Acessibilidade / Reportar erro

Fatores associados à atividade física no lazer entre residentes de áreas urbanas de um município do nordeste do Brasil

Resumos

O estudo teve como objetivo analisar os fatores associados à atividade física no lazer entre residentes em áreas urbanas. Estudo epidemiológico de corte transversal com amostra representativa da população urbana de Feira de Santana, Bahia, Brasil, de 15 anos ou mais de idade. A amostra foi constituída por 3.597 indivíduos, 71,4% do sexo feminino e 28,6% do sexo masculino. Foi utilizado um questionário contendo informações sociodemograficas, doenças referidas e prática de atividade física no lazer. Foram estimadas as razões de prevalência e respectivos intervalos de confiança a 95%. Adotou-se nível de significância estatística de 5% (p>0,05). Encontrou-se uma frequência de 27,7% de indivíduos considerados ativos no lazer. A análise dos dados revelou que características sociodemográficas (sexo, renda e escolaridade) estavam associadas à maior frequência de atividade física. A população do município de Feira de Santana apresenta uma elevada frequência de indivíduos inativos no lazer, principalmente, entre as mulheres, pessoas de baixa renda e entre aqueles com menor escolaridade. Estes achados fomentam a discussão sobre a necessidade de implementação de políticas públicas de saúde e a criação de espaços de prática do lazer ativo.

Saúde da população urbana; Atividade motora; Atividades de lazer


The objective of this study was to analyze factors associated with leisure-time physical activity among residents of urban areas. A cross-sectional epidemiological study was conducted on a representative sample of the urban population of Feira de Santana, Bahia, Brazil, aged 15 years or older. The sample consisted of 3,597 subjects, including 71.4% females and 28.6% males. A questionnaire containing sociodemographic data, self-reported diseases, and leisure-time physical activity was applied. Prevalence ratios and 95% confidence intervals were calculated, adopting a level of significance of p > 0.05. The frequency of subjects considered to be active during leisure time was 27.7%. Sociodemographic characteristics (gender, income, and educational level) were associated with a higher frequency of physical activity. In conclusion, the frequency of leisure-time inactivity was high in the population from the municipality of Feira de Santana, especially among women, low-income subjects, and subjects with low educational level. These findings contribute to the discussion about the need to implement public health policies and to create spaces for active leisure-time activity.

Leisure activity; Motor activity; Urban health


ARTIGO ORIGINAL

Fatores associados à atividade física no lazer entre residentes de áreas urbanas de um município do nordeste do Brasil

Saulo Vasconcelos RochaI; Maura Maria Guimarães de AlmeidaII; Tânia Maria de AraújoII; Jair Sindra Virtuoso JúniorIII

IUniversidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Núcleo de Estudos em Saúde da População. Jequié, BA. Brasil

IIUniversidade Estadual de Feira de Santana. Feira de Santana, BA. Brasil

IIIUniversidade Federal do Triângulo Mineiro. Uberaba, MG. Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Saulo Vasconcelos Rocha Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- UESB Departamento de Saúde, Núcleo de Estudos em Saúde da População Avenida José Moreira Sobrinho S/N, Jequiezinho CEP: 45200-000 - Jequié - BA

RESUMO

O estudo teve como objetivo analisar os fatores associados à atividade física no lazer entre residentes em áreas urbanas. Estudo epidemiológico de corte transversal com amostra representativa da população urbana de Feira de Santana, Bahia, Brasil, de 15 anos ou mais de idade. A amostra foi constituída por 3.597 indivíduos, 71,4% do sexo feminino e 28,6% do sexo masculino. Foi utilizado um questionário contendo informações sociodemograficas, doenças referidas e prática de atividade física no lazer. Foram estimadas as razões de prevalência e respectivos intervalos de confiança a 95%. Adotou-se nível de significância estatística de 5% (p>0,05). Encontrou-se uma frequência de 27,7% de indivíduos considerados ativos no lazer. A análise dos dados revelou que características sociodemográficas (sexo, renda e escolaridade) estavam associadas à maior frequência de atividade física. A população do município de Feira de Santana apresenta uma elevada frequência de indivíduos inativos no lazer, principalmente, entre as mulheres, pessoas de baixa renda e entre aqueles com menor escolaridade. Estes achados fomentam a discussão sobre a necessidade de implementação de políticas públicas de saúde e a criação de espaços de prática do lazer ativo.

