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Corpo somático e psiquismo na psicanálise: uma relação de tensionalidade

Resumos

Apresenta-se a hipótese de que a condição humana, entendida psicanaliticamente como processo de constituição psicossexual, encontraria como dinâmica própria aos processos de subjetivação o que denominamos 'tensionalidade somatopsíquica'. A pulsão, enquanto conceito fronteiriço entre as dimensões somática e psíquica, é o eixo que permite superar a lógica dicotômica entre estes dois termos, que não podem ser concebidos como entes autônomos e independentes, mas em sua articulação-disjunção.

Pulsão; psicossexualidade; processos de subjetivação; tensionalidade somatopsíquica


Somatic body and psychic on Psychoanalysis: a matter of tension. On this paper we present the hypothesis that the human condition, understood by psychoanalysis as the process of psychosexual constitution, would find what we designate 'somatic-psychic tension' as the dynamic particular to the process of subjectivity. The notion of sexual drive, as a borderline term between the somatic and the psychic dimensions, is the axis which allows us to surpass the dualistic logic between soma and psyche, two terms that can't be understood as independent entities, but only in their simultaneous articulation-disjunction.

Sexual drive; psychosexuality; subjectivity process; somatic-psychic tension


ARTIGOS

Corpo somático e psiquismo na psicanálise: uma relação de tensionalidade* * A autora agradece o apoio do CNPq à pesquisa, na forma de bolsa de doutorado.

Tatiana Lionço

Doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília. tlionco@gmail.com

RESUMO

Apresenta-se a hipótese de que a condição humana, entendida psicanaliticamente como processo de constituição psicossexual, encontraria como dinâmica própria aos processos de subjetivação o que denominamos 'tensionalidade somatopsíquica'. A pulsão, enquanto conceito fronteiriço entre as dimensões somática e psíquica, é o eixo que permite superar a lógica dicotômica entre estes dois termos, que não podem ser concebidos como entes autônomos e independentes, mas em sua articulação-disjunção.

Palavras-chave: Pulsão, psicossexualidade, processos de subjetivação, tensionalidade somatopsíquica.

ABSTRACT

Somatic body and psychic on Psychoanalysis: a matter of tension. On this paper we present the hypothesis that the human condition, understood by psychoanalysis as the process of psychosexual constitution, would find what we designate 'somatic-psychic tension' as the dynamic particular to the process of subjectivity. The notion of sexual drive, as a borderline term between the somatic and the psychic dimensions, is the axis which allows us to surpass the dualistic logic between soma and psyche, two terms that can't be understood as independent entities, but only in their simultaneous articulation-disjunction.

Keywords: Sexual drive, psychosexuality, subjectivity process, somatic-psychic tension.

Cabe ainda, pouco mais de um século após a instituição da psicanálise, pensar a problematização por ela estabelecida nas relações entre corpo e psiquismo. É lugar comum afirmar o golpe sofrido pela tradição metafísica de cunho cartesiano com a reviravolta que o pensamento psicanalítico operou na compreensão de que, muito mais do que demarcados, os campos do soma e do psiquismo estariam irremediavelmente imbricados, indissociados.

Assoun (1996) atesta esse efeito operado pelo pensamento freudiano, e afirma que, se o corpo se inscreve, na tradição filosófica, como o reverso do 'princípio fundador', que seria a alma, ou, mais precisamente, o cogito, Freud vem tecer considerações sobre o corpo tomando como parâmetro o inconsciente e suas produções, o que acaba por acarretar a apreensão do corpo como efeito de linguagem. Nesta perspectiva, o corpo articular-se-ia, muito mais do que se oporia, ao registro que a ele se contraporia segundo a concepção metafísica. Assoun (ibidem) afirma que a dicotomia metafísica clássica entre corpo e alma é chamada a se reposicionar a partir do postulado freudiano do inconsciente, já que a noção freudiana de inconsciente imporia uma releitura da relação entre o somático e o psíquico. O inconsciente seria uma espécie de lugar de passagem, processo no qual se tornaria impossível distinguir o corporal do psíquico, que estariam articulados numa espécie de curto-circuito. Diferentemente da psicossomática, que postula uma ligação entre o somático e o psíquico, Freud (1923/1987), sobretudo na segunda tópica, com a noção de Isso, teria chamado a atenção para um âmbito de interferência entre estes dois registros.

A psicanálise se funda na instituição da compreensão desta imbricação somatopsíquica. Como sabemos, a histeria, até o final do século XIX era tomada, pela medicina, como uma patologia corporalmente aparente, à qual não se conseguia associar nenhuma disfunção orgânica. A cegueira histérica não acompanhava as manifestações correlatas do olho-órgão cego, e mesmo uma paralisia de membros poderia se manifestar apenas em contextos específicos, o que era um contra-senso. Desta forma, a histeria era considerada uma manifestação da ordem do engodo: fingimento, frenesi. Laplanche (1985), a esse respeito, afirma que "a psicanálise, de imediato e definitivamente, ultrapassa a pobreza da 'clínica' oficial que nunca deixou de referir-se à má-fé e à simulação para explicar o que chama de 'pitiatismo'" (p.41).

Segundo Campos (1996-1997), Freud, ao adotar o tratamento hipnótico da histeria, percebe não apenas as influências do psíquico sobre o somático, mas que estas influências são recíprocas. Apesar de diferir em sua perspectiva em relação aos neurologistas da época, não se pode afirmar que Freud abandona a questão do corpo em favor do psíquico. O que Freud pôde perceber é que na histeria o corpo orgânico em sua funcionalidade é subvertido. Não se trata de um abandono da consideração do corpo, mas da postulação de um novo estatuto para o corpo, que deixa de restringi-lo à sua condição somática.

Como proposta de tratamento da histeria, a psicanálise apreende que os limites entre, de um lado, o soma, e, de outro, o psíquico ou anímico, são permeáveis, não sendo mais possível pensar as relações entre ambos em termos dicotômicos, ou através de uma lógica dualista. A via régia para se pensar a impertinência da lógica dualista para a compreensão das relações soma-psique é o próprio conceito de pulsão, que se apresenta como um terceiro termo, que romperia com a já aludida dicotomia, sendo propriamente um conceito fronteiriço entre o somático e o psíquico (FREUD, 1915/1987).

Dicotomizar o corpo em sua condição somática, de um lado, e o psiquismo enquanto universo representacional, de outro, seria atribuir a ambas estas categorias o estatuto de entes, que seriam autônomos em relação um ao outro, e que viriam a entrar em relação, de início e na maior parte das vezes, pela lógica do antagonismo. Segundo Celes (2004), o psíquico não é um ente, mas o fundamento, a condição e o processo pelo qual o humano se constitui como tal. Mesmo que o corpo somático possa ser concebido como um ente, já que um organismo, no sentido de apresentar-se em uma realidade fática, concreta e atual (FERREIRA, 1988), o corpo tal como apreendido pela psicanálise não o é, já que implica, em sua constituição, os processos psíquicos e suas montagens.

