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As experimentações corporais nos processos formativos da graduação em terapia ocupacional: uma revisão na literatura brasileira

Resumo

Introdução

A noção de corpo se constituiu socialmente, ao longo da história, alterando profundamente a relação dos indivíduos com o seu próprio corpo. Ao pautar-se em concepções de corpo para além do corpo biológico, o uso de experimentações corporais durante a formação graduada de terapia ocupacional tem sido um recurso relevante no desenvolvimento de habilidades pessoais para a prática profissional.

Objetivo

Identificar e sintetizar o conhecimento disponível sobre a relação entre o uso de experimentações corporais e a formação graduada de terapeutas ocupacionais.

Método

A metodologia utilizada foi a revisão integrativa da literatura. Foi realizado um teste de sensibilidade para definição das palavras-chave e das fontes de dados. As buscas foram realizadas nos periódicos nacionais de terapia ocupacional, na SciELO e na base de dado LILACS. Para seleção da amostra foram realizadas três etapas. Foram aplicados critérios de inclusão/exclusão, resultando na amostra final de oito artigos.

Resultados

Os resultados deste estudo mostram esforços de mudanças na formação de profissionais da terapia ocupacional, visando a romper com os modelos tradicionais de ensino ao considerar as experimentações corporais como recursos que permitem o compartilhamento de experiências.

Conclusão

Os autores defendem uma formação que invista em novos cenários de aprendizagem, buscando formar profissionais mais atentos e abertos às necessidades do outro. Entretanto, ainda são necessários estudos que identifiquem de que forma os profissionais que vivenciaram as experimentações corporais na formação conduzem sua prática e sua relação com o cliente.

Palavras-chave:
Terapia Ocupacional; Corpo Humano; Formação Profissional

Abstract

Introduction

The notion of body was socially constituted throughout history, deeply altering the relationship of individuals with their own body. By focusing on body conceptions beyond the biological body, the use of body experimentation during occupational therapy degree course has been a relevant resource in the development of personal skills for professional practice.

Objective

The aim of this study was to identify and synthesize the available information about the relation between the use of body experimentations and occupational therapist degree course.

Method

The methodology used was the literature integrative review. A sensitivity test was performed to define keywords and data sources. The researches were made in national Occupational Therapy journals and in SciELO and LILACS databases. For the sample selection, three steps were performed. Inclusion/exclusion criteria were applied, resulting in the final sample of eight articles.

Results

The results of this study show efforts of changing Occupational Therapy professionals training, aiming to break with traditional teaching models by considering body experimentation as a resource that allows to share experiences.

Conclusion

The authors defend a training course that invests in new learning scenarios, seeking to train professionals who are more attentive and open to the needs of the other. However, studies are still needed to identify how practitioners who have experienced body experimentation during their formation lead their practice and their relationship with the client.

Keywords:
Occupational Therapy; Human Body; Professional Training

1 Introdução

A noção de corpo se constituiu socialmente, ao longo da história, alterando profundamente a relação dos indivíduos com o seu próprio corpo (Florentino & Florentino, 2007Florentino, J., & Florentino, F. R. A. (2007). Corpo objeto: um olhar das ciências sociais sobre o corpo na contemporaneidade. Revista Digital, 12(113), 1.). No caso da saúde, a concepção de corpo que embasa a formação das profissões neste campo ainda está hegemonicamente referenciada à racionalidade médica, que por sua vez está ancorada nos conhecimentos da biomedicina, que pode ser compreendida:

A Biomedicina vincula-se a um ‘imaginário científico’ correspondente à racionalidade da mecânica clássica, caminhando no sentido de isolar componentes discretos, reintegrados a posteriori em seus ‘mecanismos’ originais. O todo desses mecanismos é necessariamente dado pela soma das partes – eventuais inconsistências devem ser debitadas ao desconhecimento de uma ou mais ‘peças’ (Camargo Junior, 2005Camargo Junior, K. R. (2005). A biomedicina. Physis, 15(Supl.), 177-201. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312005000300009.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312005...
, p. 178).

Se, por um lado, o conhecimento biomédico tem sido fundamental para ancorar as técnicas de intervenções sobre o corpo biológico, por outro, não tem sido suficiente para embasar a construção de outras habilidades necessárias ao processo de cuidar. As capacidades de empatia e comunicação com o outro nem sempre são desenvolvidas ao longo do processo de formação. Assim, a abordagem do corpo como máquina tem sido severamente criticada por sua insuficiência no processo de formação integral dos futuros profissionais (Camargo Junior, 2005Camargo Junior, K. R. (2005). A biomedicina. Physis, 15(Supl.), 177-201. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312005000300009.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312005...
).

Na terapia ocupacional, tem-se produzido formação e práticas de intervenções pautadas em concepções de corpo para além do corpo biológico. Nestas perspectivas, têm-se adotado noções de corpo com base em conhecimento de campos transdisciplinares, como Filosofia, Psicologia, Comunicação, Educação, Antropologia, dentre outros (Castro, 2000Castro, E. D. (2000). Arte, corpo e terapia ocupacional: aproximações, intersecções e desdobramentos. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 11(1), 7-12.; Liberman et al., 2011Liberman, F., Samea, M., & Rosa, S. (2011). Laboratório de atividades expressivas na formação do terapeuta ocupacional. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 19(1), 81-92.). A seguir, serão apresentadas algumas destas perspectivas que têm sido adotadas por terapeutas ocupacionais no que diz respeito à noção de corpo, propostas de intervenções, pesquisas e/ou formação de terapeutas ocupacionais.

Para Castro (2000)Castro, E. D. (2000). Arte, corpo e terapia ocupacional: aproximações, intersecções e desdobramentos. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 11(1), 7-12., o corpo constitui-se como um indicador fundamental para o conhecimento da história do sujeito, seus sentimentos, sua vida cotidiana. Muitas vezes, aquilo que é inexplicável por meio da linguagem verbal, o corpo demonstra com gestos de aproximação, afastamento, inibição ou acolhimento. Liberman (2010)Liberman, F. (2010). O corpo como pulso. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, 14(33), 449-460. afirma que a construção de um corpo e sua forma de funcionamento depende de vários fatores, entre eles a cultura, a genética e a hereditariedade, as vivências do indivíduo, os vínculos adquiridos ao longo da vida e da subjetividade que molda o funcionamento desse corpo no tempo e no espaço.

No estudo realizado por Silva & Gregorutti (2014)Silva, C. R., & Von Poellnitz, J. C. (2015). Atividades na formação do terapeuta ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(1), 74-82., com o intuito de discutir o processo de ensino-aprendizagem de abordagens corporais no campo da terapia ocupacional, observou-se a importância de propiciar aos estudantes a possibilidade de descobrir, dentro de si, por meio de sua própria expressão corporal, a consciência das sensações e a imersão em um processo de autoconhecimento, oferecendo suporte para que cuidem melhor de si e do outro. As autoras pontuam ainda que a experimentação de práticas corporais proporciona conhecimentos que complementam os ensinamentos teóricos, a fim de formar profissionais reflexivos e críticos quanto às reais necessidades do cliente, tornando-se um recurso transformador da formação.

Silva et al. (2014)Silva, M. L., & Gregorutti, C. C. (2014). Abordagens corporais: recurso transformador na formação do terapeuta ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 25(2), 135-141. também se propuseram a discutir a temática, relatando a importância de oficinas de música e corpo no processo formativo de profissionais de saúde. As oficinas relatadas no estudo, intituladas como “Clínica no coração da música: você escuta o que ouve?” e “O corpo e a clínica no coração da música” eram destinadas a estudantes dos cursos de Educação Física, Fisioterapia, Nutrição, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Paulo. Os autores apontam que

Ao propiciar o contato do estudante com o seu próprio corpo, suas sensações e, por meio da observação, do toque e da fala, com o corpo do outro, as oficinas põem em evidência a questão do corpo vivo e potente. Neste, exercita-se uma sensibilidade que é a escuta, pouco desenvolvida na formação dos profissionais de saúde, aqui compreendida não como restrita aos órgãos dos sentidos, mas como possibilidade do corpo afetar e ser afetado pelos acontecimentos (Silva et al., 2014Silva, M. L., & Gregorutti, C. C. (2014). Abordagens corporais: recurso transformador na formação do terapeuta ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 25(2), 135-141., p. 192).

