stockhammer (2004)STOCKHAMMER, E. Financialisation and the slowdown of accumulation. Cambridge Journal of Economics , 28(5), 719-741. 2004 e Orhangazi (2008)ORHANGAZI, Ö. Financialisation and capital accumulation in the non-financial corporate sector: A theoretical and empirical investigation on the US economy: 1973-2003. Cambridge Journal of Economics, 32(6), 863-886. 2008. Neles - bem como em outros autores, como Skott (2008)SKOTT, P., & RYOO, S. Macroeconomic implications of financialisation. Cambridge Journal of Economics, 32(6), 827-862. 2008 e Tomaskovic-Devey (2015)TOMASKOVIC-DEVEY, D.; LIN, K. H.; MEYERS, N. Did financialization reduce economic growth? Socio-Economic Review, v. 13, n. 3, p. 525-548, 2015. - está também o tratamento da financeirização como um fenômeno macroeconômico que resulta de determinadas alterações microeconômicas ou locais (como em determinados países). Stockhammer (2004)STOCKHAMMER, E. Financialisation and the slowdown of accumulation. Cambridge Journal of Economics , 28(5), 719-741. 2004, por exemplo, utiliza o recurso teórico da “firma representativa”;

ii) outro cluster evidente é o vermelho. Nele, as abordagens e temas dominantes são dadas pelos autores associados à geografia (política e econômica) e à governança corporativa. Isso é notado pela recorrência de autores como French et al. (2009aFRENCH, S.; KNEALE, J. Excessive financialisation: insuring lifestyles, enlivening subjects, and everyday spaces of biosocial excess. Environment and Planning D: society and space, v. 27, n. 6, p. 1030-1053, 2009.; 2009b)FRENCH, S.; LEYSHON, A.; THRIFT, N. A very geographical crisis: the making and breaking of the 2007-2008 financial crisis. Cambridge Journal of Regions, Economy and Society, v. 2, n. 2, p. 287-302, 2009., French (2011)FRENCH et al. Financializing space, spacing financialization. Progress in Human Geography, v. 35, n. 6, p. 798-819, 2011., Aalbers (2009AALBERS, M. Geographies of the financial crisis. Area, v. 41, n. 1, p. 34-42, 2009.; 2015)AALBERS, M. Corporate financialization. In: THE INTERNATIONAL encyclopedia of geography: People, the earth, environment, and technology. 2015. Retrieve from: http://dx.doi.org/10.1002/9781118786352.wbieg0598.
http://dx.doi.org/10.1002/9781118786352....
, e pela presença de outros, como Lee et al. (2009)LEE, R., CLARK, G. L., POLLARD, J., & LEYSHON, A. The remit of financial geography-before and after the crisis. Journal of Economic Geography, 9(5), 723-747. 2009, Sokol (2013)SOKOL, M. Towards a ‘newer’ economic geography? Injecting finance and financialisation into economic geographies. Cambridge Journal of Regions, Economy and Society, 6(3), 501-515. 2013 e Hall (2012HALL, S. Geographies of money and finance II: Financialization and financial subjects. Progress in Human Geography, v. 36, n. 3, p. 403-411, 2012.; 2013)HALL, S.; LEYSHON, A. Editorial: Financialization, space and place. Regional Studies, v. 47, n. 6, p. 831-833, 2013.;

iii) o terceiro cluster relevante, em verde, por sua vez, é composto por um conjunto relativamente heterogêneo de textos que passam, sobretudo, por temas relacionados à agricultura e ao desenvolvimento (e.g., Fairbairn, 2014FAIRBAIRN, M. ‘Like gold with yield’: evolving intersections between farmland and finance. Journal of Peasant Studies, v. 41, n. 5, p. 777-795, 2014.; Isakson, 2014ISAKSON, S. R. Food and finance: the financial transformation of agro-food supply chains. Journal of Peasant Studies , v. 41, n. 5, p. 749-775, 2014.; Clapp, 2014CLAPP, J. Financialization, distance and global food politics. Journal of Peasant Studies, v. 41, n. 5, p. 797-814, 2014.; Zhang, 2014ZHANG, Y.; ANDREW, J. Financialisation and the conceptual framework. Critical perspectives on accounting, v. 25, n. 1, p. 17-26, 2014.), à desigualdade e crescimento econômico (tais como Kus, 2012KUS, B. Financialisation and income inequality in OECD nations: 1995-2007. The Economic and Social Review, v. 43, n. 4, p. 477-495, 2013.; Tomaskovic-Devey, 2011TOMASKOVIC-DEVEY, D.; LIN, K. H. Income dynamics, economic rents, and the financialization of the US economy. American Sociological Review, v. 76, n. 4, p. 538-559, 2011.). Há também, em menor número e de forma mais difusa, textos de geografia, cultura, etc.; além de alguns textos que fazem um balanço da literatura, tais como Goldstein (2009)GOLDSTEIN, J. P. Introduction: the political economy of financialization. Review of Radical Political Economics, v. 41, n. 4, p. 453-457, 2009. e van der Zwan (2014)VAN DER ZWAN, N. Making sense of financialization. Socio-Economic Review, v. 12, n. 1, p. 99-129, 2014..

