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Aminoácidos digestíveis verdadeiros da soja e subprodutos, determinados com galos cecectomizados

True digestible amino acids of soybean and soybean by-products, determined with cecectomized cockerels

Resumos

Os coeficientes de digestibilidade e o conteúdo de aminoácidos digestíveis verdadeiros da soja e subprodutos foram determinados, utilizando-se galos cecectomizados, onde cada um dos 8 alimentos testados (amostras de soja e subprodutos) foram fornecidos a seis galos (15 g pela manhã e 15 g à tarde, após jejum de 24 horas) e seis galos foram mantidos em jejum, para determinação das perdas endógenas e metabólicas. Após obtidos os coeficientes de digestibilidade e calculados os aminoácidos digestíveis, ajustou-se equações para predizer a composição da soja e seus subprodutos em lisina (LIS), metionina (MET), metionina + cistina (M+C), treonina (TRE) e arginina (ARG), totais e digestíveis, em função da composição em proteína bruta (PB), fibra bruta (FB), extrato etéreo (EE) e matéria mineral (MM). Os coeficientes médios de digestibilidade dos aminoácidos (essenciais e não essenciais, respectivamente) dos farelos de soja 1, 2, 3, 4 e texturizado, sojas integral Jet Sploder, integral tostada e micronizada foram 92,78 e 90,76; 92,66 e 89,70; 93,75 e 91,26; 93,32 e 90,12; 91,55 e 89,08; 94,80 e 92,34; 94,61 e 91,47; 93,20 e 90,47 %. As equações foram bem ajustadas, cujos valores de R² foram superiores a 91% e a PB apresentou alta correlação positiva, onde as equações LIS = -0,32161 + 0,06731PB (R² = 0,99); MET = 0,02263 + 0,01323PB (R² = 0,96); M+C = 0,078949 + 0,02563PB (R² = 0,94); TRE = 0,20930 + 0,03533PB (R² = 0,95); ARG = -0,39589 + 0,08022PB (R² = 0,98) e LIS = -0,29472 + 0,06319PB (R² = 0,98); MET = 0,02884 + 0,01228PB (R² = 0,93); M+C = 0,08974 + 0,0222PB (R² = 0,91); TRE = 0,15813 + 0,03235PB (R² = 0,95) e ARG = -0,32129 + 0,07681PB (R² = 0,96), podem predizer o conteúdo em aminoácidos totais e digestíveis da soja e subprodutos, respectivamente.

aminoácidos digestíveis; galos cecectomizados; soja; equações de predição


The digestibility coefficients and the true digestible amino acids content of soybean and soybean by-products were determined using cecectomized adult cockerels. Each one of the 8 feedstuffs evaluated was fed to six cockerels, consuming 15 g at 8:00 A.M. and 15 g at 16:00h P.M., after 24 hours fasting. Simultaneously, six cockerels were fasted to determine metabolic and endogenous losses. After determination of the digestibility coefficients and calculation of the digestible amino acids, prediction equations were simulated to predict the soybean and soybean byproducts total and digestible composition in lysine (LYS), methionine (MET), methionine plus cystine (Met + Cys), threonine (THR) and arginine (ARG), as a function of the chemical composition (crude protein - CP, crude fiber - CF, ether extract - EE and ash). The average amino acids digestibility coefficient (essential and non essential) of soybean meal samples (1, 2, 3, 4 and texturized), full fat soybean Jet Sploder, toasted and micronized were 92,78 and 90,76; 92,66 and 89,70; 93,75 and 91,26; 93,32 and 90,12; 91,55 and 89,08; 94,80 and 92,34; 94,61 and 91,47; 93,20 and 90,47%, respetively. The prediction equations were adjusted with higher R² values higher than 91%, and crude protein showed high positive correlation. The equations LYS = -0.32161 + 0.06731PB (R² = 0.99); MET = 0.02263 + 0.01323PB (R² = 0.96); Met+Cys = 0.078949 + 0.02563PB (R² = 0.94); THR = 0.20930 + 0.03533PB (R² = 0.95); ARG = -0.39589 + 0.08022PB (R² = 0.98) e LYS = -0.29472 + 0.06319PB (R² = 0.98); MET = 0.02884 + 0.01228PB (R² = 0.93); Met+Cys = 0.08974 + 0.02220PB (R² = 0.91); THR = 0.15813 + 0.03235PB (R² = 0.95) e ARG = -0.32129 + 0.07681PB (R² = 0.96), can be used to predict the total and digestible amino acids content of soybean and byproducts, respectively.