Os autores apresentam a relevância dos espaços de experimentação e dos sentidos que emergem da criação de movimentos corporais, nos quais os participantes se deixam afetar pela vivência, e, com base nisso, criam reflexões sobre seu próprio corpo, formas de se relacionar com o mundo, a potencialidade da escuta e o exercício permanente de sensibilidade, algo pouco exercitado no cotidiano universitário (Silva et al., 2014Silva, M. L., & Gregorutti, C. C. (2014). Abordagens corporais: recurso transformador na formação do terapeuta ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 25(2), 135-141.).

Sendo assim, é possível que o uso de experimentações corporais durante a formação seja um recurso relevante para os terapeutas ocupacionais, possibilitando o desenvolvimento de habilidades pessoais para a prática profissional. Gibertoni (1991 apud Piergrossi & Gibertoni, 1997Piergrossi, J., & Gibertoni, C. (1997). A importância da transformação interna no processo de atividade. Revista do Centro de Estudos de Terapia Ocupacional, 2(2), 36-43.) pontua que o terapeuta ocupacional é muito mais que um promotor de atividades, e que a experiência vivida pelo terapeuta e o paciente assumirá significação somente se o terapeuta for capaz de conectar-se ao paciente usando suas próprias funções transformadoras.

Nesta perspectiva,

[...] se não houver a função de transformação da própria terapeuta, a experiência com atividades será superficial, isolada das emoções internas e incapaz de ser transformada em pensamentos que podem vir a ser usados (Piergrossi & Gibertoni, 1997Piergrossi, J., & Gibertoni, C. (1997). A importância da transformação interna no processo de atividade. Revista do Centro de Estudos de Terapia Ocupacional, 2(2), 36-43., p. 39).

Portanto, a sensibilização de terapeutas ocupacionais durante a formação por meio de experimentações corporais pode ser uma ferramenta para que os futuros profissionais possam enxergar além do que é comum, abrindo-se para o vínculo e a vivência com o paciente (Lima, 2004Lima, E. M. F. A. (2004). A análise de atividade e a construção do olhar do terapeuta ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 15(2), 42-48.), propiciando articular corpo, clínica e subjetividade (Liberman et al., 2011Liberman, F., Samea, M., & Rosa, S. (2011). Laboratório de atividades expressivas na formação do terapeuta ocupacional. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 19(1), 81-92.).

A relação com o corpo pode ser um dos meios para permitir o aprendizado sobre o outro, suas vivências, seus medos e angústias. Neste sentido, as atividades expressivas e artísticas (como, por exemplo, a dança, o teatro e outras práticas corporais) possibilitam a subjetivação dos sujeitos, em que o corpo e as artes são potencializadores da “[...] experiência de transformação: dos materiais, da natureza, de si mesmo, do cotidiano e das relações interpessoais” (Castro et al., 2001Castro, E. D., Lima, E., & Brunello, M. (2001). Atividades humanas e terapia ocupacional. In M. M. R. P. De Carlo & C. C. Bartalotti (Eds.), Terapia ocupacional no Brasil: fundamentos e perspectivas (pp. 41-59). São Paulo: Plexus., p. 52), colaborando para compreender o sujeito baseado em uma perspectiva que inclua o corpo e suas potencialidades (Liberman, 2002Liberman, F. (2002). Trabalho corporal, música, teatro e dança em terapia ocupacional: clínica e formação. Cadernos Centro Universitário São Camilo, 8(3), 39-43.).

As experimentações corporais são utilizadas frequentemente como recurso nas intervenções de terapeutas ocupacionais, e apresentam-se como instrumento de transformação do cotidiano da população atendida, à medida que permitem a apropriação de si e se torna experiência do próprio sujeito (Castro, 1992Castro, E. D. (1992). A dança, o trabalho corporal e a apropriação de si mesmo. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 3(1), 24-32.; Saito & Castro, 2011Saito, M., & Castro, E. (2011). Práticas corporais como potência da vida. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 19(2), 177-188.). Essas experiências configuram-se, na vida do sujeito, como vivências que estabelecem conexões entre os momentos da vida de cada um e sua interação com o mundo, possibilitando fluência entre mundo interno e externo, e construindo possibilidade de conhecimento para o sujeito (Castro, 2000Castro, E. D. (2000). Arte, corpo e terapia ocupacional: aproximações, intersecções e desdobramentos. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 11(1), 7-12.).

Entretanto, o terapeuta ocupacional precisa estar atento ao seu próprio processo criativo, e aos próprios processos corporais, a fim de ser capaz de acompanhar a complexidade dos casos atendidos. Também cabe aos profissionais lançarem-se nas vivências e experiências das atividades corporais, pois isso dará suporte à sua ação como terapeuta (Castro, 2000Castro, E. D. (2000). Arte, corpo e terapia ocupacional: aproximações, intersecções e desdobramentos. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 11(1), 7-12.). Lima (2004)Lima, E. M. F. A. (2004). A análise de atividade e a construção do olhar do terapeuta ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 15(2), 42-48. estabelece que é papel do terapeuta ocupacional apresentar um olhar diferenciado para as situações do cotidiano. Se o terapeuta não é capaz de usufruir desse olhar na relação com o cliente, tampouco será capaz de entrar em um espaço de troca com o usuário. Sendo assim, é necessário buscar uma percepção que esteja sempre ligada ao movimento e às sensações que habitam nosso corpo (Lima, 2004Lima, E. M. F. A. (2004). A análise de atividade e a construção do olhar do terapeuta ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 15(2), 42-48.).

A autora aponta que:

Neste sentido, assim como o artista, o terapeuta ocupacional também precisa se ‘ocupar’ da percepção e buscar nas imagens mais cotidianas e mais comuns aquilo que nelas há de inusitado, de novo, de diferente, de interessante, de singular. Para isto talvez seja preciso pensar, agir e olhar no cotidiano como o faria um estrangeiro: estranhar e se encantar com cada nova revelação (Lima, 2004Lima, E. M. F. A. (2004). A análise de atividade e a construção do olhar do terapeuta ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 15(2), 42-48., p. 46).

Contudo, é preciso ativar no terapeuta ocupacional a possibilidade de estar atento àquilo que é mais sutil, abrir-se para a experiência de um olhar que encontra outro olhar, deixar-se afetar por ele e conectar-se (Lima, 2004Lima, E. M. F. A. (2004). A análise de atividade e a construção do olhar do terapeuta ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 15(2), 42-48.). Nesse sentido, a vivência de experiências artísticas e corporais durante a formação pode contribuir para a abertura do olhar terapêutico e formação de vínculo, que está relacionado à capacidade conectiva do indivíduo, “[...] capacidade que se estende em várias direções, caminhos e modos, produzindo corpos que são expressões vivas de um contínuo desses processos” (Liberman, 2010Liberman, F. (2010). O corpo como pulso. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, 14(33), 449-460., p. 451).

Segundo Castro (2000)Castro, E. D. (2000). Arte, corpo e terapia ocupacional: aproximações, intersecções e desdobramentos. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 11(1), 7-12., as abordagens corporais configuram-se como atividades que podem promover estratégias para o cuidar, sendo uma oportunidade de conscientização da importância do toque e aprendizagem de uma relação de cuidado com o próprio corpo, na busca de sentidos e novas possibilidades. Ao serem vivenciadas e experienciadas por discentes na graduação, as experimentações corporais podem tornar-se recursos para elaboração de sentimentos, e “[...] auxiliar na capacitação e aprimoramento para o atendimento clínico” (Silva & Gregorutti, 2014Silva, C. R., & Von Poellnitz, J. C. (2015). Atividades na formação do terapeuta ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(1), 74-82., p. 136). Além disso, baseado nas disciplinas vivenciais, o discente de terapia ocupacional poderá resgatar sua história e refletir sobre seus significados (Liberman, 2002Liberman, F. (2002). Trabalho corporal, música, teatro e dança em terapia ocupacional: clínica e formação. Cadernos Centro Universitário São Camilo, 8(3), 39-43.).

