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Filosofia Unisinos, Volume: 23, Número: 3, Publicado: 2022
  • O Ceticismo de David Hume na Leitura de Thomas Reid Artigo

    Freitas, Vinícius França

    Resumo em Português:

    RESUMO O artigo avança a hipótese de que, na leitura de Thomas Reid, o ceticismo de David Hume apresentado no Tratado da natureza humana não é devido apenas à sua adoção da ‘hipótese ideal’ - o princípio de que as ideias são objetos imediatos das operações da mente -, mas também deriva de outra fonte: a dúvida sobre a fiabilidade das faculdades mentais, em específico, dos sentidos, da memória e da razão. Ademais, argumenta-se que essa distinção entre duas raízes para o ceticismo humiano permite uma avaliação mais precisa da leitura reidiana de Hume e soluciona alguns equívocos interpretativos.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT The paper advances the hypothesis that, in Thomas Reid’s reading, David Hume’s skepticism of the Treatise on Human Nature is not solely due to his acceptance of the ‘ideal hypothesis’ - the principle according to which ideas are the immediate objects of the mental operations -, but it has another source, namely, that doubt on the reliability of the faculties of the senses, memory, and reason. Moreover, the paper argues that the suggested distinction between two roots for Hume’s skepticism allows a more exact view on Reid’s reading of Hume and solve some misinterpretations.
  • O tema da cultura: constrangimentos, afinação e informação Article

    Acosta, Josu

    Resumo em Português:

    RESUMO Os relatos naturalistas da cultura partilham o pressuposto de que a cultura não passa de informação nas mentes/cérebros das pessoas e no ambiente. No entanto, não fornecem nem uma definição nem uma teoria da informação. Abordo esta lacuna adotando uma teoria da informação chamada “Teoria da Situação” (Barwise e Perry, 1983). Defendo que as noções derestriçãoe desintoniapermitem explicar a informação cultural e, além disso, que a cultura é, a um nível fundamental, constituída por um conjunto de constrangimentos. São necessários constrangimentos para que a informação flua, e é necessário a sintonia com os constrangimentos para que um organismo explore essas informações culturais

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT Naturalistic accounts of culture share the assumption that culture is nothing more than information in people minds/brains and the environment. They do not provide, however, neither a definition nor a theory of information. I address this lacuna adopting a theory of information called “Situation Theory” (Barwise and Perry, 1983). I argue that the notions of constraint and attunement allow to account for cultural information, and, furthermore, that culture is, at a fundamental level, constituted by a set of constraints. Constraints are necessary for information to flow, and attunement to constraints is necessary for an organism to exploit such cultural information.
  • Dupla Consciência do Ator e Imaginação Recreativa Article

    Guo, Yuchen

    Resumo em Português:

    RESUMO Muitos atores relatam uma forma de dupla consciência ao interpretar papéis em cena: eles reagem a determinadas circunstâncias como seus personagens reagiriam, mas não se esquecem de que estão em cena. Este estudo analisa o conceito de dupla consciência, e argumenta que a consciência dupla do ator resulta de sua imaginação, que tanto recria a experiência do personagem quanto informa o ator sobre a irrealidade da experiência.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT Many actors report a form of dual-consciousness when playing roles on stage: they react to the given circumstances as their characters would do, but they do not forget they are on the stage. This paper analyzes the concept of dual-consciousness and argues that actor dual-consciousness results from the actor’s imaginings, which both recreate the experience of the character and inform the actor about the non-reality of the experience.
  • Acesso e obrigações desconhecidas Article

    Bondar, Oleh

    Resumo em Português:

    RESUMO O artigo é dedicado à questão de saber se as obrigações desconhecidas são possíveis. De acordo com a visão popular (conhecida como Access), um ato é obrigatório somente se seu agente puder saber que esse ato é obrigatório. Sorensen (1995) argumenta contra Access, e Sider e Wieland defendem Access sugerindo (S) - Para qualquer obrigação O, o indivíduo X deve abster-se de fazer O sem conhecimento. Consideramos várias dificuldades em relação à possibilidade de (S) - um regresso ao infinito, natureza autorreferencial de (S), improbabilidade de (S). Argumenta-se que (S), de uma certa perspectiva, é em si a obrigação desconhecida.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT The article is devoted to the question of whether unknowable obligations are possible. According to the popular view (known as Access), an act is obligatory only if its agent can know that this act is obligatory. Sorensen (1995) argues against Access, and Sider and Wieland both defend Access by suggesting (S) - For any obligation O, individual X must refrain from making O unknowable. We consider various difficulties concerning the possibility of (S) - an infinite regress, self-referential nature of (S), unprovability of (S). It is argued that (S), from a certain perspective, is itself the unknowable obligation.
  • Nem tão arriscado. Como assumir uma posição razoável sobre o melhoramento humano Article