digestible amino acids; cecectomized cockerels; soybean; prediction equations


MONOGÁSTRICOS

Aminoácidos digestíveis verdadeiros da soja e subprodutos, determinados com galos cecectomizados1 1 Parte da tese de doutorado do primeiro autor.

True digestible amino acids of soybean and soybean by-products, determined with cecectomized cockerels

Paulo Borges RodriguesI; Horacio Santiago RostagnoII; Luiz Fernando Teixeira AlbinoII; Paulo Cezar GomesII; Rodrigo Toledo SantanaIII; Ricardo Vianna NunesIII

IProfessor do Departamento de Zootecnia da UFLA. E.mail: pborges@ufla.br

IIProfessores do Departamento de Zootecnia da UFV. E.mail: rostagno@ufv.br

IIIAlunos de doutorado do Departamento de Zootecnia da UFV

RESUMO

Os coeficientes de digestibilidade e o conteúdo de aminoácidos digestíveis verdadeiros da soja e subprodutos foram determinados, utilizando-se galos cecectomizados, onde cada um dos 8 alimentos testados (amostras de soja e subprodutos) foram fornecidos a seis galos (15 g pela manhã e 15 g à tarde, após jejum de 24 horas) e seis galos foram mantidos em jejum, para determinação das perdas endógenas e metabólicas. Após obtidos os coeficientes de digestibilidade e calculados os aminoácidos digestíveis, ajustou-se equações para predizer a composição da soja e seus subprodutos em lisina (LIS), metionina (MET), metionina + cistina (M+C), treonina (TRE) e arginina (ARG), totais e digestíveis, em função da composição em proteína bruta (PB), fibra bruta (FB), extrato etéreo (EE) e matéria mineral (MM). Os coeficientes médios de digestibilidade dos aminoácidos (essenciais e não essenciais, respectivamente) dos farelos de soja 1, 2, 3, 4 e texturizado, sojas integral Jet Sploder, integral tostada e micronizada foram 92,78 e 90,76; 92,66 e 89,70; 93,75 e 91,26; 93,32 e 90,12; 91,55 e 89,08; 94,80 e 92,34; 94,61 e 91,47; 93,20 e 90,47 %. As equações foram bem ajustadas, cujos valores de R2 foram superiores a 91% e a PB apresentou alta correlação positiva, onde as equações LIS = -0,32161 + 0,06731PB (R2 = 0,99); MET = 0,02263 + 0,01323PB (R2 = 0,96); M+C = 0,078949 + 0,02563PB (R2 = 0,94); TRE = 0,20930 + 0,03533PB (R2 = 0,95); ARG = -0,39589 + 0,08022PB (R2 = 0,98) e LIS = -0,29472 + 0,06319PB (R2 = 0,98); MET = 0,02884 + 0,01228PB (R2 = 0,93); M+C = 0,08974 + 0,0222PB (R2 = 0,91); TRE = 0,15813 + 0,03235PB (R2 = 0,95) e ARG = -0,32129 + 0,07681PB (R2 = 0,96), podem predizer o conteúdo em aminoácidos totais e digestíveis da soja e subprodutos, respectivamente.