Nos processos formativos em terapia ocupacional, os discentes estudam disciplinas com foco em técnicas de manipulação corporal, como a cinesiologia e a cinesioterapia, dentre outras. Entretanto, o intuito deste estudo foi abordar as práticas por meio das quais se pretende desenvolver a consciência corporal por meio de experimentações durante a graduação em terapia ocupacional. Serão inclusas neste estudo as práticas de experimentação corporal que são descritas como meio para disparar nos estudantes a percepção de si e das necessidades do outro, como a dança, o teatro, as atividades expressivas, a música e as brincadeiras. Assim, o objetivo deste estudo foi identificar e sintetizar o conhecimento disponível sobre a relação entre o uso de experimentações corporais no processo de formação graduada de terapeutas ocupacionais.

2 Método

Este estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, um método de pesquisa que tem por objetivo realizar uma análise sobre o conhecimento disponível em pesquisas publicadas sobre determinado tema, permitindo a elaboração de novos conhecimentos (Botelho et al., 2011Botelho, L. L. R., Cunha, C. C., & Macedo, M. (2011). O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gestão e Sociedade, 5(11), 121-136.). Esta metodologia de revisão possibilita a integração de estudos que adotam diversas metodologias – experimental e não experimental (Mendes et al., 2008Mendes, K. D. S., Silveira, R. C. C. P., & Galvão, C. M. (2008). Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto & Contexto - Enfermagem, 17(4), 758-764.) –, sendo adequada para a revisão de literatura sobre a temática desta monografia, pois, no levantamento bibliográfico, foi identificado que não havia homogeneidade das metodologias dos estudos encontrados inicialmente.

Para a realização deste estudo, foram seguidas as etapas da revisão integrativa, como estabelecidas por Botelho et al. (2011)Botelho, L. L. R., Cunha, C. C., & Macedo, M. (2011). O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gestão e Sociedade, 5(11), 121-136.: identificação do tema e seleção da questão de pesquisa, estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão, identificação dos estudos pré-selecionados e selecionados, categorização dos estudos selecionados, análise e interpretação dos resultados e apresentação da revisão/síntese do conhecimento.

No processo de delimitação do tema e construção da questão de pesquisa, identificou-se o desafio em adotar uma definição de “abordagem corporal” que pudesse contemplar a diversidade de perspectivas inicialmente encontradas, que acabou por refletir na dificuldade em eleger os descritores ou palavras-chave desta revisão.

Assim, em princípio, para a definição dos descritores ou palavras-chave, foi realizado um teste de sensibilidade nos periódicos nacionais de terapia ocupacional – Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo – USP, os Cadernos de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, a Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional – REVISBRATO e a Revista Baiana de Terapia Ocupacional. Neste teste, foram utilizados os descritores “Terapia Ocupacional”, “arte”, “dança” e “música”, presentes no dicionário virtual de Descritores de Ciências da Saúde (DeCS), e os termos livres (não encontrados no DeCs, mas relevantes para a pesquisa) “corpo”, “corporal”, “abordagem corporal”, “abordagens corporais”, “consciência corporal”, “graduação”, “formação”, “expressão corporal”, “experimentação corporal”. Os descritores e palavras-chave foram combinados utilizando o operador booleano “and”, e cada termo foi utilizado sem aspas e com aspas (para recuperar o termo exato1 1 Durante o teste de sensibilidade nas bases de dados foi possível constatar algumas inconsistências nos resultados de busca, que provavelmente podem ser atribuídas ao potencial de recursos das bases. Para garantir maior confiabilidade nos resultados, foram testadas diversas possibilidades gráficas e de recursos booleanos de busca. ). As palavras acentuadas e escritas com “ç” foram utilizadas na busca também sem acentuação, e utilizando a letra “c”, pois a escrita poderia influenciar na recuperação dos artigos. Esses termos foram escolhidos porque estavam em conformidade com o tema proposto, e também porque foram localizados nas referências bibliográficas utilizadas para delimitar este tema de pesquisa. A princípio, não foi delimitado período/ano de publicação.

O teste de sensibilidade nas bases de dados retornou 1142 resultados e foi registrado em tabela do programa Excel®. Este resultado inicial foi analisado por meio da leitura dos títulos, e constatou-se que as combinações “Terapia Ocupacional AND corpo”; “Terapia Ocupacional AND formação”, “Terapia Ocupacional AND arte” e “Terapia Ocupacional AND graduação” retornaram a maior parte dos estudos que poderiam compor a amostra deste trabalho. Mesmo assim, optou-se por manter os descritores e termos livres utilizados no teste de sensibilidade, para que se encontrasse o maior número possível de publicações relativas ao tema desta pesquisa.

Assim, para a busca dos estudos que comporiam a amostra, foram realizadas as seguintes combinações: “Terapia Ocupacional AND corpo”; “Terapia Ocupacional AND formação”; “Terapia Ocupacional AND arte”; “Terapia Ocupacional AND dança”; “Terapia Ocupacional AND música”, “Terapia Ocupacional AND expressão corporal”; “Terapia Ocupacional AND experimentação”; “experimentações corporais AND formação”; “Terapia Ocupacional AND graduação”, “Terapia Ocupacional AND abordagem corporal”, “Terapia Ocupacional AND abordagens corporais”, “Terapia Ocupacional AND consciência corporal”.

Em relação às bases de dados, outra estratégia se mostrou necessária: após a identificação de publicações acerca da temática desta pesquisa em periódicos não específicos de terapia ocupacional, ampliou-se a busca para as bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO), mantendo-se os periódicos específicos de terapia ocupacional.

A pesquisa retornou 1741 resultados, sendo 107 estudos da SciELO, 224 estudos dos Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 880 estudos da Revista de Terapia Ocupacional da USP, 492 estudos da LILACS2 2 Os periódicos Rev. Ter. Ocup. USP e Cad.Bras.Ter.Ocup. estão indexados na base de dados LILACS, e o resultado de busca nesta base deveria ser, no mínimo, a soma dos resultados da revista da USP e dos Cadernos – ou seja, 1104. No entanto, o número de 492 registros encontrados na LILACS foi menor. Assim, justificou-se mais uma vez a inclusão da busca na base LILACS com o objetivo de encontrar publicações que não fossem somente dos periódicos de terapia ocupacional. , 32 estudos da Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional e 6 estudos da Revista Baiana de Terapia Ocupacional.

Com base nesse total de registros foram realizadas as seguintes etapas:

1ª etapa: Por meio da leitura do título, realizada diretamente nos resultados obtidos nas bases de dados, foram selecionadas as publicações que faziam referência ao uso de experimentação corporal na formação graduada de terapeutas ocupacionais, fosse por meio do relato de atividades corporais, como a dança, música, expressões artísticas ou outros, ou descrevendo a existência de disciplinas ou laboratórios sobre expressão corporal nos cursos de graduação. Nesta mesma etapa, e pelo mesmo processo de leitura do título diretamente nas bases de dados, foram excluídos estudos que tratavam das abordagens corporais em intervenções de terapeutas ocupacionais (sem citar a vivência durante a formação). Nesta etapa, também foi possível excluir os registros repetidos. Ao fim desta etapa, restaram 37 publicações.

2ª etapa: Por meio da leitura do título e dos resumos, foram selecionadas as publicações que tratavam da temática desta pesquisa. Nesta etapa, foram excluídas publicações que não fossem artigos, como capítulos de livros, teses e anais de congressos. Este processo resultou em 24 publicações.

3ª etapa: Os 24 artigos pré-selecionados foram organizados em uma tabela, no programa Excel®, construída com o intuito de listar os estudos que seriam lidos na íntegra. Mediante a leitura integral das publicações, ainda se fez necessário aplicar os seguintes critérios de exclusão: 1 – foram excluídos os estudos que tinham foco em experimentação corporal como intervenção clínica; 2 – foram excluídos os estudos que discutiam o uso de outros recursos na formação – como atividades de pintura, por exemplo – que não envolviam práticas corporais; 3 – foram excluídos estudos que relatavam experimentações corporais em outros espaços formativos que não fosse a graduação. Ao final, 8 estudos foram selecionados (Tabela 1).