iv) por fim, há um cluster laranja, composto por um grupo menor de autores que também tratam de temas relacionados à geografia, agricultura e desenvolvimento.

Ao considerar como critério as co-citações, por sua vez, são tomados propriamente como unidade de análise os autores, ao invés de seus textos (Figura 5). Vale dizer que caso um autor (ou conjunto de autores) possua mais de um texto referenciado pela base, os mesmos são agrupados na composição do mapa, aproximando-o de um autor (ou grupo de autores) cujos textos, também agrupados, aparecem citados conjuntamente9 (9) Nessa unidade de análise, por conseguinte, o VOSviewer extrai exclusivamente a referência do nome do autor. Por isso, as inferências possíveis a partir daí estão circunscritas ao caráter mais geral das pesquisas de determinado autor, inviabilizando uma análise específica para os eventuais textos referenciados. . Ademais, aqui também se aplica a mesma advertência feita para o caso da Figura 3: uma vez que os autores são dispostos conforme sejam citados conjuntamente pelos textos acerca da financeirização, não necessariamente fazem parte destes. Em suma, não é necessário que o autor detenha publicações indexadas, mas, sim, que apareça citado juntamente com outros por textos internos à base. A análise, nesse momento, portanto, passa a ter um caráter mais geral e é capaz de indicar autores seminais; estes, inclusive, eventualmente não indexados na base Scopus. Nesse caso são enquadrados autores como Marx, Keynes, Minsky, entre outros.

Figura 5
Agrupamentos por co-citação dos autores (1992-2017)*

*Foram selecionadas publicações com ao menos 10 citações.


Tal como se pode observar na Figura 5, por esse critério, cinco agrupamentos foram identificados:

i) cluster roxo, que é raramente co-citado com os autores de outros grupos, além de relativamente coeso e composto por poucos autores. São conjuntamente citados por textos da base por tratarem, diferentemente da maioria na literatura, dos mercados futuros, especulação e “financeirização das commodities”;

ii) cluster verde, que agrega autores considerados clássicos nas áreas de economia política e macroeconomia inspiradas em Marx, Keynes e Kalecki. Dentre eles estão os já citados anteriormente Costas Lapavitsas, Gerald Epstein, Engelbert Stockhammer e Eckhard Hein; além de autores como Friedrich Hayek, Barry Eichengreen, Hyman P. Minsky, Rudolf Hilferding, Wynne Godley, Nicholas Kaldor, Marc Lavoie, Amitava Dutt, Randall Wray e os próprios Karl Marx, Michal Kalecki e John Maynard Keynes;

iii) cluster vermelho, relativamente amplo e heterogêneo, composto por autores cujos temas de pesquisa transitam entre a dimensão cultural da financeirização, tais como Langley e Randy Martin, a performatividade das finanças, com autores como Donald Mackenzie, a geografia crítica, tais como David Harvey, Shaun French e Andrew Leyshon, entre outros;

iv) cluster azul, fortemente marcado por autores da Critical Social Accountancy School (CSA), composta por Julie Froud, Karel Williams, Sukhdev Johal e pesquisadores de Manchester;

v) cluster amarelo, cujo tema central é a “financeirização dos alimentos” e sua relação com a estrutura e regulação da produção do agronegócio internacional (com alguma intersecção com análises sobre o setor de biocombustíveis).