Palavras-chave: aminoácidos digestíveis, galos cecectomizados, soja, equações de predição

ABSTRACTS

The digestibility coefficients and the true digestible amino acids content of soybean and soybean by-products were determined using cecectomized adult cockerels. Each one of the 8 feedstuffs evaluated was fed to six cockerels, consuming 15 g at 8:00 A.M. and 15 g at 16:00h P.M., after 24 hours fasting. Simultaneously, six cockerels were fasted to determine metabolic and endogenous losses. After determination of the digestibility coefficients and calculation of the digestible amino acids, prediction equations were simulated to predict the soybean and soybean byproducts total and digestible composition in lysine (LYS), methionine (MET), methionine plus cystine (Met + Cys), threonine (THR) and arginine (ARG), as a function of the chemical composition (crude protein - CP, crude fiber - CF, ether extract - EE and ash). The average amino acids digestibility coefficient (essential and non essential) of soybean meal samples (1, 2, 3, 4 and texturized), full fat soybean Jet Sploder, toasted and micronized were 92,78 and 90,76; 92,66 and 89,70; 93,75 and 91,26; 93,32 and 90,12; 91,55 and 89,08; 94,80 and 92,34; 94,61 and 91,47; 93,20 and 90,47%, respetively. The prediction equations were adjusted with higher R2 values higher than 91%, and crude protein showed high positive correlation. The equations LYS = -0.32161 + 0.06731PB (R2 = 0.99); MET = 0.02263 + 0.01323PB (R2 = 0.96); Met+Cys = 0.078949 + 0.02563PB (R2 = 0.94); THR = 0.20930 + 0.03533PB (R2 = 0.95); ARG = -0.39589 + 0.08022PB (R2 = 0.98) e LYS = -0.29472 + 0.06319PB (R2 = 0.98); MET = 0.02884 + 0.01228PB (R2 = 0.93); Met+Cys = 0.08974 + 0.02220PB (R2 = 0.91); THR = 0.15813 + 0.03235PB (R2 = 0.95) e ARG = -0.32129 + 0.07681PB (R2 = 0.96), can be used to predict the total and digestible amino acids content of soybean and byproducts, respectively.

Key words: digestible amino acids, cecectomized cockerels, soybean, prediction equations

Introdução

A formulação e o balanceamento de ração consistem na mistura de vários alimentos com o objetivo de atender, adequadamente, às exigências nutricionais dos animais, em cada fase de criação, para que os mesmos possam expressar todo seu potencial genético. Para que haja maior precisão neste processo, há a necessidade do conhecimento da composição nutricional dos alimentos, bem como suas limitações de uso (Albino & Silva, 1996). A soja, seja na forma de grãos ou farelo, é destacada na literatura como importante matéria prima na formulação de rações, devido seu elevado valor nutritivo. De acordo com Dale (1997), vários estudos vem sendo realizados visando obter um máximo aproveitamento de suas propriedades nutricionais já que, na maioria das vezes, o farelo de soja é responsável por aproximadamente 70 % da suplementação proteica nas rações.

A maior parte dos aminoácidos ingeridos pelas aves está na forma de proteína que, ao serem digeridas, liberam estes para que sejam absorvidos (Albino et al., 1992). No entanto, os aminoácidos não são totalmente disponíveis para a absorção e, desta forma, o conhecimento dos coeficientes de digestibilidade verdadeira destes, nos diferentes alimentos, pode ser imprescindível para que os nutricionistas maximizem seu aproveitamento, aumentando a produtividade e retorno econômico da produção (Fischer Jr. et al., 1998). Assim, o interesse pela digestibilidade dos aminoácidos nos alimentos é crescente e, segundo Rostagno et al. (1999), já é uma realidade o fato de que os aminoácidos dos alimentos devem ser expressos na forma de aminoácidos digestíveis. Também a possibilidade de se utilizar equações que possam predizer a composição dos alimentos em aminoácidos, a partir de sua composição química tem sido muito destacada atualmente. O NRC (1998) traz uma série de equações estabelecidas para estimar a composição de alguns aminoácidos essenciais totais.

Dessa forma, o presente trabalho foi conduzido com o objetivo de determinar os coeficientes de digestibilidade dos aminoácidos da soja integral e subprodutos e o conteúdo de aminoácidos digestíveis verdadeiros destes alimentos. Posteriormente, utilizando a composicão deste grupo de alimentos, em proteína bruta, fibra bruta, extrato etéreo e matéria mineral, ajustaram-se equações para predizer o conteúdo de alguns aminoácidos essenciais totais e digestíveis.