Ao associar o corpo somático irremediavelmente ao psiquismo, o que a psicanálise institui é a desnaturalização do corpo. Segundo Bastos (1998), nos escritos pré-psicanalíticos de Freud, ele assume certos parâmetros que lhe foram legados pelo pensamento médico do século XIX, remetendo a problemática histérica às discussões etiológicas que garantiam, pela acolhida das noções de hereditariedade e degeneração, sua pertinência como fenômeno legítimo de investigação científica. No entanto, desde o estudo sobre as afasias, datado de 1891, Freud passa a priorizar considerações psíquicas, desfocalizando as considerações anatomofisiológicas, que, mesmo se não fossem excluídas de seu pensamento, passaram a ser relegadas a um segundo plano. Na histeria, não sendo possível determinar a localização neuroanatômica que propiciaria o estado de enfermidade, a etiologia era remetida a uma suposta lesão funcional, a uma degeneração herdada. Ainda que a hereditariedade estivesse ocupando o estatuto de precondição da histeria, estava aberto o espaço para o questionamento das condições nas quais se constituiriam os sintomas histéricos, já que a precondição em si não era suficiente para produzir a afecção neurótica, podendo ou não se manifestar, a partir da predisposição hereditária. O que determinou a especificidade do pensamento freudiano sobre a histeria foi o reconhecimento de que as produções corporais histéricas estariam regidas prioritariamente por determinações psíquicas.

Se a causa era remetida à hereditariedade, a produção de diversas possibilidades de constituição, o como da constituição das diferentes formas pelas quais a sexualidade viria a se manifestar no humano implicava a reflexão de outros processos. Oliveira (2002) foi quem nos chamou a atenção para este deslizamento da perspectiva freudiana em relação a seus contemporâneos. Mesmo não deixando de estabelecer indicações quanto às condições etiológicas, Freud atribuiu maior ênfase ao desenrolar da constituição, ao devir dos destinos sexuais plurais.

A acolhida de outras determinações que não apenas as condições anatomofisiológicas para se pensar e compreender a constituição humana, em inevitável relação com sua sexualidade (é isso também o que a histeria permitiu conceber), teve como conseqüência a constatação de que o corpo, no modo como a psicanálise o apreende e o trata, não se reduz ao soma, embora não possa prescindir de sua também condição somática. Se a anatomia e a fisiologia não puderam dar conta de apreender as determinações dos sintomas histéricos, já que os mesmos não concerniam estritamente ao soma, ainda assim é no corpo somático que irão se manifestar determinações de outra ordem, a psíquica, que Freud cedo percebeu ser concernentes à sexualidade, implicando um novo campo de determinações, agora concernentes à erogeneidade do corpo, marcado pela sua pulsionalidade.

O corpo, por não mais se reduzir ao soma, desnaturalizando-se, nem por isso advém puramente representação psíquica. O corpo não natural impele a instituição do psiquismo, mas corpo e psiquismo não são sinônimos. Há certa condição do corpo que o lança inevitavelmente a constituir-se psíquico. Há aí uma brecha, uma outra condição, não psíquica, um estado que requer a instituição do psiquismo. O corpo implica uma materialidade, formando um campo de excitabilidade concreta que requer resolução, e a incidência do psiquismo viria a ser instituído como resposta a essa ânsia. Problematizar o estatuto do corpo é nosso caminho para percorrer uma possibilidade não dualista da condição humana.

O corpo erógeno, que não se reduz nem ao soma, tampouco sendo puramente psíquico, será concebido aqui como campo de constituição das psicossexualidades. O corpo humano, portanto, seria duplamente marcado, pelo psiquismo, e pela sua materialidade somática. É a psicossexualidade humana, enquanto indicadora da pulsionalidade do corpo erógeno, que faz com que a condição somática e a psíquica sejam dois planos necessariamente atravessados um pelo outro, o que implica na indagação quanto aos processos pelos quais se realiza essa montagem de que se tece a subjetivação, enquanto delimitação, em si, da tensão entre a condição somática e a condição psíquica do humano. Segundo Green (2000), o sexual é o elo que permite articular o domínio somático e o psíquico, a pulsão como traço de união somatopsíquica.

SEXUALIDADE E NÃO-NATUREZA

No primeiro capítulo dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, Freud (1905/1987) apresenta a abertura à qual estaria condicionada a sexualidade humana, que, longe de encontrar como destinação um modelo definido, se pulverizaria em modalidades diversas de constituição. As ditas aberrações sexuais são apresentadas por Freud como possibilidades efetivas de constituição psicossexuais. Se o saber sobre a sexualidade humana, produzido no fim do século XIX, contemporaneamente a Freud, supunha a norma heterossexual, fiada no destino incondicional da viabilização da perpetuação da espécie pela reprodução sexuada, as ditas aberrações são apresentadas nos Três ensaios... como possibilidades concomitantes à heterossexualidade.

Peixoto Junior (1999) salienta que na primeira metade do século XIX, o saber médico sobre a sexualidade humana fundamentava-se na noção de instinto sexual, que indicaria uma lei que só poderia ser subvertida quando em casos de doença, patologia.

Esta noção de instinto permitiu a entrada da noção de degenerescência enquanto parâmetro do saber médico, e desembocou na medicina das perversões e nos programas de eugenia: a hereditariedade carregava mazelas, doenças, podendo derivar num pervertido, e esta eclosão de perversão sexual decerto perturbava a descendência da espécie. A noção de instinto subsidiava esta concepção naturalista da sexualidade, permitindo dicotomizar o normal do patológico em termos de 'natureza humana'.

Como nos alerta Peixoto Junior (1999), nem todas as teorias médicas sobre a sexualidade no século XIX tinham como ponto de partida a noção de instinto. Mas, desde aquelas que partiam da noção de uma degenerescência inata, até aquelas orientadas ao estudo de aspectos psicológicos e que se propunham a endossar a importância da educação na boa formação do homem, havia um ponto reincidente, comum, que a reflexão sobre o instinto permite vislumbrar: as perversões sexuais eram concebidas como desvios negativos em relação a um padrão de normalidade. Como se houvesse uma prática sexual natural, sendo as demais possibilidades desviantes em relação a esta norma, regra da natureza.

