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RESUMOS DE LIVROS/BOOK REVIEWS

Davi Rumel

Departamento de Epidemiologia - FSP/USP

Clinical epidemiology: the study of the outcome of illness, by Noel S. Weiss. New York, Oxford University Press, 1986. 144 p. (Monographs in epidemiology and biostatistics, 11)

Temos 4 livros recentemente editados, com o título "Clinical Epidemiology". Podemos dividi-los em 2 tipos: aqueles de epidemiologia clínica, propriamente ditos: ("Clinical Epidemiology: the study of the outcome of illness", Weiss N.S. e "Clinical Epidemiology: a basic science for clinical medicine", Sachet D. - Haynes R.B. - Tugweel P.) e os que além de abordarem os estudos específicos de epidemiologia clínica, abordam estudos de epidemiologia com enfoque etiológico, ("Clinical Epidemiolgy - the essentials", Fletcher R. - Flercher, S. - Wagner E.) e ainda valorizando aspectos metodológicos ("Clinical Epidemiology", Feisnstein A.).

A epidemiologia estuda a variação da ocorrência da doença numa população, procurando observar o que distingue os indivíduos que adquirem uma doença dos que não a adquirem. A epidemiologia clínica estuda a variação da ocorrência de um efeito da doença numa população de doentes, procurando observar as diferenças dos resultados de uma intervenção ou teste diagnóstico num grupo de doentes.

Por exemplo, no estudo da claudicação intermitente, a epidemiologia estuda a prevalência ou incidência da claudicação em relação ao hábito de fumar cigarro. A epidemiologia clínica estuda a diferença quanto a melhora dos sintomas e longevidade entre pacientes submetidos a tratamento clínico, tratamento cirúrgico e tratamento placebo. Estuda o valor da arteriografia para o diagnóstico desta doença: quantas lesões realmente este exame identifica, quantos falso-positivos são diagnosticados, quantos efeitos adversos são produzidos.

O livro de Noel S. Weiss é bem didático. Ao fim de cada capítulo há uma série de exercícios com as respectivas respostas, permitindo a leitura individual do texto e a discussão do exercício em grupo.

O primeiro capítulo é sobre a conceituação de epidemiologia clínica: o que é e para que serve. O 2o e 3o capítulos são sobre teste diagnóstico e rastreamento. O 4o, 5o e 6o capítulos são sobre ensaios clínicos, randonizados ou não, discutindo aspectos metodológicos em estudos de eficácia, efetividade e identicação de efeitos colaterais.

O último capítulo é sobre história natural da doença e há um apêndice de estatística, com cálculo do tamanho da amostra e controle de variáveis de confusão.

Todos estes temas não são vistos na devida profundidade, que pode ser encontrada em outros livros. Mas a pretensão deste livro não é esta, e como texto introdutório é bom.

Davi Rumel

Departamento de Epidemiologia - FSP/USP

Epidemiology in Medicine, by Charles H. Hennekens and Julie E. Buring. Boston/ Toronto, Little, Brown and Company, 1987. 383 p. (Monographs in epidemiology and biostatistics, 10).

Este livro de 1987, cujos autores são do Departamento de Medicina Preventiva e Epidemiologia Clínica da Escola de Medicina de Harward e do Departamento de Epidemiologia e Bioestatística da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston, constitui, ao lado dos livros: "Clinical Epidemiology" de Fletcher, Fletcher & Wagner e "Designing Clinical Research" de Hulley & Cummings, um dos melhores textos básicos de Epidemiologia para estudantes de medicina, devido ao direcionamento de conteúdo, principalmente quanto às exemplificações.

É um livro que permite o estudo em grupo, pois ao fim de cada capítulo há um conjunto de exercícios que permite uma discussão após leitura individual. No fim do livro os autores apresentam as respostas dos exercícios.

Este livro é dividido em 4 partes: conceitos básicos, delineamentos de pesquisa, análise de dados e rastreamento ("screening").

Nos conceitos básicos apresenta a historicidade da epidemiologia enquanto ciência, a distinção entre estudos descritivos e analíticos, causalidade, medidas de freqüência das doenças e medidas de associação.