Material e Métodos

O ensaio de digestibilidade foi conduzido no Laboratório Animal do DZO/UFV, utilizando-se o método de alimentação forçada, também conhecido como alimentação precisa (Sibbald, 1979), com galos Leghorne adultos cecectomizados, com 21 meses de idade e peso médio de 2132 ± 257 g. Os galos foram cecectomizados por meio de laparotomia abdominal e anestesia local, conforme a metodologia descrita por Pupa et al. (1998). As temperaturas mínimas e máximas médias registradas no período experimental foram 22,9 ± 1,1ºC e 28,9 ± 3,1ºC, respectivamente.

Foram determinados os coeficientes de digestibilidade verdadeira de oito alimentos, sendo quatro marcas comerciais de farelo de soja (denominados farelos de soja 1, 2, 3 e 4), farelo de soja texturizado, soja integral "Jet Sploder", soja integral tostada e soja micronizada. Os grãos de soja (integral, Jet Sploder e micronizada) e farelo texturizado foram processados conforme descrição de Rodrigues (2000).

Cada um dos alimentos foi fornecido a seis galos, sendo um galo por unidade experimental e, simultaneamente, seis galos foram mantidos em jejum para determinação das perdas endógenas e metabólicas. Antes do período experimental, os galos foram alojados nas baterias e passaram por um período de adaptação, recebendo alimentação em dois turnos de 1 hora, às 8 e 16 h, visando à dilatação do papo. Em seguida, foram mantidos em jejum por 24 horas com o objetivo de esvaziar o trato digestivo e, então, forçados a ingerir 30 g do alimento teste, por meio de um funil-sonda introduzido via esôfago até o papo, sendo fornecidas 15 g dos alimentos às 8 e 15 g às 16h, para evitar regurgitações. As bandejas sob as gaiolas foram revestidas com plástico, e a coleta de excretas realizada às 8 e 16 horas, por um período de 56 horas, após iniciado o fornecimento dos alimentos. As excretas foram coletadas e acondicionadas em freezer até o final do experimento, quando foram descongeladas, devidamente quantificadas, homogeneizadas e secas em estufa de ventilação forçada a 55 ºC por um período de 72 horas. Posteriormente as amostras dos alimentos foram analisadas em matéria seca e nitrogênio, através das metodologias descritas por Silva (1990) e o conteúdo em aminoácidos determinados no Laboratório da Eurolysine (Amiens - França).

Os coeficientes de digestibilidade de cada aminoácido dos alimentos, calculados pela fórmula apresentada abaixo, foram submetidos à análise estatística e aqueles cuja análise de variância apresentaram efeito significativo (P<0,05) foram comparados pelo teste de agrupamento de Scott-Knott através do pacote SAEG versão 5.0 (Sistema para Análises Estatísticas - UFV, 1992).

Posteriormente, após calculados o conteúdo de aminoácidos digestíveis verdadeiros de cada alimento, foram estimadas equações para predizer a composição em alguns aminoácidos totais e digestíveis (lisina, metionina, metionina + cistina, treonina e arginina) deste grupo de alimentos, por meio de regressões lineares simples e múltiplas, pelo Método de Eliminação Indireta ou Backward, utilizando-se o pacote SAEG, mencionado anteriormente. Utilizaram-se na predição das equações os valores de proteína bruta (PB), fibra bruta (FB), extrato etéreo (EE) e matéria mineral (MM). Para obter equações de maior precisão, foram adotados o teste T e uma significância de 5% de probabilidade para cada variável componente do modelo, sendo consideradas somente as equações em que todas as variáveis independentes apresentassem significância.