3.3 Agrupamentos por co-ocorrência de termos

A fim de completar o quadro de caracterização da literatura acerca da financeirização, convém atentar para os termos que as publicações compartilham entre si. Com efeito, ao considerar as expressões que mais ocorrem na literatura e reuni-las, é possível não apenas complementar os agrupamentos já observados, como também obter uma aproximação relativamente fidedigna do conteúdo de cada agrupamento em termos de objeto de análise. Nesse critério, o objetivo, portanto, é identificar termos e expressões significativos nos resumos, palavras-chave e títulos das publicações da rede. O corte inicial para selecioná-los foi o número mínimo de dez ocorrências (mantido por padrão no software). Na presente amostra, foram identificados 22.717 termos ao todo, dos quais 655 preenchem o requisito imposto. Destes, foram selecionados os 60% mais relevantes (também por padrão). Por último, para evitar mapas analiticamente triviais, foram removidas palavras e expressões que não contribuam para o estudo, tais como “object”, “findings”, “student”, “book” e “purpose”10 (10) Para a lista dos termos excluídos, veja-se o Anexo 1. . Analogamente às análises de mapas já feitas, a proximidade entre os termos é maior em função da frequência com que aparecem simultaneamente nas mesmas publicações.

Coerentemente com o sentido proposto do trabalho (e do presente capítulo), é conveniente analisar o mapa formado pela co-ocorrência de termos (Figura 6) particularmente quanto à identificação de áreas de estudo, além de termos mais comuns e relevantes no interior desses agrupamentos.

Figura 6
Agrupamentos por co-ocorrência de termos (1992-2017)

Quatro clusters se destacam na Figura 6 a partir desse critério:

i) O primeiro deles, em vermelho, é caracterizado por questões de conflitos de classe e crises do capitalismo; são utilizados termos, como “employment”/”unemployment”, “collapse”/“crash”, “instability”, “income distribution” e “marx”. Há, evidentemente, um forte teor marxista. Assim, alguns autores devem ganhar destaque nesse grupo, tais como Lapavitsas. Ademais, autores filiados ao pós-keynesianismo, particularmente em sua vertente kaleckiana, como Eckhard Hein e Engelbert Stockhammer, devem representar parcela relevante nesse cluster, sobretudo por construírem modelos econômicos voltados às questões de crescimento e distribuição.

ii) Já no cluster seguinte, em verde, temas associados à geografia urbana e às “finanças do cotidiano” se mostram presentes. Nele, aparecem expressões, tais como “everyday life”, “financial inclusion”, “consumer”/“house”, “securitization”, “infrastructure”. Trata-se de um vocabulário muito utilizado principalmente pela dita “financeirização do cotidiano” (financialization of daily life), de autores como Randy Martin (2002)MARTIN, R. Financialization of daily life. Temple University Press. 2002 e Paul Langley (2008)LANGLEY, P. The everyday life of global finance: saving and borrowing in Anglo-America. Oxford: OUP, 2008.. Críticos à dita financeirização - sobretudo vista como ideologia e tipo de sociabilidade - colocam-na como uma espécie de promessa de emancipação do indivíduo dos imperativos da sociedade que, na verdade, furtaria do próprio indivíduo a possibilidade de emancipação.

iii) O terceiro cluster, amarelo, por sua vez, parece se concentrar em questões de mercados financeiros e, em menor grau, de agricultura. Aparecem termos como “volatility” e “commodity market”, “speculation”, “future”, “agricultural market” e “hedge fund”, além de “financial asset”/“portfolio”. Disso, pode-se sugerir a presença de autores como McMichael, Clapp, entre outros. Um aspecto geral atribuível a esse agrupamento é o exame dos fluxos financeiros associados a commodities e investimentos no mercado de terras.

iv) Por último, o cluster azul é composto por um vocabulário marcado na literatura sobre governança corporativa e geração de valor ao acionista: “efficiency”/“manager”/“employee”, “shareholder value”, “performance”, “private equity” e “business model”. Neste grupo, podemos inferir uma relevante participação de autores como Julie Froud e Karel Williams - além do também muito citado William Lazonick -, que procuram encontrar medidas e indicadores para avaliar criticamente o discurso da “geração de valor ao acionista”. Froud et al. (2000, p. 5)FROUD, J. et al. Shareholder value and financialization: consultancy promises, management moves. Economy and Society, v. 29, n. 1, p. 80-110, 2000. chega até mesmo a denominar esta proposta de governança corporativa de um “puzzling empty concept of strategic moves”.