Para Garcia-Roza (1990), na condição humana haveria um elemento fundamental, não natural, que se interporia no mundo natural. O autor faz alusão à palavra. Desde então, formar-se-iam dois registros distintos: o do corpo material e o da linguagem. O efeito imediato da emergência da linguagem seria a desnaturalização do corpo, de suas necessidades, e dos objetos do mundo. Com a perda da ordem natural e emergência de uma nova ordem, a simbólica, o objeto absoluto (que corresponderia à necessidade, adaptando-se a ela) estaria perdido, e adviria uma nova condição de falta com a qual o corpo teria de se haver. Esta falta corporal seria, agora, não natural, e insuperável pela adaptação, que se tornou inviável pela perda da garantia instintiva.

"As faltas corporais permaneceram, isto é, o corpo permaneceu como não auto-suficiente. Só que agora, a ação desencadeada por essas faltas ficou sem direção predeterminada. O homem foi lançado numa errância, já que não dispunha mais do sinal inequívoco do objeto anteriormente natural e adequado." (GARCIA-ROZA, 1990, p.16-17)

Para Garcia-Roza (1990), "tomar a linguagem como ponto de partida, significa recusar a ordem prévia que o naturalismo impõe ao mundo" (p.17). Estamos perfeitamente de acordo com o autor quanto à recusa, para apreender a condição humana, de uma ordem previamente estabelecida pela natureza. Concordamos com a perda da ordem natural, que não mais contempla a complexidade da constituição humana. Apenas não estamos convictos a respeito da tomada da linguagem como ponto de partida. Com esta ressalva, tampouco estamos negando a função fundamental que a linguagem desempenha na constituição humana. Apenas gostaríamos de chamar a atenção para o fato de a linguagem não recobrir a totalidade da condição humana. A linguagem não vem substituir a condição natural, perdida. Ela vem a ser requerida para responder a um estado, ou a uma condição primeira, condição esta que gostaríamos de delimitar e lançar como ponto de partida para que os processos de constituição humanos psicossexuais possam ser questionados.

De início, o corpo seria abandonado pela ordem natural, e não ainda apoiado e circunscrito pela linguagem. Que condição é esta que podemos supor ser a do corpo? Quando nos referimos à perda da ordem natural, não queremos indicar um estado primeiro em que o bebê nascente estaria contemplado pela funcionalidade de sua fisiologia, e que, depois, num segundo momento, pela intervenção do outro-falante, encontraria uma desestabilização em seu estado primeiro. Desde sempre o bebê vem ao mundo desamparado, sem garantias de resolução para suas necessidades.

INSTINTO E PULSÃO

No primeiro capítulo dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, Freud (1905/1987) apresenta a tese de que a sexualidade humana seria, em si, aberrante, perversa. Essa condição perversa da sexualidade humana decorre de ser ela regida não pela meta da reprodução, mas pelo princípio de prazer (GARCIA-ROZA, 1995). A sexualidade humana encontraria como parâmetro de ordenamento o princípio que rege o psiquismo, o princípio de prazer, o que significa que a sexualidade lança a experiência humana do corpo para um âmbito que extrapola o registro somático. A sexualidade, no entanto, não se deixa domar totalmente pelo psiquismo, o que se deixa apreender pelo princípio de funcionamento próprio à pulsão em seu estado mais arcaico, a saber, a pulsão de morte.

Freud utiliza o conceito de pulsão, e não a noção de instinto, para se referir aos processos de constituição psicossexuais. As diferenças entre esses dois termos acarretam em visões muito distintas quanto ao caráter que a sexualidade pode assumir. A pulsão, diferentemente do instinto, apresenta-se como indeterminada, não tendo um esquema prefixado. O objeto de satisfação da pulsão, bem como os modos pelos quais busca satisfação, são indeterminados, ou seja, estão abertos a um fazer-se. Longe de encontrar sua significação última na condição natural da procriação, a sexualidade, considerada a partir da noção de pulsionalidade, apresenta-se como não predeterminada, o que quer dizer, como uma abertura ao devir.

Diferentemente dos demais estudiosos que se debruçaram sobre a questão da sexualidade humana em seu tempo, Freud (1905/1987) compreendeu que o caminho heterossexual estava sujeito às mesmas condições de constituição que as ditas aberrações, denotando ampla variação quanto aos objetos e modos de satisfação. O caminho heterossexual se incluiria nessa diversidade, não sendo, tampouco, dado, predeterminado. O objeto de investimento sexual não seria determinado pela lógica da heterossexualidade (necessariamente consistindo no sexo oposto), tampouco o modo de obtenção de satisfação de uma necessidade pela via do coito genital.

A condição humana, circunscrita por Freud (1905/1987) como psicossexualidade, não encontraria respaldo numa norma natural que viesse lhe oferecer os contornos e direções de sua destinação. A condição humana psicossexual é apresentada por Freud (idem) como aberta e processual.

Quanto à impertinência da compreensão da condição humana segundo o parâmetro da ordenação natural, Laplanche (1992) chama a atenção para o termo freudiano Hilflosigkeit, que pode ser traduzido como 'noção de desamparo', denotando a ausência, no humano, da garantia de solução para as necessidades que o instinto supostamente proviria ao organismo animal. O bebê, caso entregue a si mesmo, é incapaz de ajudar-se por conta própria. Necessita, pois, de passar pela ajuda de um estranho, de alguém que lhe seja diferenciado. Aqui se anuncia o outro como parâmetro a partir do qual a constituição psicossexual se desenvolverá. A incapacidade do bebê em se ajudar não se restringe ao âmbito das necessidades fisiológicas: também ele é incapaz de reagir frente a situações de perigo. Em ambos os casos, no entanto, podemos afirmar que a autoconservação, no humano, não seria um dado estabelecido e inequívoco, precisando de certas condições para se operacionalizar enquanto princípio de funcionamento no indivíduo. O bebê é, portanto, lançado ao mundo num estado prematuro, ou mesmo de desadaptação.

Laplanche (1992) aponta dois níveis em que se evidencia a prematuração ou desadaptação do bebê: no domínio adaptativo e ligada à questão de sobrevivência; e no domínio do sexual, tendo a criança que se confrontar com uma sexualidade marcada por significantes enigmáticos à qual não se tem reação adequada.

O bebê, portanto, encontra-se, ao nascer, em disjunção tanto no que concerne à ordem natural, quanto à nova ordem antes sugerida por Garcia-Roza (1990), a ordem simbólica, da circulação do sentido e, conseqüentemente, da também possibilidade de ausência de sentido. Nem a natureza lhe é garantia, tampouco o universo de linguagem, simbólico-cultural, constituído pelos sujeitos adultos humanizados. Segundo o mesmo Garcia-Roza (1990), seria inapropriado deslizar da referência biológica à lingüística, já que, tanto para Freud como para Lacan, haveria um além da representação e da linguagem, que seria o âmbito da pulsão, lugar do real para a psicanálise. O corpo pulsional seria irredutível tanto à biologia, quanto à ordem simbólica.