Palavras-chave: Saúde da população urbana; Atividade motora; Atividades de lazer.

INTRODUÇÃO

A atividade física pode ser entendida como um atributo essencial ao ser humano, destacando-se como um fator de proteção frente a diversos agravos negativos à saúde, além de representar um tema interdisciplinar que desperta o interesse de pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, da mídia e da saúde pública.

A atividade física regular é um comportamento importante na vida das pessoas e apresenta um impacto significativo na prevenção e controle das doenças crônicas não transmissíveis. Do ponto de vista psicossocial, auxilia no controle do estresse, da ansiedade e dos sintomas depressivos, sendo responsável por atuar diretamente nos fatores psicológicos (distração, autoeficácia e interação social) e nos fatores fisiológicos (aumento da transmissão sináptica das endorfinas)1. Rocha et al.2 destacam que a participação em atividades físicas desenvolvidas no tempo livre favorece a socialização dos participantes, contribuindo para uma percepção mais otimista da qualidade de vida.

De acordo com estimativas da Organização Mundial de Saúde3, a inatividade física (tipo de comportamento em que os indivíduos não praticam qualquer atividade física no lazer, não realizam esforços físicos intensos no trabalho, não se deslocam para o trabalho a pé ou de bicicleta e não são responsáveis pela limpeza pesada de suas casas), é responsável por quase dois milhões de mortes, por 22% dos casos de doença isquêmica do coração e por 10% a 16% dos casos de diabetes e de cânceres de mama, cólon e reto.

Estudos de base populacional indicam que a prevalência de inatividade física geral (incluindo todos os domínios da atividade física: lazer, ocupação, deslocamento e exercício) em adultos no Brasil chega a 29,6%4 e 31,85 Quando se considera apenas o domínio do lazer, a prevalência de inatividade física aumenta, variando entre 65,4%6 e 72,6%7.

O sedentarismo ou inatividade física no lazer está associado à hipertensão arterial e diabetes7, ao aumento do número de internações hospitalares8, é mais prevalente em mulheres6, idosos5 e em pessoas de baixa escolaridade7.

O aumento do número de pessoas inativas fisicamente é um problema de saúde pública e, como mencionado anteriormente, esse problema se agrava quando se analisa separadamente a dimensão do lazer. Neste sentido, os desafios e as necessidades sociais da população brasileira fomentaram a necessidade de maior conhecimento sobre os aspectos envolvidos na realização das atividades físicas (elementos que as promovem ou as dificultam), gerando no campo da Saúde Coletiva o reconhecimento de que existe uma urgência em se discutir assuntos referentes ao Corpo e ao Lazer9.

O conhecimento sobre as atividades físicas no lazer e seus determinantes poderá servir de base para o gerenciamento de atividades de incentivo à prática de atividades físicas no tempo livre em populações, produzindo, assim, informações úteis para a elaboração de políticas públicas de prevenção de morbidades físicas e mentais.

Com base no exposto, o propósito dessa investigação foi analisar os fatores associados à atividade física no lazer entre residentes em áreas urbanas de um município do nordeste do Brasil.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Foi realizado um estudo de corte transversal de caráter exploratório no município de Feira de Santana, localizada a 116 km de Salvador, capital da Bahia, Região Nordeste do Brasil, no período de abril a setembro de 2007.

O município de Feira de Santana é a segunda maior cidade do Estado da Bahia e a 31ª do País. Está localizada na região da zona de planície entre o Recôncavo e os tabuleiros semiáridos do nordeste baiano, com população, estimada, em 2006, de 535.820 habitantes10.

A seleção das áreas de estudo foi realizada por amostragem estratificada por subdistritos, adotando-se procedimentos aleatórios, com base em dados censitários da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)10, tendo o domicílio como unidade amostral.

Como o estudo foi delineado para avaliação da situação de saúde mental da população com 15 anos ou mais de idade, foram adotados procedimentos de amostragem considerando-se as estimativas relativas à morbidade psíquica. A amostra foi obtida assumindo-se uma prevalência estimada de transtornos mentais comuns de 25%, erro amostral de 3% e nível de confiança de 95%. Assumindo-se esses parâmetros, estabeleceu-se amostra de 800 indivíduos. Considerando-se o efeito do desenho do estudo (amostragem por conglomerado), dobrou-se o tamanho da amostra, que subiu para um total de 1.600 pessoas. Admitindo-se recusas e perdas em torno de 20%, definiu-se o tamanho da amostra em 1.920 indivíduos.