Resultados e Discussão

A composição em aminoácidos essenciais e não essenciais dos alimentos estudados encontram-se apresentadas nas Tabelas 1 e 2, respectivamente, e mostra uma variação em relação aos valores apresentados na literatura, com alguns aminoácidos acima, abaixo ou semelhante aos observados no presente trabalho. O teor médio de lisina dos farelos de soja, por exemplo, foi 5,90; 8,12; 5,17 e 7,01 % inferior aos valores apresentados por Rostagno et al. (1983), Fischer Jr. (1997), Bellaver et al. (1998) e Dale (1999), respectivamente, sendo 7,54 e 4,32 % superior aos apresentados por Albino et al. (1992) e Pupa (1995) e semelhante aos valores descritos por Rhône Poulenc (1993) e NRC (1994). Observação semelhante ocorre quando se comparam os resultados com as tabelas da Embrapa (1991), Degussa (1993) e NRC (1998).

A média da lisina das amostras de soja integral (Jet Sploder e tostada) diferiram quando comparada aos valores de Rhône Poulenc (1993), NRC (1994), Fischer Jr. (1997), e foi semelhante àquele descrito no NRC (1998). Dessa forma, nota-se que não só a lisina, mas também os demais aminoácidos essenciais variam em composição, dentro de amostras, como observado para o farelo de soja no presente trabalho e também por Pupa (1995), e em comparação com a literatura. Estas observações reforçam as colocações de Albino et al. (1987) de que a composição dos alimentos é influenciada pela variação nos solos e climas em que são cultivados, variedades e pelo processamento a que são submetidos. O farelo de soja texturizado apresentou uma composição em todos aminoácidos essenciais e não essenciais superior aos demais alimentos do grupo estudados, possivelmente devido ao seu maior conteúdo em PB, quando comparado aos demais alimentos, sendo o inverso observado para a soja integral Jet Sploder, com exceção da cistina, serina e tirosina, os quais foram semelhantes à soja integral tostada. Por outro lado, o conteúdo de aminoácidos da soja micronizada foi bem similar ao da integral tostada e ligeiramente superior à soja integral Jet Sploder.

Nas Tabelas 3 e 4 encontram-se as médias dos coeficientes de digestibilidade dos aminoácidos essenciais e dos não essenciais, respectivamente. Com exceção da metionina + cistina, treonina e valina, que apresentaram alguns coeficientes de digestibilidade abaixo de 90%, os demais aminoácidos essenciais tiveram digestibilidade superior a 91%, onde os valores observados para a arginina foram os mais elevados, em todos os alimentos estudados. Apesar da metionina + cistina ter apresentado digestibilidades inferiores, os valores obtidos para a metionina foram, exceto para a soja integral Jet Sploder (91,87%) superiores a 93%. A cistina foi, dos aminoácidos não essenciais, a que teve coeficientes de digestibilidade mais baixos, variando de 80,72% (soja integral Jet Sploder) a 85,86% (soja integral tostada), seguida da alanina, cujos coeficientes variaram de 83,96 a 89,46%, para a amostra de farelo de soja 4 e soja integral tostada, respectivamente. Os demais aminoácidos não essenciais analisados tiveram digestibilidades verdadeiras superiores a 90%.

Esta baixa digestibilidade da cistina possivelmente explica os coeficientes mais baixos obtidos para metionina + cistina, quando comparados aos da metionina. Comportamento semelhante pode ser observado nos resultados de Pupa (1995) e Fischer Jr. et al. (1998), sugerindo que, independentemente do alimento avaliado, a cistina tem digestibilidade inferior à metionina, resultando em menores coeficientes de digestibilidade da metionina + cistina. Quando se compara os coeficientes de digestibilidade dos farelos de soja, obtidos no presente trabalho, com a literatura, pode-se observar uma variabilidade na maioria dos aminoácidos avaliados (Albino et al., 1992; Degussa, 1993; Rhône Poulenc, 1993; Pupa, 1995; Fischer Jr. et al., 1998). Estas variações observadas entre a literatura e mesmo entre os alimentos do presente trabalho estão, certamente, associadas ao processamento de calor ao qual estes alimentos são submetidos. Uma aplicação excessiva de calor pode reduzir a disponibilidade dos aminóacidos por mudanças fisico-químicas, como derivação da lisina, oxidação do enxofre na cisteína e metionina e ligações cruzadas em amidas e carboxilas (Araba & Dale, 1990). O coeficiente médio de digestibilidade da lisina dos farelos de soja no presente ensaio foi, em média, 7,64; 4,06; 2,53 e 1,47 % superior aos resultados obtidos por Degussa (1993); Rhône Poulenc (1993); Pupa (1995) e Bellaver et al. (1998), respectivamente. Estas variações, no entanto, possivelmente estão associadas a diferenças em análises laboratoriais e procedimentos experimentais, como limpeza do material a ser coletado e número de coletas por dia.