Nos delineamentos de pesquisa apresenta os estudos descritivos definindo-os como os transversais do tipo "survey", estudo de caso e série de casos, e estudos de correlação. Seguem os estudos analíticos: coorte, caso-controle e ensaios clínicos.

A forma de distinguir os estudos descritivos dos estudos analíticos tem seus méritos, mas é bastante discutível. Baseia-se na distinção entre estudos formuladores de hipóteses (descritivos) e estudos de comprovação (analíticos). Esta distinção vem cada vez mais sendo questionada, pois todo estudo epidemiológico tem uma hipótese explícita ou não, e tem uma análise comprobatoria, seja com dados do próprio estudo, seja com dados de estudos anteriores ou de valores esperados pré-definidos por normas. Rothman K. ("Modern Epidemiology") aborda esta questão no prefácio de seu livro.

Na análise de dados apresenta medidas de tendência central e variabilidade, o erro aleatório e o erro sistemático. Um capítulo especial é dedicado ao controle de variáveis de confusão, que é a melhor contribuição deste livro entre os demais básicos de epidemiologia.

A última parte sobre rastreamento apresenta as medidas da validação de teste diagnóstico, possíveis erros sistemáticos e medidas de avaliação de um programa de rastreamento.

Davi Rumel

Departamento de Epidemiologia - FSP/USP

Methods in observational epidemiology, by Jennifer L. Kelsy, W. Douglas Thompson and Alfred S. Evans. New York, Oxford University Press, 1986. 366 p. (Monographs in epidemiology and biostatistics, 10).

Este livro dos epidemiologistas Jennifer L. Kelsy (Columbia University), W. Douglas Thompson (Yale University) e Alfred J. Evans (Yale University) é, em minha opinião, o melhor sobre métodos quantitativos aplicados à Epidemiologia com enfoque etiológico. Editado em 1986, já vem sendo usado como texto básico do curso de extensão universitária de Epidemiologia Clínica II oferecida pela Faculdade de Saúde Pública da USP.

É um livro ideal para grupos de estudos, pois ao fim de cada capítulo há uma série de exercícios a serem realizados que acabam formando um roteiro de discussão em grupo após a leitura individual de cada capítulo. Porém, não é um livro básico de epidemiologia. Aproveitará melhor seu conteúdo quem já tiver uma formação básica consolidada.

O texto inicia-se com apresentação de medidas de associação. A seguir apresenta os estudos de coorte nos aspectos de planejamento, execução e análise. Enfatiza cuidados que devem ser levados em consideração ao medir a exposição e a doença, como espectro da doença e a influência de variáveis de confusão. Discute erros sistemáticos de seleção, o efeito das perdas, e características de um estudo emparelhado ("matching"). Discute a análise estratificada de Mantel- Haenzel, padronização de taxas de incidência ou mortalidade, análise de regressão logística com incidência cumulativa e densidade incidência, e análise de modelo de Cox ("proportional hazards model").

Em estudos caso-controle discute como se precaver de vícios de seleção de casos e controles, o controle de variáveis de confusão a priori ("matching") e a posteriori (na análise multivariada), e a análise de regressão logística neste tipo de delineamento.

No capítulo de estudos transversais, além de discutir vícios de seleção inerentes a este delineamento, é apresentada a análise de regressão linear múltipla

Há um capítulo de investigação de uma epidemia que pouco acrescenta em relação a outros textos básicos de epidemiologia.

Segue um capítulo de estimação do tamanho da amostra e cálculo do poder de um estudo. É um capítulo sublime que dá os elementos necessários para planejamento e análise de estudo epidemiológico que freqüentemente trabalha com amostras.

Seguem-se 3 capítulos sobre vício de aferição, que envolve os índices de acurácia de uma medida (sensibilidade, especificidade e valor preditivo), coeficiente de Kappa, influência dos erros de aferição nas medidas de associação, validação e confiabilidade de questionários fechados, terminando com uma discussão sobre vícios de aferição de variáveis psicossociais.