3.4 Síntese: as linhas mestras da literatura acerca da financeirização

Esta seção presta-se ao objetivo de sintetizar, de acordo com as relações acima analisadas, as principais linhas de pesquisa e contribuições a elas vinculadas na literatura sobre a financeirização. Desse modo, propõe-se uma caracterização da literatura sobre a financeirização que combina os agrupamentos acima analisados e permite fornecer um mapa relativamente completo das principais linhas de pesquisa nas quais o tema se subdivide. Com efeito, das diversas formas de agrupamentos observadas, é possível indicar algumas relações que se sobressaem com mais evidência do conjunto de publicações sobre a financeirização. O Quadro 1 abaixo apresenta uma síntese desses resultados ao sugerir a identificação de cinco grandes grupos no interior da literatura sobre a financeirização.

Quadro 1
As linhas mestras da literatura acerca da financeirização

Uma primeira vertente identificada corresponde ao exame da financeirização a partir de uma abordagem crítica à maximização do valor ao acionista. Essa linha de pesquisa avalia a financeirização como o fenômeno cuja manifestação básica seria localizada nas crescentes exigências dos acionistas em relação às corporações das quais são proprietários nas últimas décadas. Nesse contexto, em geral, argumenta-se que as corporações encurtaram seus horizontes de operação favorecendo a distribuição de dividendos e transações que elevem o valor das ações, tais como operações de recompra, em detrimento de investimentos de longo prazo. Também são tecidas considerações acerca dos impactos desse processo sobre a remuneração dos executivos e demais trabalhadores, apontando para uma elevação da desigualdade de renda e deterioração das condições de trabalho, particularmente daqueles de baixa qualificação.

Um segundo agrupamento reflete um conjunto relativamente amplo de fontes relacionadas a teorias críticas ao mainstream economics e cujos temas se desdobram em questões macroeconômicas e de economia política contemplando, sobretudo, as vertentes pós-keynesianas e marxistas. Nesse conjunto, explora-se em que medida a financeirização pode ser entendida como um novo padrão de acumulação forjado a partir dos anos de 1970-1980, particularmente nos EUA, e qual seu impacto sobre a trajetória de crescimento e de distribuição de renda. Em geral, esse agrupamento busca analisar de que forma as decisões de gasto e endividamento são moldadas pela crescente importância das finanças no capitalismo contemporâneo. A avaliação do impacto das finanças, em geral, passa por considerações acerca dos impactos macroeconômicos do extenso processo de securitização, da rápida aceleração dos preços dos ativos financeiros e do maior fluxo de rendas financeiras na economia atual, sobretudo juros e dividendos.

Um terceiro conjunto que aparece de modo mais evidente trata-se de pesquisas concernentes ao impacto da financeirização na vida cotidiana e na forma pela qual a cultura passa a ser permeada pelas finanças. Nesse agrupamento, os trabalhos se voltam, em geral, para o modo pelo qual as finanças, particularmente por meio do endividamento, modificam o comportamento cotidiano e, ademais, examinam como as normas, práticas, rotinas e vocabulário próprios do sistema financeiro condicionam a sociabilidade do indivíduo contemporâneo.

Há também um quarto conjunto de reflexões sobre a financeirização que se concentra no papel das finanças na reorganização do espaço na economia capitalista contemporânea, particularmente sobre a dinâmica de crescimento e configuração das cidades. Essa vertente busca compreender, de forma geral, como os mercados financeiros acabaram por moldar o território, organizando-o de acordo com seus critérios de avaliação de rentabilidade.

Por fim, é discernível de modo claro um quinto agrupamento, que reflete a apreensão da financeirização a temas relacionados à agricultura e questões de desenvolvimento, sobretudo no que concerne aos países subdesenvolvidos. Aqui, os estudos se concentram, de modo geral, no exame do modo pelo qual as finanças condicionam o processo de formação de preços das commodities e a forma pela qual esse fenômeno impacta a economia dos países que as tem como principais produtos. Há um foco particular quanto ao papel da especulação nos mercados de commodities como fator limitante da capacidade de superação da condição de subdesenvolvimento, uma vez que amplia a instabilidade econômica à qual esses países estão sujeitos.

Considerações finais

O presente artigo buscou fornecer um panorama relativamente abrangente da progressiva literatura acerca da financeirização a partir de uma abordagem bibliométrica, com o uso do software VOSviewer. Em particular, por meio do agrupamento de veículos de publicação (revistas, livros, capítulos de livro, etc.), referências, autores e termos, pela utilização de técnicas bibliométricas, foi possível identificar determinadas linhas de pesquisa nas quais o tema tem sido atualmente tratado. Desse modo, ainda que se admita a relevância da pesquisa bibliográfica convencional para a organização da literatura sobre determinado objeto, o uso da bibliometria aqui proposto oferece uma abordagem mais sistemática à pesquisa. Com efeito, dessa maneira, os eventuais agrupamentos identificados adquirem um contorno mais preciso em termos de subáreas específicas, meios de publicação e autores, de modo a complementar os trabalhos já existentes sobre a temática.

