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In memorian: prof. Wladimir Besnard. (1890-†1960)

In memorian. Prof. Wladimir Besnard. (1890-†1960)

Nascido em 1890, de nacionalidade francesa, fez os estudos universitários em Kiew e Moscou e, após sua conclusão, tendo se especializado em anatomia comparada e biologia geral, foi convidado para o cargo de assistente pelo Prof. A. Sewertzoff. Em 1914, designado assistente para a Estação Biológica de Villefranche sur Mer, teve sua carreira universitária interrompida pela explosão da primeira guerra mundial, que o arrancou dos estudos para levá-lo à frente de batalha.

De 1923 a 1927 nomeado professor e chefe do departamento de biologia do Colégio Universitário Americano "Robert College" de Constantinopla, empenhou-se em reformá-lo completamente, elevando o nível do ensino e dos estudos. Para isso equipou um barco para pesquisas oceanográficas, com o qual iniciou uma série de trabalhos físicos e biológicos no Mar de Marinara e no Bósforo. Data desse tempo o início de seu interesse pela biologia da pesca e correlatos. Essas pesquisas continuariam em sua volta à França, no Laboratório de Pesca e Produção Colonial e na Escola Prática de Altos Estudos com o Prof. A. Gruvel.

Em 1930, o Ministério das Colônias e o Museu de Paris encarregaram-no da criação e direção do Aquário da França de Além-Mar, instalado por ocasião da Exposição Colonial de 1931. Graças ao grande sucesso de seu trabalho, foi designado orientador por várias entidades similares como o Real Aquário de Copenhague, o Aquário de Bombaim, a Estação Biológica de Roskoff e outras. Estas mesmas instituições escolheram-no em 1937 para instalar o aquário tropical de agua doce e salgada da Exposição Tropical de Paris.

Homem de cultura e interesses vastos, participou de numerosas missões científicas, sempre relacionadas com pesquisas oceanográficas, hidrológicas ou pesqueiras, salvo quando tomou parte na missão "Augieras-Draper" ao Sahara, onde descobriu numerosas estações pré-históricas juntamente com o esqueleto do homem de Asselar, que deu origem ao grande trabalho do Prof. M. Boule. Além de permanências em estações biológicas como os laboratórios do Museu de Mônaco e serviços pesqueiros noruegueses, visitou as regiões de Sumatra, Bornéu, Bilitom, Ceilão, Malásia, Somália, Líbia. Síria e Palestina, organizando cartas de pesca e estudando as técnicas pesqueiras, a biologia das ostras e peixes. Pelos trabalhos prestados à nação francesa foi condecorado com a Legião de Honra.

Nos dias negros da segunda guerra mundial, seu patriotismo obrigou-o a resignar os postos administrativos que exercia, pois que eles obrigavam a uma colaboração com o invasor. Em 1941 foi convidado pela República da Colômbia para supervisionar e organizar os serviços de pesca desse país. A situação internacional impediu, entretanto, que o convite se tornasse realidade. Até 1945, data da libertação, dirigiu os trabalhos de um laboratório experimental e usina-pilôto da Bretanha, onde se aperfeiçoava um novo derivado dos peixes: os autolizados. Com a vitória das forças aliadas, reintegrado nos quadros da administração francesa, foi proposto pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e pelo Museu de Paris para conselheiro técnico da Secção Indo-Pacífica da UNRRA, cargo que não ocupou por ter optado pela direção do Instituto Oceanográfico da Indochina. Mais uma vez, porém, as crises políticas e sociais interferiram com sua carreira de cientista, já que nesses dias a revolução indochinesa levava suas tropas até as costas do Tonquim e Anam, ocupando as regiões do laboratório e tornando incertas as condições de trabalho. Propuseram-lhe então os Profs. Paul Rivet e Fage aceitar a direção do Instituto Oceanográfico que o Governo de São Paulo projetava criar. Tendo nos honrado com sua anuência a essa missão, iniciou suas atividades em nosso País em março de 1947 e, desde essa data até a de sua morte, em agosto de 1960, trabalhou incansavelmente pelo desenvolvimento de nossa Instituição, dirigindo-a através de todos os inevitáveis percalços por que passa uma jovem organização. Em 1950 foi escolhido como membro da International Directory of Oceanographers e em 1951 designado elemento oficial de ligação desta organização para o Brasil. Seu entusiasmo científico e sua vasta cultura inspiraram o trabalho de seus colaboradores e a formação dos novos quadros científicos do Instituto Oceanográfico, que lhe dedicaram em vida grande admiração e na morte uma lembrança imperecível.

Seu falecimento representou, para nossa organização, grande perda que seus colaboradores e discípulos esperam sanar, levando a cumprimento a obra que ele lhes legou.

O.C.D.F.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Jun 2012
  • Data do Fascículo
    1960
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