Para a seleção da amostra, foram adotados os seguintes procedimentos: determinação da representação percentual da população por subdistrito da zona urbana; definição de percentual na amostra de cada subdistrito, a partir dos dados de população residente em cada subdistrito; listagem dos setores censitários em cada subdistrito; seleção aleatória dos setores censitários que foram incluídos na amostra em cada subdistrito; seleção aleatória das ruas incluídas na amostra em cada setor censitário; todos os domicílios nas ruas sorteadas foram incluídos na amostra; todos os indivíduos com 15 anos ou mais de idade, residentes nos domicílios das ruas sorteadas, foram considerados elegíveis, compondo a amostra do estudo. Para reduzir o percentual de perdas, realizou-se até três visitas por domicílio.

Os dados foram coletados por meio de um questionário, aplicado aos moradores elegíveis dos domicílios sorteados. O instrumento continha informações sociodemográficas, doenças autorreferidas, participação e tempo destinados a atividades de lazer, prática de atividades físicas e condição da saúde mental.

As variáveis condições clínicas (diabetes, hipertensão, colesterol elevado, obesidade e cardiopatia) foram obtidas de forma autorreferida e avaliadas por meio de questões dicotômicas do tipo "sim" ou "não".

Para avaliação da atividade física no lazer, foi questionado se os indivíduos participavam regularmente de atividades físicas no momento de lazer, qual o tipo e a classificação da intensidade da atividade: leve, moderada ou pesada. Foram considerados ativos no lazer aqueles entrevistados que classificaram seu esforço físico no lazer como esforços de intensidade moderada (caminhar, andar de bicicleta, aula de dança ou atividade física por, pelo menos, 2 horas semanais) ou pesada (correr, fazer ginástica, natação, jogos com bola ou atividade física por, pelo menos, 4 horas semanais). Inativos no lazer foram classificados aqueles que referiam não participar de atividades físicas ou participar de atividades físicas leves (jogo de baralho, jogo de xadrez ou dominó, caminhada leve por menos de 2 horas semanais) durante o lazer. O procedimento adotado para definição de ativos e inativos foi semelhante ao de outros estudos encontrados na literatura11-13.

Para a confecção do banco e análise dos dados, foram utilizados os pacotes estatísticos SPSS (versão 9.0) e o R 2.6.1.

Inicialmente, foi feita análise descritiva, considerando variáveis sociodemográficas e condições clinicas, com a finalidade de apresentar o perfil da população estudada.

A frequência da atividade física no lazer foi estimada e estratificada segundo as variáveis sociodemográficas (sexo, idade, renda, nível de escolaridade e situação conjugal) e condições clínicas (diabetes, hipertensão, colesterol elevado, obesidade e cardiopatia).

Foram calculadas razões de prevalência e seus respectivos intervalos de confiança a 95%. Para avaliação da medida de significância estatística, utilizou-se o teste de qui-quadrado de Pearson, adotando α=5%.

Para avaliação simultânea dos fatores incluídos no estudo, foi realizada análise de regressão logística múltipla (ARLM), com finalidade exploratória.

A ARLM foi conduzida segundo os procedimentos recomendados por Hosmer & Lemeshow14 , incluindo as seguintes etapas: 1ª) Verificação de pressupostos; 2ª) Pré-seleção de variáveis básicas; 3ª) Pré-seleção de termos de interação; 4ª) Avaliação de confundimento - Para análise das variáveis potencialmente confundidoras, foi verificada a magnitude da variação dos coeficientes estimados e das respectivas ORs da variável de exposição principal (atividade física no lazer). A variável foi considerada confundidora quando o coeficiente de exposição principal apresentou variação superior a 10%; 5ª) Análise de regressão logística propriamente dita. A regressão logística adotou procedimento backward para a seleção do melhor modelo. Permaneceram no modelo as variáveis que estivessem associadas à resposta, ou seja, as que apresentarem (p>0,25). A modificação de efeito foi analisada por meio do teste de razão da verossimilhança, adotando o nível de significância de 20%.O modelo completo incluiu as variáveis sociodemograficas (sexo, faixa etária, renda, escolaridade, situação conjugal) e condições clínicas (diabetes, colesterol elevado, obesidade, hipertensão arterial e cardiopatias).