Tabela 1
Prisma Model (Moher et al., 2009Moher, D., Liberati, A., Tetzlaff, J., & Altman, D. G. (2009). Preferred reporting items for systematic reviews and meta-analyses: the PRISMA statement. PLoS Medicine, 6(7), e1000097.).

Para o tratamento dos dados, fez-se necessária a utilização de um instrumento capaz de assegurar a organização dos dados relevantes dos artigos selecionados, servindo como registro. Para o presente estudo, o tratamento dos dados se deu por meio da composição da matriz de análise, organizada em planilha do programa Excel®, na qual se registrou todos os dados considerados relevantes dos artigos selecionados para atender ao objetivo da revisão. A matriz de análise consiste em uma ferramenta em que são organizados os dados extraídos dos artigos. A matriz deve conter informações que permita uma visão geral dos dados (Botelho et al., 2011Botelho, L. L. R., Cunha, C. C., & Macedo, M. (2011). O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gestão e Sociedade, 5(11), 121-136.).

A matriz de síntese objetiva proteger o pesquisador de erros durante a análise. Ela se constitui como marco inicial para auxiliar os investigadores no foco de suas pesquisas. A matriz pode conter informações verbais, conotações, resumos de texto, extratos de notas, memorandos, respostas padronizadas, e, em geral, dispor de dados integrados em torno de um ponto ou temas de pesquisa. Em suma, a matriz deve conter informações sobre aspectos da investigação e permitir que o pesquisador tenha uma visão geral de dados relacionados a um desempenho de certos pontos (Klopper et al., 2007 apud Botelho et al., 2011Botelho, L. L. R., Cunha, C. C., & Macedo, M. (2011). O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gestão e Sociedade, 5(11), 121-136., p. 131).

A matriz contribui para a interpretação e construção da redação da revisão integrativa. Para isso, é necessária a criação de categorias analíticas que facilitem a organização de cada estudo, podendo ser realizada de forma descritiva, na qual os dados mais relevantes são indicados (Botelho et al., 2011Botelho, L. L. R., Cunha, C. C., & Macedo, M. (2011). O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gestão e Sociedade, 5(11), 121-136.). Outro objetivo da matriz é facilitar a análise desses dados, proporcionando elementos para a discussão e apontamento de possíveis lacunas em relação ao tema e à pergunta norteadora (Botelho et al., 2011Botelho, L. L. R., Cunha, C. C., & Macedo, M. (2011). O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gestão e Sociedade, 5(11), 121-136.).

Para o presente estudo, na matriz de análise foram utilizadas as seguintes categorias para extração de dados: autor(es); título; nome do periódico ou revista científica; ano de publicação; autores; filiação institucional à época da publicação; objetivo do estudo expresso no artigo; metodologia/ procedimentos metodológicos; e modalidades de experimentação corporal na formação.

3 Resultados

3.1 Perfil da amostra

Dos 8 artigos selecionados, 4 foram publicados na Revista de Terapia Ocupacional da USP (Castro, 2000Castro, E. D. (2000). Arte, corpo e terapia ocupacional: aproximações, intersecções e desdobramentos. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 11(1), 7-12.; Castro et al., 2009Castro, E. D., Inforsato, E. A., Angeli, A. D. A. C. D., & Lima, E. M. F. A. (2009). Formação em terapia ocupacional na interface das artes e da saúde: a experiência do PACTO. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 149-156.; Silva & Gregorutti, 2014Silva, C. R., & Von Poellnitz, J. C. (2015). Atividades na formação do terapeuta ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(1), 74-82.; Silva & Von Poellnitz, 2015Silva, L. F. R., Cipullo, M. A. T., Imbrizi, J. M., & Liberman, F. (2014). Oficinas de música e corpo como dispositivo na formação do profissional de saúde. Trabalho, Educação e Saúde, 12(1), 189-203.); 2 são dos Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar (Liberman et al., 2011Liberman, F., Samea, M., & Rosa, S. (2011). Laboratório de atividades expressivas na formação do terapeuta ocupacional. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 19(1), 81-92.; Borba et al., 2018Borba, P. L. O., Savani, A. C. C., Sousa, P. G. F., Medeiros, V. H. R., & Jurdi, A. P. S. (2018). Espaços de experimentação: potência do encontro, do fazer e a ampliação do repertório de atividades. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 26(1), 219-224.), e 2 foram publicados no periódico Fractal: Revista de Psicologia (Inforsato et al., 2017Inforsato, E. A., Castro, E. D., Buelau, R. M., Valent, I. U., Silva, C. M., & Lima, E. M. F. A. (2017). Arte, corpo, saúde e cultura num território de fazer junto. Fractal: Revista de Psicología, 29(2), 110-117. http://dx.doi.org/10.22409/1984-0292/v29i2/2160.
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; Liberman et al., 2017Liberman, F., Lima, E. M. F. A., Maximino,V. S., & Carvalho, Y. M. (2017). Práticas corporais e artísticas, aprendizagem inventiva e cuidado de si. Fractal. Revista de Psicología, 29(2), 118-126. http://dx.doi.org/10.22409/1984-0292/v29i2/2163.
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). Os três periódicos são publicados por instituições localizadas na região sudeste do Brasil.

Os artigos foram publicados entre os anos 2000 e 2018, sendo escritos por 21 autores. Duas destas autoras publicaram três artigos cada (Lima e Castro), duas outras autoras publicaram dois artigos (Inforsato e Liberman); e os outros autores publicaram um artigo cada um deles (Tabela 2).

Tabela 2
Perfil Geral da Amostra.

Considerando a filiação institucional dos autores à época das publicações, oito estavam filiados à Universidade de São Paulo – USP; seis à Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP; dois à Universidade Estadual Paulista – UNESP; dois à Universidade Federal de São Carlos – UFSCar; um à Universidade de Sorocaba – UNISO; outro ao Centro Universitário São Camilo; e outro ao Instituto “A casa”. USP, UNIFESP, UNESP e UFSCar são instituições públicas de ensino superior; a UNISO e Centro Universitário São Camilo são instituições privadas de ensino superior; e a última instituição é um serviço privado de assistência em saúde mental, que também realiza pesquisa e atua na formação de profissionais. Todas essas instituições estão localizadas na região sudeste.

Os objetivos de cada publicação foram analisados segundo o objetivo do estudo expresso pelos autores dos artigos. Somente um deles declarou como objetivo principal a reflexão sobre o processo de ensino-aprendizagem de abordagens corporais pelos discentes de terapia ocupacional. Nas outras publicações, os objetivos dos estudos envolviam essa discussão, mas nem sempre como tema central. Como exemplo, no artigo de Inforsato et al. (2017)Inforsato, E. A., Castro, E. D., Buelau, R. M., Valent, I. U., Silva, C. M., & Lima, E. M. F. A. (2017). Arte, corpo, saúde e cultura num território de fazer junto. Fractal: Revista de Psicología, 29(2), 110-117. http://dx.doi.org/10.22409/1984-0292/v29i2/2160.
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, o objetivo do estudo foi apresentar as reflexões acerca da formação de estudantes de terapia ocupacional por meio do desenvolvimento de atividades que envolviam o corpo e a arte. Reflexão semelhante encontra-se no artigo de Castro et al. (2009)Castro, E. D., Inforsato, E. A., Angeli, A. D. A. C. D., & Lima, E. M. F. A. (2009). Formação em terapia ocupacional na interface das artes e da saúde: a experiência do PACTO. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 149-156., que aborda o mesmo projeto. No estudo de Silva & Von Poellnitz (2015)Silva, L. F. R., Cipullo, M. A. T., Imbrizi, J. M., & Liberman, F. (2014). Oficinas de música e corpo como dispositivo na formação do profissional de saúde. Trabalho, Educação e Saúde, 12(1), 189-203., o objetivo foi mapear as atividades e recursos utilizados nos cursos de terapia ocupacional do Estado de São Paulo, que acabaram por incluir as abordagens corporais. Assim, nestes, e nos outros artigos inclusos da amostra, as abordagens corporais apareceram no contexto da discussão do uso de atividades expressivas e/ou artísticas durante o processo de formação.