Conforme se pode depreender do conjunto de análises realizadas, propõe-se que a literatura sobre a financeirização se apresenta composta por cinco grandes abordagens, cada qual com seu meio de divulgação particular, autores seminais e objetos de análise. Um primeiro agrupamento remete à análise da financeirização a partir de uma abordagem crítica à maximização do valor ao acionista. Um segundo grupo, por sua vez, representa um conjunto relativamente amplo de trabalhos relacionados a teorias críticas ao mainstream economics, sobretudo de teor marxista e pós-keynesiano, cujo foco principal reside na avaliação da financeirização como um novo padrão de acumulação forjado a partir dos anos de 1970-1980 e seus traços fundamentais em termos de crescimento e distribuição de renda. Um terceiro agrupamento se organiza em torno do espraiamento das normas, práticas, regras de conduta e vocabulário típicos dos mercados financeiros na sociedade e seu impacto na vida cotidiana e nas formas de sociabilidade atuais. Um quarto conjunto, por sua vez, concentra-se na avaliação da forma pela qual a dinâmica das finanças contemporâneas condiciona a organização do espaço, particularmente das áreas urbanas. Por fim, um quinto grupo é dedicado ao exame do impacto da financeirização, por meio do processo de formação de preços das commodities nos mercados financeiros, na atividade rural e, particularmente, nas economias subdesenvolvidas dependentes das exportações de commodities.

Naturalmente, a sistematização proposta não significa a existência de áreas estanques no interior da literatura sobre a financeirização. Boa parte das abordagens identificadas não apenas se afasta das teorias convencionais como também adota uma perspectiva que busca reunir disciplinas distintas (economia, sociologia, ciência política, etc.). Tampouco se sugere que esta é uma lista definitiva das vertentes da literatura acerca do tema. A fluidez e o dinamismo característicos da atividade científica não possibilitam tais ilações.

Como possível retrato das principais linhas de pesquisa sobre a financeirização, a organização aqui sugerida abre espaço para pesquisas futuras acerca de uma caracterização mais precisa de cada um desses agrupamentos, suas divergências internas e as possibilidades de que se facilite o diálogo e as contribuições mútuas entre as diversas vertentes que compõem o crescentemente complexo estudo acerca da financeirização.