    Vilaça, Murilo Mariano; Lavazza, Andrea

    Resumo em Português:

    RESUMO Seguindo uma tendência das abordagens bioéticas/em ética aplicada, uma das características frustrantes dos estudos sobre o melhoramento humano tecnológico é a sua tendência dicotômica. Muitas vezes, os benefícios e riscos do melhoramento humano tecnológico são afirmados de modo teorica e empiricamente vago, polarizado e não ponderado. Isto ‘emperra’ o debate no problemático estágio ‘prós versus contras’, ensejando a adoção de posições extremistas. Nesse artigo, abordaremos um lado do problema: o foco sobre os riscos e a abordagem imprecisa destes. O que motiva nossa abordagem é a identificação das fragilidades decorrentes da utilização do conceito de risco na retórica anti-melhoramento, bem como a heurística do medo e o princípio de precaução em que esta corrente se baseia. Assim, ‘dando um passo atrás’ para avançar no debate, nosso objetivo é estabelecer alguns fundamentos teóricos relativos ao conceito de risco, reconhecendo, ao mesmo tempo, a sua complexidade e importância para o debate. Além do conceito de risco, enfatizamos o conceito de risco existencial, e fazemos algumas considerações sobre os desafios epistêmicos. Por fim, destacamos as características centrais de abordagens mais promissoras para fazer o debate avançar.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT Following a trend in bioethical/applied ethics approaches, one of the frustrating features of studies on technological human enhancement is their dichotomous tendency. Often, benefits and risks of technological human enhancement are stated in theoretically and empirically vague, polarized, unweighted ways. This has blocked the debate in the problematic ‘pros vs. cons’ stage, leading to the adoption of extremist positions. In this paper, we will address one side of the problem: the focus on risks and the imprecise approach to them. What motivates our approach is the identification of the weaknesses of the anti-enhancement criticism, which stem from its use of the concept of risk, as well as the heuristic of fear and the precautionary principle. Thus, ‘taking a step back’ to move forward in the debate, our purpose is to establish some theoretical foundations concerning the concept of risk, recognizing, at the same time, its complexity and importance for the debate. Besides the concept of risk, we emphasize the concept of existential risk, and we make some considerations about epistemic challenges. Finally, we highlight central features of more promising approaches to move the debate forward.
  • John Locke e a Identidade Pessoal: Um Impasse Relativo à Justiça Artigo

    Loque, Flavio Fontenelle

    Resumo em Português:

    RESUMO No capítulo Da Identidade e da Diversidade do Ensaio sobre o Entendimento Humano, Locke sustenta que a identidade pessoal depende da consciência e que é na identidade pessoal que a justiça se funda. Todavia, essa compreensão de justiça conduz a um impasse nos casos em que o réu alega não ter consciência do crime e, portanto, não se identificar como a pessoa que o realizou: se não é possível determinar que se trata da mesma pessoa, pode-se dizer que a punição seja justa? O presente artigo tem como objetivo (i) analisar esse impasse explicando (a) o arcabouço conceitual que o constitui e (b) seu desdobramento na troca de cartas entre Locke e Molyneux a fim de (ii) apresentar uma crítica à resposta de Locke. Em comparação com a bibliografia secundária, na qual uma objeção à resposta de Locke encontra-se bem assentada, a contribuição do presente artigo consiste em propor uma nova objeção, explorando a dualidade de perspectivas entre primeira e terceira pessoa, e em mostrar que, confrontado por Molyneux, Locke se evadiu de enfrentar o ponto conceitual necessário para fornecer uma resposta satisfatória ao impasse.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT In the chapter Of Identity and Diversity of An Essay Concerning Human Understanding, Locke claims that justice is based on personal identity and that personal identity is based on consciousness. However, this view of justice leads to an impasse when the defendant alleges that he has no consciousness of the crime and, therefore, that he does not identify himself as the person who committed the crime: if it is not possible to determine that he is the one who committed the crime, can we say that the punishment is just? This article seeks (i) to analyse the impasse exploring (a) its conceptual framework and (b) its development in the letters Molyneux and Locke exchanged in order (ii) to elaborate a criticism of Locke’s answer to it. Compared to the secondary bibliography, in which one objection to Locke’s answer is well established, the originality of this article consists in elaborating a new objection based on the distinction between the first and third person perspectives and in showing that, when questioned by Molyneux, Locke failed to discuss the conceptual issue necessary to give an adequate answer to the impasse.
  • Inteligência Artificial e os Riscos Existenciais Reais: Uma Análise das Limitações Humanas de Controle Artigo

    Candiotto, Kleber Bez Birolo; Karasinski, Murilo

    Resumo em Português:

    RESUMO A partir da hipótese de que a inteligência artificial como tal não representaria o fim da supremacia humana, uma vez que, na essência, a IA somente simularia e aumentaria aspectos da inteligência humana em artefatos não biológicos, o presente artigo questiona sobre o risco real a ser enfrentado. Para além do embate entre tecnofóbicos e tecnofílicos, o que se defende, então, é que as possíveis falhas de funcionamento de uma inteligência artificial - decorrentes de sobrecarga de informação, de uma programação equivocada ou de uma aleatoriedade do sistema - poderiam sinalizar os verdadeiros riscos existenciais, sobretudo quando se considera que o cérebro biológico, na esteira do viés da automação, tende a assumir de maneira acrítica aquilo que é posto por sistemas ancorados em inteligência artificial. Além disso, o argumento aqui defendido é que falhas não detectáveis pela provável limitação de controle humano quanto ao aumento de complexidade do funcionamento de sistemas de IA representam o principal risco existencial real.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT Based on the hypothesis that artificial intelligence would not represent the end of human supremacy, since, in essence, AI would only simulate and increase aspects of human intelligence in non-biological artifacts, this paper questions the real risk to be faced. Beyond the clash between technophobes and technophiles, what is argued, then, is that the possible malfunctions of an artificial intelligence - resulting from information overload, from a wrong programming or from a randomness of the system - could signal the real existential risks, especially when we consider that the biological brain, in the wake of the automation bias, tends to assume uncritically what is set by systems anchored in artificial intelligence. Moreover, the argument defended here is that failures undetectable by the probable limitation of human control regarding the increased complexity of the functioning of AI systems represent the main real existential risk.
  • Diferentes maneiras de ser emocional em relação ao passado Article

    Trakas, Marina

    Resumo em Português:

    RESUMO De acordo com Dorothea Debus (2007), todos os aspectos emocionais relacionados a um ato de lembrar são presentes e novas respostas emocionais ao evento passado lembrado. Esta é uma concepção comum da natureza do aspecto emocional das memórias pessoais, se não explicitamente defendida, pelo menos implicitamente aceita na literatura. Neste artigo, eu primeiro critico os argumentos de Debus e demonstro que ela não nos dá razões válidas para acreditar que todos os aspectos emocionais relacionados a uma memória são presentes e novas respostas emocionais a esse evento passado. Em seguida, critico a tese de Debus tout court por ser uma consequência direta de assumir uma conceituação particular da natureza das emoções: as emoções como mudanças fisiológicas. Finalmente, com base em uma conceituação diferente de emoções que se concentra em sua natureza relacional, proponho um quadro alternativo para analisar os diferentes aspectos emocionais possíveis de nossas memórias pessoais. Isso me leva a concluir, ao contrário de Debus, que alguns aspectos emocionais de nossas memórias não são emoções ocorrentes, mas são melhor concebidos como uma espécie de quase-emoção.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT According to Dorothea Debus (2007), all emotional aspects related to an act of remembering are present and new emotional responses to the remembered past event. This is a common conception of the nature of the emotional aspect of personal memories, if not explicitly defended then at least implicitly accepted in the literature. In this article, I first criticize Debus’ arguments and demonstrate that she does not give us valid reasons to believe that all the emotional aspects related to a memory are present and new emotional responses to that past event. I then criticize Debus’ thesis tout court for being a direct consequence of assuming a particular conceptualization of the nature of emotions: emotions as physiological changes. Finally, based on a different conceptualization of emotions that focuses on their relational nature, I propose an alternative framework for analyzing the different possible emotional aspects of our personal memories. This leads me to conclude, contrary to Debus, that some emotional aspects of our memories are not occurrent emotions but are better conceived as a sort of quasi-emotions.
  • Avaliação, medida de valor, valor: três noções interligadas ao conceito de transvaloração em Nietzsche Artigo

    Rubira, Luís

    Resumo em Português:

    RESUMO O presente artigo busca não somente reconstruir as noções de “avaliação” (Werthschätzung) e “valor” (Werth) presentes nas obras de Nietzsche, mas pretende mostrar que ambas precisam ser pensadas à luz da noção de “medida de valor” (Werthmaass), haja vista que esta é imprescindível para a compreensão do conceito de transvaloração de todos os valores na filosofia nietzschiana.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT This article seeks not only to reconstruct the notions of “evaluation” (Werthschätzung) and “value” (Werth) present in Nietzsche’s works, but also to show that both need to be thought of in the light of the notion of “measure of value” (Werthmaass), given that it is essential for understanding the concept of transvaluation of all values in Nietzschean philosophy.
  • É a moralidade categórica e inescapável? Tradução

    Taufer, Felipe; Dalsotto, Lucas Mateus
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