Quando se compara os alimentos estudados, nota-se que os coeficientes de digestibilidade da metionina, metionina + cistina, treonina, leucina e fenilalanina foram similares, quando agrupados pelo teste de Scott-Knott (P>0,05). Entretanto, a digestibilidade da lisina das 4 amostras de farelo de soja e soja integral Jet Sploder foram inferiores ao farelo de soja texturizado, sojas integral tostada e micronizada. A histidina da soja micronizada foi a que apresentou maior digestibilidade (98,11%), sendo a da soja Jet Sploder menos digestível (91,90 %). Os coeficientes de digestibilidade da alanina e dos ácidos aspártico e glutâmico foram diferenciados entre os alimentos estudados e, quando se considera a digestibilidade média da soma dos não essenciais, não houve diferenças entre os alimentos, quando agrupados pelo teste de Scott-Knott (P>0,05).

A partir dos coeficientes de digestibilidade determinados para cada aminoácido no ensaio biológico, calculou-se o conteúdo de aminoácidos digestíveis dos alimentos os quais estão apresentados nas Tabelas 5 (essenciais) e 6 (não essenciais). Estes valores são de grande utilidade uma vez que, conforme Rostagno et al. (1999), já é realidade que nas formulações, os valores de aminoácidos devem ser expressos em termos de aminoácidos digestíveis. Assim, como observado para o conteúdo total de aminoácidos dos alimentos, houve certa variabilidade entre o conteúdo de aminoácidos digestíveis determinados no presente trabalho e aqueles relatados por Degussa (1993); Rhône Poulenc (1993); Pupa (1995) e Fischer Jr. et al. (1998), para o farelo de soja e entre os valores do presente trabalho e aqueles de Fischer Jr. et al. (1998) para a soja integral tostada, tanto essenciais como não essenciais. Esta diferença pode ser associada à variação observada, tanto no conteúdo total quanto nos coeficientes de digestibilidade determinados, o que pode, consequentemente, resultar em variáveis conteúdos de aminoácidos digestíveis.

Tabela 6

Nas Tabelas 7 e 8 estão apresentadas as equações estabelecidas para predizer o conteúdo em lisina, metionina, metionina + cistina, treonina e arginina totais e digestíveis, respectivamente, em função da composição química (PB, FB, EE, MM) da soja integral e subprodutos e suas respectivas correlações com os aminoácidos. Nota-se que, com exceção da arginina, em que o EE teve participação significativa nas equações desenvolvidas, as demais equações somente foram ajustadas com a variável PB, tanto para aminoácidos totais quanto digestíveis. Entretanto, os coeficientes de determinação foram elevados, explicando mais de 91% das variações no conteúdo de todos aminoácidos estudados. Os valores de R2 variaram de 0,91 (metionina + cistina digestível) a 0,99 (arginina total), mostrando que houve, no geral, bons ajustes.