Em relação à metodologia ou procedimentos metodológicos, dois dos artigos inclusos na amostra são resultantes de pesquisa, envolvendo pessoas como sujeitos de pesquisa, e foram submetidos a comitê de ética; e outros cinco são relatos de experiência.

Dos artigos resultantes de pesquisa, em um deles os sujeitos de pesquisa foram os discentes (Silva & Gregorutti, 2014Silva, C. R., & Von Poellnitz, J. C. (2015). Atividades na formação do terapeuta ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(1), 74-82.), e no outro a pesquisa foi realizada com os coordenadores e docentes de cursos de graduação em terapia ocupacional (Silva & Von Poellnitz, 2015Silva, L. F. R., Cipullo, M. A. T., Imbrizi, J. M., & Liberman, F. (2014). Oficinas de música e corpo como dispositivo na formação do profissional de saúde. Trabalho, Educação e Saúde, 12(1), 189-203.). Os procedimentos metodológicos utilizados em ambas as pesquisas podem ser visualizados na Tabela 3.

Tabela 3
Objetivos, metodologia e modalidades de experimentações corporais.

Dentre os seis artigos que apresentam relatos de experiência, Castro (2000)Castro, E. D. (2000). Arte, corpo e terapia ocupacional: aproximações, intersecções e desdobramentos. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 11(1), 7-12. apresentou um artigo resultante de trabalho apresentado em um congresso; Castro et al. (2009)Castro, E. D., Inforsato, E. A., Angeli, A. D. A. C. D., & Lima, E. M. F. A. (2009). Formação em terapia ocupacional na interface das artes e da saúde: a experiência do PACTO. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 149-156. norteou o relato da experiência na metodologia de trabalho do projeto descrito no artigo; Liberman et al. (2011)Liberman, F., Samea, M., & Rosa, S. (2011). Laboratório de atividades expressivas na formação do terapeuta ocupacional. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 19(1), 81-92. apresentaram o relato de experiência sem descrever uma metodologia específica; Inforsato et al. (2017)Inforsato, E. A., Castro, E. D., Buelau, R. M., Valent, I. U., Silva, C. M., & Lima, E. M. F. A. (2017). Arte, corpo, saúde e cultura num território de fazer junto. Fractal: Revista de Psicología, 29(2), 110-117. http://dx.doi.org/10.22409/1984-0292/v29i2/2160.
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utilizaram uma perspectiva “ético-estético-política” para apresentar o projeto de formação dos alunos; Liberman et al. (2017)Liberman, F., Lima, E. M. F. A., Maximino,V. S., & Carvalho, Y. M. (2017). Práticas corporais e artísticas, aprendizagem inventiva e cuidado de si. Fractal. Revista de Psicología, 29(2), 118-126. http://dx.doi.org/10.22409/1984-0292/v29i2/2163.
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procederam ao relato de experiência por meio do método da cartografia; Borba et al. (2018)Borba, P. L. O., Savani, A. C. C., Sousa, P. G. F., Medeiros, V. H. R., & Jurdi, A. P. S. (2018). Espaços de experimentação: potência do encontro, do fazer e a ampliação do repertório de atividades. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 26(1), 219-224. mencionaram os procedimentos que foram conduzidos juntos aos monitores, que foram a elaboração de relatórios das oficinas e as supervisões.

Quanto às modalidades de experimentações corporais presentes nos artigos, foram citadas/relatadas: abordagens corporais (4 artigos); artes do corpo (1 artigo); práticas corporais (2 artigos); técnicas corporais (1 artigo); atividades de expressão corporal (4 artigos); atividades expressivas (2 artigos); teatro (3 artigos); dança (6 artigos); vivências com música (3 artigos); jogos e brincadeiras infantis (1 artigo); jogos cooperativos (1 artigo); massagem (1 artigo) e atividades artísticas (2 artigos) (Tabela3).

Em relação ao público-alvo das experimentações corporais presentes nos artigos: 4 artigos relatam experimentações corporais voltadas aos discentes de terapia ocupacional na graduação; 1 relata sobre o uso das experimentações tanto para discentes quanto para profissionais de terapia ocupacional; 2 relatam experimentações corporais voltadas para os discentes e para a população atendida nos projetos que apresentam atividades corporais como método de intervenção e 1 artigo relata experimentações corporais voltadas a discentes de diversos cursos da área da saúde, entre eles a terapia ocupacional.

Em relação à oferta das experimentações corporais na graduação: 4 artigos citam disciplinas que apresentam as experimentações como recurso metodológico (Terapia ocupacional e as práticas corporais I, II e III; Recursos terapêuticos e abordagens corporais em terapia ocupacional; Atividades expressivas e Recursos Terapêuticos (AERT); Disciplina de Expressão corporal; Saúde e corpo; Atividades e recursos terapêuticos: processos criativos; 3 citam projetos em laboratórios (Laboratório de expressão corporal; Laboratório de abordagens corporais; Laboratório de Atividades de expressão corporal; Laboratório de Estudos e pesquisa Arte, corpo e terapia ocupacional) e 1 cita um programa de monitoria voltado para disciplinas que discutem uso de recursos terapêuticos (Projeto de monitoria Atividade em foco).

Para complementar a exposição dos resultados, será apresentado um breve resumo de cada artigo que compõe a amostra deste estudo.

Castro (2000)Castro, E. D. (2000). Arte, corpo e terapia ocupacional: aproximações, intersecções e desdobramentos. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 11(1), 7-12., no artigo “Arte, corpo e terapia ocupacional: aproximação, intersecções e desdobramentos”, argumenta sobre a importância da arte e do corpo para a criação de novas práticas assistenciais no contexto da antipsiquiatria, desinstitucionalização psiquiátrica e luta pelos direitos das pessoas com deficiência. Aponta para a importância da percepção do corpo na detecção das necessidades reais dos sujeitos, considerando a unidade psicofísica do indivíduo, e rompendo com a concepção na qual o discurso racional seria preponderante. A discussão sobre corpo se insere no contexto da discussão da arte, e ambos seriam considerados linguagens confluentes, e que poderiam proporcionar conexões entre os sujeitos e suas necessidades concretas cotidianas. O referencial teórico apresentado no artigo se relaciona principalmente ao campo da arte e da criatividade, como Carl Jung e Nise da Silveira. A autora relata as experiências do laboratório de Arte, Corpo e Terapia Ocupacional, no qual se propõe a trabalhar, por meio de ações de ensino, pesquisa e extensão, fazendo uso de atividades corporais e artísticas, proporcionando percursos formativos para os terapeutas ocupacionais, inclusive graduandos. Segundo a autora, o terapeuta deve estar atento a seus processos corporais e vivenciar as atividades de forma a significar sua ação profissional, sendo estes elementos essenciais à formação do profissional.

Castro et al. (2009)Castro, E. D., Inforsato, E. A., Angeli, A. D. A. C. D., & Lima, E. M. F. A. (2009). Formação em terapia ocupacional na interface das artes e da saúde: a experiência do PACTO. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 149-156. relatou a experiência do Laboratório de estudos e pesquisa Arte, Corpo e Terapia Ocupacional por meio das ações do Programa Permanente Composições Artísticas e Terapia Ocupacional (PACTO). O programa tem o objetivo de possibilitar ao estudante o contato com diversas linguagens artísticas, inserção no território cultural e dos serviços de saúde, visando a compreender as demandas da população atendida. Segundo os autores, o laboratório oferece abordagens corporais, como dança e teatro, e os estudantes que vivenciam essas práticas são habilitados para compreender as abordagens da terapia ocupacional em cenários de saúde e cultura. O corpo foi referenciado no contexto das artes, ou especificamente como “artes do corpo”. Além das experimentações vivenciadas pelos alunos, o processo de formação incluiu atividades de um grupo de estudos, por meio do qual foi apresentado o arcabouço teórico de sustentação das práticas assistenciais desenvolvidas no projeto. Esse referencial teórico se relacionou principalmente à contextualização histórico-conceitual do uso das atividades artísticas no campo da saúde, situando a discussão sobre corpo no contexto da arte e saúde, como dispositivo clínico-artístico-cultural. A dança, o coral e o teatro, por exemplo, são apontados como linguagens artísticas e como caminhos possíveis de expressão junto às populações atendidas no projeto.