Segundo Garcia-Roza (1990), não é que a psicanálise recuse a condição biológica do ser humano, mas simplesmente o corpo do sujeito nascente não constitui, para ela, um conjunto organizado, que manteria com o mundo uma articulação natural. O autor afirma que

"Na verdade, do ponto de vista psicanalítico, aquilo que poderíamos chamar de corpo de um recém-nascido, só é corpo no sentido de sua materialidade, mas não no sentido de uma totalidade orgânica. De fato, o 'corpo' não foi ainda constituído. Ele nada mais é do que matéria sem forma, já que a idéia de corpo orgânico supõe não apenas a existência de um substrato material, mas também de uma totalidade formada de partes, com limites definidos, organização própria e princípio de funcionamento." (GARCIA-ROZA, 1990, p.18)

Rosolato (1988) nos apresenta uma excelente figuração do corpo humano em sua condição somática e não natural. O autor alude à condição de mosaico, em que o soma resta em uma fragmentação sem ponto ou centro de ordenação.

Temos a alusão a um corpo, portanto, em desamparo radical. Esse corpo é acometido por uma série de estímulos, excitações, para os quais não tem caminho predeterminado de vazão. Esse corpo pulsa, urge por resolução. Segundo Garcia-Roza (1990), a linguagem viria oferecer demarcação, um parâmetro de ordenamento ao corpo pulverizado pela perda da ordem natural. Essa ordenação que o corpo humano deve buscar instituir não se refere apenas à dispersão das excitações pelas quais é tomado. Garcia-Roza (1990) é quem nos sugere que

"tendo perdido sua suposta organização natural, o corpo, enquanto corpo material, perdeu sua forma. Reduzido a uma matéria sem forma, teve de constituir, na sua articulação com o mundo, uma nova forma, uma nova anatomia, e uma nova fisiologia" (p.17).

Isso implica que, ao nos reportarmos ao corpo humano em sua condição somática, não estamos nos referindo a um organismo natural-instintivo, cujas montagens estivessem garantidas, e cuja organização previamente dada. Mesmo o organismo humano não tem o respaldo de uma ordenação natural, não sendo um 'todo funcional'.

A possibilidade ordenadora da linguagem, no entanto, é algo a que o sujeito nascente deve aquiescer, pois, ainda que o bebê venha ao mundo num universo já constituído pela linguagem, a linguagem não lhe pertence, não lhe é dada como garantia já instituída de ordenação de si.

Laplanche (1985), num momento de sua formulação teórica anterior ao postulado da teoria da sedução generalizada, quando irá circunscrever a condição da constituição do sujeito humano estritamente ao domínio de suas relações com o outro, busca na obra intitulada Vida e morte em psicanálise estabelecer as relações entre a ordem vital e a gênese da sexualidade humana. Ainda que estes domínios se diferenciem, o autor, diferentemente de Garcia-Roza, toma como fundamental a idéia de que a sexualidade humana estaria referenciada à ordem vital, ao menos nas condições em que o sexual se origina. Para empreender essa discussão, retornaremos à questão da relação entre os termos 'pulsão' e 'instinto'.

Laplanche (1985) propõe a consideração do par instinto-pulsão em três níveis de articulação, que seriam a analogia, a diferenciação e a derivação. A etimologia dos termos já apresenta a complexidade da articulação entre ambos, já que, numa primeira aproximação, denotariam significações idênticas. Trieb deriva do alemão treiben, que significa 'empurrar', enquanto Instinkt, derivado do latim instinguere, também carrega o sentido de 'empurrar', 'incitar'. Freud, que muito usufruiu da pregnância da utilização coloquial das palavras da língua alemã, provavelmente lança mão dessa duplicidade semântica para denotar, mais do que uma possível significação comum entre os termos, uma forte distinção.

Hans (1996; 1999) sugere haver, no termo Trieb, da língua alemã, ampla variância de significação, acolhendo a designação de impulsos biológicos, ou mesmo de uma força impelente da Natureza. O autor afirma que:

"em geral, o termo alemão Trieb designa uma 'Força Impelente dos seres viventes'. Essa força impelente manifesta-se em todos os níveis de existência dos seres vivos, isto é, abarca um 'arco' que parte do absoluto e grandioso, passa pela espécie e chega ao indivíduo específico." (HANS, 1999, p.32)

No entanto, diferentemente do instinto, a pulsão denota plasticidade, um fator de indeterminação, sendo que o instinto implica a noção de rigidez, de um imperativo biológico desencadeador de comportamentos estereotipados. Mas ambos, pulsão e instinto, designariam forças impelentes, requerentes de ações.

É mais uma vez Hans (1999) quem nos alerta para que,

"se há alguma diferença entre os dois termos [Trieb e Instinkt], é mais de natureza conotativa e de amplitude de significação, não se tratando de diferenças entre aquilo que é biológico-animal e o que é humano. Em geral, o Trieb abarca todo o arco que se inicia na origem como Força Impelente Geral dos Seres Vivos e desemboca como Impulso ou Tendência do Indivíduo, enquanto Instinkt se refere primordialmente à manifestação dessa Força na espécie como Tendência de Comportamento Dirigido a Atividades e Objetos determinados." (HANS, 1999, p.34)

Se a característica fundamental da pulsão, sua pressão (Drang), a aproxima do instinto, sendo ambos uma exigência de trabalho, força impelente que requer e incita à ação (FREUD, 1915/1987), Laplanche (1985) vem salientar que tal analogia não se sustenta quanto aos demais parâmetros caracterizadores estabelecidos por Freud (ibidem) em seu texto sobre as pulsões e seus destinos.

Quanto ao alvo (Ziel), Freud (1915/1987) afirma que é sempre a satisfação, que se obtém eliminando o estado de estimulação na fonte, através de um objeto. Ainda que se possa estabelecer uma provável analogia entre pulsão e instinto, com a afirmativa de que em ambas se visaria ocasionar uma ação apaziguadora do estado de excitabilidade, diferentemente da condição instintiva, a pulsão não encontra uma ação específica que venha a servir como direção de resolução à pressão. Enquanto o instinto exerce certa pressão que incita ao desencadeamento de uma ação específica, a pulsão, ainda que incite à ação, não especifica suas condições, que restam variáveis e, para não afirmar que a ação a que a pulsão impele é renegada à pura aleatoriedade, a mesma deve inevitavelmente remeter à fonte (Queele) e ao objeto (Objekt) da satisfação já efetivada, que viriam a restituir certo rumo de destinação.