  • (1)
    O mainstream economics pode ser entendido como aquilo que “is taught in the most prestigious universities and colleges, gets published in the most prestigious journals, receives funds from the most important research foundations, and wins the most prestigious awards” (Dequech, 2007DEQUECH, D. Neoclassical, mainstream, orthodox, and heterodox economics. Journal of Post Keynesian Economics, v. 30, n. 2, p. 279-302, 2007., p. 281).
  • (2)
    Vercelli (2013VERCELLI, A. Financialization in a long-run perspective: an evolutionary approach. International Journal of Political Economy, v. 42, n. 4, p. 19-46, 2013.; 2017)VERCELLI, A. The evolution of financialisation. In: VERCELLI, A. Crisis and sustainability. London: Palgrave Macmillan UK, 2017. p. 89-115. representa, nesse contexto, uma exceção importante ao argumentar, a partir de uma abordagem evolucionária, que a financeirização deve ser concebida como uma tendência secular, com aspectos históricos novos que tornam o período atual único, mas com traços estruturais que recorrentemente se manifestam com maior ou menor intensidade.
  • (3)
    O FESSUD é um projeto de pesquisa multidisciplinar, que teve duração de 5 anos (2011-2016), com financiamento da Comissão Europeia, congregando 14 universidades sob coordenação do Prof. Malcolm Sawyer. Os objetivos do projeto eram analisar a financeirização e seus impactos econômicos, sociais e ambientais com vistas a oferecer guias para os policy makers. Para maiores detalhes: http://fessud.eu/the-project/.
  • (4)
    O VOSviewer (Visualization of Similarities Viewer) faz parte de um conjunto de softwares gratuitos cuja função é a análise e visualização bibliométrica. O software foi desenvolvido por Van Eck e Waltman. Disponível em: www.vosviewer.com.
  • (5)
    De acordo com van Eck e Waltman (2010)VAN ECK, N. J.; WALTMAN, L. Software survey: VOSviewer, a computer program for bibliometric mapping. Scientometrics, v. 84. n. 2, p. 523-538, 2010., pequenas redes bibliográficas podem ser, em geral, representadas graficamente por programas como o Pajek (graph-based). Já redes maiores passariam a requerer um tratamento visual mais cuidadoso e aprofundado, exigindo um método de análise e visualização que fosse capaz de mais bem extrair as informações da base sob observação, tal como o distance-based approach.
  • (6)
    Os procedimentos para os demais critérios (acoplamento bibliográfico, co-citação etc.) são similares, embora a especificação matemática das equações possa ser distinta. Para maiores detalhes, veja-se van Eck e Waltman (2007)VAN ECK, N. J.; WALTMAN, L. Software survey: VOSviewer, a computer program for bibliometric mapping. Scientometrics, v. 84. n. 2, p. 523-538, 2010. e van Eck e Waltman (2017)VAN ECK, N. J.; WALTMAN, L. Citation-based clustering of publications using CitNetExplorer and VOSviewer. Scientometrics, 2017. Retrieve from: https://dx.doi.org/10.1007/s11192-017-2300-7.
    https://dx.doi.org/10.1007/s11192-017-23...
    .
  • (7)
    A base Scopus classifica as Ciências Humanas nos seguintes subconjuntos: Arts and Humanities, Business, Management and Accounting, Decision Sciences, Economics, Econometrics and Finance, Psychology, Social Sciences e Multidisciplinary.
  • (8)
    O conceito de “globalização” e “neoliberalismo” aparece frequentemente associado à temática da financeirização neste grupo.
  • (9)
    Nessa unidade de análise, por conseguinte, o VOSviewer extrai exclusivamente a referência do nome do autor. Por isso, as inferências possíveis a partir daí estão circunscritas ao caráter mais geral das pesquisas de determinado autor, inviabilizando uma análise específica para os eventuais textos referenciados.
  • (10)

    Para a lista dos termos excluídos, veja-se o Anexo 1 Anexo 1 Quadro 1 Termos removidos do mapa de co-ocorrrências absence correlation field lesson presence scholarship abstract course finding limitation price scope access data findings link principle search acquisition decline food researcher logic priority section adoption definition fragmentation majority promise self advantage dependence future meaning prospect sense aftermath design goal means provision shape application determinant ground medium purpose share assumption difficulty heart method pursuit site background diffusion home mode reality solution belief direction hypothesis moment recent decade something benefit discipline implementation movement recent development special issue body discourse important role narrative recent year stage book displacement incentive new form reference student britain diversity increase new way reflection subject building driver indicator norm regard text calculation education individual object region theme call empirical evidence initiative observation relevance thing category empirical result instance originality reliance third cause engagement instrument paradox representation university center essay integration participation respect variation chapter ethic intensification past responsibility variety choice event interaction past decade result wake circuit evidence interpretation period return woman combination evolution intersection person review word comparison examination interview phase right approach conception existence kind phenomena rule methodology conclusion extension language position sample value consideration factor last decade possibility scenario convergence favour latter post scholar Fonte: Elaboração própria. .