Inforsato et al. (2017)Inforsato, E. A., Castro, E. D., Buelau, R. M., Valent, I. U., Silva, C. M., & Lima, E. M. F. A. (2017). Arte, corpo, saúde e cultura num território de fazer junto. Fractal: Revista de Psicología, 29(2), 110-117. http://dx.doi.org/10.22409/1984-0292/v29i2/2160.
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relata experimentações em práticas corporais e artísticas no laboratório de Estudos e Pesquisa Arte, Corpo e Terapia Ocupacional. O projeto tem a “[...] proposta de formação de artistas e terapeutas ocupacionais em um território de interface entre as artes, o corpo, a saúde e a cultura” (Inforsato et al., 2017Inforsato, E. A., Castro, E. D., Buelau, R. M., Valent, I. U., Silva, C. M., & Lima, E. M. F. A. (2017). Arte, corpo, saúde e cultura num território de fazer junto. Fractal: Revista de Psicología, 29(2), 110-117. http://dx.doi.org/10.22409/1984-0292/v29i2/2160.
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, p. 110). No cotidiano dessa experiência, são oferecidas atividades artísticas e experimentações corporais com ações interdisciplinares articuladas ao território. Os autores apontam que esta modalidade de formação prepara terapeutas ocupacionais para atuar de forma interdisciplinar, ao investir em conteúdos transversais à formação. Nesta publicação, assim como no estudo de Castro et al. (2009)Castro, E. D., Inforsato, E. A., Angeli, A. D. A. C. D., & Lima, E. M. F. A. (2009). Formação em terapia ocupacional na interface das artes e da saúde: a experiência do PACTO. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 149-156., o corpo, a corporeidade e as artes do corpo são relacionadas às artes, às expressões artísticas e são fundamentadas como experimento estético-clínico com base em relações com a filosofia, a psicologia e a sociologia.

Liberman et al. (2011)Liberman, F., Samea, M., & Rosa, S. (2011). Laboratório de atividades expressivas na formação do terapeuta ocupacional. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 19(1), 81-92. relatam a experiência da disciplina Atividades expressivas e Recursos Terapêuticos (AERT), que tem o objetivo de criar um campo de experimentação e reflexão, e articular a experiência do aluno no laboratório com atuações da terapia ocupacional. Na disciplina, o foco são vivências com música, dança, teatro, abordagens corporais, jogos e brincadeiras infantis e os jogos cooperativos. O artigo discute que aprender a observar e lidar com o outro e conseguir compreender os efeitos que emergem de cada contato são requisitos para tornar-se terapeuta. O tema corpo na formação favorece a construção do conhecimento, uma vez que o corpo se apresenta como indicador das necessidades do outro (Liberman et al., 2011Liberman, F., Samea, M., & Rosa, S. (2011). Laboratório de atividades expressivas na formação do terapeuta ocupacional. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 19(1), 81-92.). As abordagens corporais são apresentadas como referenciadas em campos conceituais “[...] do corpo, das artes, da psicologia, da filosofia e também do conhecimento e prática de algumas técnicas de abordagens corporais, de dinâmicas de grupo [...]” (Liberman et al., 2011Liberman, F., Samea, M., & Rosa, S. (2011). Laboratório de atividades expressivas na formação do terapeuta ocupacional. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 19(1), 81-92., p. 90), sem necessariamente apresentar quais são os autores de referência.

O estudo de Liberman et al. (2017)Liberman, F., Lima, E. M. F. A., Maximino,V. S., & Carvalho, Y. M. (2017). Práticas corporais e artísticas, aprendizagem inventiva e cuidado de si. Fractal. Revista de Psicología, 29(2), 118-126. http://dx.doi.org/10.22409/1984-0292/v29i2/2163.
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discute a oferta da disciplina Saúde e corpo, que tem o objetivo de propor aos estudantes diferentes experimentações com as práticas corporais e estéticas, e da disciplina Atividades e Recursos Terapêuticos: Processos Criativos, que objetiva criar um campo de experimentação visando à produção de conhecimento e espaço para encontros e trocas. As autoras afirmam que a imersão em processos de criação estimula os estudantes a refletirem sobre si mesmos e sobre o trabalho, com o objetivo de inserir na formação o exercício de preparação para a compreensão e o cuidado com o outro. No processo de formação, relaciona-se a atuação em comunidades, em serviços de saúde e espaços de produção artística, e envolvem a dança, a música, as artes e a escrita, sendo que os processos de intervenção são balizados no método cartográfico.

O estudo de Borba et al. (2018)Borba, P. L. O., Savani, A. C. C., Sousa, P. G. F., Medeiros, V. H. R., & Jurdi, A. P. S. (2018). Espaços de experimentação: potência do encontro, do fazer e a ampliação do repertório de atividades. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 26(1), 219-224. apresenta o projeto de monitoria nas disciplinas Atividades de Vida Diária: cotidiano; Atividades expressivas e não expressivas; Atividades lúdicas e lazer; Tecnologia assistiva e Abordagem grupal, com o objetivo de ampliar o contato do aluno com a experimentação prática de técnicas e recursos (como massagem, dança e expressão corporal), além de facilitar a integração de conteúdo disponibilizado ao aluno durante sua formação. O artigo aponta que, durante o programa de monitoria, os discentes monitores coordenaram as oficinas com vistas a compartilhar seus saberes específicos em determinados recursos e/ou técnicas. Isso propiciou uma troca interessante entre os alunos, monitores, oficineiros e docentes. Os autores apontam que a possibilidade de coordenar oficinas é muito pertinente à formação, uma vez que terapeutas ocupacionais frequentemente ocupam o papel de coordenadores de grupos em sua prática.

A disciplina de Expressão Corporal, descrita por Silva & Gregorutti (2014Silva, C. R., & Von Poellnitz, J. C. (2015). Atividades na formação do terapeuta ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(1), 74-82., p. 137), teve o objetivo de

[...] promover a apreensão de fundamentos sobre corporalidade, experimentação da consciência corporal, a expressão, elaboração e compreensão de conteúdos internos e da reflexão sobre si e o corpo do outro.

As autoras entendem que é relevante que o estudante se conecte consigo mesmo e reflita sobre o outro, que é sujeito dos cuidados, por meio de técnicas e vivências corporais (atividades expressivas, técnicas corporais, música, dança). O artigo ressalta que o processo de ensino-aprendizagem das abordagens corporais durante a formação do terapeuta ocupacional se apresenta com o objetivo de formar profissionais comprometidos, capacitados para identificar as reais demandas do cliente.

Silva & Von Poellnitz (2015)Silva, L. F. R., Cipullo, M. A. T., Imbrizi, J. M., & Liberman, F. (2014). Oficinas de música e corpo como dispositivo na formação do profissional de saúde. Trabalho, Educação e Saúde, 12(1), 189-203., ao analisarem as propostas de ensino de atividades e recursos nos cursos de terapia ocupacional de Instituições de Ensino Superior públicas do Estado de São Paulo, identificaram na grade curricular as seguintes disciplinas: Atividades e Recursos Terapêuticos: processos criativos; Terapia ocupacional e as práticas corporais I, II e III; Atividades e Recursos Terapêuticos de comunicação e expressão; Recursos terapêuticos e abordagens corporais em terapia ocupacional; Laboratório de expressão corporal; Laboratório de abordagens corporais; Laboratório de Atividades de expressão corporal. Neste estudo, foi possível identificar diferenças nos currículos ofertados, mas há um consenso entre os coordenadores entrevistados quanto à importância da vivência de atividades na formação.