Pensar o objeto (Objekt) da satisfação é a via pela qual com mais evidência se apresenta a diferença entre pulsão e instinto. Enquanto o instinto garante que uma necessidade seja satisfeita mediante um objeto que lhe corresponda, na condição pulsional há uma sutura entre a ânsia por resolução (a pressão da pulsão) e o objeto que viria proporcionar satisfação. Laplanche (1985) afirma o caráter contingente do objeto de satisfação da pulsão, bem como sua especificidade de não necessariamente ser um objeto 'objetivo', tendo por característica fundamental ser fantasmático. Para Garcia-Roza (1995), "o objeto do investimento pulsional, assim como o objeto do desejo, é uma representação e não um objeto externo no sentido de uma coisa-do-mundo" (GARCIA-ROZA, 1995, p.94).

Vejamos que, se o objeto é o que há de mais aleatório nas pulsões, cabe refletir de que modo ele se institui como possibilidade de investimento. Garcia-Roza (1995) nos lembra que, ainda que a pulsão não se ligue originariamente a um objeto, é apenas através dele que ela pode vir a atingir a satisfação, não sendo algo de que prescinda. A pergunta que vale a pena colocar, e que nos remete outra vez à complexidade da relação (analogia-diferença-derivação) entre pulsão e instinto, é a seguinte: se não há objeto para a pulsão, de que modo a pulsão passa a investir em um objeto? Veremos que não é tão simples afirmar que, pela via do objeto, se fazem díspares a pulsão e o instinto, pois, pelo objeto, pulsão e instinto voltarão a se roçar (mas não a coincidir).

Segundo a definição freudiana, "por fonte (Quelle) da pulsão entendemos o processo somático que ocorre em um órgão ou em uma parte do corpo e do qual se origina um estímulo representado na vida psíquica pela pulsão" (FREUD, 1911-1915/2004, p.49). Na fonte da pulsão estaria, segundo Laplanche (1985), um processo somático desconhecido, um 'X' biológico, cuja tradução psíquica seria a pulsão. Pensar a fonte da pulsão, segundo este autor, viabiliza problematizar as relações entre a sexualidade e os processos vitais, ou, dito em outros termos, indicar um ponto de articulação entre a sexualidade enquanto psicossexualidade, e os processos somáticos.

Se no primeiro dos três ensaios freudianos sobre a sexualidade é apresentada a idéia de que a sexualidade humana seria, em si, perversa, podendo, segundo Laplanche (1985), ser contemplado com o subtítulo 'o instinto perdido', o segundo destes ensaios, sobre a sexualidade infantil, poderia, por sua vez, acolher o subtítulo 'a gênese da sexualidade humana'. Ao tratar, portanto, da gênese da sexualidade humana, Freud, a partir do modelo da sucção, apresenta três características fundamentais da sexualidade infantil, ou da sexualidade em seu estado originário: a sexualidade nasceria apoiada em uma função corporal essencial à vida, seria auto-erótica, e se desdobraria desde a fonte até o alvo na circunscrição de uma zona erógena. Laplanche (1985) chama então a nossa atenção para o fato de que a pulsão emerge apoiada nos processos vitais.

Detenhamo-nos no modelo freudiano da sexualidade primeira, o sugar. Ocorre que o bebê sente fome (necessidade vital) e, sendo desamparado que é quanto à garantia instintiva não operante, já que nasce prematuro, desadaptado, apenas reage à pressão da necessidade através da tentativa de descarga motora, pontapés, gritos, ações estas que pouco resultado lhe proporcionam. Ocorre também que uma mãe oferece-lhe o peito, de onde o bebê pode sorver o leite, que sacia sua fome.

Esse percurso entre a necessidade vital e a sua saciedade, ainda que não sexual, sequer o é instintivo, pois o bebê não dispõe da garantia de uma direção de sua ação rumo à satisfação da necessidade. Não foi sua ação que acarretou satisfação, e sim a incidência de um outro, que poderia ou não vir a lhe oferecer os meios com os quais saciar a fome. Recusamos a denominação de 'instintivo' para o evento ocorrido, apesar de ser evidente que o mesmo é da ordem dos processos vitais.

Laplanche (1985) salienta a importância do termo Anlehnung - apoio - em Freud. Afirma que, por questões de tradução, a pertinência da atribuição do estatuto de conceito à noção de apoio não mais pôde se evidenciar. Garcia-Roza (1990; 1995) acredita ter Laplanche superenfatizado a importância do termo, ao incluí-lo em seu vocabulário e ao destinar ao mesmo tamanha atenção. Segundo Garcia-Roza (1995),

"A sexualidade não tem sua origem no biológico, assim como uma ordem secundária pode ter sua origem em uma ordem primária que a fundamenta e forma seu princípio de inteligibilidade. Se o pulsional é um 'desvio', certamente não é do biológico. O pulsional é desviante em si mesmo, desvio original e não desvio de outra ordem da qual é tributário." (GARCIA-ROZA, 1995, p.54)

No entanto, a idéia de apoio nos parece frutífera por denotar uma articulação e, ao mesmo tempo, uma disjunção. Implica o reconhecimento de dois planos (o da autoconservação e o da sexualidade) distintos, diferenciados, descolados, articulados apenas no tocante a uma possível referência de um a outro, sem que os termos da disjunção sejam coincidentes.

Se o corpo erógeno rompe com a ordem natural, não sendo a ela tributário, ainda assim a consideração dos processos de autoconservação é matéria própria à psicanálise. Claro está que a ordem vital não mais está amarrada pela determinação instintiva, natural, mas certamente o organismo humano (pois não deixamos de ser organismos por sermos psíquicos) resta enquanto também condição do humano. A questão é que a ordem vital no humano, não contando com a garantia instintiva, deve ser reconsiderada, não podendo mais se reduzir ao que dela podem afirmar a biologia, a fisiologia, a neurologia, ou outras áreas do conhecimento que tomem a condição somática do organismo humano como sua matéria. Acreditamos que a psicanálise permite supor que a dimensão vital, ou a condição em que um indivíduo é um organismo em sua materialidade somática, e a dimensão psíquica, ou das condições em que um indivíduo é marcado, em sua corporeidade pulsional, pela psicossexualidade, mantém uma relação de articulação-disjunção. Não é que uma suposta ordem vital, natural-instintiva, seria modelo para a psicossexualidade pulsional: segundo estamos entendendo, a ordem vital é, no caso, tão sem moldes como a psicossexualidade. Gostaríamos de salientar que não podemos prescindir de sermos organismos, e de colhermos efeitos de sermos soma, por sermos também, poderíamos dizer, corpos psicossexuais, erogeneizados.