Em função de a ARLM ter sido desenvolvida para uso em estudos de caso-controle, produzindo medidas de OR e não de RP, não tem sido recomendado o uso de estimativas de OR, obtida na ARLM, para estudo de efeitos de elevada frequência, uma vez que, nesses casos, a OR superestima o efeito considerado. Como a frequência de atividade física no lazer estimada foi superior a 25%, foi necessário proceder-se ao cálculo das estimativas de RP. Com base nos parâmetros do modelo final, foram estimadas as razões de prevalência e respectivos intervalos de confiança, utilizando o Método Delta, programa desenvolvido especificamente para esse fim 15.

Esta pesquisa seguiu os princípios éticos presentes na Declaração de Helsinque e na Resolução n0. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Os protocolos de pesquisa foram avaliados e aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Estadual de Feira de Santana (Parecer nº 042/06) e os entrevistados assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

RESULTADOS

A amostra estudada foi constituída de 3.597 indivíduos com idade de 15 anos ou mais, residentes em áreas urbanas do município de Feira de Santana.

As características da amostra encontram-se na Tabela 1. Observa-se maior percentual de mulheres (71,4%). A faixa etária entre 15 e 29 anos (38,9%) e o grupo dos casados ou em união estável (48,7%) foram os grupos predominantes. Em relação à condição de renda e educação, 81,7% ganhavam até um salário mínimo e 47,2% haviam cursado o ensino fundamental.

Entre as condições clínicas referidas pelos entrevistados, a maior prevalência foi observada para hipertensão arterial (24%) e para colesterol elevado (12,3%). A menor prevalência foi de cardiopatias (5,0%) (Tabela 2).

A frequência de participação em atividades físicas no lazer foi baixa: apenas 27,3% (n = 981) foram classificados como ativos no lazer. Portanto, 72,7% da população estudada foi classificada como inativa nas atividades de lazer. Os dados Tabela 3 descrevem a associação entre atividade física no lazer e características sociodemográficas. A frequência de prática de atividade física no lazer foi maior entre os indivíduos do sexo masculino, de faixas etárias mais jovens, com renda maior que um salário mínimo, com maiores níveis de escolaridade e entre os solteiros (Tabela 3).

Os indivíduos que referiram não serem portadores das condições clínicas investigadas (diabetes, colesterol elevado, obesidade, hipertensão arterial e cardiopatias) foram mais ativos nas atividades de lazer, quando comparados aos portadores de alguma condição clínica (Tabela 4).

Na análise multivariada, para avaliação simultânea de todos os fatores analisados no estudo, foram retidas no modelo final obtido as seguintes variáveis: sexo, renda e escolaridade. Portanto, estas variáveis estavam associadas à prática de atividade física a níveis estatisticamente significantes (Tabela 5).

DISCUSSÃO

O aumento das doenças associadas ao comportamento sedentário ou hipocinético tem sensibilizado os pesquisadores para conduzirem investigações para identificar aspectos relacionados a esse tipo de comportamento, principalmente em países em desenvolvimento.

No presente estudo, percentual elevado da população foi classificado como inativo nas atividades de lazer (quase ¾ da população estudada). Estudos13,16 indicam que grande parcela da população não atinge as recomendações atuais quanto à prática de atividades físicas. Ao avaliar apenas as atividades físicas realizadas no tempo de lazer, os pesquisadores têm detectado prevalências de inatividade física ainda mais elevadas13,17,18.

Com o crescimento das cidades, houve diminuição dos espaços disponíveis para a prática de atividade física e de lazer. Este fato, atrelado a problemas sociais como a violência urbana, as elevadas jornadas de trabalho e as facilidades tecnológicas, favorecem a adoção de hábitos sedentários.

A prevalência de inatividade física em adultos detectada neste estudo (72,7%) foi superior à encontrada nas pesquisas anteriores. Siqueira et al.5 identificaram que a prevalência de sedentarismo era maior na região nordeste (39%), quando comparada à região sul (24%), utilizando como instrumento de avaliação o International Physical Activity Questionary - IPAQ short version.

Outros dois estudos utilizaram questões dicotômicas para avaliar a prevalência de inatividade física e/ou sedentarismo no lazer, como foi feito neste estudo. Zanchetta et al.6 , em levantamento realizado entre a população de 18 a 59 anos, residentes no estado de São Paulo, identificaram uma prevalência de inatividade física no lazer de 65,4%. Pitanga e Lessa7 detectaram uma prevalência de sedentarismo no lazer de 72,5% entre adultos residentes no município de Salvador-BA. Portanto, a prevalência de inatividade física no lazer observada neste estudo foi similar a encontrada em outros estudos com emprego de metodologia semelhante.