4 Discussão

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) dos cursos de graduação em terapia ocupacional foram publicadas em 2002 pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), tornando-se o elemento norteador da formação profissional no Brasil (Drummond & Magalhães, 2001Drummond, A. F., & Magalhães, L. C. (2001). Tendências da formação do terapeuta ocupacional no Brasil. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 12(1-3), 34-39.). O artigo 5º das diretrizes dispõe que a formação do terapeuta ocupacional tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos necessários para o exercício de algumas competências e habilidades específicas, dentre elas

XXIV - consciência das próprias potencialidades e limitações, adaptabilidade e flexibilidade, equilíbrio emocional, empatia, criticidade, autonomia intelectual e exercício da comunicação verbal e não verbal;

XXVI - conhecer, experimentar, analisar, utilizar e avaliar a estrutura e dinâmica das atividades e trabalho humano, tais como: atividades artesanais, artísticas, corporais, lúdicas, lazer, cotidianas, sociais e culturais (Brasil, 2002Brasil. (2002, 19 de fevereiro). Resolução nº 6, de 19 de fevereiro de 2002. Diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em terapia ocupacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília. Recuperado em 10 de novembro de 2018, de http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/ CES062002.pdf
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).

Ainda no documento das DCNs há menção às atividades lúdicas, artísticas e corporais, que deveriam ser contempladas na formação como recurso para desenvolver habilidades e capacidades no futuro profissional, o que vai ao encontro com as discussões constantes nos estudos encontrados nesta revisão. Nos períodos anterior e posterior às DCNs, evidenciam-se os esforços da terapia ocupacional em aprofundar e direcionar o debate sobre a formação e atuação profissional com foco nas atividades, ocupações e cotidiano, procurando deixar de ter o modelo biomédico como central na formação graduada e para as intervenções (Cardinalli & Silva, 2018Cardinalli, I., & Silva, C. R. (2018). Formação e compreensão dos fundamentos da profissão na graduação em terapia ocupacional. In R. Silva, P. Bianchi & D. Calheiros (Eds.), Formação em terapia ocupacional no Brasil: pesquisas e experiências no âmbito da graduação e pós-graduação (pp. 57-74). São Paulo: FiloCzar.). Nesta direção, ressalta-se que as publicações inclusas neste estudo datam dos anos 2000 até o período atual, coincidentes com a publicação das DCNs, e mostram os múltiplos caminhos que foram construídos em relação ao uso de abordagens corporais, tanto artísticas quanto aquelas que objetivam promover a consciência corporal e subjetiva. Nos estudos inclusos nesta pesquisa, destaca-se a diversidade das modalidades das abordagens corporais, bem como das perspectivas teóricas.

Por um lado, podemos levantar a hipótese de que a terapia ocupacional tenha se influenciado pela entrada das terapias corporais no Brasil. Russo (1994Russo, J. (1994). Terapeutas corporais no Rio de Janeiro: relações entre trajetória social e ideário terapêutico. In P. C. Alves & M. C. S. Minayo (Eds.), Saúde e doença: um olhar antropológico (pp. 167-174). Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ. Recuperado em 22 de dezembro de 2018, de http://books.scielo.org/id/tdj4g/pdf/alves-9788575412763-14.pdf
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, 2002Russo, J. (2002). O mundo psi no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar.), ao analisar a difusão das terapias corporais no Brasil, aponta a década de 1980 como o período de intensa difusão destas abordagens. Destaca que este movimento se constituiu em contraposição à psicanálise, procurando superar as cisões entre mente e corpo. As abordagens propostas por Wilhelm Reich, a bioenergética de Alexandre Lowen, a biodinâmica de Gerda Boyesen, ou a biossíntese de David Boadella passaram por ampla divulgação por meio de cursos, seminários e workshops, que resultaram também na criação de grupos de estudos e institutos específicos para formação em terapias corporais. Nestas perspectivas de abordagem do sujeito e do corpo, objetivava-se integrar os conhecimentos do campo psi aos conhecimentos das ciências biológicas e, ou biomédicas. Principalmente no trabalho de Liberman, no artigo “O corpo como pulso”, a autora faz referência a Keleman (1992 apud Liberman, 2010Liberman, F. (2010). O corpo como pulso. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, 14(33), 449-460.) que propunha uma abordagem do corpo com base na anatomia emocional.

De outro lado, no movimento da reforma psiquiátrica brasileira ocorreu intenso movimento de criação e fomento das abordagens que não fossem exclusivamente biomédicas, permitindo a experimentação de recursos artísticos e de expressão corporal como meio de intervenção terapêutica, promoção de inserção social e construção de cidadania (Pitta, 1996Pitta, A. M. F. (1996). Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec.). Castro et al. (2009)Castro, E. D., Inforsato, E. A., Angeli, A. D. A. C. D., & Lima, E. M. F. A. (2009). Formação em terapia ocupacional na interface das artes e da saúde: a experiência do PACTO. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 149-156., em um dos artigos selecionados nesta pesquisa, abordou a necessidade de se ampliar as estratégias de intervenção frente ao movimento da reforma psiquiátrica. Essa interlocução entre as artes do corpo e a terapia ocupacional se mostra dentre alguns dos estudos inclusos nesta pesquisa.

Mesmo assim, concordamos com Bianchi & Malfitano (2018)Bianchi, P., & Malfitano, A. (2018). Retratos da formação graduada em terapia ocupacional: avanços e desafios para o atual panorama latino-americano. In R. Silva, P. Bianchi & D. Calheiros (Eds.), Formação em terapia ocupacional no Brasil: pesquisas e experiências no âmbito da graduação e pós-graduação (pp. 33-56). São Paulo: FiloCzar. que apontam que a formação em terapia ocupacional apresenta forte influência do campo biológico e da saúde, denotando lacunas na área social e humana. Nesta perspectiva, Liberman (1997)Liberman, F. (1997). O corpo como produção da subjetividade. Cadernos de Subjetividade, 5(2), 371-383. discute que a forma como o corpo é visto e vivenciado o limita a algumas ações, não priorizando a criatividade e as possibilidades inventivas. Ao incorporar as experimentações corporais à formação – como música, teatro e dança em terapia ocupacional –, os docentes apresentam uma possibilidade para a mudança de percepção do corpo por parte dos estudantes (Liberman, 2002Liberman, F. (2002). Trabalho corporal, música, teatro e dança em terapia ocupacional: clínica e formação. Cadernos Centro Universitário São Camilo, 8(3), 39-43.).

A maior parte dos estudos (n=6) foi publicada nos principais periódicos nacionais de terapia ocupacional, enquanto dois dos artigos foram publicados em periódico de outra área do conhecimento. Folha et al. (2017)Folha, O. A. A. C., Cruz, D. M. C., & Emmel, M. L. G. (2017). Mapeamento de artigos publicados por terapeutas ocupacionais brasileiros em periódicos indexados em bases de dados. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 28(3), 358-367. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v28i3p358-367.
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apontam que a formação pós-graduada de terapeutas ocupacionais no Brasil se deu em aproximação com outras áreas, como psicologia, educação e sociologia, o que é ressaltado na formação dos autores dos estudos. Além disso, os artigos que não foram publicados em revistas de terapia ocupacional apresentam duas co-autoras que não são terapeutas ocupacionais, devido ao caráter interdisciplinar do projeto descrito nos estudos, o que pode ter influenciado na escolha do periódico para publicação.