Anzieu (1997) considera que, enquanto na época freudiana o denegado, o desconhecido fundamental, o estranho, era a sexualidade, atualmente o é o corpo, como dimensão vital da realidade humana, como dado pré-sexual irredutível, como aquilo sobre o que se apóiam todas as funções psíquicas. O referido autor salienta que o corpo estaria sendo denegado nas perspectivas correntes na psicanálise que elegeram a representação ou as relações objetais não necessariamente sexuais como seu objeto de conhecimento.

Esta digressão pode soar excessiva, mas nos parece de extrema importância e vigência. Alguns autores questionam a designação atribuída por Freud de pulsão (Trieb) às necessidades de autoconservação nos seres humanos. Laplanche (1985) e Garcia-Roza (1995) ambos se perguntam pela pertinência do termo 'pulsão' para a designação de necessidades ligadas a funções vitais. Garcia-Roza (1985) chega a propor que, ou as pulsões de autoconservação não são pulsões, ou tais pulsões não seriam de autoconservação.

Ainda que o indivíduo humano não conte com a garantia instintiva de sobrevivência, o mesmo não deixa de ser tomado por ânsias e desconfortos que são relativos à ordem vital. Mas em que consiste a ordem vital humana? O registro da autoconservação, no humano, não é auto-engendrável, ou seja, não comporta nele mesmo os caminhos de resolução da necessidade. A autoconservação não é regida instintivamente. Até mesmo quanto à autoconservação somos desamparados, desadaptados, precisando necessariamente da incidência de um outro para propiciar a funcionalidade dos processos vitais. Daí a pertinência, segundo nos parece, da noção de pulsão de autoconservação, já que, mesmo quanto a processos vitais, o ser humano não dispõe de comportamentos estereotipados ou rigidez no modo de vir a buscar satisfação à necessidade de ordem vital.

Retomemos a idéia de Hans, nas notas à sua tradução do texto freudiano das 'Pulsões e destinos da pulsão' (FREUD, 1911-1915/2004), de que o termo Trieb, no uso corriqueiro na língua alemã, alcança ampla gama de significações, desde questões volitivas relacionadas à esfera psíquica, até mesmo caracterizações das forças regentes da Natureza, podendo mesmo aludir à própria condição do animal. Segundo Hans (in FREUD, 1911-1915/2004), se haveria de

"Evitar o equívoco de cindir o termo Trieb e tratá-lo como referente ao biológico ou só ao que é humano e considerar que Freud tivesse superado uma fase biológica ingênua na qual os liames do Trieb com o biológico, o fisiológico, o químico e o animal tenham sido deixado para trás. (...) O termo Trieb, tanto no idioma alemão quanto no uso em Freud, possui simultaneamente uma carga de arcaísmo e de determinação da natureza, como também aspectos impulsivos da vontade irrefreável e de inclinação psíquica." (Freud, 1911-1915/2004, p.141)

A Trieb, ou pulsão, seria um termo adequado para aludir inclusive às necessidades de ordem vital nos seres humanos. Já o termo instinto, do alemão Instinkt, não seria um termo adequado para aludir mesmo a processos vitais no humano, já que atribui ênfase à imposição de uma determinação natural rígida sobre o comportamento.

Mas retornemos agora ao modelo da primeira experiência sexual sugerida por Freud, o sugar. Vimos que no ato de sugar o seio materno o bebê sacia sua fome, necessidade vital. Ocorre que mamar desperta no bebê excitações corporais outras, que acompanham o ato de saciar a necessidade somática. Os lábios do bebê tocam os mamilos, havendo uma estimulação decorrente deste contato pele-a-pele, e o bebê é tomado por sensações prazerosas ao sorver o leite morno boca adentro. Laplanche (1985), ainda em sua obra Vida e morte em psicanálise, afirma que:

"O ponto crucial da questão é que, ao mesmo tempo que esse funcionamento alimentar se satisfaz com o alimento, começa a aparecer um processo sexual. Paralelamente à alimentação, há excitação dos lábios e da língua pelo mamilo e pelo fluxo do leite morno. Essa excitação é calcada na função, a tal ponto que, entre os dois, mal se percebe, de início, uma diferença. O objeto? Parece ser fornecido a nível da função. Pode-se ainda dizer que é o leite? Pode-se dizer que já é o seio? E a fonte? Ela também é determinada pela alimentação, já que os lábios fazem igualmente parte do sistema digestivo. O alvo, também ele, está muito próximo do alvo alimentar. Em suma, objeto, alvo e fonte estão estreitamente contidos numa proposição bem simples que permite descrever o que se passa: 'isso entra pela boca'. 'Isso' é o objeto; 'entra' é o alvo e quer se trate de alvo sexual ou de alvo alimentar, o processo é de qualquer maneira um 'entrar'; 'pela boca': quanto ao nível da fonte, encontra-se a mesma duplicidade, na medida que a boca é ao mesmo tempo órgão sexual e órgão da função alimentar." (LAPLANCHE, 1985, p.25, grifos nossos)

Laplanche (1985) ainda nos auxilia a notar que não é o mamar a atividade sexual paradigmática para Freud. A sexualidade infantil, ou seja, em seu estado primeiro, é auto-erótica. É o sugar (a própria língua, o dedo) que é protótipo de sexualidade, denotando que a função vital e a sexualidade, ainda que possam se sobrepor, não podem coincidir. Mesmo que o objeto da primeira satisfação venha a ser buscado, o que é interessante é perceber que o objeto visado pela pulsão sexual é um objeto deslocado, podendo a pulsão que tem a boca como fonte reinvestir o seio (enquanto parte do corpo concreto da mãe), e ainda assim não reencontrar o objeto visado. Laplanche (1985) salienta que, por haver este deslocamento da sexualidade em relação à função vital na qual de início estava apoiada, o objeto que se perde, o que fora já oferecido como objeto de saciedade da função vital, não será o mesmo que se deseja reencontrar. Nas palavras do autor:

"Por um lado há, desde o início, um objeto, mas que, por outro lado, a sexualidade não tem, desde o início, um objeto real. Que fique bem claro que o objeto real, o leite, era o objeto da função, sendo essa como que preordenada em relação ao mundo da satisfação. Foi esse objeto real que foi perdido, mas o objeto que está ligado ao retorno auto-erótico, o seio - transformado em seio fantasmático - é, ele próprio, o objeto da pulsão sexual. Assim o objeto da pulsão sexual não é idêntico ao objeto da função, está deslocado em relação a ele, numa relação de contigüidade absolutamente essencial, que nos faz deslizar insensivelmente de um para outro, do leite ao seio como seu símbolo." (LAPLANCHE, 1985, p.27)

Mas é também no apoio na experiência de satisfação da função vital que se encontrarão indícios quanto ao objeto a ser buscado, quando do relançamento da ânsia sexual. Permanece como que um rastro deste objeto perdido, o objeto da autoconservação. O rastro que o objeto da primeira satisfação deixa são traços a partir dos quais ele pode vir a ser rebuscado, por contigüidade, nos objetos que podem vir a se prestar à satisfação da pulsão sexual.