A PB foi a variável que mais esteve correlacionada com os aminoácidos estudados, apresentando alta correlação positiva, cujos valores variaram de 97,16 a 99,35% para os totais e de 95,43 a 98,84% para metionina + cistina e lisina, totais e digestíveis, respectivamente. A MM, apesar de se correlacionar positivamente com os aminoácidos, com valores altos (84,14 a 88,77% para os totais e 84,06 a 88,53% para os digestíveis) não se ajustou significativamente em nenhum modelo. A FB também não participou das equações e, com exceção da metionina, que mostrou baixa correlação positiva com a fibra, os demais aminoácidos apresentaram correlação negativa inferior a 10%. O EE se correlacionou negativamente, com valores superiores a 90% para os aminoácido totais e entre 88,19 (soma dos essenciais) e 95,18% (não essenciais). Estas correlações da PB com a lisina, treonina, metionina e metionina + cistina observadas no presente ensaio são maiores que aquelas apresentadas pelo NRC (1998), para os aminoácidos totais do farelo de soja, ressaltando-se que no presente trabalho as equações foram ajustadas através da composição de um grupo de alimentos e não de um alimento isoladamente. O NRC (1994) descreve equações para predizer a metionina, metionina + cistina, lisina e arginina do farelo de soja, contendo as variáveis PB e MM, e equações com PB, umidade, EE, FB e MM para predizer a treonina, estando em contradição ao ajustado no presente trabalho, no qual estas variáveis não compuseram a maioria dos modelos.

As estimativas dos conteúdos dos aminoácidos lisina, metionina, metionina + cistina, treonina e arginina totais e digestíveis dos alimentos estudados, preditas através das equações elaboradas, juntamente com os valores determinados no ensaio biológico e as médias da soma do quadrado dos desvios estão apresentadas nas Tabelas 9 e 10, respectivamente. Devido aos elevados valores de R2 obtidos no ajuste das equações com a PB, bem como sua alta correlação com os aminoácidos, foram consideradas nas estimativas as equações compostas com a variável PB apenas. Nota-se que os valores estimados foram bem semelhantes àqueles observados no ensaio in vivo, tanto para os aminoácidos totais quanto os digestíveis, o que pode ser comprovado através das médias da soma do quadrado dos desvios. Estas observações sugerem que as equações elaboradas podem ser seguras para estimar o conteúdo de aminoácidos totais e digestíveis deste grupo de alimentos, sendo de grande utilidade nas formulações de ração para aves. Entretanto, torna-se necessário novos trabalhos testando a aplicabilidade das equações em outras amostras destes alimentos e, possivelmente, fazendo determinações "in vivo" para comprovar a confiabilidade das estimativas.

Conclusões

Os coeficientes médios de digestibilidade dos aminoácidos (essenciais e não essenciais, respectivamente) dos farelos de soja 1, 2, 3, 4 e texturizado, sojas integral Jet Sploder, integral tostada e micronizada foram 92,78 e 90,76; 92,66 e 89,70; 93,75 e 91,26; 93,32 e 90,12; 91,55 e 89,08; 94,80 e 92,34; 94,61 e 91,47; 93,20 e 90,47%. As equações de predição foram ajustadas com altos valores de R2, explicando mais de 94 % da variação dos aminoácidos totais e 91 % dos digestíveis nos alimentos estudados, onde a proteína apresentou alta correlação positiva, fazendo boas estimativas do conteúdo em aminoácidos totais e digestíveis dos alimentos do grupo da soja; para predizer os aminoácidos totais e digestíveis da soja e subprodutos, podem ser utilizadas as equações LIS = -0,32161 + 0,06731PB (R2 = 0,99); MET = 0,02263 + 0,01323PB (R2 = 0,96); M+C = 0,078949 + 0,02563PB (R2 = 0,94); TRE = 0,20930 + 0,03533PB (R2 = 0,95); ARG = -0,39589 + 0,08022PB (R2 = 0,98) e LIS = -0,29472 + 0,06319PB (R2 = 0,98); MET = 0,02884 + 0,01228PB (R2 = 0,93); M+C = 0,08974 + 0,0222PB (R2 = 0,91); TRE = 0,15813 + 0,03235PB (R2 = 0,95) e ARG = -0,32129 + 0,07681PB (R2 = 0,96), respectivamente.

Literatura Citada

Recebido em: 18/09/01

Aceito em: 10/05/02

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  • 1
    Parte da tese de doutorado do primeiro autor.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      08 Set 2004
    • Data do Fascículo
      Abr 2002

    Histórico

    • Aceito
      10 Maio 2002
    • Recebido
      18 Set 2001
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