Duas categorias podem influenciar os padrões de atividade física; as características individuais, incluindo motivações, autoeficácia, habilidades motoras e outros comportamentos de saúde; e as características ambientais, como o acesso ao trabalho ou espaços de lazer, custos, barreiras de disponibilidade temporal e suporte sóciocultural19.

Após a análise de regressão logística, as características sociodemográficas (sexo, renda e escolaridade) mantiveram-se associadas à atividade física no lazer. Indivíduos com mais anos de escolarização e maior nível de renda apresentam um maior nível de atividade física17,20. A escassez de programas de atividades físicas e de atividades de lazer oferecidos pelo poder público, assim como a precariedade dos espaços públicos de lazer existentes na maioria dos centros urbanos brasileiros, podem ser barreiras importantes para a adoção de um estilo de vida ativo entre a população do município estudado. A prática de atividade física também é influenciada pelas relações de gênero. Os homens são mais ativos do que as mulheres20-23 principalmente no tempo livre e no trabalho24, o que corrobora os achados do presente estudo. A mulher por estar exposta à dupla jornada de trabalho acaba por ter o seu tempo de lazer reduzido, o que pode restringir a prática de atividade física no tempo livre25.

A associação da atividade física e os indicadores sócioeconômicos têm despertado interesse de pesquisadores. No que concerne a dimensão do lazer, os estudos20,26 demonstram que as pessoas com rendas maiores são mais ativas no lazer. Os segmentos mais desfavorecidos da população teriam menos tempo disponível para a participação de atividades físicas no tempo livre, já que essas pessoas tendem a morar distante do local de trabalho, gastando mais tempo para o deslocamento. Além disso, indivíduos com rendas menores tendem a acumular um número maior de empregos e fazer mais horas extras para compensar a baixa renda, reduzindo, assim, seu tempo livre 26. Outro aspecto a ser destacado é a escassez de espaços e atividades de lazer disponibilizadas no âmbito público.

O presente estudo evidenciou a associação entre atividade física no lazer a escolaridade, corroborando os resultados de outras pesquisas realizadas no Brasil20, 27 e em outros países28,29. Hallal et al.30 destacam que indivíduos adultos com melhores níveis educacionais têm maior acesso ao conhecimento e de condições materiais de vida que favorecem a adoção de práticas e hábitos saudáveis.

Akke at al.23 destacam que a atividade física é um importante modificador de risco para o desenvolvimento de problemas crônicos de saúde como: doenças coronarianas, diabetes, hipertensão e obesidade. Contudo, no presente estudo não foram encontradas associações estatisticamente significante entre atividade física no lazer e presença de doenças crônicas. No entanto, como o desenho de estudo foi transversal, avaliando-se as condições existentes (presença de morbidade e atividade física no lazer) em um único ponto do tempo, não pode ser estabelecido se foi a presença de uma doença que ocasionou a interrupção das atividades físicas, ou se a existência da doença levou a diminuição da prática regular de atividades físicas no tempo livre. A realização de estudos longitudinais poderá dar respostas mais satisfatórias sobre a relação entre desenvolvimento de doença crônica e atividade física.

Os resultados aqui obtidos devem ser avaliados com cautela em função de possíveis limitações do estudo. Dentre essas limitações, cabe considerar, como já mencionado, aquelas relativas ao tipo de desenho de estudo utilizado, corte transversal, que avalia simultaneamente variáveis relativas ao efeito de interesse e aos seus fatores associados. Portanto, não se pode descartar a hipótese de causa reversa, ou seja, não é possível identificar se a atividade física no lazer influenciaria os fatores associados ou vice-versa. O caráter transversal do estudo impossibilita análise de antecedência temporal.

Contudo, os resultados encontrados parecem suportar as evidências dos modelos explicativos de frequência de atividade física no lazer em grupos populacionais.

A distribuição da faixa etária na amostra estudada foi similar à composição da população com 15 anos ou mais de idade de Feira de Santana.

Apesar dessas limitações, o estudo avaliou um contingente expressivo de pessoas (N= 3.597), incluindo grupos populacionais de todos os subdistritos do município estudado, o que permitiu estimar a frequência de atividade física no lazer, nesse município, e identificar os fatores associados à sua ocorrência.