O termo 'apoio', segundo Laplanche (1985), permaneceu na pena freudiana além dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, mas sua incidência terá sido esmorecida devido à impertinência dos termos utilizados por tradutores. O termo Anlehnung, utilizado para a caracterização da sexualidade infantil, fazendo referência à condição em que brota a sexualidade (apoiada na função vital ou de autoconservação), é o mesmo usado por Freud mais tarde, quando de seu estudo sobre o narcisismo, em que trata da questão da escolha de objeto. No caso do que se convencionou chamar escolha de objeto anaclítica - Anlehnungstypus -, Laplanche (1985) salienta que aquilo em que se apóia a escolha de objeto, é o objeto da pulsão de autoconservação, ou o objeto que se prestou a fornecer os primeiros caminhos de experiências de satisfação, vitais, mas também sexuais - a mãe.

O que vale ressaltar é o sentido do termo 'apoio' quanto à questão da escolha de objeto. Se antes deixamos em suspenso a questão quanto às vias pelas quais a pulsão, marcada pela indeterminação, poderia vir a investir em objetos, aqui está uma perspectiva possível. No entanto, este apoio não deve ser entendido como uma amarra, mas justamente no sentido de um rastro que se pode percorrer... sem jamais reencontrar o objeto que poderíamos supor ter sido adequado, porque o foi apenas quanto à necessidade, mas podendo encontrar outros objetos, a este primeiro (o da necessidade) associados e, portanto, propiciadores de certa satisfação, parcial, por permitirem a reedição de uma experiência de prazer.

O GANHO DECORRENTE DA NÃO-GARANTIA INSTINTIVA

Ora, não tendo objeto que lhe seja adequado, no sentido que podemos supor que um objeto da necessidade viria não apenas apaziguar, mas abolir o anseio, liquidando-o, a condição pulsional humana implica num permanente estado de ânsia, já que a satisfação nunca chega a um suposto termo cabal. A pulsão é indestrutível no sentido de não chegar a um termo que implicasse em seu total esgotamento, em seu, portanto, esvanecimento pela descarga total. Mesmo a pulsão de morte, cujo princípio de funcionamento difere do princípio de desprazer-prazer, impelindo justamente a uma descarga total, levando a cabo uma tentativa de vazão que não se conformaria nos limites traçados pelos caminhos parciais de satisfação, mesmo esta pulsão de morte só se deixa apreender pela dinâmica de uma compulsão à repetição, já articulada ao princípio de desprazer-prazer (FREUD, 1920/1987). A pulsão, ainda que encontre possibilidades parciais de investimento e descarga, resta em parte, ou seja, se mantém vigente, não tendo por onde se esvair. Mesmo a pulsão de morte não realiza sua pretensão: é relançada no esforço de efetuar a tal vazão total, mas não encontra senão uma possibilidade parcial de o fazer, o que desencadeia sua renovada insistência na repetição.

É nesse sentido que podemos entender a afirmação freudiana (FREUD, 1911-1915/2004) de que a característica fundamental da pulsão é sua pressão (Drang), ou, ainda, que sua essência é sua proveniência de fontes de estímulo no interior do soma e sua manifestação como força constante. Trata-se, portanto, de uma pressão distinta daquela exercida por estímulos externos, que provocam uma excitação momentânea, circunstancial, que pode ser resolvida, abolida pela descarga. Freud (1911-1915/2004) diferencia estímulos que seriam externos daqueles que partiriam do próprio organismo, tendo o organismo humano que se haver com ambas estas modalidades de estimulação, ou de excitação.

É Freud (1911-1915/2004) quem afirma que

"Já temos alguns elementos para distinguir um estímulo pulsional de outro estímulo (fisiológico) que atua sobre o psíquico. Em primeiro lugar, o estímulo pulsional não provém do mundo externo, mas do próprio interior do organismo. Por essa razão, ele também age diferentemente no psíquico e requer outras ações para eliminá-lo. O essencial do estímulo é que ele age como num único impacto e também pode ser neutralizado por uma única ação apropriada; o protótipo de uma ação desse tipo é a fuga motora diante de uma fonte de estímulos. É claro que esses impactos podem se repetir e se somar, mas isso em nada muda a compreensão que temos do processo e as condições necessárias para a suspensão do estímulo. A pulsão, ao contrário, nunca age como uma força momentânea de impacto, mas sempre como uma força constante. Como não provém do exterior, mas agride a partir do interior do corpo, a fuga não é de serventia alguma." (FREUD, 1911-1915/2004, p.146)

O homem está, portanto, fadado à sua condição pulsional, insuperável e irresolúvel. Por ser desprovido da garantia natural de satisfação da necessidade, de se poder levar a termo o impulso instintual numa experiência de satisfação que viesse a aboli-lo, o homem, enquanto ser pulsional, mantém-se em permanente estado de excitação, ou em um constante estado de estimulação. A pulsão dispõe ao homem um resto permanente, ou uma reserva de estímulo, excitação. Essa condição em que resta o organismo humano é a de uma tensão permanente, uma tensão somática. É neste sentido que devemos compreender a distinção que Freud faz quanto a pulsão não ser um estímulo psíquico, mas um estímulo para o psíquico. Um estímulo somático para o psíquico.

A condição desamparada, podemos compreendê-la como um despreparo do próprio soma ao ser largado a si mesmo, sem a garantia instintiva. Este desamparo é que lançaria o homem à exigência correlata de criar soluções para lidar com sua condição viva, soluções essas não garantidas por uma lógica natural instintiva, e que tampouco oferecem uma resposta derradeira. O psiquismo vem responder a este desamparo, visando e instituindo caminhos que intentam apresentar soluções para a condição de ser sexual pulsional.

