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Susceptibilidade de Aedes aegypti aos inseticidas temephos e cipermetrina, Brasil

Resumos

Realizaram-se bioensaios para detectar a susceptibilidade de Aedes aegypti aos inseticidas químicos, temefós e cipermetrina. Os resultados mostraram que esta espécie é suscetível a temefós e apresenta resistência a cipermetrinae.

Aedes; Resistência a inseticidas; Temefós; Inseticidas organofosforados; Piretrinas; Controle de mosquitos; Controle de vetores; Insetos vetores


Bioassays were performed in order to detect the susceptibility of Aedes aegypti to the chemical insecticides temephos and cypermethrin. The results showed that this species is susceptible to temephos and presents resistance to cypermethrin.

Aedes; Insecticide resistance; Temephos; Insecticides, organophosphate; Pyrethrins; Mosquito control; Vector control; Insect vectors


COMUNICAÇÃO BREVE BRIEF COMMUNICATIONS

Susceptibilidade de Aedes aegypti aos inseticidas temephos e cipermetrina, Brasil

Jonny E Duque Luna* ** Bolsista CNPq. Programa de Pós-Graduação em Entomologia da Universidade Federal do Paraná. ; Marcos Ferrer Martins** ** Bolsista CNPq. Programa de Pós-Graduação em Entomologia da Universidade Federal do Paraná. ; Adriana Felix dos Anjos* * Bolsista CAPES. Programa de Pós-Graduação em Entomologia da Universidade Federal do Paraná. ; Eduardo Fumio Kuwabara** ** Bolsista CNPq. Programa de Pós-Graduação em Entomologia da Universidade Federal do Paraná. ; Mário Antônio Navarro-Silva

Laboratório de Entomologia Médica e Veterinária. Departamento de Zoologia. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, PR, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Mário Antônio Navarro-Silva Departamento de Zoologia - UFPR Caixa postal 19.020 81531-980 Curitiba, PR, Brasil E-mail: mnavarro@ufpr.br

RESUMO

Realizaram-se bioensaios para detectar a susceptibilidade de Aedes aegypti aos inseticidas químicos, temefós e cipermetrina. Os resultados mostraram que esta espécie é suscetível a temefós e apresenta resistência a cipermetrinae.

Descritores: Aedes. Resistência a inseticidas. Temefós. Inseticidas organofosforados. Piretrinas. Controle de mosquitos. Controle de vetores. Insetos vetores.

As estratégias de controle do principal vetor da dengue, Aedes aegypti estão baseadas na utilização de produtos químicos e biológicos, integrados com programas de manejo ambiental. No Brasil, os programas que visam a controlar o Ae. aegypti utilizam principalmente inseticidas químicos, onde se destacam os organofosforados (OP) e piretróides (P) que requerem monitoramento constante.

Os índices de casos da dengue aumentam a cada ano e diferentes fatores influenciam este incremento. A resistência aos produtos químicos pode favorecer o aumento das populações de mosquitos resultando no aumento dos índices de casos da dengue.1,4 Por isso a importância de monitoramento periódico da susceptibilidade das populações incriminadas na transmissão dessa doença.3

Pela primeira vez são apresentados dados sobre a susceptibilidade de uma população de Ae. aegypti de Curitiba, Estado do Paraná. Essas foram submetidas a dois inseticidas químicos: temephos (organofosforado) e cipermetrina (piretróide) e a razão de resistência foi comparada com a colônia padrão CDC (Center for Disease and Preventive Control).

Foram realizadas coletas de imaturos em diversos bairros de Curitiba no período de janeiro a abril de 2003. Apenas na amostra no bairro Uberaba foi encontrada Ae. aegypti, em criadouro artificial (sucata de automóvel em depósito de ferro velho). Essa foi a única população originária de Curitiba utilizada nos testes de suscetibilidade.

A linhagem utilizada para fazer a comparação foi Rockefeller CDC. Os inseticidas utilizados nos bioensaios foram temephos "Temefós Fersol 1G", (granulado, 1%) e cipermetrina "Cynoff 400 Pm", (pó, 25%). Esses produtos foram diluídos em água mineral para preparar as soluções padrão com a mesma concentração de ingrediente ativo (i.a.) de 50 ppm.