Anexo 1

Quadro 1
Termos removidos do mapa de co-ocorrrências

Referências bibliográficas

  • AALBERS, M. Geographies of the financial crisis. Area, v. 41, n. 1, p. 34-42, 2009.
  • AALBERS, M. Corporate financialization. In: THE INTERNATIONAL encyclopedia of geography: People, the earth, environment, and technology. 2015. Retrieve from: http://dx.doi.org/10.1002/9781118786352.wbieg0598
    » http://dx.doi.org/10.1002/9781118786352.wbieg0598
  • BHATIA, R.; KHATKHATE, D. Financial intermediation, savings mobilization, and entrepreneurial development: the African experience. Staff Papers, International Monetary Fund, v. 22, n. 1, p. 132-158, 1975.
  • CLAPP, J. Financialization, distance and global food politics. Journal of Peasant Studies, v. 41, n. 5, p. 797-814, 2014.
  • DAVIS, G. F.; KIM, S. Financialization of the economy. Annual Review of Sociology, v. 41, n. 1, p. 203-221, 2015.
  • DEQUECH, D. Neoclassical, mainstream, orthodox, and heterodox economics. Journal of Post Keynesian Economics, v. 30, n. 2, p. 279-302, 2007.
  • DORE, R. Financialization of the global economy. Industrial and Corporate Change, v. 17, n. 6, p. 1097-1112, 2008.
  • EPSTEIN, G. Financialization: there’s something happening here. Amherst, MA: PERI, 2015. (Working Paper, n. 394).
  • FAIRBAIRN, M. ‘Like gold with yield’: evolving intersections between farmland and finance. Journal of Peasant Studies, v. 41, n. 5, p. 777-795, 2014.
  • FARAZMAND, A. Globalization and public administration. Public Administration Review, v. 59, n. 6, p. 509-522, 1999.
  • FOSTER, J. B. The financialization of capitalism. Monthly Review, v. 58, n. 11, p. 1-12, 2007.
  • FRENCH, S.; KNEALE, J. Excessive financialisation: insuring lifestyles, enlivening subjects, and everyday spaces of biosocial excess. Environment and Planning D: society and space, v. 27, n. 6, p. 1030-1053, 2009.
  • FRENCH, S.; LEYSHON, A.; THRIFT, N. A very geographical crisis: the making and breaking of the 2007-2008 financial crisis. Cambridge Journal of Regions, Economy and Society, v. 2, n. 2, p. 287-302, 2009.
  • FRENCH et al. Financializing space, spacing financialization. Progress in Human Geography, v. 35, n. 6, p. 798-819, 2011.
  • FROUD, J. et al. Shareholder value and financialization: consultancy promises, management moves. Economy and Society, v. 29, n. 1, p. 80-110, 2000.
  • GKANOUTAS-LEVENTIS, A. The many faces of financialisation. In GKANOUTAS-LEVENTIS, A. Spikes and shocks London: Palgrave Macmillan UK, 2017. p. 23-37.
  • GOLDSTEIN, J. P. Introduction: the political economy of financialization. Review of Radical Political Economics, v. 41, n. 4, p. 453-457, 2009.
  • GOTHAM, K. F. Creating liquidity out of spatial fixity: the secondary circuit of capital and the subprime mortgage crisis. International Journal of Urban and Regional Research, v. 33, n. 2, p. 355-371, 2009.
  • HALL, S. Geographies of money and finance II: Financialization and financial subjects. Progress in Human Geography, v. 36, n. 3, p. 403-411, 2012.
  • HALL, S.; LEYSHON, A. Editorial: Financialization, space and place. Regional Studies, v. 47, n. 6, p. 831-833, 2013.
  • HARVEY, D. Neoliberalism as creative destruction. The Annals of the American Academy of Political and Social Science, v. 610, p. 22-44, 2007.
  • HEIN, E.; VAN TREECK, T. . ‘Financialisation’ in Post-Keynesian models of distribution and growth-a systematic review. IMK Working Paper, n. 10, 2008.
  • ISAKSON, S. R. Food and finance: the financial transformation of agro-food supply chains. Journal of Peasant Studies , v. 41, n. 5, p. 749-775, 2014.
  • KHATKHATE, D. Analytic basis of the working of monetary policy in less developed countries. Staff Papers, International Monetary Fund, v. 19, n. 3, p. 533-558, 1972.
  • KRIPPNER, G. R. The financialization of the American economy. Socio-Economic Review, v. 3, n. 2), p. 173-208, 2005.
  • KUS, B. Financialisation and income inequality in OECD nations: 1995-2007. The Economic and Social Review, v. 43, n. 4, p. 477-495, 2013.
  • LANGLEY, P. The everyday life of global finance: saving and borrowing in Anglo-America. Oxford: OUP, 2008.
  • LAPAVITSAS, C. Financialised capitalism: crisis and financial expropriation. Historical Materialism, v. 17, n. 2, p. 114-148, 2009.
  • LAPAVITSAS, C. Theorizing financialization. Work, Employment & Society, 25(4), 611-626. 2011
  • LAZZARATO, M. Neoliberalism in action inequality, insecurity and the reconstitution of the social. Theory, culture & society, 26(6), 109-133. 2009