Celes (2004) indica que a questão da angústia leva a uma compreensão do nascimento do psiquismo, permitindo supor um momento mais radicalmente originário que o da cena da primeira satisfação associada ao prazer. Desamparado de quaisquer garantias instintivas, há a possibilidade de se supor uma condição anterior à instauração de caminhos de satisfação via prazer-desprazer, sendo que o bebê originariamente vivencia uma 'ausência de coordenadas'. Segundo Celes (2004), desde o nascimento, o bebê é tomado pela irrupção de excitações, não restritas às necessidades de autoconservação, para as quais não há via de solução. O desamparo ou desvalimento do bebê para lidar com estas excitações implica na emergência da angústia, como a impressão do desvalimento psíquico no soma, ou, dito em outros termos, como o sinal somático da exigência da constituição psíquica para a promoção de um meio de solucionar a tensão. Nas palavras de Celes (2004),

"A angústia seria então um sinal psíquico de sua própria falta: falta psíquica (desvalimento psíquico) expressa no corpo, eis a angústia, como, mutatis mutandis, a pulsão é entendida por Freud como a representação psíquica da estimulação somática. Pulsão, angústia e psíquico nascem no mesmo ato, no mesmo gesto, o da primeira satisfação. Rigorosamente, então, o nascimento psíquico pode ser entendido como presença: presença pulsional (que exige trabalho), a qual presença a angústia denuncia." (CELES, 2004, p.46)

Para Celes (2004), o nascimento do psiquismo é requerido pela exigência somática de constituir caminho à pulsão, evitando a permanência e desenvolvimento da angústia. A angústia seria, ao mesmo tempo, o anúncio do desvalimento psíquico e a exigência de constituição psíquica.

As possibilidades de resolução dessa tensão somática, portanto, não se restringem aos trâmites somáticos. Freud mesmo afirma que a força da pulsão é a medida da exigência de trabalho que o corpo impõe ao psiquismo. O modelo de aparelho psíquico rudimentar apresentado por Freud (1900) mostra claramente a necessidade da instituição de um novo campo de tramitação para as pulsões, que não podem ficar presas ou amarradas à sua origem somática.

No capítulo VII de A interpretação dos sonhos, Freud (1900) hipotetiza uma suposta condição do aparelho psíquico anterior à sua condição de possível produtor de sonhos, ou seja, uma condição mais arcaica do funcionamento do psiquismo, ou uma condição em que o aparelho psíquico fosse qualificado como rudimentar em relação ao que ele pode aquiescer.

O modelo deste aparelho psíquico arcaico ou rudimentar é o do aparelho reflexo, em que uma excitação sensorial, ao incidir sobre ele, encontraria de prontidão uma descarga pela via motora. Esta suposição funcional baseia-se na concepção freudiana do princípio da constância, que percorre seu pensamento desde as origens da psicanálise (Projeto para uma psicologia científica) até desenvolvimentos teóricos ulteriores (Além do princípio de prazer). Segundo este princípio, o aparelho psíquico tenderia a manter-se tão livre quanto possível de estímulos.

No entanto, este modelo simplista do funcionamento do aparelho encontra como fator complicador 'as exigências da vida', sendo inviabilizado nessa forma imediata e direta de satisfação, e, por isso mesmo, sendo impelido a desbravar novos caminhos de solução para as excitações. As próprias necessidades somáticas vitais viriam desestabilizar este modelo simplista de funcionamento do aparelho. Uma necessidade interna (como a fome, por exemplo), busca descarga no movimento (o bebê dá pontapés e grita), mas esta situação por si só não encontra resolução da excitação somática. O corpo do bebê resta desamparado, não alcançando resolução para a excitação despertada em seu caminho de descarga motora. É requerido auxílio externo (do adulto prestador de cuidados ao bebê desamparado) para que seja alcançada uma vivência de satisfação. Decorrida a vivência de satisfação, uma imagem mnêmica (uma representação) de algum aspecto na vivência da satisfação fica associado ao traço mnêmico da excitação produzida pela necessidade. Forma-se, assim, um vínculo entre a representação da excitação e a imagem mnêmica da percepção da satisfação. O aparelho psíquico se prestaria, portanto, a reeditar esses caminhos de satisfação que puderam ser alcançados.

Mas o corpo, em sua exigência somática, não apenas impeliria o desenvolvimento do psiquismo. Retomando a idéia de um aparelho reflexo 24 anos mais tarde, em O problema econômico do masoquismo, Freud (1924/1987) indicaria a força impelidora de descarga motora direta como a pulsão de morte, que, ao dirigir a descarga da excitação para o exterior, passaria a ser compreendida como agressividade ou pulsão de destruição. 'Inexplicavelmente', segundo a própria concepção freudiana, a pulsão de morte deixa-se domar por Eros, sendo aberto o caminho de desenvolvimento do psiquismo, que seria uma espécie de digressão naquele percurso suposto direto (percepção-motricidade). O masoquismo, fundamental a toda constituição humana, indicaria o modo como a pulsão de morte, ao invés de buscar descarga direta pela via motora, e não se deixando domar por Eros, se voltaria para o próprio eu, quando de sua constituição. Dessa asserção freudiana entendemos que a pulsão de morte, tal como deixa ver o masoquismo originário, se prestaria a tentar destruir a própria condição psíquica, numa espécie de 'rebeldia' quanto às demarcações que o psiquismo imporia às possibilidades de satisfação ou de solução para as excitações somáticas, em requerendo necessariamente certo adiamento na digressão por ele operada. Ou seja, a condição sexual pulsional, ancorada no soma, estaria em relação com o psiquismo em uma dupla tonalidade: propiciadora/impelidora, e abolidora/limitadora.

O psiquismo, portanto, é instituído como tentativa de solução para a condição desamparada do corpo humano pulsional, que não é contemplado com a garantia instintiva, mas o psiquismo não é uma nova ordem de garantia. O psiquismo oferece um meio de solucionar a tensão somática implicada na pulsionalidade do corpo, meio este, porém, que implica, em seu exercício, adiamentos de satisfação, soluções apenas parciais, ou seja, "se pode pensar o psíquico sempre relativamente desvalido, no sentido de jamais conseguir efetivamente dar trânsito para toda a pulsão; e pensar a constituição psíquica, portanto, em devir" (CELES, 2004, p.49). Portanto, ainda que não garantia de trânsito para toda a pulsão, ou ainda que não seja solução cabal para a excitação que brota do soma em desamparo, o psiquismo se abre enquanto a sempre relançada possibilidade de alcançar certos caminhos para a pulsão, oferecendo soluções relativamente eficientes, instituindo a possibilidade humana de derivação, diferenciação. Sendo sua condição não dada, ou não garantida, o humano se faz no devir psicossexual, na possibilidade plural de historiação de singularidades.

REFERÊNCIAS

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    A autora agradece o apoio do CNPq à pesquisa, na forma de bolsa de doutorado.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      08 Jul 2008
    • Data do Fascículo
      Jun 2008

    Histórico

    • Aceito
      10 Jul 2007
    • Recebido
      24 Abr 2007
    Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Instituto de Psicologia UFRJ, Campus Praia Vermelha, Av. Pasteur, 250 - Pavilhão Nilton Campos - Urca, 22290-240 Rio de Janeiro RJ - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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