CONCLUSÕES

Este estudo permitiu dimensionar a frequência de atividade física no lazer na população urbana de Feira de Santana, Bahia. Também favoreceu o conhecimento dos fatores associados à atividade física no lazer nessa população. Observou-se elevada prevalência de inatividade física no lazer, estimativas semelhantes a diversas regiões do país e a realidade de outros países. A prática de atividade física no lazer foi mais frequente entre os homens, entre aqueles com nível de renda mensal elevada e de maior escolaridade.

A construção de equipamentos de lazer (quadras, pistas para caminhada, campos de futebol, piscinas) e a formulação de programas de educação e saúde direcionados à mudança de comportamento e incentivo à adoção de estilo de vida ativo, poderá contribuir para o aumento do nível de atividade física da população.

O estabelecimento das ações preventivas pode ser pautado à luz de nossos achados, por intervenções que possam levar à maior integração social das pessoas com a realização de atividades de lazer ativo e por políticas públicas de melhor distribuição de renda e acesso e permanência à escola.

Os resultados obtidos representam informação útil para a gestão em saúde, sendo insumo para as políticas públicas de intervenção em saúde pública.

Agradecimentos

À Comissão de aperfeiçoamento de Pessoal (CAPES) pela bolsa de mestrado concedida a Saulo Vasconcelos Rocha no período de realização da pesquisa.