Como podemos observar, é um livro que aborda aspectos de epidemiologia que não existem em outros livros. Leitura obrigatória para quem quer se formar em epidemiologia.

Aracy Witt de Pinho Spinola

Departamento de Prática de Saúde Pública - FSP/USP

The sociology of health and illness: critical perspectives, edited by Peter Conrad and Rochelle Kern. 2nd. ed. New York, St. Martin's, 1986. 510 p.

O livro contém artigos de profissionais especializados em diversas áreas, como sociologia, saúde pública e outras atividades relacionadas à saúde e tenta traçar uma perspectiva crítica sobre a relação existente entre as instituições sociais e o sistema de atendimento médico que atua nelas.

Os artigos do livro estão organizados fundamentando-se em três temas gerais:

1. a concepção de que a sociologia médica deve ser ampliada de modo a abranger uma sociologia da doença e da saúde;

2. a crise que existe atualmente nos EUA com relação ao atendimento médico;

3. a solução para essa crise: o atendimento a saúde e os sistemas médicos devem ser reexaminados a partir de uma perspectiva crítica.

Dessa forma, são colocados problemas como: a causa social da doença, a base econômica dos serviços médicos, a influência das indústrias médicas, os custos médicos, a escassez do atendimento médico primário e dos recursos preventivos que cuidam da preservação da saúde.

A primeira parte do livro contém artigos a sobre produção social da molésita (fenômenos biofisiológicos que se manifestam como mudanças e alterações do corpo humano) e da doença (experiência de estar doente ou contaminado).

Esses artigos sugerem que a causa das moléstias e sua prevenção devem ser examinadas a partir da interação entre o ambiente externo em que o indivíduo vive e o ambiente interno do corpo humano.

A segunda parte trata do sistema de atendimento médico, numa tentativa de entender como ele opera e como suas características particulares contribuem para a atual crise no atendimento a saúde.

A terceira parte aborda o aspecto da responsabilidade do indivíduo quanto à saúde, cm contraposição à medicina considerada como uma instituição de controle social.

Alternativas para o cuidado com a saúde são discutidas na última parte do livro. Entre elas destacam-se as iniciativas comunitárias, como organizações de auto-ajuda (alcoólicos anônimos), suas vantagens e seus limites.

Também é feito um breve exame da política de saúde na Alemanha, no Canadá e na Grã-Bretanha.

Os dois últimos artigos do livro mostram a importância de uma política de prevenção da doença, através de uma intervenção em nível estrutural e comportamental na sociedade.

Corresponde a uma leitura útil, podendo muitos princípios constituir base para programações em saúde, especialmente no que se refere a relação existente entre sistemas sociais e políticos; em termos teóricos, são importantes as colocações feitas relativas ao continuum "saúde-doença"; em alguns aspectos, há um privilegiamento da Sociologia aplicada à Medicina em detrimento da Saúde Pública, que atualmente é valorizada em vários sistemas.

Thelma Aparecida Bombonatti

Departamento de Prática de Saúde - Pública - FSP/USP

Women physicians: Careers, status and power, by Judith Lorber. New York, Tavistock Publ., 1984.149 p.

O livro é dividido em 7 capítulos e 2 apêndices. Ao término do volume é apresentada extensa lista de referências bibliográficas. Ele se constitui, basicamente, em análise das oportunidades disponíveis para mulheres médicas nos Estados Unidos. Analisa também os processos subreptícios de discriminação profissional provavelmente passíveis de generalização, aplicáveis a outros países.

São consideradas as relações profissionais entre colegas, o desempenho das mulheres durante o curso de graduação médico e profissional, as relações das médicas com pacientes, as especializações mais procuradas pelas mulheres médicas e seu porquê, as responsabilidades familiares e os compromissos da carreira. São também tratados aspectos eventualmente menos considerados como o casamento entre médicos, o papel da mulher na medicina acadêmica e de pesquisa, a prática de consultório, tempo integral versus tempo parcial.

O livro não apresenta uma conclusão propriamente dita, mas a análise dos temas é atraente e induz à reflexão. Recomendamos sua leitura.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Nov 2004
  • Data do Fascículo
    Abr 1989
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