  • LEE, R., CLARK, G. L., POLLARD, J., & LEYSHON, A. The remit of financial geography-before and after the crisis. Journal of Economic Geography, 9(5), 723-747. 2009
  • MAKDISI, S. Lebanon: Monetary Developments, Management and Performance in the Postwar Period up to 1972. Part II. Middle East Journal, 29(2), 199-206. 1975
  • MARTIN, R. Financialization of daily life Temple University Press. 2002
  • MCMICHAEL, P. The land grab and corporate food regime restructuring. The Journal of Peasant Studies, 39(3-4), 681-701. 2012
  • OLCZYK, M. Bibliometric approach to tracking the concept of international competitiveness, Journal of Business Economics and Management, 17(6), 945-9592016
  • ORHANGAZI, Ö. Financialisation and capital accumulation in the non-financial corporate sector: A theoretical and empirical investigation on the US economy: 1973-2003. Cambridge Journal of Economics, 32(6), 863-886. 2008
  • PIKE, A., & POLLARD, J. Economic Geographies of Financialization. Economic Geography, 86(1), 29-52. 2010
  • SAWYER, M. What Is Financialization? International Journal of Political Economy, 42(4), 5-18. 2013
  • SAWYER, M. Confronting Financialisation. In P. Arestis & M. Sawyer (Eds.), Financial Liberalisation (pp. 43-85). Cham: Springer International Publishing. 2016
  • SKOTT, P., & RYOO, S. Macroeconomic implications of financialisation. Cambridge Journal of Economics, 32(6), 827-862. 2008
  • SMALL, H. Co-citation in the scientific literature: A new measure of the relationship between two documents. Journal of the Association for Information Science and Technology, 24(4), 265-269. 1973
  • SOKOL, M. Towards a ‘newer’ economic geography? Injecting finance and financialisation into economic geographies. Cambridge Journal of Regions, Economy and Society, 6(3), 501-515. 2013
  • STOCKHAMMER, E. Financialisation and the slowdown of accumulation. Cambridge Journal of Economics , 28(5), 719-741. 2004
  • TANG, K., & XIONG, W. Index investment and the financialization of commodities. Financial Analysts Journal, 68(5), 54-74. 2012
  • TOMASKOVIC-DEVEY, D.; LIN, K. H. Income dynamics, economic rents, and the financialization of the US economy. American Sociological Review, v. 76, n. 4, p. 538-559, 2011.
  • TOMASKOVIC-DEVEY, D.; LIN, K. H.; MEYERS, N. Did financialization reduce economic growth? Socio-Economic Review, v. 13, n. 3, p. 525-548, 2015.
  • TOPOROWSKI, J. Neologism as theoretical innovation in economics: the case of “financialisation.” In: O’SULLIVAN, P.; ALLINGTON, N. F. B.; ESPOSITO, M. (Ed.). The Philosophy, politics and economics of finance in the 21st century: from hubris to disgrace. New York, NY: Routledge, 2015. p. 254-266.
  • VAN DER ZWAN, N. Making sense of financialization. Socio-Economic Review, v. 12, n. 1, p. 99-129, 2014.
  • VAN ECK, N. J.; WALTMAN, L. Bibliometric mapping of the computational intelligence field. International Journal of Uncertainty, Fuzziness and Knowledge-Based Systems, v. 15, n. 5, p. 625-645, 2007.
  • VAN ECK, N. J.; WALTMAN, L. Software survey: VOSviewer, a computer program for bibliometric mapping. Scientometrics, v. 84. n. 2, p. 523-538, 2010.
  • VAN ECK, N. J.; WALTMAN, L. Citation-based clustering of publications using CitNetExplorer and VOSviewer. Scientometrics, 2017. Retrieve from: https://dx.doi.org/10.1007/s11192-017-2300-7
    » https://dx.doi.org/10.1007/s11192-017-2300-7
  • VERCELLI, A. Financialization in a long-run perspective: an evolutionary approach. International Journal of Political Economy, v. 42, n. 4, p. 19-46, 2013.
  • VERCELLI, A. The evolution of financialisation. In: VERCELLI, A. Crisis and sustainability London: Palgrave Macmillan UK, 2017. p. 89-115.
  • WALTMAN, L.; VAN ECK, N. J.; NOYONS, E. C. A unified approach to mapping and clustering of bibliometric networks. Journal of Informetrics, v. 4, n. 4, p. 629-635, 2010.
  • WILLIAMS, K. From shareholder value to present-day capitalism. Economy and Society , v. 29, n. 1, p. 1-12, 2000.
  • ZHANG, Y.; ANDREW, J. Financialisation and the conceptual framework. Critical perspectives on accounting, v. 25, n. 1, p. 17-26, 2014.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Ago 2019
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2019

Histórico

  • Recebido
    10 Abr 2017
  • Aceito
    07 Abr 2018
Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, Publicações Rua Pitágoras, 353 - CEP 13083-857, Tel.: +55 19 3521-5708 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: publicie@unicamp.br