Recebido em 22/09/10

Revisado em 18/01/11

Aprovado em 23/02/11

  • 1. Peluso MAM, Andrade LHSG. Physical activity and mental health: the association between exercise and mood. Clinics 2005;1(60):61-70.
  • 2. Rocha SV, Tribess S, Virtuoso Júnior JS. Atividade física habitual e qualidade de vida de mulheres idosas com baixa condição econômica. Rev Educ Fís/UEM 2008;19(1):101-8.
  • 3
    Organização Mundial da Saúde. Relatório Mundial da Saúde. Saúde Mental: Nova concepção, nova esperança. Lisboa; 2002.
  • 4. Lopes JA, Longo GZ, Peres KG, Boing AF, Arruda MP. Fatores associados à atividade física insuficiente em adultos: estudo de base populacional no sul do Brasil. Rev Bras Epidemiol 2010;13(4):689-98.
  • 5. Siqueira FS, Facchini LA, Piccini RX,Tomasi E, Thumé E, Silveira DS, et al. Atividade física em adultos e idosos residentes em áreas de abrangência de unidades básicas de saúde de municípios das regiões Sul e Nordeste do Brasil. Cad Saúde Pública 2008;24(1):39-54.
  • 6. Zanchetta L, Barros MBA, César CLG, Carandina L, Goldbaum M, et al.. Inatividade física e fatores associados em adultos, São Paulo, Brasil. Rev Bras Epidemiol 2010;13(3):387-99.
  • 7. Pitanga FJG, Lessa I. Prevalência e fatores associados ao sedentarismo no lazer em adultos. Cad Saúde Pública 2005;21(3):870-7.
  • 8. Pitanga FJG, Lessa I. Associação entre inatividade física no tempo livre e internações hospitalares em adultos na cidade de Salvador, Brasil. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2008;10(4):347-53.
  • 9. Luz MT. Novos Saberes e Práticas em Saúde Coletiva: Estudo Sobre Racionalidades Médicas e Atividades Corporais. São Paulo: Hucitec; 2007.
  • 10. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico de 1999/2000. Brasília; 2006.
  • 11. Masson CR, Dias da Costa JS, Olinto MTA, Meneghel S, Costa CC, Bairros F, et al. Prevalência de sedentarismo em mulheres adultas da cidade de São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil. Cad Saúde Pública 2005;21(6):1685-94.
  • 12. Gerber M, Puhse U. "Dont crack under pressure!" - Do leisure time physical activity and self-esteem moderate the relationship between scholl-based stress and psychosomatic complaints? J Psychosomc Res 2008;65(4):363-9.
  • 13. Ademoli AN, Azevedo. Padrões de atividade física de pessoas com transtornos mentais e de comportamento. Ciên Saúde Colet 2009;14(1):243-51.
  • 14. Hosmer JR, Lemeshow S. Appled Logistic Regression. John Wiley & Sons: New york: John Wiley & Sons,1989.
  • 15. Oliveira NF, Santana VS, Lopes AA. Razões de proporções e uso do método Delta para intervalos de confiança em regressão logística. Rev Saude Publica 1997;31(1):90-9.
  • 16. Codarin MAF, Moulatlet EM, Nehme P, Ulhôa M, Moreno CRC. Associação entre Prática de Atividade Física, Escolaridade e Perfil Alimentar de Motoristas de Caminhão. Saúde Soc 2010;19(2):418-28.
  • 17. Camões M, Lopes C. Fatores associados á atividade física na população portuguesa. Rev Saúde Pública 2008;42(2):208-16.
  • 18. Wiles NJ, Haase AM, Gallacher J, Lawlor DA, Lewis G. Physical activity and Common Mental Disorder: Results from the Caerphilly Study. Am J Epidemiol 2007;165(8):946-54.
  • 19. Salles-Costa R, Heilborn ML, Werneck GL, Faerstein E, Lopes CS. Gênero e prática de atividade física de lazer. Cad Saúde Pública 2003;19(2):325-33.
  • 20. Dias-da-Costa JS, Hallal PC, Wells JC, Daltoe T, Fuchs SC, Menezes AM, et al. Epidemiology of leisure-time physical activity: a population-based study in Southern Brazil. Cad. Saude Publica 2005;21(1):275-82.
  • 21. Akke KVDB, Miranda GH, Laurant MW. Effectiveness of Physical Activity Interventions for Older Adults. Am J Prev Med 2002;22(2):32-41.
  • 22. Cunha IC, Peixoto MRG, Garden PCB, Alexandre VP. Fatores associados à prática de atividade física na população adulta de Goiânia: monitoramento por meio de entrevistas telefônicas. Rev Bras Epidemiol 2008;1(3):495-504.
  • 23. Quadros TM, Petroski EL, Diego A, Gordia AP. The prevalence of physical inactivity amongst Brazilian university students: its association with sociodemographic variables. Rev Salud Pública 2009;11(5):724-33.
  • 24. Pitanga FJG, Almeida LAB, Freitas MM, Pitanga CPS, Beck CC. Padrões de atividade física em diferentes domínios e ausência de diabetes em adultos. Motricidade 2010;6(1):5-17.
  • 25. Araújo TM, Pinho OS, Almeida MG. Prevalência de transtornos mentais comuns em mulheres e sua relação com as características sociodemográficas e o trabalho doméstico. Rev Bras Saude Mater Infant 2005;5(3):337-48.
  • 26. Burton NW, Turrell G. Occupation, Hours Worked, and Leisure-Time Physical Activity. Prev Med 2000;31(6):673-81.
  • 27. Monteiro CA, Conde WL, Matsudo SM, Matsudo, VR, Bonseñor IM, Lotufo, PA. A descriptive epidemiology of leisure-time physical activity in Brazil, 1996-1997. Rev Panam Salud Pública 2003;14:246-54.
  • 28. Seclen-Palacin, J, Jacoby, E. Factores sociodemográficos y ambientales asociados com actividad física deportiva em la población urbana del Peru. Rev Panam Salud Pública 2003;14 (3):255-64.
  • 29. JurakiĆ D, PedisiĆ Z, AndrijaseviĆ M. Physical Activity of Croatian Population: Cross-sectional Study Using International Physical Activity Questionnaire. Croat Med J 2009;50:165-73.
  • 30. Hallal PC, Victora CG, Wells JC, Lima RC. Physical inactivity: prevalence and associated variables in Brazilian adults. Med Sci Sports Exerc 2003; 35:1894-900.
  • Endereço para correspondência:
    Saulo Vasconcelos Rocha
    Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- UESB
    Departamento de Saúde, Núcleo de Estudos em Saúde da População
    Avenida José Moreira Sobrinho S/N, Jequiezinho
    CEP: 45200-000 - Jequié - BA
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Set 2011
    • Data do Fascículo
      Ago 2011

    Histórico

    • Recebido
      22 Set 2010
    • Aceito
      22 Fev 2011
    • Revisado
      18 Jan 2011
    Universidade Federal de Santa Catarina Universidade Federal de Santa Catarina, Campus Universitário Trindade, Centro de Desportos - RBCDH, Zip postal: 88040-900 - Florianópolis, SC. Brasil, Fone/fax : (55 48) 3721-8562/(55 48) 3721-6348 - Florianópolis - SC - Brazil
    E-mail: rbcdh@contato.ufsc.br