O processo para os bioensaios seguiu os padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS).5 Os resultados foram submetidos à análise Probit.2 Utilizou-se o seguinte critério para determinar a resistência: mortalidade igual ou superior a 98% configura status de susceptível, de 80 a 97% de mortalidade, verificação da resposta com a repetição do experimento, e abaixo de 80% de mortalidade considera-se resistente.5 Foram analisadas 750 larvas para cipermetrina e 700 para temefós no total, incluindo as concentrações e a testemunha.

O teste efetuado com larvas de Ae. aegypti de Curitiba utilizando a concentração-diagnóstico (CD) 0,0125 ppm i.a. do organofosforado temephos, resultou em sobrevivência de 10% e mortalidade de 90%. No teste com as concentrações múltiplas para temephos, foi detectado CL50=0,0046 ppm i.a., sendo RR50=1,7 e CL95=0,0191 ppm i.a., sendo RR95=4,7. Para cipermetrina foi encontrado 35% de sobrevivência e 65% de mortalidade na avaliação da concentração-diagnóstico (CD) 0,0125 ppm i.a. Na avaliação das concentrações múltiplas, CL50=0,0096 ppm i.a., sendo RR50=27 e CL95=0,0275 ppm i.a., sendo RR95=4.

A concentração-diagnóstico (CD) 0,0125 ppm i.a. de temephos e cipermetrina foi também utilizada para testar a colônia Linhagem Rockefeller, resultando em 100% de mortalidade para ambos os produtos. Para a cipermetrina, avaliou-se mais uma CD de 0,009 ppm i.a. que também resultou em 100% de mortalidade. As concentrações múltiplas foram CL50=0,0027 ppm i.a. e CL95=0,0400 ppm i.a. para o temephos, e CL50=0,00035 ppm i.a. e CL95=0,00741 ppm i.a. para a cipermetrina.

Os valores apresentados indicam viabilidade ao tratamento químico com temephos, porém o nível de suscetibilidade em relação à concentração-diagnóstico e múltipla sugerem implementar rapidamente um sistema de monitoramento constante dessa população, confirmando-se a necessidade de estratégias preventivas e métodos alternativos de controle que possam diminuir a seleção de resistência, que parece ter sido iniciada nesta população.

Os resultados para cipermetrina indicam que o produto não deve ser mais utilizado no município de Curitiba, sugerindo a necessidade da substituição imediata desse inseticida por outro, de origem química ou biológica.

AGRADECIMENTOS

A Carlos Fernando S. Andrade, do Departamento de Zoologia do Instituto de Biologia da Unicamp, pela doação da população Aedes aegypti CDC Porto Rico; e a Gregorio Guadalupe Carbajal Arízaga do LQES da Universidade Federal de Paraná, pelas sugestões nos bioensaios.

Recebido em 30/10/2003. Aprovado em 2/6/2004

Financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq - Processo n. 302350/2003-9).

  • 1. Campos J, Andrade CFS. Susceptibilidade larval de duas populações de Aedes aegypti a inseticida químicos. Rev Saúde Pública 2001;35:232-6.
  • 2. Finney DJ. Probit analysis. Cambridge (UK): Cambridge University Press; 1971.
  • 3. Gubler DJ. Epidemic dengue/dengue hemorrhagic fever as a public health, social and economic problem in the 21st century. TRENDS Microbiol 2002;10:100-3.
  • 4. Macoris MLG, Andrighetti MT, Takaku L, Glasser CM, Garbeloto VC , Cirino VCB. Alteração de resposta de suscetibilidade de Aedes aegypti a inseticidas organofosforados em municípios do Estado de São Paulo, Brasil. Rev Saúde Pública 1999;33:521-2.
  • 5. World Health Organization. Vector resistance to pesticides. Geneva; 1992. (WHO-Technical Report Series, 818).
  • Endereço para correspondência
    Mário Antônio Navarro-Silva
    Departamento de Zoologia - UFPR
    Caixa postal 19.020 81531-980 Curitiba, PR, Brasil
    E-mail:
  • *
    Bolsista CAPES. Programa de Pós-Graduação em Entomologia da Universidade Federal do Paraná.
  • **
    Bolsista CNPq. Programa de Pós-Graduação em Entomologia da Universidade Federal do Paraná.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Dez 2004
    • Data do Fascículo
      Dez 2004

    Histórico

    • Aceito
      02 Jun 2004
    • Recebido
      30 Out 2003
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