É importante destacar que os estudos foram realizados, em sua maioria, por terapeutas ocupacionais doutores filiados a universidades do estado de São Paulo (principalmente USP e UNIFESP). Esse resultado é congruente com o estudo de Vasconcelos et al. (2014)Vasconcelos, A. C. C. G., Rodrigues, J. P. P., Rodrigues, E. C., & Vasconcelos, D. F. P. (2014). Perfil do pesquisador terapeuta ocupacional brasileiro. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 22(2), 391-397., que aponta que 81,4% dos terapeutas ocupacionais doutores distribuem-se na região Sudeste do Brasil. Do mesmo modo, Lopes et al. (2010)Lopes, R. E., Malfitano, A. P. S., Oliver, F. C., Sfair, S. C., & Medeiros, T. J. (2010). Pesquisa em terapia ocupacional: apontamentos acerca dos caminhos acadêmicos no cenário nacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 21(3), 207-214. mostram que há expressiva concentração dos grupos de pesquisa em terapia ocupacional nesta região, onde se concentra, igualmente, os cursos de graduação, mestrado e doutorado de todas as áreas do conhecimento no país (Vasconcelos et al., 2014Vasconcelos, A. C. C. G., Rodrigues, J. P. P., Rodrigues, E. C., & Vasconcelos, D. F. P. (2014). Perfil do pesquisador terapeuta ocupacional brasileiro. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 22(2), 391-397.). Esses dados mostram “[...] a necessidade de se ampliar o número de pesquisadores nas demais regiões para que se possa vislumbrar o crescimento científico da terapia ocupacional em todo o país” (Lopes et al., 2010Lopes, R. E., Malfitano, A. P. S., Oliver, F. C., Sfair, S. C., & Medeiros, T. J. (2010). Pesquisa em terapia ocupacional: apontamentos acerca dos caminhos acadêmicos no cenário nacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 21(3), 207-214., p. 211).

Entretanto, mesmo identificando que a maioria dos autores está alocada em Universidades, os artigos incluídos neste estudo são, em sua maioria, relatos de experiência. Além disso, o contexto em que as experimentações corporais estão inseridas – ou seja, na graduação – está concentrado principalmente em disciplinas optativas, laboratórios e programas voltados à população atendida. Isto demonstra que o envolvimento na temática depende do percurso acadêmico e interesse do discente, bem como do percurso do docente, ao considerar as experimentações corporais como recurso que deve ser incorporado à formação.

Cyrino & Toralles-Pereira (2004)Cyrino, E. G., & Toralles-Pereira, M. L. (2004). Trabalhando com estratégias de ensino-aprendizado por descoberta na área da saúde: a problematização e a aprendizagem baseada em problemas. Cadernos de Saúde Pública, 20(3), 780-788. apontam que mudanças na educação de profissionais da saúde se fazem necessárias, visando a romper com os modelos tradicionais de ensino. Neste sentido, a formação em terapia ocupacional tem sido direcionada para um processo reflexivo, no qual o estudante questiona sua prática e constrói seu próprio conhecimento (Barba et al., 2012Barba, P. C. S. D., Silva, R. F., Joaquim, R. H. V. T., & Brito, C. M. D. (2012). Formação inovadora em terapia ocupacional. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, 16(42), 829-842.). Os resultados deste estudo mostram a tentativa de mudanças nessa perspectiva, ao considerar as experimentações corporais como recursos que permitem o compartilhamento de experiências. As disciplinas, projetos ou laboratórios que oportunizam vivências corporais durante a formação são importantes para permitir a construção profissional, considerando que cada aluno traz consigo um conteúdo único, que influenciará diretamente em sua formação e no terapeuta que ele se tornará.

Desta forma, Cruz & Campos (2004)Cruz, D. M. C., & Campos, I. O. (2004). A opinião de estudantes de terapia ocupacional sobre o processo de sua formação profissional. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 12(2), 105-114. buscaram analisar e relatar as concepções de um grupo de discentes em terapia ocupacional sobre o processo de formação. As experiências práticas e as oportunidades de reflexão sobre tornar-se terapeuta ocupacional são relatadas no estudo como fundamentais para os estudantes, que vivem conflitos e anseios na graduação, tanto em relação ao percurso acadêmico quanto aos desafios impostos ao lidar com as angústias do outro. Portanto, é possível analisar que os estudos apresentam uma forma de olhar a formação por uma nova perspectiva, na qual o estudante vivencia formas de aprendizagem que o instrumentaliza para pensar na prática clínica e direcionar sua construção profissional.

Em relação às modalidades de experimentações corporais presentes nos estudos da amostra, a dança foi citada na maioria dos artigos (n=7). Para Castro (1992)Castro, E. D. (1992). A dança, o trabalho corporal e a apropriação de si mesmo. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 3(1), 24-32., a dança é uma arte que contempla a gestualidade, a criatividade, a expressão e a movimentação, proporcionando o conhecimento de si por meio do corpo, o que justifica sua menção quando se trata de atividades que despertam a consciência corporal. Além disso, as experimentações corporais apareceram na literatura expressas por vários termos, o que demonstra que não há um termo único que defina essas técnicas.

Contudo, foi possível analisar nos estudos as diversas modalidades de experimentação e formatos com que a aprendizagem nesta perspectiva tem sido construída. O uso de experimentações corporais se apresenta nos estudos com propostas semelhantes, mas a forma como os cursos de terapia ocupacional tem incorporado essa prática na graduação está relacionada à avaliação, por parte dos docentes, da necessidade de reformulação do processo de aprendizagem.

5 Considerações Finais

As abordagens corporais, danças e artes são importantes ferramentas na prática profissional de terapeutas ocupacionais, em diferentes contextos (Liberman et al., 2018Liberman, F., Mecca, R. C., & Carneiro, F. S. (2018). Arte, corpo e terapia ocupacional: experimentações inventivas. Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, 8(1), 9-14.). Do mesmo modo, as experimentações corporais na formação graduada parecem contribuir de forma significativa para a compreensão em torno da profissão e do corpo como indicador da história do sujeito, produzindo discussões acerca de metodologias diferenciadas de ensino-aprendizagem, que beneficiem tanto os estudantes quanto o público atendido na terapia ocupacional.

Por meio deste estudo, foi possível identificar um movimento de incorporação das práticas de experimentação corporal nos cursos de graduação em terapia ocupacional nos últimos anos, uma vez que a temática do corpo como elemento de expressão tem sido contemplada na formação. A vivência de atividades que estimulem a consciência e a expressão do corpo durante a formação se apresenta como recurso para despertar nos discentes formas de se conectar com o outro, enquanto proporciona o conhecimento de seus próprios limites.

Os autores dos estudos citados, diante da necessidade de mudanças no formato em que a aprendizagem tem sido construída, propõem as experimentações corporais como recurso para formar profissionais mais atentos e abertos às necessidades do outro. Entretanto, ainda são necessários estudos que identifiquem de que forma os profissionais que vivenciaram as experimentações corporais na formação conduzem sua prática e sua relação com o cliente.

Contudo, é preciso destacar as limitações deste estudo, a fim de impulsionar futuros trabalhos acerca desta temática. O uso de artigos que apresentam informações apenas do cenário nacional e a diversidade de termos e conceitos utilizados para definir as experimentações corporais se apresentaram como fatores limitantes. Outra limitação se refere ao tamanho da amostra, a qual, ao se apresentar de forma reduzida, demonstra algumas restrições quanto à exploração e análise do tema, bem como a não inclusão de outros tipos de documento, como dissertações, anais de congresso e livros.

  • 1
    Durante o teste de sensibilidade nas bases de dados foi possível constatar algumas inconsistências nos resultados de busca, que provavelmente podem ser atribuídas ao potencial de recursos das bases. Para garantir maior confiabilidade nos resultados, foram testadas diversas possibilidades gráficas e de recursos booleanos de busca.
  • 2
    Os periódicos Rev. Ter. Ocup. USP e Cad.Bras.Ter.Ocup. estão indexados na base de dados LILACS, e o resultado de busca nesta base deveria ser, no mínimo, a soma dos resultados da revista da USP e dos Cadernos – ou seja, 1104. No entanto, o número de 492 registros encontrados na LILACS foi menor. Assim, justificou-se mais uma vez a inclusão da busca na base LILACS com o objetivo de encontrar publicações que não fossem somente dos periódicos de terapia ocupacional.
  • Como citar: Rodrigues, N. F. A., & Souza, R. G. M. (2020). As experimentações corporais nos processos formativos da graduação em terapia ocupacional: uma revisão na literatura brasileira. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional. Ahead of Print. https://doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAR1864

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2 Mar 2020
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2020

Histórico

  • Recebido
    31 Dez 2018
  • Revisado
    18 Mar 2019
  • Aceito
    09 Set 2019
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